(No Bar do Chopp Grátis
ouve-se todo o tipo de besteiras entre tilintar de copos, vozearia, olhares,
passos, ordens á cozinha, roçar de pernas debaixo das mesas, farfalhar de
vestidos no cruzar de pernas. Besteirol não precisa fazer sentido, não é necessariamente
verdade, mentira, possibilidade, mas pode ser. É laxante mental, mas não quer
dizer nada para nenhum analista freudiano, não é uma inspiração divina, não é
um sonho, e pode ser tudo isso de zero a dez. Este começou assim quando o
marido de uma cliente tomou um lacto-purga mental para aliviar os sintomas que
sempre ficam depois de discursos de Lula, da Dilma, ou de algum dos muitos
mentirosos que pululam saltitantes nos partidos políticos de uma base aliada
tão ampla, que todos se beneficiam das manápulas dadivosas dos que pedem e dos que
aprovam distribuições fartas de verbas que nunca servem para melhorar seja o
que for nesta nação. Ele estava justamente no banheiro, porta aberta para o
caso de ter que ir para o hospital correndo, quando tudo aconteceu).
-
Franzina... Ó Franzina... Este papel higiênico que compraste no supermercado é
um rala-cu.
- Foi o
mais barato que encontrei... Doze rolos por 8 reais. Mas tens que lavar depois
porque faz bolinhas e enrola nos pentelhos. Rasga-se todo. Cuidado com os dedos
que ficam cheios de merda.
Calaram-se.
No jornal sobre um banco no banheiro, para se ler enquanto o tempo passava, e o
“barroso”[1]
descia, uma foto de uma barata minúscula de menos de um centímetro presa no
âmbar tinha sido encontrada em Myanmar, uma nação problemática ali para as
bandas do Laos.Tinha mais de 100 milhões de anos e era uma predadora. Lourenço
ficou se perguntando porque uma barata dessas se tinha extinguido. Talvez
fizesse parte da vida dos dinossauros comendo os restos que eles trituravam e
deixavam cair por entre os dentes, e com a extinção deles se tivesse também
extinguido. Tinha asas, e Lourenço se imaginou num trem bala ligando o Rio a
São Paulo para visitar uma creche num bairro do “Minha casa minha vida”. O trem
bala nunca foi construído, a creche também não, e a “Minha casa” virou a casa
deles, os que as invadiam ou compravam barato daqueles a quem foram
inicialmente destinadas. Mudou então de pensamento ao sentir uma esguichada de
um barroso liquefeito, bem ao estilo antesco e justificativo do PT. Tudo tem
uma desculpa, uma justificativa que caiba na mente da ignorância. Olhos que não
vêm, coração que não sente. Nenhuma plataforma se chama Lula ou Anta, Vacca ou
Falcão. A barata predadora ficou esquecida por não se saber o que faria
naqueles tempos. Uma barata tonta e predatória.
E viu-se de
repente num mar revolto, cercado de gaivotas. Estava numa plataforma marítima
esperando ver jorrar petróleo do fundo do mar, sugado lá das profundidades
quilômetros abaixo da superfície. A broca brocava lá no fundo, no leito do mar
oceano, e pelo tubo subiam para a superfície, aos borbotões, barris e mais
barris de água salgada pintalgada de pequenas manchas marrons. As manchas eram
o petróleo que em cada barril não enchia mais que um copo de mocotó. A rota dos
enormes navios tanques que traziam o óleo cru importado passavam sempre por
plataformas como essas. Só passavam. Na chegada aos depósitos nos portos,
anotava-se como proveniente da produção dessas plataformas.
-Lourenço...
Ó Lourenço... Já acabaste de cagar, ou queres ajuda? É prisão de ventre ou
estás com os intestinos soltos? Perguntou Franzina, a mulher – viviam sozinhos
– preocupada com o estado em que ficaria o banheiro. Foi até uma gaveta,
apanhou uma máscara dessas usadas por médicos, pingou umas gotas de perfume, e
deixou-a à mão para o caso de vir a necessitar. Do lado de fora, bem ao lado da
porta do banheiro, deixou um balde com água, uma garrafa de ácido muriatico,
uma vassoura velha, um enxergão, uma garrafa de detergente com cheiro de pinho.
- Não
Franzina... Ainda não...
- Então –
Disse Franzina – Quando acabares tens ai o kit para limpares a merda que
fizeste. Não podes ser igual ao PT e meu nome não é povo do Brasil...Não temos
empregada. O dinheiro vai todo para os impostos, a energia, a água, o
transporte, os remédios, o material de limpeza, as multas e a inflação. Ou
paras de fazer merda ou nos separamos na Igreja e no civil.
Ouviu-se um
sonoro peido esborrifado, tão estridente, que Franzina previu o pior. Abriu a
porta do banheiro e Lourenço havia sumido. O banheiro era uma merda só pelas
paredes, pelo chão e pelo teto. Sobrou no chão uma carteirinha de filiado ao
PT.
O féretro
saiu diretamente para o vaso sanitário, com meia dúzia de descargas, umas boas
esfregaduras com enxergão, ácido muriático e para arrematar um balde enorme de
essência de pinho.
No dia
seguinte uma comissão da verdade a procurou para lhe dar uma indenização
milionária, válida até sua morte. Franzina estava rica, segura para toda a
vida. Mas era pouco. Então se inscreveu no MST. Tentaria ganhar umas lascas de
terra. Inscreveu-se também no Minha Casa minha vida e começou a estudar pedindo
bolsa ao FIES. Tirou carteirinha de prostituta e ganhou não só um salário extra
como uma bolsa-família. Finalmente, foi corajosamente até a cozinha, pegou o
facão e cortou um dedo, o mindinho, exatamente o que menos falta lhe fazia e
entrou com pedido de aposentadoria por incapacidade. O governo não controlava
nada, só pedia em troca o seu voto.
(Tal foi a estória que se ouviu naquela noite no Bar do Chopp Grátis. Quem disse que fazer merda não dá lucro? E nunca na história deste país se viveu tanto em meio de merda como nestes ultimos 13 anos. E fica a pergunta: O que será mais nojento? Esta história ou o governo que temos?)
® Rui
Rodrigues.
[1] Barroso é uma excreção
anal, provinda dos intestinos, normalmente cilíndrica, mal cheirosa e da cor do
barro. Mais popularmente é conhecida como cagalhão. Na política significa quase
todos os atos da classe respectiva porque do que fazem nada de útil se
aproveita. O PT é campeão, expelindo barrosos fenomenais com o maior
“desbundamento”.
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