Eu ainda era criança quando, pela primeira vez, entrei em um avião. A
ansiedade de voar era enorme. Eu queria me sentar ao lado da janela de qualquer
jeito, acompanhar o vôo desde o primeiro momento e sentir o avião correndo na
pista cada vez mais rápido até a decolagem. Ao olhar pela janela via, sem
palavras, o avião rompendo as nuvens, chegando ao céu azul.Tudo era novidade e
fantasia.. Cresci, me formei, e comecei a trabalhar. No meu trabalho, desde o
início, voar era uma necessidade constante. As reuniões em outras cidades e a
correria me obrigavam, às vezes, a estar em dois lugares num mesmo dia. No
início pedia sempre poltronas ao lado da janela, e, ainda com olhos de menino,
fitava as nuvens, curti a a viagem, e nem me incomodava de esperar um pouco
mais para sair do avião, pegar a bagagem, coisa e tal. O tempo foi passando, a
correria aumentando, e já não fazia questão de me sentar à janela, nem mesmo de
ver as nuvens, o sol, as cidades abaixo, o mar ou qualquer paisagem que fosse.
Perdi o encanto. Pensava somente em chegar e sair, me acomodar rápido e sair
rápido. As poltronas do corredor agora eram exigência . Mais fáceis para sair
sem ter que esperar ninguém, sempre e sempre preocupado com a hora, com o
compromisso, com tudo, menos com a viagem, com a paisagem, comigo mesmo. Por um
desses maravilhosos 'acasos' do destino, estava eu louco para voltar de São
Paulo numa tarde chuvosa, precisando chegar em Curitiba o mais rápido possível.
O vôo estava lotado e o único lugar disponível era uma janela, na última
poltrona. Sem pensar concorde i de imediato, peguei meu bilhete e fui para o
embarque. Embarquei no avião, me acomodei na poltrona indicada: a janela.Janela
que há muito eu não via, ou melhor, pela qual já não me preocupava em olhar. E,
num rompante, assim que o avião decolou, lembrei-me da primeira vez que voara. Senti
novamente e estranhamente aquela ansiedade, aquele frio na barriga.Olhava o
avião rompendo as nuvens escuras até que, tendo passado pela chuva, apareceu o
céu. Era de um azul tão lindo como jamais tinha visto. E também o sol, que
brilhava como se tivesse acabado de nascer. Naquele instante, em que voltei a
ser criança, percebi que estava deixando de viver um pouco a cada viagem em que
desprezava aquela vista. Pensei comigo mesmo: será que em relação às outras
coisas da minha vida eu também não havia deixado de me sentar à janela, como,
por exemplo, olhar pela janela das minhas amizades, do meu casamento, do meu
trabalho e convívio pessoal? Creio que aos poucos, e mesmo sem perceber,
deixamos de olhar pela janela da nossa vida. A vida também é uma viagem e se
não nos sentarmos à janela, perdemos o que há de melhor: as paisagens, que são
nossos amores, alegrias, tristezas, enfim, tudo o que nos mantém vivos. Se
viajarmos somente na poltrona do corredor, com pressa de chegar, sabe-se lá
aonde, perderemos a oportunidade de apreciar as belezas que a viagem nos
oferece. Se você também está num ritmo acelerado, pedindo sempre poltronas do
corredor, para embarcar e desembarcar rápido e 'ganhar tempo', pare um pouco e
reflita sobre aonde você quer chegar. A aeronave da nossa existência voa célere
e a duração da viagem não é anunciada pelo comandante. Não sabemos quanto tempo
ainda nos resta. Por essa razão, vale a pena sentar próximo da janela para não
perder nenhum detalhe. Afinal, 'a vida, a felicidade e a paz são caminhos e não
destinos'. "Somos o que fazemos, mas somos principalmente o que fazemos
para mudar o que somos"
Páginas
- Início
- Usos e Costumes
- A morte de Pancrácio.
- Vagabundeando pelo passado
- Repositório de algumas frases minhas no face book.
- Um momento de reflexão (Ou a re-história dos três porquinhos)
- O futuro próximo... (... é o do próximo)
- Reflexão sobre o momento econômico atual: (Ou da contra-informação na política econômica- desculpem os neologismos)
sexta-feira, 15 de junho de 2012
Fornelos de Santa Marta de Penaguião- história revisitada
História de Fornelos e do
seu entorno.
Introdução
Este não é um trabalho
acadêmico. Resulta da curiosidade de um fornelense nascido em 1945, e que,
dentre muitas coisas com as quais se preocupa neste mundo, se inclui o lançar
alguma luz que possa mais tarde levantar a história verdadeira de Fornelos.
Hoje a referência que se tem é de que foi fundada por 11 famílias nos idos de
1740 cuja casa mostra no forro do teto de algumas, a estrela de David gravada numa viga. É muito pouca informação e não há motivos para não se procurar saber
tanto quanto se possa. Quem sabe não teriam sido 12 casas, e uma banida da memória por questões religiosas? Ou teriam os nomes das onze famílias sido esquecidos pelo mesmo motivo?
Procurando, via Internet,
por documentos referenciados, não encontrei quase nada. Há sim farta
documentação anterior à sua fundação e posterior, mas nada mais. Não se sabe dos
nomes das 11 famílias.
Por nomes de família podemos
avaliar que a vila já foi povoada por romanos como atestam os fornos
descobertos e por outros povos desde então, como godos visigodos, e antes dos
romanos, os celtas, como também atestam os castros celtas por toda a península
ibérica. Como outros povos que formaram o povo lusitano, previamente à invasão
romana, são reconhecidos principalmente os suevos, os alamanos, os vândalos,
gregos, fenícios e cartagineses. Posteriormente, árabes e judeus.
Como referencias dei
preferência a links disponíveis na Internet para mais fácil consulta. Esses
links apresentam as suas próprias.
1 – Localização de Fornelos de Santa Marta de
Penaguião
A Vila de Fornelos situa-se
nos contrafortes da Serra do Marão que tem 1.215 metros de altitude e está
situada numa cota aproximada dos 600 metros. Desenvolve-se ao longo da linha de
cumieira de uma elevação com o rio aguilhão ao fundo, a um desnível aproximado
de 100 metros. Em termos medievais poderíamos dizer que era um lugar de difícil
acesso para algum exército de ocupação. Fornelos dista aproximadamente 12 km de
Vila Real de Trás os Montes, a sede do Distrito.
Há fornos romanos em
Fornelos e em Louredo, os desta vila na fronteira com Fornelos onde se
fabricavam tijolos e telhas. Antes da romanização os tetos das casas eram
cobertos com ramos e colmo. È de supor que já no tempo da romanização houvesse
casas de oleiros na região. O povoado de
Barreiro nas imediações de Louredo e Fornelos, e a dimensão dos fornos, leva a supor
que não sendo os barreiros de argila incomuns, os fornos se destinassem ao
consumo de vilas próximas romanizadas.
2 – A ocupação da região de Fornelos e Trás os Montes.
a) Período Pré-romano - 1.200.000 AC a 194 DC
A história de fornelos
começa com o povoamento humano em todo o globo terrestre que, ao que tudo
indica, se originou na fossa de Olduvai na atual Tanzânia, há cerca de
1.700.000 anos, através de um processo de disseminação de uma espécie de
hominídeos [1](australopithecus
boisei) por pressão social e da natureza circundante. Com grupos que não podiam
ultrapassar os 60 indivíduos devido à alimentação disponível, novas famílias
emigravam do grupo para procurar novas áreas de alimentação. O isolamento entre
os grupos, e por adaptação ao meio em que passaram a viver, diferenciaram-nos
gerando características diferentes entre si. Não raro entre avanços no terreno
e retrocessos, voltavam a cruzar-se, esporadicamente. Podemos imaginar que
nessas ocasiões chegassem a lutar pela posse de territórios, provável origem
das guerras das quais, por mais que tenhamos evoluído ainda não aprendemos a
nos libertar.
Discute-se ainda o papel das
espécies Cro-magnon, Neanderthal e Homo Sapiens na constituição da base humana
na península ibérica, havendo indicações que apontam para a absorção dos
Neanderthais pelo Homo Sapiens que ainda chegava de África[2].
A data mais provável da
ocupação da península ibérica situa-se no entorno de 1.200.000 anos[3] -
inicio do Paleolítico - quando os primeiros hominídeos aqui chegaram. Foi muito
lenta a ocupação do globo.
No contexto das guerras
púnicas, Cartago usou a península ibérica para atacar Roma, numa estratégia de
guerra impensável. Roma respondeu invadindo a Península. Os primeiros
confrontos deram-se em 194 AC contra os lusitanos[4].
b) Período Romano – 194 – 409 DC
Em 409 DC, com o Império
romano enfraquecido, Vândalos e Suevos estabelecem-se na Galécia da qual a
região em causa fazia parte. Já em 407 DC com o império Romano em processo de
divisão em Império romano do Oriente e Império romano do Ocidente, um usurpador
das ilhas britânicas nomeia-se sucessor com o título de Constantino III. Seu
filho Constante invade a península. Através de um pacto, Honório, filho de
Teodósio (Imperador de Roma) e que geria a parte oriental do Império Romano,
cede a Constante a Galécia[5] e
a Lusitânia[6].
Somos levados a acreditar que uma aliança que mais tarde se fez entre Portugal
e a Inglaterra[7],
mantida até os dias de hoje, possa ter tido origem nestas raízes de aparente
“identificação” de povos e “libertação” do jugo Romano. É que por lá também
havia relativamente recentes raízes celtas.
c) Invasão Árabe e as diásporas judaicas – 711 - 1492
A diáspora judaica
iniciou-se em 70 DC depois que o Império romano – Imperador Adriano - expulsou
o povo judeu. Difícil de saber em que ano se iniciou a chegada ao território
hoje ocupado por Portugal, mas sabe-se que em Lagos da Beira existem inscrições
funerárias judaicas datadas do século VI, ou seja, antes da invasão árabe. O
povo judeu acomodou-se preferencialmente no Norte de Portugal onde deu origem
aos marranos.
A invasão árabe iniciou-se
em 771 DC, quando Táric e suas tropas islâmicas atravessaram o estreito de
Gibraltar[8]. A
invasão ficou consolidada quando Táric venceu o rei visigodo Rodrigo (origem
dos Rodrigues) na batalha de Guadalete. Uma parte da Península resistiu, no
reino das Astúrias, cuja fronteira correspondia ao que hoje é a parte mais a
nordeste de Trás os Montes[9], com
sede em Toledo. Pelágio inicia a longa reconquista da península vencendo as
tropas muçulmanas na batalha de Covadonga em 722. Em Portugal a guerra de
reconquista terminou em 1253 DC com a conquista de Silves. Na Espanha somente
em 1492 com a reconquista de Granada.
Uma outra diáspora judaica
deu-se em 1492 [10]quando o povo judeu foi expulso da Espanha depois de perseguições injustificáveis, incluindo
mortes ás dezenas de milhares –como mais tarde aconteceria na Alemanha de
Hitler de 1939 a 1945, o holocausto. Acossados, perseguidos, espoliados, foram
acolhidos por D. João II que também os perseguiu e escravizou[11]
por solidariedade aos reis católicos de Espanha e à Igreja Católica. Crianças de 2 a 10 anos eram retiradas dos
pais para serem criadas por famílias cristãs. Na verdade uma “limpeza étnica”. Isto
se repetiria mais tarde no governo de D.José I através do Marquês de Pombal.
Também na verdade, atendiam dois fatores: as diretrizes da igreja, e a
oportunidade da encampação de bens.
Fornelos não estava á margem
dos acontecimentos. Árabes e judeus transitaram e se estabeleceram na região por
séculos, deixando registros inconfundíveis nos sobrenomes de família, mesmo
quando foram obrigados a trocar seus próprios nomes para os substituírem por
outros autóctones da região. Escolheram para isso nomes de árvores que dessem
fruto, tais como pereira, nogueira, oliveira, dentre outros. Eram os cristãos
novos. Para manter um pouco as raízes como resistência, os homens costumam
ajoelhar com apenas um joelho nos templos cristãos. Bebem água com apenas uma
mão sem fazer concha com as duas. Raramente usam a água benta. Matam os animais
para alimentação exaurindo o sangue e causam a menor dor possível ao animal. São
pequenos indícios inconfundíveis de milênios de tradição.
Como herança genética[12],
o povo judeu deixou em Portugal e Espanha uma descendência tal que 20% dos
habitantes têm sangue judeu e de sangue árabe e berbere, 11%. Isto é marcante,
porque apesar da invasão árabe é maior a carga genética judia.
d) independência de Portugal e os forais – Vila Real.
Vila
Real recebeu Foro de cidade no Reinado de D. Dinis em 1289 - século XIII, em
"Terras de Panóias”, denominação que já vinha antes do tempo da romanização
- século I e até início do século III. As vastas "Terras de
Panóias" tinham um núcleo central em Constantim (há duas Constantim: Uma
em Miranda do Douro e outra que agora é um bairro industrial de Vila Real -
isto nos dá a amplitude da vastidão das "Terras de Panóias").
Sobre o núcleo de Constantim (no espaço em que agora se situa Vila Real), sabe-se que era pouco visitado por D. Afonso Henriques - o fundador de nossa nacionalidade - por ser uma zona de constantes invasões mouras, o que lhe atrasou a concessão de Foral até 1289.
Sobre o núcleo de Constantim (no espaço em que agora se situa Vila Real), sabe-se que era pouco visitado por D. Afonso Henriques - o fundador de nossa nacionalidade - por ser uma zona de constantes invasões mouras, o que lhe atrasou a concessão de Foral até 1289.
(Continua)
quinta-feira, 14 de junho de 2012
Procuram-se desaparecidos
PROCURAM-SE
DESAPARECIDOS
Despertei a altas horas da
manhã. O dia tinha-se acabado, a noite ia a meio, novo dia ainda estava longe.
Senti falta de algumas pessoas muito importantes de um rol que pululava em
minha mente. O contato com elas desaparecera e nunca mais as vi. Outras
existem, mas são já tão poucas, que se acreditasse nas visões apocalípticas de
passados videntes, diria ter chegado o final dos tempos, novas Sodomas e
Gomorras queimando pela terra como vulcões em prédios alimentados por gás combustível,
plásticos em labaredas mal cheirosas, fagulhas de materiais incandescentes
elevando-se nos ares, gritos de condenados urrando numa prisão implacável de
fornos crematórios.
Lá estava o senhor Agostinho
e outros como ele. Tinham umas caras bondosas, tranqüilas, falavam com todos
sem lhes importar a condição social, baixavam-se à altura dos olhos das
crianças para falar com elas, paravam alguém na rua que lhes parecesse muito
preocupado ou chorando para lhe perguntar se precisava de ajuda. Invariavelmente
faziam doações a comunidades necessitadas e seus testamentos sempre
contemplavam algumas dessas instituições. Quando naquele momento, em minha
busca por outros tipos, procurei por alguns outros, notei-lhes também a falta. Aquelas instituições em que o
sr, Agostinho acreditava como benfeitoras de desamparados, também já não
existiam. A maioria retirava apenas uma pequena parte das doações para auxílio
e o resto para que os donos, os sócios, levassem uma boa vida. Muitos lares
para idosos foram fechados por maus tratos a seus beneficiados, e em muitos
outros não eram lares, mas infernos onde os idosos passavam frio, fome, sede, e
sofriam de carências, de falta de higiene, de assistência médica. O senhor Agostinho
dava doces, rebuçados, chocolates à criançada. Hoje ensinamos as crianças a não
aceitarem nada de ninguém porque podem sofrer por isso. Quem as dá pode fazê-lo
para atraí-las, raptá-las, tirar-lhes os órgãos para venda, abusar de sua
inocência. Nos aniversários que o sr, Agostinho comemorava com os amigos,
pagava tudo em mesa farta. Agora, quando comemoramos os aniversários dos amigos
todos pagam a sua parte. Parece ser que antes havia amigos, mas agora já não,
porque não importa quanto têm, todos exigem entre sorrisos que cada um pague a
sua parte. Mais do que justo, é, reconheço, mas é também um sinal de ausência
do dividir, compartilhar e uma ironia, porque parece que tudo se divide. Já não
encontro o Senhor Agostinho pelas ruas da vida. Procuro e não encontro. Os que
ainda existem não se mostram nem agem assim porque têm medo de serem
confundidos com os outros, os que caminham sobre esteiras do mal que deslizam
sem lhes ouvirmos os passos. Desapareceram também os termos “senhor” e
“senhora”, agora substituídos por “ele” ou “ela”, para que não se qualifique
por engano o que não passa de ser ele ou
ela e não são definitivamente um senhor ou uma senhora. Também já não há
os que ajudem os senhores Agostinhos em seus últimos momentos, porque os filhos
que deveriam cuidar deles se ausentaram, e depois dos gastos com o funeral,
apareceram para agradecer, levaram as ultimas roupas do defunto e nem
perguntaram quanto custaram as despesas com médicos e o funeral.
Não encontrei aquelas
pessoas que recebem troco a mais quando compram e o devolvem ao caixa que se
distraiu por qualquer motivo. Nem nas ruas quem encontre uma carteira perdida e
a devolva intacta no primeiro posto policial para que se encontre o dono.
Talvez porque a vida nos mostre dia a dia a sua dureza e tenhamos perdido a
confiança nas polícias que nos batem em manifestações, participam de roubos
ainda na ativa ou quando dela saem. E nas escolas, bem cedo se aprende que os
que parecem nossos amigos podem ser na verdade pequenos vendedores de drogas,
ou dos que abusam dos mais fracos fazendo-os passar por vexames dia após dia,
em infinito martírio. Alguns vão armados para as escolas e matam. Outros voltam
à escola anos depois para matar alunos e professores, frustrados pela decepção
de sua imaginação trabalhada até a esterilidade da confiança em si mesmo,
confrontada com a realidade dos que seguem o seu caminho com sucesso. Para
aqueles, o mundo está completamente errado e eles são os pobres coitados,
perseguidos, que deveriam estar na posição dos mais beneficiados por terem sofrido
as maiores injustiças, não porque tenham sido mais justos.
Não encontrei os casados há
mais de cinqüenta anos, abraçados, rindo entre si e das coisas que fazem,
cercados pelos filhos que os cuidam, os netos que os distraem e dos quais
cuidam também de vez em quando. Tinham antes uma idade entre os 50 e sessenta
anos e eram avôs, por vezes bisavôs. Agora têm noventa, cem, cento e dez anos,
um ou dois filhos, quatro ou cinco netos, ainda caminham e fazem caminhadas,
são independentes, os filhos vivem longe, os netos correm pela vida já buscando
a sua independência, mas vivem separados, cada um em sua casa, independentes,
pessoas que vêem na própria vida o prazer de cuidar de si mesmas, porque seus
descendentes lhe exigiam não só o sacrifício da vida, mas como também a entrega
da alma, lhe roubavam o tempo de viver.
Em assaltos nas ruas, não há
ajuda de uns aos outros, porque o bandido que aparece tem outros á ilharga,
todos estão armados, e não há policiais por perto.
Aqueles guardas noturnos que
caminhavam com um molho de chaves para abrir as portas a quem tivesse perdido
as chaves, acabaram. Já não existem. Muitos deles cooperavam com os amantes do
alheio e estes por sua vez descobriram nessa fortaleza de caráter humanitário,
uma fraqueza que lhes abria as portas para o vandalismo. E o Estado que paga
para que se tenha serviços públicos decentes e grátis, porque todos pagam
impostos, estão fechando suas portas aos cidadãos e abrindo-as à especulação da
terceirização e da globalização que cobram até em urinóis públicos por entrada,
podendo antever-se o dia em que cobrarão por litro urinado.
Procuram-se tipos humanos,
instituições cidadãs perdidos todos num mundo que evolui não porque a cidadania
fale mais alto e promova as mudanças, mas porque as instituições promulgam atos
e agem em total desacordo com os interesses de uma humanidade cativa que sofre
e arde como combustível da ambição de uns poucos.
As labaredas chegam aos
céus. Não há instituição merecedora que possamos defender, não há amigos que
compartilhem, parece não haver cem justos nestas cidades. Quem sabe, nem
cinqüenta, ou mesmo vinte. Procuram-se os desaparecidos, quem erre e assuma os
seus erros.
Aqueles filmes de Hollywood
que nos mostravam um mundo de fé no futuro, a vida amena possível para todos,
esgotaram-se e cinemas fecham portas.
De minha parte peço perdão. Somos
todos culpados. Somos todos construtores de um novo mundo.
Rui Rodrigues
quarta-feira, 13 de junho de 2012
Espiões e contra-espiões fantasmas.
ESPIÃO CONTRA EXPIÃO E EXPIÃO CONTRA
ESPIÃO DO CONTRA
(Ou com quantos “paus” se faz a política)
Sempre que chove aparecem-me
os fantasmas aqui no Bardo Chopp Grátis. Hoje chovia a cântaros e estava eu com
a minha amiga atrás do balcão, dando uma rapidinha, ouvimos a porta abrir-se.
Chegavam os fantasmas!
Novamente... Eu não acredito em fantasmas e muito menos no que dizem, mas minha
avó dizia: Não creio em bruxas. Mas que as há, lá isso há... E nunca desprezei
nenhum ventinho esquisito na minha espinha. Crendices!
Primeiro vi o Zeca Vamporra,
depois o Taumaturgo Bode, e finalmente a bela fantasminha camarada Verônica
Dúbia. Não vi o Karl Kaskat, mas Verônica me explicou sua ausência,
entregando-me um pacote de notas para pagar a dívida que ele me deixara
pendurada da última visita: Ele fora preso para depor numa CPI - Comissão Para
Idiotas - que decorria lá na casa dos homens de pouco juízo para ajuizarem dos
sem juízo sem qualquer jurisprudência (nenhum caso anterior acabou com
condenação e devolução das verbas evadidas)
Sentaram-se à mesa, pediram
o de costume e confabularam na sala reservada. Liguei logo o meu equipamento de
“vigilância” para não perder a conversa, mas como sempre só peguei algumas
partes que transcrevo a seguir.
Zeca Vamporra – Muito bom o
depoimento do Karl. Não abriu a boca nem pra tomar um cafezinho. Só tomou água
pra não ficar nervoso. Não entregou
ninguém...
Taumaturgo Bode – Já o avisei que eu cuido da armação. Ou confia
ou não confia. Se abrir o bico, morre assado. Em Boca calada não entra mosca
nem bichinhos de que ele gosta tanto. Consegui desviar a atenção para a casa
vendida. Pra despistar. Agora vão perder 15 dias discutindo o sexo dos anjos,
se a venda foi legal, se não foi... E no fim pega uma cana leve por não ter
pago impostos ou coisa assim.
Zeca Vamporra – Mas a grana,os milhares, milhões de 'paus' não podem ser devolvidos... Eu não devolvo nada... Essa grana é para as eleições.
Verônica Dúbia – Me engana
que eu gosto. Durante as eleições, a maioria das despesas são por doação a fundo perdido e sempre sobra, e
outra maioria delas vocês não pagam... E sempre sobra grana. O que fazem com
ela, além de comprar votos?... E não são os votos de campanha que eu falo...
São os votos dos que votam lá na arena das discussões...
Taumaturgo Bode – Não voltem
a falar disso... O Zeca aqui fica todo nervoso quando se lembra do PC. Até já
me perguntou se eu Faria...
Verônica Dúbia - E os
juízes?
Taumaturgo Bode – A minha
gente já fez contatos. Como sabem, os maiores partidos já estão agindo juntos.
O expião já os contatou. Outros expiões também... Segura pião! (disse isso
olhando para o Zeca Vamporra)
Verônica Dúbia - Andam dizendo que o partido das estrelas quer
fazer uma revolução e tomar o poder.... Outro grupo meio atucanado (este é um
termo gaúcho que significa sob pressão, atarantado) diz que as Forças Armadas
devem prevenir-se para derrubar o poder.
Taumaturgo Bode – Boa
manobra de dissuasão e dispersão... Boa
manobra. Sabemos como é a monovisão do pessoal das forças armadas. Se
fosse nos tempos das ideologias, lá pelo inicio dos anos 60, até nos poderíamos
preocupar, porque elas, as forças armadas iriam prender e arrebentar sem dó nem
piedade. Porém, com estes tempos pós-modernos, o que interessa são as “massas”,
com quantos paus se compra um iate e não com quantos paus se faz uma canoa.
Elas sabem que tanto a esquerda quanto a direita lhes vão dar o mesmo
tratamento. Não se mexem. E a minha comida, Zeca Vamporra! Onde está?
Zeca Vamporra – Está na mala
que eu trouxe. É sua. Pode levar a comida para os animaizinhos de sua fundação.
O meu já está guardado (Taumaturgo deu um sorriso maroto para os demais).
Verônica Dúbia (ainda com os
olhos grudados na mala que o Taumaturgo Bode já segurava no colo, com os braços
á volta para evitar que alguém a levasse) – E a outra Comissão Para Idiotas que
vem a seguir? Como fica?
Zeca Vamporra – Já estamos
tratando disso (disse olhando para Taumaturgo Bode). Ninguém vai falar nada,
vão negar o que disseram, e vamos controlar tudo para dar em nada.
Verônica Dúbia – Fico feliz
com a nossa “Intel-igência”, parece até chip de computador... Tudo perfeito. E
se der Zebra?
Zeca Vamporra e Taumaturgo
Bode rindo a bandeiras despregadas – hahahaha... Então temos que chamar o Karl
Kaskat e mandar colar esse resultado no poste !!!!!!
E saíram todos depois de me
deixarem uma grana que dava pra comprar um iate de dois pés de comprimento por
meio pé de largura, como pagamento. Taumaturgo atrás de todos, com sua maletona
de alto executivo... Ainda vi a Verônica passar a mão na bunda do Zeca Vamporra
apertando-a com força, e ele tirar-lhe a mão, incomodado.
Rui Rodrigues
(Tradutor e intérprete de
vampiros, fantasmas e outras assombrações que nos assombram com seus
assombramentos quando passam pelo Bardo Chopp Grátis).
O amor moderno, a moral, a lei e as religiões
O amor moderno, a moral, a lei e as
religiões
(à luz do amor antigo)
Para ouvir enquanto lê http://www.youtube.com/watch?v=7jzx664u5DA&feature=related
Para ouvir enquanto lê http://www.youtube.com/watch?v=7jzx664u5DA&feature=related
Falar sobre o tema, em meia
dúzia de parágrafos parece-me impossível, mas tentarei fazê-lo porque creio
haver alguns equívocos que nos dificultam a vida, nos criam complexos insanos,
nos fazem perder tempo, e são realmente “equívocos”, não podendo, por isso, ter
o menor crédito. Adianto que sou Deísta, sendo meu Deus o Deus de Abraão,
“Aquele que É”.
Não desejo ferir os
princípios de ninguém, mas creio que devem ser colocados os pontos nos “is”
para não pecarmos por irmos na “onda” sem sabermos se a onda é de ácido, de
pedra, de cal, água ou ar...
Vem isto a propósito de algo
que li no Gênesis, e que consta não só da Torá da religião judaica, como também
da Bíblia cristã e do Corão muçulmanos. Neles se lê que a serpente era muito
esperta e atentava contra os desígnios de Deus (como se Deus tivesse criado
algo que tivesse qualquer poder que pudesse sequer atrapalhar-Lhe os desígnios).
Lê-se também que a primeira
mulher (não o primeiro homem) foi na conversa da serpente, e que só depois de
Eva seduzir a mente de Adão este achou que seria importante e determinante
comer da árvore da ciência, do Bem e do Mal.
Não só desta árvore comeram
o Adão e a Eva, mas certamente de todos os frutos proibidos que não foi só a
maçã. E traçaram-se mutuamente Adão e Eva, ali mesmo, fazendo do Paraíso um
Paraíso muito melhor, com uma função que Deus lhes deu, mas que estaria
escondida nas sementes da maçã: Procriar e tirar algum proveito da
“procriação”. Ou seja: Adão já estava com os escrotos produzindo
espermatozóides desde que tinha sido formado, Eva com os ovários cheios de
óvulos, descendo-lhe um a um a cada 28 dias (ela era muito regular), e nada!...
Era só enfeite! Lá não existiam hormônios, feromonas, atração sexual ?
Mas com base nesses
“postulados” dos livros santos, formaram-se sociedades machistas por milênios
que determinaram o apedrejamento de mulheres, o uso de roupas que as encobrem
por completo, o corte de clitóris para não terem prazer com outros homens, a
invenção de cintos de castidade, a criação de Códigos Civis que determinam as
leis e os comportamentos, tendo o “Pater Família” como o dono do lar, do
destino de mulheres, filhos, família e bens, podendo os homens ter haréns,
freqüentar prostíbulos, baixar o sarrafo nas mulheres e nos filhos porque assim
fizeram os livros e os livros ditaram as leis.
Como evitar o aparecimento
das putas? E por que não surgiram os putos?
Evidentemente, que pelos
textos dos livros santos, o mundo estava completamente escancarado ao
aparecimento das putas, porque mulheres não podiam procurar por putos para lhes
satisfazer as vontades. Os livros foram escritos por homens, e aparentemente,
só aparentemente, Deus não transmitia inspiração divina a mulheres. Suspeito da
tendenciosidade dos livros. Escreveram os rumos de uma humanidade distorcida da
realidade e agora estamos tentando dar-lhe um novo rumo que deveria ter sido o
primeiro a seguir.
Não posso acreditar naquela
interpretação que consta nos livros, por que essas tais vontades são obra de
Deus, fazem parte integrante da natureza e não podem ser negadas nem Ele,
porque assim fez a natureza, e Deus não se nega nem nega o que faz porque está
bem feito desde a origem dos tempos.
Para explicar o comportamento
da humanidade ao longo dos séculos, tenho que me valer dos descobrimentos da
ciência, já que os livros não foram atualizados. Como esses livros foram
escritos por “inspiração divina” e sendo Deus completo e Invariável em suas
verdades, somente posso atribuir as discrepâncias dos livros como deficiência
na interpretação da inspiração divina, face ao pouco conhecimento – na época -
das leis da vida, criadas por Deus.
A partir dos anos sessenta,
do século XX, o mundo despertou com as mulheres liderando um movimento pelo
voto feminino. Eram as “suffragettes” que saíram ás ruas em Paris e em Londres,
foram presas, apanharam da força policial. Ganharam!
O feminismo (que chamo de
naturalismo) tinha sido iniciado. As instituições religiosas, com medo de perder
o crédito, renitentes, continuaram com as mesmas convicções de milênios atrás,
mas agora lêem apenas meia dúzia de pequenos parágrafos dos livros sagrados
porque o restante já vai contra a “onda” da verdade: Homens e mulheres têm os
mesmos direitos, só não são iguais porque os homens têm alguns gramas a mais de
onde saem espermatozóides e as mulheres uma vulva que conduz a um útero onde se
guardam óvulos que despencam de mais ou menos 28 em 28 dias.
Existem preservativos e
controladores que podem impedir que os espermatozóides encontrem os óvulos e
provoquem um nascimento que não seria oportuno se tais preservativos e
controladores não existissem. Tanto
homens quanto mulheres sentem um prazer indescritível e semelhante quando unem
estes dois abençoados órgãos, prazer que pelos vistos existe desde a mordida da
maçã. Ainda acho que Adão e Eva transaram e depois comeram a maçã porque lhes
deu uma fome danada depois do ato sexual.
Deus, em sua infinita
bondade, deu-nos o raciocínio, a opção de escrevermos a vida da humanidade com
a certeza de que será escrita também nos céus e isso sim, é a infalibilidade
que Deus aprova. Aí estamos nós, homens e mulheres conquistando a Lua, Marte,
Morte. As mulheres de hoje chamam os homens de machistas, os homens de hoje,
culpam as mulheres por lhes mudarem as regras, mas nem homens nem mulheres
pedem às suas Igrejas que atualizem as escrituras, que lidas a público ou nos
lares, ou isoladamente, provocam a intuição de que algo está errado e não seria
nos livros porque são considerados sagrados, a palavra de Deus...
Seria necessário voltar
urgentemente a escutar a inspiração divina para vermos o que Ele realmente
disse ou diz nos dias de hoje. Aparentemente já não existem santos que escutem
o que Deus está dizendo, porque Deus não deixou de inspirar.
Os moços e moças de hoje
estão na perfeita onda divina de progredir e evoluir, sem ficarem presos a
interpretações não atualizadas do que é a humanidade, sua moral, suas leis,
suas religiões. Já não casam como casavam, já não amam como amavam, já
questionam as leis, a moral, as religiões, a própria humanidade e o caminho que
esta trilha, como numa onda, independentemente de tudo isso, sem combinar, sem
líder que lhe diga que rumos tomar. A humanidade atropela, passa por cima de
tudo e segue seu caminho.
Para os mais idosos, que não
se atualizaram, a mulher ainda é escrava de suas vontades, deve fidelidade que
os homens não têm, devem receber salários diferenciados porque não são homens e
porque, principalmente, foram degradadas, anuladas, rebaixadas a um segundo
grau de humanismo nos livros sagrados. Precisam atualizar a mente, mesmo que o
corpo não o permita. Assim não farão sofrer a juventude em nome de algo que não
dominam nem verdadeiramente conhecem ou sentem.
A Primavera Árabe não é a
Primavera que todos pensamos. A Primavera Árabe é o primeiro passo para a
entrada de uma outra onda menor, na enorme onda da humanidade.
Crescei, multiplicai-vos e
evoluí. Foi isto que Deus disse, mas só escreveram o Crescei e multiplicai-vos...
É preciso voltar a escutar Deus, e escrever nos livros o que não ouviram porque
a onda da humanidade, de então, não o permitiu.
Honrai pai e mãe, e filhos e
filhas, Mas só escreveram Honrai pai e mãe, e os Pais tomaram os filhos como
escravos que lhes deveriam fazer as vontades.
Não matarás em qualquer
circunstancia, Mas só escreveram não matarás, para justificar os exércitos e a
vingança.
Não cometerás adultério, nem
com homem nem com mulher... Mas só escreveram Não cometerás adultério, para que
fosse aplicado ás mulheres. Os homens podiam ter haréns...
E então? Para onde vamos, e
com que fé?
Rui Rodrigues
Portugal - Crise econômica, o fado, e como sair da crise
A Crise Econômica Portuguesa e o Fado – Como sair da crise.
Neste quadro
de Malhoa que simboliza o Fado, as figuras
expostas não são nem a Severa
nem o conde do Vimioso. As figuras expostas são a Adelaide que tinha por alcunha a “Adelaide da
Facada”, por numa briga ter ficado com cicatrízes na face esquerda (por isso
aparece no quadro nessa posição) e o guitarrista
é o Amâncio, amante da Adelaide.
Amália Rodrigues e
atualmente Marisa, não era e nem é uma Severa, como a do quadro, mas sabia e
sabe cantar muito bem o Fado, como neste trecho de Pedro Homem de Melo“
«Povo que
lavas no rio.
Que talhas com teu machado
As tábuas do meu caixão!
Pode haver quem te defenda
Quem compre o teu chão sagrado,
Mas a tua vida não…»
Que talhas com teu machado
As tábuas do meu caixão!
Pode haver quem te defenda
Quem compre o teu chão sagrado,
Mas a tua vida não…»
http://www.youtube.com/watch?v=xqac-VfmflE (Amália
Rodrigues)
Mas o que o Fado tem a haver
com a crise econômica atual?
No meu entendimento tem tudo
a haver. Somos uma sociedade que tem medos, que só fala em segredos, lamenta-se
constantemente por se julgar uma “coitada da vida”, e que espera milagres de
Deus, a re-ressurreição de Jesus, a vida eterna, Amem. Enquanto isso entrega as
decisões do dia a dia a uns vigaristas que desfilam a sua simpatia pelas ruas e
aldeias á procura de votos nas eleições e depois tomam atitudes que desperdiçam
os nossos esforços de economizar para pagar impostos, gastam á tripa forra,
distribuem verbas como querem, criam mecanismos que beneficiam uns e outros,
mas que deixam o povo a cantar o fado pelas ruas da amargura. Este nosso povo
canta o fado e reza padre nossos e ave marias, na vã esperança de que Deus o
ouça e mande governantes honestos que lhe melhorem a vida.
Esses políticos estão associados a Partidos políticos. Fazem o que esses partidos querem. Não há políticos pobres, remediados ou pouco ricos. Estão todos gordos e os Partidos têm verbas para tudo, menos para aliviar o sofrimento dos cidadãos, dar-lhes serviços públicos decentes a que têm direito pela enormidade de impostos que paga. Esses partidos políticos são espelho de todas as filosofias políticas: são comunistas, capitalistas, socialistas, e à mistura, todos têm um pouco de extremistas, fascistas, e outras aberrações das filosofias destinadas a governar como se os cidadãos fossem escravos e não “patrícios”, como no Código Romano que ainda adotamos, com o “Pater Famílias” que desconhece as “Mater Famílias” que já existem aos montes por este Portugal afora.
A solução para a crise
econômica, neste caos e descrença política, somente poderá vir de uma
manifestação popular que aprove via NET, de forma urgente, uma NOVA
CONSTITUIÇÃO, parágrafo por parágrafo, que não possa ser alterada sem aprovação
na mesma forma, para evitar que esta classe de políticos, instruída em Partidos,
que beneficiam os protetores dos Partidos, que escutam nos corredores de S.
Bento as pressões dos que podem pagar por decisões, não surjam, JAMAIS, no seio
de nosso território.
Só assim Portugal poderá
continuar na Zona do Euro ou ficar fora dela como a Inglaterra, permanecer na
Comunidade Européia ou não, decidir os seus destinos sem as decisões
unilaterais de alguns “PATRICIOS” que
tratam o povo como escravos sem direito a opinião.
Opinião não é apenas poder
expressá-la em praças públicas, mas ser ouvida pelo voto em S. Bento ou em
qualquer Órgão Público onde se tomam as decisões pelo voto daqueles que, definitivamente, não nos representam!
Opinião, não é sair com toda
a valentia, sozinhos ou em meia dúzia, a vociferar impropérios contra os
governantes, molhar as mágoas na água benta das igrejas ou no chorar das
guitarras do Fado. É fazermos, todos juntos, alguma coisa efetiva, no sentido
de mudar o que achamos que está errado. O povo português, os cidadãos portugueses a não se juntarem em torno de um rumo, uma decisão efetiva, continuarão a cantar o fado do presente e do passado, não o do futuro!
Não ha muita coisa errada que precisamos fazer mudar?
Não ha muita coisa errada que precisamos fazer mudar?
Sobre Democracia
Participativa :
segunda-feira, 11 de junho de 2012
Ensaio sobre a Saudade e uma receita
Domingo passado passou por aqui no Bar do Chopp Grátis um sujeito especial. Um velho amigo meu. Trouxe um saco de peras do supermercado e quis surpreender-me com uma receita de bolo simples e saboroso. Trouxe também 250 gramas de manteira, 250 gramas de açúcar mascavo, 250 gramas de farinha e 250 gramas de açúcar comum. Pediu-me um pirex médio e um cálice de vinho do porto. Misturou a manteiga com o açúcar mascavo e a farinha. Ficou uma farofa um pouco úmida. Disse-me que era assim mesmo. Lavou e cortou as peras em fatias finas e espalhou a metade pelo fundo do pirex, jogando o cálice de vinho do porto por cima. Disse-me que se pode usar qualquer licor, Whisky, mas que o vinho do Porto lhe dá um toque especial. Em cima da primeira camada de peras cortadas em fatias, colocou a metade da farofa. Nova camada de fatias de pera, e nova camada de farofa. Levou ao forno, esperou até o açúcar mascavo começar a ficar marrom e retirou. Mais ou menos uns vinte a vinte cinco minutos. Provamos. Aquilo era uma loucura de bom.
Enquanto preparava a receita, começou a falar-me sobre saudades, porque tinha vindo até mim exatamente por isso. Sentira saudades e resolvera brindar-me com uma receita de sua avó. Eis o resumo do que consegui guardar do que disse:
Ensaio sobre a saudade
Saudade parece estar
estreitamente associada ao “quando”, porque este termo “quando” marca uma divisão
entre dois momentos: o momento em que se têm alguma coisa, e o momento
seguinte, em que essa coisa já não nos pertence, ou não faz parte de nossos
momentos.
Quando nasci chorei. Senti
saudades do útero quente, macio, equilibrado, tranqüilo, de minha mãe. Meu
processo na relação com a saudade começou nesse instante. Falta de conforto era
o meu primeiro significado de saudade. Em outros nascimentos a que assisti,
anos mais tarde, ouvi dizer que “era” assim mesmo. Se a criança não chorasse
teriam que lhe dar um tapa nos glúteos. Coitadas das crianças. Não é uma boa
forma de entrar neste mundo!
Quando minha mãe me dava de
mamar, sentia-me bem com sua mão sobre meu estômago, minha boca sorvendo o
alimento de seu peito, o calor de seu corpo que me fazia sentir confortável,
amparado. Quando depois me depositava no leito, eu chorava. Sentia saudade
daquele bem estar. A falta do bem estar naquele leito sem calor, inerte, era o
segundo significado de saudade. Minha mãe poderia ter ficado um pouco mais
tempo comigo no colo, mas mães têm muito que fazer.
Quando um dia, malas
prontas, casa desfeita, família a bordo de um transporte nos mudamos para outra
cidade, senti saudades de minha terra natal. Criança aceita as necessidades da família embora não
as entenda muito bem, e mesmo quando entende, maldiz as necessidades de mudar,
culpa tudo o que está por detrás dessa necessidade que a provocou. Crianças mudariam o mundo para que
quem quisesse mudar de lugar o fizesse por querer e não por necessidade. Cedo descobrem
quem é que deve promover a existência de trabalho e bem estar para as famílias.
Quando um dia a conheci,
senti algo muito diferente. Completamente diferente de tudo que tinha conhecido
até então. Entre tantas mulheres neste mundo, ela tinha voz, olhos, corpo, e
usava roupas, adereços, perfumes como todas as outras, e pintava os lábios,
dividindo-me o olhar entre os olhos úmidos e os peitos generosos arfantes, as
mãos úmidas nas minhas, como a me dizer que todas as suas partes estavam também
úmidas, desejosas de atenção e carinho. Mas era diferente de todas as outras.
Descobri então que depois deste sentimento que nos parece único, buscamos a
repetição desse mesmo prazer em novos encontros. E a cada encontro, a nova
felicidade de encontrar não a mesma mulher, mas o momento de sentir o que se
sentiu com a primeira. E vi que homens e mulheres são feitos da mesma natureza,
e não feitos um para outro, mas todos para todas e todas para
todos. Buscamos aquilo de que sentimos falta e a isso se chama saudade.
Quando minha vida se fez de
viagens e mudanças, e a isso já me habituara, parte de meus sentidos se
acomodaram na insensibilidade de achar que a vida era assim. O lar já não era
um tronco com raízes, mas pedaços de troncos cortados espalhados pelo vasto
chão onde ainda plantava minha vida com minha família. Cada pedaço de tronco um
lar largado no passado, cada lar uma tênue lembrança. Deles não havia saudades.
Quando a família cresceu e
se dividiu, cada um me deixou seu quinhão de saudades, cada quinhão com sua
intensidade, cor, calor, perfume, ecos de palavras, ecos de expressões, ecos de
alegrias e de tristezas, um saldo de vida em que nem tudo se resume a saudades.
È uma saudade diferente de todas as outras. No meu primeiro sentimento de
saudade, eu estava nu. Agora é a saudade que está nua, sem adereços que a
distorçam ou a camuflem.
Quimicamente o amor pode ser
interpretado como efeitos sensoriais que nos provocam inundações de produtos
químicos em nosso cérebro e que nos dão a sensação de prazer. A sua falta
provoca dependência, saudade, tristeza, até depressão, e isso explica o comportamento
amoroso de casais em que um deles, normalmente as mulheres - até pelos efeitos
da TPM - privam o parceiro da sua presença e de seus carinhos para que lhe
sinta a falta, a saudade, a necessidade de voltar à sua companhia. É o “jogo do
amor”, com a ferramenta da saudade a dar-lhe, a cada dia, um dia diferente.
E nesse jogo da vida
passamos nosso tempo a pensar e a decidir no que vale a pena investir o nosso
tempo, criando saudades, desprezando saudades, prisioneiros de saudades.
Será a saudade uma forma de
amor, ou uma ferramenta, uma arma, um engodo da natureza?
Rui Rodrigues
Armando a Roubalheira
Armando a Roubalheira
Taumaturgo Bode, Zeca Vamporra e Verônica Dúbia se encontram no Bar do
Chopp Grátis.
Chovia a Cântaros. As ruas da cidade estavam praticamente
inundadas por falta de interesse público em resolver qualquer problema. Parecia
que os céus desabavam sobre a cidade e que os deuses patrões a humanidade, já
que nos condenaram ao trabalho eterno, estavam ausentes. Os governantes que
elegemos para nos representar nem apareciam na TV para se defenderem dos ataques
verbais lançados na mídia e pelas redes sociais. Estávamos em época pré eleitoral. Ninguém faz nada e tinham feito muito pouco. As denuncias públicas de roubalheira estavam pelos jornais, impregnavam até os poucos banheiros públicos ainda existentes. Sem banheiros públicos, velhinhos mijam nas calças ou nas ruas. A sociedade condena, mas já urinou em algum lugar e nem sofre de continência urinária.
Fui até à porta para fechar o
Bar. Tinha havido alguma freguesia pela tarde, mas agora à noite não havia
ninguém na área, e até os automóveis eram poucos. Já junto à porta, vi parar um
táxi. Percebi que a noite seria longa. Nada mais nada menos que um homem que eu
não conhecia, gordo, avantajado, estava acompanhado de três personagens que eu
conhecia muito bem. Eram os fantasmas Taumaturgo Bode, Zeca Vamporra e a linda
e gostosa Verônica Dúbia esta a mais linda fantasminha, minha camarada. Voltei
a pousar o gancho da porta de correr a um canto e com uma vênia,
indiquei-lhes o caminho da sala principal do Bar. Cumprimentaram-me com acenos
de cabeça e entraram.
Verônica Dúbia pediu que lhes disponibilizasse a sala
reservada. Acompanhei-os e preparei-me para anotar os pedidos.
(Verônica Dúbia) – Deixe-me apresentar-lhe um amigo nosso, o
senhor Karl Kaskat. Ele gosta muito de animais e tem uma ONG que só cuida de
bichinhos. Ele faz muita propaganda para defender o seu zoológico. Sai por aí
grudando propaganda em todos os postes da cidade. É muito rico e poderoso e a
ONG é auto-sustentável. (E olhando para eles) - O que vamos traçar?
(Taumaturgo Bode sorrindo) – Um traçado mesmo!
(Zeca Vamporra) – Um Bloody Mary...
Karl Kaskat – Uma garrafa de champanhe para mim e para ela
(apontando para Verônica Dúbia)
Os outros dois se insurgiram (Taumaturgo Bode e Zeca
Vamporra): -Péraí (disse o Zeca). Nesse caso não vamos destoar. Vamos todos de
champanhe... (Verônica Dúbia arrematou): - Nacos de lagosta na manteiga com
limão, torradinhas com caviar e rodelas de ovo e bolachas champanhe, pela ordem
para acompanhar.
Discretamente saí e fui preparar os drinques. Olhei em volta
para ver se alguém estava vendo, e liguei o meu programa de “vigilância” do
interior do Bar, mais especificamente da sala reservada e cliquei em “gravar”.
Preparei as bebidas e os petiscos e levei pessoalmente, em duas viagens, até a
sala. Não quis que vissem uma amiga escondida atrás do balcão. Se vissem eu estaria numa encrenca dos diabos.
Conversavam em voz baixa e estavam muito animados, as cabeças sobre a
mesa, umas na direção das outras demonstrando confiabilidade, aliança, congraçamento. Por via das dúvidas face ao tipo de petiscos,
supri a mesa com bastantes guardanapos.
- Quem paga o táxi? - (Perguntou Verônica Dúbia).
- Eu pago, disse Karl Kaskat. Já paguei a conta também.
Sabem que comigo não há problema de dinheiro... (todos assentiram com a cabeça).
Eram duas da manhã quando finalmente saíram do Bar.
Ao efetuar a limpeza da mesa, verifiquei que tinham escrito
nos guardanapos. Estavam todos rabiscados, cheios de contas, pontos de interrogação, cifras
envoltas em círculos. Deduzi que os valores se referiam a moeda nacional e
pelas siglas que se tratava de uma distribuição de um botim,um tesouro, e pelos valores anotados, deveria ser o tesouro nacional.
Pensando já em não dormir, assegurei-me mais uma vez que as
portas do Bar estavam bem trancadas e assisti à gravação. Para meu desespero, a
gravação estava deficiente e cheia de lapsos. Não tinha explicação para isso.
Mas pude entender o que se segue:
-...O resumo é o seguinte: Com o grau de insatisfação da
direita e da esquerda, face aos escândalos da política, pode acontecer do TERSOL ganhar as próximas eleições. Nas anteriores já conseguiram mais de vinte milhões de
votos. Precisamos de muito dinheiro para as eleições, para comprar os votos e
obrigar ao voto de cabresto (disse o Zeca Vamporra).
-... O Karl Kaskat tem que ficar calado o tempo todo durante
os interrogatórios. Não pode entregar ninguém senão damos um jeito e tem que levar chumbo... Internamente eu asseguro o imbróglio para demorar até vencer as oposições pelo
cansaço. Os que recebem mensalmente vão negar tudo que disseram e vão ficar calados também
(Taumaturgo Bode e virando-se para o Karl, disse): - Entendeu direitinho?
(Karl Kaskat engoliu em seco).
-... Não se esqueçam que as licitações são sempre de “mão na
cumbuca”. Por isso todas as outras empresas estão angariando fundos porque ganharam obras no programa como num pacote. A minha
empresa ganhou umas obras, elas ganharam outras. Dinheiro não vai faltar. Minha
OGN sempre tem dinheiro, não é tanto, mas posso arranjar algum. (disse Karl Kaskat, o
único que não era fantasma, além de mim, é claro, mas todos nós virtuais).
.-... Vão ser mesmo as eleições mais caras de toda a
história. Já estou pensando no que fazer com as sobras de campanha. Não quero
levar uns tecos como o PC. (disse Zeca Vamporra, e voltando-se para Taumaturgo
Bode, complementou:) – Não farias isso comigo, Taumaturgo. Farias?
Taumaturgo balançou negativamente a cabeça várias vezes de forma enfática, dizendo: - Eu? que é que eu tenho a haver com isso? (ninguém respondeu nem sim nem sopas).Mas podem deixar que vou falar com ela para impor sigilo nisso tudo e ainda aumentar o valor das obras para não prejudicar o andamento dos negócios.
-... Sei que os Bancos vão contribuir com uma baba muito
grande! (Verônica Dúbia), e com verbas do Banco de Desenvolvimento através de “empréstimos”
que depois viram pó com os prejuízos, os esquecimentos e os Contadores que
sempre dão um jeito na contabilidade do Banco... Grana no bolso e barra limpa!
-... Não !!! está tudo bem (disse Taumaturgo Bode). Só tem meia dúzia de gatos
pingados nas ruas de vez em quando. Revolta popular igual à do impeachment está
fora de cogitações. Ninguém sabe de nada destas tramoias embora todos desconfiem. Até lá no meu meio eles aprovam qualquer coisa sem nem ler o que
aprovam. Estão lá só para ganhar grana e obedecer aos partidos. Na hora de assinar olham pra mim e já me conhecem. Aprovam direitinho. Eu acho que
aquela cena do Impeachment foi lamentável. Nunca deveria ter acontecido.
-... Ideologia já era (disse Zeca Vamporra). A classe C já se julga da classe
média, quer ganhar mais e gastar mais. Como ganha mais um pouco do que o nada
que ganhavam, estão quietos e sob controle. Um dia se dirão
capitalistas. (pelo vídeo vi que todos abanavam a cabeça afirmativamente)
-... É. O caminho parece que é o capitalismo mesmo.
(Taumaturgo Bode). Quem não gosta de ter algumas coisas básicas como automóvel,
computador, celular, bolsas caras, dinheiro para sair do SUS, morar em bairros
sem esgoto a céu aberto, etc... No comunismo, no socialismo e no capitalismo
sempre houve e ainda há bairros melhores e bairros piores que são ajuntamentos
de restos de lixo. Nem diferença há nas proporções. Por isso que fiz a
transição daquela dura para esta mais mole.
Começaram a se arrumar nas cadeiras, apanhando os seus pertences. Iam sair.
(Karl Kaskat se adiantou)... Nada disso! Podem deixar que eu pago a conta!
A ultima imagem gravada foi a do Karl Kaskat segredando em meu
ouvido que depois passaria pelo Bar para pagar a conta porque no momento estava
desprevenido. Assinou num guardanapo.
Minha amiga saiu detrás do balcão e veio para os meus braços, ali mesmo no sofá. Já tinha esperado tempo demais.
Rui Rodrigues
Assinar:
Postagens (Atom)