Bento XVI, a Igreja Católica e as mudanças – um túnel iluminado.
Já militei pelos corredores
e templos da Igreja Católica, li a Bíblia uma porção de vezes para minha avó
doente – ela se escandalizava com os termos do Gênesis e deve ter morrido
decepcionada com Deus e com o moral lá no chinelo – e mais tarde, depois de
abandonar esta igreja, definitivamente, estudei profundamente outras religiões
e esta também, mas então não à luz da Bíblia, mas de documentos apócrifos e
relacionados com a arqueologia, a história, a paleontologia. A renúncia de
Bento XVI do papado não é apenas indicativa de uma “certa” gravidade. É
realmente grave, de uma gravidade extrema que muitos de nós ainda não
percebemos. É a segunda vez que um Papa renuncia, em dois mil anos de existência
desta igreja. Isso já nos diz da grave crise que a afeta.
Mas sigamos uma linha de
raciocínio para se poder avaliar das conclusões.
- Como
se mantêm e evoluem os dogmas, conceitos, preceitos e regras.
Nos primeiros anos da Igreja
Católica, nenhum apóstolo de Cristo nem seus seguidores afirmavam ou sugeriam
que Maria, a mãe de Jesus era virgem mesmo após o parto, nem que Jesus havia
ressuscitado e muito menos que Jesus era Deus como uma das três partes em que
Deus se dividiria: Pai filho e Espírito Santo. Para eles, Jesus era um profeta
hebreu, de religião judaica, que pregava a moralização do judaísmo e que não
mudaria uma só virgula nas escrituras, sendo as escrituras a Torá judaica. Não
para formar uma nova religião, mas para moralizar a existente. Viam Jesus como
o cristo, o messias que tiraria Israel do jugo dos romanos. Jesus não
conseguiu. Morreu antes que o império romano acabasse.
O ressuscitamento de Jesus,
a virgindade de Maria, a trindade, e outros postulados foram inventados num
concilio proposto por Constantino, um imperador romano que adaptou os
ensinamentos de Jesus à teologia já existente dos deuses romanos, fundando, ele
sim, uma nova religião para Roma. Naqueles tempos o povo era realmente
ignorante e aceitava facilmente os novos dogmas, conceitos, preceitos e regras.
Nesse Concílio foram escolhidos os livros “sagrados” e adaptados de forma conveniente.
A inter-relação entre crentes e sacerdotes fez-se pela fé, sem necessidade de
demonstração. O poder da Igreja foi crescendo a ponto tal que nenhum rei
católico se elegia sem a aprovação papal. Imagine-se quantos aderiram a esta
igreja movidos pelos benefícios gerados de tal relação, consubstanciados em
contratos, favores, influência na comunidade católica apostólica romana ao longo
dos séculos. Quem não pertencesse a esta igreja não tinha futuro.
E os dogmas, os conceitos,
os preceitos e as regras se perpetuaram ao longo dos séculos. Contestar,
questionar era uma impossibilidade, uma temeridade, um perigo. Quem não aderia
por fé, aderia por interesses ou por medo. A igreja distribuía e compartilhava
os benefícios na medida em que lhe
interessava.
- Os
principais cismas da Igreja Católica apostólica romana
Uma igreja “normal” que não
obriga, não impõe, não sofre mutações sérias ou relevantes ao longo do tempo. O
Zoroastrismo, por exemplo, ainda sobrevive e é muito mais antigo do que a
Igreja católica. O judaísmo aí está, sem cismas há pelo menos o triplo da
existência da igreja católica, assim como a religião muçulmana que não conhece
cisma. A Igreja católica, porém, desde o inicio que sabe o que são as
dissidências, porque sua base não tem a lógica divina e veremos mais adiante
que não tem.
O primeiro cisma veio entre
Pedro e Felipe, os apóstolos. Pedro queria uma nova igreja, única, baseada nos
ensinamentos de Cristo. Felipe também. Mas discordavam quanto aos princípios.
Pedro chegou a viajar da Europa a Jerusalém para fazer esta proposta a Felipe,
mas este negou e fundou uma igreja que existe até hoje: A Igreja cristã de Jerusalém.
Pedro influiu em Roma e em outros locais da Europa.
Quando o Império romano se
dividiu em Império Romano do Oriente e Império Romano do Ocidente, os primeiros
continuaram a rezar a missa em grego, ao passo que os do ocidente as rezavam em
latim. Não só por isso, mas pela influência política e econômica, a Igreja se
dividiu em duas: a Ortodoxa Grega e a Apostólica Romana.
Na França decidiram os
religiosos que deveriam ter um Papa diferente: Elegeram um Papa e o colocaram
em Avignon. Não durou muito este cisma, mas aconteceu.
A Inglaterra separou a sua
igreja da igreja papal: A Igreja Anglicana não se submete ao Papa. Este cisma
dura até hoje, assim como o que criou a Ortodoxa Russa.
Lutero não concordava com
certas facetas da Igreja Católica e criou nova igreja, a Igreja luterana. E a
ele se sucederam novas igrejas, como a Adventista, a Igreja Universal
A desunião católica é um
fato porque seus dogmas, preceitos conceitos e regras não suportam
questionamentos sérios. Sob este aspecto a Igreja Católica Apostólica Romana é
a mais fraca e inconsistente de todas as religiões. Completamente fragmentada,
dividida, enfraquecida.
- Os
grandes erros históricos da Igreja católica
Jesus usava uma túnica e
nunca sucumbiu à soberba, ao poder. Era humilde, de uma falsa humildade porque
sabia o poder que pensava que tinha, mas era também político. Suas respostas
aos inquisidores antes de sua condenação, foram humildes e cautelosas. Não
falou grosso e firme com a voz de “deus” e já na cruz, percebeu o equívoco
quando inquiriu o Pai sobre o fato de o ter abandonado. Disseram muito mais
tarde que morreu para “nos salvar”. Não. Jesus morreu porque o condenaram e
isso ele jamais esperava em vida. Nenhum apóstolo estava presente em seu
calvário nem ao pé da cruz. A seita de Quram a que Jesus pertencia, se não a
criou, estava fadada à extinção. Nisso Pedro e os demais apóstolos foram
eficientes ao propagarem as idéias pelas regiões da antiguidade a que tiveram
acesso.
Porém a Igreja cresceu a tal
ponto, pregando para que os cristãos largassem os bens pelo caminho da vida
porque a redenção estaria próxima, que logo percebeu o poder que tinha e podia
ter, e quando alguma instituição se assoberba com o poder, exagera perdendo a
base, os fundamentos e passando a preocupar-se com a manutenção desse poder.
Foi assim que surgiu o poder Papal sobre os reis católicos. Logo a seguir, a
perseguição aos albigenses. Depois as cruzadas contra os muçulmanos, uma intransigência
absurda porque por essa época judeus, muçulmanos e cristãos viviam em perfeita
harmonia, até porque o deus é o mesmo com três nomes diferentes: D’Us, Deus,
Alah. A Inquisição foi o maior de todos os absurdos que mandou milhões de seres
humanos para a fogueira, e propiciou a redistribuição dos bens dos condenados
de acordo com os interesses da Igreja. Sem exceção, todos os que morreram nos
aparelhos de tortura da igreja eram inocentes. Nenhum era culpado. A
perseguição religiosa foi a mola propulsora da colonização dos EUA, do nordeste
brasileiro e de outras nações.
O falso machismo católico
não permite a vocação sacerdotal de mulheres. Maria Madalena não era
prostituta. Pelo contrário, era apóstola e a ela estava reservada a liderança
dos apóstolos. José, pai biológico de Jesus não era velho. A privação do
casamento dos sacerdotes não obedece a nenhum dogma. Cristo era casado com
Maria Madalena e se não fosse com aquela idade não teria quem o seguisse por
falta de confiança em sua hombridade. O celibato é uma medida econômica e
política para que os padres não dividam as esmolas da igreja para alimentar os
filhos e a mulher. Ao buscar candidatos ao seminário entre jovens que não se
importam de não ter relações sexuais, a Igreja católica abusa e nega a natureza
que Deus criou, e abre as portas para quem arrisca o celibato sem certeza de
poder cumprir. Fazer a corte a mulheres já feitas, é arriscado para estes
padres. Assim fica aberta a possibilidade da pedofilia, porque as crianças são
vulneráveis.
Os dogmas, os preceitos, os
conceitos e as regras são um chorrilho de asneiras e erros que não têm
semelhança em nenhuma outra religião. A confissão é relativamente recente: Foi
inventada para delatar as “bruxas”, os inimigos da igreja. Curiosamente a Igreja
não perseguia bruxos... Porque razão? Podemos adivinhar mesmo sem a ajuda de
Freud, porque por principio esta igreja não gosta de mulheres, muito menos
falando. E certamente que a Terra é redonda e que gira em torno do sol. E o
Banco do Vaticano envolveu-se com lavagem de dinheiro, e para ser honesto, o
dinheiro Dai começar a escassear. Em breve as igrejas deverão pagar impostos
sobre a riqueza e os ganhos financeiros sob todos os aspectos.
- A
renuncia de Bento XVI e o novo cisma
Os tempos em que nada se
podia contestar na Igreja católica foram longos e sofridos. Dissidências sempre
as houve em seu ambiente. Já houve papas que compraram o voto dos bispos do
sínodo e bispos que assassinaram e mandaram assassinar outros para que não
fossem eleitos papas. Um jogo forte de poder porque o conforto e o poder de ser
papa são enormes. Seja por fé, ou por ambição, uns querem mudar o que está
errado, outros preferem a ortodoxia. A Igreja Católica Apostólica Romana é
Ortodoxa. Não quer mudar nada. Por inspiração divina não será, porque Jesus
cristo era um revolucionário religioso. Ele queria inovar na igreja judaica.
Não queria vendilhões no templo. Não conseguiu nem uma coisa nem outra. A
religião judaica se mantém fiel aos princípios, os vendilhões do templo sempre
existiram na Igreja católica, e o Messias que deveria transformar o mundo
falhou: Continuamos com os mesmos problemas de sempre. Do céu Deus cuida.
Do contexto do que foi
exposto até aqui, o Papa Bento sabe perfeitamente. Nada consta nestas linhas
que possa ser afirmado como mentira, de forma isenta. Negar pode negar-se
qualquer coisa com mais ou menos ou nenhuma propriedade.
E Bento XVI sabe das
dissidências no interior dos templos e do Vaticano. Sabe também dos vazamentos
de informação, até porque são muitos – e fortes - os dissidentes que partilham dos “segredos” do Vaticano.
Bento XVI se não perdeu a fé na igreja – no que pese as suas palavras de
aparente fidelidade – deve ter chegado quase a este ponto, pelas forças que
desunem os que "deveriam" pensar da mesma forma. Deixará um dossiê a seu sucessor
que versa sobre a pedofilia e algo mais, mas as forças são tão poderosas que
Bento não as poderia suportar. A própria igreja católica exige mudanças
substanciais. Coisa de vida ou morte para esta igreja.
Haverá um cisma e uma nova
igreja surgirá, porque não se pode unir os que vêem Deus à luz da razão, dos
que vêem deus à luz da conveniência secular de que não vale a pena mexer no que
sempre foi ou parece ter sido. Até mesmo por pura e cega fé. Não há uma luz no
fim do túnel para a Igreja católica. Melhor do que isso há um túnel iluminado
pela razão. A nova igreja será mais pobre e humilde e sem guarda suíça. O
Vaticano continuará com toda a pompa e circunstância, com segurança redobrada.
Rui Rodrigues.