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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Não são apenas “coisas” que mudaram...

Não são apenas “coisas” que mudaram...


Este mundo é feito de objetos, pensamentos, memórias, e o “eu”. Sem o “eu”, não há mundo, nem objetos, nem pensamentos e muito menos memórias. Basta perguntar a um morto se se lembra de alguma coisa, e para quem pensa que só “coisas” vivas morrem, relógios ficam doentes e também morrem, pensamentos morrem, memórias morrem. Este planeta que é da vida é também da morte. Elas se confundem.

Algumas coisas que morreram não nos fazem a menor falta. Outras fazem uma falta tremenda, porque parte de nós também morreu com elas. Não somos nem piores nem melhores do que os outros semelhantes. Nada disso. Temos tanto em comum, que dizermos que somos diferentes seria um completo absurdo. Saudades, por exemplo, todos nós temos, e muitas são saudades comuns.




Quantas vezes já olhamos para uma cena de carnaval, por exemplo, todos se divertindo no meio da rua ou de um salão de um clube, demonstrando alegra, despreocupação, e os “interpretamos” como “objetos” animados como perfeitas marionetes, comandadas por exímios artistas que nem lhes notamos as articulações?
No entanto, no conjunto da turma animada do salão ou das ruas, uns estão ali mesmo para se divertirem, outros foram convidados e gostando ou não se sentem na obrigação de ir, outros ainda nem tinham alegria para se divertirem, e muitos estão trabalhando. Muitos dos que promoveram a festa nem estão lá. Apenas um negócio comercial. Eles trabalharam muito e estão descansando em suas casas. Artistas normalmente estão lá por um bom “cachê”.




Mas apesar de sermos todos iguais há sempre pequenas e sutis diferenças às quais damos muito valor e que usamos como rótulos para identificar pessoas ou grupos: Os latinos, os anglo-saxões, os brancos, os negros, os comunistas, os capitalistas, os artistas, os militares, os políticos... Como se um artista não pudesse ser um militar, negro, capitalista, político, anglo-saxão, mesmo tendo nascido em meio a latinidades, e não possa ter um pensamento tão brilhante ou tão limitado, ser um numero significativo à direita, ou um zero à esquerda... O que nos faz diferentes é a nossa necessidade de “rotular” para identificar.




Algum de nós, nascido em meio a latinidades, sejamos de origem latina ou não, se transferido para o Reino Unido ou para a Noruega, por exemplo, sentiremos diferenças de grande amplitude que nos podem deixar temporariamente desconfortáveis. Depois nos habituamos. O mesmo acontece com anglo-saxões e nórdicos que se desloquem a países latinos. Mas isto é uma mudança perfeitamente definida no tempo, porque é “aqui e agora”, e não uma mudança no tempo. Este artigo destina-se a “coisas” que mudam no tempo, e que nos dão um sentido mais dissolvido do que é evoluir. Embora todos os seres humanos evoluam, uns o fazem mais devagar, outros muito de repente, outros ainda são capazes de fazer a proeza de regredir. Julguem como quiserem.

Não era até interessante, nos tempos em que reis e presidentes faziam visitas a países amigos e desfilavam pelas ruas com papel picado caindo das janelas, colchas estendidas para dar as boas vindas? Pois é...Embora não façam falta nenhuma, acabou este tipo de desfile que ainda se vê, muito raramente, quando um príncipe inglês visita ex-colônias em África, por puro exemplo. Parece que política não é o forte da diversão ou admiração nos dias atuais.

E as corridas de cavalos em Ascot, em hipódromos espalhados pelo mundo? O turfe, com direito até a lojas espalhadas pela cidade para recolha de apostas parece ter falecido de morte natural. Nem houve propaganda contra o turfe dizendo: “Seu cirurgião adverte: Turfe faz mal à saúde”. E nem propaganda dizendo que faz mal à moral ou ao bolso. Mas os poucos hipódromos que ainda existem parecem fadados ao encerramento.




Antigamente, quando havia segurança nas ruas, o povo saía no carnaval de ponta a ponta das cidades latinas, anglo-saxônicas, nórdicas. Aos poucos se foi reduzindo a festa a países de origem latina, e certamente o Brasil será dos últimos a apagar as luzes do ultimo barracão onde se constroem carros, se costuram fantasias. Mas cada vez menos nas ruas. Sair fantasiado de palhaço, por exemplo, pode ser entendido como uma fantasia contra o regime duro da posição no governo. Se usar máscara de zorro, pode ser retido para averiguações, ser identificado, registrado, e se resistir e sofrer abusos, poderá ser alvo de uma investigação futura por uma “Comissão da Verdade”. É a falsa noção de justiça que só se aplica depois que o sujeito morreu, por grupos revanchistas que ocupam o poder, nele se instalam e com mais ou menos violência exercem a sua própria ditadura. Na Alemanha trabalha-se, eles nem são muito de sair para passear, sua alegria está no dia a dia, porque podem ser alegres todos os dias e não apenas em alguns míseros dias comerciais de carnaval. A economia da Alemanha vai muito bem. Para eles, nazismo, comunismo, socialismo, nunca mais, e socialismo, só no nome: Trabalham para ganhar dinheiro, para poderem gastar de forma reservada, economizar, progredir socialmente dando trabalho a toda a população para que possam pagar seu consumo.




E os artistas? Até que ponto são artistas? Artistas são pessoas que sabem fingir muito bem. Choram com vontade de rir, riem com vontade de chorar. É a arte do fingimento. Muitos artistas, por exemplo, fazem propaganda de coisas que nunca consumiram, não consomem nem nunca consumirão, e o fazem por puro dinheiro, muitas vezes induzindo os fãs ao consumo desses artigos. Por exemplo, Ana Maria Braga que usa o programa para vender produtos, Roberto Carlos que era vegetariano e que para vender carne de certa marca, aparece dizendo que deixou de ser vegetariano. É propaganda enganosa.  Antigamente peças de teatro ficavam em cartaz por anos a fio. Agora o mundo prefere divertir-se com jogos na Internet, ou com jogos controlados em casa, como jogos de futebol da FIFA, Civilization, Piratas do Caribe, ou tendo acesso a todo tipo de leitura, informação, conversas pelas redes sociais. O teatro no Brasil vai perdendo seu lugar, tal como o turfe. As salas de cinema foram compradas por igrejas, algumas salas coletivas ainda existentes em shoppings estão com os dias contados.



Na praça do coreto já não há bandas, conjuntos, crianças ocuparam o lugar durante alguns minutos do dia sempre antes dos bandidos e ladrões aparecerem. Ninguém sai à noite para passear a não ser em zonas ainda protegidas pela polícia, como em zonas “nobres” da cidade, ainda que em tais zonas não more um nobre sequer: A nobreza no mundo se resume a uma meia dúzia de nações. O rei que mais destoa de todos é o rei de Espanha, que gosta de caçar animais selvagens em África, e cuja filha responde a processo por malversação de verbas pelo marido. Ela declarou que não sabia das atividades do marido, nem que as verbas eram ilícitas. O rei foi destituído de suas funções de representante da WWF para a Espanha. Ainda se matam touros em corridas na Espanha, nas arenas. Arenas agora são a identificação dos “estádios” de futebol, como os da Copa do Mundo de 2014. Deu no mesmo. Lá se matam outras coisas, como por exemplo, o sonho de melhores serviços de saúde, de ensino, de segurança, de transportes, de redes de esgoto, de água potável, sem apagões de energia elétrica. Isto num país que se identifica com Cuba e o Bolivarianismo de Chávez soam a mentira, a falcatrua, a distorção de verdades, de cultura.




De um mundo que causava inveja pelo gaudio provocado por nobres que desfilavam, de desfile de modas no turfe, de garbosas fardas de militares em desfile, de concursos de Miss Universo com belas mulheres sem silicone, sem lipoaspirações, os olhos e cabelos naturais de cor natural. Não precisamos realmente de “nobres”, embora a nobreza de intenções nos faça muita falta. Parece estar em falta.

Os festivais da canção acabaram. E se voltarem não terá o mesmo brilho... Fazer festival de “rap” não parece ser uma boa ideia, porque a “voz” está separada da canção. Qualquer voz pode cantar “rap”.
Há sim, o direito de ir e vir, mas também o direito a assaltar quem vai e vem, quer por abrandamento das leis, quer por ineficiência da polícia, quer pela falta de verbas para se poder ser eficiente. Quando a corrupção vem de cima para baixo, a resposta ao mundo que não sabemos gerir vem de baixo para cima, e é neste fluxo e refluxo de marés de mudanças que esperamos um grande tsunami e um dilúvio que inundem a terra. Podemos construir uma arca com vários estádios ou côvados de comprimento, e até lhe podemos dar um nome: Democracia Participativa. Nela cabem todas as sociedades de todas as nações. Nos palácios atuais só cabe quem tem influências ou dinheiro para pagar os votos dos que representam essas sociedades, e o sistema é tão falho, que é a própria sociedade que elege os seus algozes em meio de cidades poluídas pelo trânsito, sufocadas pela insegurança, atulhadas de vendedores e consumidores de drogas, em meio a um céu pleno de aviões onde viajam os políticos para cima e para baixo, para além e para acolá, com gordos cartões de crédito com fundos garantidos de verbas públicas. Ângela Merkel viaja tão pouco... Obama quase não sai dos EUA face à sua reponsabilidade, presidentes europeus nem se houve falar que saia de avião a passear, a rainha de Inglaterra quase nem sai do próprio palácio.




Seja bonzinho (a), aliene-se, deixe o mundo rolar... Assim, pensam os que querem fazer opinião, para que você possa ser considerada (o) boa cidadã (o).  Antigamente, se os netos e netas nos cobrassem por nossa passividade, poderíamos dizer: - É assim porque é assim e pronto! Mas os netos e as netas estão ficando cada vez mais espertos. E teremos que lhes explicar porque somos tão comodistas e passivos.

Mesmo morto, meu estado de passividade será lido por minha neta.  




® Rui Rodrigues

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