Não
são apenas “coisas” que mudaram...
Este mundo
é feito de objetos, pensamentos, memórias, e o “eu”. Sem o “eu”, não há mundo,
nem objetos, nem pensamentos e muito menos memórias. Basta perguntar a um morto
se se lembra de alguma coisa, e para quem pensa que só “coisas” vivas morrem,
relógios ficam doentes e também morrem, pensamentos morrem, memórias morrem.
Este planeta que é da vida é também da morte. Elas se confundem.
Algumas
coisas que morreram não nos fazem a menor falta. Outras fazem uma falta
tremenda, porque parte de nós também morreu com elas. Não somos nem piores nem
melhores do que os outros semelhantes. Nada disso. Temos tanto em comum, que
dizermos que somos diferentes seria um completo absurdo. Saudades, por exemplo,
todos nós temos, e muitas são saudades comuns.
Quantas
vezes já olhamos para uma cena de carnaval, por exemplo, todos se divertindo no
meio da rua ou de um salão de um clube, demonstrando alegra, despreocupação, e
os “interpretamos” como “objetos” animados como perfeitas marionetes,
comandadas por exímios artistas que nem lhes notamos as articulações?
No
entanto, no conjunto da turma animada do salão ou das ruas, uns estão ali mesmo
para se divertirem, outros foram convidados e gostando ou não se sentem na
obrigação de ir, outros ainda nem tinham alegria para se divertirem, e muitos
estão trabalhando. Muitos dos que promoveram a festa nem estão lá. Apenas um
negócio comercial. Eles trabalharam muito e estão descansando em suas casas.
Artistas normalmente estão lá por um bom “cachê”.
Mas apesar
de sermos todos iguais há sempre pequenas e sutis diferenças às quais damos
muito valor e que usamos como rótulos para identificar pessoas ou grupos: Os
latinos, os anglo-saxões, os brancos, os negros, os comunistas, os
capitalistas, os artistas, os militares, os políticos... Como se um artista não
pudesse ser um militar, negro, capitalista, político, anglo-saxão, mesmo tendo
nascido em meio a latinidades, e não possa ter um pensamento tão brilhante ou
tão limitado, ser um numero significativo à direita, ou um zero à esquerda... O
que nos faz diferentes é a nossa necessidade de “rotular” para identificar.
Algum de
nós, nascido em meio a latinidades, sejamos de origem latina ou não, se
transferido para o Reino Unido ou para a Noruega, por exemplo, sentiremos
diferenças de grande amplitude que nos podem deixar temporariamente
desconfortáveis. Depois nos habituamos. O mesmo acontece com anglo-saxões e
nórdicos que se desloquem a países latinos. Mas isto é uma mudança
perfeitamente definida no tempo, porque é “aqui e agora”, e não uma mudança no
tempo. Este artigo destina-se a “coisas” que mudam no tempo, e que nos dão um sentido
mais dissolvido do que é evoluir. Embora todos os seres humanos evoluam, uns o
fazem mais devagar, outros muito de repente, outros ainda são capazes de fazer
a proeza de regredir. Julguem como quiserem.
Não era
até interessante, nos tempos em que reis e presidentes faziam visitas a países
amigos e desfilavam pelas ruas com papel picado caindo das janelas, colchas
estendidas para dar as boas vindas? Pois é...Embora não façam falta nenhuma, acabou este tipo de desfile que
ainda se vê, muito raramente, quando um príncipe inglês visita ex-colônias em
África, por puro exemplo. Parece que política não é o forte da diversão ou
admiração nos dias atuais.
E as
corridas de cavalos em Ascot, em hipódromos espalhados pelo mundo? O turfe, com
direito até a lojas espalhadas pela cidade para recolha de apostas parece ter
falecido de morte natural. Nem houve propaganda contra o turfe dizendo: “Seu
cirurgião adverte: Turfe faz mal à saúde”. E nem propaganda dizendo que faz mal
à moral ou ao bolso. Mas os poucos hipódromos que ainda existem parecem fadados
ao encerramento.
Antigamente,
quando havia segurança nas ruas, o povo saía no carnaval de ponta a ponta das
cidades latinas, anglo-saxônicas, nórdicas. Aos poucos se foi reduzindo a festa
a países de origem latina, e certamente o Brasil será dos últimos a apagar as
luzes do ultimo barracão onde se constroem carros, se costuram fantasias. Mas
cada vez menos nas ruas. Sair fantasiado de palhaço, por exemplo, pode ser
entendido como uma fantasia contra o regime duro da posição no governo. Se usar
máscara de zorro, pode ser retido para averiguações, ser identificado,
registrado, e se resistir e sofrer abusos, poderá ser alvo de uma investigação futura
por uma “Comissão da Verdade”. É a falsa noção de justiça que só se aplica
depois que o sujeito morreu, por grupos revanchistas que ocupam o poder, nele
se instalam e com mais ou menos violência exercem a sua própria ditadura. Na
Alemanha trabalha-se, eles nem são muito de sair para passear, sua alegria está
no dia a dia, porque podem ser alegres todos os dias e não apenas em alguns
míseros dias comerciais de carnaval. A economia da Alemanha vai muito bem. Para
eles, nazismo, comunismo, socialismo, nunca mais, e socialismo, só no nome:
Trabalham para ganhar dinheiro, para poderem gastar de forma reservada,
economizar, progredir socialmente dando trabalho a toda a população para que
possam pagar seu consumo.
E os
artistas? Até que ponto são artistas? Artistas são pessoas que sabem fingir
muito bem. Choram com vontade de rir, riem com vontade de chorar. É a arte do
fingimento. Muitos artistas, por exemplo, fazem propaganda de coisas que nunca
consumiram, não consomem nem nunca consumirão, e o fazem por puro dinheiro,
muitas vezes induzindo os fãs ao consumo desses artigos. Por exemplo, Ana Maria
Braga que usa o programa para vender produtos, Roberto Carlos que era
vegetariano e que para vender carne de certa marca, aparece dizendo que deixou
de ser vegetariano. É propaganda enganosa. Antigamente peças de teatro ficavam em cartaz
por anos a fio. Agora o mundo prefere divertir-se com jogos na Internet, ou com
jogos controlados em casa, como jogos de futebol da FIFA, Civilization, Piratas
do Caribe, ou tendo acesso a todo tipo de leitura, informação, conversas pelas
redes sociais. O teatro no Brasil vai perdendo seu lugar, tal como o turfe. As
salas de cinema foram compradas por igrejas, algumas salas coletivas ainda
existentes em shoppings estão com os dias contados.
Na praça
do coreto já não há bandas, conjuntos, crianças ocuparam o lugar durante alguns
minutos do dia sempre antes dos bandidos e ladrões aparecerem. Ninguém sai à
noite para passear a não ser em zonas ainda protegidas pela polícia, como em
zonas “nobres” da cidade, ainda que em tais zonas não more um nobre sequer: A
nobreza no mundo se resume a uma meia dúzia de nações. O rei que mais destoa de
todos é o rei de Espanha, que gosta de caçar animais selvagens em África, e
cuja filha responde a processo por malversação de verbas pelo marido. Ela
declarou que não sabia das atividades do marido, nem que as verbas eram ilícitas.
O rei foi destituído de suas funções de representante da WWF para a Espanha. Ainda
se matam touros em corridas na Espanha, nas arenas. Arenas agora são a
identificação dos “estádios” de futebol, como os da Copa do Mundo de 2014. Deu
no mesmo. Lá se matam outras coisas, como por exemplo, o sonho de melhores serviços
de saúde, de ensino, de segurança, de transportes, de redes de esgoto, de água
potável, sem apagões de energia elétrica. Isto num país que se identifica com
Cuba e o Bolivarianismo de Chávez soam a mentira, a falcatrua, a distorção de
verdades, de cultura.
De um
mundo que causava inveja pelo gaudio provocado por nobres que desfilavam, de
desfile de modas no turfe, de garbosas fardas de militares em desfile, de
concursos de Miss Universo com belas mulheres sem silicone, sem lipoaspirações,
os olhos e cabelos naturais de cor natural. Não precisamos realmente de “nobres”,
embora a nobreza de intenções nos faça muita falta. Parece estar em falta.
Os festivais
da canção acabaram. E se voltarem não terá o mesmo brilho... Fazer festival de “rap”
não parece ser uma boa ideia, porque a “voz” está separada da canção. Qualquer
voz pode cantar “rap”.
Há sim, o
direito de ir e vir, mas também o direito a assaltar quem vai e vem, quer por
abrandamento das leis, quer por ineficiência da polícia, quer pela falta de
verbas para se poder ser eficiente. Quando a corrupção vem de cima para baixo,
a resposta ao mundo que não sabemos gerir vem de baixo para cima, e é neste
fluxo e refluxo de marés de mudanças que esperamos um grande tsunami e um
dilúvio que inundem a terra. Podemos construir uma arca com vários estádios ou côvados
de comprimento, e até lhe podemos dar um nome: Democracia Participativa. Nela
cabem todas as sociedades de todas as nações. Nos palácios atuais só cabe quem
tem influências ou dinheiro para pagar os votos dos que representam essas
sociedades, e o sistema é tão falho, que é a própria sociedade que elege os
seus algozes em meio de cidades poluídas pelo trânsito, sufocadas pela insegurança,
atulhadas de vendedores e consumidores de drogas, em meio a um céu pleno de
aviões onde viajam os políticos para cima e para baixo, para além e para acolá,
com gordos cartões de crédito com fundos garantidos de verbas públicas. Ângela
Merkel viaja tão pouco... Obama quase não sai dos EUA face à sua
reponsabilidade, presidentes europeus nem se houve falar que saia de avião a
passear, a rainha de Inglaterra quase nem sai do próprio palácio.
Seja bonzinho (a),
aliene-se, deixe o mundo rolar... Assim, pensam os que querem fazer opinião, para
que você possa ser considerada (o) boa cidadã (o). Antigamente, se os netos e netas nos
cobrassem por nossa passividade, poderíamos dizer: - É assim porque é assim e
pronto! Mas os netos e as netas estão ficando cada vez mais espertos. E teremos
que lhes explicar porque somos tão comodistas e passivos.
Mesmo
morto, meu estado de passividade será lido por minha neta.
® Rui
Rodrigues
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Grato por seus comentários.