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sábado, 16 de maio de 2015

Sopa das mil e uma noites afrodisíaca à Rui Rodrigsh




Não se trata de uma “economia de guerra”, mas nestes tempos de alta inflação, mais do que o governo diz que é – efeito Goebbels, o nazista-
Há que ter prazer de uma forma que seja também  saudável, e, sobretudo, econômica.

Esta sopa é especial para os que não costumam beber água e são avessos a legumes... Água é boa para o organismo, para a saúde. Então vamos a esta receita deliciosa.

Numa panela grande junte:

Água – para cobrir tudo com pelo menos três dedos acima dos sólidos.
Duas cebolas médias ou grandes.
Dois dentes de alho.
Uma cenoura grande cortada em cubos.
Meio repolho médio cortado em pedaços.
Duas batatas médias cortadas aos cubos pequenos.
Meio palmo de lingüiça calabresa cortada em pequenos cubos.
Uma xícara de chá de carne moída.
Duas xícaras de chá de massa fusili.
Três colheres de chá de curry.
Três cebolas médias cortadas aos pedaços.
Quatro ovos de galinha sem a casca – depois que a água estiver fervendo.
Sal a gosto - Cuidado para quem tiver pressão alta.
Um cubo de caldo de carne knorr ou similar raspado.
Pode acrescentar tomate cortado aos pedacinhos.
Se desejar, gotas de pimenta. 
Ferva tudo...
Folhas de hortelã para “decorar” o prato...

Deixe ferver tudo por uns vinte minutos e sirva com queijo ralado e/ou azeite... Acompanhe com torradas, vinho ou sem nada mesmo. Já tem muita coisa na mistura...

Seu corpo lhe agradecerá. Dos peitos á próstata, passando pelo útero.


® Rui Rodrigsh 

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Conversas ao borralho - O sopro.



(Enquanto lê, convido a abrir nova página e escutar Django Reinhardt como musica de fundo para o texto)
https://www.youtube.com/watch?v=SR7U9T5Mdj4

De vez em quando o tempo esfria. Com tempo frio a alma e o corpo se contraem e obrigam a pensar. Tempo quente, pelo contrário, leva à expansão da alma, o sangue esquenta e a vontade é a de nos divertirmos um pouco até sem muita preocupação. O borralho da lareira, que é quando as labaredas já se foram e ficam apenas as brasas irradiando um ultimo calor, deixa-nos a um passo do inferno e a outro do paraíso. O vento quando sopra traz algumas coisas de volta do passado. O farfalhar de folhas podem ser de vestidos e meias de seda de mulher que nos vêm lembrar os velhos afagos perfumados e os beijos úmidos daqueles quando os olhos se fecham, em meio a roçar de pernas de mulher uma na outra. Pode até ouvir-se o som dos elásticos que seguravam as meias de seda ao serem soltos. Hoje as pernas vêm já preparadas assim como os hambúrgueres do fast-food. A maioria delas nem possuem mais aqueles pelinhos suaves e louros de água oxigenada. As pernas chegam a ser escorregadias de tão lisas e cremosas. As estátuas de cera do museu de madame Tussauds lá em Paris são assim mesmo. Já passei a mão em duas delas. Uma era de Marilyn Monroe. Não têm o tato de “naturais”.



Quando o sopro de vento passou pela lareira, vi a loura se aproximar, com seu sorriso encantador, assim como marca registrada, moldado ao longo de anos a fio, pelo menos uns 25, e sem ele ela era uma pessoa um pouco diferente, como se fosse outra. Usava diu como se fosse um cinto anticastidade, muito antes da pílula ser inventada, mas tão seguro o tal do diu, quanto o cinto de castidade, ou até mais. Ironicamente tinha Castro no nome e uns olhos verdes que eram fatais. Foi com ela que percebi pela primeira vez como nossos corpos são um amontoado de carne segura por ossos, tendões e nervos, com uma pele que nos impede de ver o que está dentro. Somos montes de carne com miolos, sobreviventes da natureza da vida, passando um tempo neste planeta como se estivéssemos de férias nos tempos livres, porque nos tempos ocupados não conseguimos pensar mais longe do que uma centena de metros. Dizemos que estamos trabalhando. Pelo menos temos essa impressão, e muitas vezes nos perguntamos para quê todo esse trabalho, para que fim maior trabalhamos tanto. Passamos a vida a trabalhar. Os únicos momentos de diversão eram com ela, principalmente quando tirava as meias, depois o vestido, e já sem roupa passávamos algumas horas juntos na cama, dividindo prazeres. Há quem não possa ter prazeres por causa do trabalho e quem não possa trabalhar por causa dos prazeres. E lá se foi a loura de olhos verdes e meias de seda quando novo sopro fez as brasas do borralho darem um estalo e uma miríade de pequenas estrelas se misturaram na paisagem com as outras estrelas do céu. Claro que foi apenas uma ilusão, mas iría jurar que quer as estrelas do céu, quer as da lareira, eram exatamente do mesmo tamanho, todas quentes. Como a gente se ilude!



Aproveitei o ensejo e fui até o balcão da cozinha. Abri uma garrafa de vinho, cortei duas fatias de queijo e duas de pão. Servi-me de um copo de vinho, coloquei tudo num prato dentro de uma bandeja e levei até a mesinha perto do borralho. Foi então que reparei numa figura bem conhecida sentada numa cadeira, já à mesa. Era Peter, amigo do João Padeiro. João Padeiro morava na época em que nos conhecemos, na mesma rua. Era excessivamente católico, muito certinho, não saía jamais de uma linha de comportamento. Tinha nascido para isso, completamente previsível. O sobrenome Padeiro herdou entre nós por causa do ramo de comércio a que seu pai se dedicava. Já Peter era o oposto. Um extraordinário jogo de cintura e um espírito de sobrevivência que fizeram dele exatamente isso: Sempre na malandragem, equilibrou-se a vida toda num fio de navalha. Chegou a chefiar uma gang de ladrões juvenis para conseguir dinheiro nos tempos difíceis das guerras coloniais, em Lisboa. O João Padeiro morreu nessas guerras. Perguntei ao Peter como andava a vida dele. Disse-me que trabalhava agora para o governo em obras assistenciais e que namorava duas irmãs com o consentimento dos pais. Casara, mas separara-se da mulher que morava no mesmo prédio dele e que o via subir pelo menos duas vezes por semana com as duas irmãs. As roupas dele tinham um cheiro meio de perfume meio de maconha. Passava horas a fio na cama mesmo durante a semana em dias de trabalho. Empregos do estado permitem que se conheçam médicos do estado que atestam com atestados, fornecedores do estado que fornecem fornecimentos, advogados do estado que conhecem onde os rabos ficam presos. As duas irmãs nunca brigaram entre si. Tinham o resto da semana livre. Levantei-me para apanhar mais um copo. Quando voltei, Peter havia sumido. Nunca mais o vi. O borralho continuava quente.


- Oi!... (Ouvi vindo da garagem. Era uma voz feminina, conhecida).
- Oi!... Senta-te! (Disse-lhe, enquanto me levantava e lhe preparava a cadeira de ferro fundido branco, para que se sentasse. Um dia pintaria as cadeiras e as mesas de preto). Ajeitei-lhe a cadeira. Sentou-se e então continuei:
- Há quantos anos não te vejo... Como chegaste?
- Pelo sopro do vento. Uma onda me deixou na praia. Sou a sereia da tua vida.
- Sim, sempre foste. O que nunca entendi foi por que não nos casamos, sendo tu tão linda, tão perfeita de corpo, tão prendada... O tipo de mulher que ninguém perderia.
- Mas eu sei! – Disse-me ela, com um sorriso. E antes que lhe perguntasse concluiu:
- Conhecemo-nos uns meses antes do tempo em que estaríamos preparados um para o outro. Tudo tem o seu tempo, e por vezes nosso tempo corre mais depressa para uns do que para outros. Naquela época tinhas a “tua vida”. Corrias de um lado para o outro, abraçavas todas as oportunidades. A vida era apenas aquele momento diferente todos os dias. Não paravas quieto. Do trabalho para a universidade, de lá para as aulas particulares... Para os namoros... Que mulher deixarias escapar se te olhasse mais interessada e te agradasse?
- Quer dizer que sabias disso... (Eu sempre desconfiara que ela sabia de minhas aventuras, mas nunca me encostara contra a parede obrigando-me a uma confissão).
- Sabia... Quer dizer... Desconfiava com aquela certeza. Homens e mulheres têm o tal do sexto sentido. Sempre se sabe. São pequenas “coisas” deslocadas de um perfil que não batem. É como um relógio com arritmia...
- Entendo... Mas agora já não dá mais para voltarmos atrás, não é? Tudo mudou muito. Não?
- Mudou!... Mudamos a cada dia. Quem está perto da gente não nota, e por isso há casamentos que duram uma vida. Quem se afasta por algum tempo nota a diferença. Ofereces-me um café?
- Claro!... E levantei-me da cadeira, indo até a cozinha. Coloquei o filtro na máquina de café, o pó, três medidas de café, água no reservatório e quando voltei para o borralho da lareira, as cadeiras estavam vazias. Minha sereia tinha-se ido, provavelmente para nunca mais voltar. As pessoas mudam muito e o peixe anda escasso. Fiquei com a preocupação de algum pescador lhe lançar a rede de arrastão e lhe romper as meias de mesmo nome. Ela ficava sensacional com aquelas meias. Já não se usam. E foi com melancolia que notei que quase nada se usa mais. Ou quando se usa não têm o mesmo sabor. Aquele sabor inconfundível que só o sopro do tempo faz reavivar as brasas do borralho. Era uma brasa, Mora!



®Rui Rodrigues.


terça-feira, 12 de maio de 2015

Geografia Humana - mais uma visão.




Somos já tantos, nós, os humanos, que já merecíamos ser considerados como um “mar de gente”, um oceano humano. Se somarmos a biomassa humana obteremos um numero aproximado de 562.500.000.000 [1]de quilos. Nem os dinossauros deveriam ter tanta biomassa apesar de serem tão estupidamente enormes: Eram mais pesados, bem mais, mas não eram tantos quanto a nossa humanidade senão teriam comido todas as florestas do planeta. Graças à natureza da qual nos originamos, possuímos um mecanismo de autocontrole de natalidade que funciona mais ou menos assim: Imaginemos uma área controlada de onde animais não possam sair. Neles vivem apenas a vegetação, antílopes e leões. Os antílopes se desenvolvem porque há muita comida e os leões também porque têm muitos antílopes para caçar. Na medida em que a vegetação começa a faltar, a quantidade de antílopes baixa também e em decorrência a quantidade de leões. Numa situação extrema, uma grande seca contínua por alguns anos extinguiria antílopes e leões por falta de comida.



Nossa humanidade, embora digam que é “semelhante” a Deus, feita à sua imagem, não é não. É exatamente como qualquer outro ser vivo que depende da vida neste planeta. Pode extinguir-se do mesmo modo, não temos nada de diferentes dos outros animais no quesito “viver”. Devem ter dito e escrito essa linda frase da semelhança para nos fazerem subir o ânimo, colocar-nos num patamar intermediário entre toda a vida na Terra e deus, de forma a nos entendermos como “gente importante” e podermos entender os sacerdotes que nos disseram isso e que se diziam intermediários entre deus e os demais seres humanos. Rendeu-lhes próspero negócio com pombas, rezes, e notas farfalhantes de gordos dinheiros, dos quais, os sonantes, em moeda, pertenciam a César. Notas de dinheiro é coisa recente gerada pela inflação dos dízimos. Mas voltando à nova geografia: Merecemos uma nova geografia para incluir neste planeta o mar de gente em que esta humanidade se transformou desde quando não passava de uma pequena tribo de símios arborícolas que tiveram que se pôr de pé para ficarem com a cabeça acima da vegetação rasteira e perscrutar os horizontes à procura de possíveis predadores que os pudessem comer. Nossa humanidade já foi alimento de muitos predadores. O medo subjacente que lhe ficou desses predadores é tanto e tão enraizado no nosso DNA, que pessoas que nunca viram uma cobra ou um rato, quando alguém grita: “COBRA!”, foge ou fica estática, congelada pelo medo, sua frio, passa mal. Quando gritam “rato”, sobem em cima de cadeiras, sofás e mesas. E nossa humanidade decidiu acabar de vez com todos os predadores maiores. Está quase conseguindo, “herdando” assim o planeta.



Sem predadores, a terra da Terra foi ocupada, ampliaram-se as áreas de cultura, mais alimento ficou disponível, e a biomassa da humanidade aumentou em progressão geométrica. Somos agora cerca de 7,5 bilhões de seres humanos pesquisando como se pode cultivar mais para alimentar mais, num planeta que não estica. Somos muito inteligentes para procurarmos novas formas de produzir mais alimentos, em patamares, em garrafas “pet”, através de modificações genéticas, e qualquer dia estaremos enchendo oceanos de plataformas com terra para aumentarmos a área de cultivo, o que seria um desastre ecológico para as plataformas marinhas. Mas somos tão falta de inteligência que não conseguimos controlar nossa própria natalidade sem auxílio dos antigos predadores. Sem termos quem nos coma, estamos em risco de nos comermos uns aos outros em guerras, em epidemias, por falta de camada de ozônio, por falta de ar, água...Políticos e comerciantes dizem que quanto maior a população, maior o desenvolvimento industrial e comercial, maior a coleta de impostos, mais o país cresce. É por aí que estamos indo. O problema é que para tudo há um limite e ainda não aprendemos qual é o nosso limite. Somos uma humanidade jovem que pensa como os jovens: Para tudo se dá um jeito. Basta pensar... E por vezes, já em pleno afã de realizar o tal jeito, se defronta com impossibilidades que demoram tanto para serem resolvidas, que quando vem a solução, já nos comemos uns aos outros reduzindo a nossa população em guerras. Deve ser para isso que as guerras servirão: Substituem os predadores na função de reduzir a quantidade de bocas a alimentar. As riquezas acumuladas pelos que morreram passam então para as mãos dos sobreviventes, melhorando-lhes a “vida”. Os que morreram já não têm a quem culpar ou a quem agradecer porque estão mortos. Os sobreviventes dizem que agradecem a deus. Entende-se! São semelhantes a Ele. Os que morreram não deveriam ser. E rezam missas com as notas herdadas.



Grandes guerras matam muito de uma vez só ao longo de uma meia-dúzia de anos. Pequenas guerras matam muito mais ao longo de décadas, séculos, milênios. Esta é a nossa geografia. Vivemos em pequenas guerras com o apoio tácito das organizações internacionais, morrendo milhões por ano, bilhões por século, trilhões por milênio... E aparentemente ninguém está interessado em se organizar para que a dor das guerras acabe através de controle de natalidade. Igrejas precisam de mais fiéis para contribuir com dízimos e esmolas, governos precisam de maior volume de impostos. O que necessitamos não é de socialismo ou comunismo para que todos possam ter um bom quinhão das riquezas, até porque esta filosofia política apenas sobrevive porque é a “esperança” – vã – das maiorias pobres, e acaba por dividir a amargura da pobreza sem nada mais para dividir porque os leões - sejam de que filosofia política forem- comem tudo num mundo sem pasto para ovelhas.



O que precisamos neste planeta para que todos vivam com relativa privação de dificuldades e tristezas, é que cada país tenha uma população que não seja excessiva, isto é, que não ultrapasse sua capacidade de gerar-lhe conforto em todos os sentidos e níveis. O Canadá é um excelente exemplo: Área de 10 milhões de quilômetros quadrados, e uma população de 34 milhões de habitantes. Há terra, comida, saúde, transportes, educação e desenvolvimento para todos. Nossa geografia política, e principalmente nossa geografia da humanidade devem mudar não para conceitos filosóficos da ciência política voltada para a política, mas para o controle de natalidade. Se continuarmos gerando filhos como coelhos, em breve comeremos todo o pasto, e para que isso não aconteça, dizem os políticos tem que haver guerras para reduzir os comedores de pasto.
Auto-sustentabilidade é isso: Podemos herdar a terra da terra, sim, e os mares e os ares, mas há um limite para quantos poderão beneficiar-se dessa herança. E nem o Universo inteiro seria suficiente para a teoria do “sempre cabe mais um...” Um dia nem mais um caberá da forma como vamos parindo por este mundo.

Se for triste ou não, não me cabe julgar. Esta visão é a da realidade. Precisamos mais de geógrafos - e de outros elucidados especialistas - do que de políticos, via de regra escolhidos por "simpatias" ou pela fé da ignorância.



® Rui Rodrigues



[1] 7,5 bilhões de pessoas a um peso médio de 75 quilos. (A humanidade está ficando mais alta e “acima do peso”). O total das águas nos oceanos é de 1.332.000.000 de quilômetros cúbicos aproximadamente. Área de terras emersas, aproximadamente 150 milhões de quilômetros quadrados, e de mares 360 milhões.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Dia das mães. É puro amor e nostalgia!



1.    No Shopping


Foi agora, quase há meia hora, que não acabou de chover. Aqueles rastros de luzes no asfalto quando já é noite, dão uma falsa ilusão de vida. É movimento de vida, mas vida não é feita apenas de instantes de sinais. É sábado, véspera de dia das mães, embora todo dia seja dia das mães presentes, ausentes, ou idas definitivamente. Mesmo quem sempre amou a sua mãe não resiste ao apelo do comércio para que gaste uns instantes e algumas notas para presenteá-la. As demonstrações são sempre importantes, e há sempre daquelas que mesmo recebendo presentes o ano inteiro ficam tristes quando no dia aprazado para a comemoração não houver um daqueles que os filhos sabem que irá dar-lhe prazer. Antes de começar a chover o chão do estacionamento já estava molhado, escorregadio. Anoitecera mais cedo por causa das nuvens negras e o shopping deveria estar cheio. Mas não estava.


Não havia muitos filhos e filhas nem netos nem netas pelo shopping construído há já uns bons dez anos, o único nas redondezas. Num daqueles balcões em centro de corredor, sem paredes, feitos com puras prateleiras do lado de dentro e vitrines do lado de fora um vendedor daqueles espertos desembrulhou um par de camisetas e disse a uma criancinha de seis anos para a colocar sobre o peito para ver como ela lhe ficava bem, na frente do avô. Evidentemente que contava com sua esperteza para que a criança se olhasse no pequeno espelho e disse-se para o avô: - Avô... Gostei...Compra-me uma? Mas o avô sabia que era dia das mães – não dos netos nem dos filhos - e percebeu também o golpe baixo do vendedor. Um aceno negativo de cabeça, rosto sério e a extorsão terminou por ali mesmo. Assédio comercial deveria ser passível de punição. Um dia teremos também o assédio só no olhar, no caminhar, e ficaremos todos em casa o tempo todo, até nos dias de folga para não sermos indiciados por estes tipos de crimes. Assim nossa atenção ficará definitivamente desviada para essas grandes causas, e deixaremos as pequenas, como os roubos milionários e bilionários dos políticos para segundo plano.

Em duas mesas junto á pequena máquina de café e de chás, dois amigos conversavam sobre outros amigos. Ainda ouvi um deles dizer para o outro: - Precisas aparecer por lá. Sentem a tua falta...E não me lembro de ter ouvido resposta, mas tomaram mais dois cafés, enquanto na mesa ao lado, três senhoras de mesma idade avançada conversavam sobre banalidades, sobre os ex-maridos. Uma delas dizia para a outra -... Ah... Mas eu sempre soube. Só que não ligava até aquela vez em que... E lá ao fundo sobre uns assentos aos fundos de imenso tapete vermelho escuro, estava sentado um jovem lendo uma revista recém comprada numa livraria vazia onde as mães levam seus filhos para lerem revistas disponíveis enquanto dão uma olhada sobre os livros expostos. Um ou outro freguês compra alguma coisa. Também entrei lá com minha neta e procurei por alguma novidade em livros de cosmologia ou de física, mas não havia nenhum. Havia muitos romances, livros de auto-ajuda, de direito, um escaninho com versos, alguns de história, outros de capa dura e lustrosa com fotos de cidades pelo mundo. Não lembro de nenhum título, mas minha neta que já começa a ler aos seis anos, ficou lá junto às revistas infantis tentando ler o que estava escrito nos títulos. Foi preciso perguntar-lhe se queria ajudar a avó a escolher um biquíni para a mãe dela. Umas três vezes, porque já se havia passado quase uma hora que a avó estava lá sem se ter ainda decidido. Lojas deveriam ter uns dois ou três modelos e umas duas ou três cores de biquínis. Muitos modelos e cores geram confusão e não permitem uma escolha rápida. A boneca tivemos que escolher numa loja especializada fora do Shopping. Foi então que o céu desabou sobre o shopping vazio. Como é possível comer e deixar o lixo sobre as mesas sem se dar ao trabalho de levantar, apanhá-lo e despejar no aparato específico, ainda mais quando se trata de adultos acompanhados de crianças? Naquela mesa havia cinco.

A senhora que passou me fez espirrar e sentir falta de ar. Perfume forte. Se usasse menos, poderia comprar perfume mais caro e mais suave. Lá fora a chuva não caía. Despencava em cataratas. Alguns fumantes fumavam lá fora o que não podem fumar lá dentro: Cigarros de tabaco. Já lá fora, por toda a área, outros podem fumar á vontade o que não é permitido por lei: Crack e maconha. Cheirar até se pode em banheiro de rodoviária. Precisam inventar o bafômetro para drogas leves, pesadas e mais-que-pesadas. Vendem em pequenos pacotes de alguns gramas que nem sequer pagam impostos. Os do tabaco são absurdos. Em casa fuma-se qualquer coisa enquanto não colocam câmaras de vigilância para nos vigiarem... “Lar doce lar” é coisa do tempo em que nossas casas eram um lar. A minha ainda é.

2.    Dois dias depois do Shopping

Então, chegando à rodoviária de Cabo Frio, já numa segunda-feira que é hoje, fui para o supermercado que fica a uma quadra, e comprei, além de outras coisinhas, um molho de brócolis dos quais Bill Clinton gosta muito, e chegando em casa cortei-o em pedaços pequenos, em tiras e rodelas de talos, e pus para cozinhar com três dentes de alho também cortados em pedaços bem pequenos. Sem sal, porque servirá para cozinhar com arroz ou massa. O produto da cozedura vai para o freezer guardado num “taperware”. Olhei a minha panela de aço inox e vi que está um pouco suja dentro da pega, produto de inúmeras cozeduras. Nossa indústria, a portuguesa e a chinesa merecem nota quase zero com aproximação de dois pontos decimais para mais ou para menos. A pega é tão cheia de “interstícios” que a sujeira se acumula sem percebermos. Então só se tira com WD-40 e depois com algumas lavagens para tirar o cheiro. Já aquela acoplagem que comprei para instalar uma lâmpada e que se coloca numa tomada, deve ser chinesa: As tomadas têm os furos na vertical, e a lâmpada fica na horizontal. Nem pensaram nisso. Eu nem reparei. Deveria ter reparado. Temos que ser mais espertos que eles, os industriais do consumo por “reposição obrigatória”, já que nosso governo está muito preocupado com as propinas e nem fiscaliza as impostações da importação.


Quanto á festa de minha netinha e o dia das mães, foram maravilhosos. Continuamos sendo uma família, a pesar de todas as vicissitudes da vida. O mundo pode cair. Nossa família, jamais!...

® Rui Rodrigues 

terça-feira, 5 de maio de 2015

Uivos, latidos e gemidos!



Parecem crianças assustadas quando uivam, e tal como quando alguém tosse numa missa, numa sala de aula, ou numa solenidade, e todos começam a tossir por “simpatia”, cães se contagiam no uivo sem saberem porque razão. O primeiro a latir sabe porque late, e se existe realmente uma linguagem canina, logo os outros passam a saber também. Seremos nós mesmos parecidos com os cães, ou os cães parecidos conosco? Ambos descobridores deste planeta, dois sobreviventes ao longo de milhares de anos, somos companheiros, vivemos numa certa relação simbiótica e muitas vezes fica indefinida a chefia da matilha. Há que ter cuidado para que a matilha não se vire contra o dono. Mas o que haverá de “humano” nos cães? Temos vários exemplos, antes, porém, é preciso que se saiba que cães uivam – tradição herdada dos lobos - para unirem a matilha por solidão ou para acasalamento.

1.    O cão dos Baskersvilles.

É tema de um romance de sir Arthur Conan Doyle. Corria voz numa localidade da Inglaterra que um cão costumava matar gerações da família Baskerville. Um deles, sir Charles, foi encontrado morto e logo a suspeita recaiu sobre o tal cão. Sherlock Holmes foi então chamado para investigar se o sobrinho de Charles, como herdeiro, correria perigo de ser morto. Porém sir Charles, como se confirmou, falecera de um ataque cardíaco. Um outro personagem interessado na fortuna cobria o cão com fósforo para que brilhasse à noite, aparentando-o mais feroz. O personagem chamava-se Stapleton e era irmão de sir Charles, tendo sido dado como morto quando era ainda jovem. A trama da história baseia-se num fato: Quando um cão é treinado para atacar alguém através do cheiro de roupa da vítima, se alguém colocar essa roupa até em seu dono, ele ataca do mesmo modo. Nessas horas o cão não reconhece o dono. Não pode uivar para que possa atacar em silêncio.

2.    Achiko.  

Achiko é um cachorro da raça japonesa Akita. No Japão, na estação de trens de Shibuya existe uma estátua em sua homenagem. Ele sempre ia esperar o dono, um professor, na estação, e um dia o dono não apareceu. Por anos a fio Achiko continuou indo até a estação, todos os dias, esperando pelo professor. Foi tema de um filme “Sempre ao seu lado”, símbolo da fidelidade, persistência. Você conhece alguma pessoa assim? Se conhecer dê-se por feliz. E se conhecer mais de uma, então sua felicidade é uma benção. Eu mesmo ficaria feliz em ser seu amigo.  

3.    Lassie.


Lassie é uma cadela da raça Colie. Separada do dono em circunstâncias terríveis, percorre centenas de quilômetros para encontrar com seu dono. Inicialmente o conto foi publicado no Saturday Evening Post em 1940, mas a série de televisão somente em 1954 e durou 20 anos. Muitos de nós certamente ainda nos lembramos desta série. Por esses tempos as séries eram mais "suaves" tentando fazer um mundo melhor e mais suave. Atualmente as séries são mais violentas, mais sanguinárias embora o sangue quase não apareça, embora aparentemente o motivo seja o mesmo. Algo não "bate" bem. 







4.    Blondi, cadela que não conhecia o dono.




Era a cadela de Hitler, da raça pastor alemão, presenteada por Martin Bormann, secretário particular de Hitler. Eva Braun, esposa dele, não gostava da Blondi e costumava chutá-la por debaixo da mesa. Ela preferia seus dois Scotish Terrier, o Negus e o Stazi. O que mais a irritava era o hábito de Hitler permitir que a cachorra dormisse com ele na cama. Acompanhou-o de 1941 a 1945 até o bunker quando Hitler já temia o pior. Por essa oportunidade Blondi tinha dado à luz cinco filhotes de seu cruzamento com Harras, pertencente a Paul Troost, o arquiteto de Hitler. Já desiludido, no bunker, Hitler pede a Werner Haase, seu médico que testasse em Blondi as cápsulas de cianureto que ele pretendia usar, para testar se eram eficientes. A cadela morreu, Hitler suicidou-se, os cinco filhotes foram abatidos a tiro pelo médico. Os soviéticos que invadiram o bunker exumaram o corpo de Blondi por indicação do médico. Com as costelas aparecendo como na foto, Blondi não teria de Hitler a retribuição que merecia, mas como se ser retribuído por um indivíduo como Hitler?  E porque Eva Braun não chutava Hitler em vez de chutar Blondi? Casada com Hitler, o que se poderia esperar de Eva Braun, uma modelo e assistente de Heinrich Hoffman, fotógrafo particular de Hitler. Por duas vezes ela tentou o suicídio durante seu relacionamento com Hitler. Finalmente, depois de conviver com ele casaram-se. O casamento durou 40 horas, antes que suas vidas acabassem no bunker. A história não é triste. Triste é o modo como alguns seres escrevem suas histórias na vida. Uns de forma consciente, outros, como Blondi, arrastados pela história triste dos outros. Agora imagine que isto se aplique aos relacionamentos humanos e que uma mulher como Eva Braun, sem instrução, amante do poder fosse indicada para a presidência de uma república, só porque alguém no poder a indicou, tão ignorante quanto ela. Se Hitler tivesse ganhado a guerra provavelmente a indicaria para sua sucessora: Podia dominá-la mais que qualquer um de seus mais eficientes colaboradores.


E é assim que se constroem histórias entre uivos, latidos e gemidos, onde a fronteira entre sentimentos não é assim tão bem definida. Há muitos seres humanos que são uns cães de Baskerville, outros que são como Lassie, alguns como Blondi, muito poucos como Achiko... E embora digam que cão que late não morde, que cães ladram enquanto caravanas passam, há sempre que ter em mente quem ou o que é cão, e o que não é, e assim mesmo, que tipo de cão são os que uivam, os que latem e os que gemem.


® Rui Rodrigues 

sábado, 2 de maio de 2015

Besteirol sem alienação bancária.



(No Bar do Chopp Grátis ouve-se todo o tipo de besteiras entre tilintar de copos, vozearia, olhares, passos, ordens á cozinha, roçar de pernas debaixo das mesas, farfalhar de vestidos no cruzar de pernas. Besteirol não precisa fazer sentido, não é necessariamente verdade, mentira, possibilidade, mas pode ser. É laxante mental, mas não quer dizer nada para nenhum analista freudiano, não é uma inspiração divina, não é um sonho, e pode ser tudo isso de zero a dez. Este começou assim quando o marido de uma cliente tomou um lacto-purga mental para aliviar os sintomas que sempre ficam depois de discursos de Lula, da Dilma, ou de algum dos muitos mentirosos que pululam saltitantes nos partidos políticos de uma base aliada tão ampla, que todos se beneficiam das manápulas dadivosas dos que pedem e dos que aprovam distribuições fartas de verbas que nunca servem para melhorar seja o que for nesta nação. Ele estava justamente no banheiro, porta aberta para o caso de ter que ir para o hospital correndo, quando tudo aconteceu).

- Franzina... Ó Franzina... Este papel higiênico que compraste no supermercado é um rala-cu.
- Foi o mais barato que encontrei... Doze rolos por 8 reais. Mas tens que lavar depois porque faz bolinhas e enrola nos pentelhos. Rasga-se todo. Cuidado com os dedos que ficam cheios de merda.
Calaram-se. No jornal sobre um banco no banheiro, para se ler enquanto o tempo passava, e o “barroso”[1] descia, uma foto de uma barata minúscula de menos de um centímetro presa no âmbar tinha sido encontrada em Myanmar, uma nação problemática ali para as bandas do Laos.Tinha mais de 100 milhões de anos e era uma predadora. Lourenço ficou se perguntando porque uma barata dessas se tinha extinguido. Talvez fizesse parte da vida dos dinossauros comendo os restos que eles trituravam e deixavam cair por entre os dentes, e com a extinção deles se tivesse também extinguido. Tinha asas, e Lourenço se imaginou num trem bala ligando o Rio a São Paulo para visitar uma creche num bairro do “Minha casa minha vida”. O trem bala nunca foi construído, a creche também não, e a “Minha casa” virou a casa deles, os que as invadiam ou compravam barato daqueles a quem foram inicialmente destinadas. Mudou então de pensamento ao sentir uma esguichada de um barroso liquefeito, bem ao estilo antesco e justificativo do PT. Tudo tem uma desculpa, uma justificativa que caiba na mente da ignorância. Olhos que não vêm, coração que não sente. Nenhuma plataforma se chama Lula ou Anta, Vacca ou Falcão. A barata predadora ficou esquecida por não se saber o que faria naqueles tempos. Uma barata tonta e predatória.

E viu-se de repente num mar revolto, cercado de gaivotas. Estava numa plataforma marítima esperando ver jorrar petróleo do fundo do mar, sugado lá das profundidades quilômetros abaixo da superfície. A broca brocava lá no fundo, no leito do mar oceano, e pelo tubo subiam para a superfície, aos borbotões, barris e mais barris de água salgada pintalgada de pequenas manchas marrons. As manchas eram o petróleo que em cada barril não enchia mais que um copo de mocotó. A rota dos enormes navios tanques que traziam o óleo cru importado passavam sempre por plataformas como essas. Só passavam. Na chegada aos depósitos nos portos, anotava-se como proveniente da produção dessas plataformas.     

-Lourenço... Ó Lourenço... Já acabaste de cagar, ou queres ajuda? É prisão de ventre ou estás com os intestinos soltos? Perguntou Franzina, a mulher – viviam sozinhos – preocupada com o estado em que ficaria o banheiro. Foi até uma gaveta, apanhou uma máscara dessas usadas por médicos, pingou umas gotas de perfume, e deixou-a à mão para o caso de vir a necessitar. Do lado de fora, bem ao lado da porta do banheiro, deixou um balde com água, uma garrafa de ácido muriatico, uma vassoura velha, um enxergão, uma garrafa de detergente com cheiro de pinho.
- Não Franzina... Ainda não...
- Então – Disse Franzina – Quando acabares tens ai o kit para limpares a merda que fizeste. Não podes ser igual ao PT e meu nome não é povo do Brasil...Não temos empregada. O dinheiro vai todo para os impostos, a energia, a água, o transporte, os remédios, o material de limpeza, as multas e a inflação. Ou paras de fazer merda ou nos separamos na Igreja e no civil.
Ouviu-se um sonoro peido esborrifado, tão estridente, que Franzina previu o pior. Abriu a porta do banheiro e Lourenço havia sumido. O banheiro era uma merda só pelas paredes, pelo chão e pelo teto. Sobrou no chão uma carteirinha de filiado ao PT.
 
O féretro saiu diretamente para o vaso sanitário, com meia dúzia de descargas, umas boas esfregaduras com enxergão, ácido muriático e para arrematar um balde enorme de essência de pinho. 
No dia seguinte uma comissão da verdade a procurou para lhe dar uma indenização milionária, válida até sua morte. Franzina estava rica, segura para toda a vida. Mas era pouco. Então se inscreveu no MST. Tentaria ganhar umas lascas de terra. Inscreveu-se também no Minha Casa minha vida e começou a estudar pedindo bolsa ao FIES. Tirou carteirinha de prostituta e ganhou não só um salário extra como uma bolsa-família. Finalmente, foi corajosamente até a cozinha, pegou o facão e cortou um dedo, o mindinho, exatamente o que menos falta lhe fazia e entrou com pedido de aposentadoria por incapacidade. O governo não controlava nada, só pedia em troca o seu voto.

(T
al foi a estória que se ouviu naquela noite no Bar do Chopp Grátis. Quem disse que fazer merda não dá lucro? E nunca na história deste país se viveu tanto em meio de merda como nestes ultimos 13 anos. E fica a pergunta: O que será mais nojento? Esta história ou o governo que temos?)  

® Rui Rodrigues.  







[1] Barroso é uma excreção anal, provinda dos intestinos, normalmente cilíndrica, mal cheirosa e da cor do barro. Mais popularmente é conhecida como cagalhão. Na política significa quase todos os atos da classe respectiva porque do que fazem nada de útil se aproveita. O PT é campeão, expelindo barrosos fenomenais com o maior “desbundamento”. 

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Subindo[1] muito francamente.






Sem essa que não nos deixaram indícios de como se faziam nenéns lá nos primórdios da civilização. Deixaram sim. Basta ler os Salmos de Salomão, um dos livros comuns à Torah e à Bíblia cristã. Sexo é bom e todo mundo gosta, seja com quem for, para uns e umas, seja só para uns ou só para umas. O que importa é “desafogar o ganso”, ou deixar molhar o biscoito. Há gostos para tudo e com camisinha não há problema desde que ninguém as tenha furado previamente. Vejamos como caminharam os conceitos de sexo e de amor ao longo dos tempos...Sem esquecermos que instituições sempre aparecem para fazerem “lavagens” cerebrais e, por alguns tempos, mudarem conceitos e a forma como se encaram estas coisas. Depois a humanidade vai para onde quer ir ou entende, sem que possamos mudar – e nem queremos – os seus rumos. Rumos da humanidade não se mudam. Apenas se desviam por alguns tempos.

1.    As primeiras tribos de pré-humanos antes das civilizações.



Não havia o conceito de família, e sim de tribo. O chefe da tribo, do grupo humano era sempre o mais forte. Ele tinha o “direito” de transar com todas as fêmeas da tribo, na frente de todo mundo para que vissem e soubessem quem dominava, quem era o macho dominante. Evidentemente que, pelas sombras e ausências, machos pegavam outros machos por falta de fêmeas, um sempre dominando o outro que queria ser dominado para ter proteção já que as outras fêmeas não os queriam por serem fracos, e alguns machos mais espertos transavam com as fêmeas do chefe em sua distração ou ausência. Submeter-se ao chefe ou a um possível chefe era uma garantia adicional de proteção e comida para os filhos. Elas não reclamavam por temerem que um dia numa disputa um deles se tornasse chefe. Com a decadência física do chefe isso era inevitável. Seria o sexo feito com amor? Provavelmente não. Mais provavelmente era uma cooperação. Feito normalmente por trás, na ignorância, e satisfeito o macho, a fêmea era largada. Normalmente quando iam apanhar água em poças ou rios. Por essa época o prepúcio já tinha a forma de “chapéu” destinado a extrair o eventual e provável esperma de outro macho que tivesse fecundado a fêmea. Falar de amor seria temerário. A tribo defendia as crias por serem da tribo e serem necessárias quando mais velhas, para a defenderem e participarem de caçadas, assim como para procriarem. O chefe da tribo acreditava, muito provavelmente, que fossem fruto de sua união com as fêmeas. Provavelmente. Não havia ainda testes de DNA nem sabiam o que era isso. Como todos eram da mesma família, todos eram parecidos e ninguém desconfiava de nada.

2.    No início das civilizações.


O velho problema dos excluídos das escolhas femininas continuava. Os mais feios, os menos “nobres”, os mais fracos, não tinham a preferência das mulheres. Muitos deles precisavam de proteção, que lhes era dada por outros iguais a eles, mas com um pouco mais de alguma coisa, força ou hormônios masculinos, por exemplo. Alguns ainda tinham alguma oportunidade dos dois lados do gênero humano. Transavam com homens e com mulheres, mas sempre havia os que tinham nascido com essa tendência. Gostavam porque gostavam. Estes eram aceitos na sociedade, tal como o haviam sido nos tempos de pré-civilização, porque, imprestáveis para a caça, podiam ficar entre as mulheres sem perigo de “concorrência”. Agora, no início da civilização eram eficientes em muitas outras atividades e sempre tinham protetores.


Nos impérios de Roma e da Grécia sempre sob o temor de partirem para a guerra ou serem invadidos, considerando a vida como uma existência precária, as diversões se limitavam a jogos, circo, sexo e bebidas. Não é, portanto, de estranhar a promiscuidade. Porém, havia a questão da família e o que a diferenciava dos demais indivíduos e situações civis. Mulheres de família não poderiam ser promíscuas como as mulheres da vida que existiam em Pompéia conforme anúncios – os primeiros grafites de que se tem notícia – anunciando seus dotes e os preços. Esta moralidade se deve principalmente á construção de um patrimônio e à possibilidade de o patriarca se vir a tornar um tribuno, um homem do governo, um homem de moral que tinha uma mulher que o respeitava. Fugas a padrões estereotipados sempre foi uma característica humana, até mesmo porque para se firmar como “homem”, macho, guerreiro, era necessário que tivesse fama com as mulheres, e até de vez em quando comer, subjugar, dominar outro macho. Esta forma de dominação levada ao extremo era dominar e “comer” um inimigo valente que se batera em combate humilhando-o. E qual a mulher que agüentava sem sexo por anos a fio com o marido longe em batalhas ou na administração de feitorias, sem saber se voltaria?
A historia da Odisséia de Homero é uma ode á fidelidade de Penélope, esposa do ausente Ulisses, assim como de seu filho Telêmaco, ela resistindo ao assédio sexual de pretendentes.
Os grandes profetas hebreus, e em geral os homens ricos e proeminentes do Oriente Médio sempre tiveram seus haréns, suas vinhas. A proibição do álcool em algumas religiões é hábito mais recente que não fazia parte dos primórdios das religiões. O que se pode inferir é que o sexo fora do âmbito da família era “consentido” sempre e quando “não corressem vozes” ou não houvesse flagrante.

3.    Na idade Média.



A idade da consolidação da moralidade das religiões, impondo ás sociedades a moral de sacerdotes interessados em, exatamente, religião, aumentar o número de fiéis, conquistar espaços e simpatias pela identidade da fé, aumentar os cofres, recebendo mais do que davam. Recebiam em dobro, em triplo, mil vezes, sete mil vezes sete o pouco que davam. Se olharmos pelo aspecto do benefício “moral”, causaram mais incômodos tentando mudar o imutável na natureza do ser humano. Quantos se abstêm da mulher do próximo ou do homem da próxima? Já em termos de “conforto” as religiões são notáveis. O que se pode desejar de melhor do que morrer, ir para o paraíso, e lá encontrar a paz de uns, sete virgens de outros, milhares de paraísos a que se vai acedendo aos poucos, de acordo com a religião do Tao. E se não fosse pelo convencimento era pela força. E foi assim que certo dia as mulheres viram chegar no mercado uma peça de ferro com fechadura e cadeado: O cinto de castidade, alguns com lâmina para que se algum pretendente tentasse penetrar a esposa, tivesse seu falo cortado – ou a língua. As amizades secretas de esposas com os armeiros que trabalhavam em fechaduras, não passaram desapercebidas.   
  
4.    Nos tempos modernos.


A humanidade move-se por terrenos espirituais que estão em sua origem. Não abdica de princípios, e esta tem sido a luta de religiões e políticos tentando desviá-la normalmente pela privação, através de proibições. É uma luta em vão. Alguns “líderes” que assumem governos de religiões ou de Estados conseguem mudar suas sociedades por algum tempo, mas a humanidade dá-lhes a volta. Revoltam-se as sociedades e a humanidade. Acontece a todo instante, e após 12.000 anos de civilizações, e finalmente, a mulher consegue atingir a sua igualdade perante o homem, podendo votar, tendo seu trabalho, podendo voltar a ser a matriarca de uma família como já o tinha sido em algumas sociedades do passado e mesmo antes deste século XXI, já em algumas sociedades africanas, em Roma, na Grécia, Oriente Médio, até com direito a harém, tudo de forma oficial e aceita pelas sociedades. Assim como existem homens que estão sempre prontos e dispostos, também há mulheres que têm a mesma disposição e estão sempre prontas para fazer sexo.


A humanidade, sociedades em geral como parte da humanidade, na verdade, parecem-se muito com uma esponja ou uma massa de moldar. Confinem-se entre as mãos, apertando-a num sentido e ela se moverá para o outro, buscando espaços. Não podem ser comprimidas. No caso da esponja, vomitam pelos poros, no caso da massa, fogem do controle por entre os dedos da mão. Não estou certo se Maquiavel de injusta má fama, percebeu isto embora explicitamente não pareça que tenha construído uma “máxima” que assim definisse as sociedades e a humanidade. Para esta, o tempo flui de forma diferente. O indivíduo tem pressa, a humanidade não tem tanta. Quase nenhuma. E mesmo quando parece mudar, volta ao mesmo, às mesmas atitudes, apenas com roupas e equipamentos diferentes.

5.    O futuro da liberdade sexual.



É inevitável que a promiscuidade traga a transmissão de doenças sexualmente transmissíveis. Vírus sofrem mutações a tal ponto que alguns chegam a parecer que são vírus diferentes, mas não passam de vírus modificados. Entre a vontade e a obrigação de usar um preservativo, vence sempre a vontade. São poucos os casais que no gritar dos hormônios, se abstêm do sexo esperando uma outra oportunidade em que haja preservativos disponíveis. O indivíduo tem pressa. A liberdade sexual de hoje é fruto de uma série de “condições” em que se vive no dia de hoje. Como simples exemplos, é fruto de uma perda de força das religiões, da necessidade do mercado lançando mão do trabalho feminino e de sua igualdade aos homens, da existência de preservativos mais suaves do que as antigas tripas finas de bois e vacas, da evolução do Estado democrático, da simplificação de tarefas através das facilidades permitidas por modernos equipamentos, a perda de rumo e até certo ponto do enfraquecimento do homem como “senhor” da situação, a perda de posição como chefe da “tribo do lar”, onde fatores econômicos têm peso substancial. Em palavras bem diretas, a mulher se masculinizou e o homem se afeminou. É o estado híbrido, do meio termo, que parece irá dominar o futuro da humanidade nos próximos séculos, tempo muito curto para a humanidade a ponto de aumentarem sensivelmente os casos de hermafroditismo.

Adicionar legenda
Quanto tempo a humanidade irá esperar para uma nova mudança, talvez com predomínio completo da mulher ocupando aquele lugar que o homem já teve, não se sabe. A humanidade sabe, mas decide devagar e após decidir muda vagarosamente, no que pese a facilidade das comunicações atuais. É que não se trata de velocidade de informação, mas de velocidade da vontade de mudar, que geralmente advém de uma necessidade premente, ou de uma submissão temporária, mas, da mesma forma, premente, iminente.     



O grande segredo da humanidade é a adaptação e a inovação tudo com muita paciência, sem pressas, e se o conceito de família já não é como antes, quem sabe voltará um dia a sê-lo ou desaparecerá para sempre? Qualquer tentativa no sentido de mudar a determinação da humanidade, isso sim, será em vão. O problema é: O que quer a humanidade? O que governos, filosofias ou religiões querem é volúvel e passageiro, sempre de forma apressada porque é coisa de indivíduos.

® Rui Rodrigues





[1] A bem da verdade, trata-se de “Trepando no tempo, com toda a Sinceridade”

Que país é esse?

Estão fazendo hora com a nossa cara... Estão capitalizando a lei, descapitalizando a economia, deseducando a saúde pública, adoentando a educação, e acabou a pomada para calos! O esparadrapo está sendo usado para juntar folhas de processos, os processos vão todos para um processador, o ministério está de trombas, os fantasmas são mais que eminências cinza, o homem da capa preta foi-se. Resta-nos saber que a tempestade está chegando sem termos onde nos abrigarmos.

Quem vê não pode, quem pode não vê, quem fala consente, quem sente nem fala. Estamos na fase do não vale a pena. Quando a pena vier, valerá, mas a fase terá passado. Andamos todos procurando a mãe do Mateus para que o embale, mas só aprendemos a sambar. Pois o que parece é que a lei enxerga muito mal, mas enxerga, a balança está desequilibrada, e a espada essa sim está completamente cega.

Houve um ultimo dos Moicanos, mas isso foi lá no Norte, e nós somos do Sul e não somos moicanos, muito menos os últimos e somos muitos, mas não sabemos jogar esse futebol xadrez da política. Somos demasiadamente crentes, lobos nos pastoreiam, caravanas nos ladram e ficamos parados esperando o trem que não vem. Se vos perguntarem que país é esse, não adiantará porque a canção também já se perguntava, mas se vos perguntardes a vós mesmos o que sois, sabereis que essa nação vos fugiu e já não a reconheceis.

Um bom brasileiro não foge à luta nem desiste nunca.




® Rui Rodrigues