... Não basta ter o livro na cabeceira e
acordar um dia dizendo: Tenho inimigos no palácio!
Circula em
todo mundo um livro com o título “O príncipe” de Niccoló Maquiavel, porém com
uma particularidade: Contém notas á margem de páginas escritas nada mais nada
menos que por Napoleão, que, se formos a olhar sob o olhar perspicaz de
Maquiavel foi um príncipe que se deu mal e, portanto perdeu. Não ganhou nada!
Porque o “ganhar” não é coisa de um momento, mas um resultado de uma soma de
momentos. As batalhas que Napoleão ganhou são de somenos importância se
confrontadas com as suas duas prisões, a perda em duas batalhas finais, e seus
dois desterros, vindo a falecer no ultimo deles, sob suspeitas de
envenenamento. Enquanto a França o vê como herói, o mundo está cheio de locais
onde o vêem como acabou seus dias: Um apostador em si mesmo, demasiadamente
vaidoso e confiante e acabou com perda total de tudo o que tinha conquistado.
Ficou-lhe a fama de caudilho. Napoleão foi um caudilho assim como Zapata,
Perón, Che Guevara, Fidel Castro, Chávez, Lula, Dilma...
O bom [1]
príncipe, que sabe governar, não pode chegar a ponto de acordar um dia e
dizer-se a si mesmo de frente para o espelho enquanto escova os dentes, pra
depois contar aos outros: Temos inimigos em palácio! É sinal que falhou muito.
Pior ainda quando os inimigos já confabulam abertamente entre si, nas fileiras
de seus próprios aliados que esperam apenas alguns detalhes para depô-lo. Isso
já lhe quita o significado de príncipe, o adjetivo de bom, e o que é ainda mais
deprimente, o re-qualificam como simplesmente um idiota que não se sabe como
chegou ao poder.
É que “se
chegar ao poder” nem sempre é por méritos, senão por interesses daqueles que
querem um príncipe sem qualidades e tonto o suficiente para que o possam
manusear, manipular, dirigir. Ricardo III de Inglaterra pertence ao vasto rol
de príncipes falidos da História Universal eleito sem méritos. Ele tinha um
irmão que era rei: Eduardo IV que morreu em abril de 1483 e deixou um filho,
também Eduardo que seria seu sucessor como Eduardo V. Por seu grau de
parentesco, forças políticas o nomearam Lorde Protetor de Eduardo V que só
tinha 12 anos de idade. Enquanto o jovem promissor rei viajava de Ludlow a
Londres, o Lorde Ricardo se encontrou com ele e seu irmão Ricardo de Shrewsbury
no caminho e os levou á Torre de Londres. Em Junho do mesmo ano as forças
políticas que ajudavam Ricardo declararam o casamento dos pais de Eduardo V
como inválido e as cortes corroboraram esta afirmativa. Foi um pretexto para
declarar os dois filhos inelegíveis e logo em seguida, em Agosto, Ricardo, o
tio das crianças, se faz coroar Rei: O Rei Ricardo III. Gerou-se uma Lenda, a
Lenda dos Príncipes da Torre, porque nunca mais apareceram, embora corresse á
boca pequena, a do povo, que Ricardo III as teria mandado assassinar.
Isto é
política e há muitos tipos de política. Umas são terrivelmente sujas, outras
mais inteligentes e limpas, mas há sempre interesses sendo defendidos e outros
atacados. Somos uma humanidade com este tipo de comportamento. Ricardo III foi
enterrado em local desconhecido após ter perdido uma batalha, a de Bosworth em
1485. De nada lhe valeu nem a seus apoiadores terem matado as duas crianças.
Ricardo poderia ter “reinado” como tutor das crianças até sua maioridade, mas
não foi inteligente para isso. Queria muito mais. Napoleão também. Hitler
também. Lula também. Não sabem de seus limites, até onde podem ir.
Provavelmente nenhum deles leu Maquiavel com aquela inteligência necessária
para que se entenda o que um gênio escreve. O corpo de Ricardo III foi
finalmente encontrado sob as antigas fundações do Mosteiro de Greyfriars. Os
restos mortais mostram que foi ferido com espadas, facas e punhais, e seu
estômago estava cheio de vermes (lombrigas). Ele foi certamente trucidado com
raiva. Não foi um bom final para o seu orgulho em ter conquistado o posto de
Rei, embora por modos escusos e de má índole. Che Guevara virou peneira de
tantas balas que levou, depois de uma vida de mortes e assassinatos. Ele dizia
que “havia que endurecer sem perder a ternura”, frase que só se usa quando se
está orgulhosamente por cima no poder. Há caudilhos mais espertos e que nunca
falam o que pensam, embora não tenham também o menor mérito. Che Guevara já foi
enterrado, Fidel assiste ao reatamento de relações entre Cuba e EUA, Hitler
suicidou-se, Mussolini foi dependurado de cabeça para baixo, Napoleão morreu melancolicamente no degredo em uma ilha, dizem que
envenenado, Chávez morreu repentinamente e ainda jovem de câncer na maravilhosa
ilha de Cuba onde a medicina era das mais adiantadas do mundo, assim diziam, e
Dilma, Lula e Cristina que também tiveram câncer, mas não foram se tratar em
Cuba, ainda vivem de boa saúde, tratados que foram nos melhores hospitais do
continente, jamais na instituição chamada SUS onde se morre até em fila. O povo se revolta contra as atitudes que não coincidem com as prédicas.
Há sempre
uma hora de pararem o que sabem fazer de melhor, para que fiquem na boa lembrança da posteridade as “conquistas” que fizeram, quer na luta por
territórios, quer nas ciências, quer nas conquistas sociais. Quando na verdade
nada disto importa e o poder, como reduto de segurança para os erros dos
príncipes, passa a ser o mais importante, eles não param. Não perceberam
quando deveriam ter parado e seguem agora no poder por simples defesa, porque
as forças armadas devem defender as Instituições e a integridade dos príncipes,
embora esses mesmos príncipes as tenham destroçado, vilipendiado, de forma a
serem irreconhecíveis. Costumam dizer que lutam pela democracia, usando papel e
caneta para as transformarem em Associação Comercial de Ministérios, Supremos
Tribunais de Defesa de Corruptos, aumentando impostos e gerando inflação para
recolherem verbas que possam cobrir os desvios que fizeram. Príncipes que se
transformam em chefes de bando, só um é bem visto na história universal. Era
chefiado por um sujeito que roubava dos ricos para dar aos pobres, em plena
floresta de Sherwood onde hoje é um jardim na cidade de Londres. O nome dele
era Robin Wood [2]
e tudo leva a crer que se trata de uma outra lenda.
Como
política nada mais é do que uma série de medidas que se tomam para alcançar
determinados fins onde o mérito nem sempre é necessário, temos visto ao longo
da história uma repetição de fatos: Príncipes conseguem alcançar o poder, mas
como não têm capacidade gerencial nem conhecimentos, acabam por levar a nação
ao caos comercial, científico, político, industrial, financeiro, e continuam
mentindo para se segurarem no poder com medo de terem um fim semelhante ao do
rei Ricardo III da Inglaterra, enterrado recentemente em um simples e bege
caixão de madeira sem pintar e sem polir, porque além de seu passado histórico
de assassinato de duas crianças que nem se chamavam Celso Daniel, pertencia a
uma dinastia que nunca mais subiu ao poder. Aliás, em tempos modernos de
república, não há lugar para reis, rainhas, governantas, caudilhos e mentirosos
corruptos no poder.
O poder é
do povo, exercido pelo povo para o povo. Não se pode roubar nem mentir
impunemente à sombra desta lei maior. Somente esta frase já é uma constituição
por si mesma. Se esses caudilhos se cercam de "juizes" para dizerem que suas alterações à constituição são legais, ou compram deputados para as aprovarem, a Constituição passa a ser apenas papel higiênico escrito com letras desencontradas. Maquiavel ainda existe em seu livro. Os que o não entenderam,
acabaram muito mal.
® Rui
Rodrigues.
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