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terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

O Socialismo do século XXI – Nu e cru.

O Socialismo do século XXI – Nu e cru.



Povo estratificado
Poder.
Igualdade dos seres humanos.

Junte estes ingredientes e os diferentes graus de interesses particulares, e poderá inferir uma infinidade de teorias políticas para cada país, métodos para conseguir os objetivos e internacionalização de processos. O fator determinante principal para o sucesso ou insucesso de uma nação ou sistema político é: Quem manda?





Então temos que pensar em outros fatores a que podemos chamar de secundários, mas que influem fortemente na conduta e no processo de “governar”:A religiosidade, a industrialização, as propriedades produtoras de alimentos, o capital, as forças armadas, os serviços públicos, o desenvolvimento autossustentável.




Ao longo dos séculos e já lá se vão cerca de 1.200 séculos desde a primeira civilização humana, que temos assistido a lutas pelo poder, movidas pelos mais variados motivos, motivos que interessavam para explicar essas lutas, mas jamais por motivos abrangentes, concludentes, com visão global, que pudessem demonstrar que o interesse principal era o bem estar geral de TODA a população do país, das nações aliadas, do planeta, de forma sustentável. Todas essas guerras foram geradas por motivação parcial. E em nenhuma delas se perguntou aos cidadãos: Querem esta guerra? Sim ou não? Então, falar de democracia pode continuar sendo fácil, mas explicar que tenha ou haja democracia nessas nações do passado ou nas atuais, fica difícil de explicar. Nem voto dado em confiança se pode retirar quando o eleito perde nossa confiança. Para dar uma explicação “aceitável” como cortina que esconde o que vai por detrás, estabeleceu-se, na democracia da Grécia antiga, há mais de 3.500 anos, que a “representatividade” seria um modo democrático de governar. Os cidadãos elegem seus representantes, estes resolvem tudo o que querem e podem – em nome do povo - durante certo período no qual detêm o cargo. Se não cumprirem sua função a contento, não voltam a ser eleitos, mas o mal estará feito, difícil de ser reparado, muitas das leis que aprovaram em sua ineficiência, continuarão vigentes.




Então, e em oposição aos “cidadãos”, apareceu a definição de proletariado, juntando os trabalhadores do campo e da indústria porque agora tinham relevância por sua quantidade, logo após o inicio da industrialização promovida pelos teares ingleses. Apareceram novos nomes para qualificar o tipo de cidadãos, como “operariado”. Era o socialismo. O socialismo se colocava no caminho entre os “cidadãos” e o “proletariado”. Os cidadãos tinham dinheiro, contratavam os proletários. Mas a luta de classes sempre foi pelo “capital” [i]. Na classe média estavam incluídos os empreendedores, os que tinham maior volume de capital. 

Friederich Engels, George Hegel, Karl Marx, Lenin, Adolf Hitler, Antônio Gramsci, Saul Alinsky, todos eles foram ou socialistas ou comunistas. Não deixa de ser interessante a separação entre comunismo e socialismo, que pregam basicamente a mesma filosofia de ingredientes básicos, mas que chegaram a se odiar no passado. O próprio nazismo, nascido socialista e democrático, pode iluminar o nosso entendimento das sutilezas que as definições de sistemas de governo escondem em suas denominações, o que divide ainda mais a sociedade: Os filósofos entendem perfeitamente todas as sutilezas, o povo, o proletariado privado de educação só entende quando lhe falta o pão, a casa, a roupa, a água, a eletricidade, e somente se junta numa revolução quando lhe falta o pão. Não entende filosofias. Quem assume os governos não lhes proporciona educação. É um ciclo vicioso. 
 Friederich Engels, Georg Hegel, Karl Marx, Lenin, Adolf Hitler, Antônio Gramsci, Saul Alinsky, todos eles discutiram fundamentalmente três dos quatro assuntos fundamentais do socialismo: Como entendem a igualdade social, como chegar ao poder, como se manterem no poder. O quarto, que é como manter a produção e competir no mercado internacional, sempre foi algo a discutir posteriormente, porque o sistema se resolveria por si mesmo.


As designações dos líderes sempre foram importantes para dar a impressão de que algo mudou, como uma marca registrada. Na prática, que diferença existe entre um Rei, um Czar, um Imperador, um Presidente da república, um chefe do Politburo, se há sempre poder definido, povo estratificado pela quantidade de bens que possui (capital ou favores), as forças armadas, os servidores públicos, os trabalhadores do campo, os que trabalham na indústria? Os nomes mudam de regime para regime, mas basicamente nada muda. Quem manda é o governo. Quando o povo não aprecia sua forma de governar vai para as ruas. Os poderosos em qualquer sistema político mandam então avançar a polícia armada, as forças 
armadas. Não defendem o povo, mas o regime. O processo para se manter no poder é a “política” que, em qualquer sistema, inclui o uso de mentiras, de desvios de atenção para o fundamental, a distribuição de favores, a compra de votos [ii]. Sem isto os erros aparecem, os cidadãos e o proletariado se revolta [iii].

Socialismo é um sonho da humanidade, tal como a busca do Eldorado, a do Paraíso no mundo sonhado pós-morte e por todas as religiões. Religiões e socialistas deveriam dar-se muito bem, já que os objetivos são a felicidade terrena, a igualdade, e tantas outras qualidades de vida, e na própria religião católica, se incitam a “largar os bens e seguir a Jesus”, mas paradoxalmente não se têm entendido ao longo dos séculos. Podemos encontrar resposta imediata: Se o que existe de comum entre o socialismo e as religiões é a detenção do poder, então jamais se entenderão, e no dia em que se entenderem, nas décadas seguintes uma delas será aniquilada pela outra.Qualquer associação entre partidos e filosofias, acaba sempre numa operação de diminuição até restar um só, como nas sociedades capitalistas. O ser humano é altamente competitivo.


Se por um só momento aceitarmos raciocinar sobre “poder”, talvez tenhamos uma fortíssima decepção, já alertada num parágrafo acima, quando se disse que não há diferenças fundamentais entre reinados, impérios, repúblicas, teocracias, ditaduras. E qualquer uma destas pode ser capitalista, comunista, socialista. Recentemente fala-se muito em “nova ordem mundial”, começa a falar-se na Democracia Participativa. Com a queda até então imprevisível do comunismo, quando caiu o muro de Berlim que dividia a Alemanha Ocidental da República “Democrática” da Alemanha, fez-se um vácuo na luta de classes: Os cidadãos englobando a classe média, e o proletariado. Estes últimos se viram desprotegidos, e hoje na Europa ainda há uma crise financeira que afeta a ambos. Numa Europa unida pela Comunidade Europeia, voltaram os tempos da emigração. Uma aparente reversão da ordem está promovendo a troca da posse de bens, a classe média está sendo comprimida, cresce em quantidade o proletariado desempregado. A União Europeia é basicamente – ou se diz – socialista, no entanto, a luta continua sendo pelo capital, pela posse de bens.


No entanto há ilhas de "socialismo" - é o que eles dizem ser - eficiente ao norte da Europa, e na Suíça fruto da Democracia Participativa. Por lá, os cidadãos votaram através das redes sociais os itens de sua própria e nova constituição, longe da influência dos interesses do empresariado, de religiosos, de servidores públicos, de políticos “representantes” não se sabia de quem até então, mas não dos cidadãos. Lá, cidadãos e proletários têm quase o mesmo salário, porque investimentos incluem o risco de aplicar capital. E sem margem de lucro não há investimentos, o país decai, os proletários vão para as ruas.



Nem vamos falar de Brasil, Venezuela, Cuba, Argentina, Bolívia. Nestes países emergiram lideres que não têm instrução, que acham que o dinheiro dos impostos pode ser distribuído sem que aja planejamento para a revitalização de tudo o que esses países acumularam de bens e da capacidade de gerar recursos. Quando o dinheiro de impostos começar a diminuir sensivelmente, quer por falência dos sistemas sociais e produtivos, o que inclui a falência dos ministérios e do próprio governo, então esses líderes cairão: Faltará pão. Fidel Castro nunca se preocupou com o seu sistema produtivo, porque isso criaria uma classe poderosa: A dos investidores, os capitalistas. Cuba viveu assim da bondade da comunidade internacional. Recebeu ajuda da China, da URSS, e agora do Brasil. Temendo o aumento de influências, Os EUA tentam reatar com Cuba, levantar o cerco comercial à ilha, que se vê obrigada a exportar trabalho escravo. Fidel não resolveu o problema de seu povo, mas resolveu – tal como todos os outros lideres sob qualquer regime em qualquer país do mundo – sua permanência no poder com o uso dos manuais de Gramsci, primeiro, e com os de Alinsky numa segunda fase. Quando Fidel falecer, se seu irmão não tiver o mesmo carisma Cuba ficará livre numa explosão social. Que não seja sangrenta.




Na verdade, na verdade, a grande vitória do capitalismo é que já encampou e engoliu o socialismo e o comunismo. Líderes precisam de poder e dinheiro. O poder obtêm com frases de impacto filosófico. O capital apanham com os banqueiros e a classe média. E chegamos a um ponto tal na política de tornar todos iguais através da lavagem cerebral, que teremos de dizer em nossas casas, tal como o povo judeu adorava Jeová às escondidas no sótão de suas casas durante a perseguição aos judeus, que minha neta é uma menina, e meu neto um menino... O patrulhamento ideológico do socialismo voltou a provocar perturbações modernas: Querem que homens e mulheres sejam iguais. perante a lei são, sim, mas morfologicamente é uma luta insana, demente, e como é de hábito, os princípios desta atitude são irrepreensíveis. Eles têm razão nos motivos, mas vão muito longe, como sempre. Cigarro proibido, drogas liberadas.  O velho livro de Mao Tse Tung - o vermelho - em ação agora com texto alinskyano.


Quem manda é o capital. Para um mundo mais justo há um novo caminho : A democracia participativa  http://conscienciademocrata.no.comunidades.net/   

® Rui Rodrigues














[i] Capital é um bem e pode ser um favor, uma propina, um cupom, dinheiro vivo, uma propriedade, um passe de transporte público, etc... E agora, a “felicidade” como na Venezuela chavista.  Muita gente encontra a felicidade se tiver acesso a drogas. Felicidade, portanto, é um fator subjetivo. Perguntar a alguém se é feliz, é um engodo, porque ninguém quer dar parte de fraco. Em regimes totalitários, uma resposta negativa a esta pergunta pode redundar na perda de “capital”, ou seja, um bem, um favor...
[ii] No Brasil, Dilma Rousseff disse que para manter o partido do PT no governo, faria “o diabo”. Ela já foi terrorista, incluindo assaltos a Bancos, guerrilha, sequestros relâmpagos.
[iii] Em qualquer sistema existe esta separação. Cidadãos contratam o proletariado para a execução de serviços. Alguns dos cidadãos são donos de empresas que fornecem bens, serviços, geram o capital que paga a cidadãos e proletários. 

Quando eu era uma criança

Quando eu era uma criança



Quando eu era criança, tinha uma perfeita noção de que eu era “eu”, uma coisa muito simples, que tinha vida e uma tremenda vontade de fazer “coisas”. Até planejava o futuro, como eu gostaria que fosse. E foi mais ou menos como imaginei quando era criança. Depois cresci e li muitos, muitos, muitos livros. Num deles li que somos seres humanos. E assim passei décadas dizendo para mim mesmo que eu era um ser humano. Quando li um livro de Isaac Azimov onde ele dizia que somos “unidades de carbono”, comecei a ter uma percepção um pouco diferente do que era ser um “ser humano”. Claro que já tinha lido sobre Freud e suas teorias, a Bíblia, Kafka, Nietzsche, Hawking, uma montanha de livros... Tenho formação acadêmica. Mas agora eu já não era simplesmente um ser humano: Eu passara a ser um “ser humano Orgânico de carbono e água”, quer porque somos em média 80% constituídos de água quer porque o carbono é a base dos compostos orgânicos. Comecei a complicar a minha vida na medida em que minha existência se complexificava[i].

Quando eu era criança ninguém pensava em ir à Lua. Só o Júlio Verne tinha imaginado isso há muitas décadas atrás, mandando um sujeito para lá dentro de uma bala de canhão. Com a segunda guerra mundial mais um louco teve essa ideia. Chamava-se Von Braun, era alemão, fugira do nazismo e agora chefiava um departamento na NASA, um organismo destinado a pensar grande, para fora de um planeta muito pequeno, onde pensamos muito pequeno, chamado Terra. É nele que ainda vivo, e já não sou nenhuma criança. Sei perfeitamente que o que mais tem nele é água grátis, mas todos têm que pagar água. Entre o final da segunda grande guerra e o trabalho de Braun na NASA, passaram-se pouco mais de 15 anos e passamos a ver a Terra de longe, acabando ao vivo e a cores com o mito de que a Terra era plana e suportada por tartarugas gigantes, e que era o Sol que girava à volta da Terra.


Quando eu era criança via o mundo dividido em duas partes: A minha família e os outros. Esses tais outros se dividiam também em duas partes: Os que eram bons e os que eram maus. Minha família era toda boa. Eu não tinha a menor dúvida até levar o primeiro tapa que, diga-se de passagem, achei tremendamente injusto. Relevei porque fiquei em dúvida entre a ação que cometi e a ordem para não a fazer. A ordem era não fazer, e a ação ir com as outras crianças da aldeia cantar no dia de reis à porta do povo de minha aldeia natal. Cantávamos e recebíamos doces caseiros. Tenho certeza que meu pai, se a cena se passasse nos dias de hoje, ele iria comigo. Não nasci em tempo errado, não. Meu pai é que nasceu e me fez muito cedo, e minha mãe concordou em me parir.

Então cheguei á minha fase adulta. Não estamos numa grande guerra de armas, mas estamos numa grande guerra de sobrevivência pacífica. Numa analogia com a guerra fria dos anos cinquenta, poderíamos dizer que estamos numa “sobrevivência fria”... Somos todos politicamente corretos, queremos sempre tirar vantagem politicamente e abominamos a violência quando alguém descobre que os queremos enganar tirando vantagem deles. Quando os amigos não nos dão vantagens, costumamos descarta-los, ou então somos amigos até o dia em que nos vêm pedir um favor. Nesse dia, a amizade esfria até cair granizo. Mas sempre há boas e raras exceções. 

Quando eu era criança penicilina era uma descoberta recente, e a poliomielite fazia muitas vítimas. Hoje progredimos muito nesse aspecto e já podemos até ter membros e órgãos artificiais, fazer transplantes. Isso é muito bom para quem tem acesso a esse tipo de medicina e tecnologia. Meu avô teve de vender quase todas as terras para curar uma pleurisia líquida. Morreu disso. Hoje, se sofresse de um câncer, teria que vender tudo do mesmo jeito. O progresso não é para todos. Para a maioria é apenas uma propaganda de governos e de mercado. É a guerra fria da sobrevivência. Nosso mundo divide-se em séculos. Hoje, 60% vive nos finais do século IXX, 30% no século XX e 10% no século XXI.



Hoje vi a cidade do alto de um prédio. Gente minúscula passando lá embaixo como se fosse teleguiada individualmente, carros passando para lá e para cá, Ônibus, aviões, e barcos ao longe. Parece que todos têm algo para fazer. Andam muito depressa movidos pela pressa de quem tem pressa. Quem tem pressa quer lucro, e por isso não pagam adequadamente. Mas não foi isto que me impressionou. O que me impressionou, foi imaginar que um Deus teria que ter um cérebro do tamanho do Universo para controlar os movimentos de todos os seres humanos em todo o mundo, além de memorizar todo o passado de cada um de forma a lhe dar um presente ao final de sua vida, ou manda-lo para o limbo por ter ido cantar no dia de reis para ganhar doces caseiros. Quando escutei pela primeira vez: Deus pode ser tão grande que possa criar uma pedra tão grande que ele mesmo não possa carregar, me perguntei, do alto do edifício, olhando tudo se movimentando lá embaixo, se Deus para controlar tudo pode ter um cérebro maior do que ele mesmo possa ser.

Mas então, o que nos move de forma tão controlada, tão integrada, tão ordenada, que parecemos movidos por computador? Parece que são as ordens, tal como aquela que meu pai me deu: - Não vais cantar com as outras crianças no dia de Reis, porque eu não quero. Assim os exércitos vão para as guerras, nós vamos para as consultas médicas, ao supermercado, apanhamos taxis ou ônibus ou aviões, os aviões decolam e aterrissam, os barcos atracam ou soltam as amarras. Quando há uma falha, alguém se machuca, alguém morre, alguém fica prejudicado. Além das “ordens” tem que haver algo mais: A responsabilidade compartida, dividida, de forma a não prejudicarmos os inocentes, os que não estão momentaneamente ligados ao “sistema” do momento, como quem, pensativo, atravessa uma rua sem olhar se o sinal está verde ou vermelho. Sinais também nos dão ordens.

Somos “unidades autônomas de vida”, constituídas de carbono e água, dirigidas por ordens, a maioria delas emitidas por livros e papéis, e outras unidades não autônomas animadas ou não, como sinais de trânsito e placas de proibido estacionar.

Que mais liberdades podemos querer, além de bater um papo com os amigos e tomar umas cervejas geladas enquanto não nas proíbem as autoridades ou o nosso médico popular? Muitas! Mas não podemos. Há ordens para não podermos sequer pedir liberdade para certas coisas. Um exemplo? Quem não gostaria de poder retirar o voto dado a um candidato que se mostrou incompetente, desonesto, ou que simplesmente não nos agrada? Dizem que o voto é de confiança. Pois se é, e se perdemos a confiança no candidato, teríamos de ter o direito de retirá-lo [ii] porque perdemos essa confiança, e sem necessidade de julgamento.


®Rui Rodrigues

















[i] Complexificar não existe na língua portuguesa o que é lamentável. É muito melhor do que dizer “minha vida se tornava mais complexa”. São muitas palavras para transmitir uma ideia que se pode simplificar com uma palavra nova, um neologismo: Complexificar. O que sugere que nos devemos descomplexificar (este termo existe na nossa língua). Complexar lembra mais ter um “complexo”, uma síndrome...
[ii]  Ver como se pode retirar o voto dado a um candidato por perda de confiança. http://conscienciademocrata.no.comunidades.net/

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Era uma vez no Oeste... A história de Jonathan Jackson

Era uma vez no Oeste...
A história de Jonathan Jackson



Bird’s-Eye é uma pequena cidade nas Montanhas Rochosas do Idaho. Tinha um salão, um Banco, uma estação de telégrafo perto da estação das diligências, bem ao lado do escritório do Xerife onde fica a prisão, lá bem nos fundos do escritório. 
O Banco não valia a pena assaltar porque o máximo de valor de transações comerciais na cidade não ultrapassava os mil dólares, ou seja, o total das retiradas dos clientes era de mais ou menos 500 dólares que correspondiam a outro tanto de depósitos. Um grande negócio porque o Banco não usava o seu próprio dinheiro nem quando emprestava. Emprestava o dinheiro dos próprios clientes. No salão três putas americanas, uma mexicana e uma francesa. 
O pianista, a esse nunca ninguém se preocupava em perguntar onde nascera, porque ninguém escutava música quando visitava o saloon, principalmente depois de ter tomado um par de garrafas de whisky. Eles tomavam facilmente duas garrafas, porque já na segunda dose era misturado com água. Assim pagavam mais e ainda se vangloriavam de aguentar muita bebida. 



Jonathan Jackson era de lá, trabalhava num rancho das redondezas, conduzia gado até Montana, não tinha conta no Banco e conhecia todas as putas. Ele e o pianista. Sonhava comprar um rancho, mas como isso iria demorar muito, ia se divertindo no saloon para passar o tempo. Só para tirar onda, uma vez por mês comprava um jornal, sentava-se numa cadeira sob o balcão de uma casa, esticava as pernas para descansarem no peitoril, puxava a aba do chapéu para trás e enquanto lia as notícias e mascava seu tabaco, deitava os olhos pelas moças que passavam. Cumprimentavam-no por cortesia, não porque o conhecessem. 


Era raro conversar com alguém. Nem mesmo no saloon. Entrava, dizia meia dúzia de palavras, escolhia a moça e levava para o quarto. Pedia uma garrafa de whisky e sempre se preocupava em deixar um par de goles para a moça. Depois voltava para o rancho. Tomava banho às sextas, no rancho, de um regador furado e dependurado do teto do galpão com sabonete comprado no armazém para tirar aquela inhaca de égua xucra no cio e de poeira cravejada de partículas de bosta de vacas de transumância.

Naquele dia não nevava embora a rua estivesse cheia de neve do dia anterior e dos telhados ainda escorresse alguma. Pés esticados sobre o peitoril lendo o jornal deteve-se numa notícia: Franklin Roosevelt tinha rancho em Idaho e andava por lá de visita. Bem ao lado uma foto de Calamity Jane e um anuncio de recompensa para quem a levasse viva ou morta a qualquer escritório de qualquer xerife. Franklin Roosevelt viria a ser o presidente dos Estados Unidos da América do Norte, mas Jonathan Jackson não sabia disso. Ninguém sabia ainda, porque corria o ano de 1899 e Franklin só seria presidente nos primeiros anos da década de 40. Jonathan esperava a diligência que traria uma nova puta para o saloon. 
Ficara sabendo da notícia lá em Three Island Crossing quando atravessava reses na semana anterior. Fora o pastor que era também o dono das reses quem avisara em tom de crítica. O pastor dissera: - O Saloon é um antro de perdição. Fujam de lá. Só serve para gastarem dinheiro e se encherem de whisky. Jonathan lhe perguntara então: - Mas pastor, se não formos lá, quais as moças da cidade que poderão nos fazer o favor, grátis, claro, e sem bebida, de nos esvaziar os sacos? O pastor tinha duas filhas. E respondeu prontamente:- Também é verdade... Também é verdade... E está para chegar uma para trabalhar no Saloon que dizem ser jovem e muito bonita. E lá estava Jonathan Jackson esperando a moça. Queria ser o primeiro, como quem deflora uma virgem. Já andava meio cansado de frequentar o Saloon, e ter que passar na drogaria e comprar remédio para prevenir gonorreias. Esperando também estava a dona do Saloon acompanhada com um jovem rapaz. Reconheceu-o da foto do jornal: Era Roosevelt, filho de ricas famílias que tinham comprado recentemente um rancho no Estado. - Coincidência desgraçada! Disse para si mesmo Jonathan. Deu uma cuspida de tabaco que esguichou a uns dois metros, levantou-se, dobrou o jornal e aproximou-se deles. A diligência estava chegando. Ouvia-se o tropel dos cavalos vindo da curva na entrada da cidade. Mas não era a diligência. 



Era uma carruagem de propaganda anunciando a inauguração de um circo com a presença de Bufallo Bill. Balançando no telhado da carroça fechada com as laterais pintadas com as imagens do circo, havia como que uma enorme tripa transparente, parecendo de intestino de boi balançando ao vento. Um sujeito com cara de dentista, vestindo uma bata branca por cima de sua roupa de dandy, saiu de dentro e começou a vender pacotes daquela coisa, dizendo que era para prevenir doenças venéreas e para evitar gravidez nas mulheres. Era a ultima novidade no setor da indústria do sexo. Juntou muita gente ao redor da carroça. Uns riam, outros se indignavam. Kate MacPerson, a dona do saloon, dizia que suas meninas não precisavam disso. Eram todas saudáveis. O pastor que ia passando disse que isso era coisa do demônio, de Satanás.
Todo mundo sabia que Bufallo Bill era muito amigo de Wild Bill Hickok, o grande xerife e marshal, que fora casado com... Não era possível... E Jonathan Jackson gritou outra imprecação surda que só ele ouviu:- Mais uma coincidência!... Wild Bill Hickok tinha sido casado com Calamity Jane!


Jonathan conversou com Kate MacPerson e o jovem Roosevelt e ficou sabendo que a moça esperada teria como primeiro cliente o ricaço Roosevelt bem ali a seu lado. Então algo explodiu de repente em seu cérebro ansioso por uma dose forte de whisky. Nos próximos minutos teria que resolver alguns problemas. Andava cansado daquela vida de cowboy, de ser preterido por figurões. Há horas em que um homem tem que se decidir ou então não será ninguém na vida.  
Passaram-lhe uma corda à volta do pescoço dois dias depois. Jonathan Jackson viu quando o cavalo em que estava montado disparou à sua frente, logo a seguir ao barulho de um tapa forte dado no traseiro do animal e do solavanco como se quisesse escoucear. Depois sentiu-se balançar pendurado pela corda numa grossa viga da porteira. Sacudiu as pernas sem sentido, por puro instinto e lamentou ter as mãos amarradas por cordas, e em seguida tudo apagou. Deixou de ver e de ouvir, não podia falar, contar algo para eles. Teria muita coisa para lhes contar.  


Disseram as testemunhas que viram Calamity Jane chegar na carruagem que chegou logo em seguida ao carro de propaganda do circo de Bufallo Bill. 
Para espanto de todos os que tinham lido o jornal do dia anterior, o mesmo que Jonathan lera naquele dia fatídico, Calamity cumprimentou muito bem o jovem garoto Roosevelt. Ouviram perfeitamente quando fizeram menção aos encontros com Buffalo Bill e Wild Bill quando este era casado com Calamity. Todos se conheciam. Por isso não avisaram de imediato o Xerife. Deveria ser um engano dos homens da lei que pregam esses avisos de “Reward”. Lembram-se também de terem visto uma linda moça com um sotaque meio francês meio americano de N. York, cumprimentando a dona do Saloon. O próprio Buffalo Bill se apeara da carruagem de propaganda para cumprimentar Calamity Jane e o jovem Roosevelt. Isto foi numa sexta-feira 17 de fevereiro de 1899 ao entardecer. Elas se lembram de o banqueiro, o senhor Joshua Thompson, ter aberto as portas do Banco para Bufallo Bill e Calamity Jane que usava um traje feminino porque precisavam movimentar contas. Outras testemunhas se lembram de várias outras pessoas terem entrado no Banco enquanto conversavam. Estavam conversando na entrada e foram entrando no Banco para terminarem a conversa lá dentro, supuseram. Entre eles estava Jonathan Jackson também, conversando com a moça bonita que chegara na diligência.



Houve quem dissesse que Calamity Jane jamais falara com Jonathan, que Roosevelt não discutira com Jonathan, e que nem viram quando a briga começou, mas que quando o Xerife Donaghan apareceu, o banqueiro avisou que tinha sido roubado. Jonathan Jackson havia desaparecido. Procuram-no a noite toda de sexta. Finalmente, face ao roubo do Banco, alguém se lembrou de avisar que Calamity Jane fazia parte das notícias do jornal de quinta feira. Ela havia se evaporado da cidade também. Buffalo Bill só se lembrava da pancadaria no Banco, assim como o jovem Roosevelt e as demais testemunhas. Alguém levantou a hipótese de Calamity e Jonathan estarem juntos no roubo. A moça que chegara na diligência na manhã de domingo, dia em que penduraram Jonathan pelo pescoço no Saloon, estava arrumando as coisas no quarto que lhe fora destinado quando a procuraram no sábado. Kate MacPerson, a dona do Saloon, jurou em seu depoimento que Jonathan não tinha passado pelo Saloon, e que a moça nova tinha passado toda a noite em seu quarto com fortes dores de cabeça. Roosevelt garantiu que se um dia fosse eleito presidente dos EUA acabaria com o crime em todos os Estados e territórios.


Ninguém perguntou a Brenda Duncan, a faxineira, se tinha visto Jonathan por perto. Aos domingos ela não trabalhava e aos sábados estava sempre na lavanderia lavando os lençóis do prazer, as roupas íntimas das meninas cansadas de verdadeiras batalhas nas noites animadas do Saloon, preenchidas por sons de piano e risadas alegres. Se tivessem perguntado ela teria que lhes contar que Jonathan Jackson tinha passado a noite toda com a moça que chegara na diligência na sexta-feira, tendo entrado em seu quarto subindo pelas traseiras do prédio, justamente onde ela, a faxineira, costumava cochilar à noite enquanto esperava que a chamassem para algum serviço urgente de limpeza. Normalmente quando vomitavam por causa da bebida. Ela ganhara uma linda nota novinha em folha, e na segunda feira, a moça bonita que chegara na diligência disse que não gostara da cidade e voltou para Miami. Partiu na mesma diligência que a trouxera, agora a caminho de Aberdeen, mas ninguém da cidade poderia ter visto Calamity Jane esperando por ela à sua chegada na estação das diligências de Aberdeen, e passar-lhe a mão no traseiro quando se abraçaram.

Calamity Jane agora vestia calças, portava um colt 45 na cintura, uma winchester 63 (1863) na mão esquerda, coçava o saco e conseguia cuspir tabaco mascado a dois metros e meio de distância. Uma garrafa de bebida por dia era pouco. 

® Rui Rodrigues  


domingo, 16 de fevereiro de 2014

A Política no Brasil em alguns tons de amarelo, azul e verde.

A Política no Brasil em alguns tons de amarelo, azul e verde.
Ou, “caindo na real”.


Antes de seguir adiante tenho que esclarecer um ponto muito importante: Prevalece neste texto a isenção tal como expressa no site [i] da Democracia Participativa Total.
Nela, haver ou não partidos políticos não faz a mínima diferença, porque não elegem ninguém nem têm poder de decisão. Aliás, nenhum político tem, porque todas as decisões de Estado são votadas publicamente. Nos Estados também. O Brasil seria uma Confederação com mais liberdade para os Estados. Amamos o Brasil e o povo brasileiro, nossa nação e estamos certamente preocupados com os rumos de nossa política interna e externa que se reflete na economia. Como parece cinza, tal como uma nuvem em vários tons no céu de anil de encantos mil, vejamos o que há nesses tons [ii] iluminados por nossa bandeira.

1.     O povo brasileiro

Como podemos definir o povo brasileiro e que importância isso tem na análise política econômica de nossa nação? Na verdade nem precisamos definir-nos as características. Somos um povo humano como outro qualquer. O que nos diferencia é o nível de cultura médio da população, os índices de pobreza, o nível dos serviços públicos, o desenvolvimento tecnológico, nossa posição relativa entre as nações do planeta. Isto inclui mortalidade infantil, produto interno bruto, IDH, e todos os tipos de análise usuais e disponíveis em Organizações Mundiais que juntam seus esforços para determinar como vai a vida neste planeta.

Sob este enfoque, estamos mal. Muito mal. Costumamos dizer que a América do Norte e a Europa são os locais do globo mais desenvolvidos. Que a Ásia tem bastantes pontos de desenvolvimento geral comparáveis à Europa e à América do Norte, que a África é o lugar mais atrasado do planeta. Nosso lugar pelos índices gerais de análise estaria em algum lugar da Ásia ou da África. Aqui na América do Sul, a maioria dos países nos dá um caldo em educação, em infraestruturas, e só perdem em tamanho, na classificação em termos de economia e geralmente no futebol. Mas onde está o erro se somos um povo trabalhador e empreendedor, não desistimos nunca, e somos tão ricos no solo, no subsolo, no mar, temos fábricas, prestamos serviços, somos autossuficientes em petróleo (a menos que nos tenham enganado), e somos donos das maiores riquezas minerais como minérios em geral e até em nióbio? Temos os cristais de quartzo mais puros do planeta para fabricar chips de computador e mesmo assim os importamos? Que nuvem nos assombra há séculos? Porque não podemos voar pelos céus do desenvolvimento livres dessas nuvens?

2.     O passado político que criou os hábitos até hoje



Nosso passado político passou pela submissão a uma metrópole europeia. Todos os países do mundo já passaram por uma submissão a outros países, toda a África já passou por isso, grande parte da Ásia, exceto a Rússia e até a China já foi invadida e dominada pelo Japão. Depois que as naus e caravelas começaram a traçar os oceanos, vindas todas exclusivamente da Europa, o planeta se tornou uma sua dependência. Países dependiam dela quer politica quer economicamente. Portugueses, franceses, holandeses, espanhóis, ingleses, belgas, alemães, todos eles tiveram colônias na África e/ou na Ásia, e/ou nas Américas. Todos eles fizeram e comerciaram com escravos, exploraram madeiras, derrubaram florestas, perseguiram tribos e nações autóctones, bombardearam aldeias e cidades, levaram ouro, minérios, riquezas. As próprias tribos africanas faziam escravos entre si que vendiam aos mercadores dos navios. A Inglaterra queria controlar o comércio do ópio na China e abriram uma guerra contra ela. Foram as duas primeiras nações do mundo a oficializar o comércio de drogas e a pirataria. Mas como isso se refletiu na nossa nação, em algumas outras nações também e em algumas outras não ou nem tanto?



De 1500 até 1808 quando D, João VI veio para o Brasil, este território foi explorado como todos os demais países do mundo novo e da África. Podemos dizer que, exceto pelas leis que protegiam o Reino Europeu, as demais decorriam em função não de justiça, mas de conveniências de quem as podia ter quer por dinheiro quer por poder. A partir de 1808, o Reino de Portugal tinha aqui a sua capital no Rio de Janeiro. Pouco mudou. As riquezas eram tantas que se gastava à tripa-forra. O mal era de origem. Uma questão de pudor. Era assim já no continente, mas em outros países como França, Inglaterra, Holanda, não se podia mostrar ser mais papista que o papa, ter mais influência do que o Rei. Havia uma hierarquia bem definida, uma questão de princípios que, mesmo destoando dos de hoje por questões de evolução, também mantinham as mesmas diferenças. Países anglo-saxões, nórdicos, têm um polimento e uma lisura que os países latinos, descendentes políticos do caos romano, não conseguem igualar. Isto se estende à política. Todos têm seus erros, mas nuns os erros são hábitos, noutros apenas erros eventuais. Somos dos países que criaram hábitos. Enquanto nos demais países colonizados por outras potências, escravos eram uma sociedade à parte, por aqui o senhor do engenho se deitava com escravas, as oferecia em troca de favores aos políticos. A lassidão política gera injustiças.



Em 1822 nos tornamos independentes, mas mantendo laços fraternos. Afinal, o Brasil está povoado por uma saudável miscigenação entre europeus, povos autóctones e africanos. A partir desta data, a responsabilidade de mudar tudo o que estava errado já não era da metrópole. Ficamos assim abertos às influências do mundo ao nosso redor, ligados por telefone, aviação, marinha, ao continente europeu. Em 1889 resolvemos que não seríamos nem um reinado nem um Império e estabelecemos a República. Poucos anos depois, soubemos que havia um novo regime político disponível para todos os governos da Terra: O comunismo. Foi em 1917. E em 1939, na Europa, mais um sistema político surgiu: O Nazismo, fundado por um partido de trabalhadores alemão. Em todo esse tempo, desde 1808 até 1939, sempre progredimos razoavelmente, mas sempre na traseira de países que vimos crescer e dos quais temos que sentir certa inveja, porque tiveram praticamente o mesmo prazo para se desenvolverem após a independência: EUA, Canadá. Outros ainda, embora não passassem pelo estágio do colonialismo, vingaram de forma impressionante, como o Japão, Cingapura, os países nórdicos, e a fabulosa recuperação da Alemanha mesmo depois de destroçada em duas guerras mundiais. O que tem impedido o nosso desenvolvimento para que nos tornemos uma nação equilibrada como estas, ao longo de todo este período de experiências internacionais?

Não erraríamos muito se disséssemos que houve uma simbiose, uma conivência entre o dinheiro fácil auferido por políticos no governo que não viram a necessidade de desenvolvimento nacional porque podiam importar tudo de fora, e a conformação popular que para sobreviver se aproveita dos sete pecados capitais desses políticos e lhes compra benefícios, favores, em troca de propinas. Com esta mentalidade, qualquer sistema político não vai muito longe na melhora das condições de seus cidadãos seja comunista, capitalista, de direita ou de esquerda.



Foi assim que, a partir de 1959, em plena guerra fria, e com a revolução cubana, a ideia do comunismo, ou algo mais moderado como o socialismo, começaram a tomar vulto no Brasil. Alguns presidentes chegaram a condecorar Che Guevara e a enaltecer líderes do comunismo sul-americano, um comunismo “tropical” romanceado com ideias de pirataria e heroísmos da Cavalaria feudal. No início formaram-se grupos armados que pensavam que instruindo e motivando as populações, se conseguiria mudar a mentalidade nacional, a nossa idiossincrasia. Esses grupos recebiam ajuda de Cuba, que por sua vez a recebia da China e da URSS, e promovia assaltos a Bancos, raptos. Em 1964 forças políticas se insurgiram e as Forças Armadas foram o seu braço. Muita gente ainda pensa que a revolução de 1964 foi iniciativa das forças armadas. Claro que não foi. Foi um trato entre políticos de direita, empresários (que tinham o dinheiro necessário) e militares. Em 1985 a esquerda democrática assumiu os destinos do Brasil. A partir de 2002, com a ascensão de Lula, a esquerda capitalista assentou-se no poder.

3.     A situação política atual e as eleições de 2014.

Depois dos rompantes psicológicos de Collor, muito parecidos com os do transtorno bipolar [iii], a população foi para as ruas pedindo o Impeachment. O senado deu ao povo o que pediu. Collor era nitidamente de direita moderada, por seus pronunciamentos. Na verdade, como empresário de família de empresários, era de direita. Se juntarmos tudo o que dissemos até agora, não teremos de que nos admirar de todos os partidos políticos de maior relevância no Brasil serem – ou se dizerem – de esquerda. Na verdade, só no diálogo.  



Mas como dizer que são de esquerda, se as empresas no Brasil fazem o que querem, incluindo deficiência em serviços, sem fiscalização do Estado, de tal modo que se alguém quiser reclamar terá que dirigir suas reclamações a juízes do próprio Estado? Até o governo de Collor e uma meia dúzia de anos mais, o Estado exercia a fiscalização, aplicava multas, fechava empresas. Agora é o cidadão que tem que se incomodar indo a repartições várias vezes por mês para deixar entregue a um juiz de pequenas causas as suas reclamações. Isso demora, nem sempre é resolvido, e no caso de planos de saúde pode determinar a vida ou a morte. Casos atrás de casos de corrupção em todos os partidos se acumulam sem solução nas páginas dos jornais. Os juros bancários são os mais altos do planeta, insuportáveis por uma população majoritariamente ignorante de matemática financeira. Verbas dos Estados e do governo central são destinadas a obras que ficam paradas. Como sabemos, a culpa de estarem paradas irá recair sobre o governo, e isso é dinheiro “em caixa”, porque as empresas ganharão correções financeiras mesmo sem gastarem um centavo. Estamos pagando juros por obras paradas. A maioria da população não se dá conta disto. Ninguém aparece para agilizar as obras. As obras do PAC são um exemplo. Nossas forças armadas estão sucateadas, e á frente do ministério da defesa estão generais que não deveriam estar por terem passado da idade, mas que foram mantidos porque pertencerem à filosofia do partido no poder, o PT.



Estradas estão esburacadas, os portos funcionam a meio vapor, safras já foram parcialmente perdidas. Os serviços de saúde têm muitas deficiências. O ensino não melhorou, creches fazem falta. Os transportes públicos são antigos, transitam fora dos horários, os preços não justificam o preço, ônibus são queimados todos os dias, composições de trens são depredadas por população revoltada. E isto começa a agradar à população em geral, que se revolta contra um governo como cavalo xucro se volta contra o cavaleiro.  Não é de se esperar uma ajuda moral do empresariado para uma aproximação à direita porque não lhe parece necessária: Podem fazer o que quiserem, emitirem o tipo de contrato de serviços que quiserem sem serem molestados pelo governo. O povo continua sendo o escravo que paga não só o que consome para se alimentar, como ainda para ser transportado, morar, e sustentar os gastos da corrupção e do governo. Os critérios para aferição de inflação, de produtividade, de educação e outros, são constantemente adaptados para não mostrarem a realidade. Estamos deixando de investir na produção. Nossa indústria não se atualiza, não se desenvolve. Importamos tudo, até o que poderíamos fabricar aqui. Em poucos anos mais, deixaremos de ser a sexta economia do mundo e logo deixaremos de ser a décima, a vigésima, até que tudo mude novamente. Mas com o declínio de nossa economia, menos impostos serão recolhidos. Os programas do governo encolherão. Precisamente numa fase da economia mundial em que todos os países parecem voltar a crescer. Enquanto isso, o Nordeste continua seco, sem água, morre de sede meu gado, meu alazão. 



A esquerda ficará no governo enquanto houver capital, ainda imbuída de características de heroísmo, cavalaria feudal e pirataria. Aliados ao dinheiro “colonial”, fácil, da arrecadação de impostos, os atos de governo deixam de ser relevantes. A palavra, para um povo carente de educação e cultura, consola, dá esperanças... O capital mantem no poder o comunismo verbalizado para "inglês ver". Nossa política é corrupta desde nascença, e isto tem que mudar.  

Qual a porcentagem média de pobres entre 1822 e hoje? O que mudou e o que mudará?


® Rui Rodrigues















[ii] Não publicarei estatísticas, embora este texto seja nelas baseado, por se tratar de uma impressão geral. Para matemáticos eles têm um significado. Para o povo comum, a importância é relativa. O texto é para todos.
[iii] Era voz corrente que ele agia como se cheirasse pó (cocaína)... Ficou conhecido como Fernandinho do Pó e cumprida a pena de afastamento, voltou à política. Seu voto ainda conta no plenário onde a vida nacional se resolve. 

sábado, 15 de fevereiro de 2014

O céu [i] tem catraca e cobrador

O céu [i] tem catraca e cobrador



Quando tinha uns não sei quantos anos, mais ou menos nessa idade, comecei a preocupar-me com o céu. Do primeiro testamento e pesquisando na religião judaica, percebi que não existe céu como “um lugar” aonde se vai depois de morto, para receber a recompensa de uma vida passada em graça. Na Bíblia Cristã, no segundo testamento, essa possibilidade é mencionada. Seria possível dependendo de meu comportamento durante a vida, sendo certo que seria muito difícil, insano, ainda mais para quem já nasce com um pecado capital que é limpo quando se recebe água benta ou se mergulha no rio Jordão (este não precisa ser benzido e ficamos na dúvida se outros rios precisam  ser benzidos ou se têm a mesma propriedade)... Algumas religiões também têm céu. Outras não. Céu é lugar de deuses, não de humanos mortos. Perguntei se podia levar a minha gata Sarkye, que não fez nunca mal a ninguém, mas não souberam informar. 

Perguntei em muitos postos de informação – os templos - sobre como seria o céu que oferecem, sendo que em alguns destes postos se compram lugares no céu, em troca de algumas dádivas para os templos. Mas não havendo despesas com papelada, transporte, etc. achei muito caro e desisti. Desisti não por simplesmente ser caro, mas porque ninguém me soube dizer como seria o céu, ou paraíso... Num dos postos de informação disseram que se eu fosse um guerreiro e matasse muitos inimigos ganharia um céu especial: Com sete virgens me esperando. Virgens sem nenhuma experiência sexual, como quem estupra neném não faz o meu gênero. Fiquei imaginando se poderia levar minha noiva para lá, mas face à proposta, eu correria o risco de ela ser guerreira e em vez de mim encontrar no paraíso sete mancebos virgens para ela se esbaldar.



Então fui à procura de alguém que me pudesse informar com toda certeza como era o céu, ou paraíso... Como não encontrei ninguém que soubesse informar, porque só faziam referências a livros e os livros discordavam entre si, resolvi procurar por mim mesmo. Procurei anos a fio, até desistir, mas antes consegui levantar algumas premissas à luz do conhecimento moderno. Céu é céu, um lugar onde se entra e não se sabe se se sai, e como acontece com todas as entradas deve ter catracas [ii] e cobradores. As catracas devem permitir a passagem de gordos e gordas, os cobradores devem ter sempre troco. Devem ter sempre troco porque cada povo tem seus costumes, e os respectivos céus devem estar locados em lugares adequados, senão seria um inferno e não um céu. Como um lugar deve ficar mais longe do que outros, o valor da passagem não pode ser único. Seria injusto. E como hoje em dia com a NET há amigos em todos os países e de todas as regiões, deve ser permitida a passagem de lugar para lugar para visita-los. Como nada é de graça, até porque para entrar temos que fazer "boas ações", para se visitar os amigos há que pagar as passagens, e para ter capital para pagar as passagens tem que haver agência de empregos. Mas com certeza mesmo, ninguém me soube informar. Vinham com evasivas.

Finalmente percebi muito facilmente que o paraíso já existiu aqui neste planeta há milhões de anos atrás. Depois estragamos o convívio entre animais e nós mesmos, e entre nós mesmos, agredimos a natureza caçando-nos uns aos outros. Vieram as guerras, as mortes, as doenças porque se incentivava a aglomeração humana, reunindo porcos depósitos de dejetos a céu aberto, conspurcamos a própria água que teríamos de beber. Mataram-se animais à paulada, estrebuchando pelo chão em meio a poças de sangue, formamos exércitos destinados a matar, matar, matar, fazer escravos. Aprendemos com os escravos a ganhar a vida sem trabalhar. Continuamos a fazer escravos agora com outros nomes mais pomposos, mais “nobres”, embora se viva em repúblicas que deveriam estar no banco dos réus.
E percebi finalmente que ninguém, ou quase ninguém, talvez tantos quantos possam passar pelo buraco da agulha por onde alguns camelos podem passar, sabe realmente, com propriedade onde fica o céu, o que ele contém, como é a “vida” por lá... É tudo mídia. Apenas informação tal como se pode encontrar em qualquer revista de ficção científica, ou nas revistas em quadrinhos.

Há Deus [iii]? Claro que sim, mas tal como não nos conta quais são as leis que regem o Universo, também não nos contou como é o céu. Tal como acontece com as leis que regem o Universo também o céu teremos que descobrir se existe ou não, como é e o que se faz por lá, mas há fortes indícios de que o céu – ou paraíso – pode existir aqui mesmo na Terra. Para uns já existe, mas é temporário: ao fim de algum tempo vão à falência e perdem o céu. Outros perdem o poder e passam pela catraca do inferno [iv] depois de terem mandando todo mundo – menos alguns camelos – para os quintos dos infernos. Mas para vivermos todos no céu não necessitamos esperar que algum astronauta dê a volta ao Universo para provar que ele é redondo... Perfeitamente redondo sem ter espichado nem um só ano-luz para qualquer lado. Mas é tão grande, tão grande, mas tão grande, que podemos afirmar que ele é plano e que não tem nenhuma tartaruga suportando todo esse mundo sem fim.

E também não há dragões, monstros marinhos, aéreos ou terrestres, impedindo a passagem do Universo para o céu...  

® Rui Rodrigues









[i] Céu ou paraíso... Para quem achar que são duas coisas diferentes, é ao paraíso que me refiro, aquele lugar para onde se pode ir mas parece que ninguém vai: Só os que puderem passar pelo mesmo buraco da agulha que os camelos podem passar.
[ii] – Precisam aprender com a União Europeia a elaborar manuais de padronização de bens e produtos para que estejam disponíveis sempre com a mesma qualidade
[iii] Pra mim existe, mas posso garantir que não se parece em quase nada com o Deus que todos conhecem... O Deus que imagino é muito mais forte, mais poderoso, mais omnipotente e muito mais inteligente do que se imagina por aí, mas isso não faz de mim um ser igual a ele nem à sua semelhança. Se fizesse eu não ficaria aqui neste mundo. Iria para bem longe...
[iv] Este é outro problema... Pode haver só céu, céu e inferno, ou só inferno... Pelos buracos das agulhas passam alguns camelos, por outros nem vírus, moléculas, átomos ou partículas de Higgs  passarão.