Reunião de Ministros e o Ministério do Bom Senso.
No primeiro mandato, sempre
que a Rainha – talvez de espadas e paus, jamais de copas,mas sempre com ouros – exigia alguma medida inexequível, era alertada por um conjunto de ministros que sentiam algum tipo
de incômodo ou problema sempre que ela os solicitava, como naquele dia em que os reuniu para um assunto altamente confidencial.
Quando ela irrompeu na
sala, com seu casaco vermelho da polícia montada do Canadá, tudo ficou
entregue ao barulho das moscas e mosquitos aguardando a tão esperada
comunicação:
- Eu .. han... estamos aqui
para... vocês sabem... Quer dizer... Não podem saber porque ainda não disse, por
o assunto ser de alto sigilo, mas vou dizer agora. Agora não... Daqui a pouco ,
porque segundo...O primeiro foi chegar e começar a falar... O segundo é dizer o
que tenho para dizer que vai ser o segundo daqui a pouco, tudo em sigilo,
porque é assunto que ninguém pode saber, e na verdade nem vocês mesmos deveriam
saber, mas têm que saber porque se não
souberem, vão ficar sem saber o que fazer... A oposição é que nunca fez
nada certo porque eram muito rápidos nas decisões e não tinham tempo para
pensar. Eu penso, logo exijo. Acho que foi o Das Cartas que disse isto. Não o
que vou dizer que isso é ideia minha, eu me refiro à célebre frase “Eu penso,
logo exijo”! O Das Cartas deve ter sido discípulo do ... Daquele que nos guia
os nossos passos e que não é Deus... O outro, aquele proletário bem sucedido...
Ah! Lênin... Quero construir uma bomba atômica...
Ficou apenas aquele olhar
perscrutador aguardando respostas como num desafio, emoldurado por um sorriso
seriamente zombeteiro, como de professor fazendo uma pergunta de
castigo para a sala inteira.
- Não temos verbas,
majestade... – Disse em tom de lamuria o ministro da economia, enquanto rodava
na mão uma caneta com o logotipo do Itaú)!
- Quanto custa isso,
ministro? Um milhão, cem... Um bilhão... Cem bilhões?
- Tenho que calcular, mas
anda por aí...
- Então me prepare um
relatório com o preço e deixe em minha mesa hoje à noite. Se não encontrar de
onde tirar dinheiro, tire da Petrobrás. Não precisa lacrar o envelope porque
ninguém mexe na minha mesa, e está tão cheia de coisas que nem eu consigo ler
tudo o que me mandam. Tenho uma leitora para cada ministro que me traduz o que
vocês me mandam. Não entendo nada de vossos termos técnicos. E se querem saber sempre
pergunto às minhas leitoras oficiais: Isso é bom ou isso é ruim? Se for bom,
assino... Se elas dizem que é ruim, eu não assino e devolvo. Se elas ficam na
duvida, escrevem à margem do documento: Favor esclarecer... Assim vocês têm que
simplificar os relatórios. Estes relatórios que vocês vão me enviar têm que ser
muito simplificados porque é urgente. O Fidel e outros parceiros nossos estão
esperando. O cara do Irã, aquele com nome tão arrevesado que nem eu posso
dizer, está se coçando para receber umas coisas radioativas que agora não me
lembro o nome... Péra... Agora se alembrei-me... Bolo de amarelo, eu acho que
é...
- Yellow Cake ! – Disse o
Ministro das Relações Exteriores. È um material radioativo base para....
- Não interessa o que é,
senhor Ministro... Só quero que saibam... E é só! Basta o dinheiro e temos uma
bomba? (disse a rainha com um ligeiro fio de espuma branca escorrendo pelo lado
direito de sua boca de sorriso invertido, o olhar ligeiramente arregalado). O
Ministro se abaixou para pegar debaixo da mesa de reuniões uma caneta com a
marca de uma famosa empresa de exportações.
- Bem... Majestade... Há o
acordo de Não proliferação de Armas Atômicas... Fazemos parte do acordo e não
podemos construir... Disse o Ministro das Relações Exteriores (O Ministro das
Relações Interiores nunca apareceu em Plenário nem se sabe quem foram ou que é
o atual. A rainha e os reis anteriores não se relacionam internamente.
Internamente apenas mandam ou por decreto, ou por novas leis, ou na cacetada
com a polícia à solta nas ruas, toda armada, toda emperiquitada com roupas de
couro, capacetes de kevlar, gás pimenta, balas de borracha e muita vontade de
dar porrada).
-...Olhem... Vamos parar de
brincadeiras... Se eu disse que quero uma bomba atômica e pedi sigilo, isso
quer dizer que vamos fazer uma bomba atômica e que ninguém vai saber... Quando
eu era guerrilhei.. Quando eu era guerrilheira fazíamos tudo sem ninguém
saber... Sem ninguém saber é igualzinho a sigilo. Se eu pudi, como que vocês
não vão podor? Ahn? Ahn? ...
- Majestade! – (O Ministro
das Obras Públicas estava com o braço levantado segurando uma caneta com
logotipo da OAS)
- Diga Ministro...
- E qual empresa fabricará a
bomba? Como é em sigilo não pode haver concorrência nacional nem
internacional...
- É... Mas não é assunto
para o Ministério das Obras Públicas, porque a bomba não é pública... E, além
disso, também tenho uma canetinha igual á sua e outras de logotipos
diferentes... Estou toda logotipada...Sei... Vocês estão aqui por outros motivos de canetas.
- Senhor Ministro da
Tecnologia... De que vai precisar?
-Bem, Majestade. Estamos com
um grande problema: Precisamos de água pesada... Muita água pesada...
- Então pese, oras... O que
o impede de pesar a água? Se precisar tenho uma balança lá no meu banheiro.
- Não, majestade...Chama-se
água pesada por ser constituída de ...
- Vá direto ao ponto que eu
não sou ignorante...
- Precisamos de milhões e
milhões de toneladas de água para extrairmos um simples litro de água pesada e
vamos precisar de algumas centenas... Como sabe, estamos com um problema de
seca danado, a transposição do São Francisco e as represas de São Paulo...
- Não me venha com esse
assunto de falta de água que me água toda e que me irrita, ministro...
- Podemos construir uma baita
tubulação levando água do Amazonas ou seus afluentes para as regiões do
Nordeste e do Sul, Majestade... Ou trazer água do derretimento das neves da
Bolívia, do Peru, da Argentina ou Chile...Lá tem muita e seria quase grátis...
Só gastaríamos na tubulação...
- Vocês gostam de complicar
– Disse a rainha com os braços arriados,
e os pneus da barriga se dobrando uns sobre os outros. Só quero uma bomba, uma
simples bomba... Fale com o ministro da economia e traga água em balsas de
Cuba. Pode sair mais caro, mas ajudo o nosso companheiro Fidel e aquele povo
maravilhoso que... A propósito... O que é mais feio dizer-se? Cu ou bunda?
Todos os ministros gritaram
em uníssono: Bunda..Bunda...Bunda...
- Senhor Ministro da
Educação... Amanhã quero em minha mesa um decreto prontinho para mudar o nome
de Cuba para Bundea...Cuba é um termo preconceituoso que não se pode mais
admitir em nossa sociedade... Decrete também o fim e o banimento do termo
“bicho” porque como tudo tem um feminino, “bicha” seria válido e não pode validar
porque é pejorativo. No mesmo decreto, crie o termo Boiolo... Boiolo para
boiolas machos e boiola que já existe fica para boiolas fêmeas. Entendeu?
- Sim, Majestade...Disse o
ministro...
E ela corrigiu: Majestada...
Majestade é para macho...
Bem... (disse a
Majestada)... E é só. O resto já ensinei a vocês como fazer para termos uma
bomba atômica. E preparava-se para sair quando alguém perguntou:
-...Mas Majestada... Como
vamos transportar a bomba? Precisamos de foguetes...
- Transporta no Trem bala
que ele vai bem rápido... Não temos tempo para construir foguetes! Está
encerrada a sessão. E se São Paulo se separar do Brasil, construímos lá pra
cima pró Norte ou Nordeste. São Paulo já não dá votos, está muito politiquizado!
E saiu empertigada, cabeça
altaneira, levemente sorridente parecendo um John Wayne de cuecas, um perfil
hilário para tal supimpa e anedótica majestada...
Como sempre, o Ministro do
Bom Senso e do Interior nunca estão presente... E todos na sala ficaram com pulgas atrás das
orelhas, sapos atrás das línguas, macaquinhos no sótão... Havia tanta coisa a
discutir sobre a bomba que ficou a sensação de que o que ela queria não era a
bomba mas algo sob seu poder e comando. Ela mandava bem. O
governo era diversão para outros fins, guerra das canetas. Só podia ser...
E ela nem lhes dissera o nome que poria na bomba: Fidel Gramsci. Não poria o nome de "FAT MAN", como os americanos, para não gozarem o Lula.
® Rui Rodrigues