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segunda-feira, 10 de junho de 2013

Novela - Cidade Esburacada - cap III -

Cidade esburacada.
Obs.. Capítulos anteriores nesta mesma página, do início para o fim.

Capítulo III – Cidade esburacada e roscas noturnas.

... Cidade esburacada é pouco. O país é um buraco só. As estradas estão todas esburacadas e o trânsito é lento. De repente o solo abate-se e abrem-se imensos buracos que engolem prédios, automóveis, pessoas. Inundações e deslizamentos em todos os estados, abrindo buracos nas encostas. Garotinhos recém desmamados portam armas e saem dando tiros por todo o lado, enchendo casas, carros e pessoas de buracos. Os capacetes de motoqueiros estão esburacados, os carros esburacados, e carro forte ou caixas de banco  horas são uma piada que se conta com um par de bananas de dinamite que abrem enorme rombo de onde sacam a grana. Até postos de polícia estão esburacados por balas de todos os calibres, mas como o país é grande, nem se fala em calibre 22. É de 45 pra cima. Os produtos mais vendidos na economia mundial são armas e drogas. As drogas esburacam qualquer economia doméstica. Nenhuma das duas mercadorias paga impostos, o que abre enorme rombo nos orçamentos anuais. Pior ainda, o lucro das duas sai do país para os cofres dos respectivos exportadores, lá fora... A economia inflacionária também está esburacada. A vida de Robson parecia estar num buraco onde se abria novo buraco onde o enterrariam. Sempre que pensava nesta situação caótica, lembrava-se sempre de uma frase dos anos 70: A vida era assim, “PT-saudações”.

Alguém desligou o rádio na padaria onde de madrugada Robson tomava seu café com leite e duas rosquinhas do tipo donuts. Robson era tarado por rosquinhas. Primeiro dava uma mordida, depois molhava a rosca no café com leite. Comia duas todas as manhãs. Limpou a boca num guardanapo de papel, pagou no caixa e saiu da padaria a caminho da casa do doutor Fausto ainda amassando o guardanapo de papel que acabou guardando no bolso para não sujar a rua. Tinha umas coisinhas para lhe dizer a respeito da esposa no hospital. Fausto concordara em recebê-lo.

Pegou o ônibus quase cheio que ia para a zona sul da cidade. Na Haddock Lobo subiram três garotos de uns quinze anos de idade, mal encarados, com olhar preocupado. Robson conhecia este perfil, os três trocando olhares como se perguntando mutuamente se a hora era agora, naquele instante. Robson previu um assalto e acariciou sua arma enfiada no cós das calças, na cintura, em suas costas. Um dos garotos acertou o motorista com um soco logo que parou na próxima parada, e os dois outros começaram a gritar histéricos que era um assalto. Mostravam suas armas, dois revólveres 38. Robson sacou a arma e atirou sem nem dizer o nome da mãe do garoto. O ônibus parou instantaneamente. Para Robson, menor de idade não pode usar arma. Quando usa uma já não é menor de idade, e é sinal mais que evidente de que tem idade para usar uma. O garoto desapareceu tombado no piso do ônibus entre gritos de passageiros que Robson nem escutou. Um dos outros garotos apontou a arma na direção de Robson, mas ficou sem saber o que aconteceu em seguida. Ficou eternamente sem saber. O terceiro, desarmado, deixou um cheiro pestilento no ônibus, e pulou pela janela. Já na rua, ainda fez um sinal para Robson, com os dedos, como quem dispara um tiro, uma informação de que não descansaria enquanto não pegasse o detetive à queima roupa e o fuzilasse. Criança do crime e bandido só choram quando perdem. Quando ganham são valentes. Robson não os suporta e acha que a lei tinha que ser mais violenta do que os violentos que a afrontam. Aproveitando a confusão que se instaurara no ônibus, Robson saiu e afastou-se. Pegou um táxi que ia passando e sumiu na cidade. Ninguém do ônibus o denunciou quando a polícia começou a perguntar quem tinha salvo o pessoal do ônibus e o motorista. Nenhuma das descrições de sua imagem batia uma com a outra. Antes de sair do ônibus, colocara disfarçadamente um bigode postiço com cavanhaque, uns óculos escuros, tirara o paletó e colocara um boné. Ninguém o reconheceu quando saiu. Fora tudo tão rápido que os passageiros tinham ficado em estado de choque.  

O doutor Fausto em pessoa veio recebê-lo à porta. Não o deixou entrar. Fechou a porta do apartamento, fez-lhe um sinal de silêncio com os dedo indicador na vertical do nariz, o dedão meio curvado, e entrou pela porta da cozinha. Teria sua reunião com Robson em particular na cozinha. A conversa foi breve.
- Detetive Robson, quero mostrar-lhe umas fotos que terá de memorizar. Veja... Reconhece em alguma delas o homem alto, de cabelos grisalhos que perseguiu e desapareceu enquanto seus comparsas, presumivelmente, tentavam liquidar o senhor?

Robson olhou atentamente para as fotos. Reconheceu o sujeito, mas não demonstrou que sabia quem era. Aguardaria a oportunidade certa. Sua vida corria perigo e não queria acelerar os acontecimentos. Havia varias fotos. Naquela em que reconhecia o sujeito, ele estava num bar da zona sul que Robson conhecia muito bem, acompanhado de um animado grupo. Na foto apareciam também alguns personagens famosos do quotidiano carioca e nacional, como artistas, esportistas, empresários, jornalistas. Havia alguém que não deveria estar ali, naquela foto. Era Nicéia, a sua “chuchu”, aliás, Paula... Em face de sua negativa, Fausto disse-lhe:
- Muito bem... Já eliminamos um sujeito. E nesta outra foto? E mostrou-lhe mais uma. Robson também não reconheceu o tal homem. Então Fausto deu-lhe instruções para ir ao hospital e na polícia tentar saber de detalhes da noite da tentativa de assassinato de sua mulher. Fausto ainda enfatizou que se pudesse falar com a mulher dele, de qualquer modo, que o fizesse. Fausto precisava de um nome.

- Pretende viajar nos próximos dias, doutor Fausto? – Perguntou Robson.
- Não. Porquê?
- Preciso de um adiantamento para reparar o meu carro. O seguro não paga o conserto e preciso dele.
- Faremos melhor... Vou apanhar as chaves de um carro meu que está sempre disponível. Espere aqui. Se alguém o esburacar, não se preocupe com ele. Preocupe-se com você mesmo... E saiu da cozinha.  

Quando voltou Robson já tinha feito as suas investigações no aposento. Havia uma agenda com anotações. Ia haver uma festa à noite no apartamento de Fausto. Pelo menos parecia pelo tamanho dos pedidos de bebidas e salgadinhos. Com sua câmara digital fotografou várias páginas. Quando recebeu as chaves, foi até a garagem, apanhou o carro e saiu. Aquele não tinha os dispositivos de segurança que instalara em seu carro agora todo furado. Junto com as chaves viera um envelope com trinta mil reais. Dava e sobrava para o conserto.
Sua Chuchu, pelos vistos, relacionava-se muito bem. Onde estaria deslocada? Na peixaria ou no lugar das fotos? Paula, Nicéia, chuchu... Que outros nomes ela teria? Era uma mulher incrível. Tanto poderia passar por uma militante do MST como por uma madame deslumbrada da zona sul. Pegou seu celular, teclou alguns dígitos e ligou para ela.


- Estou a fim de comer uma rosquinha agora...
Paula nem o deixou continuar – A que horas?
- Agora, disse Robson...
- Topo... No seu atelier?
- Não... Paula... Isto é... Sim... Não... Refiro-me a roscas da padaria. Não estou com muita fome... Daqui a meia hora.
Paula riu do outro lado da linha...
- Cê que sabe... As duas estão disponíveis... Só pra você. Se quiser come uma rosca só, se preferir come duas... Depois me diz de qual gosta mais, ta?


E dirigiu para a padaria. Estava na dúvida se comia três rosquinhas. Sorriu ao perceber como rosquinhas combinavam com uma cidade esburacada. 



Capítulo II – A noite é uma criança desmamada e chora.


A geringonça funcionara. Embora Robson N.F. fosse detetive particular, seu carro estava registrado em nome da firma, mas não da firma de detetive particular. Como era autônomo de qualquer coisa, comprara o carro em nome de sua empresa particular de vendedor ambulante da qual era diretor e único sócio presidente. Desconfiava que o seguro não lhe pagaria o conserto do carro, todo furado de bala, O melhor era mandar tapar os buracos com essas colas de argamassa, cor cinza, dar uma raspada, pintar da mesma cor e passar o carro adiante. Ia matutando nisso a caminho de seu quarto no Beco do Arco do Teles. As empresas não davam lucro na declaração de imposto de renda, porque os lucros eram todos gastos em pequenas coisas do dia a dia e no seu conforto. Descera do ônibus que o deixara na Praça XV e caminhava absorto pensando num possível freguês para vender o carro quando viu uma mulher de vermelho encostada ao famoso Arco. Era Nicéia, que detestava o nome de registro civil, porque nunca foi batizada. Dizia que se chamava Paula, e não deveria estar ali àquela hora. Robson a conhecia de suas noites de tapa buraco. Quando ele ou ela precisavam tapar um certo e conhecido buraco, se encontravam, marcavam para “logo mais” e  ele a esperava em seu “atelier” dormitório. Bastava um piscar de olhos e o outro já sabia para que era. Trabalhava numa peixaria na esquina da outra rua ali perto, quase chegando à 1º de Março. Acercou-se bem devagar, cozido com as árvores da praça. Ela o viu e veio em sua direção. Disse-lhe:
- Biscoito... Fiquei aqui até agora. Nem fui pra casa. Meu marido pensa que estou em dia de mercado noturno de peixe, e nem me espera mais, mas temos um probleminha. Entraram em tua casa, reviraram tudo e nem saíram. Estou até fedendo a peixe e precisando de um banho. Eles nem repararam porque passei por eles rodando a bolsinha e pensaram que eu era uma piranha. Até levantei um pouco a saia, para ver se eles se interessavam, mas estavam muito preocupados e determinados. Vamos dormir aonde?
- Lá em casa. Me espera aqui que já volto. Amanhã nem vou trabalhar. Meu dia foi difícil. Guenta que já volto, Chuchu. Cê viu algum cara forte, cabelos grisalhos, alto pra caralho?
- Não biscoito... Vi um magrelo que deve ser o da faca ou do trêsoitão, um negão tipo carregador de piano, e o motorista que está lá mesmo em frente à peixaria num daqueles que eu queria pra mim, lembra?...

Robson sabia. Foi até a peixaria. Colocou o silenciador no cano da 9 mm e rezou para o carro não ser blindado. Não era. Viu o vidro se despedaçar em pequenos, brilhantes e sanguinolentos diamantes vermelhos. Um olho ficou pendurado no limpador de pára-brisas que ficou zanzando de um lado para o outro com o olho pendurado olhando para todos os lados. Passou pelo carro, olhou o cadáver sem cabeça, retirou-lhe a carteira do bolso do paletó que nem olhou e a enfiou em seu bolso. Foi direto para o seu ateliê.  Chegou em silêncio. 
Quando estava bem perto, tirou o paletó, botou a camisa para o lado de fora das calças, apanhou uma lata vazia de cerveja e começou a cantarolar o funk do “ai se eu te pego”, com voz enrolada de bêbado. Com sua visão angular, percebeu quando a janela se abriu e uma cabeça assomou para ver quem estava bêbado por ali. Certamente pensaria que poderia ser ele, o Robson. Fosse quem fosse, demorou uns escassos segundos para ver se aquela figura era mesmo o tal de Robson. Era o carregador de piano. 
Não teve tempo para mais nada. Sumiu da janela empurrado por duas balas de aço inoxidável, daquelas de arrebentar osso de rinoceronte, implante de concreto armado. Um olho ficou grudado na janela entreaberta. Coisa horrível. Pensou que teria que mandar lavar os vidros até o amanhecer, mas a Chuchu faria isso. Então, meteu a chave na porta e deixou-a aberta. Postou-se na escuridão do outro lado da rua. Fosse quem fosse, ligaria para o celular do motorista. Sem resposta, ficaria impaciente e desceria as escadas para ir para a rua. Não demorou cinco minutos e o seu vulto apareceu armado na portaria perscrutando ao redor para ver se via alguém. Não viu ninguém, nem sequer teve tempo para ver os dois clarões que partiram da nove mm de Robson. Seu corpo caiu para trás como se empurrado por um piano. Meia hora depois, ele e a Chuchu com seu vestido vermelho, tentador, haviam limpado o vidro da janela, que por sorte ficara intacto, descido o cadáver para a rua, que juntou ao do magrelo. Quando subiram para o atelier, já havia um bando de moscas procurando farra.
- Biscoito... Tu é fodão... Falou que ia dormir aqui e vamo dormir aqui... Gostei.
- Chuchu... Sei que cê gosta de sushi quente... Tenho um aqui pra tu... To carente e meio sem forças. Cansadão...


E Chuchu provou o sushi quente até derreter em sua boca quente, úmida, gostosa.  Mas nem naquele dia Robson dispensara o bacalhau à Chuchu, uma delícia da terra. Chuchu gemia de prazer parecendo que chorava baixinho. A noite era uma criança recém desmamada que chorava. Seu nome era Chuchu. Só para ele e o marido dela. Bem a propósito, como se ouvisse seus pensamentos, Niceia disse-lhe antes de adormecer:

- Já disse alguma vez que te amo?
-Não, respondeu Robson.
- Nem vou dizer. Contigo só quero o bem-bom, fuzarca. Pode me usar como quiser, quando quiser.Pra meu marido, que respeito muito, só dou beijinho, bem na frente dos amigos dele. Eles ficam babando, mas com eles não tenho caso. Só com tu.. Pede que eu dou. Diz, que eu faço.

Então Robson adormeceu com a sua mão nos peitos ainda latejantes de Chuchu. No dia seguinte veria as identidades dos presuntos. Com a eficiência da polícia da cidade, só lá pelas seis da manhã a polícia apareceria para fazer perguntas. Tinha tempo para tirar um cochilo naquela cidade toda esburacada.   



© by Rui Rodrigues


Capítulo I – A geringonça

Eram duas horas da tarde. O shopping estava cheio. Robson deu uma ultima olhada numa vitrine, tirou as chaves do carro do bolso, e saiu para o estacionamento. Olhos atentos veriam que do outro lado do enorme corredor de lojas, uma moça saía de uma loja de roupas e se dirigia com as chaves do carro também na mao para o estacionamento.

Robson Filho Neto trabalha como detetive particular no Rio de Janeiro. Mora num pequeno quarto no Beco do Teles, na parte mais antiga da cidade, ali pela Praça XV, uma parte da cidade que costuma morrer às nove da noite, porque não é uma zona residencial. Por lá só passam transeuntes que saem de todos os pontos da cidade exceto às sextas-feiras quando o pessoal fica até mais tarde tomando umas e outras, paquerando algumas e azarando quaisquer que lhes passem pelo ângulo de visão. O tipo de pessoal cujos órgãos que mais trabalham nessas horas são os lábios e as mãos para tomar chopes, e os olhos para zoar, azarar, paquerar. Só se vêem olhares pidões, de carência sexual, e garçons trazendo mais chope e alguns salgadinhos. Nesse dia, Robson não viu nenhum freguês, nenhum bar ou restaurante aberto. Chegou muito tarde.

Às duas e quinze da tarde, no Shopping da Zona Norte da cidade, Robson chegou ao estacionamento, abriu a porta do carro e sentou-se ao volante. Viu a moça do Shopping sair com seu automóvel. Então ligou a ignição e seguiu-a. Foi forçado a admitir que seu cliente tinha bom gosto. A mulher era de uma beleza cativante, desejável até pelo mais frio dos mortais. Um pecado ambulante que se movia fazendo realçar todas as curvas do corpo. A moça dirigiu por uma meia hora e chegou a um Motel a caminho da Barra da Tijuca. Robson parou seu carro a uma distância considerável, tirou rapidamente sua máquina fotográfica do porta-luvas onde guardava também sua pistola 9 mm, e fotografou-a quando entrava no Motel. Depois, pacientemente, preparou-se para esperar pelo menos uma hora. Uma curiosidade o despertou: Quem seria o felizardo que deitava e rolava com aquele corpo macio, sedutor, que deveria deixar qualquer um com um desejo de posso irreprimível? Robson sabia que aquilo a que normalmente se chamava de ciúme não era exatamente ciúme. Era medo de perder o pitéu. Ninguém tem ciúmes de mulher feia ou mal ajambrada. Então esperou com os olhos bem abertos, a câmara ligada para não perder a imagem da saída se por acaso se distraísse.

Eram quase seis da tarde quando viu chegar dois carros da polícia e uma ambulância. Deu-se conta que a moça ficara muito tempo no Motel. Se ela saísse nesse exato momento, para chegar em casa no outro extremo da cidade, na zona sul, provavelmente demoraria mais de uma hora e o marido já estaria em casa. Ela não era assim tão descuidada. Começou a temer o pior. Saiu do carro e caminhou na direção do Motel, a tempo de ver que uma maca saía empurrada por dois enfermeiros. Passou perto e viu. Era ela na maca. Estava ensangüentada. Alguém fizera um trabalho para acabar com a vida dela de forma nada profissional. Aquilo parecia passional. Afastou-se uns passos e ligou seu celular. Discou um numero e do outro lado atenderam.
- Dr. Fausto... Aconteceu algo a sua mulher. Está sendo levada de maca numa ambulância. Estou na entrada de um Motel na zona norte da cidade...
Do outro lado, uma voz rouca deu instruções.
- Por favor, veja para que hospital vai e me avise que chegarei em seguida. Com quem estava?
- Não sei. Fiquei do lado de fora esperando que saísse...
- Então se concentre em saber quem estava com ela. Só me diga qual o hospital para onde vão levá-la. E desligou.

Robson dirigiu-se ao motorista da ambulância.
- Sou repórter – Disse. Qual o hospital?
- Carlos Chagas. Não há lugar nos outros. Tudo lotado.
Enquanto caminhava para a portaria do Motel, Robson voltou a ligar e informou o nome do Hospital. Guardou seu celular no bolso das calças e falou com o porteiro.
- Polícia. E mostrou o distintivo. Qual o quarto da moça que acabou de sair?
- Quarto 112, á direita. Dali, da portaria, Robson podia ver o trabalho lento dos policiais entrando no quarto 112, anotando, fotografando. Um policial vinha caminhando na direção da portaria.
- Com quem estava?
- Com um sujeito alto, cerca de um metro e oitenta, grisalho, forte, branco. Assinou como Antônio Sousa, mas não deve ser o nome real dele.
- Viu-o sair?
- Não senhor não vi.
Robson afastou-se rapidamente da portaria antes que o guarda chegasse, dirigiu-se a seu carro e deu partida. Foi direto para o hospital. Logo ao chegar viu o Doutor Fausto. Deu-lhe a descrição do sujeito e perguntou se ele conhecia alguém com aquela aparência. Ele disse que não.

Então Robson voltou ao Motel. O tal Antonio Sousa tinha que estar ainda no Motel, em algum lugar, provavelmente em outro quarto. Provavelmente tinha um comparsa que tanto já poderia ter saído, como ainda estar por lá também. Preveniu-se colocando sua 9 mm no coldre sob o sovaco. Esperou a troca de turno do pessoal do Motel e esperou mais um pouco. A polícia já havia saído há muito tempo. Primeiro viu sair um carro com um casal. Logo a seguir, um carro com apenas um sujeito ao volante. Era forte, alto, grisalho, visto à luz do néon de propaganda colocado bem acima da saída, na rua oposta à de entrada. Segui-o. Foi obrigado a parar num sinal a caminho da zona sul da cidade quando se viu abordado por dois indivíduos, um de cada lado do auto, um terceiro pela parte detrás. Eram mal encarados. Estavam armados. Um deles, o que estava a seu lado, ainda lhe mostrava a arma no coldre da cintura, quando lhe fez sinal para baixar o vidro. Robson sabia que deveria preocupar-se mais com o sujeito que estava na traseira do auto. Esse era o perigoso que poderia disparar à queima roupa, as balas atravessando o vidro traseiro, os dois bancos e acertando-lhe a coluna. Robson então levou a mão esquerda para a manivela de abrir o vidro e seu dedo direito tocou levemente num botão na parte detrás do volante. Imediatamente se ouviram dois estampidos violentos e os dois sujeitos voaram cada um para o seu lado afastando-se do carro. Mal viu o sangue jorrar dos estômagos dos dois, e já pisava no acelerador aproveitando uma fração de segundo de pasmo do sujeito que estava na parte detrás do auto. Quando começou a atirar, já Robson dirigia em ziguezague a toda a velocidade.  Seu mecanismo de defesa embutido nas portas funcionara. Na verdade uma geringonça instalada por um amigo seu: Uma arma cuja bala era um cone pontudo de aço, disparada automaticamente de um furo disfarçado na parte externa de cada porta. O sujeito de cabelo grisalho havia desaparecido na noite. Seu carro quase novo estava tão esburacado como as ruas descuidadas da cidade.

Continua...

₢ by Rui Rodrigues 

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