Cidade esburacada.
Obs.. Capítulos anteriores nesta mesma página, do início para o fim.
Capítulo II – A noite é uma criança desmamada e chora.
Capítulo III – Cidade esburacada e roscas noturnas.
... Cidade esburacada é
pouco. O país é um buraco só. As estradas estão todas esburacadas e o trânsito
é lento. De repente o solo abate-se e abrem-se imensos buracos que engolem
prédios, automóveis, pessoas. Inundações e deslizamentos em todos os estados,
abrindo buracos nas encostas. Garotinhos recém desmamados portam armas e saem
dando tiros por todo o lado, enchendo casas, carros e pessoas de buracos. Os
capacetes de motoqueiros estão esburacados, os carros esburacados, e carro
forte ou caixas de banco horas são uma
piada que se conta com um par de bananas de dinamite que abrem enorme rombo de
onde sacam a grana. Até postos de polícia estão esburacados por balas de todos
os calibres, mas como o país é grande, nem se fala em calibre 22. É de 45 pra
cima. Os produtos mais vendidos na economia mundial são armas e drogas. As
drogas esburacam qualquer economia doméstica. Nenhuma das duas mercadorias paga
impostos, o que abre enorme rombo nos orçamentos anuais. Pior ainda, o lucro
das duas sai do país para os cofres dos respectivos exportadores, lá fora... A
economia inflacionária também está esburacada. A vida de Robson parecia estar
num buraco onde se abria novo buraco onde o enterrariam. Sempre que pensava
nesta situação caótica, lembrava-se sempre de uma frase dos anos 70: A vida era
assim, “PT-saudações”.
Alguém desligou o rádio na
padaria onde de madrugada Robson tomava seu café com leite e duas rosquinhas do
tipo donuts. Robson era tarado por rosquinhas. Primeiro dava uma mordida,
depois molhava a rosca no café com leite. Comia duas todas as manhãs. Limpou a
boca num guardanapo de papel, pagou no caixa e saiu da padaria a caminho da
casa do doutor Fausto ainda amassando o guardanapo de papel que acabou
guardando no bolso para não sujar a rua. Tinha umas coisinhas para lhe dizer a
respeito da esposa no hospital. Fausto concordara em recebê-lo.
Pegou o ônibus quase cheio
que ia para a zona sul da cidade. Na Haddock Lobo subiram três garotos de uns
quinze anos de idade, mal encarados, com olhar preocupado. Robson conhecia este
perfil, os três trocando olhares como se perguntando mutuamente se a hora era
agora, naquele instante. Robson previu um assalto e acariciou sua arma enfiada
no cós das calças, na cintura, em suas costas. Um dos garotos acertou o
motorista com um soco logo que parou na próxima parada, e os dois outros
começaram a gritar histéricos que era um assalto. Mostravam suas armas, dois
revólveres 38. Robson sacou a arma e atirou sem nem dizer o nome da mãe do
garoto. O ônibus parou instantaneamente. Para Robson, menor de idade não pode
usar arma. Quando usa uma já não é menor de idade, e é sinal mais que evidente
de que tem idade para usar uma. O garoto desapareceu tombado no piso do ônibus
entre gritos de passageiros que Robson nem escutou. Um dos outros garotos
apontou a arma na direção de Robson, mas ficou sem saber o que aconteceu em
seguida. Ficou eternamente sem saber. O terceiro, desarmado, deixou um cheiro
pestilento no ônibus, e pulou pela janela. Já na rua, ainda fez um sinal para
Robson, com os dedos, como quem dispara um tiro, uma informação de que não
descansaria enquanto não pegasse o detetive à queima roupa e o fuzilasse.
Criança do crime e bandido só choram quando perdem. Quando ganham são valentes.
Robson não os suporta e acha que a lei tinha que ser mais violenta do que os
violentos que a afrontam. Aproveitando a confusão que se instaurara no ônibus,
Robson saiu e afastou-se. Pegou um táxi que ia passando e sumiu na cidade.
Ninguém do ônibus o denunciou quando a polícia começou a perguntar quem tinha
salvo o pessoal do ônibus e o motorista. Nenhuma das descrições de sua imagem
batia uma com a outra. Antes de sair do ônibus, colocara disfarçadamente um
bigode postiço com cavanhaque, uns óculos escuros, tirara o paletó e colocara
um boné. Ninguém o reconheceu quando saiu. Fora tudo tão rápido que os
passageiros tinham ficado em estado de choque.
O doutor Fausto em pessoa
veio recebê-lo à porta. Não o deixou entrar. Fechou a porta do apartamento,
fez-lhe um sinal de silêncio com os dedo indicador na vertical do nariz, o
dedão meio curvado, e entrou pela porta da cozinha. Teria sua reunião com
Robson em particular na cozinha. A conversa foi breve.
- Detetive Robson, quero
mostrar-lhe umas fotos que terá de memorizar. Veja... Reconhece em alguma delas
o homem alto, de cabelos grisalhos que perseguiu e desapareceu enquanto seus
comparsas, presumivelmente, tentavam liquidar o senhor?
Robson olhou atentamente
para as fotos. Reconheceu o sujeito, mas não demonstrou que sabia quem era.
Aguardaria a oportunidade certa. Sua vida corria perigo e não queria acelerar
os acontecimentos. Havia varias fotos. Naquela em que reconhecia o sujeito, ele
estava num bar da zona sul que Robson conhecia muito bem, acompanhado de um
animado grupo. Na foto apareciam também alguns personagens famosos do
quotidiano carioca e nacional, como artistas, esportistas, empresários,
jornalistas. Havia alguém que não deveria estar ali, naquela foto. Era Nicéia,
a sua “chuchu”, aliás, Paula... Em face de sua negativa, Fausto disse-lhe:
- Muito bem... Já eliminamos
um sujeito. E nesta outra foto? E mostrou-lhe mais uma. Robson também não
reconheceu o tal homem. Então Fausto deu-lhe instruções para ir ao hospital e
na polícia tentar saber de detalhes da noite da tentativa de assassinato de sua
mulher. Fausto ainda enfatizou que se pudesse falar com a mulher dele, de
qualquer modo, que o fizesse. Fausto precisava de um nome.
- Pretende viajar nos
próximos dias, doutor Fausto? – Perguntou Robson.
- Não. Porquê?
- Preciso de um adiantamento
para reparar o meu carro. O seguro não paga o conserto e preciso dele.
- Faremos melhor... Vou
apanhar as chaves de um carro meu que está sempre disponível. Espere aqui. Se
alguém o esburacar, não se preocupe com ele. Preocupe-se com você mesmo... E
saiu da cozinha.
Quando voltou Robson já
tinha feito as suas investigações no aposento. Havia uma agenda com anotações.
Ia haver uma festa à noite no apartamento de Fausto. Pelo menos parecia pelo
tamanho dos pedidos de bebidas e salgadinhos. Com sua câmara digital fotografou
várias páginas. Quando recebeu as chaves, foi até a garagem, apanhou o carro e
saiu. Aquele não tinha os dispositivos de segurança que instalara em seu carro
agora todo furado. Junto com as chaves viera um envelope com trinta mil reais.
Dava e sobrava para o conserto.
Sua Chuchu, pelos vistos,
relacionava-se muito bem. Onde estaria deslocada? Na peixaria ou no lugar das
fotos? Paula, Nicéia, chuchu... Que outros nomes ela teria? Era uma mulher
incrível. Tanto poderia passar por uma militante do MST como por uma madame
deslumbrada da zona sul. Pegou seu celular, teclou alguns dígitos e ligou para
ela.
- Estou a fim de comer uma
rosquinha agora...
Paula nem o deixou continuar
– A que horas?
- Agora, disse Robson...
- Topo... No seu atelier?
- Não... Paula... Isto é...
Sim... Não... Refiro-me a roscas da padaria. Não estou com muita fome... Daqui
a meia hora.
Paula riu do outro lado da
linha...
- Cê que sabe... As duas
estão disponíveis... Só pra você. Se quiser come uma rosca só, se preferir come
duas... Depois me diz de qual gosta mais, ta?
E dirigiu para a padaria.
Estava na dúvida se comia três rosquinhas. Sorriu ao perceber como rosquinhas
combinavam com uma cidade esburacada.
Capítulo II – A noite é uma criança desmamada e chora.
A geringonça funcionara.
Embora Robson N.F. fosse detetive particular, seu carro estava registrado em
nome da firma, mas não da firma de detetive particular. Como era autônomo de
qualquer coisa, comprara o carro em nome de sua empresa particular de vendedor
ambulante da qual era diretor e único sócio presidente. Desconfiava que o
seguro não lhe pagaria o conserto do carro, todo furado de bala, O melhor era
mandar tapar os buracos com essas colas de argamassa, cor cinza, dar uma
raspada, pintar da mesma cor e passar o carro adiante. Ia matutando nisso a
caminho de seu quarto no Beco do Arco do Teles. As empresas não davam lucro na
declaração de imposto de renda, porque os lucros eram todos gastos em pequenas
coisas do dia a dia e no seu conforto. Descera do ônibus que o deixara na Praça
XV e caminhava absorto pensando num possível freguês para vender o carro quando
viu uma mulher de vermelho encostada ao famoso Arco. Era Nicéia, que detestava
o nome de registro civil, porque nunca foi batizada. Dizia que se chamava
Paula, e não deveria estar ali àquela hora. Robson a conhecia de suas noites de
tapa buraco. Quando ele ou ela precisavam tapar um certo e conhecido buraco, se
encontravam, marcavam para “logo mais” e ele a esperava em seu “atelier” dormitório.
Bastava um piscar de olhos e o outro já sabia para que era. Trabalhava numa
peixaria na esquina da outra rua ali perto, quase chegando à 1º de Março.
Acercou-se bem devagar, cozido com as árvores da praça. Ela o viu e veio em sua
direção. Disse-lhe:
- Biscoito... Fiquei aqui
até agora. Nem fui pra casa. Meu marido pensa que estou em dia de mercado
noturno de peixe, e nem me espera mais, mas temos um probleminha. Entraram em
tua casa, reviraram tudo e nem saíram. Estou até fedendo a peixe e precisando
de um banho. Eles nem repararam porque passei por eles rodando a bolsinha e
pensaram que eu era uma piranha. Até levantei um pouco a saia, para ver se eles
se interessavam, mas estavam muito preocupados e determinados. Vamos dormir
aonde?
- Lá em casa. Me espera aqui
que já volto. Amanhã nem vou trabalhar. Meu dia foi difícil. Guenta que já
volto, Chuchu. Cê viu algum cara forte, cabelos grisalhos, alto pra caralho?
- Não biscoito... Vi um
magrelo que deve ser o da faca ou do trêsoitão, um negão tipo carregador de
piano, e o motorista que está lá mesmo em frente à peixaria num daqueles que eu
queria pra mim, lembra?...
Robson sabia. Foi até a
peixaria. Colocou o silenciador no cano da 9 mm e rezou para o carro não ser
blindado. Não era. Viu o vidro se despedaçar em pequenos, brilhantes e
sanguinolentos diamantes vermelhos. Um olho ficou pendurado no limpador de
pára-brisas que ficou zanzando de um lado para o outro com o olho pendurado
olhando para todos os lados. Passou pelo carro, olhou o cadáver sem cabeça,
retirou-lhe a carteira do bolso do paletó que nem olhou e a enfiou em seu
bolso. Foi direto para o seu ateliê. Chegou
em silêncio.
Quando estava bem perto, tirou o paletó, botou a camisa para o
lado de fora das calças, apanhou uma lata vazia de cerveja e começou a
cantarolar o funk do “ai se eu te pego”, com voz enrolada de bêbado. Com sua
visão angular, percebeu quando a janela se abriu e uma cabeça assomou para ver
quem estava bêbado por ali. Certamente pensaria que poderia ser ele, o Robson. Fosse
quem fosse, demorou uns escassos segundos para ver se aquela figura era mesmo o
tal de Robson. Era o carregador de piano.
Não teve tempo para mais nada. Sumiu
da janela empurrado por duas balas de aço inoxidável, daquelas de arrebentar
osso de rinoceronte, implante de concreto armado. Um olho ficou grudado na
janela entreaberta. Coisa horrível. Pensou que teria que mandar lavar os vidros
até o amanhecer, mas a Chuchu faria isso. Então, meteu a chave na porta e
deixou-a aberta. Postou-se na escuridão do outro lado da rua. Fosse quem fosse,
ligaria para o celular do motorista. Sem resposta, ficaria impaciente e
desceria as escadas para ir para a rua. Não demorou cinco minutos e o seu vulto
apareceu armado na portaria perscrutando ao redor para ver se via alguém. Não
viu ninguém, nem sequer teve tempo para ver os dois clarões que partiram da
nove mm de Robson. Seu corpo caiu para trás como se empurrado por um piano. Meia
hora depois, ele e a Chuchu com seu vestido vermelho, tentador, haviam limpado
o vidro da janela, que por sorte ficara intacto, descido o cadáver para a rua,
que juntou ao do magrelo. Quando subiram para o atelier, já havia um bando de
moscas procurando farra.
- Biscoito... Tu é fodão...
Falou que ia dormir aqui e vamo dormir aqui... Gostei.
- Chuchu... Sei que cê gosta
de sushi quente... Tenho um aqui pra tu... To carente e meio sem forças.
Cansadão...
E Chuchu provou o sushi quente até
derreter em sua boca quente, úmida, gostosa. Mas nem naquele dia Robson dispensara o
bacalhau à Chuchu, uma delícia da terra. Chuchu gemia de prazer parecendo que
chorava baixinho. A noite era uma criança recém desmamada que chorava. Seu nome
era Chuchu. Só para ele e o marido dela. Bem a propósito, como se ouvisse seus pensamentos, Niceia disse-lhe antes de adormecer:
- Já disse alguma vez que te amo?
-Não, respondeu Robson.
- Nem vou dizer. Contigo só quero o bem-bom, fuzarca. Pode me usar como quiser, quando quiser.Pra meu marido, que respeito muito, só dou beijinho, bem na frente dos amigos dele. Eles ficam babando, mas com eles não tenho caso. Só com tu.. Pede que eu dou. Diz, que eu faço.
Então Robson adormeceu com a sua mão nos peitos ainda latejantes de Chuchu. No dia seguinte veria as identidades dos presuntos. Com a eficiência da polícia da cidade, só lá pelas seis da manhã a polícia apareceria para fazer perguntas. Tinha tempo para tirar um cochilo naquela cidade toda esburacada.
- Já disse alguma vez que te amo?
-Não, respondeu Robson.
- Nem vou dizer. Contigo só quero o bem-bom, fuzarca. Pode me usar como quiser, quando quiser.Pra meu marido, que respeito muito, só dou beijinho, bem na frente dos amigos dele. Eles ficam babando, mas com eles não tenho caso. Só com tu.. Pede que eu dou. Diz, que eu faço.
Então Robson adormeceu com a sua mão nos peitos ainda latejantes de Chuchu. No dia seguinte veria as identidades dos presuntos. Com a eficiência da polícia da cidade, só lá pelas seis da manhã a polícia apareceria para fazer perguntas. Tinha tempo para tirar um cochilo naquela cidade toda esburacada.
© by Rui Rodrigues
Capítulo I – A geringonça
Eram duas horas da tarde. O
shopping estava cheio. Robson deu uma ultima olhada numa vitrine, tirou as
chaves do carro do bolso, e saiu para o estacionamento. Olhos atentos veriam
que do outro lado do enorme corredor de lojas, uma moça saía de uma loja de
roupas e se dirigia com as chaves do carro também na mao para o estacionamento.
Robson Filho Neto trabalha
como detetive particular no Rio de Janeiro. Mora num pequeno quarto no Beco do
Teles, na parte mais antiga da cidade, ali pela Praça XV, uma parte da cidade
que costuma morrer às nove da noite, porque não é uma zona residencial. Por lá
só passam transeuntes que saem de todos os pontos da cidade exceto às
sextas-feiras quando o pessoal fica até mais tarde tomando umas e outras,
paquerando algumas e azarando quaisquer que lhes passem pelo ângulo de visão. O
tipo de pessoal cujos órgãos que mais trabalham nessas horas são os lábios e as
mãos para tomar chopes, e os olhos para zoar, azarar, paquerar. Só se vêem
olhares pidões, de carência sexual, e garçons trazendo mais chope e alguns
salgadinhos. Nesse dia, Robson não viu nenhum freguês, nenhum bar ou
restaurante aberto. Chegou muito tarde.
Às duas e quinze da tarde,
no Shopping da Zona Norte da cidade, Robson chegou ao estacionamento, abriu a
porta do carro e sentou-se ao volante. Viu a moça do Shopping sair com seu
automóvel. Então ligou a ignição e seguiu-a. Foi forçado a admitir que seu
cliente tinha bom gosto. A mulher era de uma beleza cativante, desejável até
pelo mais frio dos mortais. Um pecado ambulante que se movia fazendo realçar
todas as curvas do corpo. A moça dirigiu por uma meia hora e chegou a um Motel
a caminho da Barra da Tijuca. Robson parou seu carro a uma distância
considerável, tirou rapidamente sua máquina fotográfica do porta-luvas onde
guardava também sua pistola 9 mm, e fotografou-a quando entrava no Motel. Depois,
pacientemente, preparou-se para esperar pelo menos uma hora. Uma curiosidade o
despertou: Quem seria o felizardo que deitava e rolava com aquele corpo macio,
sedutor, que deveria deixar qualquer um com um desejo de posso irreprimível?
Robson sabia que aquilo a que normalmente se chamava de ciúme não era
exatamente ciúme. Era medo de perder o pitéu. Ninguém tem ciúmes de mulher feia
ou mal ajambrada. Então esperou com os olhos bem abertos, a câmara ligada para
não perder a imagem da saída se por acaso se distraísse.
Eram quase seis da tarde
quando viu chegar dois carros da polícia e uma ambulância. Deu-se conta que a
moça ficara muito tempo no Motel. Se ela saísse nesse exato momento, para
chegar em casa no outro extremo da cidade, na zona sul, provavelmente demoraria
mais de uma hora e o marido já estaria em casa. Ela não era assim tão
descuidada. Começou a temer o pior. Saiu do carro e caminhou na direção do
Motel, a tempo de ver que uma maca saía empurrada por dois enfermeiros. Passou
perto e viu. Era ela na maca. Estava ensangüentada. Alguém fizera um trabalho
para acabar com a vida dela de forma nada profissional. Aquilo parecia
passional. Afastou-se uns passos e ligou seu celular. Discou um numero e do
outro lado atenderam.
- Dr. Fausto... Aconteceu
algo a sua mulher. Está sendo levada de maca numa ambulância. Estou na entrada
de um Motel na zona norte da cidade...
Do outro lado, uma voz rouca
deu instruções.
- Por favor, veja para que
hospital vai e me avise que chegarei em seguida. Com quem estava?
- Não sei. Fiquei do lado de
fora esperando que saísse...
- Então se concentre em
saber quem estava com ela. Só me diga qual o hospital para onde vão levá-la. E
desligou.
Robson dirigiu-se ao
motorista da ambulância.
- Sou repórter – Disse. Qual
o hospital?
- Carlos Chagas. Não há
lugar nos outros. Tudo lotado.
Enquanto caminhava para a
portaria do Motel, Robson voltou a ligar e informou o nome do Hospital. Guardou
seu celular no bolso das calças e falou com o porteiro.
- Polícia. E mostrou o
distintivo. Qual o quarto da moça que acabou de sair?
- Quarto 112, á direita. Dali,
da portaria, Robson podia ver o trabalho lento dos policiais entrando no quarto
112, anotando, fotografando. Um policial vinha caminhando na direção da
portaria.
- Com quem estava?
- Com um sujeito alto, cerca
de um metro e oitenta, grisalho, forte, branco. Assinou como Antônio Sousa, mas
não deve ser o nome real dele.
- Viu-o sair?
- Não senhor não vi.
Robson afastou-se
rapidamente da portaria antes que o guarda chegasse, dirigiu-se a seu carro e
deu partida. Foi direto para o hospital. Logo ao chegar viu o Doutor Fausto.
Deu-lhe a descrição do sujeito e perguntou se ele conhecia alguém com aquela
aparência. Ele disse que não.
Então Robson voltou ao
Motel. O tal Antonio Sousa tinha que estar ainda no Motel, em algum lugar,
provavelmente em outro quarto. Provavelmente tinha um comparsa que tanto já
poderia ter saído, como ainda estar por lá também. Preveniu-se colocando sua 9
mm no coldre sob o sovaco. Esperou a troca de turno do pessoal do Motel e
esperou mais um pouco. A polícia já havia saído há muito tempo. Primeiro viu
sair um carro com um casal. Logo a seguir, um carro com apenas um sujeito ao
volante. Era forte, alto, grisalho, visto à luz do néon de propaganda colocado
bem acima da saída, na rua oposta à de entrada. Segui-o. Foi obrigado a parar
num sinal a caminho da zona sul da cidade quando se viu abordado por dois
indivíduos, um de cada lado do auto, um terceiro pela parte detrás. Eram mal
encarados. Estavam armados. Um deles, o que estava a seu lado, ainda lhe
mostrava a arma no coldre da cintura, quando lhe fez sinal para baixar o vidro.
Robson sabia que deveria preocupar-se mais com o sujeito que estava na traseira
do auto. Esse era o perigoso que poderia disparar à queima roupa, as balas
atravessando o vidro traseiro, os dois bancos e acertando-lhe a coluna. Robson
então levou a mão esquerda para a manivela de abrir o vidro e seu dedo direito
tocou levemente num botão na parte detrás do volante. Imediatamente se ouviram
dois estampidos violentos e os dois sujeitos voaram cada um para o seu lado
afastando-se do carro. Mal viu o sangue jorrar dos estômagos dos dois, e já
pisava no acelerador aproveitando uma fração de segundo de pasmo do sujeito que
estava na parte detrás do auto. Quando começou a atirar, já Robson dirigia em
ziguezague a toda a velocidade. Seu
mecanismo de defesa embutido nas portas funcionara. Na verdade uma geringonça
instalada por um amigo seu: Uma arma cuja bala era um cone pontudo de aço,
disparada automaticamente de um furo disfarçado na parte externa de cada porta.
O sujeito de cabelo grisalho havia desaparecido na noite. Seu carro quase novo
estava tão esburacado como as ruas descuidadas da cidade.
Continua...
₢ by Rui Rodrigues
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