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quinta-feira, 13 de junho de 2013

O mendigo ilustrado


 Papo particular com Drummond
O mendigo [1] ilustrado


Não sabem o que é o inferno de passar todas as semanas três dias seguidos sem dormir, trabalhando numa REVAMP. Revamp é a reforma contínua de uma fábrica sem que ela pare de produzir: Os trabalhos se realizam nas interrupções para manutenção e aquela era enorme, lá em Cubatão numa época em que era o esgoto do mundo, de tão poluída. Por vezes, se os trabalhos de reforma demorassem até um dia mais, podia negociar-se com a produção da fábrica esse dia a mais para trocar outros equipamentos até então não previstos, mas planejados como alternativas. Trabalhar sem cochilar, sem tomar qualquer remédio ou droga exige força de vontade, determinação, e a atenção têm que ser redobrada para que não nos aconteça nada de grave subindo e descendo escadas de marinheiro, passando por debaixo de equipamentos, aspirando gases letais ou tocando num cabo energizado desencapado. O alívio vinha quando ia para casa descansar, completamente arrebentado. Havia, a meu nível, quem fosse para casa dormir, e voltasse de madrugada. Passava a mão numa estrutura suja de fuligem e graxa e passava no rosto. Mas os olhos não estavam fundos, havia 450 operários que nem os viam pelo empreendimento, testemunhas caladas porque em nada lhes atrapalhava a vida. Um dia foram contar que o sujeito roubava rolos de fios de cobre e cabos além de outros utensílios. Descobriram até a loja onde eles vendiam esses artigos em Minas Gerais. A Revamp era em Santos, mas eu já não estava mais na REVAMP... Saí quando faltava apenas 30 dias para terminar. Meu saco havia torrado. O salário não era condizente. Mandei a empresa e os filhos da puta tomarem no cu e desapareci na noite a bordo de um ônibus com minha mulher e meus dois filhos. O que mais me marcou em Santos não foi a obra nem o inferno que era. Foi uma notícia de radio que ouvi sobre uma reportagem de uma emissora santista, sobre a população de mendigos na cidade. Em alguns fins de semana que tive que passar por lá, num apartamento alugado pela empresam de frente para a praia, e que quase não usava, aproveitei para bater um papo com uns mendigos. Nesses dias receberam uma gorda ajuda. Há algo que me identificava com eles: A dúvida do que vale ou não a pena, mas só eles tinham certezas. Desses, conto a história de um.

A barra na gata[2] era pesada e eu dividia o apartamento de Santos com um boliviano. O boliviano não entendia nada de montagem metalo-mecânica, não sabia como dimensionar uma solda nem como calcular uma treliça. A maioria dos engenheiros comia na mão dos encarregados e mestres. Naqueles tempos já de final de ditadura, as admissões se faziam ora por indicação, ora por imposição “comercial” de mandados de soldados de patente, mesmo que o diploma de engenheiro fosse comprado, falsificado. Eu me garantia com as cadeiras de Estruturas Metálicas e de Mecânica, do meu curso de engenheiro civil da Fluminense. O boliviano que dava suas saídas para descansar mesmo durante o dia, só tinha duas coisas boas: Não me roubava nada e se preocupava comigo, aconselhando-me a não trabalhar tanto. Eu entendia o seu ponto de vista. Um dia, desabafei com ele quando saí da Usina, numa sexta feira em que tinha que fazer plantão no sábado e no domingo. Estes plantões exigiam apenas olhos atentos e percorrer todas as instalações para verificar se tudo estava em ordem, porque somente havia pessoal da limpeza e algum pessoal de escritório colocando seu trabalho em dia. Disse ao boliviano:

- Bolívar... Estou de saco cheio e vou sair desta merda...
- Não faça isso... Disse-me sorrindo. Tem família, não tem?
- Claro que tenho.
- Então pensa na tua família. Eu tenho a minha em Santa Cruz de la Sierra que já não vejo há três meses. É duro, mas o sustento está garantido. E vou te dizer uma coisa... Se você sair essa obra pára. Nunca vi ninguém como você ter moral para ir ao puteiro de Kombi, tirar o encarregado de cima da garota no motel, e trazer o cara para trabalhar às duas da manhã... O que você deveria fazer era pedir aumento de salário. Agora era a hora.
Não me lembro do que lhe respondi, mas lembro-me do que me disse em seguida.

- Vem comigo... Vou te apresentar a um amigo que fiz aqui em Santos.

E me levou duas quadras abaixo, em plena avenida até chegarmos perto de um bar cheio de gente. Pela calçada, havia mendigos. Poucos, mas havia. Um deles abriu um sorriso quando viu o boliviano e olhou depois para mim, como quem diz: Quem é este? A barba estava crescida, maltratada, seu cabelo era gorduroso e poeirento, a pele dava sinais de crostas escuras de sujeira. Trazia um pulôver que já deveria ter sido moda e agora já era apenas quente. Os pés descalços, a bainha da calça lustrosa cheia de fiapos. Ele mesmo era um fiapo de uma coisa muito grande chamada humanidade. Seu cenho se franziu imediatamente, adotando o olhar de cachorro pidão, e pediu:

- Bolívar... Tem um trocadinho[3] hoje para o amigo? Tem?

Bolívar olhou para mim, enfiou a mão no bolso e tirou uma nota que já tinha preparada. Estendeu-lha dizendo para ter cuidado e não ir gastar em cachaça. O mendigo sorriu. Difícil não beber com uma vida daquelas. Bolívar tirou do bolso um sanduíche embrulhado em papel celofane e deu-lho também.
Não lembro dos detalhes iniciais a seguir, mas a conversa se estendeu. Fomos parar num banco de calçada da avenida, de frente para a praia. O mendigo nos contou a sua historia.
Tinha sido casado. Tinha filhos, não sabia onde a família estava nem queria saber. Por vezes sentia saudades das crianças que já eram adultos, e suas lembranças eram sempre de quando eram pequenas. Nem queria imaginá-las adultas. Trabalhara feito um filho da puta como médico até os quarenta e cinco anos. Agora vivia de esmolas há 12 anos, desde então. 
- E o que o fez largar a profissão? – Perguntei.
- Olha... Uma série de coisas... Nada que acontece na vida se deve a uma causa só. É como desastre de automóvel. Só estar bêbado não produz desastre. É preciso que venha outro distraído perto de você, ou um poste ou gente no caminho e os freios façam o carro parar no tempo certo. Foram muitas coisas que se sucederam. Casei e não consegui entrar em sintonia com minha mulher. Pelas minhas contas o dinheiro deveria sobrar, mas ela, que cuidava da casa, sempre dizia que não dava. Quanto menos dava a grana, mais plantões eu fazia, e quantos mais plantões fazia, mais tempo ficava longe de casa. Volta e meia ela me dizia que eu não ia para casa porque tinha que ter algum caso no trabalho ou fora dele. Não era verdade. Eu chegava cansado, e ao ouvir críticas injustas, eu perdia a vontade de transar. Ela se aproveitava disso para me criticar e me fazer perder ainda mais a vontade. Ela estava jogando na relação e eu não. Depois vim a saber que ela tinha não só um amante, como também já tivera vários. Mas quando eu soube disso, já tinha perdido a vontade de continuar trabalhando para fazer mais patrimônio que teria que dividir com ela, os filhos já estavam com a cabeça feita pela mãe que sempre dizia que eu estava errado, ou que o que eu dizia não tinha importância. Suas palavras eram sempre como facas. Agindo dessa forma ela tinha sempre a sua “consciência” tranqüila, de que o cafajeste era eu. As crianças também achavam embora não me dissessem nada, mas quando eu lhes pedia para fazerem alguma coisa, notava-lhes uma inconformidade ou um questionamento nos olhares dispersivos. Todos pensavam que me enganavam. Claro que quando a clínica em que eu trabalhava me pôs na rua, eu já estava preparado. Lutar para quê? Só para mim? Ora... Só para mim, a rua era o bastante...
Ficamos todos em silêncio por uns momentos, questionando-nos a nós próprios sobre o que era a vida e a motivação para vivê-la ou torná-la muito extensa.  Sobretudo, e depois conferimos, tanto Bolívar quanto eu pensávamos não na mulher e filhos porque tudo estava bem conosco, assim esperávamos e tínhamos confiança nisso. O que nos preocupava era o tal do “pontapé na bunda” da clínica, no caso do médico mendigo, ou da gata onde trabalhávamos. Isso poderia acontecer a qualquer instante. Certamente que nos relatórios escritos ou verbais diários, o mérito do trabalho deveria ir para os caras que passavam a noite em casa, e pela madrugada passavam fuligem no rosto. Esses caras falam muito e trabalham pouco. São espertos. Detectam uma falha mesmo sem importância e a relatam aos superiores. Inquirido, o cara que trabalha duro e eficientemente, mas não sabe disso, pode ser apanhado sem choro nem vela. Eu não tinha falha e os 450 homens e algumas poucas mulheres que trabalhavam sob minhas ordens poderiam atestar o meu trabalho, e o atestariam se inquiridos, mas esse dia poderia chegar assim mesmo. Quando cheguei a Cubatão, os salários estavam atrasados assim como as horas extras. Foi um trabalho duro conseguir que os pagassem, mas consegui. Sempre se lembravam disso. Companhias que trabalham para o governo têm sempre as costas quentes com a justiça do trabalho. Quando as obras com o governo terminam, têm que enfrentar o mercado privado, e então se deparam com um enorme problema: Não estão preparadas para enfrentar a concorrência, para trabalhar de forma mais honesta.

Não sei o que foi feito do bom Bolívar, do bom mendigo que ainda vi mais um par de vezes tentando convencê-lo a voltar para a ativa, e só muito mais tarde soube que a gata tinha encerrado suas atividades logo que o mercado mudou do estado para a iniciativa privada.

Mas eu já tinha saído há muito tempo e já estava na Colômbia. Quando a gata investiu numa empresa de Gerenciamento de Construção, também não estava preparada e também encerrou as portas mais um par de anos depois.

A vida constrói-se com atitudes do dia a dia, em torno do pilar de vida que somos nós próprios. Nada pode cair. Nem nós nem a família, embora sempre haja um “pobre” dentro de cada um de nós, até dos mais ricos. E, se viver com a família, for de todo impossível, então que se abandone o ninho quando todos estiverem aptos para voar.

© by Rui Rodrigues















[1] Os nomes são fictícios para evitar constrangimentos.
[2] “Gata” era o nome dado às empresas que nos contratavam... Trabalhava-se na gata. Minha gata era a Montreal Engenharia, na REVAMP da Cosipa.
[3] Trocadinho, notas pequenas, moedas, de pouco valor como se fossem um “troco” de alguma compra. 

terça-feira, 11 de junho de 2013

Sociedades em transformação e o Mundo Gay


Sociedades em transformação e o Mundo Gay

 Vista do Espaço não se adivinha o que vai pela Terra
A humanidade tal como pensamos que a conhecemos, parece tão complicada quanto o ser humano em si, e se já é tão difícil entender todo o perfil de um ser humano e suas características, podemos imaginar como será ainda muito mais difícil entender a humanidade, um enorme ser composto de pequenas células a que chamamos de “seres humanos”, nem com tanta propriedade, ou pelo menos com propriedade duvidosa. Somente por volta de 1915 com o aparecimento de Sigmund Freud a complicada mente humana começou a ser desvendada. Hoje já sabemos onde se encontram os centros de memória, que a metade esquerda do cérebro comanda o sistema nervoso do lado direito de nosso corpo, que as enzimas têm papel fundamental nas sinapses - que são as comunicações entre neurônios - que existem substâncias que se produzem no cérebro que nos dão alegria ou tristeza conforme a nossa percepção pessoal. E um infinito de coisas que ainda são muito poucas para que tenhamos a descrição completa de como funcionamos. Só recentemente os EUA empreenderam uma pesquisa para mapear todo o cérebro humano a exemplo do projeto Genoma.
 Votos para as mulheres - Londres
Acreditava-se antigamente que ser homossexual era uma doença, tal como a síndrome de Down, que também não é doença. Também se acreditava que com eletro-choques se poderia curar uma “doença” a que chamavam de “histeria” e toda a “anormalidade”, acreditava-se, poderia ser curada com eletro-choques. O escritor Paulo Coelho foi mandando para um hospital, o Pinel, porque tinha “desvio” de comportamento. Acreditava-se em muitas coisas que nem vale a pena enumerar porque somente iria provar que as verdades de ontem já não são necessariamente as de hoje porque a humanidade evolui onde não existam governos que tolham o pensar, solapem a iniciativa privada, restrinjam a educação, matem a esperança de evoluir. Aparentemente estivemos andando à deriva durante milênios e só agora entramos no futuro, e sabemos quase tudo. Ledo engano. Nossos ancestrais pensavam exatamente como nós pensamos hoje. Pensavam que sabiam tudo e que pouco haveria para descobrir. Voar era um sonho impossível só reservado às aves, golfinhos eram peixes como os outros, mulheres tinham que usar cintos de castidade e homossexuais eram a vergonha da tribo, do bairro, da nação, eram apedrejados, condenados à morte. Há sociedades que evoluem mais rapidamente do que outras, porque neles há mais das liberdades a que me referi acima.  E a humanidade muda devagar, mas sempre cada vez mais rapidamente. Chegaremos a um estágio de progresso que não poderemos acompanhar. Depois de sairmos das Universidades como os mais brilhantes e atualizados cientistas, podemos ficar fora do mercado dez anos depois, porque as pesquisas técnicas evoluirão de tal forma que nesse espaço de tempo nos teremos transformado em analfabetos técnicos, completamente defasados das ultimas inovações tecnológicas.
Stephen Jay Gould - PaleontólogoComecei a gostar das obras de Freud ao ouvir falar dele quando tinha aproximadamente meus doze anos, mas só pude lê-lo aos dezoito através de uma obra de Emílio Mira Y López, um discípulo seu. Passei meus anos seguintes cavoucando em livros de biologia, astrofísica, paleontologia, lendo tudo o que podia e que achasse que iria complementar o que já aprendera. Quando passei os olhos pela obra de Darwin, o mundo ficou menor ainda do que depois de ler sobre Freud. O mesmo aconteceu quando li Jay Gould. E o mundo se encurtou ainda mais ao ler Stephen Hawking sobre a sua mecânica do universo.  Quando consegui entender melhor – mas jamais definitivamente - o mundo que me cercava, vi que tudo estava entrelaçado e a teoria do Caos estava no contexto do tudo. Quando vi que as mulheres estavam indo para as guerras como parte de corpos de exército, o ventre materno tinha perdido definitivamente a consideração que tinha antes e já nem tinha a mesma importância: Podiam ser abatidos em combate como qualquer pênis. O aparecimento da pílula não foi o grande passo ou o pretexto para a independência feminina, mas uma boa alavanca, seguindo um trabalho feito anteriormente pelas sufragettes na França e na Inglaterra, quando saíram às ruas exigindo o direito de votar. Hoje as mulheres israelenses saem às ruas pelo direito de orar a D’Us no muro das lamentações, coisa que por oito mil anos foi apenas privilégio dos homens. Não há nenhuma religião que não seja machista, e já podemos adivinhar que, não por falta de fé, mas por lógica divina, as religiões deverão ser abertas ao público feminino. Não se pode imaginar uma guerra real entre sexos, que possa fazer parecer uma brincadeira a “guerra fria dos sexos” a que estamos já habituados desde que Mary Quant subiu a bainha das saias de quase um metro.
Charles DarwinMas a humanidade não muda por “moda” ou modismos, seguindo as mulheres do Afeganistão o comportamento das americanas nem as malinesas as de Israel ou da França. A humanidade não muda porque aparece um “líder” com novas idéias filosóficas e todo mundo corre atrás. O futebol é o esporte preferido dos homens, mas não em todo o mundo. É que este evolui mesmo, para valer, e a lógica do “caiu a ficha” acaba por bater à porta de todos nós. O que faz sentido e aparenta ter lógica, seguimos e fica conosco para quase sempre, acarinhado, cultivado como filho, até que a evolução nos permita dar mais um passo. Mas há algo muito importante e que não é visível: O Subconsciente coletivo. O Subconsciente coletivo é um conjunto de premissas fundamentais que não percebemos de forma consciente, mas que reside no mais profundo de nossa mente. É por isso que uma guerra nuclear total jamais acontecerá. Por mais que se ameace, se finja que haverá guerra total, há no subconsciente coletivo o “espírito de sobrevivência”. A humanidade não se quer extinta a si mesma. Em todas as guerras que já houve no mundo, o fim da guerra apareceu no ultimo segundo em que uma nação iria desaparecer – Nação como perfil psicossomático, a identidade de um grupamento social, uma nação sob uma bandeira de pano ou uma bandeira genética. Por mais terríveis que possam ter parecido, e foram, as guerras até nossos dias, nada nem ninguém se extinguiu. Da mesma forma, por mais que devastemos as florestas, a vida na Terra não acabará por causa disso, nem que a humanidade seja varrida do mapa. Há um equilíbrio na natureza, leis na natureza que a preservam, não importa quem ou o que sobreviva, desde que algo sobreviva. A vida neste planeta já foi praticamente extinta por três vezes, com 98 por cento da vida extinta realmente. Os dois por cento que sobraram deram origem a toda a diversidade que conhecemos hoje.
A humanidade sabe que a superpopulação na Terra traz problemas como os que foram verificados em testes com ratos por Pavlov. Manipuladas as áreas de vida, a alimentação e a superpopulação, criando situações de extremo estresse, os ratos se comeram uns aos outros em lutas ferozes nem sempre por alimento. A humanidade não quer de forma subconsciente que se chegue a uma situação dessas vendo familiares tombarem e serem comidos em nome da sobrevivência. Precisamos provar que somos humanos e não apenas animais. Tudo no universo está interligado e tem uma explicação.
Stephen HawkingOnde estão os homossexuais que controlam de forma subconsciente a natalidade em qualquer lugar do mundo, nos países de religião muçulmana? Estão lá. Escondidos, calados, dissimulados para não sofrerem punição.  No entanto, os respectivos governos dizem que isso é proibido pela religião. Pelo contrário, no mundo livre ocidental grande parte da população está preocupada com o numero crescente de homossexuais e transexuais, dividindo o mundo em homossexuais e homofóbicos sem considerar quem aceita a homossexualidade como eu, mas não é homofóbico. O mundo não tem que se preocupar com isso. Ninguém tira o lugar de ninguém e o equilíbrio necessário à humanidade será encontrado e estabelecido sem perigo de extinção da espécie. Mulher é um ser muito gostoso se usada com carinho, atenção, amor, e sempre haverá algumas disponíveis que gostam de homens ou preferem homens.

Parece haver algo ainda mais profundo que advém dos princípios de Darwin, de Freud, da Mecânica Quântica, da Astrologia e da Teoria do Caos quando analisadas em conjunto: O universo é assim, porque desde o principio foi regido por leis que o tornaram assim, permitindo o surgimento deste planeta com a vida que nele vemos, tal como. No fundo, ao olharmos para uma floresta, seu aspecto nos parece caótico, tudo desalinhado. A natureza do mundo vivo é assim, mas há lugares de vida onde não nos parece tão desorganizada, tão desalinhada. È o mundo dos seres humanos com suas fileiras organizadas de exércitos, criando leis para a vida, a exemplo das leis do universo. Porém, no mundo inerte das rochas, vemos cristais com seus átomos tão alinhados e organizados, que chegam a ser transparentes, brilhantes, diamantes. E nós apreciamos tudo isso. A desordem, a ordem, a anarquia e as leis. Em algum lugar, em qualquer instante um pouco disto e daquilo são sempre necessários, ora como num vulcão que nunca se sabe – ainda - quando vai entrar em erupção, ora como as águas calmas de um lago. Ou ainda como a seriedade britânica de seu parlamento ou a bandoleiragem do senado em Brasília, na Grécia, em Portugal, na Espanha e em muitos outros países do mundo, onde até tramitam condenados da justiça, mas isto de condenados da justiça só em Brasília. Porém o mundo evolui e haverá mudanças.   
Parada gay 
Tenho orgulho de não ser homossexual, nem senador neste país, mas tenho orgulho de quem é homossexual. Sou democrata, parece-me que entendo o mundo em que vivo e creio na humanidade porque não há alternativa para ela. As leis da natureza a impedem do suicídio. A Terra não tem o nome de Gaia à toa. Os livros - sagrados ou não - devem ser revistos para não criar divergências ignorantes entre fiéis que não têm condições de entender o mundo que os cerca.

Um brinde à vida, um brinde a todos os seres hetero, homo, ou o que quer que sejam, até abstêmios sexuais. Mas como em tudo, é necessário perceber o entorno e o contorno da “moda”. Mudar de apetite sexual na senilidade pode significar que se trata apenas de uma desilusão, uma falta de opção com o sexo oposto, um modismo para ficar na onda, um desejo de experimentar e depois se defrontar com a realidade de não encontrar saída a menos que se mude de bairro, cidade ou nação.

© by Rui Rodrigues   

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Novela - Cidade Esburacada - cap III -

Cidade esburacada.
Obs.. Capítulos anteriores nesta mesma página, do início para o fim.

Capítulo III – Cidade esburacada e roscas noturnas.

... Cidade esburacada é pouco. O país é um buraco só. As estradas estão todas esburacadas e o trânsito é lento. De repente o solo abate-se e abrem-se imensos buracos que engolem prédios, automóveis, pessoas. Inundações e deslizamentos em todos os estados, abrindo buracos nas encostas. Garotinhos recém desmamados portam armas e saem dando tiros por todo o lado, enchendo casas, carros e pessoas de buracos. Os capacetes de motoqueiros estão esburacados, os carros esburacados, e carro forte ou caixas de banco  horas são uma piada que se conta com um par de bananas de dinamite que abrem enorme rombo de onde sacam a grana. Até postos de polícia estão esburacados por balas de todos os calibres, mas como o país é grande, nem se fala em calibre 22. É de 45 pra cima. Os produtos mais vendidos na economia mundial são armas e drogas. As drogas esburacam qualquer economia doméstica. Nenhuma das duas mercadorias paga impostos, o que abre enorme rombo nos orçamentos anuais. Pior ainda, o lucro das duas sai do país para os cofres dos respectivos exportadores, lá fora... A economia inflacionária também está esburacada. A vida de Robson parecia estar num buraco onde se abria novo buraco onde o enterrariam. Sempre que pensava nesta situação caótica, lembrava-se sempre de uma frase dos anos 70: A vida era assim, “PT-saudações”.

Alguém desligou o rádio na padaria onde de madrugada Robson tomava seu café com leite e duas rosquinhas do tipo donuts. Robson era tarado por rosquinhas. Primeiro dava uma mordida, depois molhava a rosca no café com leite. Comia duas todas as manhãs. Limpou a boca num guardanapo de papel, pagou no caixa e saiu da padaria a caminho da casa do doutor Fausto ainda amassando o guardanapo de papel que acabou guardando no bolso para não sujar a rua. Tinha umas coisinhas para lhe dizer a respeito da esposa no hospital. Fausto concordara em recebê-lo.

Pegou o ônibus quase cheio que ia para a zona sul da cidade. Na Haddock Lobo subiram três garotos de uns quinze anos de idade, mal encarados, com olhar preocupado. Robson conhecia este perfil, os três trocando olhares como se perguntando mutuamente se a hora era agora, naquele instante. Robson previu um assalto e acariciou sua arma enfiada no cós das calças, na cintura, em suas costas. Um dos garotos acertou o motorista com um soco logo que parou na próxima parada, e os dois outros começaram a gritar histéricos que era um assalto. Mostravam suas armas, dois revólveres 38. Robson sacou a arma e atirou sem nem dizer o nome da mãe do garoto. O ônibus parou instantaneamente. Para Robson, menor de idade não pode usar arma. Quando usa uma já não é menor de idade, e é sinal mais que evidente de que tem idade para usar uma. O garoto desapareceu tombado no piso do ônibus entre gritos de passageiros que Robson nem escutou. Um dos outros garotos apontou a arma na direção de Robson, mas ficou sem saber o que aconteceu em seguida. Ficou eternamente sem saber. O terceiro, desarmado, deixou um cheiro pestilento no ônibus, e pulou pela janela. Já na rua, ainda fez um sinal para Robson, com os dedos, como quem dispara um tiro, uma informação de que não descansaria enquanto não pegasse o detetive à queima roupa e o fuzilasse. Criança do crime e bandido só choram quando perdem. Quando ganham são valentes. Robson não os suporta e acha que a lei tinha que ser mais violenta do que os violentos que a afrontam. Aproveitando a confusão que se instaurara no ônibus, Robson saiu e afastou-se. Pegou um táxi que ia passando e sumiu na cidade. Ninguém do ônibus o denunciou quando a polícia começou a perguntar quem tinha salvo o pessoal do ônibus e o motorista. Nenhuma das descrições de sua imagem batia uma com a outra. Antes de sair do ônibus, colocara disfarçadamente um bigode postiço com cavanhaque, uns óculos escuros, tirara o paletó e colocara um boné. Ninguém o reconheceu quando saiu. Fora tudo tão rápido que os passageiros tinham ficado em estado de choque.  

O doutor Fausto em pessoa veio recebê-lo à porta. Não o deixou entrar. Fechou a porta do apartamento, fez-lhe um sinal de silêncio com os dedo indicador na vertical do nariz, o dedão meio curvado, e entrou pela porta da cozinha. Teria sua reunião com Robson em particular na cozinha. A conversa foi breve.
- Detetive Robson, quero mostrar-lhe umas fotos que terá de memorizar. Veja... Reconhece em alguma delas o homem alto, de cabelos grisalhos que perseguiu e desapareceu enquanto seus comparsas, presumivelmente, tentavam liquidar o senhor?

Robson olhou atentamente para as fotos. Reconheceu o sujeito, mas não demonstrou que sabia quem era. Aguardaria a oportunidade certa. Sua vida corria perigo e não queria acelerar os acontecimentos. Havia varias fotos. Naquela em que reconhecia o sujeito, ele estava num bar da zona sul que Robson conhecia muito bem, acompanhado de um animado grupo. Na foto apareciam também alguns personagens famosos do quotidiano carioca e nacional, como artistas, esportistas, empresários, jornalistas. Havia alguém que não deveria estar ali, naquela foto. Era Nicéia, a sua “chuchu”, aliás, Paula... Em face de sua negativa, Fausto disse-lhe:
- Muito bem... Já eliminamos um sujeito. E nesta outra foto? E mostrou-lhe mais uma. Robson também não reconheceu o tal homem. Então Fausto deu-lhe instruções para ir ao hospital e na polícia tentar saber de detalhes da noite da tentativa de assassinato de sua mulher. Fausto ainda enfatizou que se pudesse falar com a mulher dele, de qualquer modo, que o fizesse. Fausto precisava de um nome.

- Pretende viajar nos próximos dias, doutor Fausto? – Perguntou Robson.
- Não. Porquê?
- Preciso de um adiantamento para reparar o meu carro. O seguro não paga o conserto e preciso dele.
- Faremos melhor... Vou apanhar as chaves de um carro meu que está sempre disponível. Espere aqui. Se alguém o esburacar, não se preocupe com ele. Preocupe-se com você mesmo... E saiu da cozinha.  

Quando voltou Robson já tinha feito as suas investigações no aposento. Havia uma agenda com anotações. Ia haver uma festa à noite no apartamento de Fausto. Pelo menos parecia pelo tamanho dos pedidos de bebidas e salgadinhos. Com sua câmara digital fotografou várias páginas. Quando recebeu as chaves, foi até a garagem, apanhou o carro e saiu. Aquele não tinha os dispositivos de segurança que instalara em seu carro agora todo furado. Junto com as chaves viera um envelope com trinta mil reais. Dava e sobrava para o conserto.
Sua Chuchu, pelos vistos, relacionava-se muito bem. Onde estaria deslocada? Na peixaria ou no lugar das fotos? Paula, Nicéia, chuchu... Que outros nomes ela teria? Era uma mulher incrível. Tanto poderia passar por uma militante do MST como por uma madame deslumbrada da zona sul. Pegou seu celular, teclou alguns dígitos e ligou para ela.


- Estou a fim de comer uma rosquinha agora...
Paula nem o deixou continuar – A que horas?
- Agora, disse Robson...
- Topo... No seu atelier?
- Não... Paula... Isto é... Sim... Não... Refiro-me a roscas da padaria. Não estou com muita fome... Daqui a meia hora.
Paula riu do outro lado da linha...
- Cê que sabe... As duas estão disponíveis... Só pra você. Se quiser come uma rosca só, se preferir come duas... Depois me diz de qual gosta mais, ta?


E dirigiu para a padaria. Estava na dúvida se comia três rosquinhas. Sorriu ao perceber como rosquinhas combinavam com uma cidade esburacada. 



Capítulo II – A noite é uma criança desmamada e chora.


A geringonça funcionara. Embora Robson N.F. fosse detetive particular, seu carro estava registrado em nome da firma, mas não da firma de detetive particular. Como era autônomo de qualquer coisa, comprara o carro em nome de sua empresa particular de vendedor ambulante da qual era diretor e único sócio presidente. Desconfiava que o seguro não lhe pagaria o conserto do carro, todo furado de bala, O melhor era mandar tapar os buracos com essas colas de argamassa, cor cinza, dar uma raspada, pintar da mesma cor e passar o carro adiante. Ia matutando nisso a caminho de seu quarto no Beco do Arco do Teles. As empresas não davam lucro na declaração de imposto de renda, porque os lucros eram todos gastos em pequenas coisas do dia a dia e no seu conforto. Descera do ônibus que o deixara na Praça XV e caminhava absorto pensando num possível freguês para vender o carro quando viu uma mulher de vermelho encostada ao famoso Arco. Era Nicéia, que detestava o nome de registro civil, porque nunca foi batizada. Dizia que se chamava Paula, e não deveria estar ali àquela hora. Robson a conhecia de suas noites de tapa buraco. Quando ele ou ela precisavam tapar um certo e conhecido buraco, se encontravam, marcavam para “logo mais” e  ele a esperava em seu “atelier” dormitório. Bastava um piscar de olhos e o outro já sabia para que era. Trabalhava numa peixaria na esquina da outra rua ali perto, quase chegando à 1º de Março. Acercou-se bem devagar, cozido com as árvores da praça. Ela o viu e veio em sua direção. Disse-lhe:
- Biscoito... Fiquei aqui até agora. Nem fui pra casa. Meu marido pensa que estou em dia de mercado noturno de peixe, e nem me espera mais, mas temos um probleminha. Entraram em tua casa, reviraram tudo e nem saíram. Estou até fedendo a peixe e precisando de um banho. Eles nem repararam porque passei por eles rodando a bolsinha e pensaram que eu era uma piranha. Até levantei um pouco a saia, para ver se eles se interessavam, mas estavam muito preocupados e determinados. Vamos dormir aonde?
- Lá em casa. Me espera aqui que já volto. Amanhã nem vou trabalhar. Meu dia foi difícil. Guenta que já volto, Chuchu. Cê viu algum cara forte, cabelos grisalhos, alto pra caralho?
- Não biscoito... Vi um magrelo que deve ser o da faca ou do trêsoitão, um negão tipo carregador de piano, e o motorista que está lá mesmo em frente à peixaria num daqueles que eu queria pra mim, lembra?...

Robson sabia. Foi até a peixaria. Colocou o silenciador no cano da 9 mm e rezou para o carro não ser blindado. Não era. Viu o vidro se despedaçar em pequenos, brilhantes e sanguinolentos diamantes vermelhos. Um olho ficou pendurado no limpador de pára-brisas que ficou zanzando de um lado para o outro com o olho pendurado olhando para todos os lados. Passou pelo carro, olhou o cadáver sem cabeça, retirou-lhe a carteira do bolso do paletó que nem olhou e a enfiou em seu bolso. Foi direto para o seu ateliê.  Chegou em silêncio. 
Quando estava bem perto, tirou o paletó, botou a camisa para o lado de fora das calças, apanhou uma lata vazia de cerveja e começou a cantarolar o funk do “ai se eu te pego”, com voz enrolada de bêbado. Com sua visão angular, percebeu quando a janela se abriu e uma cabeça assomou para ver quem estava bêbado por ali. Certamente pensaria que poderia ser ele, o Robson. Fosse quem fosse, demorou uns escassos segundos para ver se aquela figura era mesmo o tal de Robson. Era o carregador de piano. 
Não teve tempo para mais nada. Sumiu da janela empurrado por duas balas de aço inoxidável, daquelas de arrebentar osso de rinoceronte, implante de concreto armado. Um olho ficou grudado na janela entreaberta. Coisa horrível. Pensou que teria que mandar lavar os vidros até o amanhecer, mas a Chuchu faria isso. Então, meteu a chave na porta e deixou-a aberta. Postou-se na escuridão do outro lado da rua. Fosse quem fosse, ligaria para o celular do motorista. Sem resposta, ficaria impaciente e desceria as escadas para ir para a rua. Não demorou cinco minutos e o seu vulto apareceu armado na portaria perscrutando ao redor para ver se via alguém. Não viu ninguém, nem sequer teve tempo para ver os dois clarões que partiram da nove mm de Robson. Seu corpo caiu para trás como se empurrado por um piano. Meia hora depois, ele e a Chuchu com seu vestido vermelho, tentador, haviam limpado o vidro da janela, que por sorte ficara intacto, descido o cadáver para a rua, que juntou ao do magrelo. Quando subiram para o atelier, já havia um bando de moscas procurando farra.
- Biscoito... Tu é fodão... Falou que ia dormir aqui e vamo dormir aqui... Gostei.
- Chuchu... Sei que cê gosta de sushi quente... Tenho um aqui pra tu... To carente e meio sem forças. Cansadão...


E Chuchu provou o sushi quente até derreter em sua boca quente, úmida, gostosa.  Mas nem naquele dia Robson dispensara o bacalhau à Chuchu, uma delícia da terra. Chuchu gemia de prazer parecendo que chorava baixinho. A noite era uma criança recém desmamada que chorava. Seu nome era Chuchu. Só para ele e o marido dela. Bem a propósito, como se ouvisse seus pensamentos, Niceia disse-lhe antes de adormecer:

- Já disse alguma vez que te amo?
-Não, respondeu Robson.
- Nem vou dizer. Contigo só quero o bem-bom, fuzarca. Pode me usar como quiser, quando quiser.Pra meu marido, que respeito muito, só dou beijinho, bem na frente dos amigos dele. Eles ficam babando, mas com eles não tenho caso. Só com tu.. Pede que eu dou. Diz, que eu faço.

Então Robson adormeceu com a sua mão nos peitos ainda latejantes de Chuchu. No dia seguinte veria as identidades dos presuntos. Com a eficiência da polícia da cidade, só lá pelas seis da manhã a polícia apareceria para fazer perguntas. Tinha tempo para tirar um cochilo naquela cidade toda esburacada.   



© by Rui Rodrigues


Capítulo I – A geringonça

Eram duas horas da tarde. O shopping estava cheio. Robson deu uma ultima olhada numa vitrine, tirou as chaves do carro do bolso, e saiu para o estacionamento. Olhos atentos veriam que do outro lado do enorme corredor de lojas, uma moça saía de uma loja de roupas e se dirigia com as chaves do carro também na mao para o estacionamento.

Robson Filho Neto trabalha como detetive particular no Rio de Janeiro. Mora num pequeno quarto no Beco do Teles, na parte mais antiga da cidade, ali pela Praça XV, uma parte da cidade que costuma morrer às nove da noite, porque não é uma zona residencial. Por lá só passam transeuntes que saem de todos os pontos da cidade exceto às sextas-feiras quando o pessoal fica até mais tarde tomando umas e outras, paquerando algumas e azarando quaisquer que lhes passem pelo ângulo de visão. O tipo de pessoal cujos órgãos que mais trabalham nessas horas são os lábios e as mãos para tomar chopes, e os olhos para zoar, azarar, paquerar. Só se vêem olhares pidões, de carência sexual, e garçons trazendo mais chope e alguns salgadinhos. Nesse dia, Robson não viu nenhum freguês, nenhum bar ou restaurante aberto. Chegou muito tarde.

Às duas e quinze da tarde, no Shopping da Zona Norte da cidade, Robson chegou ao estacionamento, abriu a porta do carro e sentou-se ao volante. Viu a moça do Shopping sair com seu automóvel. Então ligou a ignição e seguiu-a. Foi forçado a admitir que seu cliente tinha bom gosto. A mulher era de uma beleza cativante, desejável até pelo mais frio dos mortais. Um pecado ambulante que se movia fazendo realçar todas as curvas do corpo. A moça dirigiu por uma meia hora e chegou a um Motel a caminho da Barra da Tijuca. Robson parou seu carro a uma distância considerável, tirou rapidamente sua máquina fotográfica do porta-luvas onde guardava também sua pistola 9 mm, e fotografou-a quando entrava no Motel. Depois, pacientemente, preparou-se para esperar pelo menos uma hora. Uma curiosidade o despertou: Quem seria o felizardo que deitava e rolava com aquele corpo macio, sedutor, que deveria deixar qualquer um com um desejo de posso irreprimível? Robson sabia que aquilo a que normalmente se chamava de ciúme não era exatamente ciúme. Era medo de perder o pitéu. Ninguém tem ciúmes de mulher feia ou mal ajambrada. Então esperou com os olhos bem abertos, a câmara ligada para não perder a imagem da saída se por acaso se distraísse.

Eram quase seis da tarde quando viu chegar dois carros da polícia e uma ambulância. Deu-se conta que a moça ficara muito tempo no Motel. Se ela saísse nesse exato momento, para chegar em casa no outro extremo da cidade, na zona sul, provavelmente demoraria mais de uma hora e o marido já estaria em casa. Ela não era assim tão descuidada. Começou a temer o pior. Saiu do carro e caminhou na direção do Motel, a tempo de ver que uma maca saía empurrada por dois enfermeiros. Passou perto e viu. Era ela na maca. Estava ensangüentada. Alguém fizera um trabalho para acabar com a vida dela de forma nada profissional. Aquilo parecia passional. Afastou-se uns passos e ligou seu celular. Discou um numero e do outro lado atenderam.
- Dr. Fausto... Aconteceu algo a sua mulher. Está sendo levada de maca numa ambulância. Estou na entrada de um Motel na zona norte da cidade...
Do outro lado, uma voz rouca deu instruções.
- Por favor, veja para que hospital vai e me avise que chegarei em seguida. Com quem estava?
- Não sei. Fiquei do lado de fora esperando que saísse...
- Então se concentre em saber quem estava com ela. Só me diga qual o hospital para onde vão levá-la. E desligou.

Robson dirigiu-se ao motorista da ambulância.
- Sou repórter – Disse. Qual o hospital?
- Carlos Chagas. Não há lugar nos outros. Tudo lotado.
Enquanto caminhava para a portaria do Motel, Robson voltou a ligar e informou o nome do Hospital. Guardou seu celular no bolso das calças e falou com o porteiro.
- Polícia. E mostrou o distintivo. Qual o quarto da moça que acabou de sair?
- Quarto 112, á direita. Dali, da portaria, Robson podia ver o trabalho lento dos policiais entrando no quarto 112, anotando, fotografando. Um policial vinha caminhando na direção da portaria.
- Com quem estava?
- Com um sujeito alto, cerca de um metro e oitenta, grisalho, forte, branco. Assinou como Antônio Sousa, mas não deve ser o nome real dele.
- Viu-o sair?
- Não senhor não vi.
Robson afastou-se rapidamente da portaria antes que o guarda chegasse, dirigiu-se a seu carro e deu partida. Foi direto para o hospital. Logo ao chegar viu o Doutor Fausto. Deu-lhe a descrição do sujeito e perguntou se ele conhecia alguém com aquela aparência. Ele disse que não.

Então Robson voltou ao Motel. O tal Antonio Sousa tinha que estar ainda no Motel, em algum lugar, provavelmente em outro quarto. Provavelmente tinha um comparsa que tanto já poderia ter saído, como ainda estar por lá também. Preveniu-se colocando sua 9 mm no coldre sob o sovaco. Esperou a troca de turno do pessoal do Motel e esperou mais um pouco. A polícia já havia saído há muito tempo. Primeiro viu sair um carro com um casal. Logo a seguir, um carro com apenas um sujeito ao volante. Era forte, alto, grisalho, visto à luz do néon de propaganda colocado bem acima da saída, na rua oposta à de entrada. Segui-o. Foi obrigado a parar num sinal a caminho da zona sul da cidade quando se viu abordado por dois indivíduos, um de cada lado do auto, um terceiro pela parte detrás. Eram mal encarados. Estavam armados. Um deles, o que estava a seu lado, ainda lhe mostrava a arma no coldre da cintura, quando lhe fez sinal para baixar o vidro. Robson sabia que deveria preocupar-se mais com o sujeito que estava na traseira do auto. Esse era o perigoso que poderia disparar à queima roupa, as balas atravessando o vidro traseiro, os dois bancos e acertando-lhe a coluna. Robson então levou a mão esquerda para a manivela de abrir o vidro e seu dedo direito tocou levemente num botão na parte detrás do volante. Imediatamente se ouviram dois estampidos violentos e os dois sujeitos voaram cada um para o seu lado afastando-se do carro. Mal viu o sangue jorrar dos estômagos dos dois, e já pisava no acelerador aproveitando uma fração de segundo de pasmo do sujeito que estava na parte detrás do auto. Quando começou a atirar, já Robson dirigia em ziguezague a toda a velocidade.  Seu mecanismo de defesa embutido nas portas funcionara. Na verdade uma geringonça instalada por um amigo seu: Uma arma cuja bala era um cone pontudo de aço, disparada automaticamente de um furo disfarçado na parte externa de cada porta. O sujeito de cabelo grisalho havia desaparecido na noite. Seu carro quase novo estava tão esburacado como as ruas descuidadas da cidade.

Continua...

₢ by Rui Rodrigues 

domingo, 9 de junho de 2013

Tese Social - A armadilha do Destino

Tese Social - A armadilha do Destino

A teoria do Caos abriu o mundo para os fractais, pequenas peças triangulares idênticas e isósceles, que, combinadas, dão forma a áreas e volumes dentro de determinados padrões, sempre que existe um “atrator”. Pode existir mais de um atrator no caos, gerando padrões que podem formar tanto plantas tal como as conhecemos, quanto cristais de gelo, costas marítimas como enseadas, baías. O desenvolvimento da teoria ainda dá os primeiros passos, está engatinhando, mas creio que em breve poderemos ver a teoria do Caos produzir seres tal como os conhecemos, partindo de equações mais complicadas do que as que conhecemos como “equações de Júlia”. Poderemos até num futuro tão próximo quanto, prever o tempo em função de atratores que determinem a formação de furacões, nuvens, ondas no mar. Este mundo em que vivemos, este universo, tem uma base matemática, física transcrita através da matemática, genética através da química, da matemática. Em nada exageraríamos se disséssemos que Deus, a existir, seria eminentemente um matemático com todos os conhecimentos da química e da física.

Mas o que isto tem a haver com a humanidade e em particular com uma armadilha hipotética na qual estejamos encurralados, como que com um destino traçado?

É apenas uma questão de padrões e de princípios. O princípio é o da teoria do Caos, ininteligível para uma esmagadora parcela da humanidade porque, infelizmente se fez da oportunidade de estudar um misto de plano econômico para faturar dinheiro e obter votos políticos pela ignorância Os padrões vêem-se por toda a parte nos órgãos constituintes das diferentes espécies de vida, como olhos, fígado, pulmões, rins, sangue, matéria cinzenta dos cérebros, folhas dos vegetais, comportamento dos fluidos como os da atmosfera e da água do mar. Há exemplos de padrões que poderão vir a ser observados pela teoria do Caos até sua forma mais simples de constituição: Os triângulos fractais, a exemplo da menor das partículas constituintes da matéria, a partícula de Higgs, também conhecida como a partícula de “Deus”. Pode parecer que a natureza não se repete quando analisamos simplesmente a forma do que nos cerca, a aparência, mas sim, se repete, na sua forma de constituir os elementos.

Assim, e da mesma forma, padrões se repetem em termos de comportamento de sociedades de animais, de cujas características o próprio homem, a unidade mais simples da humanidade, brotou. Também os padrões de comportamento são comuns a muitos grupos animais. Um deles, talvez o mais comum, é que todos os animais se alimentam. A busca por comida e quem no grupo tem força e poder para comer mais, são muitas vezes, ou quase sempre, decididas em guerras por territórios, lutas corporais para assumir a liderança. Quem tem a liderança, ganha também mais fêmeas com quem divide o leito sexual. Outro comportamento comum, é que o sexo dá tanto prazer ou obsessão como a comida, estando, portanto, os dois comportamentos normalmente associados. Luta-se por sexo e comida. Os que disputam no grupo as primazias da comida e do sexo, e perdem, o fazem através de lutas muitas vezes até a morte. O simples comportamento social dos símios de se catarem uns aos outros como sinal de cooperação social e de que não pretendem usar a violência com quem catam ou por quem se deixam catar. Este ritual da catação se vê hoje nos cabeleireiros, e de forma geral, como ato de cooperação e de amizade, em todos os atos dentro de um escritório de uma empresa, na própria democracia que nos engana como pode para nos manter convictos de que seus representantes maiores o fazem em nome de uma sociedade que na verdade estão longe de representar. Bem longe. Representam-se mais a si mesmos pelas “equações” caóticas da luta pelo alimento, pelo sexo, pelo prazer, pela ambição de estar no topo da cadeia social para retirar dela o que podem. 

Já antes da formação de governos, e precedendo-os, havia a formação de famílias de indivíduos dentro das sociedades que se constituam de várias famílias, unidas pelos hábitos desenvolvidos ao longo de séculos, e aos quais chamamos de tradição, bem como da herança genética, da fala comum, dos biótipos que os caracterizavam das espécies e raças diferentes. A vontade de manter unidas estas famílias, estes hábitos com os quais se identificavam as sociedades, deu origem às nações que hoje conhecemos bem como às que ficaram para trás extintas, como os dinossauros ou os “Homo Neandertalis”.  Não será, por termos partidos políticos que se alternam no governo ou no qual se locupletam, que estaremos seguros de que as guerras e lutas acabarão algum dia. Pelo contrário, guerras e lutas poderão até ser cada vez mais sutis, mas jamais acabarão. Estão escritas na herança dos fractais do Caos, na repetição de padrões da natureza e em suas equações, algumas das quais nem conhecemos ainda, mas que em breve conheceremos. Grupos específicos dentro de todas as sociedades rezam pelo fim da violência, disseminam o humanismo, a paz, mas estamos todos dentro de uma armadilha. 



As armadilhas que conhecemos e que até construímos para pegar outros animais, ou mesmo vírus e bactérias, são armadilhas externas aos corpos que armadilhamos, mas esta da natureza, é interna, invisível. Faz parte da natureza e não há como eliminá-la ou dela sairmos, até porque suas “equações”, muitas vezes previsíveis localmente são insuficientes para construir uma vacina, ou um remédio. Psicólogos e analistas sabem reconhecer os tais padrões de comportamento humano através do rito dos lábios, do franzir de sobrancelhas, das mãos suadas, dos tiques nervosos, e já é um grande passo para a obtenção de uma vacina contra o despreparo da humanidade para dissimular. Passamos o tempo todo dissimulando o que nos vai na alma porque precisamos alimentar-nos e reproduzir-nos e precisamos ser aceitáveis pelos outros membros da sociedade, do grupo ou da nação. A ambição desmedida já é outra coisa, que, embora fazendo parte de nossa idiossincrasia, está num dos extremos do comportamento aceitável.

As religiões pensam que sim, podem mudar os destinos pelas orações, ou agem como se soubessem que sim. Mas não sabem, não sei, não sabemos. Talvez saibamos. Talvez... Algum dia... Porque o que nos engana, fazendo-nos acreditar que existe destino e que possa ser mudado é a evolução, em menos de segundo a segundo, da realidade que “vemos”, e temos que admitir que não podemos adivinhar aquele carro com um sujeito bêbado, que nos colhe despreocupados na próxima esquina. Da forma como Deus teria feito o mundo, um mundo automático, auto-sustentável, que se rege segundo as suas próprias leis, segundo a segundo, sempre em evolução, não há como interferir nele de forma a alterar a sua evolução. Talvez num pequeno nicho ecológico, ou num planeta virgem de vida, mas não esta que conhecemos por aqui. 


Até lá, podemos sonhar com a Democracia Participativa, como modo alternativo para minimizar, apenas minimizar, o sofrimento de nos sentirmos numa armadilha a que poderíamos chamar de “armadilha do destino”. Claro que destino não existe. O mundo que vemos a cada segundo é fruto de uma evolução particular de cada item, vivo ou inerte, que o compõe. Mas com a certeza absoluta de que jamais sairemos dela, ainda que possamos povoar o universo com nossa espécie e com outras que escolheremos para nos acompanharem em seu sofrimento de nos alimentarem. A armadilha é eterna.


© by Rui Rodrigues. 

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Moçambique sem fome nem pobreza.


Moçambique é vida
Moçambique sem fome nem pobreza.

Este texto não é dirigido apenas ao povo de Moçambique, porque é atual e pode servir a qualquer nação do mundo. Trata de formas de governar, de como eliminar a fome, tornar a nação produtiva, voltada para a sobrevivência. O progresso vem com o tempo, com a barriga cheia, tempo para se dedicar a outras oportunidades.

Sabemos como é difícil governar uma nação. Ainda mais Moçambique que tem uma história rica, de lutas, que nasceu dominada por protecionismos de uns e exploração de outros, como mais uma vez, também no resto do mundo. Não é só a diferença de cor ou os desníveis de instrução que permitiam a predominância de uns sobre os outros: Em qualquer lugar do mundo sempre houve escravos, e ainda existem escravos: Os que trabalham e pagam seus impostos que beneficiam a uns e a si mesmos não. Ou se beneficiam, beneficiam mais a uns do que a outros. Esse é um problema de “ambição” e poder, e não depende de filosofia política. No capitalismo os governo beneficiam uns com capital. Nos sistemas comunistas e socialistas esses governos beneficiam com “favores”, sempre mais a uns do que a outros.

E o que se poderia fazer em Moçambique para beneficiar a população de um modo geral, desenvolver a nação e torná-la independente em economia, alimentação, auto-sustentável?

Primeiro há que tornar a economia num sistema produtivo e não dependente de favores ou benesses do Estado. A exploração de gás natural, carvão, pode beneficiar empresas e distribuir meia dúzia de empregos, mas não resolve os problemas da nação. Como sabemos o governo “possui” muitas terras. Quem não tem bens nem posses, nem emprego, pode ganhar umas terras de subsistência do governo e algumas sementes e começar a plantar para sobreviver. O estado pode ajudar na instrução da agricultura. É fato que em pouco tempo se produzirá tanto alimento que será necessário exportar, e isso gera divisas para o crescimento da economia, mas, sem um controle de natalidade, a população cresce pela disponibilidade de alimento. Se crescer de forma descontrolada, haverá mais fome, e a disponibilidade de terras cessará, porque Moçambique não é uma área de terras que infle, se expanda. Nisto o governo pode ajudar com instrução. Dirão que não há linhas de energia elétrica que supra as necessidades de um novo mercado de agricultura, mas há várias formas de energia, a partir de moinhos de vento, que são relativamente fáceis de instalar e gerir. Não se pode depender apenas do Estado. O Produto Interno Bruto não estará, jamais, disponível para toda a população carente, e a renda per capita é apenas uma média nacional, distorcida, em que dez por cento da população tem noventa por cento da renda, e os restantes noventa por cento apenas dez por cento... Há que mudar isto.

E qual seria o custo para o governo para acabar com a fome em Moçambique? Até aqui, o deslocamento de professores de agricultura e de primeiras letras e números para as novas terras cultiváveis, meia dúzia de moinhos de vento que até podem ser construídos com madeira, algumas sementes, e a boa vontade de quem tem fome em produzir seu próprio alimento livre de impostos. Se as terás cultiváveis se situarem em zona de acesso à energia de Cabora Bassa, por exemplo, uma extensão de linhas seria viável. Usinas a gás disponível na região podem gerar energia elétrica. Quando se produzir em escala, com os produtores juntando-se em associações, exportando, então se cobrarão os impostos.

A crescimento da indústria e do comércio são decorrentes das necessidades de um povo que está bem alimentado, começa a realizar uma poupança e a desejar investir na expansão de seus negócios. Num momento de crise internacional como este em que vivemos, pedir ajuda financeira no exterior é suicídio. Os juros estão pela hora da morte e o sistema Bancos x Empresas de avaliação x governos, contribui para o arrocho financeiro, a escravidão de verbas que devem ser pagas como juros de usura. É um novo tipo de esclavagismo.

Sem instrução e sem ajuda do governo no propiciar – não doar - alimentações saudáveis às populações, que as devem produzir, não se muda nada. O amanhã será eternamente igual ao hoje que não será melhor do que o ontem.

Rui Rodrigues

Para consulta:


quinta-feira, 6 de junho de 2013

Sou desconfiado, sim, e não acredito em avantesmas.


Sou desconfiado, sim, e não acredito em avantesmas.
                        

Eu tinha dez anos e acabara de entrar para o Liceu Gil Vicente depois de penosa prova com 100 questões. Na saída da prova, um garoto metido a besta, comparando as suas respostas com as minhas, disse que as dele eram todas diferentes e que tinha certeza que iria passar, o que me reprovaria, evidentemente. Nunca o voltei a ver no Gil Vicente. Eu ia para a minha primeira aula de físico-Química, porque as duas matérias ainda eram dadas em conjunto numa só cadeira. O professor, para nos incentivar ao estudo fez uma experiência e garatujou uns símbolos acompanhados de sinais de mais e de igual e produziu um produto aquecido que fumegava de um tubo de ensaio. A cor era de laranja e o cheiro também de laranja [1]. Fiquei impressionado. Meu professor tinha construído uma laranja líquida dentro de um tubo de ensaio, mandando às favas a teoria da criação, a Bíblia Sagrada, e comecei a entender como que Jesus tinha transformado água em vinho... Perguntei-lhe se podia cheirar novamente e ele espanejou a mão por cima do tubo de ensaio, perto do meu nariz, para que não aspirasse muito o vapor do tubo. Mas em compensação, comecei a desconfiar de tudo o que me diziam que era, que não era, que faziam ou deixavam de fazer. Nada era o que parecia. Além das características diferentes da laranja líquida do mestre para as naturais, é que não se podia beber. Aquilo era um produto destinado a dar sabor a uma bosta qualquer e vender sob a apresentação de balas e doces e até bolos com sabor de laranja. Uma enganação que continuamos a comer deliciados. Somos um bando de ignorantes cuja maioria não assentou o rabo em cadeiras de escola, por culpa exclusiva do Estado Moderno, essa enorme e assombrada avantesma que gasta todo o dinheiro dos nossos impostos em festas, viagens, pompa e gorjetas para os amigos daqueles que elegemos inadvertidamente pensando que nos representam. Vejam que já naquela época eu não era lá muito crente de qualquer coisa que me apresentassem, e nem acreditava em avantesmas.

Meu professor já faleceu, o Gil Vicente continua lá e já lhe fiz uma visita onde se lembraram de mim porque de certa forma “marquei época”. Mandamos para a rua em plena ditadura militar três professores por completamente inadequados e incompetentes: Um deu um tapa num aluno quando ele disse que não acreditava em Jesus Cristo como Deus; o outro passava deveres para casa como se fosse o único no colégio, e não nos dava tempo para os trabalhos das outras matérias; e o terceiro não sabia nada das matérias e só falava sobre o que tinha trazido escrito de casa em longa “cola”.  Das três vezes, como chefe de turma, representei os alunos e fui falar pessoalmente com o reitor, o digníssimo Sr. Joaquim Romão Duarte [2] que jamais esquecerei.

Já não faço provas para concursos nem para admissão em universidades por absoluta falta de talento e tempo para outras atividades. Na verdade gasto meu tempo com coisas a que ninguém dá muita importância, como a Democracia Participativa, porque parece não haver muito talento nem tempo disponível por pessoas como aquele cara sem graça e petulante que disse que tinha a certeza de ter passado na prova do Gil Vicente porque suas respostas eram totalmente diferentes das minhas. Estão auto convencidos que não há nada de novo nem melhor para o que já têm. Ele teve que fazer a prova novamente no ano seguinte. Quando me formei ele ainda deveria estar fazendo provas. E outras pessoas que também não têm tempo, como aquelas que acreditam em avantesmas que andam a rondar os navios do conhecimento, a escuridão da ignorância, as praias do desmazelo social, as florestas da abstinência do pensar. Alguns até acreditam em coisas inacreditáveis tais como extraterrestres, duendes, Cavaco Silva e Uri Geller. Perguntam-se outros: Seriam os deuses astronautas? Mas comum a todos eles é mesmo que acreditam em avantesmas, algo muito parecido com gambosinos que saem pela noite montando excrescências que fazem navegar com rumo usando dois palitos queimados de fósforo como remos e remam indefinidamente sem descanso, alegres e felizes, num vaso sanitário como se fosse um universo. São os democratas representativos, os comunistas ideológicos com ou sem ideologia, os socialistas ávidos por uma conta bancária às custas dos trabalhadores, os que gostam e adoram um vermelho numa bandeira antes azul verde e amarela. Num carnaval, do Rio a Veneza, fariam parte de um bloco inconfundível: O bloco do “Mundo volta para trás, dá-me o tempo que perdi”...

Estes continuam, tal como avantesmas, rondando as urnas, as bocas de urna, procurando um benefício de um  político em troca de votos, um cargo, uma pensão, uma bolsa mesmo que não tenha família. São os “pecorinos”, aqueles que através de PECs vão transformando a Constituição nacional num imenso e escuro papel higiênico já usado e não confiável. Querem mudar tudo, reverter a lei, soltar os bandidos e prender os inocentes, transformar pobres em ricos e ricos em pobres, e para isso nem querem saber se a saúde pública os atende ou não, se há ou não segurança pública, se o tráfico de drogas diminui ou não, se nas escolas se ensina como se deve ensinar, desde que tenham sua entrada livre para um mundo de sonhos onde os ricos serão punidos e os pobres abençoados sendo destes os reinos dos céus de Brasília.

Hoje em dia Brasília tem apenas dois céus importantes: O do PT e do PMDB. Os outros fazem o papel de “base aliada”. Em ambos há também infernos, mas os diabos que cuidam deste lugar só aparecem para bater o ponto por três dias e depois somem quatro dias por semana. Ganham salários celestiais esses demônios. 

O que se pode esperar de avantesmas no poder, com confiantes avantesmas que reclamam todos os dias daquelas e mesmo assim continuam votando nelas? E é impressionante como votam há décadas de décadas sem repararem que podem mudar o sistema, mas sem ousarem mudá-lo... O que os governos nos proporcionam hoje em dia, é um emprego quando há, e um futuro de escravidão para os empreendedores que ficam pagando juros extorsivos por anos a fio até morrerem. E, sem dúvida, já se nasce escravo quando se pede financiamento para estudar em universidades... Se houver emprego para poder pagar de vez em quando, será muito... O mais provável será ficar desempregado de vez em quando e prorrogar o prazo de pagamento ficando cada vez mais escravo. Os banqueiros tomaram conta do mundo. 

Rui Rodrigues





[1] É o flavorizante Etanoato de Octila, cuja fórmula é CH3 - COO - C8H17 .... E não tem nada de laranja.
[2] Ele tinha um corpo delgado, franzino, parecendo sempre que ia tombar, mas tinha um espírito determinado, livre e forte como um raio... Grande Reitor ...

Acredite, há um modo fácil de ser feliz neste mundo.



Acredite, há um modo fácil de ser feliz neste mundo.


Vejamos se consigo traçar uma linha de fácil entendimento, lógico, de como viver na vida enfrentando este mundo que decididamente não é fácil. O objetivo é, como sempre, a felicidade. Alguns acham que a felicidade está nas drogas. Não está não. È exatamente por não estar que as drogas são comumente conhecidas como “drogas”, porcarias. Mas esta nossa busca pela felicidade nos leva para um campo totalmente diferente das drogas. Enquanto estas nos produzem alienações e alucinações que nos dão umas “férias” de minutos na vida, tornando-a cada vez mais difícil a cada instante que se segue ao final dos seus efeitos que não duram mais do que 15 minutos, este campo completamente diferente, o de facilmente enfrentar o mundo, nos proporciona aquela felicidade, grátis, ao alcance de todos desde o mais miserável dos seres ao mais bafejado pela “sorte” na vida, a qualquer instante.

Equipamento necessário: Apenas a consciência e a determinação. Para ser feliz a maior parte do tempo de sua vida, não precisa de nenhum outro equipamento, dinheiro, religião, política, ou o que quer que conheça e deseje deste mundo que tão bem conhece. Somente precisa ter o desejo, a consciência e a determinação de ser feliz. 

Passo 1 - Tem que ter vontade para aprender a amar um princípio fundamental. O que tem, tem porque merece. Traduzido em outras palavras, se for religioso ou religiosa, tem que aceitar que seu deus lhe dá o que é para ter e lhe tira o que não deveria ter porque lhe faria mal a curto, médio, ou longo prazos. Se for ateu ou atéia, pode imaginar que o que tem se deve a sua capacidade de ter e o que não tem – e provavelmente nunca terá - é porque não tem capacidade para ter e a sua busca lhe faria muito mal pela frustração de não conseguir. Além de outros prejuízos colaterais. Pode tentar conseguir o que deseja uma, duas, três vezes... Cada vez mais triste e infeliz a cada vez que não consegue. Se conseguir seu problema está resolvido e pode partir para outros desejos. Se não conseguir, pergunte-se quantas vezes mais vai tentar, deixando de se concentrar em outros aspectos de sua vida, talvez até mais importantes.  “Sou brasileiro e não desisto nunca”. Eu também não desisto nunca de reivindicar o que é de interesse geral, mas no particular, em relação a mim mesmo, tenho que saber – e sei – qual o tamanho do passo que posso dar. Se eu fosse passarinho, e tal como qualquer passarinho teria que saber que tamanho de pedra poderia engolir para mandar para a minha moela, porque se engolisse uma muito grande, e depois outra, não teriam como sair de meu corpo e ocupariam toda a parte disponível para o alimento a digerir com essas pedras[1]. Há outras frases da sabedoria popular também muito interessantes: “Não dê um passo maior do que a perna”, “Em rio de piranha jacaré nada de costas”. “Santos da casa não fazem milagres”... Todas elas voltadas para a sua consciência do mundo que o (a) rodeia e da posição que deve tomar em relação a ele. Nos momentos mais difíceis, invente algo de útil pra fazer, com determinação, e mantenha a mente ocupada. Não é proibido relembrar o passado agradável, sonhar sem estar dormindo, pensar no que poderá fazer no minuto, hora ou dia ou ano seguinte.

Passo 2 - Não existe passo dois nem três. O passo 1 é fundamental e o necessário para uma vida feliz. No entanto vale lembrar alguns aspectos particulares da vida, na forma como delineado a seguir, por serem os aspectos que mais nos preocupam. São as nossas preocupações fundamentais.


Para os jovens - Nunca se esqueça que se bater em alguém será batido. Se amar, será amado. Se ensinar, será ensinado. Se matar, será morto. Se roubar, será roubado. Se detestar, será detestado. Não há como fugir disto, porque cada uma das ações acima provoca em quem convive conosco uma reação lógica. Como não amar e esperar ser amado? Ou bater sem esperar reação? Ou matar sem ser caçado até a morte? Não existe essa falsa vantagem do enganar por muito tempo. Pode tirar-se alguma vantagem aparente, sobre os outros, durante algum período de nossas vidas, mas não para sempre. Aquele bobo de quem tirou vantagens durante anos, pode transformar-se num leão que o destroçará para sempre de forma irreversível. Ninguém é bobo a tempo inteiro, 24 horas por dia. Há sempre um despertar para as injustiças que nos fazem, e as reações são sempre as mais inesperadas que nos surpreendem e nos aniquilam.
O conhecimento nos fortalece a alma, o espírito ou seja lá o que for que nos mantém vivos e conscientes do meio que nos cerca. Temos que conhecer o meio que nos cerca, não para tirarmos vantagem, mas já seria grande feito se, com o nosso conhecimento, não permitirmos que outros tirem proveito de nosso amor, de nossa confiança, de nossa forma de viver. A felicidade é particular e não depende dos outros. Estude, tenha conhecimento, viva. Não faça nada do que sabe que um dia se arrependerá, e não conte com a sorte, porque esta pode não cair para o seu lado. Se fizer e se der mal, volte ao começo de um novo caminho, porque esse, decididamente não deu certo.

Para os casais – Vivemos num mundo egoísta. Somos corpos à deriva num mar de gente que procura a mais duradoura e eficaz forma de sobreviver, viver, ou se divertir enquanto vive, tentando estender as suas vidas, vivas, pelo maior período de tempo. Nessa luta, porque é uma luta, as ações de terceiros sempre acabam por influenciar em nossos caminhos, desviando-nos ora para um lado, ora para outro e temos que adaptar-nos a cada instante. Chamamos a esses “empurrões” de terceiros, que nos desviam de nossos caminhos, de “circunstâncias”, “sorte”, “acaso”, e são geralmente imprevisíveis. Temos que admitir que não temos a mínima capacidade de prever completamente ou sequer o que imaginar o que nos poderá acontecer nas próximas 24 horas ou segundos, mas sempre achamos que temos o conhecimento e a capacidade de entender quem nos cerca, incluindo namoradas, namorados, filhos, pais, amigos. Infelizmente não conhecemos nada, e mesmo que conheçamos com a ajuda dos livros de Freud, Jung, e outros, não conhecemos não, porque as pessoas mudam na medida em que a cada dia adquirem mais experiência da vida e conhecem outras pessoas. Assim, o casamento  representa aquela vontade, naquele dia em que se pensou em casar, como numa fotografia da vida. Para aquele instante, a fotografia representava o resumo de uma situação. Nos instantes ou anos seguintes essa fotografia já não seria a mesma e em muitos casos, a maioria, o casamento já não seria uma opção. O que está errada é a instituição do casamento que obriga a deveres por toda uma vida, como se tudo fosse imutável e o casal vivesse num éden particular sem contato com o mundo exterior. Nenhum ser vivente faz contratos de casamento neste planeta, exceto a humanidade que acha que entende tudo sobre tudo. Tudo isto para dizer que é absolutamente normal e natural casar ou não casar, separar ou não separar. O que é anormal é continuar numa relação que só trás infelicidade. Os dias infelizes estão irremediavelmente perdidos e para compensar não há seguro, compensação. Por isso e em nome de sua felicidade – sem egoísmos – se tiver que largar o barco largue. Se tiver filhos menores, espere conscientemente a  sua maioridade para tomar a decisão. Serão anos difíceis, é certo, mas com determinação e por uma boa causa, a infelicidade não lhe parecerá tão infeliz assim. Depois chute o balde, o pau da barraca, dê o fora e não se preocupe com os bens da barraca ou a água do balde, porque valem menos que sua felicidade.

Para os idosos – Não há limite de idade para cuidar dos bens que possui, desde um livro de cabeceira guardado há décadas até bens móveis e imóveis. Quando achar que já não tem forças para cuidar, delegue a quem lhe merece mais confiança. Os bens já não são tão importantes como eram quando se preocupou pela primeira vez em juntar alguns deles para o “amanhã”. O amanhã chegou e já é hoje. Os novos amanhãs serão a cada dia e há que viver cada dia sem preocupações que os enegreçam, os obscurem, os matem. Há sempre uma forma, mesmo para os doentes, de passar o tempo de forma feliz. Tente lembrar-se sempre do que ainda lhe é agradável relembrar e se puder usar seus membros, fale, escreva, leia, pinte, grave suas impressões em gravador, aprenda sobre a natureza, sobre assuntos que nunca pôde estudar em profundidade. Sua experiência, o modo como via a vida desde sua infância são muito importantes para a descendência, para todos nós. Um dos segredos da felicidade é “passar o tempo” de forma produtiva, que nos dê prazer, sem sentirmos que o tempo passa em tédio. E se ainda houver disposição para mais, transmita isso ao mundo através da net quer seja usando seu corpo e suas possibilidades ou pedindo a alguém que o faça em seu nome se estiver impossibilitado ou impossibilitada. Não importa o que o mundo pensa de você. Ele também tem seus problemas e também passará.



Para os nenéns e crianças até sete anos de idade – Se um dia tiverem acesso a esta leitura, pensem maduramente no que titio escreveu. Talvez um dia lhes venha a ser útil, e comecem logo a construir o vosso futuro. Aprendam tudo o que puderem de bem e de mal, mas usem o mal para o perceber e dele se defender, e usem apenas o bem. Bem, é tudo o que nos faz bem e não faz mal aos outros. Mal é tudo o que faz mal aos outros e a nós mesmos.

Titio Rui, vôvô Rui Rodrigues




[1] . As pedras servem nas aves para triturar as sementes através de movimentos de contrição dos músculos da moela, o órgão correspondente ao nosso estômago.