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segunda-feira, 15 de abril de 2013

Sobre os povos indígenas[1]



Sobre os povos indígenas[1]



Já tinha mais de dez anos quando saiu a público uma coleção de cromos sob o título de “raças humanas”, que deveríamos colar uma a uma num álbum. O mundo se abriu para mim. Jamais havia imaginado que houvessem tantas raças, tanta diversidade em tantos lugares deste planeta. Todos semelhantes a mim, com cabeça, tronco e membros, olhos, ouvidos, boca, nariz, certamente sangue similar, tudo realmente igual, tão igual, que geravam temor ao redor do mundo: O mundo temia que alguma delas prevalecesse sobre as demais, e temia-se, em particular, a grande invasão da raça amarela.

Um mundo de pavor herdado de velhos temores de invasão da “personalidade”, da idiossincrasia, dos hábitos e costumes, da tradição. Quando anos depois li o livro de Dee Brown “Enterrem meu coração na curva do rio [2]” tudo o que vira no cinema sobre índios sendo abatidos por tropas federais dos EUA – gáudio de platéias desnorteadas, loucas por sangue fácil, entorpecidas como gambás – caiu por terra. O orgulho americano da ocupação das terras índias, propalado pelas telas de cinema, eram uma diversão tola e infantil, inconseqüente, uma vitória fácil e torpe.


Porém, culpar apenas americanos e a humanidade daqueles tempos seria uma injustiça. Ao ler a história universal, e ao ler os jornais de hoje em dia, vemos que nos protegemos da fera com um pedaço de cartolina que nos tapa a visão. Iludimo-nos, os povos índios continuam sendo perseguidos e eliminados sob nossos olhos, tapados por promessas falsas, reservas tranqüilas, leis de proteção aos índios. Continuamos tolos e infantis, inconseqüentes, buscando sempre vitórias fáceis e torpes para alimentarem o nosso ego pueril. Somos falsos e pensamos que nossa falsidade não é percebida.


  1. Origem dos povos indígenas.
Os primeiros hominídeos tiveram origem na Fossa de Olduvai na atual Tanzânia há cerca de 1.700.000 anos atrás. Foram ocupando a África a norte e a sul, o oriente médio, a Europa, a Ásia. Os grupos evoluíam em função de sua adaptação ao clima, ao local em que se encontravam e não raro alguns grupos mais evoluídos se encontravam com grupos já diferenciados. Um dos grupos africanos evoluiu para o Homo Sapiens que dominou este planeta, e povoaram a terra. Há cerca de 12.000 anos, o Estreito de Bering estava coberto de gelo e foi atravessado por alguns grupos que deram origem às tribos índias. Depois que a glaciação terminou a passagem ficou impedida por um mar enorme, o mar de Bering, intransponível. Desde então essas tribos ocuparam toda a América do Norte, Central e Sul, adaptando-se ao meio e evoluindo com a natureza que partilhavam. Eram um povo extremamente saudável, limpo, bem alimentado. O conforto não os obrigou a maiores necessidades. Não construíram castelos, não usavam armaduras, não fabricaram armas de fogo. A vida na natureza era fácil sem maiores necessidades. Um dia viram velas no horizonte a Norte, ao centro e ao Sul.  Parecia uma cominação da natureza, do acaso, de Manitu.  O povo índio estava sob pressão com a chegada das naus, das caravelas, dos galeões, do homem branco.

  1. O paraíso desconhecido.
Para Cristóvão Colombo (1492), João e Sebastião Caboto (1497), Pedro Álvares Cabral (1500), as terras descobertas eram o próprio paraíso.  Cristóvão Colombo estava a serviço de Espanha, Sebastião Caboto da Inglaterra, e Pedro Álvares de Portugal. As riquezas estavam disponíveis, à mercê. O povo índio não progredira no desenvolvimento de armas, eram indefesos. Os espanhóis logo mandaram imediatamente tropas a cavalo, infantaria e canhões para roubar as riquezas da civilização Inca e Azteca; os ingleses só muito tarde, em 1606, mandaram famílias para colonizar o que chamaram de “novo mundo”, famílias que fugiam da perseguição religiosa; os portugueses mandaram também famílias que fugiam da perseguição religiosa, apelidados de degradados, e padres para evangelizar os índios e colonizá-los com a intenção de os escravizar. No processo de colonização, porém, estas nações ocuparam as terras índias, mataram, assassinaram, roubaram, construíram impérios, desflorestaram. Pode alegar-se que era o “espírito da época”, mas se o nosso espírito já não é esse, devemos corrigir os erros.

  1. A idiossincrasia indígena.
Continentes imensos, cheios de caça, frutos, cereais, rica flora e costas piscosas, com uma população relativamente reduzida foram a fonte de sociedades tranqüilas – embora houvesse guerras entre algumas tribos. Sabiam que perder uma batalha os expulsaria dali, mas que havia mais terra disponível para propiciarem a suas crianças uma vida tal como a de seus avós. Mudava o lugar, mas não o tipo de vida. Evoluir suas tecnologias não era necessário. Viviam no paraíso e só tinham que temer a si mesmos, mas com a certeza de que nada nem ninguém os varreriam da face da terra. As aldeias indígenas não tinham paliçadas. Eram um convite à visita, à sociedade entre os povos, fumavam o cachimbo da paz como evento social. Da mesma forma, na América do Sul as aldeias também não tinham paliçadas, e as tabas eram construídas com madeira, não com lona como na América do Norte, porque conheciam uma agricultura incipiente, a da mandioca, que lhes permitia uma fixação no solo.

Contrariamente aos europeus, tomavam banho amiúde, e sua religião não lhes vedava o sexo. Não havia pecado nem acima nem abaixo da linha do Equador nas Américas. Maias, Astecas, Incas, faziam a guerra para exploração. Tinham uma religião cujo deus era o sol, e praticavam sacrifícios humanos. Suas cidades eram fortificadas. Expandiram-se desde o sul da América do Norte até o sul da América do Sul. Em algumas tribos deste continente pratica-se a eutanásia. São idiossincrasias. Em alguns países do mundo ainda se pratica a pena de morte, que não deixa de ser uma forma de eutanásia, e há pais que abandonam ou matam os filhos recém nascidos. Há filhos que matam os pais, mas não como idiossincrasia, mas como desvios de conduta.

O confronto com civilizações poderosas vindas da Europa colocou as populações indígenas num dilema: Ou se deixavam assimilar ou lutavam pela posse do seu território, pela própria vida.


  1. A exploração
Apoiadas pela igreja católica, as sociedades de imigrantes da Europa na América do Sul tentaram escravizar as populações indígenas que previamente tentavam converter ao cristianismo. Não foram bem sucedidas porque os povos índios “eram preguiçosos”. Por ignorância ou propositalmente, não entenderam que a preguiça se devia a uma tradição cultural que não tinha os mesmos princípios dos povos europeus: O povo índio levava a vida de forma natural, sem pressas, cultivava a sua mandioca, pescava, caçava, colhia frutos em floretas ricas. Não podia entender a pressa, a produtividade exigida pelo capital. Para os europeus, os indivíduos tinham que produzir muito mais do que recebiam de seus patrões para lhes darem lucro. O problema não estava exata e simplesmente apenas na diferença entre o que um índio recebia e o que trabalhava, mas no que recebia: Colares de contas, machados, facas e roupas eram muito pouco, ainda mais quando lhes reviravam do avesso a sua religião, os seus costumes e os enchiam de leis que eram obrigados a cumprir e que não lhes fazia o mínimo sentido. Há culpa da igreja nesse aspecto. Ela cooperava com o poder de estado e com o poder econômico. O povo índio agora tinha que trabalhar para ganhar algo que pudesse trocar por comida quando antes não tinha que obedecer a nada disso e a comida nada lhe custava além do seu trabalho em plantar, caçar, pescar, colher.



Eram dois mundos em choque. Um desarmado e o outro, em muito menor número, armado até os dentes. Essa desigualdade deixa marcas porque tem um ingrediente adicional à perda: a injustiça, e não foi muito diferente a sucessão de fatos que levaram quase à extinção as populações indígenas na América do Norte e na do Sul. Já na América Central, os espanhóis encontraram uma civilização brilhante, rica, evoluída, porém sem armas, e ainda, por triste coincidência, crentes que os europeus eram comandados por um deus menor de seu panteão. E os acolheram de braços abertos abrindo-lhes as portas para a entrada de seus cavalos, sua infantaria e canhões. Para lhes limitar os movimentos e os confinar de forma mais ou menos aceitável, os europeus delimitaram-lhes reservas mais ou menos auto-suficientes.

  1. A evolução do processo de colonização
Na América do Norte não houve templos a demolir. A cavalaria aniquilou aldeias inteiras, o governo rasgou contratos, as áreas de reserva ou eram insuficientes para as tribos, ou se localizavam distantes do local onde costumavam viver, muitas vezes sendo deslocadas para locais mais frios ou áridos. Em situações como estas o que se esperava era a revolta dos povos indígenas, dando assim “razão” aos governos. A cultura indígena vê-se ainda nas roupas e nos adornos, mesmo de assimilados, nos hábitos e nas expressões de arte.

Na América central A igreja católica construiu templos sobre as pirâmides incas, astecas, maias, mas não conseguiram uma “limpeza étnica” como aconteceu nos EUA: A maioria da população mexicana é mestiça.

Na América do Sul a violência não teve a relevância que se verificou nas duas outras Américas, mas nem por isso as populações indígenas se beneficiam das leis que os deveriam proteger, muitas delas devidas aos irmãos Vilas Boas: A fiscalização das reservas é incipiente, as leis muitas vezes desconsideradas, suas terras continuam a ser invadidas e alagadas por barragens, ora pelo próprio governo, ora por colonos. A usina de Belomonte é típica de alagamento e invasão de terras índigenas

  1. O futuro.

A população mundial cresce de forma assustadora. Por volta do ano 2.500 a população total de nosso planeta, colocada lado a lado, ombro a ombro, cobrirá toda a superfície. Para que todos caibamos neste planeta, Será necessário que, dentre outras medidas, se desenvolvam espécies de recursos alimentares com maior concentração de nutrientes; que mais áreas do planeta sejam ocupadas para a pecuária, criação de gado, animais de corte e plantações; que a piscicultura se desenvolva muito mais; que as populações se concentrem cada vez mais em cidades e em edifícios cada vez mais altos e auto-sustentáveis; que os oceanos sejam ocupados com habitações.

Esta pressão certamente incidirá sobre as populações indígenas. Cabe aos homens e mulheres de boa vontade minimizar este impacto. 

Se desejar participar para mudar o estado letárgico em que nos encontramos com relação a este importante assunto, fale, escreva, divulgue, faça parte de grupos e organizações que lutam pelos direitos dos índios. Mobilize-se sem pensar em quanto ou no que vai ganhar com isso!


Rui Rodrigues




[1] Este artigo baseia-se em dados  e estatísticas que podem ser obtidas na NET, e em fatos que são de domínio público.

domingo, 14 de abril de 2013

Coletânea 1 - Notícia fúnebre, Eiffel e os raios, Kabuki



Coletânea 1 - Notícia fúnebre, Eiffel e os raios, Kabuki 


  1. NOTÍCIA FÚNEBRE...

    Margareth Thatcher - a dama de ferro - oxidou e será diluída na próxima quarta feira de cinzas, quando será queimada até os ossos... (A quarta feira é de cinzas só porque será queimada, embora lá fora haja carnaval por parte dos assalariados ingleses que ela quis ferrar quando acabou com o salário mínimo e criou um imposto que sobrecarregava os pobres e aliviava os ricos). A polícia londrina já está de prontidão com foguetes iguais aos que Dilma comprou para a Copa do Mundo. Se necessário, atirarão sobre os protestantes - protestantes, vírgula, só os que protestam, mesmo que sejam cristãos. 

    O governo inglês gastará cerca de 30 milhões de libras para estorricar a defunta e desfilar com ela pelas ruas de Londres. Evidentemente, Cristina "la bella" Kirshner não foi convidada só porque ela é Argentina...

    A Rainha de Inglaterra, Margareth II, Xará da Thatcher, participará da queimação e do desfile, aproveitando para desfilar também um lindo terninho de primavera negro sem dúvida. 

    Não deixe de ver como o governo britânico gasta dinheiro em tempos de economia difícil, bem ao estilo da Thatcher, da rainha avó, da rainha mãe, da rainha filha e nos próximos tempos do rei neto. 




  1. Eiffel e os raios. 

    Quando cheguei a Paris já tinha rodado meio mundo, mas foi mais um momento bom de minha vida. Ir a Paris meio duro, na base do sanduíche, é perder meia viagem. Por sorte, quando fui lá pela primeira vez, dinheiro não faltava, e pude apreciar os sabores de uma cozinha muito parecida com a portuguesa, porém mais refinada pela fama dos chefs e pelo refinamento da cultura. Mas cultura é sempre, em qualquer lugar, uma prerrogativa restrita a uma menor parcela da população. Não é diferente em Paris, e essas qualidades não se encontraram em qualquer esquina. 

    Desembarquei no Charles De Gaulle, e quando me preparava para subir no ônibus, vi duas lindas francesinhas conversando animadamente. Os olhos de uma delas bateu nos meus, como numa batida de automóvel, com grande impacto e danos irreversíveis. Pela janela do ônibus seus olhos me procuraram enquanto se despedia da amiga. Nunca a tinha visto, nunca mais a vi, mas me recordo dela, num compartilhamento de vida de escassos minutos, talvez uns cinco, durante os quais não a vi por mais de um... Coisas que nenhum livro de filosofia ou daqueles alfarrábios que tentam nos explicar tudo sobre a vida consegue realmente explicar. 
    Tenho absoluta certeza que ela queria tanto quanto eu queria, e não pude deixar de lembrar cenas do filme "O ultimo tango em Paris". Mas eu era casado e estava acompanhado por minha então esposa. Detesto quando a vida nos mostra algo que desejamos e não podemos - ou não devemos - tomar. 

    Se for visitar Paris, prove de todos os pratos que puder, beba de todos os vinhos que puder, ande sempre a pé, de metrô, não saia do Centro de Paris e se sabe falar francês, converse com tantas pessoas quantas puder. Sempre com nariz tão empertigado quanto o dos franceses. Não são nem mais nem menos, e se lhe torrarem o saco, passe a falar inglês e veja a diferença no trato. 

    Se for visitar a torre Eiffel em dia de tempestade, nem precisa ter medo dos raios. O Eiffel construiu uma "gaiola de Faraday", a própria torre, que não permite que a eletricidade dos raios penetre no seu interior. 

    Boa estadia. 


  2. KABUKI



    A primeira vez que ouvi falar o nome "Japão" foi numa aula de geografia quando eu tinha uns nove anos de idade. Mostraram-me um mapa que não me dizia muita coisa, e umas fotografias a preto e branco num livro que passou de mão em mão pela turma de uns trinta. Foi paixão à primeira vista. Jamais tinha imaginado que houvessem seres humanos num lugar tão afastado, que se vestissem de forma tão diferente, com costumes tão diferentes. Tudo muito limpo, colorido, inconfundível, social.

    Quando viajei para o Brasil a bordo de um navio que demorou nove dias a atravessar o Atlântico, com toda a tecnologia moderna, é que me dei conta do tamanho do quilômetro e da milha, e tive noção da distância do Brasil e de Portugal para o Japão. Criança não tem muita noção de distâncias e "longe" vai quer tanto da esquina de casa quanto ao final do universo. 

    foi assim que, com todo o prazer, li "Xogum", uma pequeno calhamaço que conta a saga de samurais, de belas mulheres nipônicas, do contraste de culturas. Devorei página por página, entrei em todos os cômodos das casas forradas de papel, participei de cada batalha, deitei com todas as gueixas. 

    E quando pela primeira vez provei Sushi e Sashimi, lamentei não ter nascido no Japão. 

    A foto é de uma peça de teatro Kabuki. 

    (Onde andará aquele casal simpático, meus vizinhos japoneses que moravam no andar de cima, lá em Carcavelos?)

    Rui Rodrigues

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Sobre Margareth Thatcher – Conclusão póstuma.



Sobre Margareth Thatcher – Conclusão póstuma.
Thatcher no auge da carreira 
Margareth Thatcher (Lê-se Margaret Dátcher) nasceu logo após o término da primeira grande guerra e vivenciou a segunda. Em 1925. Isso faz dela uma política experiente em assuntos que a maioria de nós não vivenciou, e essa é uma diferença importante. Enquanto Thatcher via o mundo como algo perigoso, realmente perigoso, a maioria de nós o vê como algo que não vai explodir amanhã. Era advogada e engenheira química.
Tenho visto postagens nas redes sociais sobre a vida e o perfil da ministra, a primeira do Reino Unido. Quase todas essas postagens e artigos são, como é natural, fruto de maior ou menor acuidade de estudos sobre o assunto, mas sempre com conotações particulares segundo o que nela mais chamava a atenção. No entanto, Margareth foi uma figura pública, até certo ponto polêmica, e deve ser analisada sob o ponto de vista dos grupos, sociedades ou nações em que mais diretamente influiu.
O que polvilharia a cabeça de Margareth Thatcher? Certamente o declínio do já passado Império britânico, a guerra-fria, o papel político inglês na Europa unida em torno de tratados eminentemente comerciais visando uma unidade política a futuro, a política das divergências idiossincráticas do Reino unido, a liderança no partido político Conservador a que pertencia, a manutenção de seu posto na Down Street 10, problemas pessoais. De todos os aspectos de sua atuação no governo podemos ressaltar os seguintes que lhe traçam o perfil:

  • Em 1960 foi aprovado um projeto de lei seu, exigindo que as autoridades locais realizem as suas reuniões de conselho em público.
  • Em 1961, foi contra a posição oficial do Partido Conservador de votar na restauração da prática de castigar com o uso de uma vara.
  • Thatcher considerava os judeus residentes em Finchley - onde se elegeu como parlamentar - como "seu povo" e tornou-se membro fundador da Liga de Amizade Anglo-israelita de Finchley, bem como membro dos amigos conservadores de Israel. no entanto, acreditava que Israel tinha que trocar terra por paz e mais tarde condenou o bombardeio de Osirak feito por Israel em 1981 como "uma grave violação do direito internacional".
  • Defendeu a política do seu partido de permitir que os inquilinos comprassem sua moradia social.
  • Em 1966 opôs-se à política dos trabalhistas de preços obrigatórios e controles de renda, argumentando que isso produziria efeitos contrários aos previstos e distorceria a economia.
  • Na Conferência do Partido Conservador de 1966 criticou as políticas de alta tributação do Governo Trabalhista como sendo medidas "não rumo ao socialismo, mas ao comunismo" e argumentou que impostos mais baixos serviam como incentivo ao trabalho duro.
  • Thatcher ficou dentre os poucos deputados conservadores que apoiaram o projeto de lei para não se considerar a homossexualidade masculina como crime.
  • Votou a favor do projeto de lei de para legalizar o aborto
  • Votou a favor da proibição da caça à lebre.
  • Apoiou a manutenção da pena de morte
  • Votou contra a flexibilização das leis do divórcio.
  • Impôs cortes de gastos públicos sobre o sistema estatal de ensino, resultando na eliminação do leite grátis para estudantes de 7 a 11 anos. Concordou em proporcionar às crianças mais novas um terço de um copo diariamente, para fins nutricionais. (Passaram a chamá-la como “seqüestradora de leite”)
  • Em 1976 fez um duro discurso contra a URSS: “Os russos estão empenhados em dominar o mundo e estão rapidamente adquirindo os meios para se tornar a mais poderosa nação imperial que o mundo já viu. Os homens do Politburo soviético não têm que se preocupar com o fluxo e refluxo da opinião pública. Colocam as armas antes da manteiga, enquanto nós colocamos quase tudo antes das armas”. Dos russos, por causa deste pronunciamento, ganhou o apelido de Dama de Ferro.
  • Thatcher praticou grande frugalidade em sua residência oficial, inclusive insistindo em pagar por sua própria tábua de engomar.
  • Reduziu a inflação que chegara a alcançar 20% a.a.em seu governo às custas do desemprego que triplicou. As importações aumentaram, e a industria que era protegida pelo governo teve que se tornar mais competitiva. Empresas e bancos quebraram. Iniciou o processo de privatização. Reduziu os gastos sociais. Praticamente aboliu o salário mínimo. Perseguiu os sindicatos reduzindo-lhes a força. A Inglaterra entrou em recessão econômica.
  • Em 1979 atacou a URSS culpado-a de atentar contra os direitos humanos quando esta ocupava militarmente o Afeganistão. Os russos a chamaram de “dama de ferro”. A relação entre a Rússia e a Inglaterra ficou instável desde então.
  • Em 1982 o governo militar argentino ocupou as ilhas Falckland ou Malvinas. Thatcher que estava com problemas quanto à sua reeleição por causa do desemprego e da recessão, moveu suas forças para o Atlântico sul e derrotou os argentinos recuperando as ilhas. Reelegeu-se. Não fosse este tremendo erro argentino e Thatcher provavelmente não se reelegeria.
  • Ainda em 1982 desejou por em prática um projeto que acabava com o serviço nacional de saúde e a educação gratuita, mas foi dissuadida e teve que engavetá-lo.
  • Em 1984 reprimiu violentamente a greve dos mineiros além de outros graves conflitos sociais, e em outubro sofreu um atentado à bomba por um grupo de republicanos irlandeses. Limitou as greves.
  • Rejeitou a união política e social com a União Européia.
  • Criou um imposto, o “poll tax”, segundo o qual os pobres pagavam proporcionalmente mais do que os ricos. Perdeu o apoio popular e de seu próprio partido. Teve que pedir demissão do cargo em Downing Street 10.
  • O Poll Tax foi abolido logo após a sua saída.
  • Em 2000 começou a apresentar sinais de demência segundo sua filha Carol, e em 2003 foi aconselhada a não mais falar em público. Após vários acidentes cerebrais, faleceu em 2013.
 O que significa “Margareth Thatcher” por alguns cantos do mundo:
  1. No Reino Unido
 Pressão sobre Belfast
    • Irlanda do Norte: A divergência de opiniões no Reino Unido é gritante, democrática, mas nem sempre, porque dele faz parte a Irlanda do Norte e sua secular, quase milenar, repulsa a ser governada pela Inglaterra. Belfast, capital da Irlanda do Norte já foi palco de violentos combates quer pela independência, quer pela disputa entre católicos e protestantes. Como sempre, as opiniões se dividem e uns a vêem como a apoiadora e outros como a repressora.
    • Inglaterra – Empresas, Bancos, a vêem como a grande líder que lhes daria maiores lucros e lhes permitiria penetrar mais facilmente no mercado internacional, embora pudessem ter reticências quanto à recusa de Margareth em participar na União Européia. Já para os trabalhadores, para o povo em geral, ela foi o diabo, o demônio de seus problemas financeiros, da degradação do acesso aos serviços públicos. Para os primeiros, uma neoliberal e protetora, para os segundos uma déspota. Não só pela imposição da força policial no controle das dissidências de rua, como também pela Poll tax. Na verdade, Margareth julgava-se a própria rainha, forte, austera, querendo impor a sua vontade e determinação. Reunia-se uma vez por semana com a rainha Elisabeth no palácio de Buckingham. Perdeu esta batalha.
 Mineiros ingleses contra Thatcher
Para os banqueiros e empresários ingleses, perderam uma grande aliada. Se as idéias de Margareth Thatcher tivessem vingado, os cidadãos ingleses passariam a vida lutando por salários para pagarem cada vez mais impostos, trabalhando duro para reduzir os custos dos produtos. Os banqueiros e empresários ficariam cada vez mais ricos, os trabalhadores cada vez mais sem serviços públicos, meros assalariados sob domínio do capital. 

  1. Na União Européia
Logo após a saída de Thatcher o Reino Unido uniu-se à União Européia, mas não ao Euro, a moeda comum da UE. Se o fizesse, o Euro seria extremamente valorizado. Estamos em 2103 e o Reino Unido continua sem aderir no que pesem os esforços da Alemanha e da França para que o faça. A Noruega também não aderiu. Há algo que os ingleses e noruegueses percebem que os demais países europeus fingem não entender ou passam por cima: É extremamente difícil gerir uma comunidade com tantas e tão fortes idiossincrasias no que respeita à relação governo x população. Uns acham que o governo deve ser como um gestor forte da causa pública apoiando a população no máximo que puder. Outros acham que o governo manda e o povo contribui para que o governo exista sem muitas obrigações, o povo como fonte de renda para pagar seus cargos e seus devaneios.
Para os cidadãos da União Européia, Thatcher estava certa, porque atravessam uma crise na qual a Inglaterra está relativamente confortável. Para os governos ela nem deveria ter existido porque assim a Grã-Bretanha faria hoje parte do Euro, aportando capitais importantes para vencer a crise econômica. A herança da posição Thatcher ainda hoje persiste no Reino Unido no que respeita à UE.

  1. Na Argentina
O Reino Unido reconquista as Falckland 
Evidentemente que para os perseguidos políticos do regime ditatorial argentino a vitória de Thatcher nas Malvinas serviu para o inicio da derrocada da ditadura, no que pese o sentimento geral de que as Malvinas deveriam ser argentinas. Thatcher tinha cursos de nível superior e mal ou bem manteve a Inglaterra em sua posição de forte e organizada nação do cenário mundial. Hoje, na Argentina governa Cristina Kirshner que reaviva a questão das Malvinas, mas sem o brilho, o carisma, o conhecimento, a capacidade de Margareth Thatcher. Esta sabia o que faz. Cristina parece ser a dama deslumbrada narcisa de sua beleza frente ás câmaras. Para Cristina, beleza é fundamental.

  1. No resto do mundo

 " A puta morrreu"
Margareth Thatcher sofria de uma doença muito comum entre quem desponta no cenário mundial como líder, sofre pressões de todos os tipos, adota a vida como um compromisso com a vitória e depois do auge vem a senilidade e com ela o declínio. Nesse momento, como vela que se apaga, o esforço para se manter à tona é demasiado, e sucumbem à fama e ao prestígio. É duro lidar com este tipo de perda. Afastam-se do público. Vivem no anonimato e no esquecimento até o dia de sua morte quando despontam nos noticiários da fama e voltam a “viver” por breves dias.
Margareth Thatcher ainda será bem e mal lembrada, embora com muito menos freqüência, ou quando comentarem : “ Já dizia a Thatcher”.

Depende de quem se lembre.
Rui Rodrigues

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Com minha filha na Saara



Com minha filha na Saara


Uma pinhata, um incêndio na Saara e Django.


Eu e minha filha acordamos cedo, como combinado, para irmos ao centro do Rio de Janeiro, lugar que realmente aprecio sem moderação, desde os tempos em que fazia compras de aviamentos para a loja de meu pai, ou entregava encomendas da loja.

Era uma loja pequena que faturava bem, ali perto da Saara, na antiga rua do Costa, depois chamada de Alexandre Mackenzie, perto da Light e do Itamarati. Meu pai e meu tio, únicos sócios da loja, tinham bons fregueses. Com um povo tão simpático como o carioca, nunca me preocupei em guardar os nomes de todas as ruas. Decorei os das principais e do resto eu tinha uma vaga idéia. Então, sempre perguntava. Por isso quando cheguei com minha filha naquele enorme Grande Bazar sem cobertura ao ar livre, por volta das dez da manhã eu estava mais perdido que bala em tiroteio. Tentei relembrar os nomes das ruas e de algumas lojas, que logo me ocorreram. Mas só das ruas principais. Foi por isso que não soube dizer à minha filha de que rua vinha tanta fumaça. Havia carros de bombeiros em todas as ruas coletando água dos hidrantes que ainda funcionavam. A prefeitura do Rio de Janeiro é uma prefeitura só para “emergências”. Não há fiscalização para prevenir sinistros. Naquele sábado, seis casas comerciais famosas, cada uma ao lado das outras, queimaram por completo. O fogo ter-se-ia iniciado ás dez da noite do dia anterior, sexta-feira. O cheiro de polímeros, plásticos, panos, tudo queimando e fumegando inundava os ares e a queima não parava. Correu um boato de que teria sido fogo posto, criminoso. É possível, mas mais possível ainda teria sido a falta de manutenção e fiscalização. Os prédios são muito antigos, as instalações elétricas correm por conduites expostos e em contato com materiais inflamáveis nem sempre seguindo os padrões da ABNT, normas que regularizam as construções e a engenharia em todo o Brasil. O interior das lojas, onde se guardam os estoques, são arrumadas à “trouxa mocha”, sem critério algum. Era esse o medo que meu pai tinha sobre incêndios. Mesmo com o seguro, este não pagaria todo o prejuízo, ainda mais com a inflação corrente na época, nos idos de 60.

Quando saíramos de casa, o carro não pegara. Foi preciso dar uma “chupeta” numa loja mecânica da esquina perto de casa. A bateria estava arriada. Foi carregando pelo caminho. Deixamos o carro no estacionamento particular e fomos às compras. Coisas pequenas para o aniversário da minha netinha. Uma bonequinha com vida que sabe falar muito bem o quer fazer, tudo sozinha, como a mãe quando tinha a mesma idade, e sabe o que quer. Inventa historinhas, sim, mas não mente. Já aprendeu a mudar de assunto quando não lhe interessa. Fomos comprar material para fazermos uma “pinhata” com forma de Pirata. Basicamente uma caixa de papelão pintada e ornamentada, oca, onde se enfiam balas e doces, e que depois é destruída à paulada pela aniversariante, deixando cair do alto uma cascata desses doces e balas. É uma forma meio cruel, mas bater em pirata é sempre um prazer. Tivemos que entrar em várias lojas quando poderíamos ter comprado tudo numa só. Essa à qual iríamos foi uma das que pegaram fogo no dia anterior. Andamos de um lado para o outro, o que para mim foi até muito legal, por reavivar a memória dos tempos em que meu pai ainda era vivo.

Interrompemos as compras para fazermos o que não fazíamos há anos: Comer uma gororoba engordenta do Mcdonalds. Dois lances de escadas cheios com uma fila de mulheres ávidas pelo uso do banheiro. A maioria evidentemente não era cliente. Um serviço público prestado pela loja em substituição dos serviços que deveriam ser proporcionados, grátis, pela prefeitura cada vez mais imperfeita. Homens, só dois e um deles era eu. Não consegui entender porque tantas mulheres querendo usar o banheiro e apenas dois homens. A desproporção deveria ser de umas vinte mulheres para cada homem. Saí do estabelecimento com vontade de só voltar a comer um quarteirão daqueles daqui a uns dez anos. O melhor foi a batata frita.

Depois voltamos a respirar aquele ar de rescaldo de incêndio de casa velha e aproveitamos para tirar algumas fotos experimentando fantasias das lojas. Quando chegamos ao estacionamento, o carro teve que ser empurrado para pegar. Voltamos à loja do mecânico lá da esquina, e compramos uma bateria nova. Aquela já tinha dado tudo o que podia dar de energia. Sobrou o casco e um óxido verde que teve de ser limpo num dos bornes da bateria. Como a netinha estava com o pai, aproveitamos para ir ver o filme “Django” do Quentin Tarantino, na sessão da noite.

Saí do cinema às gargalhadas, tudo resolvido com muito catchup simulando sangue, bandidos conscientes até a morte, nada a comentar a não ser a genialidade do diretor ao inventar a história e dar-lhe vida de forma tão direta, tão forte, tão tudo de bom. Sempre fica a lembrança de uma carroça de um dentista com um dente enorme balançando no teto ao sabor das irregularidades das estradas americanas do velho Oeste. Excelente banda e efeitos sonoros.

Valeu o dia! A netinha vai se divertir com a pinhata do pirata. Quando ela crescer não lhe levarei sanduíches do Mcdonalds, nem do Burguer King, nem do Bob’s.

Rui Rodrigues

terça-feira, 9 de abril de 2013

Como chegar ao sucesso em três páginas.



Como chegar ao sucesso em três páginas.
(desde os... Princípios!).


Há quem se esforce para chegar ao sucesso, um caminho sempre difícil e cheio de perigos. Há que arriscar muito, muitas vezes tudo o que se tem. Dos que tentam, os medos deixam muitos destes pelo caminho. O desconhecimento, outros tantos, a falta de confiança em si mesmo, outros tantos mais... E são muitos os fatores que nos impedem de chegar ao sucesso. Até a falta de “sorte”, ou a presença do “azar” têm contribuição importante, e há quem reze. Destes, muito poucos o atingem, e se fizermos um estudo sobre as probabilidades, veremos que rezar, ter sorte, e qualquer fator que dependa do imponderável, não influi no sucesso a ponto de serem uma referência para quem o desejar.

Lembre-se sempre que o sucesso é algo muito difícil, como que uma série de gavetas, cada uma delas diferente, que devem ser abertas. A última que conseguir abrir, mantendo sempre as demais abertas, dar-lhe-á a chave da gaveta final: Abra-a e verá o sucesso, com enorme onda de satisfação.

Vejamos dois exemplos de sucesso, sob o mesmo título, e suas características.


O Universo e a Terra

Quer lugar mais improvável de existir, onde tudo parece não estar quieto, sempre mudando, em conturbações tão violentas que números astronômicos de artefatos atômicos explodindo ao mesmo tempo, no mesmo lugar, não conseguiria nos dar uma mais mínima idéia da sua potência e alcance? Pois é um caso de sucesso contra toda a probabilidade de “não existir” desde o começo, sem ser necessário que imploda, como nos demonstra a Astrofísica. O Universo existe, é um sucesso e contém, dentre muitos possíveis, um planeta muito especial onde tudo deveria dar errado e está dando certo: A terra e a vida que contém. Evidentemente, como “cada cabeça, cada sentença”, cada um de nós pode pensar que, se fosse Deus, faria um Universo diferente e um planeta Terra diferente. Podemos ter certeza de antemão que não daria certo: Todas as leis estão interligadas de forma a que “deu certo”, e algumas nem conhecemos ainda. Ao alterar algo, mesmo que achemos sem importância, nessas leis, determinaríamos o fim de tudo, ou até a sua inexistência desde o princípio. Um dos fatos mais relevantes é a necessidade de se ter que matar uma ave, uma planta, um peixe, um mamífero, para nos alimentarmos. É um mundo tão violento e tão sutil, que para uns viverem bem, cometem crimes torpes como a corrupção e a sonegação, matando assim, de forma indireta, os que são explorados, os que se vêm privados do mínimo necessário para viver porque as verbas são insuficientes.

O “dar certo”, ter sucesso, não implica em que tudo tenha que funcionar perfeitamente segundo o que imaginamos que “deveria ser”. Está provado. E na natureza nada se cria, nada se perde, mas tudo se transforma. Pensar é uma prova de que existimos. E temos um exemplo ainda mais perfeito – se for possível que algo seja mais perfeito do que o Universo e nosso planeta Terra, como veremos a seguir:


O homem e a mulher – Melhores exemplos de sucesso que conhecemos.

Somos, dentro de nossa imperfeição, os seres mais perfeitos que se conhecem atualmente neste nosso Universo, neste sistema solar, neste planeta. Somos uma fábrica perfeita de criar energia. Matamos para comer – ou alguém assume essa responsabilidade e a esses lhes pagamos o que nos disponibilizam – no s alimentamos criando energia para nos movermos e até voarmos, submergirmos, e temos pequenos setores fabris que expulsam do corpo todas as substâncias nocivas que ingerimos e que nos prejudicam. Essas substâncias fedem geralmente, mas já conseguimos descobrir a química dos perfumes com que besuntamos o corpo para não criarmos má impressão nos próximos e nas próximas. Muito antes da descoberta da informática, já possuíamos um sistema virtual que nos permite conhecer o entorno próximo em que vivemos: Os olhos, os ouvidos, a boca, o nariz, a pele e o cérebro fazem esse trabalho “limpo”. Com todo o progresso ainda não conseguimos criar na Net a função do olfato e do tato. Mas temos todo o tempo do mundo para resolver este e outros pequenos problemas de nossa existência. Temos tempo como humanidade. Como indivíduos, individualmente, nosso tempo já está acabando. Não veremos muitas coisas maravilhosas que o futuro nos reserva.

Seríamos um sistema perfeito do tipo “moto perpétuo” – que se basta a si mesmo eternamente - não fosse uma lei que nos impede de viver eternamente: Tudo o que nasce morre, sem exceção alguma. A maioria de nós morre por “falência múltipla dos órgãos”. Nem há lógica numa transposição física de um corpo humano ascendendo aos céus, numa viagem sem proteção adequada. Ainda mais, a distâncias tão grandes tanto quanto distam os mais próximos planetas que conhecemos com possibilidade de vida tal como a conhecemos, e para se ir ao “céu” a que os livros se referem, o que se faria com um corpo como o nosso por lá? Ponhamos então os pés na Terra, e pensemos como chegar ao sucesso, mas que esse “sucesso” seja tão simples como sobreviver. Sobreviver na vida como ser continuamente vivo, como dono de uma empresa, como amante num relacionamento amoroso, como parte de uma família, como estudante de um instituto de ensino. Vamos ao sucesso antes que nossa vida se acabe. Urge, porque o tempo é curto.


A definição de sucesso

Sucesso depende da ambição. Não apenas dela, mas é o ponto de partida. Muita ambição, desejo de sucesso muito grande. Pouca ambição, pequeno sucesso. Nenhuma ambição, e o sucesso passa a ser sinônimo de imperialismo, capitalismo, e vira-se comunista o que não é verdade, como generalização, mas é o que se constata na maioria dos movimentos sociais e partidos políticos quando se trata de sucesso financeiro. No entanto, como sucesso é um termo generalizado, e este texto se destina a esse mesmo processo geral, há uma receita que pode garantir pelo menos um fôlego e um risco de iniciar a trilha do sucesso, que realmente valha a pena o enorme risco. Vejamos o que é necessário:

  • Ambição – Como já vimos, é o primeiro passo para o sucesso. Podemos ter muita, pouca ou nenhuma ambição (no sentido de desejo de atingir o sucesso em determinado alvo). Cuidado com os demais fatores. Só ambição é uma temeridade que sempre acaba em fracasso, e sem ambição não chegamos a luar nenhum que valha a pena. Não se esqueça nunca: Ter sucesso em tudo é ambição demais que a vida neste planeta não suporta e odeia. Não conseguirá. Nosso cérebro ainda não está desenvolvido suficientemente para isso, e só por acaso acontece, mais como fruto aleatório de probabilidades, desde que se caminhe adequadamente no processo dos demais fatores de que depende.

  • Determinação = Ingrediente que não pode faltar. Não se pode trilhar o caminho do sucesso e a determinada altura, até por falhas em nós mesmos, desistirmos porque desanimamos. Temos que ter esse foco, essa determinação e seguir até as últimas conseqüências, apesar de todas as adversidades.Sem nunca desanimar. Depois de um dia ruim, ou dois, ou três, os bons dias surgirão.Não há mal que não se ature nem bem que sempre dure. Mantenha sempre o seu foco. Jamais se desvie dele.

  • Conhecimento – De acordo com o seu alvo de sucesso, você deve ter o embasamento necessário, não apenas do tema em que ele se insere, mas também de outros fatores, como conhecimento do comportamento humano, dificuldades gerais, índice de competição. Não adiantaria, por exemplo, tentar o sucesso numa empresa de venda de lingerie, ou de sapatos masculinos, se não entende nada do ramo, e entender, não é apenas passar pelas vitrines e saber o que é bonito e está na moda. È preciso conhecer o mercado, contabilidade, ter senso comercial, ter liderança com seus empregados, conhecer um pouco de planejamento. E não só. No caso de relacionamento de casais, é necessário que se conheça um pouco da mente humana, se tenha experiência, senso de humanidade e de solidariedade, sem o que certamente poderá ter sucesso, mas de curta duração. Precisa estudar. Estudar, estudar, conhecer. Sem o conhecimento todas as ações serão baseadas no “achismo”.

  • Perfil – Honestidade, principalmente com você mesmo (a) é fundamental. Enganar-se é muito fácil, mas não durante todo o tempo. Desengane-se antes que seja muito tarde e seu projeto de sucesso dê em nada, mas não o faça baseado (a) apenas no sentimento e sim no conhecimento. Enganar os outros até pode, mas não creia que os enganará de forma permanente. Um dia, um de seus conhecimentos se desenganará e tudo poderá ruir como acontece com peças de dominó: Falta de confiança de um em você, que espalha para outro e este para outro, até que seja considerado (a) como lixo. Não confunda isto com “competição”, embora os dois aspectos possam estar intimamente ligados. Separe todos os aspectos e analise separadamente. Depois use sua “visão global” para gerar uma conclusão.

  • Apresentação pessoal, vaidade e ponderação - Vamos aos extremos: Preparar-se para o sucesso vestido (a) como mendigo (a), não gerará a empatia suficiente, nem deixarão que se aproxime da fonte de sua meta. Pelo contrário gerará um processo de rejeição. Apresentar-se com roupas não condizentes com o cargo que almeja, ou para agradar à mulher que deseja, são uma catástrofe porque geram temor de competitividade. Todo o processo de diálogo se desenvolve em função de um primeiro “julgamento psicológico” mútuo, das partes envolvidas. Seja ponderado (a) e controle o seu íntimo. Antigamente se dizia que ao nos controlarmos, falsificávamos o nosso perfil. Na verdade, o adaptamos às circunstâncias, assim como quem usa perfume para não cheirar mal. Quer ser o rei ou a rainha da cocada? Faça-o de forma reservada em sua casa, em frente a um espelho e dê vazão à sua fantasia. Lá fora, o mundo é real e não se coaduna com o virtual a não ser quando se fantasia para passar o tempo. Limpeza e asseio, sempre, são tão fundamentais como ser verdadeiro (a).

  • Senso político e liderança – Para se ter sucesso, há que ter liderança. Para se ter liderança, há que se ter enorme senso político. Umas amizades não fazem nada mal, embora não seja essencial. Esta humanidade ainda reconhece o mérito próprio e costuma mandar convites. Escolha os que estiverem na sua linha para o sucesso, e dentre estes, o melhor ou mais conveniente. Olhe sempre para o futuro, absolutamente sempre, todos os dias. Tudo muda de um dia para o outro, e há que se adaptar, pensar rapidamente, decidir sem arrependimentos.

  • Outras necessidades – Acima estão as principais, mas mesmo sendo efetivo (a) em todas elas, tudo pode ir por água abaixo se lhe faltar, por exemplo, disponibilidadecapacidade de ouvir e entender os outros, mesmo que pareçam ser de somenos importância, e senso de oportunidade, como exemplos. Há muitas outras, tantas, que somente um tratado universal do sucesso poderia abordar. Por enquanto, e para começar o cominho do sucesso, já se disse o absolutamente imprescindível. O que é absolutamente necessário? Tudo! E mesmo assim, o fator sorte, imponderável e outras virtualidades podem determinar o fracasso. Sucesso é um enorme risco. 
E quando atingir o sucesso verá que mais difícil ainda será mantê-lo pelo tempo que deseja. Por aqui, neste planeta, tudo acaba no decorrer do tempo. Prepare sempre o seu futuro.

Rui Rodrigues

PS - Não sirvo para exemplo. Tenho testemunhas fidedignas, desde meus 26 anos, que podem atestar que o sucesso profissional e financeiro sempre esteve ao meu alcance por diversas vezes, e preferi o sucesso de ter o mínimo suficiente para viver como desejo sem estar preso à vontade e ambição, quase sempre inconseqüente, de quem tinha ou tem mais ambição do que eu. Meus chefes sempre puderam exercer sua função de forma tranqüila comigo. Sabiam o que sempre rejeitei e nunca lhes fiz sombra. Quando me convidavam para subir, eu aceitava até o limite de, no novo posto, prejudicar a convivência com minha família. Se entenderam ou não, não é meu problema, porque sempre agi de forma a que entendessem.    



segunda-feira, 8 de abril de 2013

Uma visão, uma surpresa e uma vingança.



Uma visão, uma surpresa e uma vingança.



O esqueleto do cachorro era metálico, suas patas almofadadas como as dos gatos. Não tinha carne, órgãos, pele. Deveria ter saído de uma sala, saído pela porta entreaberta, descera as escadas e chegara à rua. Saiu disparado na noite iluminada da cidade em direção à praça pública. Passou pelo casal que se amava louca e explicitamente num dos bancos da praça vazia, e tomou o caminho de umas moitas. Um grilo cantante interrompeu seu trinado, deixou que o cachorro passasse, e retomou seu diálogo noturno com a arte e a vaidade de um Pavaroti logo que o cachorro passou a uns escassos centímetros de distância.  Atrás das moitas, o cachorro desapareceu como se nunca tivesse existido. O casal terminara seu ato sexual imperativo, ávido. A moça levantou-se do colo do rapaz, deram uma arrumada nas vestes, e saíram da praça de mãos dadas, ela com o rosto descansando encostado no ombro do rapaz. Um táxi apressado passou levantando respingos do asfalto. Começara a chover. Das moitas emergiu um pequeno clarão azulado e ouviu-se um zunido como de descarga elétrica. Depois o silêncio de alguns sinais de trânsito comandando um trânsito inexistente, alternando o verde, o amarelo e o vermelho, consumindo energia elétrica como se a cidade ainda existisse. Pelo menos foi o que o mendigo pensou ter visto enquanto se dirigia para o centro da cidade. Tinha saído de sua casa no subúrbio onde guardava as sobras dos trocados que conseguia durante o dia, cheirara um pouco de cola de sapateiro para aliviar a barra. Passaria a noite no centro. Lá havia comida.


Mais para o centro da cidade, onde os prédios eram mais antigos, quase caindo, e as lojas eram mais pobres e remediadas, de trânsito congestionado durante o dia, àquela hora da noite estava vazio, as ruas ainda cobertas de lixo dos transeuntes. Mendigos dormiam pelas ruas embrulhados em papel de jornal, cobertores velhos, depois de comerem os restos da comida dos restaurantes e bares que encontraram nas lixeiras. Já não havia transeuntes, as portas das lojas estavam fechadas. A cidade estava morta. Aqueles “pontos” eram disputados de forma até violenta entre os mendigos. Suas mortes não costumam sair nos jornais nem o móbil do crime. A não ser quando se tratava de violência de não mendigos contra eles. Um deles jazia aparentemente adormecido, um olho para fora do cobertor, atento ao movimento. Sabia que havia quem estivesse interessado em eliminá-los. Já assistira de longe a um assassino desse tipo e o conhecia de vista. Quando um mês atrás dois indivíduos trocaram tiros e um deles caiu morto, acercou-se, recolheu a sua arma e as balas que encontrou nos bolsos, e guardou-a.
Cerca de uma hora depois, apareceu um motoqueiro com capacete e uma bolsa a tiracolo. Parou a moto, encostou-a no meio fio. Desceu. Olhou à volta. Não viu ninguém de pé, apenas sombras humanas adormecidas nas soleiras de portas de lojas, normalmente sob marquises para se protegerem da chuva. Escolheu um deles e caminhou em sua direção. A uma distância de mais ou menos uns quatro passos, parou, abriu a bolsa e sacou uma arma. Apontou-a na direção do mendigo mas não teve tempo de atirar. Um lampejo brilhante como o sol, emanado do corpo do mendigo cegou-lhe a visão e seu corpo sentiu um impacto que o fez cambalear. Sua pressão baixou a tal ponto que não tinha forças nem para se levantar, mas estava ainda consciente quando uma sombra se interpôs na sua frente, lhe tirou o revólver que nem tinha forças para segurar e lhe arrancou o capacete deixando ver seu rosto. Ouviu inerte mas consciente, os olhos começando a turvar-se:
- Escuta, filho da puta... Estás morrendo quando pensavas que ias matar. Deves estar frustrado, fodido. O cara que ias matar era eu. Agora que me conheces, não precisarás de olhos para onde vais.
E com aqueles dedos ainda sujos de comida, enfiou-os nas órbitas do moribundo e arrancou-lhe os olhos. Depois se levantou e seguiu seu caminho de volta para casa. Iria de metrô. Tirou uma muda de roupa e trocou-se ali mesmo, numa esquina escura, mudando a aparência.

Eram umas dez horas da manhã. A chuva parara. A cidade sorria. Quem tinha saúde caminhava pelas ruas, dirigia veículos, abria lojas, trabalhava. Quem não tinha estava em casa ou em hospitais. Muita gente estava morrendo, sofrendo, mas o mundo nunca sabe desses. As notícias são sempre dos outros, os que estão vivos ou acabaram de morrer. De passagem por uma banca de jornal, o mendigo olhou as manchetes. “Homem armado morre no centro da cidade vítima de bala. Olhos arrancados. Vingança?”. Era um incentivo a permanecer no anonimato. Como poderia provar que agira em legítima defesa? Qualquer advogado, por pior que fosse, o incriminaria se fosse descoberto. Seguiu seu caminho em direção ao centro da cidade. Ao passar em frente à igreja do bairro, quase sempre fechada, viu sair um garoto de seus nove anos, chorando sufocado. Tentou parar o garoto para conversar com ele, ajudá-lo, mas ele fugiu. Correu atrás dele e alcançou-o no quarteirão seguinte. Perguntou-lhe o que tinha acontecido. Então o garoto contou em detalhes, a voz entrecortada pelo choro. Há poucos instantes tinha sido abusado pelo padre. Ele tentara de outras vezes, mas sem ser objetivo e a criança não entendera muito bem. Mas hoje o padre perdera o controle e o obrigara a praticar o ato. Envergonhada, a criança fugira. Logo em seguida, o garoto saiu correndo novamente. Deveria estar arrependido de ter contado a sua triste história. O mendigo deixou que fosse. Voltou para trás e bateu na porta dos fundos da igreja. Um acólito muito jovem atendeu. Disse que a igreja estava fechada e que o padre não estava. O dia da sopa era aos sábados antes da missa. O mendigo enfiou o pé na porta e impediu que fosse fechada. Disse ao acólito:
- O padre te ensinou a mentir, meu filho? Que mais sabes e não podes contar? – E mostrou-lhe um distintivo falso da polícia federal. Ouviu perfeitamente os sons saindo do traseiro do garoto e o cheiro logo se espalhou pelo ambiente. Fez-lhe um sinal para que saísse da igreja. O acólito saiu correndo. Então entrou. Encontrou o padre na sacristia. Quando o viu, o padre arregalou os olhos. Na mão do mendigo havia uma pistola engatilhada.
- Vim para saber do menino, padre, aquele que foi abusado pelo senhor hoje pela manhã, alguns instantes atrás. Tem alguma coisa a dizer?
- Não me mate. Deus não lhe perdoaria e você iria para o inferno, meu filho. Não sei do que está falando, mas juro que é mentira. Crianças não sabem o que dizem.
O padre não pode dizer mais nada. O tiro partira inesperadamente á queima-roupa, atravessando-lhe um pulmão. O segundo atingiu-lhe o baixo ventre. Já no chão, o padre ainda conseguiu ver o brilho de uma navalha riscando o ar contra a luz filtrada dos vitrais da igreja. Depois viu um prepúcio e dois colhões em frente a seus olhos. Morreu sufocado por seus próprios órgãos sexuais ensangüentados.

Rui Rodrigues. 

domingo, 7 de abril de 2013

Coisas de bares no Rio de Janeiro.



Coisas de bares no Rio de Janeiro.


(De coisas que contam ou se ouve pelas mesas de bares. Qualquer semelhança com qualquer figura pública ou com a realidade, é mera perda de tempo)


Aqui pelo Bar do Chopp Grátis, como é costume, passam tipos de todas as cores, gêneros, idiossincrasias, nacionalidades, credos, estados de espírito, mais ou menos vestidos, mais ou menos duros. Hoje estou quase de pileque, desanimado por alguns problemas, e resolvi abrir o verbo, conjugar no passado, sem medo do pretérito futuro. O Ex-Prefeito ainda é amigo do Bar. É cumpincha! Já fez muitos negócios por aqui, já carregou muita marmita para casa.

Mas todos os clientes chegam com vontade de bater um papo, confessar o que não confessam em casa nem para o padre, certos da confidencialidade que a convivência com desconhecidos proporciona. Falam tudo em voz alta porque sempre apostam que ninguém presta atenção. Eles é que não prestam atenção a nada. Se vejo alguém caladão, com olhar circunspeto, posso assegurar que estão no conluio, na maracutaia, e que são figurões da política. A ultima vez que fizeram um negócio desses, os caras levaram a grana dentro das marmitas de alumínio, daquelas que servem para levar os restos para o “cachorro”.

Depois que entram pela porta do Bar todos os fregueses e freguesas são desconhecidos “amigos”. A casa, pelo sim, pelo não, tem o seu sistema de segurança muito próprio: Um chip debaixo de cada mesa, ligado a um auricular do respectivo garçom (eles são “túmulos” e guardam todos os segredos) para evitar que alguns fregueses nos queiram deixar sem pagar, e, lá do lado de fora, também com um auricular, um guarda que faz o seu serviço e está sempre por perto nos acode quando o chamamos para alguma emergência. Nunca precisamos chamar o guarda Abraão, com seus noventa e sete quilos de músculo, um cassetete que em cada paulada aplica uma carga de setecentos quilos nas costelas de belicosos descomprimidos. Ele tem curso de respiração boca a boca e de reanimação cardíaca para recuperar suas vítimas. Aqui é assim. O prefeito é freguês da casa!


Alguns fregueses entram armados. Sabemos disso porque logo na entrada temos um detector de metais, como aqueles dos aeroportos, e que emoldura a entrada. Parece uma esquadria de metal, mas é um detector. Quando o cliente está armado, acende uma luz no painel do computador de controle, e uma câmara o segue até sentar-se à mesa. Fica identificado sem ninguém saber. Quando um cliente entra armado, fazemos o possível para “aliviar” a carga alcoólica de seus drinques, e os garçons vão até o vestiário e vestem seus coletes à prova de bala. Nunca se sabe. Por precaução adicional, todos os quitutes que pedirem, são servidos quase sem sal para não provocarem sede e o cliente vir a pedir mais bebida. Junto ao portal de entrada, perto do detector, há uma câmara de raios-X. Dá até para ver o que ainda digerem em seus estômagos antes de chegarem ao Bar, tão eficiente é a carga. Sabemos se têm cartões de crédito nas bolsas e bolsos, talão de cheques, documentos. O programa de computador identifica as informações contidas nos documentos, e pode até ler-se o canhoto dos cheques, e qual o valor de cada um. Mas a principal função é saber se levam alguma arma escondida em bolsas, pastas ou mochilas. Nossa segurança está de acordo com os princípios de segurança, e o prefeito, amigo de três juízes, é cumpincha. Quem pode, pode, e quem não pode se sacode. Nosso Bar é três estrelas, e os jornalistas que o freqüentam dão cobertura.  Nenhum cliente morreu até hoje. Até agradecemos à lei seca.  Vendemos menos drinques, mas temos motoristas que nos faturam uma baba só para levar madame em casa. Sem pagar imposto porque motorista não emite fatura. Madames, madamos, monsieurs e monsieuras se servem destes nossos serviços preferenciais...


Há câmaras escondidas nos banheiros. Os banheiros femininos são controlados por nossas empregadas, que fizeram testes psicotécnicos para evitar admissão de taradas sexuais. Já pegamos uma freguesa guardando um copo de cristal na vagina. No banheiro dos homens, o nosso vigilante já pegou um sujeito se masturbando com uma argola de enrolar guardanapo. Passamos um perrengue danado. O “negócio” do cara inchou, a argola trancou o fluir do sangue no pênis dele, e tivemos que chamar os bombeiros, porque os enfermeiros da ambulância disseram que não tinham condições de retirar a argola. Os bombeiros fizeram a operação lá mesmo, no banheiro, com um alicate que estraçalhou a argola. Mas como não podia deixar de ser, o estrago no pênis dele foi tão grande, que saiu de maca a caminho do hospital. Tudo por causa de uma loura de perna aberta e sem calcinha, que ele vira na mesa em frente à dele. Homens e mulheres provocam-se uns aos outros fazendo “charme” e depois vem a encrenca. O pior é quando as namoradas ou os namorados estão presentes. Ainda muitíssimo pior é quando são casados e cada um se julga dono do outro. Enquanto estão juntos até pode ser, mas depois que saem de casa para trabalhar, a coisa complica. Quase que tivemos que chamar o Abraão, o policial parrudo, quando um sujeito que costumava vir com a mulher e sempre fazia cenas de ciúmes, a pegou com outra no banheiro. Era a amante dela há muitos anos, como só então, no acalorado da discussão, ele ficou sabendo. Nós também ficamos sabendo. Aos gritos, ele dizia-lhe com os punhos cerrados, no melhor estilo Mike Tyson:

 - Vem se tu é homem... Vem... 

Mas ela não foi. Com toda a classe, empinou o nariz, deu-lhe uma banana e saiu sorrindo do Bar. O casal saiu logo em seguida, depois que ele tomou mais duas Marguerita, dois Bourbon e um Bloody Mary para arrematar. Na saída ainda ouvimos o cara dizer para ela:

- Sorte tua e dela que ela não era homem...


Pareciam um par matemático de zero vírgula um, ele à esquerda dela.
Agora ele vem aqui de vez em quando, sempre com um cara meio fortão, de sobrancelhas aparadas, unhas cuidadas e pintadas com verniz incolor, gravata cor de rosa combinando com as meias da mesma cor e um leve bamboleado quando caminha. Um casal interessante. A ex-esposa dele também, mas a mulher dela é muito mais bonita. As câmaras registram tudo. Ninguém escapa de ser vigiado em nome da segurança. Mas daqui do Bar não sai nada, nenhuma fofoca. Fico imaginando se tudo se soubesse. Não sobraria quase ninguém no Bairro e arredores. Aquela franzina do 21 é uma desgraça. Nem loura ela é, porque quando as câmaras mostram no detalhe, lá embaixo é cinza escuro e o cara do 32, do outro lado da rua, quase não tem nada para segurar quando urina, mas vira trabuco quando encosta a morenaça na parede, e ela tem que levantar a perna e apoiar o pé no vaso sanitário. Êta morenaça... Um dia o pé escorregou e entrou todo. Quando ela voltou para a mesa onde estava com outro pessoal, o sapato assobiava toda vez que dava um passo. Mas todo mundo está seguro aqui no Bar. Cuidamos de tudo com a máxima segurança.

O belo de tudo isto é a representação do “angelicalismo”. Trai-se em cinco minutos, e ninguém repara nisso. O bar só por si nem é trabalho. É diversão!

Rui Rodrigues