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sábado, 3 de maio de 2014

Á morte com carinho!

Á morte com carinho!




Não se assustem... A vida é assim mesmo, desde que em minha adolescência assisti ao filme “Ao mestre com carinho” [1]. Aquele filme lançado nos dias de hoje, da mesma forma, mesmo com figurino diferente, não teria, creio eu embora não seja um pessimista por natureza, o mesmo sucesso. Os tempos mudaram muito no Brasil e não parece que tenha sido para melhor. Mas não falemos de política. Falemos da alegria de viver e do equilíbrio na postura que nos faz sentir felizes apesar de algumas dificuldades, pequenas e grandes, que temos a ousadia de enfrentar nesta epopéia pessoal, de cada um, em Viver!... Viver desde que se nasce até que se morre, pondo-se fim a uma etapa de um ser que não é único, que deve tudo o que foi à diversidade das espécies deste planeta e à diversidade entre todos os seres aos quais chamamos, muito libertina e inconseqüentemente, de seres humanos. Nem todos somos humanos.

Sou um cara feliz, sim. Conto minha vida não pelos momentos felizes, mas pelos infelizes, que foram na realidade muito poucos. Minha felicidade vem sempre da constatação de que meus momentos infelizes foram sempre muito poucos. Sabem porquê? Porque mesmo nos momentos infelizes, eu sonhava com a solução para acabar com essa infelicidade e encontrada a solução, era fazer o “gol” e partir para o abraço. É a teoria do “desprendimento”, livrar-nos de tudo o que nos causa infelicidade. Arrisco até em dizer que Jesus, um grande perceptivo, percebeu essa faceta da “racionalidade” humana: Se a posse de bens te mal faz, larga-os e vem ser feliz. Daí a perceber que a vida é um “bem” altamente perecível, embora sem data de validade, foi um passo só, estricto, direto, valendo para todos os "bens". A vida é como é, o que é, nascemos jovens e morremos idosos porque a força da gravidade e o ambiente em que vivemos nos causam rugas, deformam o corpo. Ter uma cabeça jovem dentro de um corpo idoso não é virtude. É problema, um grave sintoma de inadaptação que gera infelicidade. O equilíbrio é a solução para a felicidade, não necessariamente para a longevidade. Essa nem importa. É necessário que percebamos que logo após a morte este mundo acabou com todas as suas virtudes, lembranças e vicissitudes. É como um desligar de energia em que a lâmpada se apaga. Pergunte a uma lâmpada apagada se (ela) se lembra dos momentos em que permaneceu acesa... Não obterá resposta. A você morto ou morta, poderão lhe fazer todas as perguntas tal como a uma lâmpada apagada que não obterão resposta porque suas condições vitais acabaram para todo o sempre. Se tivesse lembranças após a morte, sofreria por se lembrar das infelicidades e por se lembrar das felicidades perdidas, e isso não seria justo para qualquer deus.
  
Há, portanto, que incluir a velhice e a morte no nosso cardápio de felicidades. Não das felicidades que nos dão prazer, mas daquelas que não fedem nem cheiram, que não têm mais importância do que um par de meias que saiu de moda ou ficaram velhas e jogamos no lixo. Sobretudo, devemos ter um carinho muito especial pela velhice e pela morte. Através da velhice nos preparamos para a morte. Vamos aceitando as “perdas” pelo corpo, pelos bens, pela vida. Quanto mais demorarmos a perceber isto, mais difícil nos fica atingir o equilíbrio necessário e entendermos definitivamente que viver é bom enquanto dure, e que o “tempo” que durar não é o mais importante, mas como estaremos preparados para enfrentarmos as dificuldades sem perder o nosso estado de “felicidade”. Afinal, o mais importante desta vida enquanto vivemos, é o estado de felicidade. E por mais paradoxal que possa parecer, até podemos ser felizes na hora da morte se a entendermos como uma parte dos atos “involuntários” da vida.


E, afinal, mas não finalmente, pense que até os deuses morrem: Odin, Zeus, Marte, Poseidon, Osíris, Ptah, Jesus Cristo (morreu na cruz e não foi de mentira), Ahura Mazda, Ba’aL, Hermes, Euro, Nereu, Neptuno e um Panteão imenso cheio de milhares, talvez milhões de deuses mortos. Eles morrem. Porque nós não?
Viva feliz nesta vida criando para os outros - e para você mesmo (a) - o mínimo de infelicidade possível. Só a infelicidade alheia por frustrações em nos tornarem infelizes pode ser motivo de nossa felicidade. A morte não é bem vinda, mas sua chegada é sempre e felizmente aceitável com um sorriso de felicidade e de boas vindas: Em maior ou menor grau, é o sinal de “dever cumprido” da vida, sem medalhas de heroísmos, sem lugares privilegiados ou gordas contas bancárias no além. 




O tribunal de Osíris está tão morto quando o próprio Osíris, e “corações” não se medem em peso de penas. O que se mede em peso de penas, no sentido mais abrangente do significado da palavra “pena”, é o retorno da felicidade que transmitimos aos que nos cercam e aos que encontramos no caminho de nossa própria vida. Na real consciência, sem mentiras!



Enfrente a velhice e a morte com carinho, venha quando e como vier, para que ela não lhe estrague seus momentos de felicidade. Você vence sempre enquanto viver, e que o viver dure quanto durar!

® Rui Rodrigues


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