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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Encontros vagos em duas cidades frias.

Encontros vagos em duas cidades frias.



Mal ouviu tocar o despertador já estava fazendo a barba, entrando no Box, tomando um banho de chuveiro, muito sabão e muita espuma do xampu, a água escorrendo em vapores e se perguntou por que tinha tanto cabelo se ontem já lhe rareava quando se olhou no espelho. Ouviu o despertador tocar novamente mas estava certo de que o tinha desligado com um tapa certeiro na parte superior mesmo sem ter feito pontaria. Era um daqueles despertadores mecânicos, velho, que parecia um enorme rosto gozador, cheio de horas, duas orelhas de campainha, uma voz irritante e contínua de carro de bombeiros. Já vestia as calças quando foi despertado por mais um toque que não suportou. Abriu os olhos. Olhou a mesa de cabeceira e pulou da cama de um salto. Estava atrasado. Tinha que fazer a barba, tomar banho, arrumar-se e sair de casa. Tinha um encontro às nove. 

Demorou a ter consciência plena de quem iria encontrar e por que. O que estava preparado para ouvir, o que tinha a dizer. Já ia entrando no elevador quando a consciência chegou tão atrasada quanto ele: Esquecera o documento que analisara na noite anterior sobre a mesa da sala de jantar. Colocou a pasta no chão, abriu-a, tirou as chaves do quarto, e largou-a junto ao batente da porta do elevador para que não perdesse a viagem. Entrou, pegou o papel, olhou com nojo a garrafa de vinho com dois dedos de um líquido grená escuro e  apanhou a pasta, abriu a porta do elevador e desceu. Pensou se não esquecera mais nada, e chegou à conclusão que nada de importante tinha esquecido. Galgou a rua fazendo sinal para o primeiro táxi que passava. Estava cheio. Santiago do Chile era uma cidade como outra qualquer em dias como aquele: Cheia de prédios, cheia de ruas, cheia de táxis cheios, fria, a cordilheira ao fundo da paisagem dizendo que o Chile acabava ali mesmo, no horizonte do olhar. A humanidade ativa é um relógio cheio de segundos.

Já no táxi veio-lhe à lembrança que havia em seu apartamento uma mulher. Não sabe exatamente o que aconteceu com ela, porque não a viu quando acordou. Nem se lembrava do nome. Tentou resgatar a sua imagem, que roupa vestia, se era loura ou morena, e finalmente, após pensamentos misturados entre imagens de mulheres e os temas do encontro das nove, finalmente recordou. Quando o taxi parou em frente à porta do escritório na Avenida Apoquindo, viu-a passar loura, pela portaria, cabelos louros saltando-lhe sobre os ombros a cada passada firme, pernas esguias, curvas bem desenhadas. Embora longe sentiu-lhe o perfume. Ela chegaria ao elevador antes dele. E daria a notícia: A empresa perdera a concorrência. Aparentemente o teor da proposta que tinham apresentado era o da empresa concorrente, maquiado ligeiramente, com preço ligeiramente menor. Quem teria passado a informação para a concorrência? Todos questionariam, todos na empresa ficariam indignados, mas o chefe do escritório jamais levaria adiante as investigações. Depois tudo seria esquecido e ninguém seria demitido. Lá longe, os donos da empresa também se indignariam... E daí? Eles concordariam que era melhor não levantar a lebre no mercado. Se houvessem “evidências” apontariam certamente para alguém inocente. A reunião transcorreu normalmente. Ninguém se impressionou. Nem com o pequeno terremoto que fez o prédio balançar como se fosse cair enquanto a neve realmente caía silenciosa e devagar do lado de fora das vidraças das enormes janelas do prédio de escritórios. 



Para ir de Bogotá a Cali, muito longe a norte de Santiago do Chile, os aviões sobem suavemente a cordilheira dos Andes logo na saída do aeroporto. Parece que não desgrudam da paisagem, porque a cordilheira é inclinada, quase com o mesmo ângulo de subida dos aviões, mas quando passam pelo topo da cordilheira pode ver-se lá embaixo, na fronteira com o mar, os prédios as avenidas da cidade de Cali. Então o piloto abre os flaps, e o avião desce em queda quase livre como se fosse um elevador. Nem treme, como se fosse uma pena, algo parecido com a pena que cai no filme do Contador de Histórias, “Forrest Gump”, quando Tom Hanks está sentado no banco de jardim com sua caixa de bombons. Mas só em dias de vento forte na cordilheira. A linda morena de olhos verdes confortavelmente sentada na cadeira junto à janela não entendia porque aquele avião balançava tanto se o céu estava tão azul claro, sem nuvens. Logo chegariam a Boise, Idaho, nos EUA, onde as avenidas parecem mais largas do que a cidade. O rapaz sentado a seu lado viu-a suspirar, Olhavam a paisagem lá embaixo, parecendo que a terra era completamente verde, cheia de rios, sem casas, sem prédios, sem cidades. Depois passaram pela cordilheira das Montanhas Rochosas. Montanhas e neve, neve e montanhas. Como poderiam dizer que não havia mais espaço para plantar, que não havia água no planeta? Os dois olharam mais uma vez para os passageiros que lhes estavam mais próximos. Ninguém conhecido. Era um casal discreto. Ela olhando a paisagem, ele lendo um livro. Nenhum gesto especial de carinho. Não haviam trocado mais do que meia dúzia de palavras durante toda a viagem. Ninguém poderia afirmar se eram casados, namorados, conhecidos, ou simplesmente corteses um com o outro de volta a seu país depois de uma viagem de negócios ao exterior, talvez regressando de umas férias. Passaram pela alfândega do aeroporto. Ela passou diretamente. Ele teve sua maleta vistoriada. Ao abrir havia apenas um par de óculos, um palmtop, um contrato de trabalho com uma empresa conhecida com sede na cidade, uma máscara de olhos para dormir no avião, uma máquina de barbear, um livro, um par de meias e uma cueca, uma reserva de hotel e um despertador daqueles antigos, mecânicos, de orelhas de campainha. Na manhã seguinte, mal ouviu tocar o despertador já estava fazendo a barba, entrando no Box, tomando um banho de chuveiro, muito sabão e muita espuma do xampu, a água escorrendo em vapores e se perguntou porque tinha tanto cabelo se ontem já lhe rareava quando se olhou no espelho. Ouviu o despertador tocar novamente mas estava certo de que o tinha desligado com um tapa certeiro na parte superior mesmo sem ter feito pontaria. Era um daqueles despertadores mecânicos, velho, que parecia um enorme rosto gozador, cheio de horas, duas orelhas de campainha, uma voz irritante e contínua de carro de bombeiros. Já vestia as calças quando foi despertado por mais um toque que não suportou. Abriu os olhos. Olhou a mesa de cabeceira e pulou da cama de um salto. Estava atrasado. Tinha que fazer a barba, tomar banho, arrumar-se e sair de casa. Tinha um encontro às nove. De passagem pela pequena sala do hotel olhou para uma garrafa de vinho sobre a mesa. Teve ânsias de vômito. Demorou a ter consciência plena de quem iria encontrar e por que. O que estava preparado para ouvir, o que tinha a dizer. Saiu para o elevador carregando a maleta. Pegou um táxi. Quando chegou à porta de entrada da empresa, ela já estava lá. Via-a agora com seus cabelos morenos saltando-lhe sobre os ombros a cada passada firme, pernas esguias, curvas bem desenhadas passando pela portaria com sua maleta.
Na sala do presidente da companhia eram esperados por um pequeno comitê de advogados e pelo dono. Nada mais do que quatro deles. 



As duas maletas, a dele e a da morena, foram colocadas sobre a grande mesa de reuniões. Duas facas apareceram nas mãos de dois dos advogados, sem esperarem apresentações, ou frases de boas vindas. Só o dono os agraciou com um sorriso, portando na mão duas caixas de bombons das grandes. As facas rasgaram cuidadosamente as maletas ocas em pontos estratégicos. Diamantes mergulhados em pó de ouro derramaram-se sobre a mesa. Os dois outros advogados se encarregavam de recolher o pó de ouro, pesá-lo e dividi-lo em pacotes. Os diamantes eram separados por tamanhos em quilates. O total das duas maletas era uma fortuna. Uma fortuna trocada por três volumes de uma proposta perdedora. Na caixa não havia bombons. Havia duas pequenas fortunas em notas do tesouro nacional embrulhadas agora em papel de presente. O dinheiro dos envelopes seria gasto em separado de modo vago.  

® Rui Rodrigues  



terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Santiago Andrade,Crônica de uma morte anunciada

Crônica de uma morte anunciada por sininho




Toca o sino e não é de Belém, nem é Natal, nem em Natal.. Sininho dá alerta, é safa, arranja advogados, e não é amiga do Peter Pan... Pelo contrário, já esteve na Disney, viu toda a gente com dinheiro por lá, e não gosta muito de quem tem dinheiro. Prefere conseguir o poder aliando-se a poderosos. 

Então avisa como vão as coisas como uma Rosa de Tóquio embora a guerra não seja mundial. É uma guerra particular pelo poder de distribuir verbas quando se chega ao poder, ou receber verbas quando se aliam ao poder. 

Quem atrapalha tudo isto são os jornalistas, porque nada nem ninguém sabe de nada. Só quando acontece. Polícia não sabe, políticos não sabem, a presidência está alheia... Sua preocupação é a reeleição para poder distribuir verbas pelos amigos. 

Então avisa não um, mas dois... O que sabe lançar não tem rojão, o que tem rojão é meio idiota, raciocínio lento, medroso e não pode lançar. Encontram-se os dois e acendem juntos o rojão. Ali perto, alvo escolhido, um jornalista, nada mais que um jornalista, faz o seu trabalho... E não é nem a favor nem contra o PSOL, o PT, ou seja que partido for... Ele não foi à Disney... Talvez não soubesse quem era Peter Pan nem Sininho, e nem esperava presente de Natal porque não era.

O rojão é aceso pelos dois, e lançado. O jornalista morre ! Deixa mulher e filhos. O que tinha o rojão mas não podia lançá-lo apresentou-se à polícia certo de ser solto, ter bons advogados, garoto espéerrrto, a condenação seria do tipo "sai na urina"... 

E agora, como ficamos, se temos no Congresso votando leis, mais de duzentos congressistas com pendencia na justiça? 

E agora, como ficamos ???? Fica assim, por isso mesmo, com a omissão da Ministra dos Direitos Desumanos, com seus olhos azul de brilhantes, um gordo salário e a obrigação de atender à confiança para a qual foi indicada? 

O povo responderá... Não só nas ruas como nas urnas... Podem ter certeza!

O povo espera que se faça JUSTIÇA, e que os congressistas com pendencias no senado saiam até que provem a inocência.. 



₢ Rui Rodrigues

domingo, 9 de fevereiro de 2014

BBB - As novidades e o ceticismo no futuro.

BBB - As novidades e o ceticismo no futuro.

Novidade é uma notícia sobre algo que se desconhecia como por exemplo um invento, uma moda, uma nova história, uma nova mulher, om novo homem. Conhecer uma cidade diferente, um costume. Coisas do gênero. E para isso é necessário um inventor ou um contador de histórias, e quase sempre um público a quem se apresenta a novidade. Depois as notícias das novidades correm de boca em boca, forma-se uma, duas, três, muitas opiniões, aparecem grupos de debate, gera-se polêmica, e isto é audiência. Se você quer vender uma ideia, um produto, e consegue vencer todas estas etapas até gerar polêmica e audiência, então venderá sua ideia, seu produto, sua peça de teatro, seu partido, poderá ser um presidente ou uma presidente de uma república. Brasil é um bom lugar para isto. Mas parece haver limites quando se pensa em moral e ética.  



O povo de Israel andava perdido no meio do deserto do Sinai depois de terem vivido milênios no seio do povo egípcio. Fugiram ou foram expulsos, isso não importa no momento, mas sabe-se que vagaram no deserto e tinham um grave problema de identidade: Deveriam perder seus laços afetivos com o povo egípcio, ter seu próprio Deus, único, diferente de todos os demais e o monoteísmo não era novidade. Moisés então subiu ao monte Sinai e de lá trouxe duas tábuas com cinco mandamentos em cada uma. Era a primeira constituição do povo de Israel. Uma novidade em meio a muitas outras, como a novidade do Maná [i]. O maná é o nome de uma seiva produzida pelo tamarisco [ii]de maná, existente no deserto do Sinai, e que um tipo de inseto costuma chupar. Esta seiva cai no chão em forma de esferas pequenas e doces. Uma novidade que alimentou o povo de Israel por cerca de quarenta anos no deserto. 

O povo de Israel não conhecia este tipo de alimento e em sua língua, ao vê-lo disseram: “Man hu’ ” que significa “ o que é isto”. Cristãos, interpretaram este fato milênios depois como se o Maná tivesse caído do céu em flocos. Um milagre. Para o povo judeu foi apenas uma novidade. O fato é que durante mais dois mil anos, para os fiéis cristãos isto foi um milagre. Podemos assim medir o alcance, o poder de uma novidade ao longo dos séculos. O Maná ainda existe, o povo judeu já atravessou o deserto, e talvez 99 por cento do povo cristão ainda crê que o maná apenas caiu no deserto do Sinai durante quarenta anos do Êxodo. 
Esta longevidade do milagre do Maná só foi possível pela invenção de Gutenberg ao inventar a impressão por tipos móveis por volta de 1439. Imprimir em páginas de papel tornou-se fácil e relativamente barato. Estava inventado o livro impresso e a Bíblia, o primeiro deles, correu mundo, tornou-se popular, gerou audiência, gerou cismas, porque muita gente agora podia ler a Bíblia, questioná-la. A informação sobre Deus saíra da arca da aliança para a interpretação do mundo.

Histórias, novas religiões, canções de bardos, peças de teatro grego, eram novidades durante algum tempo. Depois caíam no esquecimento geral quando se tornavam tão conhecidas que “ninguém mais falava a respeito”. Novidades servem também para serem faladas, transmitidas, de forma a estabelecer uma paridade entre humanos: “Eu já assisti, tu ainda não, logo eu sou algo mais que tu porque tenho uma vantagem sobre ti” Já não se fala de muitas lendas e talvez em casa nenhuma se conte a história do “bicho papão” para que as crianças façam o que os pais mais querem no momento: Que elas comam a sua pequena refeição. E provavelmente pais extremados ainda fazem “aviãozinho” com a colher para que a criança coma mais uma colherada. Este gesto era impossível antes dos irmãos Whrigt e de Santos Dumont, mas em muitas casas já se usa o “foguetinho” e o “transbordador espacial” para incentivar as crianças a comerem mais uma colherada.



Na televisão, o segundo instrumento mais interessante da inventiva humana nos últimos cem anos – o primeiro é o computador e a net – há sempre novidades. Sem novidades ninguém liga esse instrumento, ninguém senta no sofá e usa o comando sem fio para mudar de canal, sempre em busca de novidades, coisas diferentes, notícias diferentes. É para os canais de televisão que o dinheiro ainda corre, porque entre uma novidade e outra, apresentam um comercial para faturar. Sem faturamento, as empresas morrem, liquidam-se, falem. Isso não seria nada bom, porque ficaríamos sem essa diversão, esse entretenimento agora quase indispensável. Empresas devem ter lucro. O problema é "como"... 

Mas antes de seguir adiante neste devaneio sobre as novidades e seus efeitos no compartimento lúdico, no religioso, comercial, moral, ético ou em qualquer outro lugar de nosso cérebro, há que tentar verificar se não há limites para nada, ou se há só para algumas coisas, ou se sim, há limites...

Imaginemos então uma taça enorme de vidro cheia de bombons. Tira-se um, depois outro, e al fim de algum tempo mais ou menos previsível em função da família que temos ele ficará vazio... Não se poderá tirar mais nenhum daqueles bombons. Se em vez de uma taça de bombons fosse uma garrafa de vinho, seria impossível tomar todo o vinho, completamente, porque sempre ficaria uma meia dúzia de gotas que não conseguiríamos extrair, mas meia dúzia de gotas não dá nem um gole. Só cheiro. Estes dois exemplos são apenas físicos, sem muita imaginação: Taça com bombons, taças de vinho que esgotam a garrafa. Depois de esgotadas, não há novidades. Só se voltarmos a encher.



Mas que tal quanto ao sexo?  Sexo é também algo físico, mas que tem um poder fantástico com a imaginação. A imaginação potencializa o sexo, dá-lhe novas propriedades, é uma fonte de novidades. Minha preocupação é se sexo terá limites. Limites tem principalmente por causa da idade, mas é puramente físico. Em termos de imaginação, em termos de imaginação, o filme “Barbarella” [iii] lá dos idos dos sessenta (1968) já nos dava uma ideia de até onde a nossa imaginação poderia ir: Bastava esfregar a nossa mão na mão da mulher amada e um milhão de orgasmos fantásticos, tântricos, paradisíacos brotariam em nosso corpo envolto já em fumaça perfumada de deusas e pitonisas. Isso todos os dias não deixaria ninguém disposto a ir trabalhar, doido para voltar para casa e encontrar a Jane Fonda ou a Paula Fernandes [iv].

Não há muitas novidades atualmente em termos de sexo. As maiores barreiras já foram ultrapassadas, demolidas, e em algum lugar que tenho bem delineado no canal do bom senso, as novidades sexuais deveriam ter limites para exposição ao público, já que as barreiras que impedem o acesso a crianças não são nem podem ser controladas. Crianças devem ser protegidas de mal entendidos para os quais não estão preparadas e ninguém as pode preparar de um dia para o outro porque estão em formação. Enquanto os pais dormem elas podem ligar a TV, o computador, e podem achar normal para uma criança de quatro a cinco anos, a normalidade a que assistem na TV ou no computador. Ver os pais dando beijos quentes, ou os dois se abraçando deitados no sofá, pode não ser coisa do quotidiano, mas acontecendo, há o apoio moral dos pais que podem explicar muita coisa. Assistido a sós, cenas podem não chocar crianças, e certamente não chocarão, mas despertarão o desejo de agir de igual forma porque são muito “interessantes”...

Sexo, adultos e criancinhas não combinam... Existe a sexualidade infantil, sim, sabemos disso, mas adultos e crianças na mesma cena de sexo é crime. Dirão: Ah... Mas nas cenas do BBB não há crianças... Claro.. Mas é que não querem ver a cena real de uma criança de quatro anos frente a uma TV ou a um computador enquanto os pais dormem, assistindo a cenas normais de sexo implícito com gente quase nua, posturas sexuais normais, sexo “aplícito” debaixo de cobertores.



Qual o limite para disputas de audiência, faturar mais uns bons trocados? Qual será a próxima novidade? Mostrar sexo infantil? Mostrar cenas de pedofilia dirigidas por diretor crack de comunicação?

Sejamos então progressistas e admitamos as novidades sem controle. Que tal a abertura de todas as contas de todas as empresas, de forma pública, para sabermos de onde lhes vem o dinheiro, para onde lhes vão os lucros, como se fazem artistas se é por mérito ou por serem filhos de artistas, quais as políticas e diretrizes que regem as emissoras de televisão, ainda mais quando recorrem a verbas públicas, dinheiro cidadão, repassado sem as autorizações necessárias dos verdadeiros donos: A nação brasileira...Perguntemo-nos: O que é realmente "liberdade sexual" ? È necessário que se atente para o fato que quando uma criança vê cenas sexuais em livros que lhe são "proibidos" ou escondidos, ela tem noção pelo menos de que "ainda é cedo" ou não está acessível para ela, mas quando as cenas lhe invadem o quotidiano, passa a ser normal e a proibição dos pais uma idiotice "deles"... Fruto de uma "credibilidade" que a emissora tenta passar.  



Qual será a novidade das emissoras de televisão e dos programas apensos a páginas da net no futuro? Nem todos os modernismos podem ser novidades convenientes.

Plim.. Plim..

©Rui Rodrigues






sábado, 8 de fevereiro de 2014

Análise do contrato cubano para médicos

Breve análise do contrato de trabalho da médica cubana Ramona Matos Rodríguez


O contrato dos médicos cubanos é assinado pela empresa “Sociedade Mercantil cubana comercializadora de serviços médicos cubanos S.A” (CSMC S.A.). O contrato é subscrito pelo Ministério da Saúde Pública de Cuba com cada um dos médicos enviados ao Brasil.  

Entidades envolvidas:

·        Ministério da Saúde Pública de Cuba
·        Ministério da Saúde do Brasil
·        CSMC S.A.
·        Organização Pan-americana / Organização mundial da Saúde para a Ampliação do Acesso da População brasileira à atenção básica de saúde.
·        A Missão Médica Cubana no Brasil
·        Unidade de Colaboração Médica em Cuba
·        Brigada Médica Cubana no Brasil
·        O médico contratado

Documentos, leis, contratos mencionados no Contrato particular entre a CSMC e o contratado.

·        O contrato em si
·        O acordo entre o Ministério da Saúde de Cuba e o do Brasil
·        O acordo entre o Ministério da Saúde de Cuba e a CSMC
·        O acordo entre a Organização Pan-americana e a Organização Mundial de Saúde
·        As leis brasileiras, que pressupõe o conhecimento das Normas da Ordem dos Médicos do Brasil.
·        As leis brasileiras
·        As leis cubanas

Considerações à luz do contrato

(há que ver se os contratos estão devidamente legalizados no território brasileiro e se estão sendo fiscalizados pelos órgãos competentes ou se há omissão, caso contrário, o estabelecido em suas cláusulas é nulo)

1.      Falta no corpo do Contrato uma cláusula de Precedência segundo a qual deve ficar estabelecido que documentos prevalecem sobre os demais. Por exemplo, para trabalhar no Brasil, as leis brasileiras prevalecem sobre as leis cubanas.
2.      Prevalecendo as leis brasileiras, como devem prevalecer, cada médico deve contribuir ao estado com os impostos decorrentes e tem direito, por exemplo, a décimo terceiro salário.
3.      Um erro crasso nota-se na ultima clausula, em 4.1, onde, para dirimir causas não resolvidas de comum acordo entre as partes (A Contratante, a CSMC e o profissional contratado) é aceito pelas partes o foro de La Habana em Cuba, segundo uma lei estabelecida na República de Cuba para profissionais que trabalhem no exterior. Ora o foro tem que ser brasileiro por se submeterem às leis brasileiras e não cubanas. O foro normalmente é aquele onde a empresa contratante, a CSMC tem escritórios em território nacional. Não sabemos se a CSMC abriu filial no Brasil, e para isso deve submeter-se a varias leis nacionais, incluindo pagamento sobre os lucros. Estes parecem ser altíssimos, visto que a empresa apenas deposita uma pequena parte do salário do profissional no Brasil e outra em Cuba. O restante ou é repassado pela CMSC a terceiros ou é lucro bruto em território brasileiro.
4.      As responsabilidades são “tênues” entre as partes, visto que cabe à CMSC pôr o contratado a par das suas obrigações em território brasileiro segundo as leis deste país. A não haver documentos escritos, o profissional pode alegar que não tinha particular entendimento por omissão lapso ou erro de informação, a CMSC afirmar que o contratado foi perfeitamente informado.
5.      Há informações que indicam que cada médico cubano disponibilizado ao abrigo de contrato entre Brasil e Cuba através de seus ministérios da Saúde, recebe mensalmente o valor de Reais $ 10.000. No entanto, destes 10.000 reais sabe-se que cada profissional recebe no Brasil, o “correspondente” a 50 CUC [i], mais um depósito correspondente a 600 dólares americanos.  Em Cuba, é depositado em conta de poupança, o correspondente a 400 dólares. Ambos estão sujeitos à valorização ou desvalorização do dólar. Na verdade, este é um contrato em três moedas, já que ao chegar a Cuba, o profissional tem que trocar CUC por CUP, outra moeda cubana de paridade com o dólar. Não se encontram CUCs em Cuba. Usa-se o CUP.
6.      Pelas cláusulas 1.g e 1.j, pode constatar-se que o profissional tem um tipo de contrato em dólar segundo o qual recebe mensalmente cerca de 2.400 reais em contas controladas pela própria CMSC e esta o restante, ou seja 7.600 reais mensais. É característico de exploração de mão de obra, e se, por qualquer motivo esta empresa não quiser ou não puder pagar o devido a seus “empregados”, estes teriam que recorrer à justiça de Cuba.
7.      Há formas mais simples e legais de contratar. O contrato parece uma teia onde fica difícil aplicar leis quer em Cuba, quer no Brasil. O empregado parece a parte mais frágil, como se fosse um escravo que de fato é. Um escravo da CMSC, ou do governo de Cuba, ou do Brasil, tendo como avalista, a Organização Pan- Americana de Saúde e a organização Mundial de saúde, não se sabendo se a Organização Mundial do Trabalho teve conhecimento prévio deste tipo de contrato.
8.      É mister que se traga a público, pela gravidade da situação, os textos dos acordos entre as entidades nacionais e internacionais mencionadas no corpo do contrato entre a CMSC e cada médico cubano.


Este tipo de contrato parece, em decorrência do exposto nulo e ilegal perante as leis brasileiras porque as fere, e perante as leis internacionais porque prova textualmente trabalho escravo. Deve ser revisto para ter fé pública e dar aos trabalhadores cubanos os seus direitos segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), omitida aparentemente pela própria Organização Mundial de Saúde e a Organização Pan-americana. Além disso não se sabe se, por exemplo, a brigada médica cubana no Brasil está devidamente legalizada, e quais suas funções específicas.  

₢ Rui Rodrigues







[i]  Circulam duas moedas em Cuba: O CUC (Peso convertível cubano, também conhecido como Chavito, é usado em operações comerciais e com turistas). No contrato em referência, a paridade entre o peso cubano e o dólar é de 1 para 1.  Ver também http://www.infoescola.com/economia/moeda-em-cuba/

drogas, calos e satélites, peças de teatro

A VERDADE SOBRE AS DROGAS É COMO REMÉDIO... DÓI MAS CURA !!!!



Você que tem acesso à INTERNET e convive com o problema do tráfico:

Primeiro eles chegam de mansinho vendendo drogas. Você cala, não denuncia e permite !

Depois eles se instalam na calçada e vendem drogas a céu aberto. Você cala, não denuncia e permite !

Mais tarde desfilam em motos com armas de última geração para intimidar e proteger o seu negócio. Você cala, não denuncia e permite !

Finalmente chega a polícia. Troca tiros com bandidos, seu filho está preso por tráfico, ou morreu pelo tráfico e sua filha lhe morre nos braços no tiroteio...

Então você grita e diz que a polícia não sabe agir... E você ? Soube agir ?

RR

Os calos e os satélites...




... Parece não estarem relacionados... Não é? Então vejamos...

Há milênios que se fabricam sapatos e sandálias. Primeiro as sandálias de couro mal curtido, depois os sapatos envernizados de Luís XIV e os mais atuais até que foram destronados pelos sapatênis. Pronto... Acabaram-se os calos, não se vendem mais as velhas pomadas porque a moda de calçar sapatos fora da anatomia pedóloga acabou! Vimo-nos livres daqueles sapatos apertados que produziam doloridos calos.
.
Mas esperem... Acaso não acreditam no "inconsciente coletivo" de grupos, sociedades, até mesmo da própria humanidade?

Foi um pouco antes da invenção do sapatênis, quando começaram a lançar satélites artificiais com instrumentos que podem predizer o clima dentro de uma faixa de tempo adequada... Antes deles, consultavam-se os idosos. Se o calo doesse iria chover ou nevar... E de acordo com a intensidade da dor, assim seria a intensidade da chuva ou da neve.
Os satélites substituíram os velhos calos na previsão do tempo. A humanidade se adapta dia a dia, ela é quem faz a moda.

Estou com saudades de um calo que eu tive quando usava sapatos de cromo alemão... Um dia fui para uma reunião no Chile com um sapato azul marinho e outro marrom feito à mão na loja do velho amigo Santos, a sapataria Souza, na Avenida Marechal Floriano, sapataria nobre da nobre classe da turma do Itamarati que a frequentava... Revoluções passam tão depressa...



Agora temos outros tipos de calos, muito mais inteligentes, mais espertos, mais conhecedores do clima que ronda a terra, o país, o Estado, o município...
Nas solas dos sapatos passava-se azeite ou óleo queimado, ou até produtos à base de petróleo para o couro não ficar tão duro... Estou com a impressão que vai faltar azeite e petróleo, mas agora já nem são necessários para isso...  Progredimos muito com os satélites e perdemos os calos. Principalmente aquele pessoal do Itamarati... Foram-se os calos, foram-se as festas do Itamarati na Marechal – ou seria no Marechal? 

Verões muito quentes, invernos muito frios, gritavam os velhos calos... Tempos que vão e voltam...

RR




Dei uma passada na Broadway em N. York... Dentro e fora da Broad... 




Estava procurando peças de teatro... Encontrei a partir de USD $ 50,10 (interessante os irritantes dez centavos comparados com os cinquenta dólares, mas isso dá importância à peça para não ser algo de 1,99). A peça chama-se "Anjos Negros sobre Tuskegee" ... Até USD $ 180,20 (lá estão os centavos a mais, para mostrar que a peça não é de 1,99) Com peças como "Richard III" e "Twelfth Night”, estas duas de Shakespeare... 

Aqui é quase impossível dar-se importância a Teatro e musicais. O pessoal prefere ver filmes cortados aos pedaços e passados diariamente pedaço a pedaço a que chamam de novela. Novelas são filmes a prestação. Nenhuma delas de Shakespeare. Lá eles têm Hollywood que é o lugar onde se fazem filmes sem necessidade de ver aos pedaços, prendendo você a um sofá e a um aparelho de TV todos os dias às mesmas horas, deixando as gentes sem alternativa cultural. 

Com tudo tão caro por aqui, filmes a prestações continuam tendo sucesso como extensão do hábito de pagar tudo no cartão em suaves prestações mesmo quando se compra em lojas de 1,99. Aliás, por aqui, nem se faz questão do centavo que falta para completar, com justiça, a transação comercial. Lá na bilheteria fazem questão das moedas. Dinheiro é sempre dinheiro e não pode ser desperdiçado. 

Nossa melhor peça de teatro atualmente em cartaz - embora de gosto duvidoso - é "The Queen of Hearts is nacked " Traduzindo, " A Rainha de Copas está nua" ... Mas passada como novela. Todos os dias uma novidade para rir e chorar com direção da diretoria do Planalto.

Muitos de nossos artistas, de renome meramente nacional, são feitos a martelo, impostos pela propaganda da mídia e são pagos pelos devaneios planaltinos. 



(Na foto, imagem da peça Mary Stuart na Broadway- no Brasil recebeu o nome de Maria Stuart) 


₢ Rui Rodrigues

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

O ultimo encontro com Fidel Castro

O ultimo encontro com Fidel Castro


(Não sou fonte, não indico a fonte e não sou jornalista, nem sob julgamento, mas entre o real e a ficção não vai tanta distância, nem no tempo, nem no espaço. Fiquemos então assim, mas o que ouvi foi o que segue, contado por alguém: )




Nos velhos tempos em que o mundo se dividia entre esquerda e direita, a esquerda tinha um atrativo a mais que a direita: Era um desafio baseado na fraqueza com intelectualidade contra a força com capital. Era como se fosse uma luta de S. Jorge contra o dragão, ou de David contra Golias. A juventude torcia pelo dragão, por Golias. Era bonito, o sonho era morrer pela causa independente do campo de batalha, se nas colinas de Sierra Maestra em Cuba, na Serra da Lunda em Angola, ou na Coréia ou Vietnam. Era tempo da guerra fria e conheci Fidel quando, como agente da CIA, comecei a mediar com ele a transição entre o governo deposto de Batista e o seu governo ao final da revolução cubana quando ainda se pensava que Fidel fazia apenas uma revolução para troca de governo e não para mudar para o regime comunista. Na CIA havia o “intermediário oficial” e o “intermediário real”. Os dois conversávamos com Fidel, mas só eu e Fidel sabíamos quem era quem e quem poderia negociar com ele. Uma forma de preservar a confidencialidade, caso algo desse errado sem me queimarem e sem comprometerem Fidel. Eu era o oficial, o que não aparecia para ninguém. Acompanhei Fidel desde 1958 em Sierra Maestra e nossos encontros terminaram abruptamente em 16 de abril de 1961. Nunca mais nos vimos até alguns dias atrás.




Hoje Cuba está num processo de abertura. O mundo comunista ruiu por completo, sobrou o socialismo que sempre era visto como um comunismo mais leve, mais próximo do mundo ocidental, mas nos últimos tempos o socialismo tem dado mostras de que tem que se modificar também ou irá perecer como o comunismo. Foi-se a ideologia, ficou a corrupção, o dinheiro fácil à sombra do poder das democracias representativas.  Um mundo entregue ao capitalismo sem freio parece ser um cenário tão feio quanto o comunismo sem fronteiras. O governo americano me chamou apenas para me aproximar de Fidel e dar-lhe um nome. Não havia ninguém mais conhecido e de sua confiança  que pudesse aproximar-se dele em nome do governo dos EUA. O nome que eu teria de dar-lhe era o do próximo negociador para a reabertura das relações entre EUA e Cuba e do comércio entre os dois países. Quando a CIA me avisou, eu estava em Lisboa. Era um sábado 25 de janeiro de 2014. Dilma Rousseff estava com seu Airbus 319 pronto para viajar para La Habana, mas só o faria pela manhã de domingo. Eu também, mas num voo da KLM que chegaria às 15h35min ao aeroporto de José Martí a La Habana. Ela chegou um pouco mais cedo por volta das 14h50min. Ela não me conhecia. Eu conhecia todos aqueles com os quais se encontraria de forma indireta. O único que eu conhecia pessoalmente, e muito bem, era Fidel.




Eu poderia ter tentado entrar em contato com ele durante a reunião da 2ª Cúpula da Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), mas preferi estudar o ambiente, fazer meus contatos, escolher o melhor momento. Teria que ser depois da inauguração do Porto cubano com dinheiro do povo brasileiro. Cuba jamais pagará, mas isso não era problema meu. Decidi que veria Fidel quando visitasse uma nova galeria que fazia sua inauguração expondo obras de artistas cubanos sob o título de "Lam, eres imprescindible”. Embora já tivesse visto fotos recentes de Fidel, sua decrepitude era notável. Estava agora com 87 anos. Entrei como correspondente credenciado sem direito a tirar qualquer foto. Fui revistado como se me estivessem fazendo um exame de próstata, minhas roupas minuciosamente revistadas. Na primeira oportunidade que tive, aproveitando aquele momento em que, depois das apresentações, Fidel se deteve para apreciar as obras de arte, e no silêncio que se fez, balbuciei por detrás dele, a primeira das quatro palavras de código a que estávamos habituados décadas atrás: - “Três eme”.

Voltou a cabeça devagar e me olhou com o mesmo olhar que eu já conhecia e que se podia traduzir facilmente: É verdade, mas faço de conta que não conheço para ver o que acontece. Então me vi obrigado a confirmar que eu era “aquele ” em quem ele agora pensava, porque eu também envelheci, e lhe disse a segunda palavra: - Martí, ao que seus olhos se abriram, seus lábios esboçaram um sorriso, e ele mesmo proferiu a terceira – Maestra... E eu completei com a quarta, quando sua mão já se dirigia á minha para um aperto de mão:- Muerte!

Com um gesto fez sinal para que ficássemos a sós numa das salas da galeria. Ele falou primeiro:

- Sem segredos?
- Como sempre, entre nós, sem segredos! – respondi-lhe.
- Que fazes em Cuba?
- O governo americano quer a abertura, mas tem condições.
- Certo. Também tenho as minhas.
- Eu sei. Mas não vou negociar contigo. Será outro. Minha função é apenas a de te informar quem será o próximo negociador. Poderás negociar com ele ou indicar-lhe alguém, mas terás que o conhecer primeiro e apresenta-lo a quem irá negociar em teu lugar como se fosses tu.
- Concordo. Mas diz-me. Que tens feito, e em que enrascadas te tens metido desde Sierra Maestra?
- Já estou aposentado há mais de vinte anos. Chamaram-me agora por tua causa. É serviço único. Posso fazer-te uma pergunta?
-Podes. Sem segredos.
- Sem segredos, como sempre. Como aguentaste todos estes anos sendo socialista sem nunca teres sido comunista nem socialista?

Tive a impressão de que me iria mentir, porque seu olhar ficou vago e seu cenho se franziu levemente, as mãos procuraram um apoio fictício e desnecessário nos braços da cadeira, porque já estavam apoiadas, mas o sorriso lhe voltou aos lábios sem que estes tomassem a forma de “u” como quando costuma falar para enganar. E disse como se estivesse num confessionário com seu sacerdote de confiança:



- Quando fiz a revolução, eu pertencia ao partido “Povo Cubano” Também chamado de  “Partido Ortodoxo”. Tu te lembras... Mas conhecia a podridão de todos os outros desde os tempos de antes de Batista. Confesso que esse partido tinha algo de socialista porque exigia reforma agrária supressão do latifúndio, nacionalização dos serviços públicos. Porém, eu tinha raiva mesmo era da prepotência dos ricos, da classe média. Detesto classe média mesmo sendo cubana. Eu nem conseguia vingar como advogado. Então, para mim, ou é todo mundo rico, ou todo mundo pobre. Quando Eisenhower se recusou a me receber em minha visita aos EUA logo após a revolução, preferindo ir jogar golfe, nesse dia caí para a esquerda. Definitivamente. Passei a odiar os EUA, o povo de classe média. Daí meu grito de “Pátria ou morte”. Bem mais tarde, Che Guevara estava ficando mais famoso do que eu. Mandei-o para a Bolívia. Não houve problemas de sucessão em Cuba. Era um sanguinário. Eu mandei gente para o paredón, mas  quase obrigado pelo pessoal do partido. Ele não. Matava com ternura. Era um filho da puta. 




Falava com certa dificuldade, bem devagar, mas continuou:

- No começo pensei que os blocos comunistas me ajudassem, e estava disposto até a usar os mísseis russos contra os EUA, embora os russos só quisessem ter apenas uma presença forte à porta dos EUA não só como arma de persuasão, como também para incentivar as populações da América do sul para o comunismo. Depois que o comunismo começou a cair no mundo, e senti isso em Angola com Eduardo dos Santos caindo para a direita e arrecadando dinheiro, temi mais pela minha vida. Se o regime caísse em Cuba, eu seria um homem morto com requintes de crueldade. Como fizeram com o duce italiano na segunda guerra mundial.  Sei que a população me odeia, ainda mais com essa permissividade da internet. Sabem mais do que me informam, e Yoani Sanchez é um exemplo desse ódio escondido por palavras que denotam oposição comedida e educada.  Enfim... Sobrevivendo, meu caro. A revolução nunca existiu e está morta. Questão de dias, um par de meses mais. 

- Posso fazer-lhe só mais uma pergunta, Comandante? A última, prometo. É uma questão apenas para medir minha capacidade de entender.

- Em frente... faça-a...
- E Maduro, Dilma Rousseff e Lula, Chávez, Cristina... Pensam como você ou são realmente socialistas ou comunistas?

- São tontos. São apenas tontos. São como os que tentaram fugir de Cuba em botes, pneus de caminhão, barcos de pesca atolados. Veja que eu tenho uma formação. Sou advogado. Eles não. São aproveitadores de situações e nunca trabalharam duro aliando o trabalho físico ao intelectual. Apenas usaram a velha esperança dos que têm menos do que os outros, ainda que tenham muito, para galgar o poder: A sede de “justiça” para angariar apoio popular, votos. Nos países comunistas como Cuba, trocamos favores, bens e cupons como objeto de troca. Nos outros países trocam favores por dinheiro. É tudo igual. Mas se eu perder o governo me matam, trucidam. A eles não. O que eles querem é poder, tirar fotografia com o velho comandante como turista tira fotos com o Mickey da Disneylândia... Cuba precisa de dinheiro para os novos tempos, porque já não temos quem nos envie ajuda como antigamente a China e URSS... Quem nos emprestaria dinheiro senão os tontos dos falsos comunistas e socialistas latino-americanos que não têm nem conhecimento nem cultura para governar? Uma viúva, um torneiro mecânico, uma ex-terrorista, um caminhoneiro bronco de estrada e um homem de armas de posto baixo...  E acabam levando a parte deles, mas não sou eu quem lhes paga... Uma mão lava a outra. Todos eles são ignorantes. Dilma é completamente burra e vaidosa como nova-rica. Mas... E quem negociará comigo?




Sua pergunta ao final da sua resposta punha fim à entrevista. Disse-lhe um nome no ouvido e mostrei-lhe uma foto discretamente, enfiada no jornal que eu levava na mão.  Ele aquiesceu. Conhecia a pessoa das fotos nos jornais e nem era americano. Na sua frente rasguei a foto em pedaços e os distribui por dois bolsos de meu paletó. Seriam jogados fora logo que saísse dali.

Fidel olhou-me nos olhos enquanto nos apertávamos as mãos. Se o conhecia bem, eu tinha sido naquele momento uma nave do tempo. Ele era uma nave do tempo também para mim, e em nada sua figura pública ficara arranhada por suas confissões honestas. Todos os lideres eram assim, cada qual com seus motivos para assumir e pretender ficar no poder por longo tempo, mas sempre por misturas de alguns ingredientes fundamentais em maior ou menor grau: Vaidade, poder, dinheiro, sobrevivência.

Apertamos as mãos. Saí da exposição aliviado, tranquilo. Missão cumprida. Os “paredóns” tinham acabado. Fidel e Cuba já não eram os mesmos, o Comunismo só existia agora na Coréia do Norte e também não era real. Lá era também a sobrevivência de um líder, que aos poucos ia eliminando até a sua própria família, começando pela mulher, pelo tio e pela família do tio.  Tal e qual como na Roma antiga.




Fui até o aeroporto. No bar pedi uma “cristal” e teclei um numero de meu celular. Quando atenderam eu disse- Embarco no horário. Tres eme. Escutei o Ok. Então tirei o chip do celular, dobrei-o até quebrar e joguei metade na cesta do lixo. A foto picada já estava espalhada pelas ruas de La Habana empurradas pela brisa do mar. A outra metade do chip joguei no vaso do banheiro do aeroporto. Yoani estava chegando de um voo. 




(Minha fonte não sei por onde anda. Provavelmente jamais voltarei a vê-la. Porque contei isto? Porque já não faz diferença alguma se o mundo sabe ou não sabe. O mundo não é comunista. Se fosse, o muro de Berlim não teria caído e a China e URSS ainda seriam ferrenhamenta comunistas, ao lado dos EUA. Ora.. Nada disso aconteceu. Os lideres sul-americanos não são tontos. Gostam é de dinheiro e dizer: Cheguei, vi e venci!... Embora não tenham chegado a lugar nenhum, não tenham visto nada e não tenham vencido de ninguém. Apenas convenceram a massa ignota com promessas que jamais poderão ser cumpridas)

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© Rui Rodrigues