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quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Em algum lugar... Deve haver...Uma semente.

Em algum lugar... Deve haver...Uma semente.

Dizem que os filósofos apresentam ao mundo teorias novas, e que a humanidade os segue. Não acredito nisso. Não faz sentido. O que faz sentido é o enlaçamento de idéias já existentes, a associação entre elas e a conseqüência do hábito de pensar, raciocinar sobre os enigmas. Ao racionarmos sobre essas idéias, encadeando-as, podemos descobrir uma nova teoria. Aconteceu isso com a descoberta de como manter o fogo aceso depois que um raio tivesse incendiado uma árvore, ou um pedaço de lava expelida de vulcão, tivesse caído ainda em brasa, o suficientemente longe para que um hominídeo a mantivesse acesa. Com o conhecimento do fogo não demorou muito para se obter uma alimentação mais saudável, a fusão de rochas para obter metais, as armas de fogo, e fomos á Lua, a Marte, o universo é nossa casa. Tudo graças a filósofos da matemática, da física, nenhum religioso realmente importante, definitivo. Pelo contrário, atrasaram em muito o nosso progresso por que seguiram crenças desprezando a ciência.

Da mesma forma, nossa civilização começou em meio a um grande medo: O de sermos comidos por feras que polvilhavam este planeta. Já fomos almoço e janta de muitos predadores, e até mesmo por muitos de nossos semelhantes, da mesma espécie. Ainda somos, mas de forma indireta: Quando há corrupção nos governos, menos dinheiro chega aos serviços públicos, a qualidade de vida se deteriora, morrem muitos de nossos semelhantes, principalmente idosos e crianças. Com o advento da agricultura, juntamo-nos aos milhares em cidades. Eram necessárias leis para controlar todas as vontades, permitindo apenas as que fossem determinantes para a continuação dos motivos que nos haviam unido. E criaram-se mecanismos destinados a perpetuar esses laços: A tradição dos costumes, a cultura. Cada povo tem a sua, cada nação uma porção. Foi o cimento das sociedades, do criar e manter as fronteiras.

Filósofos parecem descobrir o que já existia, mas não era visto, percebido, entendido: A vontade de mudar, sempre para melhor, em busca de novas motivações, novos fatores agregadores de sociedades, os olhos postos nas possibilidades de um futuro possível, tentador, até então vedado, castrado, dificultado, impedido. Instituições são sempre refratárias a mudanças, porque se perguntam: Por que razão mudar o que sempre funcionou? Se mudarmos – dizem – nossas instituições correm riscos. Não percebem que não são os filósofos que mudam o mundo, nem os líderes, e que as instituições mudam pelo grande ser, escondido, que muda o mundo: A própria humanidade, por uma vontade própria, intrínseca, a que Freud chamou de “inconsciente coletivo”. Cada sociedade tem o seu, cada nação a sua.

São as “sementes” da humanidade, tal como genes, que evoluem, mudam, se adaptam ao ambiente, à vontade de sobreviver, como antes, e agora de sobreviver e viver tanto quanto nos seja possível, do modo mais agradável. E foi assim que vimos tudo mudar. Primeiro, numa velocidade compatível com a nossa capacidade de raciocinar, ainda limitada. A ciência caminha no ritmo das descobertas, em progressão geométrica. Depois, nos últimos trezentos anos, a uma velocidade mais rápida, porque a eletrônica ainda era incipiente. Agora quase ao ritmo da velocidade da luz, porque a informação está disponível para quase todos os seres que compõem a humanidade e não apenas para protegidos de mosteiros, ou de ricas gentes que podiam pagar universidades. E se fez a luz nas relações humanas. Hoje já percebemos quem nos quer explorar. Sabemos julgar atitudes do que dizem que nos amam, mas é apenas como uma casca da tradição, ou profundamente como desejamos que seja. Aprendemos a dizer sim para os falsos e aproveitadores, pensando eles que se aproveitam de nós, para que nos aproveitemos deles. Contestam-se ordem de superiores militares, contesta-se o casamento, o mundo gay existe, sermos governados de forma unilateral por partidos, grupos, ditadores, está com os dias contados, mas ainda não sabem eles. Acreditavam antes que eram filhos dos deuses, depois que eram ungidos por eles, e agora que os elegemos para nos “representarem”.

Um dia teremos que escolher quem poderá ter filhos. Muitos genes serão perdidos, mas é tal a diversidade, que isso não terá diferença para cada um de nós, perdidos numa infinidade de seres humanos. Fará diferença para a sobrevivência no futuro, mas está tão longe, que para nós, que agora lemos isto, não fará diferença alguma. São as sementes que plantamos que definem o futuro, cada vez mais longe das velhas tradições criadas nas grutas onde os hominídeos se protegiam das feras, ou das cidades cercadas por altas muralhas, algumas tão fracas que nem os sons de trombetas agüentavam. Dizem que quando a invadiram, ninguém vivia na cidade abandonada. Já era pó, e ainda os ventos dos tempos do pó não tinham chegado com a força que agora sopram...

Ainda há tempo para vários tipos de sementes brotarem no seio da humanidade. Uma delas, aquela em que haverá amor – também - sem sexo, sem recompensas, sem contrapartidas, sem obrigações. Ainda não brotaram, mas os filósofos já sabem que existem. Seremos já muito poucos por aqui quando brotarem, a terra quase esgotada. Mas lá fora, algures no espaço, fora de nosso sistema solar, novos costumes, novas vidas, novas culturas, novas sociedades e novas humanidades viverão e hão de gerar novas sementes. Então, e só então, porque a humanidade caminha muito devagar, o Sol crescerá, ficará vermelho e se transformará numa gigante, a humanidade salvaguardada.  


© Rui Rodrigues

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