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domingo, 9 de março de 2014

A benéfica modorra “patogênica”.

A benéfica modorra “patogênica”.




Modorra é aquela preguiça que todos nós conhecemos, é a vontade de “descansar” o raciocínio, de dar uma pausa, um tempo, o ato de pensar por vezes é tão difícil que gera ansiedades, dá ânsias de vômito, crianças fogem da escola, gente estressada grita gesticula e xinga porque não quer “discutir a relação”. E quando se trata de ter que entrar por um raciocínio com visão tridimensional, então isso já não é para qualquer um ou uma: É necessário um desenvolvimento de sinapses de tal ordem que apenas uma pequena porcentagem de alunos de engenharia consegue terminar o curso no tempo previsto de quatro a cinco anos. Nossa humanidade, nossa constituição física e mental não é de um “deus”. Para sobreviver somos obrigados a evoluir e só evoluímos mentalmente descoberta a descoberta. É-nos impossível dar “saltos” no conhecimento. Sofremos de preguiça mental hereditária. Por isso se hoje houvesse uma catástrofe meteórica, mesmo que tivéssemos um prazo de 10 anos para nos safarmos deste planeta, talvez ninguém escapasse. Não tivemos tempo “ainda” de processar nossos neurônios de forma a podermos transformar em técnica acessível a todos os nossos conhecimentos já adquiridos. Gastamos nossas disponibilidades em muitas outras atividades e com equipamentos que vamos classificando como “prioritários”. Mas até na classificação temos que evoluir. Há indícios de que estamos no caminho errado.

Parece que temos evoluído mais ou menos assim:



Não podemos “adivinhar” o que desconhecemos. O que podemos e temos feito é seguir uma sequência lógica que nos permite evoluir ao longo de descobertas. Quando se descobriu o uso da roda há cerca de 10.000 anos atrás, não poderíamos imaginar sequer a possibilidade da construção de um motor de automóvel, e muito menos imaginar este tipo de veículo. O máximo que pudemos imaginar foi um profeta sendo levado aos céus por uma carruagem de fogo que podia voar graças á intervenção divina, coisa que os romanos também fizeram em terras do Oriente Médio onde existia um templo em que um “deus” de cobre dirigindo uma carruagem era elevado aos céus através de uma engrenagem hidráulica. No lusco fusco do templo, os fiéis enganados se admiravam de como um deus estátua conseguia subir aos céus. Por isso a roda foi sendo utilizada passo a passo em veículos de guerra atrelados a cavalos, em rodas de arado, em carroças de transporte, em manivelas hidráulicas, em mós de moinhos, acoplada ao leme de embarcações à vela para controlar os rumos.

Ficamos séculos olhando o vapor saindo de panelas, até que se descobrisse o uso do vapor para mover objetos. Daí à invenção de uma caixa com rodas movida a vapor a que chamamos de locomotiva, já não demorou tanto. Parece que o conhecimento é uma intrincada “malha de descobertas” [i] ocasionais ou mentalmente elaboradas com raciocínio e cálculos de tal forma complicada que nos dificulta a evolução do conhecimento.  Assim como se fosse um enorme fluxograma. Mas então descobrimos o lado bom dessa benéfica modorra patogênica: Se soubéssemos tudo sobre o Universo e seus mistérios, o que estaríamos fazendo aqui? Em férias? Pois que é perfeitamente viável que nossa lentidão e preguiça mental se destinem a dar-nos uma boa razão para vivermos: Trabalhar na construção de nossa própria sobrevivência como espécie. Sabemos hoje que se não trabalharmos com afinco, qualquer meteoro desgarrado que tenha uns cinco quilômetros de diâmetro médio pode acabar com a vida na Terra tal como a conhecemos. Sabemos também que por duas vezes isso já aconteceu por aqui, e que novas espécies tomaram conta de nosso planeta e a herdaram.



Herdamos a terra. É agora a nossa vez, e para sobrevivermos temos que evoluir muito e muito mais. Paradoxalmente parece que evoluímos em todos os ramos da ciência, sempre bem devagar, exceto em um deles que nos pode ser fatal, e neste estamos absolutamente parados no tempo. Não evoluímos absolutamente nada. Zero em evolução desde os primórdios de nossa existência há cerca de 4,5 milhões de anos.

A convivência pacífica.




Naqueles tempos uma guerra entre grupos poderia eliminar a existência de um deles e acabar com sua transmissão de genes. Certamente perdemos muita carga genética e criamos uma cultura de sobrevivência do mais forte, o que tivesse maiores e melhores exércitos, mais força, mais inventiva para a descoberta de máquinas de guerra. Não mudamos absolutamente nada. Neste ponto, tanto homens quanto mulheres somos culpados. Mães sempre ensinaram os filhos a serem como os pais enquanto estes estavam ausentes na caça, na coleta de frutos e vegetais ou no trabalho da vida moderna, e as filhas iguais a elas para “servir” a família. Parte de nosso comportamento foi escrito por homens que se arvoraram em “tradutores” das palavras divinas de deuses que inventaram ou deficientemente descobriram [ii]. Não é de admirar que tenhamos sido nós, os homens a escrever tais livros, porque as mulheres eram fracas e estavam dominadas pelos homens. Começamos muito mal nossa “civilização”, ao darmos prioridade à força e não a dosarmos com a ponderação feminina.

O fato é que chegamos ao século XXI em meio a guerras, perigo de detonação de artefatos nucleares, repúblicas dominadas por presidentes que podem declarar guerra impunemente porque são os “chefes das forças armadas”... Já vimos muitos loucos na história deste planeta que declararam guerras e as perderam por completo como Napoleão, Hitler, por exemplo, e agora Putin da Rússia que invadiu a península da Crimeia que pertence à Ucrânia. Chegamos a ter a sensação que existe um gene muito especial em nossa humanidade destinado ao suicídio coletivo.




Precisamos descobri-lo e eliminá-lo. Seria uma pena exterminar uma humanidade tão simpática, alegre, evolutiva, que demonstra laivos de inteligência divina. Podemos até pensar que quanto menos evoluímos mais tempo durará a nossa existência como humanidade, mas estaríamos completamente equivocados. O que precisamos é aprender a conviver, mas para isso precisamos tirar todo o poder dos políticos que pensam apenas de acordo com a sua idiossincrasia, seus interesses, os interesses dos partidos que representam e esquecem a humanidade [iii].

Seremos mesmo tudo isso?

® Rui Rodrigues









[i] O Jogo eletrônico “Civilization” possui um breve e simplista fluxograma de evolução do conhecimento. Serve de base para ilustração.  
[ii] Eu mesmo acredito num Deus que criou nosso universo, mas a vida e as espécies são consequência de suas leis de formação de universos. O mais parecido é Javé (D’Us), mas é muito mais inteligente e poderoso do que consta nos livros sagrados. Não se arrepende do que proporcionou, não tem raivas, não tem nada de humano e não interfere em nada do que criou, porque uma vez criado o Universo que proporciona a vida, é autossuficiente e segue as leis estabelecidas na formação. É D’Us. São inúmeras as concepções de divindade que já apareceram na humanidade, e outro tanto que ainda persistem. Ou todas certas, ou todas equivocadas ou incompletas em sua concepção divina. Precisamos evoluir neste aspecto para que não se explorem os “pobres de espírito” de tal forma que por fé até podem acreditar em qualquer coisa que se lhes mostre como “deus”.

sábado, 8 de março de 2014

Carinhos das Traquitanas.

Carinhos das Traquitanas.



Não... Não é de carros velhos ou mal adaptados que vamos falar... É de nós mesmos, de nossos carinhos... 

Um dia ouvimos dizer que éramos feitos à imagem de Deus – mesmo nem sabendo o que é realmente Deus, nem a mínima ideia – e logo ficamos convencidos de que éramos o suprassumo da inteligência, o que de melhor existe neste mundo. Quando soubemos da existência de um Universo em que vivemos – sem contudo sabermos exatamente o que isso significa nem sua verdadeira composição - então sim nos perdemos definitivamente na análise do “eu” próprio de cada um por acharmos que somos a única espécie viva inteligente deste universo. No fundo precisávamos mesmo desse afago do ego para que parasse o tráfego de escravos, para que alguém disposto a escravizar outro alguém pensasse:
- Não posso fazer ninguém de escravo, porque se todos somos feitos à semelhança de Deus, então estaria escravizando a algo semelhante a Deus, e para se ser “semelhante” a Deus, não pode ser só na figura, mas também no espírito! Estaria escravizando (explorando) Deus...


Mas esse pensamento nunca tomou forma e se assentou definitivamente em nossa linha de comportamento: A humanidade de forma geral continua sendo explorada uns pelos outros e alega-se de tudo para justificar esta exploração. Parece que somos todos nós uma perfeita “traquitana”, cada uma funcionando como pode, umas com motor à ré, outras com tração dianteira, com maior ou menor potência, a vapor, diesel, energia nuclear, mas todas precisando de carinhos. Sem carinhos parece que não sabemos funcionar de forma perfeita. Nem dando à manivela... Muitas das traquitanas precisam de aditivos humorizantes para poder levar a vida, rodar em velocidade de cruzeiro, navegar pelos mares da alegria, voar e dar piruetas pelos ares do sucesso. Mas como nelas funcionam as traquitanas e carinhos?  



Antes de nada mais somos extremamente egoístas, e até mesmo na associação dos beneficentes dos mais desvalidos o egoísmo funciona como motor: - Não se dá o que se pode nem o que se tem, dá-se para mostrar que não somos egoístas ou quando muito porque achamos que é o sistema que tem que mudar para que os benefícios cheguem a todos, mas nem é nesta parte descuidada dos aspectos sociais que somos realmente traquitanas e egoístas. A referência está no egoísmo: Gostamos de injetar em nossos cérebros boas doses de endorfinas que nos dão prazer. Assim, somos capazes de amar alguém que maltratamos até o sofrimento de parte a parte. Nós que levávamos uma vida normal com esse alguém, o maltratamos para ficarmos com grande deficiência de endorfinas. Sentimo-nos mal. Mas quando reatamos a relação normal logo as endorfinas enchem nosso cérebro de prazeres imensos. Sentimo-nos felizes, mas a cada separação e reatamento, mais endorfinas se fazem necessárias para nos dar o mesmo prazer. É como um vício. E logo estaremos terminando definitivamente para depois virem os carinhos de amigos, de amigas, que nos afagam, nos dão o consolo que gera endorfinas sem fim pelo resto da vida, porque em cada encontro se falará invariavelmente do mesmo: A relação terminada, como o outro alguém lhe "fez mal", como sofreu com ele, como deu a volta por cima, como ascende agora à condição de herói ou de heroína da vida.


Nossas traquitanas funcionam segundo o seu raciocínio guardado e desenvolvido nos motores centrais do cérebro, e não nos permitem, embora haja exceções – que tomemos consciência do “todo”, do envolvimento, da história por detrás das ações, das consequências dos nossos atos. Ao raciocinar na solução de um problema recebemos uma dose de endorfina sempre que “achamos lógica” uma atitude a tomar, e então achamos que seja a “solução” aquela que nos dê maior dose de endorfina... Nossa vida de traquitanas é muito rudimentar ainda e somos preguiçosos para manter nossos motores sempre na análise do conjunto do movimento: Nós (as traquitanas) e nos arredores da rede de estradas em que nos movemos. Uma entrada numa estrada muito equivocada e nunca mais voltaremos à estrada principal em que movíamos nossas vidas, como acontece sempre que alguma traquitana envereda pelo caminho das drogas e em particular pelo caminho do crack.



Algumas de nós ficamos doentes. É muito comum. Tão comum, que geralmente morremos de doenças ou da doença da falta de atenção e somos atropeladas no meio das ruas, nos escritórios por colegas ou chefes, em casa por esposas maridos filhos ou familiares, na política por competidores ou inimigos figadais. 


Por vezes nos atropelamos a nós mesmos por pura preguiça de raciocinar e não escolhermos o caminho mais adequado. Muitas vezes por pressa em resolver o que nos aflige. Não se pode ter pressa nesta vida, nem devemos permitir que nos apressem. Quem nos apressa já dá sinal de que não nos quer permitir o bom hábito de raciocinar: Ou não lhes interessa o que nos possa acontecer, ou estão torcendo para que nos precipitemos no abismo do desconhecimento de causa.  



Carinhos são muito bons por causa da endorfina que nos dá prazer, mas o que é “prazer” e onde busca-lo sem nos complicarmos, em qualquer ocasião? Uns dizem que é buscando amparo em Deus, essa figura que não conhecemos, que nunca vimos, de quem só ouvimos falar pela voz de outros, cada qual com sua opinião, simples traquitanas como nós. Outros dizem que conhecendo-nos a nós mesmos podemos obter todo o prazer do mundo sem recorrer a nada mais do que ao nosso raciocínio. Existe um imenso universo dentro de nós mesmos para ser desvendado, e a cada descoberta podemos ver como são parecidas todas as traquitanas que habitam este mundo. Tão parecidas que apesar das desigualdades sempre afirmamos que “somos todos iguais”. Mas não somos! Uns viram-se para o lado de fora, outros olham tanto para dentro quanto para fora, outros se encistam e olham apenas para dentro, mas destes há três tipos: Ou olham exclusivamente para o “eu”; ou para o “eu” no sentido de como predominar sobre os outros; ou apenas pela curiosidade de saber como é este mundo. O saber, o conhecer, soltam endorfinas deliciosas, uma salvação para quando estamos doentes e podermos nos restabelecer mais rapidamente. Não é toa que crianças e doentes em geral se animam e melhoram quando convivem em sua doença com animais, recebem a visita de “palhaços”, ou simplesmente sonham

O mundo é dos sonhadores e não podemos sufocar nossos gritos, nossas alegrias, nada do que queiramos expor.  


® Rui Rodrigues  

quinta-feira, 6 de março de 2014

Faça seu vinho em casa... Receitas simples!

Faça seu vinho em casa... Receitas simples!



Viver bem, feliz, com tranquilidade, tem os seus segredos. Muitas coisas boas da vida aprendi com meu tio Miguel, irmão de meu pai. Minha tia, irmã de meu pai sempre foi muito estressada, meu pai muito ocupado com o trabalho, e embora meu tio sempre tenha sido preocupado com o trabalho, tal como meu pai, sempre tinha um tempo para ser feliz, viver com tranquilidade. Minha tia “postiça” Nilde, casada com o Miguel, faz-lhe companhia na vida como esposa, amante, companheira, um exemplo de casal que não consegui acompanhar. Um dia fui visita-los no Algarve lá pelo mês de setembro ou outubro. Tinham regressado de um passeio muito especial.



Nas épocas de colheita da azeitona e da uva, os cultivadores fazem a cata ou a vindima. No entanto sempre ficam restos de azeitonas e de uvas que amadureceram mais tarde e não compensa contratar gente para colher esses restos. Então, pessoas interessadas como meu tio, visitam essas quintas, essas propriedades, e se são amigos ou conhecidos dos proprietários, podem fazer a colheita do que seria desperdiçado. Era isso que tinham feito naquele dia. Ao jantar bebemos vinho caseiro “do meu tio”, excelente, encorpado, com sabor frutado, seco, taninos latentes, um grau alcoólico um pouco acima dos 11 graus, mas que me ficou na memória; Vinho saboroso e honesto!



Azeitonas no supermercado já vêm processadas e não servem para fazer azeite, como meu tio fez com as azeitonas que colheu e mandou esmagar em lagar de aluguel, mas podemos comprar uvas e fazer um bom vinho sem aditivos de sabor e adição de corantes feitos a martelo à venda em supermercados. Fazer vinho caseiro pode ser, além de uma boa diversão, um excelente prazer de acompanhar seus pratos feitos em casa para receber amigos. E garanto que não fica mais caro do que alguns dos vinhos que se encontram em prateleiras carregados de impostos que vão não se sabe para onde nem quem, talvez para Cuba, para a Venezuela... Mas certamente não para melhorar a vida dos brasileiros nestes últimos doze anos. Quanto aos pastores das igrejas que dizem que o vinho de Jesus não continha álcool sempre sobra o argumento que o vinho que se fazia naquela época era o mesmo do de Lot que viu suas partes pudendas desvendadas pelas filhas depois de ter bebido... O mesmo vinho de Salomão, de David, de Anás e de Caifás. Beba com moderação, mas aprecie cada gole. É dádiva de Deus, o Pai de Jesus, aquele que transformou água em vinho e não vinho em água!

Mãos à obra? Então vamos lá. É simples, um pouco trabalhoso, mas gratificante se tiver boa companhia. Experimente a receita simples. Se gostar, invista um pouco em equipamentos como os mostrados nos vídeos e poderá fazer vinhos muito e muito melhores. Porém lembre-se do seguinte:

·        Para fazer um litro de vinho precisará aproximadamente entre 1,3 e 1, 5 kg de uvas (depende do teor de suco das uvas). Para controlar a doçura do vinho, uvas muito maduras têm mais açúcar, uvas mais verdes, são mais ácidas. Para fazer cerca de 5 litros de vinho precisará entre 6,5 a 7,5 kg de uva.
·        Separe o engace dos bagos de uva antes de amassar. O engace estraga o vinho. O esmagamento da uva não deve ser um processo enérgico que triture a película, mas o suficiente para facilitar a extração do mosto.
·        A elaboração do vinho tinto requer obrigatoriamente a participação da película da uva (casca). A cor tinta do vinho é derivada da extração de tanino da casca. No caso do vinho branco, ao contrário, ele se distingue pela fermentação exclusiva do mosto, sem a película. 
·        Mantenha todos os recipientes esterilizados para que o vinho não se transforme em vinagre. Pode lavar os recipientes cuidadosamente e depois passar uma esponja absolutamente limpa (nova) embebida em álcool-gel.
·        Use preferencialmente levedura para fermentar o mosto (pode utilizar o fermento de pão sem maiores problemas na proporção de 20 gramas para cada 100 litros, ou nem use fermento. O mosto fermenta por si só). Só adicione açúcar se desejar que o vinho fique adocicado ou “suave”, já que nem todo o açúcar se transforma em álcool no processo.
·        Para dar sabor frutado ao vinho, adicione frutas secas a seu gosto, e até tabaco. O tabaco lhe dá um sabor muito especial.
·        Os recipientes fundamentais podem vê-los nos vídeos [i] aqui indicados.
·        NÃO LAVE AS UVAS.. Elas têm uma película esbranquiçada que é um fermento natural. No entanto retire manualmente teias de aranha, folhas, bagos verdes e material estranho contido nos cachos e bagos podres.   
  




1.     Receita simples (vinho à lavrador- Portugal)
Selecione as melhores uvas (as melhores castas e as mais maduras), separe os engaces, esmague-as com a ajuda de um esmagador manual ou com as próprias mãos e deixe fermentar por 8 dias em vasilhame limpo e adequado. Passados os 8 dias e o vinho ter fervido (fermentado) está pronto para se tirar para os tonéis feitos de madeira (carvalho ou castanho) ficando aí até perder o doce (acabar a fermentação). Por fim, quando deixar de fermentar – cerca de três a quatro meses depois -  retira-se o líquido filtrado e  muda-se para outro recipiente (pode ser um tonel ou um ‘Pipo”  ficando aí até ao consumo final.

2.     Outra forma de fazer vinho caseiro

Bom lembrar que nenhum vinho fica “exatamente” igual ao outro... Se gostar e fizer apenas um litro, não haverá mais “desse” e ficará apenas na lembrança. Para saber como processar de forma diferente, assista aos vídeos indicados no rodapé, mas lembre-se de NÃO ADICIONAR o açúcar – ou tanto açúcar - se deseja um vinho seco, que são sempre os melhores - mas lembre-se também de adicionar frutas secas e tabaco para lhe dar um sabor especial.

A meus tios Miguel e Nilde devo muito mais do que pensam, e os amo muito mais do que podem imaginar... São um exemplo de vida!. 

® Rui Rodrigues

quarta-feira, 5 de março de 2014

Não foi nada fácil, mas Jesus ressuscitou [i]...

Não foi nada fácil, mas Jesus ressuscitou [i]...



Parece que os Evangelhos atribuídos a Marcos, Mateus e Lucas foram escritos pelos mesmos “monges copistas” que se escondiam nas catacumbas de Roma, porque os três começam por: “Logo após o nascer do sol no dia seguinte ao Sabbath...” e logo em seguida parecem “complementar-se” na informação de como aconteceu o ressuscitar de Jesus, o Cristo. João não começa assim, mas complementa a história e conta mais ou menos o mesmo. Depois, incrivelmente, Jesus não dá muita importância a quem aparecer primeiro, e só depois de aparecer a dois caminhantes da estrada de Emaús, se apresenta para dar um susto nos apóstolos.
João diz que na mesma tarde Jesus se apresentou aos apóstolos, mas Marcos, Mateus e Lucas afirmam que só mais tarde Jesus apareceu para os apóstolos, não nesse dia. Parece tudo muito confuso, e é mesmo, mas há explicações que só agora foram possíveis desvendar. E isso aconteceu na segunda ressuscitagem ou no segundo ressuscitamento [ii], quando Jesus passou lá pelo bar em 03 de março de 2014, durante o Carnaval no Rio de Janeiro... A história passou-se assim, segundo conta o Barman [iii].



Quando vi um camelo na Saara (contava o Barman) no Rio de Janeiro, pensei logo em propaganda dos comerciantes árabes ou judeus do centro da cidade, mas aquele árabe que saltou elegantemente e todo serelepe do camelo, era “diferente”. Para começar, usava uma estrela de David de lápis lazúli pendurada no peito, pendente de um cordão de couro trançado. Vestia uma túnica imaculadamente branca e usava uma kipá [iv] sobre os cabelos em tranças [v]. De sandálias de couro, o rosto de olhos azuis, era emoldurado por uma barba comprida. Amarrou o camelo num poste onde estava afixado o resultado do jogo do bicho da manhã, e entrou no bar. Dirigiu-se ao balcão e pediu em meio a olhares de admiração dos clientes:

- Um pedaço de pão e um copo de vinho.

Depois se dirigiu a uma mesa vazia a pedido do atendente do bar. Um cliente não se conteve, olhou para ele bem nos olhos e disse:
- Desculpe, mas você é muito parecido com Jesus!...
- Olhe em verdade em verdade vos digo não sei quem é esse tal de Jesus [vi], mas meu nome é Yeshua [vii], estou com uma fome danada e acabo de ressuscitar.
Primeiro fez-se um silêncio sepulcral no bar. Depois começou uma vozearia, os garçons começaram a serem chamados para servir bebidas, as cabeças voltavam-se para o tal de Jesus e para o camelo amarrado no poste lá fora na calçada.
O cliente que perguntara achou que Yeshua lhe tinha dado permissão para continuar a conversa e voltou a perguntar.
- Mas se é Yeshua onde estão as marcas dos cravos nas mãos, e os arranhões na cabeça da coroa de espinhos?
- Ah... Essas feridas já curaram logo na primeira vez que ressuscitei. Esta é a segunda. Eu disse para meu pai: Não adianta me mandar de novo para o planeta Terra porque vão me matar outra vez só para ver se sou deus ou não. Eles acham que se eu ressuscitar é porque sou deus, mas se eu continuar morto então sou uma fraude. Assim não há humanidade que eu possa convencer. Mas meu pai insistiu tanto que eu voltei.
Já não havia ninguém sentado nas mesas do bar. Todos os clientes estavam de copo na mão formando uma roda em volta da mesa de Yeshua que agora saboreava seu pão e seu vinho, um Cabernet Sauvignon chileno muito bom [viii].
- Mas agora ninguém mata ninguém por causa da religião. Só lá no Oriente Médio – disse o cliente – Aqui é a Saara, uma zona comercial do Rio de Janeiro, e estamos na América do Sul... Fica tranquilo, Yeshua.
- E vens me dizer – a mim – onde estou celerado? Respondeu Yeshua visivelmente contrariado, mas condescendente. Querias que me ressuscitassem onde? Na China, onde quase ninguém me conhece? Na Índia? No Oriente Médio, para que Israel e os árabes se matassem uns aos outros em meia dúzia de dias só porque eu voltei e aqui é o meu lugar? Eu sei onde estou.
Yeshua voltou-se então para a multidão que já se aglomerava na calçada tamponando a entrada do Bar, e disse:


- Sentai-vos!... Hoje não é dia de milagres porque ninguém aqui está casando, por isso não multiplicarei nem pão nem vinho nem peixes. Mas pago a conta e mostrarei como não um, mas uma cáfila [ix] inteira passa pelo buraco de uma agulha. E dito isto, retirou uma agulha grossa presa à sua imaculada roupa branca, e colocou-a na horizontal. Então chamou um por um para que vissem como uma cáfila que passava pela rua também passava pelo buraco da agulha, como na foto. E depois disse:
- Comei e bebei que este é o meu bar. Eu pago a conta. E como não deve haver tanto vinho nem tanto pão por aqui que dê para todos, uma mordida no pão e um gole para cada um que é para não faltar... Que assim se faça como quem come hóstia. Só engulam quando derreter na boca, que é para saciar a todos.

Uma senhora aproximou-se de Yeshua e disse em prantos:
- Senhor... Eu vejo!... Eu vejo!... (E ajoelhou-se aos pés de Yeshua, tentando beijá-los). Yeshua a afastou docemente dizendo-lhe.
- Não, mulher... Não... Meus pés estão sujos de tanta poeira desse Rio de Janeiro, de pisar tanto lixo... Peçam a César o que é vosso e não dai a César enquanto não vos devolver em serviços o que lhe dais. Mas vês o quê? Não vias antes?
- Não senhor... Não via. Tenho aqui até os documentos dos médicos cubanos que me examinaram. Eu estava irremediavelmente cega, mas ao ouvir-te passei a ver.
- Mulher, que tu és muito apressada nos milagres. Porque não esperas-te por mim, porque não me pediste o milagre para que eu te o fizesse?
- Senhor... Lá no meu bairro a gente já sabe que não precisa pedir. É só chegar ao templo, mostrar papéis e dar o testemunho, chorar bastante de alegria, que depois os homens do pastor acertam conosco fora das vistas alheias...
- Yeshua olhou a mulher e disse-lhe: Pois em verdade te digo, mulher de muita fé, que tens toda a fé nos vendilhões do templo, mas que quando realmente precisares rezarás a todos os deuses deste planeta e dos outros, e nenhum te ouvirá, porque se não morreres de uma coisa, morrerás de outra, que este é o destino de todos os mortais.   




A Rua da Alfândega e algumas outras das adjacências estavam sendo fechadas pela polícia, porque era tanta gente que o trânsito parara. Repórteres tentavam chegar ao Bar do Chopp Grátis. Helicópteros de reportagem pairavam com pás adejantes pelo céu. A cidade estava virada do avesso. As imagens do acontecimento estavam em todas as redes de emissoras de televisão do mundo inteiro. Só a Globo dera um leve “tararan-tararan” interrompendo a transmissão de uma novela por breves segundos, informando que no Jornal da Noite dariam mais detalhes.



- Pois bem (disse Yeshua indo já no terceiro copo de vinho e no terceiro de pão, agora acompanhado com rojões de peixe molhados em molho rosa) – Vim para vos dizer algumas coisas mais, e di-las-ei, mas não aqui e agora. Mas para que não digais vós que não vos dei notícia de fé, direi que há filhos neste mundo que não são de Noé, pois que enquanto Noé construía sua arca de muitos côvados, outros que ouviram dizer do dilúvio, construíam uma enorme bexiga redonda e transparente, feita com bexigas de gado vacum, que flutuou nas águas do dilúvio por quarenta dias e quarenta noites até que as águas se evaporaram para a Amazônia. Eles ficaram no fundo da bexiga, sempre estável por causa de seu peso concentrado no fundo, mesmo quando girava ao sabor do impacto das ondas. A bexiga girava, mas eles, lá no fundo, não. E foram muitos os que enganaram Noé. Esses ainda hoje enganam a humanidade, aproveitando-se dos crentes, da crença e da fé. Vigilai, pois, para que não fiqueis curtos no vestuário, na educação, na saúde, nos transportes, no pão e no vinho, para encherdes os alforjes dos que vos pedem em meu nome, porque sempre dei a césar o que é de césar e a Deus o que é de Deus... Moedas são dos césares, não dos templos, não minhas...  



E ao dizer isto, Yeshua desapareceu como que por encanto. O camelo foi seguido, mas quanto mais corriam, mais depressa o camelo andava desembestado pelas ruas do Rio de Janeiro em meio a lixo, assaltantes, traficantes, rapinantes, quadrilheiros, entorpecidos e entorpecentes, camisinhas de vénus, seringas, pastores milagreiros, políticos embonecados, carros alegóricos, fogos de artifício, balas de borracha, cacetadas e prisões que são autênticos palácios onde se preserva o crime da violência das ruas.



O camelo desapareceu misteriosamente, mas há quem diga que o viu cavalgando sobre as águas da Baía de Guanabara, desviando-se convenientemente das manchas de lixo espumoso...

Era carnaval nesse dia.

® Rui Rodrigues    









[i] Nota do Barman: (Aqui pelo bar do Chopp Grátis passa boi, passa boiada, é um grande movimento, e de vez em quando passam umas “avis raras” que nos contam umas historietas para distrair enquanto pegamos algumas, tomamos umas e largamos outras).
[ii] Não há dicionário que aceite estes dois termos, ressuscitagem e ressuscitamento e nos querem obrigar a usar um monte de palavras para transmitir a ideia fundamental: Ressuscitar... Nossa língua por vezes não ajuda: Atrapalha!
[iii] O barman naquele dia por acaso era eu. Quem sou eu? Eu sou o barman em certos dias. Noutros sou só eu.
[iv] Aquele gorro que os homens judeus usam para cobrir a cabeça e que chegou a ser usado por homens e mulheres. Ver em http://www.igrejadedeusemsaopaulo.org.br/averdadeiraorigemdokipa.htm
[v] Peot em hebraico.
[vi] Em hebraico, Jesus se escreve Yeshua.
[vii] Nome hebraico de Jesus como já devem ter percebido da nota anterior.
[viii] Se a Adega chilena me pagar adequadamente, informo qual a marca do vinho que Yeshua bebeu.
[ix]   Cáfila é um agrupamento de camelos. Vara é de porcos, bando e quadrilha são de políticos que roubam pondo-se de acordo entre si.  

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

A Ordem é uma estrada e por ela vai um Bando...

A Ordem é uma estrada e por ela vai um Bando...




... Entre uma praia maravilhosa que se abre para mar bravio e indomável, e uma pradaria suave e florida que se abre para densa floresta hostil. Não é muito larga. Pelo contrário, só nos permite uma limitada liberdade, e por vezes é tão estreita que se transforma numa linha onde somente passa a moral e a justiça.

Durante doze mil anos religiosos se revezaram no comando da gerência da moralidade, da justiça, da ordem, no sentido de tornar este mundo melhor a cada dia. Milhões, bilhões, trilhões de famílias educaram seus filhos ensinando-lhes os bons caminhos: Os do progresso, da Ordem, da fé, da bondade, do amor... Mas em algum momento entre o nascer e o tomar ciência plena do mundo em que vivemos, muitos de nós tomam um rumo de contestação como parte fundamental e necessária da evolução, porém, se uns exageram em impor uma ordem modificada em tempo que não é compreensível para a humanidade, outros contestam a própria ordem e desandam para aquilo a que chamamos crime, perversão, os males do mundo. Porém, há que ter em conta que a ordem, que inclui a moral, é independente do olhar do observador. A moral não depende da visão de um contestador do lado do crime, nem da visão de um contestador do lado do progresso. Ela é a estrada perfeitamente identificada quer por quem venha do lado do mar, quer por quem venha do lado da floresta. Mesmo até por quem venha dos céus, ou aflore dos subterrâneos do mundo. Há uma consciência latente na humanidade e em cada uma de suas células: O homem e a mulher. Homens e mulheres somente são diferentes pela genitália. De resto, fígado não tem sexo, coração não tem sexo, rins não têm sexo, cérebro e neurônios não tem sexo. Por isso não se pode atribuir os males do mundo, ou os bens do mundo aos homens ou ás mulheres exclusivamente. Nem aos que exibem uma cor de pele, uma bandeira de nacionalidade, uma opção sexual. Parece que ainda não compreendemos que somos partes de um todo que deve continuar vivo, ocupando um lugar perfeitamente definido neste mundo aparentemente sem grandes demonstrações de inteligência. Para continuarmos vivos, temos que ser muito e muito mais inteligentes do que temos demonstrado ser até aqui, após esse longo caminho de 12.000 anos como civilização.




Assim, para andarmos sempre na estrada, ou como diziam antigamente nossos ancestrais, no caminho da retidão, os costumes podem e devem ser alterados para dar liberdade à evolução, mas não devem subverter a ordem, como por exemplo, dar o crime como legal e encarcerar a legalidade. Um assassino tem seus próprios motivos pára assassinar, mas ver um destes no governo de uma nação seria um caminho aberto para a desordem, um abandono da estrada para cairmos na floresta ou nos afogarmos no mar. Estrada é estrada, não é nem floresta nem mar bravio. Um assassino ou um ladrão no governo que usasse o convencimento popular através de “diálogos” sendo o povo ignorante por relapso de outros governantes, pode usar tanto as verdades quanto as mentiras, alegando que os meios servem aos fins. No entanto, se um individuo dessa laia faz o diabo para se eleger, podemos imaginar com quantos diabos fará um inferno para não largar o poder. E foi assim que em terra de papagaios, de Santa Cruz, alguns indivíduos falando entre si, resolveram oferecer verbas públicas a terceiros que não por acaso também eram políticos para que votassem de acordo com suas diretrizes em certos assuntos a serem votados no Senado e nas câmaras federais. Denunciados por um deles, foram denunciados ao Ministério Público, investigados, julgados. Já na época do julgamento se verificou que os ministros tinham sido indicados por alguém muito poderoso que fazia parte de um dos partidos a que pertenciam alguns dos julgados. Um deles tinha sido até presidente desse partido. Parece a qualquer mortal, mesmo dos mais idiotas, que se trata de uma formação de quadrilha. Eles foram presos mas com penas suaves, ou pelo menos apropriadas pelo Supremo tribunal, mas já se notou que havia política misturada com justiça. Alguns dos ministros disseram que não tinha havido formação de quadrilha. Apareceu então uma nova figura na jurisdição: Os embargos infringentes: Uma forma de questionar o julgamento dos ministros. E neste interim novos ministros são adicionados ao Supremo, indicados pelo mesmo partido do poderoso da nação, aproveitando que outros tinham atingido a idade de aposentadoria. E ao julgar os embargos infringentes, foi aprovada moção segundo a qual os réus já presos e condenados com penas definidas – e suaves – o Supremo tribunal federal resolveu que não houve formação de quadrilha. Definitivamente a justiça brasileira saiu da estrada da Ordem, e avançou para mar aberto. Se fosse para a floresta, seria comida pelas feras. Prefere afogar-se no mar bravio que não é de água. Este mar é de lama. Porque a partir de agora, e com todo o “direito”, quadrilhas de bandidos não serão quadrilhas mesmo atuando em conjunto e de forma mancomunada.




Que lei e em qual país, a justiça é realmente justa, se os ministros são indicados por governos e cada governo tem os seus ministros? Que justiça é realmente ilibada neste mundo, se nem os governos são justos? É claro que esta característica não tira os governos nem os seus ministros nem sua justiça da estrada da Ordem, porque no geral, costumam percorrer a estrada da Ordem que dá estabilidade à nação, confiança aos cidadãos. Andam nesses casos pelo acostamento da estrada da Ordem e embora abalada a população segue seu caminho verso ao futuro com Ordem e Progresso. Porém, quando quadrilhas deixam de serem quadrilhas numa canetada com assinatura de um poderoso e seus ministros, fazendo o diabo, então não há retorno para esta situação, porque até o mais imbecil deste Brasil consegue entender que não se fez justiça, mas sim política. Política suja. E certamente para proteger o chefe do bando.




Quadrilha, bando, é tudo a mesma coisa e posto que não seja quadrilha, que seja bando então... Eles foram condenados por “formação de bando”, se o assunto é o “politicamente correto”. O perfil do senhor Barroso é avesso ao uso da palavra “quadrilha” e certamente ele não é veado. Mãe só há uma e muitas vezes ela se engana e engana o pai por amor ao filho. E decididamente, quando a política se intromete na lei e na economia, a estrada desaparece, transforma-se numa trilha onde os transeuntes são assaltados por meliantes provindos da floresta, imprensados que ficam entre o mal e a lama: Ou se unem aos meliantes ou chafurdam na lama, mas já sabemos pelo resultado que temos agora duas quadrilhas, ou como prefere o ministro, dois bandos. Ele pertence a um deles e já conhecia o outro de longa data. 



® Rui Rodrigues 

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Não são apenas “coisas” que mudaram...

Não são apenas “coisas” que mudaram...


Este mundo é feito de objetos, pensamentos, memórias, e o “eu”. Sem o “eu”, não há mundo, nem objetos, nem pensamentos e muito menos memórias. Basta perguntar a um morto se se lembra de alguma coisa, e para quem pensa que só “coisas” vivas morrem, relógios ficam doentes e também morrem, pensamentos morrem, memórias morrem. Este planeta que é da vida é também da morte. Elas se confundem.

Algumas coisas que morreram não nos fazem a menor falta. Outras fazem uma falta tremenda, porque parte de nós também morreu com elas. Não somos nem piores nem melhores do que os outros semelhantes. Nada disso. Temos tanto em comum, que dizermos que somos diferentes seria um completo absurdo. Saudades, por exemplo, todos nós temos, e muitas são saudades comuns.




Quantas vezes já olhamos para uma cena de carnaval, por exemplo, todos se divertindo no meio da rua ou de um salão de um clube, demonstrando alegra, despreocupação, e os “interpretamos” como “objetos” animados como perfeitas marionetes, comandadas por exímios artistas que nem lhes notamos as articulações?
No entanto, no conjunto da turma animada do salão ou das ruas, uns estão ali mesmo para se divertirem, outros foram convidados e gostando ou não se sentem na obrigação de ir, outros ainda nem tinham alegria para se divertirem, e muitos estão trabalhando. Muitos dos que promoveram a festa nem estão lá. Apenas um negócio comercial. Eles trabalharam muito e estão descansando em suas casas. Artistas normalmente estão lá por um bom “cachê”.




Mas apesar de sermos todos iguais há sempre pequenas e sutis diferenças às quais damos muito valor e que usamos como rótulos para identificar pessoas ou grupos: Os latinos, os anglo-saxões, os brancos, os negros, os comunistas, os capitalistas, os artistas, os militares, os políticos... Como se um artista não pudesse ser um militar, negro, capitalista, político, anglo-saxão, mesmo tendo nascido em meio a latinidades, e não possa ter um pensamento tão brilhante ou tão limitado, ser um numero significativo à direita, ou um zero à esquerda... O que nos faz diferentes é a nossa necessidade de “rotular” para identificar.




Algum de nós, nascido em meio a latinidades, sejamos de origem latina ou não, se transferido para o Reino Unido ou para a Noruega, por exemplo, sentiremos diferenças de grande amplitude que nos podem deixar temporariamente desconfortáveis. Depois nos habituamos. O mesmo acontece com anglo-saxões e nórdicos que se desloquem a países latinos. Mas isto é uma mudança perfeitamente definida no tempo, porque é “aqui e agora”, e não uma mudança no tempo. Este artigo destina-se a “coisas” que mudam no tempo, e que nos dão um sentido mais dissolvido do que é evoluir. Embora todos os seres humanos evoluam, uns o fazem mais devagar, outros muito de repente, outros ainda são capazes de fazer a proeza de regredir. Julguem como quiserem.

Não era até interessante, nos tempos em que reis e presidentes faziam visitas a países amigos e desfilavam pelas ruas com papel picado caindo das janelas, colchas estendidas para dar as boas vindas? Pois é...Embora não façam falta nenhuma, acabou este tipo de desfile que ainda se vê, muito raramente, quando um príncipe inglês visita ex-colônias em África, por puro exemplo. Parece que política não é o forte da diversão ou admiração nos dias atuais.

E as corridas de cavalos em Ascot, em hipódromos espalhados pelo mundo? O turfe, com direito até a lojas espalhadas pela cidade para recolha de apostas parece ter falecido de morte natural. Nem houve propaganda contra o turfe dizendo: “Seu cirurgião adverte: Turfe faz mal à saúde”. E nem propaganda dizendo que faz mal à moral ou ao bolso. Mas os poucos hipódromos que ainda existem parecem fadados ao encerramento.




Antigamente, quando havia segurança nas ruas, o povo saía no carnaval de ponta a ponta das cidades latinas, anglo-saxônicas, nórdicas. Aos poucos se foi reduzindo a festa a países de origem latina, e certamente o Brasil será dos últimos a apagar as luzes do ultimo barracão onde se constroem carros, se costuram fantasias. Mas cada vez menos nas ruas. Sair fantasiado de palhaço, por exemplo, pode ser entendido como uma fantasia contra o regime duro da posição no governo. Se usar máscara de zorro, pode ser retido para averiguações, ser identificado, registrado, e se resistir e sofrer abusos, poderá ser alvo de uma investigação futura por uma “Comissão da Verdade”. É a falsa noção de justiça que só se aplica depois que o sujeito morreu, por grupos revanchistas que ocupam o poder, nele se instalam e com mais ou menos violência exercem a sua própria ditadura. Na Alemanha trabalha-se, eles nem são muito de sair para passear, sua alegria está no dia a dia, porque podem ser alegres todos os dias e não apenas em alguns míseros dias comerciais de carnaval. A economia da Alemanha vai muito bem. Para eles, nazismo, comunismo, socialismo, nunca mais, e socialismo, só no nome: Trabalham para ganhar dinheiro, para poderem gastar de forma reservada, economizar, progredir socialmente dando trabalho a toda a população para que possam pagar seu consumo.




E os artistas? Até que ponto são artistas? Artistas são pessoas que sabem fingir muito bem. Choram com vontade de rir, riem com vontade de chorar. É a arte do fingimento. Muitos artistas, por exemplo, fazem propaganda de coisas que nunca consumiram, não consomem nem nunca consumirão, e o fazem por puro dinheiro, muitas vezes induzindo os fãs ao consumo desses artigos. Por exemplo, Ana Maria Braga que usa o programa para vender produtos, Roberto Carlos que era vegetariano e que para vender carne de certa marca, aparece dizendo que deixou de ser vegetariano. É propaganda enganosa.  Antigamente peças de teatro ficavam em cartaz por anos a fio. Agora o mundo prefere divertir-se com jogos na Internet, ou com jogos controlados em casa, como jogos de futebol da FIFA, Civilization, Piratas do Caribe, ou tendo acesso a todo tipo de leitura, informação, conversas pelas redes sociais. O teatro no Brasil vai perdendo seu lugar, tal como o turfe. As salas de cinema foram compradas por igrejas, algumas salas coletivas ainda existentes em shoppings estão com os dias contados.



Na praça do coreto já não há bandas, conjuntos, crianças ocuparam o lugar durante alguns minutos do dia sempre antes dos bandidos e ladrões aparecerem. Ninguém sai à noite para passear a não ser em zonas ainda protegidas pela polícia, como em zonas “nobres” da cidade, ainda que em tais zonas não more um nobre sequer: A nobreza no mundo se resume a uma meia dúzia de nações. O rei que mais destoa de todos é o rei de Espanha, que gosta de caçar animais selvagens em África, e cuja filha responde a processo por malversação de verbas pelo marido. Ela declarou que não sabia das atividades do marido, nem que as verbas eram ilícitas. O rei foi destituído de suas funções de representante da WWF para a Espanha. Ainda se matam touros em corridas na Espanha, nas arenas. Arenas agora são a identificação dos “estádios” de futebol, como os da Copa do Mundo de 2014. Deu no mesmo. Lá se matam outras coisas, como por exemplo, o sonho de melhores serviços de saúde, de ensino, de segurança, de transportes, de redes de esgoto, de água potável, sem apagões de energia elétrica. Isto num país que se identifica com Cuba e o Bolivarianismo de Chávez soam a mentira, a falcatrua, a distorção de verdades, de cultura.




De um mundo que causava inveja pelo gaudio provocado por nobres que desfilavam, de desfile de modas no turfe, de garbosas fardas de militares em desfile, de concursos de Miss Universo com belas mulheres sem silicone, sem lipoaspirações, os olhos e cabelos naturais de cor natural. Não precisamos realmente de “nobres”, embora a nobreza de intenções nos faça muita falta. Parece estar em falta.

Os festivais da canção acabaram. E se voltarem não terá o mesmo brilho... Fazer festival de “rap” não parece ser uma boa ideia, porque a “voz” está separada da canção. Qualquer voz pode cantar “rap”.
Há sim, o direito de ir e vir, mas também o direito a assaltar quem vai e vem, quer por abrandamento das leis, quer por ineficiência da polícia, quer pela falta de verbas para se poder ser eficiente. Quando a corrupção vem de cima para baixo, a resposta ao mundo que não sabemos gerir vem de baixo para cima, e é neste fluxo e refluxo de marés de mudanças que esperamos um grande tsunami e um dilúvio que inundem a terra. Podemos construir uma arca com vários estádios ou côvados de comprimento, e até lhe podemos dar um nome: Democracia Participativa. Nela cabem todas as sociedades de todas as nações. Nos palácios atuais só cabe quem tem influências ou dinheiro para pagar os votos dos que representam essas sociedades, e o sistema é tão falho, que é a própria sociedade que elege os seus algozes em meio de cidades poluídas pelo trânsito, sufocadas pela insegurança, atulhadas de vendedores e consumidores de drogas, em meio a um céu pleno de aviões onde viajam os políticos para cima e para baixo, para além e para acolá, com gordos cartões de crédito com fundos garantidos de verbas públicas. Ângela Merkel viaja tão pouco... Obama quase não sai dos EUA face à sua reponsabilidade, presidentes europeus nem se houve falar que saia de avião a passear, a rainha de Inglaterra quase nem sai do próprio palácio.




Seja bonzinho (a), aliene-se, deixe o mundo rolar... Assim, pensam os que querem fazer opinião, para que você possa ser considerada (o) boa cidadã (o).  Antigamente, se os netos e netas nos cobrassem por nossa passividade, poderíamos dizer: - É assim porque é assim e pronto! Mas os netos e as netas estão ficando cada vez mais espertos. E teremos que lhes explicar porque somos tão comodistas e passivos.

Mesmo morto, meu estado de passividade será lido por minha neta.  




® Rui Rodrigues