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domingo, 11 de maio de 2014

Três meditações mediáticas pós-modernas

  1. O fim da Era Moderna




Senhoras e senhores, meninos e meninas, anuncio o fim da "Era moderna"... Estamos agora em plena "Era da Lei libertina geral irresponsável"...

Cada um faz o que quer, todos os presos agora são "políticos", empresas e governos mandam e o povo obedece... Poderíamos também chamar esta "era" de "Já era", mas haverá controvérsias...

Pela minha idade, estou saindo da era do "já era", mas quero deixar claro que não contribuí para isto... Ainda acho que os valores que valem são os que têm validade popular... Hoje uma moça do caixa no supermercado me disse: Quem mandou votar no PT?

Mas PT é por aqui, o que piora muito a nova era do "Já era"... Juntem-se, reclamem, e perguntem-se se vale a pena tentar mudar o que estão mudando sem nos perguntarem se estávamos de acordo...

Assim como antigamente e ainda hoje mães e pais empurram os filhos para que realizem seus sonhos na vida que não conseguiram realizar, assim também se promove a liberdade total e irrestrita, e nossas crianças estão sendo assim educadas paulatinamente...

As eleições estão chegando e se só nos pronunciamos de quatro em quatro anos, os eleitos farão o que quiserem nesse ínterim, e se quisermos reclamar, teremos que enfrentar gases lacrimogêneos, canhões de água, balas de borracha e peidos de policiais em manifestações, e sovaqueira de marginais, balas perdidas, assaltos e estupros pelas ruas da cidade desguarnecida de policiais.  

® Rui Rodrigues



  1. Minhas melhores definições dos regimes políticos:




- Comunismo – Mata sanguinariamente seus próprios cidadãos por simples oposição verbal, encarcera, impede a movimentação e a liberdade em nome do impossível: A igualdade entre cidadãos. Somos todos desiguais com diferentes capacidades desde nascença.

-Socialismo - Sistema intermediário entre o comunismo e o capitalismo,  em cima do muro, que não sabe para que lado cai, proporcionando o desgoverno, a corrupção, como mão que vai bater mas está em dúvida.... Eternamente dando tapa no ar, vociferando sem tomar atitude. E se tomasse, ou iria para o capitalismo selvagem ou para o comunismo...

-Capitalismo - Precisa ser supervisionado pelos cidadãos, caso contrário se transforma num tipo de governo "cinza" em muito mais do que 50 tons, matando sem sangue pela diminuição dos salários para “baixar custos”, por ambição e avareza, com a desculpa da “competição”... O neoliberalismo embarca nessa canoa furada. O povo acaba por detestar ter que comer brioches se nem pão tem...

-Ditaduras – É o governo de meia dúzia de idiotas que pensam ter a solução para todos os problemas da nação e acabam por ser mesmo uns idiotas que desagradam a todos e só fazem as vontades de meia dúzia de idiotas amigos. Ao final do período a nação está arrebentada, sem dinheiro, perdeu anos de desenvolvimento.

Mas tudo isto faz parte da democracia REPRESENTATIVA... isto é... Nós os elegemos ou aceitamos e eles fazem o que querem porque podem modificar as leis e têm de seu lado as forças armadas por forma “constitucional”... E quando alteram a constituição, mesmo sem nos consultar, a nós, o povo, ainda acham que nos representam... Claro que não! São filosofias completa e totalmente mortas e inócuas.

 - Democracia Participativa – para mal ou para bem - É o povo, são os cidadãos que escolhem seus próprios caminhos... Nada a reclamar... Não é possível que a opinião dos cidadãos seja pior do que a dos tais “representantes politico-comerciais”


® Rui Rodrigues


  1. Os caminhos da humanidade




Infelizmente - Ou felizmente, não sei - Não podemos mudar os rumos nos caminhos da Humanidade.... Ela vai para onde quer sem que qualquer um de nós lhe possa alterar a direção, a velocidade, as coordenadas... A Humanidade é um animal múltiplo, constituído de bilhões de pessoas que têm sua própria opinião.

Essa viagem da Humanidade rumo ao desconhecido é trilhada com base na experiência de cada um e de sua decorrente opinião, como num emaranhado de forças que tem uma resultante em função da escolha da maioria. 

Grandes mudanças no comportamento geral se verificam apenas ao longo de "pedaços" de tempo, que podem ser meses, décadas, séculos ou milênios. No entanto, há sempre uma parte dela que fica na "reserva", à qual costumam chamar de "retrógrada" ou "atrasada", mas que - a qualquer tempo - resgata antigos valores que tenham sido perdidos durante o difícil caminhar da humanidade... 

Por isso, de vez em quando alguns costumes retornam ao uso comum e corrente. Vejamos para onde ela vai, mas não há nada que possamos fazer para lhe alterar os rumos... 

®  Rui Rodrigues.




sexta-feira, 9 de maio de 2014

A bolha imobiliária brasileira - 2014

A bolha imobiliária brasileira - 2014




Vivemos na ilusão de que “um dia seremos ricos” e para isso há que poupar e trabalhar duro. Não é bem assim. Claro que se não pouparmos e não trabalharmos duro jamais seremos ricos, mas a inversa não é verdadeira. São necessários muitos outros atributos e cuidados para que possamos um dia vir a sermos ricos. Muitos de nós não o somos por que não estamos dispostos a arriscar, a seguir por caminhos menos ortodoxos, ou não temos visão para os negócios. Quando chamamos sócios, ou arrebentamos com eles ou eles arrebentam conosco mais dia menos dia: Não há “amizades” nos negócios. O que há são conveniências temporárias. Nem mesmo entre pais e filhos (único caso de saudáveis exceções), e entre familiares é quase impossível a completa honestidade de princípios. Formei-me em engenharia por vários motivos: É uma ciência fascinante, exige conhecimentos da maior complexidade multidisciplinar, e aplicar em imóveis sempre foi o tipo de negócio mais seguro do planeta. Engenheiro, dono de uma empresa de engenharia, seria como sopa no mel, ainda mais que na Universidade passamos três longos anos estudando economia, calculo vetorial, resistência dos materiais, construímos e mandamos foguetes para o Espaço. Apesar de engenheiro bem sucedido, nunca montei minha empresa de engenharia, não fiquei nem rico nem pobre. O equilíbrio na vida nos traz felicidades que o exagero na sovinice, na ambição, na alta competição não trazem, e passar a vida toda juntando bens para acabar morto como todo mundo sem levar nada para o além, realmente não fez a minha cabeça. Pude assim dar mais atenção à minha família. Não dei a atenção ideal, mas fiz o melhor que me foi possível sem jamais ter deixado cair a peteca.

Mas o que isto tem a haver com a bolha brasileira - 2014?



O que tem a haver é que as bolhas imobiliárias são perigosas, estamos numa delas, e se não houver equilíbrio em você e em todos os setores da economia – porque tudo é interdependente – pode perder o que já pensou que havia ganhado, ou perder tudo o que investiu. Nossa bolha é fruto de vários fatores: Uma inflação proveniente quase que exclusivamente da ambição dos banqueiros com seus juros altíssimos insuflados por um ministério da Economia compromissado com esses banqueiros, e por uma falta de confiança no governo. Todo mundo aumenta os preços, e portanto os lucros, em função da oportunidade da “copa do mundo” e dos turistas que vêm gastar suas economias, e principalmente para garantia de manter uma boa reserva de fundos para os tempos “pós- estouro de bolha”, quando a economia, se não colapsar, ficará tão frágil que qualquer boato adicional a derruba.

Fruto desta ambição, deste oportunismo, desta falta de confiança no governo, os preços dos imóveis aumentaram desde 2008 cerca de 136 % acima do aumento da renda média, no Rio de Janeiro, cerca de 158%. No total, e respectivamente, os imóveis aumentaram 158% em S. Paulo e 203% no Rio de Janeiro. Mas o que esperar do mercado? Que continue subindo? Para quem comprou seu primeiro imóvel “à vista” neste período se deu bem. Quem comprou a prestações tem que rezar para não perder o emprego. Atrasos nos pagamentos implicam em juros altíssimos, os maiores deste planeta. Países como Japão cobram zero de juros para impulsionar o consumo, em outros países os juros são também muito baixos pelo mesmo motivo. Aqui no Brasil os juros beiram a extorsão, a usura. No Japão dos anos 80, a bolha estourou por lá quando o aumento chegou a 168% acima da inflação (num período de seis anos). A dos EUA quando chegou em 2008 a 140% (nos últimos seis anos).



Quando nossa bolha estourar, teremos um caos dos piores da nossa história, porque os demais países do mundo, os mais evoluídos e fortes economicamente, ainda não saíram da crise de 2008 e não compram nossos produtos nos volumes que compravam antes da crise de 2008, ou pelos menos não aumentaram esses volumes de compra na proporção suficiente para nos proporcionar uma balança comercial mais equilibrada. Nossa população continua crescendo. Quem comprou o segundo ou outros imóveis, terá problemas de liquidez se a bolha estourar. Quem comprará de volta esses imóveis se precisar vendê-los e a que preço? Algo que a maioria dos investidores novatos não entendem é essa gangorra da economia: Ações e imóveis sobem astronomicamente ao longo de um período maior ou menor de tempo, e como parece lógico, de repente param de subir. Então, o mercado se torna vendedor em vez de comprador. Os preços caem. Caem tanto, que quem tiver reservas podem comprar de quem precisa por preços aviltados, e em certos casos, quase de graça. Os ricos ficam então mais ricos, os remediados mais pobres, os pobres mais miseráveis, os miseráveis morrem em maior proporção. É a velha teoria da “escada do investidor” : Tenha sempre uma reserva financeira de extrema liquidez, comprando sempre quando os preços estão quase na base da escada, vendendo a partir do momento em que chegarem á metade da escada. Nunca espere os preços chegarem ao topo da escada, porque nunca sabemos onde fica o “topo”, e o topo já está perto do estouro da bolha.

A Europa e os EUA já passaram pela turbulência do estouro das bolhas em 2008. Nós estamos atrasados até no tempo. Não se trata de milagre brasileiro. As bolhas vão estourar e ao que tudo indica, nos meses finais de 2014, inícios de 2015. A desastrosa política econômica do PT, misturando economia com política, não conseguiu frear a inflação. Oficialmente, o governo diz que é baixa, mas quer a bolha imobiliária, quer a manutenção dos altos juros, quer a redução do poder aquisitivo dos salários mostram que anda na casa dos dois dígitos.  Quando após as eleições as concessionárias de serviços públicos aumentarem seus preços e o governo tiver que aumentar impostos para manter seus “programas” eleitoreiros de governo, então as bolhas estouram. Estouram muito feio...



Preparem suas malas e reservem passagens de avião. Mantenham seus passaportes em dia, reze para que não venham com uma lei de retenção de capital, impedindo investimentos no exterior... Invista em ouro, pedras preciosas. Taxas de câmbio não são seguras para guardar dólares ou euros. Governos autoritários costumam estabelecer taxas de paridade fictícias, como na Argentina e em Cuba. Isso não salva a economia, como todos nós sabemos. Nem adianta a pressão dos políticos do PT sobre o IBGE e outros órgãos para tentar distorcer a realidade. Tudo vai mal, e quando estourar, porque a inflação está represada, será como o nascimento de um novo universo. Um universo sem PT com muitos fogos de artifício...


® Rui Rodrigues 

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Deixando de fumar.

Deixando de fumar.



Sábado passado, dia 03 de maio de 2014, quando me fui dentar, por volta das duas da manhã (já era dia 04, domingo) apenas dois cigarros restavam em meu ultimo maço. O tempo estava seco neste quase começo de inverno e  uma tosse característica me incomodava. Eu mesmo estava “seco” também, para deixar de fumar. Começara aos 12 anos e parara apenas por duas vezes, mas não por minha vontade: Uma, por sete meses, quando minha namorada de então me pediu para parar. Um dia discutimos, acabamos o namoro e voltei a fumar desbragadamente. Sou muito sensível a essas coisas de namoro não entendido...

A outra foi quando adquiri um fungo safado no deserto da Guajira, na Colômbia, nas cercanias do então Puerto de Media Luna, hoje Puerto Bolívar.  O fungo entrou nos meus pulmões e nos de um outro americano. O americano voltou para os EUA, eu fui para Barranquilla, onde fiquei quatro meses sob tratamento. Parece que o americano ficou em maus lençóis e não retornou. Eu fiquei curado com os remédios que me chegaram dos EUA. Esse funguinho safado era desconhecido e matava... Mas deixar de fumar por vontade própria, só agora, por causa dessa tosse, das cinzas dos cigarros, do cheiro, do “cansaço” de fumar por tanto tempo. Quando na terça feira, dia 06 de maio de 2014 acordei, já fazia três dias que não fumava sem sentir a menor falta. Eu estava disposto, mesmo, a parar de fumar.
Acordei, tomei meu banho, chamei o táxi e fui fazer meu trabalho mensal em Cabo Frio. Quando cheguei de volta para casa, e entrei, senti aquele cheiro forte que jamais sentira antes de parar de fumar apesar dele nunca ter saído de minha casa. As outras pessoas devem sentir esse cheiro. Eu jamais poderia sentir por estar completamente habituado a ele. Não... A partir de agora faria todos os meus esforços para deixar de fumar. É realmente uma merda! Agora, e pela primeira vez em minha vida, realmente eu quero e vou parar de fumar.



Cinqüenta e seis anos fumando já me deixa com a vontade pelos tampos. Basta!
Hoje, dia 08 de maio continuo firme em minha determinação de não fumar... Sinto na verdade um prazer em não ter comprado cigarros, em não ter pedido para os trazerem, e na verdade mesmo, não me faz falta alguma. O problema é de “hábito”. Por isso a minha olhadela intuitiva para o tampo da mesa do computador, do lado direito, onde o maço costumava ficar junto com o isqueiro.
Próximo passo, voltar aos 78 quilos... O tempo continua seco e a tosse se foi... A cada instante que me dou conta de que estou parando de fumar, é uma alegria de vitória, e mais se fortalece a minha vontade. Agora é definitivo. Eu quero mesmo! Para valer... E a melhor forma de deixar de fumar é "querer". Se quer, pode! 

® Rui Rodrigues

Hoje é dia 12 de maio...  A cada dia que passa mais satisfeito fico comigo mesmo... A casa está perdendo o "perfume" de tabaco. Estava impregnada. Dia  11 dei minha primeira caminhada pelo Lotamento, que avaliei em cerca de dois quilômetros. É pouco, mas estou acima do meu peso ideal e tenho que voltar a caminhar devagar, aos poucos.... 




sábado, 3 de maio de 2014

Á morte com carinho!

Á morte com carinho!




Não se assustem... A vida é assim mesmo, desde que em minha adolescência assisti ao filme “Ao mestre com carinho” [1]. Aquele filme lançado nos dias de hoje, da mesma forma, mesmo com figurino diferente, não teria, creio eu embora não seja um pessimista por natureza, o mesmo sucesso. Os tempos mudaram muito no Brasil e não parece que tenha sido para melhor. Mas não falemos de política. Falemos da alegria de viver e do equilíbrio na postura que nos faz sentir felizes apesar de algumas dificuldades, pequenas e grandes, que temos a ousadia de enfrentar nesta epopéia pessoal, de cada um, em Viver!... Viver desde que se nasce até que se morre, pondo-se fim a uma etapa de um ser que não é único, que deve tudo o que foi à diversidade das espécies deste planeta e à diversidade entre todos os seres aos quais chamamos, muito libertina e inconseqüentemente, de seres humanos. Nem todos somos humanos.

Sou um cara feliz, sim. Conto minha vida não pelos momentos felizes, mas pelos infelizes, que foram na realidade muito poucos. Minha felicidade vem sempre da constatação de que meus momentos infelizes foram sempre muito poucos. Sabem porquê? Porque mesmo nos momentos infelizes, eu sonhava com a solução para acabar com essa infelicidade e encontrada a solução, era fazer o “gol” e partir para o abraço. É a teoria do “desprendimento”, livrar-nos de tudo o que nos causa infelicidade. Arrisco até em dizer que Jesus, um grande perceptivo, percebeu essa faceta da “racionalidade” humana: Se a posse de bens te mal faz, larga-os e vem ser feliz. Daí a perceber que a vida é um “bem” altamente perecível, embora sem data de validade, foi um passo só, estricto, direto, valendo para todos os "bens". A vida é como é, o que é, nascemos jovens e morremos idosos porque a força da gravidade e o ambiente em que vivemos nos causam rugas, deformam o corpo. Ter uma cabeça jovem dentro de um corpo idoso não é virtude. É problema, um grave sintoma de inadaptação que gera infelicidade. O equilíbrio é a solução para a felicidade, não necessariamente para a longevidade. Essa nem importa. É necessário que percebamos que logo após a morte este mundo acabou com todas as suas virtudes, lembranças e vicissitudes. É como um desligar de energia em que a lâmpada se apaga. Pergunte a uma lâmpada apagada se (ela) se lembra dos momentos em que permaneceu acesa... Não obterá resposta. A você morto ou morta, poderão lhe fazer todas as perguntas tal como a uma lâmpada apagada que não obterão resposta porque suas condições vitais acabaram para todo o sempre. Se tivesse lembranças após a morte, sofreria por se lembrar das infelicidades e por se lembrar das felicidades perdidas, e isso não seria justo para qualquer deus.
  
Há, portanto, que incluir a velhice e a morte no nosso cardápio de felicidades. Não das felicidades que nos dão prazer, mas daquelas que não fedem nem cheiram, que não têm mais importância do que um par de meias que saiu de moda ou ficaram velhas e jogamos no lixo. Sobretudo, devemos ter um carinho muito especial pela velhice e pela morte. Através da velhice nos preparamos para a morte. Vamos aceitando as “perdas” pelo corpo, pelos bens, pela vida. Quanto mais demorarmos a perceber isto, mais difícil nos fica atingir o equilíbrio necessário e entendermos definitivamente que viver é bom enquanto dure, e que o “tempo” que durar não é o mais importante, mas como estaremos preparados para enfrentarmos as dificuldades sem perder o nosso estado de “felicidade”. Afinal, o mais importante desta vida enquanto vivemos, é o estado de felicidade. E por mais paradoxal que possa parecer, até podemos ser felizes na hora da morte se a entendermos como uma parte dos atos “involuntários” da vida.


E, afinal, mas não finalmente, pense que até os deuses morrem: Odin, Zeus, Marte, Poseidon, Osíris, Ptah, Jesus Cristo (morreu na cruz e não foi de mentira), Ahura Mazda, Ba’aL, Hermes, Euro, Nereu, Neptuno e um Panteão imenso cheio de milhares, talvez milhões de deuses mortos. Eles morrem. Porque nós não?
Viva feliz nesta vida criando para os outros - e para você mesmo (a) - o mínimo de infelicidade possível. Só a infelicidade alheia por frustrações em nos tornarem infelizes pode ser motivo de nossa felicidade. A morte não é bem vinda, mas sua chegada é sempre e felizmente aceitável com um sorriso de felicidade e de boas vindas: Em maior ou menor grau, é o sinal de “dever cumprido” da vida, sem medalhas de heroísmos, sem lugares privilegiados ou gordas contas bancárias no além. 




O tribunal de Osíris está tão morto quando o próprio Osíris, e “corações” não se medem em peso de penas. O que se mede em peso de penas, no sentido mais abrangente do significado da palavra “pena”, é o retorno da felicidade que transmitimos aos que nos cercam e aos que encontramos no caminho de nossa própria vida. Na real consciência, sem mentiras!



Enfrente a velhice e a morte com carinho, venha quando e como vier, para que ela não lhe estrague seus momentos de felicidade. Você vence sempre enquanto viver, e que o viver dure quanto durar!

® Rui Rodrigues


quinta-feira, 1 de maio de 2014

As minhas três mulheres

As minhas três mulheres

Sexta feira à noite no bar, já passando da meia-noite. O barulho agradável e acolhedor da vozearia dos clientes, do tilintar dos copos, do odor dos salgadinhos que passavam perto das mesas, os cartazes de filmes afixados nas paredes chamando a atenção, dando um toque especial ao ambiente. Prateleiras com garrafas antigas, copos antigos, e uma tela de TV enorme, das mais modernas, para os dias de jogos interessantes de futebol internacional. Jogos nacionais só na competição principal entre times de vários estados, conhecido como o Brasileirão.  Jogos entre times da cidade sempre acabam por provocar discussões, brigas... A TV fica desligada. Bem ao lado dela, o aviso!
Naquele dia de fim de primavera caia uma chuva fina, até agradável. As ruas molhadas dão uma impressão de lavadas. Em alguns lugares do centro da cidade, onde fica o bar, pensamos até estar em Montmartre na Paris dos anos 60, principalmente perto do museu de belas artes, do teatro Municipal, nas ruas da Lapa.




A bela mulher chamou a atenção dos freqüentadores do bar do chopp grátis que administro. De vez em quando até sou garçom, barman, caixa, cozinheiro. Depende de quem acho merecer minhas atenções, e fico em particular impressionado como nossos sentidos, todos eles reunidos, podem construir uma imagem, uma definição em tão breves instantes que duram muito menos do que um segundo. Um segundo no tempo que só percebemos quando todos os nossos sentidos estão atentos. Peça a alguém que não tenha praticado handebol, que conte três segundos o mais exatamente possível, e constatará, olhando o relógio, que todos erram para mais ou para menos dependendo de seu estado de ansiedade e atenção. Eles não sabem que para contar os três segundos basta dizer mentalmente e sem presa alguma, da forma mais natural: “Trinta e um, trinta e dois e trinta e três”... No entanto, somos capazes de perceber micronésimos de segundo ao olhar para uma mulher se lhe somos simpáticos, indiferentes, ou até, e de certa forma em maior ou menor grau, repulsivos. Quando ela entrou, percebi-lhe o olhar. Eu iría jurar que veio para me ver, já que não se deteve sobre os demais freqüentadores. Parecia um olhar com endereço certo, determinado, mesmo antes de entrar. Juraria que me procurava. Mentalmente, revendo meus arquivos, não encontrei algum indício de que a conhecera em algum outro lugar. Certamente me lembraria, mas é daquelas mulheres que depois do primeiro contato visual, passa a fazer parte dos “conhecidos” que polvilham nossa vida. Dirigi-me a ela e indiquei-lhe uma mesa perto da janela que sempre tenho reservada para casos especiais. Perguntei se estava sozinha, e deixei-lhe o cardápio com um sorriso que foi correspondido. Discretamente, afastei-me sem perder o contato. Quando ela levantou os olhos procurando-me, eu já estava a caminho. Pediu-me um chope, e um pratinho de mini-quibes [1]. Perguntei se queria molho de limão ou de pimenta. Preferiu o de limão. Escolheu bem. No bar esprememos o limão na hora. Depois me afastei e a admirei de longe.
Era uma mulher de pele morena de traços europeus, lábios ligeiramente grossos, sensuais, com mais ou menos um metro e setenta de altura, cabelos bastos penteados à moda afro. Um batom cor de rosa suave, os olhos límpidos, peito generoso que cabe na mão, cintura marcada, curvas perfeitas com pernas perfeitas, os pés com dedos bem torneados. O vestido era de flores, em tons violeta, de seda, brincos discretos, um colar que lembrava esmeraldas intercaladas com lápis-lazúli, e seu andar era firme, equilibrado, discreto sem chamar a atenção. Os sapatos, fechados, eram azul noite. Perfume Chanel numero cinco, que jamais sai de moda. Uma deusa! E a voz, clara, dicção sem vícios ou trejeitos. Mas era o olhar que me matava. Os olhos eram verdes!


A primeira fase da atração tinha me vencido. Aquela era a mulher que eu via, que eu sentia, minha cabeça se perdia em devaneios acompanhado de sua imagem. Era isso. A primeira das mulheres que vemos numa mulher, é sempre a imagem que construímos com nossos sentidos mais urgentes e imediatos. A imagem gera atração, desejo, aproximação. E neste devaneio, nossos olhares se cruzaram uma, duas vezes. Então me aproximei. Perguntei-lhe se o chope estava como desejava e se os quibes estavam a contento. Ela elogiou os quibes e o molho de limão. Pediu mais um chope e perguntou se lhe poderia dar a receita. Foi então que notei a sua pele. Era sedosa salpicada de discretos pelinhos cor de ouro, sem mácula. Não tinha mais que trinta anos. Talvez uns 27. Um universo com mãos do tipo que afagam mais do que trabalham no pesado! E não... Não era prostituta certamente. Perguntei se podia fazer-lhe companhia. Fez-me sinal para me sentar, e lhe expliquei como fazia os quibes. Foi então que surgiu, despontou, desabrochou a segunda mulher que habitava nela, um pouco ansiosa, como criança que se depara com um prato desprotegido de “brigadeiros”. Era casada há já alguns anos, uma meia dúzia. Seu marido estava viajando e ficaria fora por uma semana. Só voltaria na próxima segunda feira. Ela o amava e respeitava muito e sua relação não era aberta. Acreditava que seu marido não a traía, ou se o fazia era de tal modo discreto que não se percebia. Não queria em hipótese alguma terminar a relação. Pelo contrário, pretendia fortalecê-la, mas, como ela mesma explicou, precisava urgentemente de uma relação temporária diferente. Algo como uma aventura quente, sem compromisso, onde pudesse dar vazão a todas as suas fantasias.
Se a primeira mulher que conhecemos pela imagem de nossos sentidos nos desperta emoções, a segunda mulher que descobrimos por debaixo da capa da primeira, é sempre mais excitante se corresponde ao “sonho sensual” a que nos dedicamos a partir da primeira sensação. É como mel no pão, queijo com goiabada, torradas barradas com manteiga e café com leite. Só falta comer.


Fomos para minha casa. Convidei-a para tomar “qualquer coisa”, mas nada se preparou porque nos beijamos. E beijamos, mãos ávidas percorrendo os corpos. Levantei-lhe a saia levemente e senti-lhe a pele morna das coxas enquanto ela me despia a camisa. Convidou-me para tomar uma ducha, uma ducha também morna, a água escorrendo pelos olhos que tinha que manter fechados quando lhe tentava olhar o rosto em êxtase, abertos quando lhe olhava o corpo esbelto, sensual, firme, sem pêlos púbios. Meus 37 anos se abaixaram para beijar aquele monumento, meus dedos acariciaram-na, minha língua lhe deu o prazer entre suas pernas trêmulas. Não há quem dê sem esperar receber, e sua boca foi mais do que generosa, sua garganta em ânsias, espasmos, sua língua percorrendo tudo o que mais desejava dentro de si. Assim passamos o resto da noite até o sol nascer, alternando posições, penetrações, num corpo que já não tinha segredos. Um corpo desvendado e gozado em toda a sua amplitude, o meu oferecendo-lhe o mesmo gozo.


Acordei pelo meio dia sem conhecer a terceira mulher que existia dentro da segunda, esta coberta pela capa da primeira. Encontramo-nos mais uma vez, nessa mesma noite. Larguei o trabalho quando eram apenas oito da noite. Recebi-a em casa com um bom vinho, um jantar simples, mas preparado com todo o cuidado e o melhor do meu bom gosto. Nada para impressionar, apenas para saborear, dar prazer. Então, logo na primeira vez que nos amamos, ela me disse para ficar quieto com o membro dentro dela. E começou a apertá-lo em suaves contrações. Quem estaria disposto a abandonar uma mulher daquelas? Como seria possível que o amor, o desejo acabassem algum dia? E como me poderia abandonar, se lhe dava o que queria, o que desejava? Mas quando acordei pelas dez da manhã, ela não estava no meu apartamento. Deixou um bilhete: “Te agradeço todo o prazer que me deste. Gostei tanto que temo, que com mais outro encontro largaria tudo para trás e só pensaria em ti, mas a vida é complicada. Assim, mesmo sofrendo pela ausência futura, sinto que não posso mais te ver. Beijos e desejos eternos da eternamente tua”. E assinou com um “Eu”.


Nunca soube seu nome, onde vivia, onde morava, quem era o marido.  Um dia, cerca de dois anos depois, olhando os jornais, vi sua foto e li a notícia de que se tinham separado. Só então fiquei sabendo quem era. Tarde demais. A terceira mulher era simplesmente uma mulher com alma, como qualquer mulher ou homem, buscando a felicidade do momento. Então me lembrei de um dito feminista, que dizia para o marido “muito ocupado”: “aqui em casa só há uma regra: Transa-se todos os dias, a qualquer hora, seja com quem for”.

O terceiro homem que existia em mim, por aquela época – afinal todos somos iguais nisso, homens e mulheres – não estava disposto a dividir a terceira mulher que nela existia, e isso era pedir-lhe demais. Esperei, no entanto, que ela aparecesse lá pelo bar algum dia... Mas o tempo a engoliu por completo e me engoliu a sua lembrança. Não a perdi para o tempo, mas para a vida. Lembrei-me dela hoje, por essas coisas da vida que de repente se abrem em nossa caixa de pandora, o cérebro, a imaginação... Jamais um inventário. Nunca fui colecionador. Homens e mulheres devem ser "descascados" camada por camada, até que apareçam, despontem, todos os "perfis" de cada um. E ou aceitamos ou rejeitamos, a qualquer momento, por boas ou deficientes razões. Mas, se forçamos a convivência, seja por que motivo for, mesmo não querendo aceitar algum desses perfis, melhor procurar na Zona a aceitação geral e irrestrita sem questionamentos. Basta pagar uns trocados que não fedem nem cheiram. Proibir o meretrício é solapar a individualidade de cada um, a liberdade de se ser o que se quer ser de forma remunerada ou por simples prazer.  

Do mais fundo de minhas boas lembranças, as moças das fotos são apenas semelhanças. Jamais publicaria a foto verdadeira. 
® Rui Rodrigues
    
   






[1] Receita de mini quibes: Rende: 50  mini quibes, aproximadamente

Ingredientes

1/2 kg de trigo para quibe, 750 ml de água, 1/2 kg de carne moída, 3 dentes de alho picados, 1 colher (sopa) de hortelã picada, Sal a gosto, Óleo para fritar

Modo de preparo

Preparo: 20 mins  ›  Tempo adicional: 1hora de molho  ›  Pronto em: 1hora20mins 

1.                      Deixe o trigo de molho na água por cerca de 1 hora, ou até que tenha absorvido toda a água.
2.                      Doure a carne moída com o alho e o sal numa frigideira. Junte com o trigo e adicione a hortelã e mais sal, se desejado.
3.                      Enrole quibes pequenos e frite numa panela com óleo bem quente. Sirva a seguir.

terça-feira, 29 de abril de 2014

Warning... Boycot to the 2014’s world cup – Brazil!

Warning... Boycot to the 2014’s world cup – Brazil!



Buses are being burned out through of the streets.  Police and narcotraffic forces are fighting everywhere. Underway stations and wagons are not enough to transport all  people and timing is not a priority. If you come to the world cup, you will be in a wild country. Your life is not guaranteed. A lot of people dies because of “losted bullets”, what means that you died and never the murder will be find or punished. The Brazilian government is lead by a woman, terrorist in the early past of 60's , who got the power through Lula’s indication. To her, the power is more important that the people. Whatever is needed to keep the power, she will do what she wants don’t matter what or how or even when. Better Brazilian’s way of life, or better education, is a lie. Keep in touch  with the international media.




₢ Rui Rodrigues 

domingo, 27 de abril de 2014

2020 - O retorno - capítulos 1, 2 e 3...

2020 - O retorno


Este conto será editado em capítulos nesta mesma página do blog. O ultimo capítulo sempre na parte superior do texto. Espero que gostem. Entre chopes grátis e belisquetes salgadinhos, os frequentadores do bar do Chopp Grátis gostaram. Se dirigir não beba. Se beber nos convide... venha para cá!

  1. A resistência.



- Nosso viajante está em apuros. Apertou a tecla! O homem que disse isto em voz calma vestia uma camiseta preta, um short bege escuro, era negro, calçava um tênis preto. Seu interlocutor tinha uma indumentária semelhante. O short era quadriculado em tons de cinza azul e preto, a camiseta e os tênis brancos, usava um boné preto de pala. Era mais moreno que outro. Respondeu que já esperava por isso. Fez uma chamada em seu celular e disse apenas uma frase: “pega o galo na capoeira”. Com um gesto, ambos saíram da casa carregando suas mochilas. Subiram numa moto e saíram em baixa velocidade. Passados dois quarteirões já “voavam” pelas ruas da cidade. Nenhum ponto da cidade ficaria a mais de 15 minutos com o velocímetro tremendo fora de escala. Ambos faziam parte da resistência ao sistema implantado por um partido que comprara a moral e a ética de muitos outros partidos, indicara gente sua para o Supremo Tribunal Federal distorcendo a lei e a constituição, colocando gente sua, incompetente mas fiel, muitos sem diploma válido e revalidado, à frente dos ministérios públicos. As verbas eram distribuídas e nunca chegavam intactas aos fins para os quais haviam sido destinadas. Era um governo sem moral nem ética, que se mantinha iludindo o povo e desviando dinheiro para contas particulares. A culpa dos erros na administração pública eram sempre atribuídos a “assessores”, ministros incompetentes, mas substituíam todos por outros igualmente incompetentes. Ministros, políticos eleitos, que podiam ser substituídos eram sempre a desculpa para os “erros”, e depois destituídos sem que tivessem que devolver as verbas desviadas. A devolução seria impossível, porque o dinheiro desviado não era apenas para eles. A maioria do povo conformava-se e não reclamava. Achavam que se o governo assim agia era em seu favor, isto é, do povo, dos cidadãos.
Os dois homens sobre a moto, agora em alta velocidade, pensavam de modo diferente: A corrupção deveria ser combatida e minada nas sombras, os usurpadores dos direitos de cidadania abatidos de modo figurado ou real. Perto da Rua do Canal de Itajuru, no centro de Cabo Frio, em frente à Igreja Conventual Nossa Senhora dos Anjos, no Largo de Santo Antonio, um carro preto aguardava a chegada do que transportava o Viajante. 


Postado debaixo do veículo, um homem todo vestido de preto segurava uma Carabina Hatsan 125 Sniper 5.5mm SAS, de alta precisão e potência. Estava em posição de tiro aguardando o veículo do Viajante. Ao longe ouvia-se o som do motor de uma moto em alta velocidade. O homem então colocou o dedo no gatilho e esperou. Quando viu o veículo dobrar a esquina para entrar no Largo da Igreja, disparou. Dentro do carro, o viajante ouviu o som de um pneu estourando, sentiu o carro balançar e logo em seguida voar em capotagem. Depois de umas três capotagens, o carro se imobilizou. Mãos firmes o retiraram do veículo. Ouviu mais três disparos de baixo calibre em seqüência ali mesmo a seu lado. Os outros três ocupantes do veículo estavam mortos ou agonizando. Não fez perguntas. Viu dois homens passarem numa moto, mas não se preocupou. Sabia que estava entre gente amiga que agora o levava correndo para o veículo estacionado em frente. Entraram e saíram dali rumo a Búzios. No carro capotado um homem com apenas nove dedos na mão esquerda agonizava. Muito ao longe se ouvia a sirene de uma ambulância, ou seria de um carro da polícia?


Na metade do caminho, pararam. Entraram num condomínio. Chegara finalmente a casa, mas não a sua. Depois dos acontecimentos duvidava que voltaria a habitá-la.

 Próximo capítulo:

Quero esse homem vivo.


No escritório central do Quartel da Polícia Internacional Da Defesa do Estado, em Cabo Frio, uma mulher gorda, pele suada,... 

2o capítulo - Uma casa muito longe



Antes de se preparar para dar uma cochilada no ônibus, o viajante deu uma olhada pela paisagem da ponte Rio-Niterói. A paisagem parecia a mesma de anos atrás, em 2014, quando após as eleições decidira sair do Brasil até que melhores tempos voltassem. Já fizera isso antes, em 1990 quando Collor se elegera para presidente. Dessa vez saíra porque soubera de antemão que o presidente pretendia “mudar o Brasil”, sem saber que o Brasil não se muda por decreto. Com aquele olhar de garoto drogado cheio de “vontades” e discursos inflamados como os de Hitler, sabia que viria chumbo grosso sobre a população. Acertara em cheio. Desta vez, em 2014, porque temia a instauração de um “estado novo”, uma nova situação, imposta por um antigo partido que tentava reviver os anos sessenta e implantar duas filosofias de governo simultâneas: Filosófica comunista para o povo se animar, e capitalista de quadrilha para que os políticos do partido pudessem ter todo o conforto e riqueza em palácio mantendo o poder perpetuamente. Povo ingênuo que é capaz de acreditar em ressurreições, em acertar a sena acumulada, em comprar lugares no céu, que um copo de água pode servir de benção se colocado perto da televisão durante prédica de pastores, e que a vontade do povo se exerce através de um partido único que dá festas gratuitas mas que nunca tem dinheiro para renovar serviços públicos, é assim mesmo. O problema é sobreviver num estado assim. Mexeu-se em sua cadeira no ônibus, já fora da ponte e deu uma olhada nos poucos passageiros. A moça e a avó pareciam inofensivas. Duas jovens que haviam entrado de mochila se acariciavam sob os olhares gulosos de um rapaz do banco ao lado. Havia um sujeito forte, sisudo, introspectivo no segundo banco logo atrás do motorista, e outro muito parecido no banco perto do banheiro do ônibus, lá atrás. Um casal com uma criança também não lhe chamou a atenção. Só havia uma linha de bancos no ônibus totalmente preenchida com passageiros. Pareciam ser nórdicos, dois casais. Uma moça que viajava sozinha estava sentada na mesma linha de cadeiras do outro lado do corredor junto á janela. Então o viajante se preparou para o cochilo. Ajeitou o encosto da cadeira e aparentemente adormeceu. Quem o iría incomodar naquele ônibus? Se o quisessem fazer poderiam tê-lo feito no desembarque quando apresentou seu passaporte na Polícia Internacional de Defesa do Estado. Por volta da uma hora da manhã, despertou de seus cochilos intermitentes. Tudo no ônibus estava tranqüilo, todos em seus lugares, exceto os dois homens que mais lhe haviam chamado a atenção. O que estivera sentado perto do banheiro do ônibus, estava agora sentado na cadeira a seu lado, o cotovelo sobre a perna direita, olhando para frente do ônibus aparentando que falaria com o motorista para saltar antes do ponto final. O outro estava de pé depois da porta de vidro, junto às escadas, pronto para descer do ônibus. Aparentemente os dois não se conheciam. Foi então que de repente, o que estava a seu lado se levantou, apoiou uma  das mãos sobre o encosto de cabeça de uma das cadeiras na sua frente, do lado do corredor e discretamente sacou uma arma da cintura e com rápidos movimentos, fez sinal ao viajante para sair da cadeira e se dirigir para a saída do ônibus. O viajante não resistiu, não fez cara feia, simplesmente se levantou, apanhou sua mochila que jazia no assento do lado, e se dirigiu para a saída. O ônibus já reduzia a velocidade para o acostamento da avenida. Estavam a poucos quarteirões da rodoviária. Os três desceram. Um carro preto os esperava. Além do motorista havia mais um sentado no banco detrás. 



Um dos caras do ônibus ficou na calçada, O outro e o viajante entraram no carro. Pelos vistos, sua casa ficava tão longe que pensou por breves segundos que jamais chegaria lá. – Para onde vamos? Perguntou o viajante. O raptor da frente não respondeu nem se moveu. O que estava sentado no banco de trás olhou o viajante com uma cara de atemorizar e não abriu a boca. Mostrou-lhe a arma que apertava em sua mão esquerda, e que estivera escondida em seu bolso. Sua mão não tinha um dedo, o mindinho. O viajante entendeu que não deveria fazer perguntas. Não fez mais nenhuma, mas no celular em seu bolso, seu dedo indicador apertou uma tecla. Um telefone tocou em algum lugar ali perto.

(a seguir) - A resistência.




  1. A chegada do viajante.




Havia anoitecido e chegara cansado depois de longo vôo desde Amsterdã. Por onde andara havia um sentimento geral de perda embora aparentemente nada houvesse sido perdido. Humanidade conformada. No aeroporto do Rio de Janeiro carregando sua mochila, passou pela livraria com o intuito de comprar um jornal que o pusesse a par dos acontecimentos mais recentes. Talvez por questões ambientais para preservação da vida no planeta não havia livros nem jornais. Havia chips pelo preço de um jornal de antigamente. Com o chip poderia ler as notícias de qualquer jornal diário. Os preços variavam para cada jornal ou livro e seriam descontados em sua conta corrente de forma automática logo que acabasse de os acessar em sites específicos, mas recém chegado depois de anos de ausência ainda não tinha conta em Banco. Poderia comprar o chip mas não poderia usá-lo. Comprou-o assim mesmo para poupar tempo logo que abrisse uma conta no Banco. Comprou também um “e-all-X32”, um aparelho que permitia tudo: Comprar, vender, assistir programas, ver filmes, fazer transações com o banco, tudo que de virtual se possa imaginar, com completa segurança e cobertura de eventuais prejuízos pelo Banco Central. A moeda nacional era agora o “Fidel”. Fidel lhe lembrava algo tenebroso mas não deu importância no momento. Quando ia saindo da livraria viu um enorme cartaz de propaganda de um livro virtual: “Che descobre o Brasil”. Devia ser uma brincadeira ou uma referência á visita de Che Guevara ao Brasil anos ou meses antes da revolução de 1964 quando havia sido condecorado pelo governo do Brasil. E então ligou as duas coisas: O nome Che Guevara e o nome da nova moeda brasileira. Seus olhos percorreram o cartaz pelas letras menores. Estava escrito: “Ultima revisão do livro oficial de História do Brasil – cadeira obrigatória para todos os alunos de todos os cursos incluindo doutorado e pós-doutorado”. E noutro bloco de texto o seguinte: “ Esta revisão destina-se a dar importância aos fatos relevantes de nossa história reconstruída pelo Partido da Totalidade, considerando-se que em 1.500, Pedro Álvares Cabral apenas descobriu as Terras de Santa Cruz por acaso, e que o Brasil só começou a existir realmente quando o grande Totalitário Che Guevara visitou nossas terras e semeou as sementes do grande poder da totalidade”. Ficou abismado. Não sabia que haviam chegado tão longe. Havia uma pequena bandeira nacional no livro que parecia a antiga: O verde tinha sido substituído pelo vermelho, o amarelo pelo rosa, e o azul com as estrelas e a faixa por um circulo branco do qual saiam pequenos triângulos de cor laranja alinhados pelo perímetro do círculo que era branco e onde se podiam ver inscritas as letras PT em preto. Pensou em sorrir, mas certamente estaria sendo observado por câmaras. Isso poderia chamar a atenção de alguém ou de algum departamento de vigilância que nem poderia adivinhar sua existência, mas que certamente deveria existir. Sua nação parecia ter sido invadida, reconstruída, modificada. Tinha que tomar precauções. O viajante estranhou não haver nenhum daqueles cartazes de “proibido fumar” com um cigarro na horizontal rodeado pelo sinal de trânsito de proibido. Em seu lugar havia cartazes verdes com imagens de uma planta por demais conhecida envolta num circulo verde que deveria significar “permitido trafegar”. Uma prova de que sua intuição não se enganara é que muitas pessoas fumavam maconha abertamente, vendidas em cigarros, pacotes e até charutos, com selos de procedência tal como antigamente se usava em pacotes de café.Todas as marcas tinham o mesmo slogan escrito: “A erva da revolução”. Começou a habituar-se ao fato de que não deveria jamais se mostrar surpreendido para não chamar a atenção. Por isso não estranhou nem mostrou qualquer emoção quando quase na saída do aeroporto viu um grupo de adolescentes oferecendo seus serviços sexuais aos visitantes. Eles, meninas e rapazes tinham mais de dez anos, mas nenhuma delas chegava aos dezessete. Policiais nas imediações não faziam qualquer objeção. O governo fechava os olhos para os problemas sociais para que as famílias pudessem ter uma renda extra, já que os salários eram muito baixos para beneficiar a competição comercial e poder exportar os excedentes. O “é proibido proibir” dos anos sessenta  do século anterior parecia agora ser um fato consumado. Porém não se poderia iludir: Todos os governos proíbem algo. E quanto menos proíbem nuns setores, mais liberam em outros, como que para desviar a atenção e manter um relativo nível de satisfação popular de forma a que o povo não se revolte e pelo contrário coopere com o governo. Se o povo queria festas, o governo permitia, incentivava e até as custeava. O governo dava pequenas coisas e cobrava grandes coisas como imposto de renda, coisa que todos eles sempre fizeram. Mas agora exageravam. Entrou numa agência bancária e abriu uma conta com uma nota de cem Euros. Apanhou um táxi. Pediu ao motorista que o levasse à rodoviária e que ligasse o ar condicionado. Impossível. Os combustíveis, explicou o motorista com a barba por fazer, sacudindo uma mosca teimosa, estavam muito caros e embora não houvesse racionamento, termo horrível que era detestado pelo governo, eram muito caros principalmente a gasolina. Explicou que o governo para não fazer racionamento aumentava o preço dos combustíveis. Fazia isso com tudo, também com a água, o gás e a eletricidade. Até com os alimentos. - “Se eu fosse o senhor, voltava para o avião que o trouxe e sumia daqui...”, disse melancolicamente o motorista girando ligeiramente a cabeça para o lado de forma a dar a impressão de credibilidade no conselho a seu passageiro. Iría para longe do Rio de Janeiro onde não o incomodariam, disse o passageiro. Vinha passar uns dias em Cabo Frio para visitar uns amigos e em breve, talvez uma semana ou duas, voltaria para Amsterdã de onde tinha acabado de chegar. Não deu muita importância ao comentário do motorista quando este murmurou “se o deixarem sair” porque estava seguro de sua condição de turista. Tinha adquirido nacionalidade holandesa embora fosse brasileiro. Esse problema não aconteceria com ele. Mas no fundo temeu exatamente por isso. Quando se lida com governos totalitários que se dizem protetores do povo e mantêm o país em estado de penúria, há sempre algo de fundamental errado em suas atitudes. Como é possível que um estado protetor do povo não permita ao povo ter tudo o que pode comprar? Afinal se trabalha duro para quê?  Se o governo quer proteger o povo que conduza a economia de forma a garantir trabalho para todos. 


E foi até Cabo Frio num ônibus quase vazio, sem ar condicionado, caindo aos pedaços, pensando numa porção de problemas que sabia que iria encontrar. Ele, o viajante, vinha para resolvê-los e não estava só. Se tivesse tempo livre iria até Búzios... 

 Próximo capítulo: 

  1. Uma casa muito longe