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domingo, 6 de janeiro de 2013

As sociedades e os mecanismos de fuga


As sociedades e os mecanismos de fuga

Impossível deixar de pensar em Sigmund Freud quando se fala em sociedades e mecanismos de fuga. Admiro o povo judeu: Já passou por muitas vicissitudes, por algumas diásporas, pelo holocausto, e aí está, firme em suas convicções, trilhando um caminho ao longo da história que sem dúvida é de admirar. Não entendo como se pode ser contra este povo, a não ser por ciúmes, inveja. Alguns povos querem ver o povo de Israel como perseguidor, pintando-o com terríveis cores. Ou não sabem ou não querem ver como foram perseguidos. São sobreviventes da humanidade cega, aquela que não quer ver nem ouvir nem sentir, porque estão alienados da verdade a braços com seus interesses, ou até mesmo sem interesse algum. A verdade está na história, e o povo de Israel nunca se alienou de suas convicções.

Neste artigo, que nem sequer se pode chamar de ensaio, será impossível navegar pelas sociedades e pelos mecanismos de fuga de forma científica, completa, de tal forma que não fiquem dúvidas. As dúvidas persistem sempre ou por falta de conhecimento, ou por medo de abandonar uma perspectiva confortável, ou até mesmo para não perder amigos num grupo que se identifica por partilhar essas mesmas perspectivas.  Isto acontece em qualquer roda de amigos, em qualquer sociedade, seja ela política, militar, comercial, religiosa ou qualquer outra. Indivíduos que abandonam os princípios ou as perspectivas de um grupo acabam por se verem obrigados a abandonar essa sociedade ou grupo, ou este as expulsa de forma induzida ou explícita.

De um conjunto de regras de uma sociedade há sempre uma ou outra com a qual não se concorda. Somos todos diferentes, não há nunca uma unanimidade, ainda que as aparências digam que sim, para não se perder a “aceitação” implícita no grupo. Porém, no íntimo de cada um, umas regras agradam, outras se suportam, outras são insuportáveis. Quando as regras afetam de tal modo o nosso íntimo, saímos da sociedade ou tentamos modificá-la, e esta última opção é sempre a mais difícil, quase sempre impossível. São precisos muitos e muitas que discordem para que a sociedade se modifique. Uma andorinha só não faz um verão. Nem meia dúzia delas, exceto numa sociedade a dois - ou a três, o famoso triângulo amoroso. Mas existem quadriláteros amorosos e até pentágonos e hexágonos. 

A menor sociedade que se conhece é a do casal com ou sem filhos. A grande verdade é que neste tipo de sociedade restrita não há regras. E mesmo quando se explicitam regras ao longo da convivência, elas vêm a ser alteradas de comum acordo ou de comum aceitação, sempre dentro das “regras” que norteiam qualquer sociedade: umas agradam, outras se aceitam e outras são quase insuportáveis. É hora de lembrar um ditado muito popular: “Cada cabeça, cada sentença”. Sociedades formam-se, desenvolvem-se e a não ser quando há uma bandeira e o envolvimento é muito grande, como no caso das nações, normalmente acabam ao longo do tempo. Não há sucesso nem vida eterna para as sociedades, qualquer uma, e mesmo as religiosas têm um triste exemplo histórico: Religiões é uma questão de milênios, porque novas verdades se descobrem sobre a existência humana que as tornam obsoletas. O que não nos permite atentar para este fato histórico, é o nosso bloqueio próprio: Como aceitar que o nosso mundo, agora tão estável, venha a desmoronar porque nos abateram as verdades e o desconhecido passa a governar nossos sentimentos e nosso futuro? Cremos que nestes casos, o melhor caminho é a alienação. Buscamos mecanismos de fuga. Reforçamos nossas convicções e morremos convictos. São as novas gerações que, livres das pressões de nós, os convictos, que mudam tudo neste mundo, mas convenhamos que, à velocidade de gerações, demoramos milênios para mudar.

“Vinde a mim as criancinhas...” ou traduzindo-lhe as palavras,  vinde a mim os que não estão ainda instruídos, amestrados pelos velhos conceitos e crenças, porque estão livres para aprender. É a juventude que tem a iniciativa de mudar, porque está menos compromissada com os velhos conceitos. O convívio com o inaceitável se faz, normalmente, quando é impossível desprender-se dessas sociedades, através da alienação ou de forma menos drástica, através de mecanismos de fuga. É a nossa relutância em nos mantermos dentro dos "princípios" que nos tornam obsoletos, velhos, descompassados do mundo mais jovem que se cria a cada ano novo.

A mulher – ou o homem – que querem impor a sua vontade ou o seu modo de vida ao parceiro ou parceira, o fazem de vários modos e em vários graus de dificuldade de aceitação. Quando a pressão é muito grande, e a parte pressionada se vê encurralada, sem contudo desejar sair da sociedade, busca um outro companheiro ou companheira que lhe “alivie” essa pressão. Pode ou não envolver sexo, mas a “fraqueza”, a debilidade, a frustração, são tão grandes na sociedade "oficial", que normalmente o sexo estará envolvido.  O bloqueio da constatação das verdades, a alienação e os mecanismos de fuga fazem parte da vivência humana. Viver de outra forma seria um sofrimento tal que seria realmente insuportável. Não raro o grau de insuportabilidade de uma relação é tão alta, que bloqueamos a verdade de sermos insuportáveis para a parceira ou parceiro, alienamo-nos dos compromissos e buscamos os mecanismos de fuga: Uma nova igreja, uma outra mulher ou homem, uma nova emissora de radio ou TV, uma nova pátria, uma nova cidade, um novo partido político, uma nova empresa. Não nos movemos sem que estejamos indelevelmente amarrados a decisões particulares tomadas com ou sem sentido, por motivos que sequer conhecemos, mas que desejamos por esperança ou crédito de que será ”conveniente” para nós mesmos. Por isso trocamos seis por meia dúzia, ou tudo por quase nada, ou , com muito sucesso, o que era imprestável por altos lucros morais, intelectuais, financeiros, vivenciais ou de qualquer outro tipo. Depois refletimos e decidimos o que faremos a futuro.

Cremos piamente que não podemos viver sem algumas coisas que obtivemos da vida, e quanto mais coisas conseguimos obter da vida, outras mais queremos, porque nos dão prazer. É assim que detestamos a rotina num casamento, e quando nada mais há para inovar a “rotina” se instala. É como brincar a vida toda com o mesmo “brinquedo”. Seria insuportável para qualquer criança. Assim também neste mundo cheio de oportunidades, desprezar uma mulher com perfume diferente, com rosto diferente, com lábios diferentes, com práticas sexuais diferentes, é sempre duro de desprezar, e isto tanto se aplica a homens quanto a mulheres.

Quando a vida, de modo geral, se torna quase insuportável, tamanhas são as dificuldades para uns, e para outros não, que as drogas invadem o quotidiano como mecanismo de fuga. Drogas alienam, entorpecem, fazem esquecer as dificuldades da vida. Sexo pode ser considerado como droga, porque provoca prazer através de endorfinas jogadas no nosso cérebro e que nos geram prazer. Sexo faz-nos sentir prazer até o delírio. Por uma mulher – ou homem - que satisfaça sobremodo, somos capazes de abandonar a família, trair todos os nossos conceitos. Dizemos eufemisticamente que estamos “apaixonados”. Na verdade, em fuga do que já não suportamos, ou em busca de endorfinas.

Mas não nos recriminemos. Jamais. Arquemos com as conseqüências e vivamos. Não deixemos que a vida nos construa, mas construamos a vida como desejamos. Não pode ser a vida que caminhe sobre nós, empurrando-nos como barco em tempestade, mas sejamos nós que caminhemos sobre o caminho da vida que construímos dia a dia. Sem reclamar, sem nos vingarmos nos outros, mesmo que os outros sejamos “nós”!

Por outro lado, os governos tripudiam das populações tornando-lhes a vida cada vez mais difícil a cada dia. Os governos têm que pensar no que é suportável e no que é insuportável pelas sociedades. As sociedades estão a ponto de se alienarem do sistema de governo..

Rui Rodrigues

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

A Oração ao Pai...


A Oração ao Pai


Fui a um templo de uma religião pelos dias de Natal, para sentir a paz do silêncio, que parece ser a voz de Deus. No banco da igreja, naquele em que sentei, havia um papel dobrado que desdobrei e li o que nele estava escrito, que ora transcrevo. 


Pai Nosso que Estais no Céu...


Confúcio está no céu. Assim também os profetas. Todos! Estão lá Jesus, Buda, Maomé, Manitu, Odin, Thor, todos os deuses estão lá, e não são todos, porque todos por aqui, os filhos largados, dizem que é um só, é o Único, Onipotente, Onipresente, fez os céus, a terra, a Lua, os Universos.

Nós, os filhos, todos bastardos porque não somos filhos do mesmo deus, mas legítimos por ser apenas um só, vos, te rezamos pedindo que intercedas nos momentos difíceis, mas vos, te esquecemos quando tudo corre bem. Sereis por acaso deuses de oportunidade, sempre fiéis quando tudo nos corre bem, e nos fazendo de pecadores imerecíveis de perdão quando tudo nos corre mal?

A vós rezamos na esperança de que façais por nós o que não fizemos por nós mesmos porque não tivemos tempo, não tivemos disposição, ou não soubemos como fazer. E os sacerdotes que dizem ligar tudo na Terra que também será ligado nos céus, como intermediários de deus, ou que lá no céu será desligado o que aqui desligarem, nada mudaram em todos esses milênios, porque não sabem como nem quem sois, nem como fazeis. E nada mudará, porque não entendem e não entendemos.

Paises (mais de um pai) nossos que estais todos nos céus, orai por nós, porque vamos aos templos e de lá saímos sem pecado, prontos para prevaricar novamente, para nos esquecermos dos nossos semelhantes, vossos filhos, nossos irmãos... Escondendo em nossas lágrimas de crocodilos nossos pesares pelos outros sem que movamos uma palha para lhes resolver as dificuldades de forma definitiva, que esta sim, se resolve pela política e não pelas orações. Orai por nós, porque pecamos pela indecência de acharmos que os males do mundo não são culpa nossa.

Perdoai-nos por sermos tão convencidos que achamos que nosso deus particular é o mais forte e vai resolver todas os problemas advindos da iniqüidade, da gula, da ambição, da vaidade, da raiva e de tantos outros defeitos que temos, assumidamente, e ainda ousamos dizer que fomos feitos à vossa ou tua semelhança, porque na verdade sois muitos disfarçados de um só, o melhor, o mais poderoso. Ou se sois apenas um, temos que decidir qual, e jogar todos aqueles que temos na poeira dos tempos, onde outros mais antigos já se acolheram.

Nos enganamos porque nos convém, ou nos enganastes porque também nos convem?

É bom sairmos dos templos depois de termos dado nossa contribuição para a sopa dos pobres, mas nem nos perguntamos se a comeram, ou porque razões continuamos a fabricar pobres todos os dias pelas ruas das cidades e campos da humanidade.

Agradecemos-te por nos teres feito assim, tão dotados da capacidade de representar, tão bem, de forma tão perfeita, que nos iludimos todos os dias achando que somos bons, perfeitos, humanos, solidários, e que se os outros passam male porque são incapazes, preguiçosos ou indolentes. Nos iludimos tão bem que chegamos a achar que não nos falta o pão porque merecemos o teu olhar, a tua benevolência, meu deus, e que se os outros têm doenças, é porque não foram merecedores desse teu olhar, nesta vida ou em vidas passadas, como se precisássemos de mais de uma oportunidade porque desperdiçamos a primeira que tivemos... Assim se explicaria que tudo está escrito, que nada podemos mudar, que temos que aprender mesmo sem termos consciência de termos errado, nada seria culpa nossa, porque sempre seria das vidas passadas, mas não será assim, que as divergências são enormes de religião para religião.

Perdoai-nos senhor, senhores, porque não compreendemos que a salvação da humanidade já foi impressa desde que esta massa humana foi formada: Ou vivemos em paz entre nós, ou nos aniquilamos, todos os dias pelas diferenças sociais, que um dia explodirão, ou aos magotes em guerras fraternas, porque todos somos irmãos. Perdoai-nos por acharmos que nossas raças são superiores e que as guerras servem para aniquilar os nossos competidores por mais riquezas, mais bem estar, mais esmolas para os nossos templos e menos para os deles.

Perdoai-nos porque perdemos o amor de filhos e filhas porque lutamos entre esposos e esposas em casamentos desfeitos pela posse de bens ou pelo prazer do inimigo aniquilado, e assim também se perdem amigos porque se escuta mais a um do que ao outro, e se aniquilam empresas entre si, se danificam os campos, se mata a vida selvagem, se extinguem espécies.

Perdoai-nos senhor, por vos pedirmos o pão de cada dia, e tomarmos doses do whisky mais caro, dos melhores vinhos, porque a vida tem que ser vivida, e te pedimos ainda mais, mesmo tendo consciência de que ganhamos mais do que nos darias se dependêssemos de tua benevolência, e nos perguntaremos eternamente porque razão os ricos vão aos templos se já têm tudo de Deus. Acaso estarão fazendo média com os pobres e desprotegidos, mostrando-lhes orgulhosa ou habilmente através de sua capacidade de representar, que são humildes, e são ricos porque Deus os beneficiou? Porque pedem eles? Talvez por isso os pobres tenham deixado de ir ás igrejas e agora se voltem para outras religiões onde se identifiquem uns aos outros sem que se vejam afrontados em sua pobreza, porque a pobreza se afronta mesmo com a humildade. È fácil a humildade do rico e obrigada a humildade do pobre.

Dai-nos senhor, senhores, a religião dos pobres, dos que necessitam, dos doentes, das viúvas, dos viúvos dos órfãos e que não nos tirem o pouco que temos com dádivas a deus que nunca aparece para buscar tamanhas somas, em carros fortes enormes, com os anjos do céu a tomarem conta para que não lhe roubem os tesouros.

Perdoai-nos senhor por não sabermos entender quando nos dizem que receberemos em dobro tudo o que dermos, porque é difícil entender que se déssemos tudo o que existe, receberíamos o dobro desse tudo, o que é impossível, e do tudo apenas um pouco, faltaria aos pobres, porque os ricos têm mais para mais receberem em dobro. Não é esta uma política para pobres, que na verdade são quem os alimenta. 

Perdoai-lhes, senhor, senhores, porque está difícil perdoar coisas assim, quando estamos na platéia, assistindo, obrigados, a representarem em imenso palco com transmissão ao vivo para que todos vejam a glória.

Mas qual glória?”

... E com que moral julgar o que se escreveu e escreve a ponto de determinar nossos atos?


Rui Rodrigues

Rescaldo das Festas de Fim de Ano.

Rescaldo da onda das Festas de Fim de Ano.

A alegria é uma onda contagiante... Tal como pedra atirada num lago, provoca ondas que fluem e se propagam com a mesma intensidade em todas as direções. Havendo seres humanos no espaço sideral e em todos os planetas do universo, essa onda contagiante das festas de fim de ano se propagaria deste a Terra até os confins do Universo de tal forma que não passariam doze horas sem que todo o Universo estivesse todo em festa, gente cheia de sacolas com presentes até dentro de ônibus espaciais, o escritório central de comando, lá no céu do paraíso, escutando e vendo pela TV, todos os santos, santas, anjos e anjas, comemorando, férias coletivas na organização e central de comando da vida dos seres vivos em todo o planeta. Perigo até de se tornar num carnaval desenfreado.

Mas nem tudo é festa. Na verdade poderia até considerar-se uma falta de respeito com a humanidade uns estarem em festa quando outros passam por dificuldades, tristezas, descriminações, dor, porque há mortos e feridos esquecidos. Mas não vamos falar disto, porque nem nas igrejas e templos disto se fala para não “entristecer” datas alegres. Quem passa mal parece não fazer parte da festa, e o resto parece não ter obrigações com essa parte.

Como cada vez se economiza mais para gastar em compromissos, dando-se menos, de preferência do que se recebe, venderam-se muito mais presentes de um e noventa e nove do que artigos caros, roupa cara. Abriu até uma loja em competição com as de um e noventa e nove, vendendo tudo por um e setenta e cinco, sinais dos tempos, da crise, e de que se economizam centavos. Em compensação, as obras sob administração do Estado passaram da casa dos milhões para a dos bilhões de reais. Claro que dez por cento de bilhões são milhões e dez por cento das obras de milhões são uma mixaria de alguns milhares de reais. Isso tudo com notas novinhas em folha fica ainda mais lindo na árvore de natal com uma enorme estrela do PT, vermelha, pendurada no topo, com Jose Genoíno, José Dirceu & Cia ilimitada na mansão do filho do Lula dançando um ziriguidum com bastante borogodó regado a cachaça direta do alambique de cobre pago a peso de ouro.  

Uma moça entrou no ônibus, agora, dia 02 de janeiro e começou a distribuir gomas elásticas, conhecidas como chiclete, que até quase nem se usa entre marmanjos e marmanjas da velha guarda e começou a contra a história do filho doente. Um insensível ainda perguntou em voz alta se o PT não resolvia o problema dela, mas não obteve resposta: A moça, com discurso decorado, falado com os olhos insensíveis mirando a capota do ônibus, nem olhou, de bem instruída pelos caciques que lhe proporcionam os doces para vender. É costume aparecerem paraplégicos que ao final do dia se levantam e caminham como se Jesus lhes tivesse dito: Levanta-te panaca e anda! E gente com discursos de todos os tipos que se conhecem de outros bairros, moram bem e até têm carro, se bem que, com os preços cabendo na medida dos orçamentos, sem importar quanto se paga de juros, ou por quanto se exportam para o exterior, qualquer um pode ter um carro nos dias de hoje mesmo que não sobre para mais nada e se usem os serviços públicos destinados a quem não tem nada mesmo. Sinais dos tempos? Nem poderão entender porque razão escutam falar tanto em verbas de bilhões e milhões de milhares, e mesmo assim não há médicos, aparelhos, e se morre antes da data programada. Ir à escola para quê? Analfalulas não chegam ao poder? Agora quem manda é o PT e tudo vale em nome do PT.  Genoíno volta a ser deputado depois de julgado e condenado como corrupto, por formação de quadrilha. Antes, a justiça perseguia o PT. Agora não: O PT já transformou a justiça pagando, dando favores. A justiça agora é compreensiva, não persegue ladrões, só os pilhadores de galinhas, e quando condena, estão lá os deputados do mensalão para defender os perseguidos. O PT é uma igreja, onde ladrões podem ser deputados, analfabetos receber prêmios de academias de letras, acentos, assentos e parágrafos, com direito a pontos de exclamação e reticências. Para eles Fidel continua sendo o comandante, Chávez o lugar-tenente, Cristina a secretária boazuda, Dilma a pupila do senhor reitor. Lula Cristo o grande herói que do lugar do Dimas, se passou para o meio e se auto-sacrifica como se fosse o redentor. Forma-se a imagem de que o PT sobrevive a tudo, até à justiça, de que a ditadura ainda não acabou... Gerem tudo como se estivessem malocados cuidando da verba enviada da URSS, da China e de Cuba para manter os “aparelhos” contra a ditadura: Era um dinheiro que – para quem o recebia - não tinha dono, nem juros, dinheiro fácil. Mantega aprendeu muito com o PT. Bom aluno! Esgrimem as verbas públicas como se fossem armas, urnas, votos... Não representam a vontade do povo, mas o povo se sente com vontade de ser representado, porque em vez do que poderiam ter, se tivessem que lutar por isso, com muitas dificuldades, recebem presentes sob a forma de salário família, shows públicos, salários pagos a quem fica em casa, mas pertença ao partido, mesmo que não faça nada nem seja pobre sequer. Além do salário família, do “bolsa família”, existe também o “salário cortesia”, coisa que a Policia Federal poderá investigar profundamente e se perguntar de onde vem o dinheiro e quantos votos compra...

Isto nem é rescaldo, porque se baseia numa sopa, numa alienação, numa enfermidade mórbida, num fenômeno de terra arrasada ao som de música e festas que não nos permitem perceber que o ambiente está pegando fogo invisível que logo explodirá em forma que ainda desconhecemos.

Sem aviso, o Banco Itaú transferiu a responsabilidade de receber certos tipos de contas para empresas associadas como supermercados, etc. Os velhinhos do INSS foram apanhados de surpresa. Chegando ao supermercado, o sistema estava fora do ar, mas alguns carnês têm clausula em que, havendo atraso de um só pagamento, se perde tudo o que já foi pago, e há arresto de bens. Foi uma peregrinação supermercado - Banco, por mais de cinco quadras, a maioria dos velhinhos sofrendo de algum problema... Muitos não puderam pagar. Diz o Banco que avisou. Não, não avisou. Esses avisos tem que ser transmitidos pessoalmente, de um mês para o outro. Quem estiver insatisfeito, que reclame na justiça que é paga pelo Estado e tem boas relações comerciais com o Banco. O salário de dezembro, do INSS, recebe-se em Janeiro, quando a inflação já comeu tudo o que tinha que comer e mais alguma coisa... Porque será?

Há muitas batatas assando e percebe-se o grau de “assamento” pelos e-mails que se recebem, pelo que se lê na NET!

Mas até as batatas ficarem assadas, vamos varrendo tudo para debaixo do tapete, ou das areias da praia ou da política de Brasilia, rindo, sorrindo, de forma despreocupada como se não houvesse amanhã.


Rui Rodrigues







sábado, 29 de dezembro de 2012

Feliz Ano Novo




Feliz Ano Novo

Tá! E daí? Quando deverei realmente comemorar um novo ano? Qual a data mais apropriada? Parece que há diferentes formas de contar os anos e muitas datas de transição de um ano para o outro. Criado em meio católico semipraticante e não praticante, já não sou nem uma coisa nem outra e muito menos cristão. Por isso não vejo porque comemorar o ano novo na passagem do dia 31 de dezembro para o dia 01 de janeiro do ano seguinte.












O povo judeu já vai no ano de 5.772 e a partir de 17 de setembro de 2012, entrou no ano seguinte, ou seja, 5.773. Trata-se de um calendário lunisolar [1] baseado na criação de Adão numa quinta feira (Yom Shishi) ao por do sol, sete de outubro do ano 5.761 AC. É um calendário cheio de ajustes, complicado até de calcular para quem não está habituado. Os anos são calculados no ciclo solar, e os meses no ciclo da Lua. De vez em quando se adiciona um mês mais ao ano para que sempre o equinócio da primavera caia no mês de Nissan.








O calendário islâmico [2]é lunar. Inicia-se com a Hégira, dia da fuga de Maomé de Meca para Medina, em 16 de julho do ano 622, uma terça feira. Também precisa de ajustes porque é onze dias mais curto do que o ano solar. Cada mês começa quando o crescente lunar aparece pela primeira vez após o pôr-do-sol. Em 2012 comemorou-se o ano de 1473. Como todos os dias feriados variam durante o ano, acabam por cair em todas as estações do ano.









Os chineses têm um calendário lunisolar [3] muito parecido com o judaico. Desde 23 de janeiro de 2012 estavam no ano 4.710. Como forma de coadunar o ciclo solar com o lunar, a cada oito anos acrescentam 90 dias ao calendário ou cerca de dois ciclos lunares. Como precisamos de uma “data fixa”, por pura preguiça, este calendário também não deveria servir para o propósito de comemorar a passagem do ano.





Poderíamos estender-nos na descrição de outros calendários, mas ao que parece existem no mundo mais de 40 calendários em uso [4]. A impressão que se tem é a de que “devemos pertencer” a uma sociedade em especial que tenha um calendário especial, de forma a nos identificarmos com essa sociedade. Esquecemo-nos do panteísmo, da humanidade como uma sociedade única sem descriminações nem favoritismos, mas se temos que respeitar, como democratas, é o direito de cada sociedade escolher a data que mais lhe convém para comemorar a passagem do ano, nunca esquecendo que, como o dia tem 24 horas e alguns minutos a mais, no dia da passagem do ano, por exemplo, no mundo muçulmano, com diversos fusos, a passagem é comemorada em horários diferentes.
Enquanto não houver um consenso no mundo, escolherei em particular o dia 08 de setembro às 23:55 a data de passagem do ano, e para atribuir um número lógico de anos, escolherei o dia oito de setembro, no horário indicado, do ano de 1945, que foi exatamente quando dizem que nasci, porque eu estava presente, mas não tenho a mínima consciência de que seja realmente verdade. Nem o horário, porque não houve unanimidade nas respostas a consulta que já fiz. Por outro lado, comemorarei a data de passagem de ano do país em que eu estiver, em solidariedade, mas porre mesmo, de champanhe de bolinha, só na data de meu aniversário. Comemorarei em 2013 o ano 68 de minha era.

Saúde!... E Feliz dois mil e quinze na passagem de 31 de dezembro para 01 de janeiro, ou em qualquer data em que o esteja comemorando. Na verdade, deveria ser comemorado na data de seu aniversário...

(originalmente este texto foi postado neste blog em 2012 para o ano de 2013)

Rui Rodrigues







sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Cigarro mata!



Cigarro mata!
  
É incrível a relação que temos com a morte: Medo, pavor... Não nos passa pela cabeça que pode ser apenas uma transição de “fase”. Não temos certeza de nada sobre o além, porque cada sociedade o vê a seu modo. Mas não entremos nos aspectos filosóficos ou religiosos dessa transição. Vamos ater-nos apenas à transição em si e como se pode chegar a ela mesmo sem vontade alguma.

Em N. York, esta semana, uma mulher chegou ao metrô, viu um sujeito que nem conhecia e o empurrou para os trilhos. Depois fugiu. O homem morreu da mesma forma que o outro da semana passada: esmigalhado pelas rodas. Morte estúpida, sem sentido, mas a morte tem muitos adjetivos e substantivos. Está ficando perigoso apanhar o metrô de forma descuidada, junto à linha amarela que não dista mais do que 20 cm da beirada do leito dos trilhos.

Vinte e oito pessoas – vinte eram crianças até 12 anos - foram baleadas por um guri de 20 anos que premeditou tudo. Armou-se em casa com as armas da mãe, vestiu uma roupa preta estilo militar, e deu dois tiros em cada uma das vítimas. Queria ter a certeza de que mataria. Por isso os dois tiros. Antes o “vingador” matou a mãe para se caso se arrependesse não viesse a escutar um esporro em casa vindo da velha que lhe comprara as armas e o levara aos treinos de tiro. Claro que não matou a mãe só para ir ao baile do orfanato... È um perigo estar na linha de tiro de malucos ou desses caras que saem dos trilhos e viajam na batatinha.

Entraram na fila tranqüilos, esperando a hora de serem chamados para uma consulta nos serviços públicos de saúde. Mas nesse dia nem todos os médicos estavam presentes e o tempo foi passando até que começaram a passar mal. Nos últimos meses mais de dez, talvez vinte, morreram na fila de espera para serem atendidos. Saíram mais tranqüilos do que tinham chegado, mas mortos, realmente mortos. É um perigo enfrentar filas de saúde pública.

No dia do casamento o cara bebeu champanhe e para guardar como lembrança, pôs o copo no bolso. Na saída tropeçou e cortou a veia que passa na virilha. Enquanto aguardava a ambulância foi sangrando sem poderem estancar o sangue. Quando chegaram no hospital, teve que ser transferido por falta de qualquer coisa que não era nem caridade nem vergonha porque estavam em falta. Morreu logo que chegou no segundo hospital, algumas horas depois. Teve a triste idéia de guardar um copo no bolso, o azar de tropeçar, e ao fim de uma série de azares, faleceu. É perigoso guardar copos de vidro nos bolsos.

Mais de trezentos policiais morreram em S. Paulo, assassinados, por serem policiais. Os assassinos eram comandados por traficantes e bandidos de dentro das prisões. É muito azar ser policial em S. Paulo e mais azar ainda ter um governo estadual que afirmava que isso não era nada e que ia resolver tudo sozinho, dispensando a ajuda federal. Diminuíram muito as mortes depois da ajuda federal, pelo menos nos noticiários, mas o assunto ainda não está resolvido. Ainda é muito perigoso.

Bêbados desalmados tomam todas e pegam seus carros saindo a caminho de casa sem se lembrarem ao certo onde fica a sua casa, dirigem em estradas que só têm curvas – pelo menos é o que conseguem ver – e atropelam e matam e destroem. Quando não é bebida alcoólica, é cheirinho da Lóló ou droga da braba mesmo. Estas drogas nem são acusadas em bafômetros.  Atropelam na estrada, nas calçadas, em qualquer lugar onde caiba o carro deles. E delas, também, mas elas bebem menos. Como nunca se sabe quem vem dentro de um veículo nem em que estado está, é perigosíssimo andar pelas ruas quando há veículos nelas. Como sempre há veículos nas estradas, melhor ficar em casa.

Mulheres casadas que se separam vivem debaixo do perigo a cada instante. Maridos dependentes e ciumentos são causa de morte por facadas ou tiros por amantes, maridos ou namorados. É um perigo casar ou namorar. Melhor seria não casar nem namorar, mas temos que arriscar. Mas que é perigoso, isso é...

Não se pode parar o carro à entrada de casa, ou em sinais ou faróis. Os bandidos assaltam e a qualquer reação atiram para matar. Normalmente acertam a cabeça da vítima ou a coluna vertebral. É perigoso viajar de janela aberta, andar com as portas destrancadas. Em todos os casos que descrevemos é sempre difícil encontrar um policial, porque os bandidos os evitam. Se tem policial perto, goram o assalto que fica para a próxima vitima. Se tem carro, fique de olho.

Quando se pega um avião, sempre se espera chegar ao destino. Bom... Se o destino for fatídico, alguns até conseguem chegar lá. Caem em qualquer lugar, por qualquer motivo. Por falha humana ou por falha dos equipamentos. De cada vez morrem mais de cem, mais de duzentos, mais de trezentos, mas se pensa em deixar um lastro financeiro para a família como seguro caso isso aconteça, tire o cavalinho da chuva, porque demoram décadas para pagar, quando pagam, e é uma mixaria que não paga nem uma década de vida...

Não more no Japão, na Turquia, em Bangladesh, em Teresópolis, no Chile, na costa leste dos EUA ou no Norte de África... Se não forem vulcões, são alagamentos por chuva, tsunamis, furacões, terremotos, deslizamentos de terras. É fatal. É extremamente perigoso morar por lá. E no verão e no inverno sempre morrem muitos por causa do frio ou do calor ao redor do mundo. Prefira as zonas temperadas para viver, de preferência na América do Sul, mas não emigre em massa que isto aqui fica entupido...

Devemos concordar que os médicos são os melhores amigos dos seres humanos, logo a seguir aos cachorros. É verdade. Mas alguns se passam das medidas e nos arrancam os órgãos errados, põem seios de silicone do tipo para passar em roda de pneu e ficar brilhando, fazem lipoaspiração tão forte que aspiram até as tripas, e no caso de planos de saúde, para evitar despesas, são capazes de nos mandarem para casa com receita de duas aspirinas e uma vaporização com água quente que evapora de uma xícara, com toalha na cabeça quando na verdade estamos com dengue ou uma pneumonia. Os cachorros são como os médicos: muito amigos, mas de vez em quando nos mordem e nos matam de dentadas, ainda mais quando andam sem coleira no meio da rua.

E ser pobre ou miserável é realmente uma desgraça de alta mortandade. Morre-se de fome enquanto os figurões do senado arrebanham dezenas de milhares de  notas de um real por mês com uma quatorzena de salários, muito mais do que uma dúzia de doze, e só trabalham de terça a quinta. Aliás, só trabalham na quarta, porque na terça dão uma olhada nas “coisas” para ficarem ao par dos acontecimentos, e na quinta preparam tudo para embarcar para seus estados onde passarão o larguissimo fim de semana de quatro curtíssimos dias.

Nem pensar em fazer parte de torcidas de futebol. A turma sai para se divertir matando os outros de porrada. Não é mole não. Há sempre gente caindo de arquibancadas, cabeças estouradas por garrafas de cerveja, brigas que se tornam pessoais porque alguém gritou gol na torcida errada, e sempre há os arrastões na saída dos estádios na confusão geral. Melhor ficar em casa. Mesmo homens, se não têm nada para fazer em casa, ou para fazer com a patroa, sempre se pode aprender a tricotar. Melhor do que morrer todo escaqueirado.

Vamos lá para a porta dos hospitais fazer plantão de atendimento para ver quantos atendimentos há por dia, quantos acabam em morte, e quais os motivos... Aquilo é um horror! Morre-se de tudo, por qualquer coisa, até por falta de sangue do tipo “o seu”. Faltar vaga, gaze, remédios, esparadrapo, algodão e álcool já não é novidade. Rins estão em falta, as córneas mais ou menos e os corações estão partidos.

Há que ter cuidado nas praias por causa das correntes, dos afogamentos e dos barcos que passam como se a água fosse só para eles. Não trabalhe na construção civil, nem more perto de morro que pode sobrar bala perdida. Quando sair à rua, use máscaras com oxigênio porque o ar está todo poluído. Ao primeiro caso de dengue saia correndo da cidade onde mora. Faça tudo o que os outros querem para não se irritar e ter um ataque cardíaco ou AVC.

Drogas nem se fala. Matam a curto, médio e longo prazo, e para sair dessa é um perrengue desgraçado. Droga cola mais que superbonder. É um grude que mata o dependente químico e a família à sua volta. Nunca se fumou tanto crack como agora. Até velhinhos fumam crack por acharem que já não faz diferença em meio a tanta desgraça. Mas nem vamos falar em câncer de seio nem de próstata, nem de fíagado... é deprimente. 

Se seguir todos estes conselhos para preservação da vida, e mesmo assim morrer antes do tempo pode estar certo - ou certa - de que, se não se trata de uma fumante – ou de um fumante – inveterado, então há algo de podre no reino da propaganda. 



Cigarro mata!

Tem fogo aí?

Rui Rodrigues



Quatro histórias para não voar.


Quatro histórias para não voar.


Confessemos que é muito bom sonhar dormindo ou acordados. Nos sonhos podemos realizar tudo o que queremos, mesmo sabendo – depois dos sonhos - que é impossível. Quando nosso senso da razoabilidade funciona, podemos estudar os sonhos mais a fundo e vir a torná-los realidade. Quando não funciona, temos os grandes desastres. Alguns ficaram na história e são muito interessantes. Talvez desse tipo de sonhos, ligados à aviação, ao poder de voar, tenham surgido as imagens de anjos e de anjas, as geringonças de Leonardo Da Vinci que projetou muitos sonhos e não realizou nenhum que funcionasse, o demoiselle de Santos Dumont que segundo dizem só dava pulos, e muitas histórias fantasiosas como as de Peter Pan e Sininho, Superman, o Homem Aranha...

Destas quatro que conto a seguir, só a primeira é uma lenda sem base real. As demais são verdadeiras.

  1. Ícaro e suas asas de cera – 1.300 Antes de Cristo

Conta-se que o rei de Minos aprisionava o Minotauro, um monstro com corpo de homem e cabeça de touro num labirinto para que ele se perdesse e não pudesse fugir.  Minos, da ilha de Creta, era filho nada mais nada menos que de Zeus, o deus máximo dos povos helênicos que havia transado com uma princesa fenícia, chamada Europa. O nome Europa deriva dessa princesa, e a cultura da ilha de Creta daquela época é chamada de minoica, também por associação com o nome de Minos.  

Teseu foi o herói lendário grego que matou o monstro Minotauro, mas somente pode fazê-lo com a ajuda de Dédalo que tinha um filho chamado Ícaro: Teseu deveria usar um novelo de lá que iria desenrolando na medida em que caminhasse pelo labirinto para saber onde era a entrada e voltar. Teseu entrou, usou o novelo de lá e matou o Minotauro. Quem não gostou nada disso foi o rei Minos que prendeu Dédalo e ícaro no labirinto. Para fugir, construíram asas com penas de pássaros coladas com cera. Os partiram para o vôo, não sem antes Dédalo aconselhar o filho a não voar muito perto do sol para que a cera não derretesse, nem perto do mar, onde a umidade poderia aumentar o peso das asas e provocar a queda.  Ícaro, entusiasmado com o vôo, voou muito alto e como previsto, a cera derreteu. Caiu no mar e morreu.

2.      João de Almeida Torto e suas asas de pano com dobradiças de ferro - 1540



O Brasil já fora descoberto há quarenta anos e começava a povoação com imigrantes dispostos a construir uma nova vida em terras menos competitivas e mais livres da Inquisição quando numa manhã o povo da cidade de Viseu, no Norte de Portugal, alvoroçou-se com a notícia apregoada por toda a cidade:
“Saibam todos os senhores habitantes desta cidade, que não terminará este mês sem se ver a maior das maravilhas, a qual vem a ser um homem desta cidade voar, com asas feitiças, da torre da Sé ao Campo de São Mateus, pelo que responde por sua pessoa e bens – João de Almeida Torto”.

João de Almeida Torto era enfermeiro do hospital de Santo Antônio, mestre das primeiras letras e costumava escrever cartas familiares e de amores, cobrando o dobro do preço por estas últimas. Era casado e sem filhos. Construiu as asas com panos fortes, duas de cada lado, a debaixo menor que a de cima, pelas quais passavam, também de cada lado, três argolas de ferro enchumaçadas com panos, por onde João Torto enfiaria os braços. Duas dobradiças de ferro faziam a junção das asas superiores, e as inferiores possuíam um cinto de cabedal que se cingia ao corpo de João. Os sapatos tinham três solas com espaço entre elas para amortecer o pouso, e usou uma máscara em forma de bico de pássaro, quer por composição estética ou superstição, e no dia 20 de junho de 1540, às 17:00 horas em ponto, lá estava João de Almeida Torto, testamento passado em nome da mulher, cercado de uma multidão, na Torre da Igreja com as suas asas que fizera subir por cordas. Lançou-se e algo deu errado: Uma das dobradiças emperrou e não pode bater um dos lados das asas. Além disso, o bico de passaro desceu-lhe ate os olhos de forma que ficou impedido de ver adiante. Assim mesmo conseguiu “voar” até um telhado próximo, mas não se segurou e caiu. Ficou desacordado, e aparentemente apenas com o braço esquerdo deslocado. O feito poderia ter um relativo sucesso, mas João de Almeida Torto não resistiu ao impacto e morreu. Um dos sapatos perdeu-se.

3.      A passarola do padre Bartolomeu de Gusmão – 1.700 depois de Cristo.


O padre Bartolomeu Lourenço nasceu na cidade brasileira de Santos em 1.685 e possivelmente já sabia das histórias de Ícaro e de João de Almeida Torto. Nunca fiando, não acreditou nas asas para uso de seres humanos visando ao vôo. Em homenagem a seu preceptor jesuíta Alexandre de Gusmão, adotou a partir de 1718 o apelido de Gusmão. Bartolomeu de Gusmão. Viajou muito entre Santos, Salvador e Lisboa e conseguiu planejar e construir uma tubulação de água para levar água de um brejo para o seminário de Belém, em Cachoeira, onde estudava.

Em 1707 recebeu a primeira patente de invenção outorgada a um brasileiro, pelo rei D. João V: “invento para fazer subir água a toda a distância e altura que se quiser levar”. É possível que se tratasse de um carneiro hidráulico.Viajando pela Europa, patenteou em 1713, na Holanda, uma “máquina para a drenagem da água alagadora das embarcações de alto mar”, cuja patente somente veio a público em 2004 de acordo com pesquisa efetuada pelo escritor Rodrigo Moura Visoni.

Em 1709, e seguindo o principio de Arquimedes, mas do mais leve do que o ar e não do mais leve do que a água começa a trabalhar num protótipo de um balão. Isso mesmo. Um simples balão contendo ar aquecido, desses que soltam perigosamente nos dias dos santos populares e que incendeiam tudo o que é combustível quando caem e tombam. Porém, como pretendia construir um protótipo destinado a levar pessoas e desejava preservar o seu projeto que nunca saiu do papel, desenhou um projeto falso, tendo uma cesta em forma de barco e uma cobertura em forma de pássaro, evidentemente sem o balão. Este projeto em forma de barco correu toda a Europa e deu fama a Bartolomeu.

Fez algumas experiências com balões simples dos quais a maior parte pegou fogo ao descer e tombar. Não se viu em sua invenção nada importante ou útil, e pelo contrário, se temia pelo seu uso que poderia pegar fogo em matas e casas. Em 1723 voltou mais uma vez a Portugal onde foi acusado pela diabólica inquisição de simpatizar com cristãos-novos. Mas já se convertera ao judaísmo em 1722 por absoluta falta de fé. Muitos cristãos, ou quase todos naquela época não tinham fé. Tinham medo da diabólica inquisição. Fugiu para a Espanha no final de setembro de 1724 com seu irmão Frei João Álvares com intenções de chegar à Inglaterra. Na linda cidade amuralhada e medieval de Toledo, Bartolomeu adoeceu gravemente e aos 38 anos faleceu. Os restos mortais encontram-se desde 2004 na catedral Metropolitana de S. Paulo.
Há um grande ditado: “Ganha fama e deita-te na cama”. Bartolomeu ganhou fama, mas não se deitou na cama. Pelo contrário, viajou muito, mas não sabemos bem para quê. Indeciso, recebeu rito católico: Confessou-se, comeu a hóstia e recebeu a extrema-unção, recebendo assim permissão para que seu corpo fosse enterrado.

4.      Adelir de Carli voa com mil balões - 2008


O padre Adelir de Carli benzia tudo, até caminhões, e deve ter benzido os mil balões que o levaram aos céus – literalmente – no dia 20 de abril de 2008 em Paranaguá. Ele pretendia bater um recorde e ficar 20 horas no céu, para chamar a atenção e angariar fundos a sua obra de construção de um hotel com 100 quartos para os motoristas de caminhão que trafegam pela BR-277 no Paraná. Mas os ventos o empurraram para mais de 50 km da costa, mar adentro.  Prevenido, o padre conseguiu fazer contato via celular, pouco antes da queda. Por meses foi dado como desaparecido até que parte de seu corpo foi encontrada perto de uma plataforma de petróleo a 100 km de Macaé no Estado do Rio de Janeiro.

Evidentemente que o vôo foi efetuado com muita fé, pouco estudo estratégico, sem estudo de correntes aéreas, condições climáticas, mecânica dos balões. O fato de cair significa que os balões estouraram. Na medida em que se sobe a pressão diminui e os balões inflam até romperem, estourarem. Se tivesse pousado no oceano, tranqüilamente, os balões o sustentariam e poderia usar o celular.  

Após a morte do padre Adelir de Carli, vândalos saquearam a sede da Pastoral Rodoviária que ele dirigia, invadiram o refeitório e roubaram um freezer, pratos panelas e talheres, e roubaram materiais de construção destinados á Igreja Matriz.

Tinha 41 anos e recebeu postumamente o prêmio Darwin, internacional, para vencedores que tiveram mortes inusitadas, acidentais. O Darwin Award saúda a evolução do genoma humano. Pessoas que não perpetuarão os seus genes. Além do mais, era padre e pressupõe-se que não podia ter relações sexuais. Mas nem por isso todos os padres recebem esse prêmio. 
Mas nem sempre sonhar é perigoso. Então, continuemos a sonhar, que mata muito menos do que viagem de avião, de bicicleta, e do que fumar ou ser atropelado por motorista bêbado. A lei brasileira está de parabéns por poder multar e prender, agora que a lei foi alterada, todos os que dirigirem mostrando sinais de embriaguês, porque o tal do bafômetro prendia e multava quem bebia e não quem tomava drogas e dirigia.

Rui Rodrigues

A necessidade da política tal como a conhecemos


A necessidade da política tal como a conhecemos
 A democracia tal como a imaginamos e não como é
Toda a experiência, o conhecimento e os arquivos técnicos que possuímos sobre “política” advêm de tipos de governo em que ela sempre foi necessária, por mais pérfida e inumana que possa parecer. Esses governos se caracterizam, ainda nos dias de hoje, por uma enorme concentração das decisões de poder, no sigilo de estado, na preservação de interesses pessoais e empresariais de quem influi nesse poder e muitas vezes lhes dita as decisões. A esta influencia se chama normalmente de “loby”. Nas ditaduras são as “eminências pardas” que atuam na sombra e transmitem tais interesses. Fazem a “ponte” entre o poder e os interesses das classes dominantes, sejam elas religiosas ou do empresariado. Uma sociedade precisa de tudo o que é prestável e de tudo o que é imprestável, porque é da diversidade que se faz o consenso. Todos temos uma palavra a dizer e que deve ser ouvida e soluções podem aparecer de onde menos se espera.

Um bom e drástico exemplo da necessidade da política, no contexto dos governos ditatoriais e dos representativos em geral, é a declaração de guerra. Todos os ministérios bélicos que conhecemos se intitulam eufemisticamente de “Ministério da Defesa”, mas são destes ministérios que sempre se iniciam os ataques, o que não é estranho, porque a política é a arte de convencer, exigir, realizar, de tal forma que no máximo fique a dúvida sobre a verdade, a necessidade ou mérito e o povo controlado. A decisão da declaração de guerra em regimes de democracia participativa fica entregue ao presidente do governo, ao primeiro ministro, ou mesmo ao rei ou rainha, e deve ser aprovado pelo Congresso. Foi assim que vimos Bush declarar guerras e após os primeiros ataques se dirigir ao Congresso para informar, sendo aplaudido. Mas... E o povo que lhe deu os soldados, gastará o seu dinheiro na guerra, o que pensa? Ora isso não interessa na política. Por isso o sistema é chamado de representativo. Representa – ou deveria representar – o povo, embora o povo jamais seja consultado seja para o que for. É como se o sistema tivesse o condão de adivinhar o que o povo quer, mesmo num país, como os Estados Unidos, em que cerca de 50% são do partido republicano e outros 50% são do partido democrata, pensando todos da mesma forma, de tal modo, que se houvesse apenas um partido não faria a mínima diferença quanto à política interna e externa.

E numa democracia participativa, como seria a declaração de guerra?

Bem, o governo poderia tomar todas as providências, desde o plano estratégico até o posicionamento de tropas e equipamentos, dentro ainda das fronteiras da nação, tudo pronto para o ataque, mas teria que colocar essa declaração em votação de emergência. Convocados os cidadãos a votar, o governo daria as suas explicações sobre a necessidade e abriria os canais de votação: redes sociais, celulares, telefones fixos, LANS, postos de votação 24 horas, a exemplo de Bancos 24 horas, e o povo votaria no prazo de 12 horas, sem voto obrigatório. O resultado determinaria a mais lídima expressão democrata da sociedade. Ou a ação prosseguiria, ou as tropas voltariam aos quartéis.

O mesmo raciocínio se aplica à fixação de taxas de impostos – todos eles – que atualmente não têm o mínimo sentido: Pagam-se impostos sem sabermos de antemão como se pretende que sejam usados. Depois de recebidos pelo estado é que vão ver onde gastá-lo. E tanto dinheiro, e a fraqueza humana quando se age isoladamente, tão grande, que é mais do que natural que cada órgão do estado tente puxar a brasa para a sua sardinha... Cada Estado, cada Órgão tenta arrebanhar o maior quinhão possível desses impostos. Para o povo, todos os anos carecem de primavera, outono e verão. Vive-se num inverno financeiro, porque não há alívio nos impostos. Isso cansa, isso esmorece, isso cria crises financeiras incríveis, o povo se estressa.

E como seria numa democracia participativa?

Os orçamentos de estado não são aprovados pela “oposição” nem por um senado. As contas da União são aprovadas por voto popular, e é pela apresentação desse pressuposto de gastos que se estabelece a taxa dos impostos, um imposto único. Para cada orçamento anual se emite um valor de taxa, de forma tal que haverá anos de aperto e anos de alívio. Nos anos de alívio a população poderá economizar ou gastar. Nos anos de aperto, se terá o que temos hoje: Aperto econômico. A economia não pode ser algo fixo, imutável, apenas para os cidadãos. Precisa-se de uma economia menos volátil, mais firme, mais humana, sujeita às necessidades de quem a faz e alimenta: os cidadãos. Se uma constituição como a do Brasil estabelece que os juros não passarão de 12 por cento ao ano, não pode haver taxas de juros bancários que ultrapassem esse valor. Isso seria, como é, usura e anticonstitucional. Governos que se dizem representativos fecham os olhos para o que interessa às “eminências pardas”, lobistas, pagadores de propaganda para eleições. É neste ambiente que se faz “política” alijando o povo de dar a sua opinião.

Numa democracia participativa a política se faz com a conotação de emitir “opinião” para que o povo se oriente e possa votar de forma consciente, porém sem o poder de fazer a política. Político não manda nada, não vota nada, a não ser como cidadão comum, da mesma forma que todos os outros, interessados, também votarão. Neste tipo de democracia, político é apenas mais um a votar. Quando uma lei for proposta para votação, irão aparecer os políticos que a apoiarão dando os seus motivos, e os que irão contra, expondo também os seus. Os cidadãos não ficarão pendentes de um senado de cerca de 300 indivíduos que em troca de um milhão de moedas se poderão comprar e até vender a mãe em mercado negro.

É algo para refletir. Afinal de onde saem os políticos em que votamos, senão do seio da sociedade, do povo? O que tem eles que nós não temos para decidir o que é bom para o povo, para o cidadão, para a nação?

Os políticos não têm nada demais, e agindo em alcatéia, em cáfila, em récua, em bando, podem nos fazer um estrago tão grande, que nossas sociedades jamais vêm um futuro realmente diferente. Parece que a vida nos é sempre difícil, quando na verdade poderia ser muito melhor, com um progresso fantástico, porque não haveria desperdícios. E mal ou bem, seria a vontade popular e não a vontade de meia dúzia. Olhemos a crise de 2008... Por falta de dinheiro, os Bancos pediram ajuda aos governos. Estes lhes emprestaram o dinheiro. A pergunta é: Porque razões não emprestaram o dinheiro aos devedores? A resposta é simples. Não emprestaram porque a causa da inadimplência popular residia no decréscimo da economia e não havia previsão de manutenção ou aumento da quantidade de empregos. Devedores poderiam perder os seus empregos e ficarem ainda mais inadimplentes. Mas quem foi o responsável pelo decréscimo da economia? Aparentemente ninguém, mas se nos aprofundarmos na pesquisa sobre corrupção, sobre a política financeira, sobre a aplicação dos impostos, sobre como se pagam as dívidas “morais” de campanha dos que se elegem, da divisão de verbas por setor da economia e Órgãos públicos, sobre empréstimos e juros baixos cobrados por instituições do governo a empresas, e em todos os setores da economia e da administração pública incluindo ministérios, encontraremos muitos culpados, certamente.

Constroem-se estradas que passam propositalmente por construções, terras ou instalações privilegiadas, deixando áreas populosas sem esse beneficio, e se aplicam recursos públicos em festas e propaganda política para dizer que tudo vai bem, apesar de populações inteiras sem redes de água, esgoto, energia elétrica. Estamos com apagões constantes, no Brasil, que se devem a uma pressão das empresas de energia elétrica para aumentar os preços e provocar no estado a necessidade de lhes construirmos mais usinas elétricas a preço de banana com os dinheiros públicos, quando deveriam ser elas, que levam o dinheiro dos lucros, a melhorar o seu sistema de manutenção, e a construir novas usinas.

A política atua do lado errado, contra os cidadãos, porque os políticos têm o poder de decidir em nosso nome, sem que se vejam obrigados a nos perguntar seja o que for. Presidente nem manda: As forças políticas lhe determinam o que fazer, como fazer, quando fazer. Porque razão fazer não lhes importa, desde que o povo fique quieto.

Vamos mudar tudo isto?

Basta que se exija uma nova constituição nos moldes da que se propõe em http://conscienciademocrata.no.comunidades.net/index.php?pagina=1290573303

Rui Rodrigues