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terça-feira, 5 de maio de 2015

Uivos, latidos e gemidos!



Parecem crianças assustadas quando uivam, e tal como quando alguém tosse numa missa, numa sala de aula, ou numa solenidade, e todos começam a tossir por “simpatia”, cães se contagiam no uivo sem saberem porque razão. O primeiro a latir sabe porque late, e se existe realmente uma linguagem canina, logo os outros passam a saber também. Seremos nós mesmos parecidos com os cães, ou os cães parecidos conosco? Ambos descobridores deste planeta, dois sobreviventes ao longo de milhares de anos, somos companheiros, vivemos numa certa relação simbiótica e muitas vezes fica indefinida a chefia da matilha. Há que ter cuidado para que a matilha não se vire contra o dono. Mas o que haverá de “humano” nos cães? Temos vários exemplos, antes, porém, é preciso que se saiba que cães uivam – tradição herdada dos lobos - para unirem a matilha por solidão ou para acasalamento.

1.    O cão dos Baskersvilles.

É tema de um romance de sir Arthur Conan Doyle. Corria voz numa localidade da Inglaterra que um cão costumava matar gerações da família Baskerville. Um deles, sir Charles, foi encontrado morto e logo a suspeita recaiu sobre o tal cão. Sherlock Holmes foi então chamado para investigar se o sobrinho de Charles, como herdeiro, correria perigo de ser morto. Porém sir Charles, como se confirmou, falecera de um ataque cardíaco. Um outro personagem interessado na fortuna cobria o cão com fósforo para que brilhasse à noite, aparentando-o mais feroz. O personagem chamava-se Stapleton e era irmão de sir Charles, tendo sido dado como morto quando era ainda jovem. A trama da história baseia-se num fato: Quando um cão é treinado para atacar alguém através do cheiro de roupa da vítima, se alguém colocar essa roupa até em seu dono, ele ataca do mesmo modo. Nessas horas o cão não reconhece o dono. Não pode uivar para que possa atacar em silêncio.

2.    Achiko.  

Achiko é um cachorro da raça japonesa Akita. No Japão, na estação de trens de Shibuya existe uma estátua em sua homenagem. Ele sempre ia esperar o dono, um professor, na estação, e um dia o dono não apareceu. Por anos a fio Achiko continuou indo até a estação, todos os dias, esperando pelo professor. Foi tema de um filme “Sempre ao seu lado”, símbolo da fidelidade, persistência. Você conhece alguma pessoa assim? Se conhecer dê-se por feliz. E se conhecer mais de uma, então sua felicidade é uma benção. Eu mesmo ficaria feliz em ser seu amigo.  

3.    Lassie.


Lassie é uma cadela da raça Colie. Separada do dono em circunstâncias terríveis, percorre centenas de quilômetros para encontrar com seu dono. Inicialmente o conto foi publicado no Saturday Evening Post em 1940, mas a série de televisão somente em 1954 e durou 20 anos. Muitos de nós certamente ainda nos lembramos desta série. Por esses tempos as séries eram mais "suaves" tentando fazer um mundo melhor e mais suave. Atualmente as séries são mais violentas, mais sanguinárias embora o sangue quase não apareça, embora aparentemente o motivo seja o mesmo. Algo não "bate" bem. 







4.    Blondi, cadela que não conhecia o dono.




Era a cadela de Hitler, da raça pastor alemão, presenteada por Martin Bormann, secretário particular de Hitler. Eva Braun, esposa dele, não gostava da Blondi e costumava chutá-la por debaixo da mesa. Ela preferia seus dois Scotish Terrier, o Negus e o Stazi. O que mais a irritava era o hábito de Hitler permitir que a cachorra dormisse com ele na cama. Acompanhou-o de 1941 a 1945 até o bunker quando Hitler já temia o pior. Por essa oportunidade Blondi tinha dado à luz cinco filhotes de seu cruzamento com Harras, pertencente a Paul Troost, o arquiteto de Hitler. Já desiludido, no bunker, Hitler pede a Werner Haase, seu médico que testasse em Blondi as cápsulas de cianureto que ele pretendia usar, para testar se eram eficientes. A cadela morreu, Hitler suicidou-se, os cinco filhotes foram abatidos a tiro pelo médico. Os soviéticos que invadiram o bunker exumaram o corpo de Blondi por indicação do médico. Com as costelas aparecendo como na foto, Blondi não teria de Hitler a retribuição que merecia, mas como se ser retribuído por um indivíduo como Hitler?  E porque Eva Braun não chutava Hitler em vez de chutar Blondi? Casada com Hitler, o que se poderia esperar de Eva Braun, uma modelo e assistente de Heinrich Hoffman, fotógrafo particular de Hitler. Por duas vezes ela tentou o suicídio durante seu relacionamento com Hitler. Finalmente, depois de conviver com ele casaram-se. O casamento durou 40 horas, antes que suas vidas acabassem no bunker. A história não é triste. Triste é o modo como alguns seres escrevem suas histórias na vida. Uns de forma consciente, outros, como Blondi, arrastados pela história triste dos outros. Agora imagine que isto se aplique aos relacionamentos humanos e que uma mulher como Eva Braun, sem instrução, amante do poder fosse indicada para a presidência de uma república, só porque alguém no poder a indicou, tão ignorante quanto ela. Se Hitler tivesse ganhado a guerra provavelmente a indicaria para sua sucessora: Podia dominá-la mais que qualquer um de seus mais eficientes colaboradores.


E é assim que se constroem histórias entre uivos, latidos e gemidos, onde a fronteira entre sentimentos não é assim tão bem definida. Há muitos seres humanos que são uns cães de Baskerville, outros que são como Lassie, alguns como Blondi, muito poucos como Achiko... E embora digam que cão que late não morde, que cães ladram enquanto caravanas passam, há sempre que ter em mente quem ou o que é cão, e o que não é, e assim mesmo, que tipo de cão são os que uivam, os que latem e os que gemem.


® Rui Rodrigues 

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