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sábado, 8 de março de 2014

Carinhos das Traquitanas.

Carinhos das Traquitanas.



Não... Não é de carros velhos ou mal adaptados que vamos falar... É de nós mesmos, de nossos carinhos... 

Um dia ouvimos dizer que éramos feitos à imagem de Deus – mesmo nem sabendo o que é realmente Deus, nem a mínima ideia – e logo ficamos convencidos de que éramos o suprassumo da inteligência, o que de melhor existe neste mundo. Quando soubemos da existência de um Universo em que vivemos – sem contudo sabermos exatamente o que isso significa nem sua verdadeira composição - então sim nos perdemos definitivamente na análise do “eu” próprio de cada um por acharmos que somos a única espécie viva inteligente deste universo. No fundo precisávamos mesmo desse afago do ego para que parasse o tráfego de escravos, para que alguém disposto a escravizar outro alguém pensasse:
- Não posso fazer ninguém de escravo, porque se todos somos feitos à semelhança de Deus, então estaria escravizando a algo semelhante a Deus, e para se ser “semelhante” a Deus, não pode ser só na figura, mas também no espírito! Estaria escravizando (explorando) Deus...


Mas esse pensamento nunca tomou forma e se assentou definitivamente em nossa linha de comportamento: A humanidade de forma geral continua sendo explorada uns pelos outros e alega-se de tudo para justificar esta exploração. Parece que somos todos nós uma perfeita “traquitana”, cada uma funcionando como pode, umas com motor à ré, outras com tração dianteira, com maior ou menor potência, a vapor, diesel, energia nuclear, mas todas precisando de carinhos. Sem carinhos parece que não sabemos funcionar de forma perfeita. Nem dando à manivela... Muitas das traquitanas precisam de aditivos humorizantes para poder levar a vida, rodar em velocidade de cruzeiro, navegar pelos mares da alegria, voar e dar piruetas pelos ares do sucesso. Mas como nelas funcionam as traquitanas e carinhos?  



Antes de nada mais somos extremamente egoístas, e até mesmo na associação dos beneficentes dos mais desvalidos o egoísmo funciona como motor: - Não se dá o que se pode nem o que se tem, dá-se para mostrar que não somos egoístas ou quando muito porque achamos que é o sistema que tem que mudar para que os benefícios cheguem a todos, mas nem é nesta parte descuidada dos aspectos sociais que somos realmente traquitanas e egoístas. A referência está no egoísmo: Gostamos de injetar em nossos cérebros boas doses de endorfinas que nos dão prazer. Assim, somos capazes de amar alguém que maltratamos até o sofrimento de parte a parte. Nós que levávamos uma vida normal com esse alguém, o maltratamos para ficarmos com grande deficiência de endorfinas. Sentimo-nos mal. Mas quando reatamos a relação normal logo as endorfinas enchem nosso cérebro de prazeres imensos. Sentimo-nos felizes, mas a cada separação e reatamento, mais endorfinas se fazem necessárias para nos dar o mesmo prazer. É como um vício. E logo estaremos terminando definitivamente para depois virem os carinhos de amigos, de amigas, que nos afagam, nos dão o consolo que gera endorfinas sem fim pelo resto da vida, porque em cada encontro se falará invariavelmente do mesmo: A relação terminada, como o outro alguém lhe "fez mal", como sofreu com ele, como deu a volta por cima, como ascende agora à condição de herói ou de heroína da vida.


Nossas traquitanas funcionam segundo o seu raciocínio guardado e desenvolvido nos motores centrais do cérebro, e não nos permitem, embora haja exceções – que tomemos consciência do “todo”, do envolvimento, da história por detrás das ações, das consequências dos nossos atos. Ao raciocinar na solução de um problema recebemos uma dose de endorfina sempre que “achamos lógica” uma atitude a tomar, e então achamos que seja a “solução” aquela que nos dê maior dose de endorfina... Nossa vida de traquitanas é muito rudimentar ainda e somos preguiçosos para manter nossos motores sempre na análise do conjunto do movimento: Nós (as traquitanas) e nos arredores da rede de estradas em que nos movemos. Uma entrada numa estrada muito equivocada e nunca mais voltaremos à estrada principal em que movíamos nossas vidas, como acontece sempre que alguma traquitana envereda pelo caminho das drogas e em particular pelo caminho do crack.



Algumas de nós ficamos doentes. É muito comum. Tão comum, que geralmente morremos de doenças ou da doença da falta de atenção e somos atropeladas no meio das ruas, nos escritórios por colegas ou chefes, em casa por esposas maridos filhos ou familiares, na política por competidores ou inimigos figadais. 


Por vezes nos atropelamos a nós mesmos por pura preguiça de raciocinar e não escolhermos o caminho mais adequado. Muitas vezes por pressa em resolver o que nos aflige. Não se pode ter pressa nesta vida, nem devemos permitir que nos apressem. Quem nos apressa já dá sinal de que não nos quer permitir o bom hábito de raciocinar: Ou não lhes interessa o que nos possa acontecer, ou estão torcendo para que nos precipitemos no abismo do desconhecimento de causa.  



Carinhos são muito bons por causa da endorfina que nos dá prazer, mas o que é “prazer” e onde busca-lo sem nos complicarmos, em qualquer ocasião? Uns dizem que é buscando amparo em Deus, essa figura que não conhecemos, que nunca vimos, de quem só ouvimos falar pela voz de outros, cada qual com sua opinião, simples traquitanas como nós. Outros dizem que conhecendo-nos a nós mesmos podemos obter todo o prazer do mundo sem recorrer a nada mais do que ao nosso raciocínio. Existe um imenso universo dentro de nós mesmos para ser desvendado, e a cada descoberta podemos ver como são parecidas todas as traquitanas que habitam este mundo. Tão parecidas que apesar das desigualdades sempre afirmamos que “somos todos iguais”. Mas não somos! Uns viram-se para o lado de fora, outros olham tanto para dentro quanto para fora, outros se encistam e olham apenas para dentro, mas destes há três tipos: Ou olham exclusivamente para o “eu”; ou para o “eu” no sentido de como predominar sobre os outros; ou apenas pela curiosidade de saber como é este mundo. O saber, o conhecer, soltam endorfinas deliciosas, uma salvação para quando estamos doentes e podermos nos restabelecer mais rapidamente. Não é toa que crianças e doentes em geral se animam e melhoram quando convivem em sua doença com animais, recebem a visita de “palhaços”, ou simplesmente sonham

O mundo é dos sonhadores e não podemos sufocar nossos gritos, nossas alegrias, nada do que queiramos expor.  


® Rui Rodrigues  

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