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segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Era uma vez no Oeste... A história de Jonathan Jackson

Era uma vez no Oeste...
A história de Jonathan Jackson



Bird’s-Eye é uma pequena cidade nas Montanhas Rochosas do Idaho. Tinha um salão, um Banco, uma estação de telégrafo perto da estação das diligências, bem ao lado do escritório do Xerife onde fica a prisão, lá bem nos fundos do escritório. 
O Banco não valia a pena assaltar porque o máximo de valor de transações comerciais na cidade não ultrapassava os mil dólares, ou seja, o total das retiradas dos clientes era de mais ou menos 500 dólares que correspondiam a outro tanto de depósitos. Um grande negócio porque o Banco não usava o seu próprio dinheiro nem quando emprestava. Emprestava o dinheiro dos próprios clientes. No salão três putas americanas, uma mexicana e uma francesa. 
O pianista, a esse nunca ninguém se preocupava em perguntar onde nascera, porque ninguém escutava música quando visitava o saloon, principalmente depois de ter tomado um par de garrafas de whisky. Eles tomavam facilmente duas garrafas, porque já na segunda dose era misturado com água. Assim pagavam mais e ainda se vangloriavam de aguentar muita bebida. 



Jonathan Jackson era de lá, trabalhava num rancho das redondezas, conduzia gado até Montana, não tinha conta no Banco e conhecia todas as putas. Ele e o pianista. Sonhava comprar um rancho, mas como isso iria demorar muito, ia se divertindo no saloon para passar o tempo. Só para tirar onda, uma vez por mês comprava um jornal, sentava-se numa cadeira sob o balcão de uma casa, esticava as pernas para descansarem no peitoril, puxava a aba do chapéu para trás e enquanto lia as notícias e mascava seu tabaco, deitava os olhos pelas moças que passavam. Cumprimentavam-no por cortesia, não porque o conhecessem. 


Era raro conversar com alguém. Nem mesmo no saloon. Entrava, dizia meia dúzia de palavras, escolhia a moça e levava para o quarto. Pedia uma garrafa de whisky e sempre se preocupava em deixar um par de goles para a moça. Depois voltava para o rancho. Tomava banho às sextas, no rancho, de um regador furado e dependurado do teto do galpão com sabonete comprado no armazém para tirar aquela inhaca de égua xucra no cio e de poeira cravejada de partículas de bosta de vacas de transumância.

Naquele dia não nevava embora a rua estivesse cheia de neve do dia anterior e dos telhados ainda escorresse alguma. Pés esticados sobre o peitoril lendo o jornal deteve-se numa notícia: Franklin Roosevelt tinha rancho em Idaho e andava por lá de visita. Bem ao lado uma foto de Calamity Jane e um anuncio de recompensa para quem a levasse viva ou morta a qualquer escritório de qualquer xerife. Franklin Roosevelt viria a ser o presidente dos Estados Unidos da América do Norte, mas Jonathan Jackson não sabia disso. Ninguém sabia ainda, porque corria o ano de 1899 e Franklin só seria presidente nos primeiros anos da década de 40. Jonathan esperava a diligência que traria uma nova puta para o saloon. 
Ficara sabendo da notícia lá em Three Island Crossing quando atravessava reses na semana anterior. Fora o pastor que era também o dono das reses quem avisara em tom de crítica. O pastor dissera: - O Saloon é um antro de perdição. Fujam de lá. Só serve para gastarem dinheiro e se encherem de whisky. Jonathan lhe perguntara então: - Mas pastor, se não formos lá, quais as moças da cidade que poderão nos fazer o favor, grátis, claro, e sem bebida, de nos esvaziar os sacos? O pastor tinha duas filhas. E respondeu prontamente:- Também é verdade... Também é verdade... E está para chegar uma para trabalhar no Saloon que dizem ser jovem e muito bonita. E lá estava Jonathan Jackson esperando a moça. Queria ser o primeiro, como quem deflora uma virgem. Já andava meio cansado de frequentar o Saloon, e ter que passar na drogaria e comprar remédio para prevenir gonorreias. Esperando também estava a dona do Saloon acompanhada com um jovem rapaz. Reconheceu-o da foto do jornal: Era Roosevelt, filho de ricas famílias que tinham comprado recentemente um rancho no Estado. - Coincidência desgraçada! Disse para si mesmo Jonathan. Deu uma cuspida de tabaco que esguichou a uns dois metros, levantou-se, dobrou o jornal e aproximou-se deles. A diligência estava chegando. Ouvia-se o tropel dos cavalos vindo da curva na entrada da cidade. Mas não era a diligência. 



Era uma carruagem de propaganda anunciando a inauguração de um circo com a presença de Bufallo Bill. Balançando no telhado da carroça fechada com as laterais pintadas com as imagens do circo, havia como que uma enorme tripa transparente, parecendo de intestino de boi balançando ao vento. Um sujeito com cara de dentista, vestindo uma bata branca por cima de sua roupa de dandy, saiu de dentro e começou a vender pacotes daquela coisa, dizendo que era para prevenir doenças venéreas e para evitar gravidez nas mulheres. Era a ultima novidade no setor da indústria do sexo. Juntou muita gente ao redor da carroça. Uns riam, outros se indignavam. Kate MacPerson, a dona do saloon, dizia que suas meninas não precisavam disso. Eram todas saudáveis. O pastor que ia passando disse que isso era coisa do demônio, de Satanás.
Todo mundo sabia que Bufallo Bill era muito amigo de Wild Bill Hickok, o grande xerife e marshal, que fora casado com... Não era possível... E Jonathan Jackson gritou outra imprecação surda que só ele ouviu:- Mais uma coincidência!... Wild Bill Hickok tinha sido casado com Calamity Jane!


Jonathan conversou com Kate MacPerson e o jovem Roosevelt e ficou sabendo que a moça esperada teria como primeiro cliente o ricaço Roosevelt bem ali a seu lado. Então algo explodiu de repente em seu cérebro ansioso por uma dose forte de whisky. Nos próximos minutos teria que resolver alguns problemas. Andava cansado daquela vida de cowboy, de ser preterido por figurões. Há horas em que um homem tem que se decidir ou então não será ninguém na vida.  
Passaram-lhe uma corda à volta do pescoço dois dias depois. Jonathan Jackson viu quando o cavalo em que estava montado disparou à sua frente, logo a seguir ao barulho de um tapa forte dado no traseiro do animal e do solavanco como se quisesse escoucear. Depois sentiu-se balançar pendurado pela corda numa grossa viga da porteira. Sacudiu as pernas sem sentido, por puro instinto e lamentou ter as mãos amarradas por cordas, e em seguida tudo apagou. Deixou de ver e de ouvir, não podia falar, contar algo para eles. Teria muita coisa para lhes contar.  


Disseram as testemunhas que viram Calamity Jane chegar na carruagem que chegou logo em seguida ao carro de propaganda do circo de Bufallo Bill. 
Para espanto de todos os que tinham lido o jornal do dia anterior, o mesmo que Jonathan lera naquele dia fatídico, Calamity cumprimentou muito bem o jovem garoto Roosevelt. Ouviram perfeitamente quando fizeram menção aos encontros com Buffalo Bill e Wild Bill quando este era casado com Calamity. Todos se conheciam. Por isso não avisaram de imediato o Xerife. Deveria ser um engano dos homens da lei que pregam esses avisos de “Reward”. Lembram-se também de terem visto uma linda moça com um sotaque meio francês meio americano de N. York, cumprimentando a dona do Saloon. O próprio Buffalo Bill se apeara da carruagem de propaganda para cumprimentar Calamity Jane e o jovem Roosevelt. Isto foi numa sexta-feira 17 de fevereiro de 1899 ao entardecer. Elas se lembram de o banqueiro, o senhor Joshua Thompson, ter aberto as portas do Banco para Bufallo Bill e Calamity Jane que usava um traje feminino porque precisavam movimentar contas. Outras testemunhas se lembram de várias outras pessoas terem entrado no Banco enquanto conversavam. Estavam conversando na entrada e foram entrando no Banco para terminarem a conversa lá dentro, supuseram. Entre eles estava Jonathan Jackson também, conversando com a moça bonita que chegara na diligência.



Houve quem dissesse que Calamity Jane jamais falara com Jonathan, que Roosevelt não discutira com Jonathan, e que nem viram quando a briga começou, mas que quando o Xerife Donaghan apareceu, o banqueiro avisou que tinha sido roubado. Jonathan Jackson havia desaparecido. Procuram-no a noite toda de sexta. Finalmente, face ao roubo do Banco, alguém se lembrou de avisar que Calamity Jane fazia parte das notícias do jornal de quinta feira. Ela havia se evaporado da cidade também. Buffalo Bill só se lembrava da pancadaria no Banco, assim como o jovem Roosevelt e as demais testemunhas. Alguém levantou a hipótese de Calamity e Jonathan estarem juntos no roubo. A moça que chegara na diligência na manhã de domingo, dia em que penduraram Jonathan pelo pescoço no Saloon, estava arrumando as coisas no quarto que lhe fora destinado quando a procuraram no sábado. Kate MacPerson, a dona do Saloon, jurou em seu depoimento que Jonathan não tinha passado pelo Saloon, e que a moça nova tinha passado toda a noite em seu quarto com fortes dores de cabeça. Roosevelt garantiu que se um dia fosse eleito presidente dos EUA acabaria com o crime em todos os Estados e territórios.


Ninguém perguntou a Brenda Duncan, a faxineira, se tinha visto Jonathan por perto. Aos domingos ela não trabalhava e aos sábados estava sempre na lavanderia lavando os lençóis do prazer, as roupas íntimas das meninas cansadas de verdadeiras batalhas nas noites animadas do Saloon, preenchidas por sons de piano e risadas alegres. Se tivessem perguntado ela teria que lhes contar que Jonathan Jackson tinha passado a noite toda com a moça que chegara na diligência na sexta-feira, tendo entrado em seu quarto subindo pelas traseiras do prédio, justamente onde ela, a faxineira, costumava cochilar à noite enquanto esperava que a chamassem para algum serviço urgente de limpeza. Normalmente quando vomitavam por causa da bebida. Ela ganhara uma linda nota novinha em folha, e na segunda feira, a moça bonita que chegara na diligência disse que não gostara da cidade e voltou para Miami. Partiu na mesma diligência que a trouxera, agora a caminho de Aberdeen, mas ninguém da cidade poderia ter visto Calamity Jane esperando por ela à sua chegada na estação das diligências de Aberdeen, e passar-lhe a mão no traseiro quando se abraçaram.

Calamity Jane agora vestia calças, portava um colt 45 na cintura, uma winchester 63 (1863) na mão esquerda, coçava o saco e conseguia cuspir tabaco mascado a dois metros e meio de distância. Uma garrafa de bebida por dia era pouco. 

® Rui Rodrigues  


domingo, 16 de fevereiro de 2014

A Política no Brasil em alguns tons de amarelo, azul e verde.

A Política no Brasil em alguns tons de amarelo, azul e verde.
Ou, “caindo na real”.


Antes de seguir adiante tenho que esclarecer um ponto muito importante: Prevalece neste texto a isenção tal como expressa no site [i] da Democracia Participativa Total.
Nela, haver ou não partidos políticos não faz a mínima diferença, porque não elegem ninguém nem têm poder de decisão. Aliás, nenhum político tem, porque todas as decisões de Estado são votadas publicamente. Nos Estados também. O Brasil seria uma Confederação com mais liberdade para os Estados. Amamos o Brasil e o povo brasileiro, nossa nação e estamos certamente preocupados com os rumos de nossa política interna e externa que se reflete na economia. Como parece cinza, tal como uma nuvem em vários tons no céu de anil de encantos mil, vejamos o que há nesses tons [ii] iluminados por nossa bandeira.

1.     O povo brasileiro

Como podemos definir o povo brasileiro e que importância isso tem na análise política econômica de nossa nação? Na verdade nem precisamos definir-nos as características. Somos um povo humano como outro qualquer. O que nos diferencia é o nível de cultura médio da população, os índices de pobreza, o nível dos serviços públicos, o desenvolvimento tecnológico, nossa posição relativa entre as nações do planeta. Isto inclui mortalidade infantil, produto interno bruto, IDH, e todos os tipos de análise usuais e disponíveis em Organizações Mundiais que juntam seus esforços para determinar como vai a vida neste planeta.

Sob este enfoque, estamos mal. Muito mal. Costumamos dizer que a América do Norte e a Europa são os locais do globo mais desenvolvidos. Que a Ásia tem bastantes pontos de desenvolvimento geral comparáveis à Europa e à América do Norte, que a África é o lugar mais atrasado do planeta. Nosso lugar pelos índices gerais de análise estaria em algum lugar da Ásia ou da África. Aqui na América do Sul, a maioria dos países nos dá um caldo em educação, em infraestruturas, e só perdem em tamanho, na classificação em termos de economia e geralmente no futebol. Mas onde está o erro se somos um povo trabalhador e empreendedor, não desistimos nunca, e somos tão ricos no solo, no subsolo, no mar, temos fábricas, prestamos serviços, somos autossuficientes em petróleo (a menos que nos tenham enganado), e somos donos das maiores riquezas minerais como minérios em geral e até em nióbio? Temos os cristais de quartzo mais puros do planeta para fabricar chips de computador e mesmo assim os importamos? Que nuvem nos assombra há séculos? Porque não podemos voar pelos céus do desenvolvimento livres dessas nuvens?

2.     O passado político que criou os hábitos até hoje



Nosso passado político passou pela submissão a uma metrópole europeia. Todos os países do mundo já passaram por uma submissão a outros países, toda a África já passou por isso, grande parte da Ásia, exceto a Rússia e até a China já foi invadida e dominada pelo Japão. Depois que as naus e caravelas começaram a traçar os oceanos, vindas todas exclusivamente da Europa, o planeta se tornou uma sua dependência. Países dependiam dela quer politica quer economicamente. Portugueses, franceses, holandeses, espanhóis, ingleses, belgas, alemães, todos eles tiveram colônias na África e/ou na Ásia, e/ou nas Américas. Todos eles fizeram e comerciaram com escravos, exploraram madeiras, derrubaram florestas, perseguiram tribos e nações autóctones, bombardearam aldeias e cidades, levaram ouro, minérios, riquezas. As próprias tribos africanas faziam escravos entre si que vendiam aos mercadores dos navios. A Inglaterra queria controlar o comércio do ópio na China e abriram uma guerra contra ela. Foram as duas primeiras nações do mundo a oficializar o comércio de drogas e a pirataria. Mas como isso se refletiu na nossa nação, em algumas outras nações também e em algumas outras não ou nem tanto?



De 1500 até 1808 quando D, João VI veio para o Brasil, este território foi explorado como todos os demais países do mundo novo e da África. Podemos dizer que, exceto pelas leis que protegiam o Reino Europeu, as demais decorriam em função não de justiça, mas de conveniências de quem as podia ter quer por dinheiro quer por poder. A partir de 1808, o Reino de Portugal tinha aqui a sua capital no Rio de Janeiro. Pouco mudou. As riquezas eram tantas que se gastava à tripa-forra. O mal era de origem. Uma questão de pudor. Era assim já no continente, mas em outros países como França, Inglaterra, Holanda, não se podia mostrar ser mais papista que o papa, ter mais influência do que o Rei. Havia uma hierarquia bem definida, uma questão de princípios que, mesmo destoando dos de hoje por questões de evolução, também mantinham as mesmas diferenças. Países anglo-saxões, nórdicos, têm um polimento e uma lisura que os países latinos, descendentes políticos do caos romano, não conseguem igualar. Isto se estende à política. Todos têm seus erros, mas nuns os erros são hábitos, noutros apenas erros eventuais. Somos dos países que criaram hábitos. Enquanto nos demais países colonizados por outras potências, escravos eram uma sociedade à parte, por aqui o senhor do engenho se deitava com escravas, as oferecia em troca de favores aos políticos. A lassidão política gera injustiças.



Em 1822 nos tornamos independentes, mas mantendo laços fraternos. Afinal, o Brasil está povoado por uma saudável miscigenação entre europeus, povos autóctones e africanos. A partir desta data, a responsabilidade de mudar tudo o que estava errado já não era da metrópole. Ficamos assim abertos às influências do mundo ao nosso redor, ligados por telefone, aviação, marinha, ao continente europeu. Em 1889 resolvemos que não seríamos nem um reinado nem um Império e estabelecemos a República. Poucos anos depois, soubemos que havia um novo regime político disponível para todos os governos da Terra: O comunismo. Foi em 1917. E em 1939, na Europa, mais um sistema político surgiu: O Nazismo, fundado por um partido de trabalhadores alemão. Em todo esse tempo, desde 1808 até 1939, sempre progredimos razoavelmente, mas sempre na traseira de países que vimos crescer e dos quais temos que sentir certa inveja, porque tiveram praticamente o mesmo prazo para se desenvolverem após a independência: EUA, Canadá. Outros ainda, embora não passassem pelo estágio do colonialismo, vingaram de forma impressionante, como o Japão, Cingapura, os países nórdicos, e a fabulosa recuperação da Alemanha mesmo depois de destroçada em duas guerras mundiais. O que tem impedido o nosso desenvolvimento para que nos tornemos uma nação equilibrada como estas, ao longo de todo este período de experiências internacionais?

Não erraríamos muito se disséssemos que houve uma simbiose, uma conivência entre o dinheiro fácil auferido por políticos no governo que não viram a necessidade de desenvolvimento nacional porque podiam importar tudo de fora, e a conformação popular que para sobreviver se aproveita dos sete pecados capitais desses políticos e lhes compra benefícios, favores, em troca de propinas. Com esta mentalidade, qualquer sistema político não vai muito longe na melhora das condições de seus cidadãos seja comunista, capitalista, de direita ou de esquerda.



Foi assim que, a partir de 1959, em plena guerra fria, e com a revolução cubana, a ideia do comunismo, ou algo mais moderado como o socialismo, começaram a tomar vulto no Brasil. Alguns presidentes chegaram a condecorar Che Guevara e a enaltecer líderes do comunismo sul-americano, um comunismo “tropical” romanceado com ideias de pirataria e heroísmos da Cavalaria feudal. No início formaram-se grupos armados que pensavam que instruindo e motivando as populações, se conseguiria mudar a mentalidade nacional, a nossa idiossincrasia. Esses grupos recebiam ajuda de Cuba, que por sua vez a recebia da China e da URSS, e promovia assaltos a Bancos, raptos. Em 1964 forças políticas se insurgiram e as Forças Armadas foram o seu braço. Muita gente ainda pensa que a revolução de 1964 foi iniciativa das forças armadas. Claro que não foi. Foi um trato entre políticos de direita, empresários (que tinham o dinheiro necessário) e militares. Em 1985 a esquerda democrática assumiu os destinos do Brasil. A partir de 2002, com a ascensão de Lula, a esquerda capitalista assentou-se no poder.

3.     A situação política atual e as eleições de 2014.

Depois dos rompantes psicológicos de Collor, muito parecidos com os do transtorno bipolar [iii], a população foi para as ruas pedindo o Impeachment. O senado deu ao povo o que pediu. Collor era nitidamente de direita moderada, por seus pronunciamentos. Na verdade, como empresário de família de empresários, era de direita. Se juntarmos tudo o que dissemos até agora, não teremos de que nos admirar de todos os partidos políticos de maior relevância no Brasil serem – ou se dizerem – de esquerda. Na verdade, só no diálogo.  



Mas como dizer que são de esquerda, se as empresas no Brasil fazem o que querem, incluindo deficiência em serviços, sem fiscalização do Estado, de tal modo que se alguém quiser reclamar terá que dirigir suas reclamações a juízes do próprio Estado? Até o governo de Collor e uma meia dúzia de anos mais, o Estado exercia a fiscalização, aplicava multas, fechava empresas. Agora é o cidadão que tem que se incomodar indo a repartições várias vezes por mês para deixar entregue a um juiz de pequenas causas as suas reclamações. Isso demora, nem sempre é resolvido, e no caso de planos de saúde pode determinar a vida ou a morte. Casos atrás de casos de corrupção em todos os partidos se acumulam sem solução nas páginas dos jornais. Os juros bancários são os mais altos do planeta, insuportáveis por uma população majoritariamente ignorante de matemática financeira. Verbas dos Estados e do governo central são destinadas a obras que ficam paradas. Como sabemos, a culpa de estarem paradas irá recair sobre o governo, e isso é dinheiro “em caixa”, porque as empresas ganharão correções financeiras mesmo sem gastarem um centavo. Estamos pagando juros por obras paradas. A maioria da população não se dá conta disto. Ninguém aparece para agilizar as obras. As obras do PAC são um exemplo. Nossas forças armadas estão sucateadas, e á frente do ministério da defesa estão generais que não deveriam estar por terem passado da idade, mas que foram mantidos porque pertencerem à filosofia do partido no poder, o PT.



Estradas estão esburacadas, os portos funcionam a meio vapor, safras já foram parcialmente perdidas. Os serviços de saúde têm muitas deficiências. O ensino não melhorou, creches fazem falta. Os transportes públicos são antigos, transitam fora dos horários, os preços não justificam o preço, ônibus são queimados todos os dias, composições de trens são depredadas por população revoltada. E isto começa a agradar à população em geral, que se revolta contra um governo como cavalo xucro se volta contra o cavaleiro.  Não é de se esperar uma ajuda moral do empresariado para uma aproximação à direita porque não lhe parece necessária: Podem fazer o que quiserem, emitirem o tipo de contrato de serviços que quiserem sem serem molestados pelo governo. O povo continua sendo o escravo que paga não só o que consome para se alimentar, como ainda para ser transportado, morar, e sustentar os gastos da corrupção e do governo. Os critérios para aferição de inflação, de produtividade, de educação e outros, são constantemente adaptados para não mostrarem a realidade. Estamos deixando de investir na produção. Nossa indústria não se atualiza, não se desenvolve. Importamos tudo, até o que poderíamos fabricar aqui. Em poucos anos mais, deixaremos de ser a sexta economia do mundo e logo deixaremos de ser a décima, a vigésima, até que tudo mude novamente. Mas com o declínio de nossa economia, menos impostos serão recolhidos. Os programas do governo encolherão. Precisamente numa fase da economia mundial em que todos os países parecem voltar a crescer. Enquanto isso, o Nordeste continua seco, sem água, morre de sede meu gado, meu alazão. 



A esquerda ficará no governo enquanto houver capital, ainda imbuída de características de heroísmo, cavalaria feudal e pirataria. Aliados ao dinheiro “colonial”, fácil, da arrecadação de impostos, os atos de governo deixam de ser relevantes. A palavra, para um povo carente de educação e cultura, consola, dá esperanças... O capital mantem no poder o comunismo verbalizado para "inglês ver". Nossa política é corrupta desde nascença, e isto tem que mudar.  

Qual a porcentagem média de pobres entre 1822 e hoje? O que mudou e o que mudará?


® Rui Rodrigues















[ii] Não publicarei estatísticas, embora este texto seja nelas baseado, por se tratar de uma impressão geral. Para matemáticos eles têm um significado. Para o povo comum, a importância é relativa. O texto é para todos.
[iii] Era voz corrente que ele agia como se cheirasse pó (cocaína)... Ficou conhecido como Fernandinho do Pó e cumprida a pena de afastamento, voltou à política. Seu voto ainda conta no plenário onde a vida nacional se resolve. 

sábado, 15 de fevereiro de 2014

O céu [i] tem catraca e cobrador

O céu [i] tem catraca e cobrador



Quando tinha uns não sei quantos anos, mais ou menos nessa idade, comecei a preocupar-me com o céu. Do primeiro testamento e pesquisando na religião judaica, percebi que não existe céu como “um lugar” aonde se vai depois de morto, para receber a recompensa de uma vida passada em graça. Na Bíblia Cristã, no segundo testamento, essa possibilidade é mencionada. Seria possível dependendo de meu comportamento durante a vida, sendo certo que seria muito difícil, insano, ainda mais para quem já nasce com um pecado capital que é limpo quando se recebe água benta ou se mergulha no rio Jordão (este não precisa ser benzido e ficamos na dúvida se outros rios precisam  ser benzidos ou se têm a mesma propriedade)... Algumas religiões também têm céu. Outras não. Céu é lugar de deuses, não de humanos mortos. Perguntei se podia levar a minha gata Sarkye, que não fez nunca mal a ninguém, mas não souberam informar. 

Perguntei em muitos postos de informação – os templos - sobre como seria o céu que oferecem, sendo que em alguns destes postos se compram lugares no céu, em troca de algumas dádivas para os templos. Mas não havendo despesas com papelada, transporte, etc. achei muito caro e desisti. Desisti não por simplesmente ser caro, mas porque ninguém me soube dizer como seria o céu, ou paraíso... Num dos postos de informação disseram que se eu fosse um guerreiro e matasse muitos inimigos ganharia um céu especial: Com sete virgens me esperando. Virgens sem nenhuma experiência sexual, como quem estupra neném não faz o meu gênero. Fiquei imaginando se poderia levar minha noiva para lá, mas face à proposta, eu correria o risco de ela ser guerreira e em vez de mim encontrar no paraíso sete mancebos virgens para ela se esbaldar.



Então fui à procura de alguém que me pudesse informar com toda certeza como era o céu, ou paraíso... Como não encontrei ninguém que soubesse informar, porque só faziam referências a livros e os livros discordavam entre si, resolvi procurar por mim mesmo. Procurei anos a fio, até desistir, mas antes consegui levantar algumas premissas à luz do conhecimento moderno. Céu é céu, um lugar onde se entra e não se sabe se se sai, e como acontece com todas as entradas deve ter catracas [ii] e cobradores. As catracas devem permitir a passagem de gordos e gordas, os cobradores devem ter sempre troco. Devem ter sempre troco porque cada povo tem seus costumes, e os respectivos céus devem estar locados em lugares adequados, senão seria um inferno e não um céu. Como um lugar deve ficar mais longe do que outros, o valor da passagem não pode ser único. Seria injusto. E como hoje em dia com a NET há amigos em todos os países e de todas as regiões, deve ser permitida a passagem de lugar para lugar para visita-los. Como nada é de graça, até porque para entrar temos que fazer "boas ações", para se visitar os amigos há que pagar as passagens, e para ter capital para pagar as passagens tem que haver agência de empregos. Mas com certeza mesmo, ninguém me soube informar. Vinham com evasivas.

Finalmente percebi muito facilmente que o paraíso já existiu aqui neste planeta há milhões de anos atrás. Depois estragamos o convívio entre animais e nós mesmos, e entre nós mesmos, agredimos a natureza caçando-nos uns aos outros. Vieram as guerras, as mortes, as doenças porque se incentivava a aglomeração humana, reunindo porcos depósitos de dejetos a céu aberto, conspurcamos a própria água que teríamos de beber. Mataram-se animais à paulada, estrebuchando pelo chão em meio a poças de sangue, formamos exércitos destinados a matar, matar, matar, fazer escravos. Aprendemos com os escravos a ganhar a vida sem trabalhar. Continuamos a fazer escravos agora com outros nomes mais pomposos, mais “nobres”, embora se viva em repúblicas que deveriam estar no banco dos réus.
E percebi finalmente que ninguém, ou quase ninguém, talvez tantos quantos possam passar pelo buraco da agulha por onde alguns camelos podem passar, sabe realmente, com propriedade onde fica o céu, o que ele contém, como é a “vida” por lá... É tudo mídia. Apenas informação tal como se pode encontrar em qualquer revista de ficção científica, ou nas revistas em quadrinhos.

Há Deus [iii]? Claro que sim, mas tal como não nos conta quais são as leis que regem o Universo, também não nos contou como é o céu. Tal como acontece com as leis que regem o Universo também o céu teremos que descobrir se existe ou não, como é e o que se faz por lá, mas há fortes indícios de que o céu – ou paraíso – pode existir aqui mesmo na Terra. Para uns já existe, mas é temporário: ao fim de algum tempo vão à falência e perdem o céu. Outros perdem o poder e passam pela catraca do inferno [iv] depois de terem mandando todo mundo – menos alguns camelos – para os quintos dos infernos. Mas para vivermos todos no céu não necessitamos esperar que algum astronauta dê a volta ao Universo para provar que ele é redondo... Perfeitamente redondo sem ter espichado nem um só ano-luz para qualquer lado. Mas é tão grande, tão grande, mas tão grande, que podemos afirmar que ele é plano e que não tem nenhuma tartaruga suportando todo esse mundo sem fim.

E também não há dragões, monstros marinhos, aéreos ou terrestres, impedindo a passagem do Universo para o céu...  

® Rui Rodrigues









[i] Céu ou paraíso... Para quem achar que são duas coisas diferentes, é ao paraíso que me refiro, aquele lugar para onde se pode ir mas parece que ninguém vai: Só os que puderem passar pelo mesmo buraco da agulha que os camelos podem passar.
[ii] – Precisam aprender com a União Europeia a elaborar manuais de padronização de bens e produtos para que estejam disponíveis sempre com a mesma qualidade
[iii] Pra mim existe, mas posso garantir que não se parece em quase nada com o Deus que todos conhecem... O Deus que imagino é muito mais forte, mais poderoso, mais omnipotente e muito mais inteligente do que se imagina por aí, mas isso não faz de mim um ser igual a ele nem à sua semelhança. Se fizesse eu não ficaria aqui neste mundo. Iria para bem longe...
[iv] Este é outro problema... Pode haver só céu, céu e inferno, ou só inferno... Pelos buracos das agulhas passam alguns camelos, por outros nem vírus, moléculas, átomos ou partículas de Higgs  passarão. 

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Paris é uma saudade

Paris é uma saudade 



Arlette ainda é uma “buraliste” na França, nestes idos do começo dos anos 10’s. Mais precisamente em Bout-du-Pont, uma pequena vila na estrada E-30 que liga Toulouse a Bayonne, um pouco antes de chegar a “Pau” [i], quase em frente à estrada que chega de Lurdes, o santuário cristão.

Os franceses- e principalmente as francesas – sempre tiveram bom gosto. Bom gosto deve ser o nome de um gene fantástico que ainda não descobrimos no genoma humano. Eles são bons de nariz e preparam pratos fantásticos, fazem excelentes perfumes, pintaram quadros fabulosos, ditam moda, as mulheres são doces e sensuais. No tempo da corrida do Ouro para o Oeste dos EUA, muitas fizeram as delícias de cowboys broncos dançando o can-can, eles sempre armados, e muitas delas, as dos “saloons” [ii], se fizeram passar por francesas. Fizeram a Revolução francesa, mas falharam. Tentaram conquistar toda a Europa incluindo a Rússia e falharam. Na primeira e na segunda grande guerras foram invadidos facilmente, mas preservaram as suas obras de arte. Em termos bélicos deixam a desejar, o que é perfeitamente compreensível. Quem ama a arte e a beleza não pode ser a favor de guerra nem que seja para se defender. Narciso passou por lá e se estabeleceu. Criou raízes, espalhou genes sobre os celtas e criaram o povo Franco.  




Buraliste é o dono ou a dona de uma tabacaria, um quiosque onde se vendem cigarros, cigarrilhas, charutos, isqueiros, artigos correlatos. Meu tio ainda não fuma e meu pai nunca fumou e já nem poderia se quisesse. Faleceu de câncer com o pulmão limpo. Eu morrerei de “não sei de quê”, a doença que mais promete matar neste planeta. As dificuldades para a manutenção de tabacarias foi tão grande em todo mundo, com impostos altos sobre o tabaco, que a maioria fechou. Arlette,  a moça da ultima tabacaria de Bout-du-Pont já sofreu pressão por gente à mão armada para fechar a tabacaria, já lhe jogaram spray de pimenta nos olhos. Se os impostos sobre as drogas fossem tão altos, não haveria tantas drogas à disposição no mercado. Se dissessem que existe uma guerra entre o tráfico de drogas e os fumantes para que estes passem a tomar drogas em vez de fumar, eu acreditaria. E teria que acreditar que as leis de aumento de impostos sobre o tabaco foram votadas por simpatizantes de quem promove o uso de drogas e para isso precisa restringir o uso do tabaco.


Já pedi em tabacarias muitos maços de 3-20’s em Lisboa, português suave, CT, LG, em Paris, os Gauloises – tabaco mata-rato sem filtro – Camel e Marlboro nos USA, Chesterfield, Flying Dutchman quando fumava cachimbo, Lucky Strike, Pall Mall, Raleigh e “Craven A” que Titá, ou Maria de Lurdes, a mãe de um amigo me disponibilizava de vez em quando, sempre que os meus acabavam, lá em Lisboa. Continental, Minister, LM  e outros no Brasil. Hoje vejo crack pelas ruas, cheiram-se fileiras de cocaína em escritórios, repartições públicas, festas. Encontram-se seringas descartáveis jogadas em canteiros de flores. A “luta” contra as drogas não é uma luta. Parece mais uma conivência.

Festas... O que Ernest Hemingway estaria querendo dizer quando lançou o livro “Paris é uma festa”?  Certo... Ele suicidou-se, mas não foi pelas festas de Paris, nem pelos dias passados em Everglades e não tinha nada a haver com o hábito de fumar. Fumar hoje é um ato inibido e tímido, secreto, não compartilhado, segregado, um ato solitário praticado em casa. Há muita gente que nem sai para as festas: Não usam crack nem outras drogas. Simplesmente parece “feio” fumar a céu aberto na frente de tanta gente drogada.
Mas naqueles tempos em que o futuro presidente da república dos EUA, Ronald Reagan, ainda fazia saudáveis e descontraídas propagandas de cigarros, apanhei um comboio na Estação de Santa Apolônia, em Lisboa, uma santa de quem sempre ouvi falar por causa da Estação de trens, mas que nunca soube por que foi santa. Ainda há cerca de dez milhões de portugueses por lá, dentro das fronteiras, mas acredito que se houver uns vinte que saibam quem foi a Santa Apolônia (deve ter sido uma mártir no tempo do Império romano que morreu sem nunca ter fumado), sou capaz de ganhar a aposta. Aos Estados nunca importa de que se morre realmente. Importa que se morra depois da idade de pagar todos os impostos e ter que vender parte do patrimônio para poder pagar os impostos do que lhe restou. 
Por isso, morrer de tabaco ou de cocaína ou crack dá no mesmo, mas as drogas rendem muito mais do que o tabaco. O custo das doenças decorrentes é o mesmo. Creio até que os estados gastam mais com doenças provenientes de drogas do que com doenças provenientes do tabaco.  Alcoolismo mata muito mais... Gases dos escapamentos de motores de aviões, automóveis, barcos barcaças e embarcações muito mais ainda...
Mas naqueles tempos apanhei o trem, ainda a vapor, dos últimos, e lá fui para Paris.
Depois, com uma fumante americana inveterada, que conheci nas minhas andanças pela cidade, talvez tenha sido no Jardim das Tulherias, no Louvre, ou em Montmartre, fiz uma viagem até Bayonne só para acompanhá-la. Foi a primeira vez que vi uma vagina fumar por conta de sua habilidade no pompoarismo. 
Com um programa daqueles nem me passou pela cabeça passar em Lurdes para ver como era o santuário. Só não casei com ela porque naquela oportunidade eu ainda pensava que se ela fazia isso comigo era porque tinha muita experiência e quanto mais virgem fosse uma mulher, mais fiel ela seria. Já conheci muita gente que quebrou a cara por causa desse lamentável pensamento. Homem (e mulher) sempre pegamos quem estamos afim, tudo dependendo de engenho e arte. O resto arranja-se. Então, na volta paramos em Pau [iii]. Paramos numa tabacaria. Compramos alguns pacotes de cigarros e colhemos informações sobre a cidade, lugares, restaurantes. Havia uma moça linda e simpática na tabacaria. Seria Arlette? Não sei dizer, mas é bem possível que fosse. Nessa época, 1961, os franceses eram muito atenciosos, simpáticos e sorriam muito para turistas, principalmente se fossem americanos. Depois se socializaram sem entenderem muito bem o que isso significa. Talvez achem que seja uma recaída da queda da Bastilha, mas com tanta gente que leva uma vida de Maria Antonieta e seu rei também guilhotinado, é bem possível que estejam dando uma interpretação diferente para o que possa ser “socialismo”, mas algo bem diferente do “semculotismo” [iv]. Depois de informados, fomos até um barzinho. Tomamos vinho acompanhado de tira-gostos [v] e fomos para a cama do hotel com duas garrafas mais de vinho. Dormimos o resto do dia a caminho de Paris, de óculos escuros. Imaginei se um dia aguentaria sete noites por semana quando casado passando a noite toda transando. E se a mulher gostasse assim? Ou ela me trocava por outros ou teria que dar no couro todos os dias a 100 por cento de eficiência. Eu não casaria.


Não sei se a americana algum dia se casou, e muito menos se contou para o marido sua aventura em Paris. Quando a conheci me disse que estava passando férias, mas que tinha que ir a Bayonne para receber um envelope que tinham deixado para ela num escritório. Não fiz mais perguntas por que nosso caso era só “um caso” e não saber da vida um do outro. Agradeci a satisfação de me dizer por que ia a Bayonne e que não achava justo me pagar as passagens. Declinei de receber. Seria um prazer ir com ela. Em Bayonne me largou por uma meia hora numa praça. Voltou com o envelope e meu cérebro computou isso. Assunto fechado, ela falava a verdade. Quando chegamos a Paris, na volta, nosso romance de quatro dias terminava ali, no aeroporto. Disse-me que teria de viajar para Londres. Levei-a até o aeroporto de Orly porque eu ainda ficaria por lá um par de dias. Demos os últimos beijos. Pensamos em transar ali mesmo, mas nenhum de nós estava preparado para o vexame de sermos descobertos e levados às autoridades francesas. Eles eram muito chatos, cricris, não pediam propina e eram tremendamente inquisitivos. Depois nos passavam uma multa que éramos obrigados a mostrar na fase de apresentação de documentos na fiscalização ao sair do país. Ela embarcou.
  
Na saída, ao passar por uma banca de livros e jornais, comprei um livro: “O espião que saiu do Frio”, do John Le Carré. Foi então que associei a ida a Bayonne, o envelope e minha linda americana morena. Seria ela uma espiã que me tinha usado para disfarçar sua estadia em Paris? Se for, estou louco para voltar a conhecer uma espiã americana ou russa, que passe aqui pelo Rio de Janeiro e que tenha um envelope para receber em Cabo Frio. Se isso algum dia acontecer, será em sonho, porque minha idade só permite sexo de alguns minutos. Depois toca a dormir. E só no dia seguinte se engatilha a arma para disparar outra vez. Com muita sorte dispara-se duas vezes no mesmo dia, mas antes temos que ir à praia, almoçar e tirar uma sesta...

Paris é uma saudade e só resta uma tabacaria em Cabo frio. Há bairros recheados de drogas, possivelmente sem crackaria ou sem “drogaliste” onde possa haver uma linda e simpática moça para nos atender. Quase todos os restaurantes têm vinho que poucos pedem. Moças bonitas, isso até há... Todas de carne e osso pensando um dia poder ir a Paris. Quando a moda era consumir cigarros, fumava-se. Agora a moda é outra.  



® Rui Rodrigues




[i] Pronuncia-se “Pô”
[ii] Já naquela época se fazia o “ménage a trois” e até a “quatre”. Havia cowboy bimba usando colt 48 e cowgirl que calçava 45, e atirava como ninguém, como Calamity Jane, que usava botas, vestia calças, coçava o saco e cuspia tabaco mascado.  
[iii] Como já disse antes se lê Pô...
[iv] A Revolução francesa que pregava “liberdade, igualdade, fraternidade” foi iniciada pelos “sem culotes”, ou seja, sem uma peça de vestuário que se usava por cima das calças e que era coisa de gente rica. Os sem culotes eram gentes pobres, como nos dias de hoje, gente caipira, da roça, que reclamavam pão. A rainha teria dito para comerem brioches, bem mais caros.  É claro que logo no dia seguinte á revolução, retirado o rei do trono, o poder ficou vago e não foi o povo que tomou o poder. Eles continuaram séculos “sem culotes”. Agora que já têm culotes vai ser difícil a liberdade, igualdade e fraternidade para todos. Pararam de reclamar isso. Agora uns são ricos e outros fingem alegres que são. Bom exemplo para toda a humanidade.
[v] Tira-gosto – nome ridículo de coisas gostosas cujo gosto sempre queremos preservar por ser muito saboroso, gostoso. Melhor seria chamar de “guarda-gosto”. 

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Encontros vagos em duas cidades frias.

Encontros vagos em duas cidades frias.



Mal ouviu tocar o despertador já estava fazendo a barba, entrando no Box, tomando um banho de chuveiro, muito sabão e muita espuma do xampu, a água escorrendo em vapores e se perguntou por que tinha tanto cabelo se ontem já lhe rareava quando se olhou no espelho. Ouviu o despertador tocar novamente mas estava certo de que o tinha desligado com um tapa certeiro na parte superior mesmo sem ter feito pontaria. Era um daqueles despertadores mecânicos, velho, que parecia um enorme rosto gozador, cheio de horas, duas orelhas de campainha, uma voz irritante e contínua de carro de bombeiros. Já vestia as calças quando foi despertado por mais um toque que não suportou. Abriu os olhos. Olhou a mesa de cabeceira e pulou da cama de um salto. Estava atrasado. Tinha que fazer a barba, tomar banho, arrumar-se e sair de casa. Tinha um encontro às nove. 

Demorou a ter consciência plena de quem iria encontrar e por que. O que estava preparado para ouvir, o que tinha a dizer. Já ia entrando no elevador quando a consciência chegou tão atrasada quanto ele: Esquecera o documento que analisara na noite anterior sobre a mesa da sala de jantar. Colocou a pasta no chão, abriu-a, tirou as chaves do quarto, e largou-a junto ao batente da porta do elevador para que não perdesse a viagem. Entrou, pegou o papel, olhou com nojo a garrafa de vinho com dois dedos de um líquido grená escuro e  apanhou a pasta, abriu a porta do elevador e desceu. Pensou se não esquecera mais nada, e chegou à conclusão que nada de importante tinha esquecido. Galgou a rua fazendo sinal para o primeiro táxi que passava. Estava cheio. Santiago do Chile era uma cidade como outra qualquer em dias como aquele: Cheia de prédios, cheia de ruas, cheia de táxis cheios, fria, a cordilheira ao fundo da paisagem dizendo que o Chile acabava ali mesmo, no horizonte do olhar. A humanidade ativa é um relógio cheio de segundos.

Já no táxi veio-lhe à lembrança que havia em seu apartamento uma mulher. Não sabe exatamente o que aconteceu com ela, porque não a viu quando acordou. Nem se lembrava do nome. Tentou resgatar a sua imagem, que roupa vestia, se era loura ou morena, e finalmente, após pensamentos misturados entre imagens de mulheres e os temas do encontro das nove, finalmente recordou. Quando o taxi parou em frente à porta do escritório na Avenida Apoquindo, viu-a passar loura, pela portaria, cabelos louros saltando-lhe sobre os ombros a cada passada firme, pernas esguias, curvas bem desenhadas. Embora longe sentiu-lhe o perfume. Ela chegaria ao elevador antes dele. E daria a notícia: A empresa perdera a concorrência. Aparentemente o teor da proposta que tinham apresentado era o da empresa concorrente, maquiado ligeiramente, com preço ligeiramente menor. Quem teria passado a informação para a concorrência? Todos questionariam, todos na empresa ficariam indignados, mas o chefe do escritório jamais levaria adiante as investigações. Depois tudo seria esquecido e ninguém seria demitido. Lá longe, os donos da empresa também se indignariam... E daí? Eles concordariam que era melhor não levantar a lebre no mercado. Se houvessem “evidências” apontariam certamente para alguém inocente. A reunião transcorreu normalmente. Ninguém se impressionou. Nem com o pequeno terremoto que fez o prédio balançar como se fosse cair enquanto a neve realmente caía silenciosa e devagar do lado de fora das vidraças das enormes janelas do prédio de escritórios. 



Para ir de Bogotá a Cali, muito longe a norte de Santiago do Chile, os aviões sobem suavemente a cordilheira dos Andes logo na saída do aeroporto. Parece que não desgrudam da paisagem, porque a cordilheira é inclinada, quase com o mesmo ângulo de subida dos aviões, mas quando passam pelo topo da cordilheira pode ver-se lá embaixo, na fronteira com o mar, os prédios as avenidas da cidade de Cali. Então o piloto abre os flaps, e o avião desce em queda quase livre como se fosse um elevador. Nem treme, como se fosse uma pena, algo parecido com a pena que cai no filme do Contador de Histórias, “Forrest Gump”, quando Tom Hanks está sentado no banco de jardim com sua caixa de bombons. Mas só em dias de vento forte na cordilheira. A linda morena de olhos verdes confortavelmente sentada na cadeira junto à janela não entendia porque aquele avião balançava tanto se o céu estava tão azul claro, sem nuvens. Logo chegariam a Boise, Idaho, nos EUA, onde as avenidas parecem mais largas do que a cidade. O rapaz sentado a seu lado viu-a suspirar, Olhavam a paisagem lá embaixo, parecendo que a terra era completamente verde, cheia de rios, sem casas, sem prédios, sem cidades. Depois passaram pela cordilheira das Montanhas Rochosas. Montanhas e neve, neve e montanhas. Como poderiam dizer que não havia mais espaço para plantar, que não havia água no planeta? Os dois olharam mais uma vez para os passageiros que lhes estavam mais próximos. Ninguém conhecido. Era um casal discreto. Ela olhando a paisagem, ele lendo um livro. Nenhum gesto especial de carinho. Não haviam trocado mais do que meia dúzia de palavras durante toda a viagem. Ninguém poderia afirmar se eram casados, namorados, conhecidos, ou simplesmente corteses um com o outro de volta a seu país depois de uma viagem de negócios ao exterior, talvez regressando de umas férias. Passaram pela alfândega do aeroporto. Ela passou diretamente. Ele teve sua maleta vistoriada. Ao abrir havia apenas um par de óculos, um palmtop, um contrato de trabalho com uma empresa conhecida com sede na cidade, uma máscara de olhos para dormir no avião, uma máquina de barbear, um livro, um par de meias e uma cueca, uma reserva de hotel e um despertador daqueles antigos, mecânicos, de orelhas de campainha. Na manhã seguinte, mal ouviu tocar o despertador já estava fazendo a barba, entrando no Box, tomando um banho de chuveiro, muito sabão e muita espuma do xampu, a água escorrendo em vapores e se perguntou porque tinha tanto cabelo se ontem já lhe rareava quando se olhou no espelho. Ouviu o despertador tocar novamente mas estava certo de que o tinha desligado com um tapa certeiro na parte superior mesmo sem ter feito pontaria. Era um daqueles despertadores mecânicos, velho, que parecia um enorme rosto gozador, cheio de horas, duas orelhas de campainha, uma voz irritante e contínua de carro de bombeiros. Já vestia as calças quando foi despertado por mais um toque que não suportou. Abriu os olhos. Olhou a mesa de cabeceira e pulou da cama de um salto. Estava atrasado. Tinha que fazer a barba, tomar banho, arrumar-se e sair de casa. Tinha um encontro às nove. De passagem pela pequena sala do hotel olhou para uma garrafa de vinho sobre a mesa. Teve ânsias de vômito. Demorou a ter consciência plena de quem iria encontrar e por que. O que estava preparado para ouvir, o que tinha a dizer. Saiu para o elevador carregando a maleta. Pegou um táxi. Quando chegou à porta de entrada da empresa, ela já estava lá. Via-a agora com seus cabelos morenos saltando-lhe sobre os ombros a cada passada firme, pernas esguias, curvas bem desenhadas passando pela portaria com sua maleta.
Na sala do presidente da companhia eram esperados por um pequeno comitê de advogados e pelo dono. Nada mais do que quatro deles. 



As duas maletas, a dele e a da morena, foram colocadas sobre a grande mesa de reuniões. Duas facas apareceram nas mãos de dois dos advogados, sem esperarem apresentações, ou frases de boas vindas. Só o dono os agraciou com um sorriso, portando na mão duas caixas de bombons das grandes. As facas rasgaram cuidadosamente as maletas ocas em pontos estratégicos. Diamantes mergulhados em pó de ouro derramaram-se sobre a mesa. Os dois outros advogados se encarregavam de recolher o pó de ouro, pesá-lo e dividi-lo em pacotes. Os diamantes eram separados por tamanhos em quilates. O total das duas maletas era uma fortuna. Uma fortuna trocada por três volumes de uma proposta perdedora. Na caixa não havia bombons. Havia duas pequenas fortunas em notas do tesouro nacional embrulhadas agora em papel de presente. O dinheiro dos envelopes seria gasto em separado de modo vago.  

® Rui Rodrigues  



terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Santiago Andrade,Crônica de uma morte anunciada

Crônica de uma morte anunciada por sininho




Toca o sino e não é de Belém, nem é Natal, nem em Natal.. Sininho dá alerta, é safa, arranja advogados, e não é amiga do Peter Pan... Pelo contrário, já esteve na Disney, viu toda a gente com dinheiro por lá, e não gosta muito de quem tem dinheiro. Prefere conseguir o poder aliando-se a poderosos. 

Então avisa como vão as coisas como uma Rosa de Tóquio embora a guerra não seja mundial. É uma guerra particular pelo poder de distribuir verbas quando se chega ao poder, ou receber verbas quando se aliam ao poder. 

Quem atrapalha tudo isto são os jornalistas, porque nada nem ninguém sabe de nada. Só quando acontece. Polícia não sabe, políticos não sabem, a presidência está alheia... Sua preocupação é a reeleição para poder distribuir verbas pelos amigos. 

Então avisa não um, mas dois... O que sabe lançar não tem rojão, o que tem rojão é meio idiota, raciocínio lento, medroso e não pode lançar. Encontram-se os dois e acendem juntos o rojão. Ali perto, alvo escolhido, um jornalista, nada mais que um jornalista, faz o seu trabalho... E não é nem a favor nem contra o PSOL, o PT, ou seja que partido for... Ele não foi à Disney... Talvez não soubesse quem era Peter Pan nem Sininho, e nem esperava presente de Natal porque não era.

O rojão é aceso pelos dois, e lançado. O jornalista morre ! Deixa mulher e filhos. O que tinha o rojão mas não podia lançá-lo apresentou-se à polícia certo de ser solto, ter bons advogados, garoto espéerrrto, a condenação seria do tipo "sai na urina"... 

E agora, como ficamos, se temos no Congresso votando leis, mais de duzentos congressistas com pendencia na justiça? 

E agora, como ficamos ???? Fica assim, por isso mesmo, com a omissão da Ministra dos Direitos Desumanos, com seus olhos azul de brilhantes, um gordo salário e a obrigação de atender à confiança para a qual foi indicada? 

O povo responderá... Não só nas ruas como nas urnas... Podem ter certeza!

O povo espera que se faça JUSTIÇA, e que os congressistas com pendencias no senado saiam até que provem a inocência.. 



₢ Rui Rodrigues