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domingo, 19 de julho de 2015

A “Química” do Futebol e a química dos perfumes...





Futebol é negócio e emoção. Palmas incitam, sobem o moral... Vaias solapam a emoção, baixam o moral. Com moral baixo os times podem ganhar, com moral baixo é quase certo que perderão muitas partidas. O negócio do futebol é tetralionário, a emoção não tem preço.  



O que aconteceu com o Vasco da Gama que até já foi para a segundona e agora está na zona de rebaixamento? Com o Santos que de repente também está lá, com o flamengo dos altos e baixos, com o fluminense, com uma porção de clubes brasileiros e já aconteceu com a seleção brasileira naquele jogo contra a França em que o Ronaldo Fenômeno surtou de noite e perdemos o jogo contra a França? Um treinador sabia o outro não! O Flamengo contratou um ídolo nacional, o Ronaldinho, e de repente o persegue desestabilizando a torcida, o time, e o que aconteceu com a Portuguesa Santista? E os 7 a 1 da Alemanha?



O que se passa no futebol que não se percebe à vista desarmada, nossos ouvidos nada escutam, ninguém fala nada? Qual é a “química”?



Qualquer coisa seja o que for, que pareça aceitável, “bom”, agradável, quando atinge os píncaros do exagero, estraga-se não no conceito, mas nesse exagero que passa a prejudicar. É como perfume. Em exagero chega a enjoar, afasta as pessoas. Mas há quem ganhe muito dinheiro com os tais exageros. É a química, uma seqüência de eventos em que preparam e misturam ingredientes para se obter um ou mais produtos. Fórmulas químicas são complexas, o futebol também. Os resultados são sempre previsíveis. No caso da química utilizam-se matérias primas, matérias provenientes de varias combinações entre elas, aromas, bases, álcool para evaporar, fixadores para manter o perfume por mais tempo, água, e usam-se métodos testados e estabelecidos para a obtenção de cada composto químico do perfume.


No futebol há os interesses das firmas que patrocinam o clube. Elas financiam o clube, mas podem impor escalações, comprar jogadores, demitir jogadores, e pode ser que nesses patrocinadores haja alguém que aposta em concorrentes e em bolsas de apostas, e contribua para resultados negativos. De olho nos lucros, podem obrigar á venda de jogadores, a criar instabilidade para que o clube perca o jogo e eles ganhem na bolsa de apostas de Londres, ou comprem outros jogadores. Podem levar á venda de Estádios ou á venda de outros patrimônios do clube. Apenas os patrocinadores? Não... Qualquer pessoa ou instituição influente no clube pode fazer isso, incluindo a diretoria por conivência ou falta de percepção, de forma mancomunada ou por conta própria.

Por exemplo, se o objetivo é favorecer um outro clube não por paixão, como é a do torcedor, mas por dinheiro, uma diretoria mancomunada ou não com os patrocinadores pode perfeitamente ás vésperas de um jogo jogar umas gotas de produto químico num copo de café de com leite, de forma que o jogador tenha visões noturnas, pesadelos, sinta medo, e não se encontre em condições de jogar no dia seguinte. A equipe poderia ganhar o jogo sem ele, mas sendo líder, exemplo, o time perde o moral, desestabiliza-se, sente a perda e perde o jogo. Evidentemente que apenas uma ou duas pessoas na equipe técnica pode saber disso, e é possível que um trate as coisas com calma e o outro diga que foi uma surpresa, que não sabia que o jogador não poderia jogar aquela partida, por total falta de condições. Poderia ser por apostas na bolsa de apostas. Essas coisas são combinadas fora das câmaras, na beira da piscina, no campo de golfe, não há testemunhas, nem troca de e-mails.



O fato é que, afora o trabalho dos árbitros que pode ser melhor ou pior, de forma premeditada ou não, as leis do futebol também não permitem correção de erros constados durante a partida. Todos sabem que foi um erro, mas o erro é validado, o que vai contra a maré de justiça que se espalha pelo mundo. O mundo não suporta injustiças, nem comunistas nem socialistas extremados, nem extremados capitalistas, nada que ultrapasse os padrões de justiça pode ser considerado como aceitável nos dias de hoje. Ainda mais sem explicação alguma, ou mesmo com explicações que não convençam a ninguém. Engole-se, mas vomita-se... Torcidas vomitam seu fel. Situação previsível, a direção sai, mas sai bem sem prejuízos financeiros. Com um pouco de carisma e em ultima instância ainda pode vir a reeleger-se. O mundo perdoa mais do que certamente deveria, mas são as “regras” de eleição que enjaulam a vontade popular, dos adeptos, eleitores, sócios e torcedores. Grupos de apoio apresentam as chapas que concorrem á eleição e não há alternativas para além das que são apresentadas com muita propaganda financiada por quem tem interesses econômicos. Na política é a mesma coisa.


São tantos os fatores que influem na baixa de moral de um time, de um clube, de uma seleção, e tão tênues os laços que agregam a vontade de vencer, que, tal como na química dos perfumes fica difícil dizer que ingrediente é o responsável por um resultado tão “perfumado’ do produto, com características duradouras quando usado na roupa ou no corpo, sem manchar... Alguns ainda protegem contra os raios de sol, aqueles que atrapalham goleiros.


Que o futebol precisa mudar, não há dúvidas. Hoje pertence a uma “máfia” tal como se comprova nesta crise de legalidade e justiça no seio da FIFA. Imagine-se ao nível de confederações, de federações, de seleções nacionais. Como que um pênalti mal marcado, que pode ser verificado por câmaras pode definir um campeonato, arrasar uma torcida por um ano, uma seleção por quatro anos, acabar com um clube?


® Rui Rodrigues 

sábado, 18 de julho de 2015

O meu amor pelo Chile





Eu era ainda um garotinho, lá pelos idos dos anos 50, que pouco passara dos nove anos e não sabia quase nada da vida. O que mais sabia é que tinha matemática e meninas para me divertir, cada uma de um jeito (a matemática pela precisão e as meninas pela imprevisibilidade), vinhedos e vinho, animais diversos, e gentes com costumes e aparência tão diferente, que achei que, se um dia não me sentisse bem num lugar, haveria gente agrupada em continentes, em cujo meio me poderia situar de modo feliz. É que santos da porta não fazem milagres e percebi isso muito rapidamente. Como português nato, aprendi a comer peixe e crustáceos com minha tia Elisa e com meu tio, que casou com ela, de nome Adolfo Manuel Rodrigues Melo Marques Durães. È um nome muito comprido o do meu tio postiço que foi como um pai e do qual sinto saudades. Não tive coragem de vê-lo quando estava no leito de morte. Senti-me um covarde! Não me perdôo. Para me salvar um pouco da covardia, não me fiz presente para não ter que chorar a sua morte, e guardar coisas tristes a seu respeito. Preferi guardar apenas os bons momentos. Senti-me covarde e egoísta! Mas foi com ele que pela primeira vez tomei conhecimento de um país chamado Chile. 
Costumava levar-me numa rua ali no centro de Lisboa, a Rua Barros Queirós, muito estreita, ligando o largo de Martim Moniz ao Rossio, e onde havia uma loja que vendia revistas em quadrinhos do Brasil. Havia uma lei segundo a qual não se podiam editar livros em literatura do Brasil porque não havia acordo ortográfico, uma lei bárbara, idiota, retrógrada. Naquela rua podia vender-se. Acho que o dono era amigo dos amigos do Salazar ou dele mesmo. Numa das revistas que me comprou, havia uma do Walt Disney falando sobre o Chile. Memorizei o país.
Muito pouco tempo depois, já que lia fluentemente, minha prima Alice nos visitou na Rua de Arroios, em frente á Praça onde fica ainda a Igreja de Arroios, a um quarteirão da Praça do Chile. Morávamos no numero 147, num rés-do-chão com área de serviço enorme que ia de lado a lado do prédio, um jardim aos fundos que pertencia aos donos do quarto andar. Ao lado a Esquadra da Polícia. O prédio já foi abaixo. A rua ainda está lá. Meu tio já faleceu há bastantes décadas, Salazar já não existe, o acordo ortográfico agora permite livros brasileiros. Portugal progrediu muito. Minha tia foi-se também, mas ela é que era a “dura”, mais que alemã, na minha educação. Tirando os exageros, que descanse em paz. Nada a reclamar. A culpa foi de meu pai que me deixou tantos anos com ela. Um amigo meu quando me viu em Lisboa décadas depois me perguntou se a “jararaca” de minha tia ainda era viva. Foi o Pedro, um vizinho na época que morava no quarto andar, mas não era o dono do jardim, que era umas dez vezes maior que a área do jardim do nosso apartamento. Só havia dois jardins naquele prédio de quatro andares, dois por andar... Uma merda arquitetônica, com 13 dependências, feita provavelmente por amigos do regime de Salazar, que fizeram a distribuição das áreas como bem lhes aprouve por interesses escusos. 
Com aquela idade senti o cheiro da problemática, mas só depois percebi como se faziam apartamentos daqueles. Meu tio era de família tradicional e se explica porque ganhou uma área daquelas, mas não a do jardim do quarto andar. Um par de anos depois, minha prima Alice me ofereceu de aniversário, um livro extraordinário que devorei em um par de dias: “Vinte mil léguas submarinas” do Julio Verne. Permitam-me uma breve pausa para segurar um par de lágrimas pela recordação saudosa de meu tio e de minha prima Alice, e pelo bem que me fizeram, por sua contribuição para o meu conhecimento de poder ver para o lado bom da vida. A vida é um rosário de penas que deve ser aliviado com bons momentos sem que nela se pense. No livro do Julio Verne faz-se menção a Pucón, creio, uma cidade chilena. Se não era essa era outra do sul do Chile, mas “cheirava” a mar, a peixe e a mariscos. É bom ler livros tentando identificar os hipotéticos cheiros. São os fígados de peixe que mais têm cheiro de peixe. Nada melhor para realçar o sabor de peixe do que um pouco de fígado, como por exemplo, num caldo. Certo dia, li num livro de geografia que o Chile era o único país fora do Mediterrâneo que tinha clima mediterrâneo. Isso, aliado ao sentido de aventura, aos vinhedos, aos peixes e mariscos, ao oceano Pacífico, aguçou minha curiosidade pelo Chile.

Pelo final do ano de 1973 saí da empresa Contal no Rio Grande do Sul para onde tinha ido – do Rio de Janeiro - como gerente da Empresa, e fui para São Paulo convidado por uma outra: A Formaespaço. Fui morar na Avenida Paulista com minha esposa e uma filhinha de 11 meses de idade. Conheci então um casal chileno que vivia num apartamento em frente ao meu: Jaime Irigoyen e sua esposa Letícia Nicoletti, também com uma “nena”, a Valentina. Fizemos amizade no dia em que Letízia bateu á nossa porta e se ofereceu para o que fosse necessário. Um gesto muito lindo, raro em qualquer cidade do mundo. Nossa vida, a partir daí, foi uma série de coincidências de trabalharmos em mesmas cidades ou países, ainda que em empresas diferentes. Foi assim que conhecidos em São Paulo, nos mudamos para o Rio, para Barranquilla na Colômbia, para Lisboa e Madrid, para Santiago do Chile. Parece que seja o que for que possa estar traçando destinos – e não acredito nisso – nos estivesse juntando as famílias, para nos dizer: Ficai juntos!


Em 1999, A família Irigoyen estava no Chile, em Santiago, morando no bairro El Golf. E para onde me manda uma empresa brasileira com origem americana, a Becthel do Brasil? Para Santiago, para ajudar na solução de problemas de contratos na Mineria Los Pelambres. Fui para o escritório em Santiago do Chile e lá estavam os irigoyen, agora com Felipe, meu sobrinho postiço, melhor, meu filho “postiço” por questões de amizade. E conheci o Chile com tudo o que tem, de norte a sul por força de trabalho e de lazer nos tempos vagos. Ao final do trabalho a empresa me deu, como gratificação ou agrado, uma viagem ao sul do Chile, por quinze dias, com tudo pago, até a Patagônia. 


Entre amigos chilenos, costumes, vinho, peixe e mariscos, cultura, o Chile é dos países de meu coração, ao qual nem passaporte chileno me faz falta. Sou da casa, sinto-me em casa. Na Colômbia também, mas Chile tem clima mediterrânico, peixe, mariscos e amigos que na Colômbia não tenho iguais.





® Rui Rodrigues

Aeterna homo - Esse mundo que não se vê se existe

Aeterna homo - Esse mundo que não se vê se existe


É feito de anjos e demônios, ou se preferirem, de duendes e dragões. Nunca vi nenhum dos quatro. Então não existe. Há quem diga que existe. Que lhes faça bom proveito, que curtam adoidado com toda a emoção e sapiência. Devem ser superdotados de poderes transcendentais. Sou apenas um simples mortal tentando me adaptar a um mundo que muda a todo instante por obras humanas e da natureza, mas que existe, se vê, é do nosso meio. Coisas que sistematicamente se chamam se invocam e não aparecem, não existem... E não adianta ter fé daquela inabalável. Se não me é dado ver o que não existe, é porque, como qualquer pessoa normal, não preciso ver. Se precisasse, veria mesmo sem ver, por causa da tal fé, mas fé também se adquire por autoconvencimento ou por decepções contínuas. Victor Hugo, filho de um casal amigo, tinha quatro anos de idade quando brincando de esconde-esconde subiu na ponta da mesa, sentou-se e tapou os olhos com as mãos. Disse-lhe para se esconder depressa, que já tinha perdido tempo, e me respondeu que não precisava porque estava ‘invisível”. Dizem que há água debaixo da terra, que também não se vê mas existe. Existe sim. Acredito piamente embora não a veja a todo instante. Só quando coloco uma tubulação enfiada no solo, uma bomba e a sugo até a superfície. Não há duendes, nem dragões, nem anjos nem demônios nessas águas, porque nunca nenhum foi sugado pela bomba.


O que por vezes nos confunde são os arautos do passado, quando contam coisas que dizem ter visto, citam testemunhas, mas não estavam “lá” quando dizem que essas coisas aconteceram. Um dia recebi a visita de meus cunhados, ela irmã de minha ex-esposa. Ela resolveu ir ao Rio numa quinta feira, e eu fiquei com o marido dela. Ficamos conversando, indo á praia e tomando umas cervejas. Como ele gosta de pintar e eu também, aproveitamos umas telas e pintamos cada um seu quadro enquanto conversávamos. Um vizinho que nos viu chegando da praia, e que pelos vistos não é do rol de amigos, espalhou que eu estava vivendo com um homem. Não estou nem um pouco preocupado em saber se acreditaram no vizinho ou não. Quem perderá o crédito – se já não perdeu – é ele, não eu. E crédito de crentes que crêem em qualquer coisa, não tem o mínimo valor. Podem acreditar em duendes, dragões, anjos e demônios, sereias, adamastores, e até em políticos de ocasião, alardeados por propaganda. Pode garantir-se que qualquer ser humano que tente caminhar sobre as águas se afundará, que jamais alguém subirá vivo aos céus por levitação ou numa carruagem de fogo. E nem se transformará em estrelinha ao sair deste mundo por alguma porta por onde nunca entrou. Somos daqui mesmo, este é o nosso endereço: Via Láctea, Planeta Terra, qualquer lugar onde temporariamente se viva. Para os que vivem nos céus, naqueles mais afastados, nós não existimos. Provavelmente nem saberão que nosso planeta seja habitado. Quem viva em céus mais próximos não tem a mínima cultura, porque já conhecemos esses céus aos quais mandamos artefatos que nós mesmos construímos e não vimos nenhuma vida inteligente além da nossa. O céu das almas não é esse, não são esses os céus dos espíritos. É mais fácil que exista no imenso céu das sinapses, aquela troca de informação entre nossos neurônios que guardam recordações para que possam ser consultadas. Como para funcionarem os neurônios  precisam de energia, quando a nossa energia terminar cessam as sinapses, vai-se a memória por completo e não sobra nada. Podem queimar à vontade, jogar no mar para alimentar os peixes, na terra para servir de adubo – os cemitérios são um desperdício de matéria orgânica aproveitável – jogar numa fábrica de reaproveitamento de produtos químicos.


Se olharmos para o passado, há no que acreditar simplesmente por que “disseram”. Muito do que disseram faz até sentido, mas é preciso ter fé ou comprovar. Quando se comprova se transforma numa verdade. Houve sim, a batalha das Termópilas, na Grécia, onde 300 espartanos teriam vencido 3.000.000 de persas segundo historiadores gregos da oportunidade. Era um exagero para inflar o orgulho do povo. Comprovadamente por escavações e estudos, eram aproximadamente 3.000 os gregos, mas não só espartanos, e cerca de 300.000 os persas, e não só persas. Essa batalha heróica os gregos perderam, mas serviu para dias depois ganharem a batalha final que os livrou dos persas. “Ver” o passado, é possível, e até confirmá-lo ou corrigi-lo, e com o uso de equipamentos modernos podemos até filmá-lo e guardar para o futuro. Ver o futuro, isso é impossível, embora possamos admitir muito facilmente que, a julgar pelo passado, o futuro continuará a existir para quem chegar nele ou viver nessa ocasião. Os visionários do passado eram todos falsos. Escreveram sobre o passado - já no futuro - como se estivessem no passado, e pudessem adivinhar o futuro sob “bênçãos divinas”. Mas há outro modo, não de ver, mas de vislumbrar o futuro e a quase “eternidade” do homem com base na tecnologia já disponível.

O homem eterno - Aeterna homo


É simples. Uma bomba de oxigênio para oxigenar o cérebro, uma fonte líquida de alimento com propriedades similares ao sangue, com filtragem de dejetos, e um elemento de transição que permita comandar o corpo com o cérebro. O resto do corpo é completamente mecânico e reparável com peças de reposição, pelo próprio corpo. Podemos nos perguntar porque já não fomos feitos assim. A resposta é simples: A natureza fez a sua parte. Se quisermos melhorar teremos que fazer a nossa parte. Uma delas é deixarmos de ver fantasmas ao meio-dia, deixarmos de nos melindrar com conceitos, preceitos e preconceitos, trabalhar duro e rapidamente, de forma produtiva antes que a vida neste planeta acabe, e partir para o abraço mecânico.

Todas as condições subjetivas humanas ficarão garantidas. Somos humanos no cérebro! E muitos continuarão vendo duendes, dragões, santos e demônios, e ainda acreditarão que com muita fé se possa andar sobre as águas e ressuscitar. Mas até a cabeça sobre corpo mecânico um dia pifa e vai para o brejo, e com exceção da cabeça, todos os outros órgãos poderão ser reaproveitados sem melindres. 



® Rui Rodrigues

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Vou fazer um check up...Por causa do Achamento do Brasil





Vou fazer um check up, o medico vai encontrar um probleminha e me dar um remedinho...
Aí esse remedinho faz desequilibrar um pouquinho aqui e ali, e me mandará tomar mais dois, um para de dia e outro para de noite, para equilibrar aqui e ali...
Em seis meses, se Deus quiser, já estarei tomando 60 remedinhos por dia e gastando uma nota nas farmácias que vendem remédios das fábricas que distribuem propinas aos médicos que nos mandam para as farmácias...
E eu estou tão bem antes de fazer o check up...
Também vai fazer um check up? Estou encagaçado de ter que tomar pastilhas como quem come M&M’s


Do Achamento do Brasil ao seu Afundamento.


Vai afundar mesmo, não se pode evitar. Palavras já não resolvem, a democracia permite que a nação se afunde deixando-se, democraticamente, que se afunde para não se perder o sentido de democracia. É muito mais importante o que se entende por democracia do que a nação em si mesma, que o é de fato, mesmo que a democracia apenas pareça ser.
O Achamento do Brasil, quando apenas o Rei mandava, demorou cerca de três meses e foi realizado por uma frota de navios de madeira e velas de pano, com tripulação assalariada. Para afundar o Brasil foram necessários 13 anos de um governo de um partido com base aliada regiamente assalariada e à propinada.
Desordem e Retrocesso destroem qualquer nação. As naves acharam e seguiram viagem. Os partidos estão “viajando”. Provavelmente na batatinha.


® Rui Rodrigues 


segunda-feira, 13 de julho de 2015

Pensamentos que preocupam...




Imaginem que um dia se inicie uma colonização em Marte, por exemplo, e que, ou porque acabamos a missão, ou porque a abandonamos, saímos de lá deixando apenas alguns instrumentos funcionando, movidos a energia solar, de forma a que a “base” aparentemente esteja funcionando como se algum ser invisível a operasse... A base servia para colonizar o planeta com plantas que produziam oxigênio para permitir uma atmosfera mais respirável.
Vamos mais longe... Imaginemos que conseguimos uma tecnologia que tornasse esses equipamentos invisíveis, mas que nos tenhamos extinguido em guerras ou por qualquer outro motivo. Deixamos de existir, mas os equipamentos ficaram “trabalhando” até se esgotarem por deterioração, quando já tinham deflagrado o processo da expansão de vida.

Então, certo dia, uma espécie alienígena ou nascida ali mesmo, em Marte, milhares de anos depois da implantação da base, sente que a natureza se fez presente em todo o planeta, que há “vida” em Marte, mas não sente nem vê vestígios de quaisquer equipamentos, ou ser que os opere...

E não tendo explicação, sendo alienígena, diria que o planeta evoluiu, começando suas pesquisas para saber como. Mas, sendo nativo de Marte, surgido depois que o planeta permitiu, sem contatos com outras civilizações, diria:



- Deus criou o Mundo, criou este planeta, no sexto dia fez o primeiro ser de nossa espécie, e no sétimo descansou, foi-se embora porque já não o vemos. E escreveria certamente um belo livro fazendo constar que o fazia por inspiração divina para pôr no mundo a sua ordem, isto é, a ordem do escritor. O nome que daria a Deus seria de acordo com a língua que falasse. 


® Rui Rodrigues 

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Cuidados com o preparo de peixes e crustáceos.




Antes de abordar o preparo propriamente dito de peixes e crustáceos, há que elucidar bem o nosso envolvimento neste oceano em que nos originamos, e cujas condições são reproduzidas no ventre de nossas mães para que possamos, sem maiores traumas, nos adaptarmos ao “nascimento”, e onde nem faltam os marulhares das ondas como se fossem do mar... Um nascimento preparado e cuidado para não sofrermos fortes traumas. Porque a natureza nos trata assim com tantos cuidados? Preparar-nos suavemente para o nascimento, reproduzindo todo o ambiente em que a vida se originou, passando por todas as fases até a do Homem Sapiens?

Vivo á beira do mar, mas nasci nas montanhas onde neva inverno sim, inverno também. Quando num projeto com uma companhia americana me dei a oportunidade de escolher onde seria alocado, escolhi o Porto, rejeitando a Mina e a Estrada de Ferro. Queria ficar perto do mar, dos peixes, do oceano, de minha mãe. Se procurarem no fundo de minha garganta ainda deve haver resquícios de guelras. Um amigo meu, daqueles do peito, pessoas fáceis de serem amigas, John Tankersley, estava em Barranquilla e mandou um radio. Perguntou se lhe conseguia uma caixa de lagostas vivas ao chegarem a Barranquilla. Entre um alívio e outro no duro trabalho na administração das obras do Porto de Puerto Bolívar, naquela época Puerto de Media Luna [1] por seu formato, consegui num sábado viajar até uma aldeia índia e programar para a semana seguinte, no sábado, a colheita das lagostas, e conectar com o vôo que chegaria a Barranquilla cerca de duas horas depois. Tudo deu certo, John recolheu a caixa no aeroporto de Barranquilla, as lagostas chegaram vivas. Um bom sushiman consegue prepará-las de modo que os convidados possam apreciar a carne ainda pulsante de lagostas que não puderam se transformar em répteis e ficaram a meio caminho, caminhando no fundo do mar, mas apenas no mar, sem jamais se arriscarem a dar alguns passos nas areias da praia. Sua alimentação não está nas areias. Lagostas nunca tentaram comer comida diferente. Soube que os pratos que fizeram com as lagostas foram sensacionais. Eu aprendi a comer sushi e sashimi com o Kasuo, um descendente de japoneses que trabalhou comigo na Contal em São Paulo, na Avenida Paulista. Meu filho é sushiman. Meu filho faz pratos sofisticados, eu continuo preparando á moda popular como aprendi com Kasuo: Limpo os peixes, corto em cubos, jogo gengibre ralado, adiciono molho de soja, e “traço”. Por vezes faço um arroz, uso algas, aquela pasta verde que arde e me faz quase chorar... Há muito que aprender com os povos da Terra.



A propósito de aprender, tive um pesadelo ao preparar Congros-Rosa que comprei num supermercado em Cabo Frio. Estavam como que recém pescados, os olhos brilhantes, transparentes, escorregadios, pareciam vivos. Os congros têm um olhar especial. Parecem inteligentes. Ia limpá-los quando resolvi parar por uns instantes. Olhei um deles bem nos olhos. Nem parecia morto. Senti que estremeceu quando o olhei. Talvez fosse uma miragem por ter tomado uma caipirinha, mas uma só não me faria ver miragens, e miragens são outra coisa, e só acontecem no mar ou nos desertos. Talvez fosse um delírio, mas delírio de quê se não uso drogas e só tomei uma caipirinha? Preocupei-me quando o ouvi falar:

- Porque morri?
- Para salvar a humanidade...
- Quem me matou?
- Pescadores...
- Como? Foi numa cruz?
- Não... Foi numa rede!
- Sabes que Congros podem ficar muito grandes. Porque mataram congros tão pequenos?
- Creio que deve ser porque dos pequeninos será o reino dos céus...
- Também vou para o céu?
- Deves ir...
- Mas primeiro farei um estágio no teu estômago e nos teus intestinos até me transformar em merda, não é?
- Creio que é... Não minto para ninguém. Não mentirei pra você. Não gosto de mentir. Se doer, alivio e conforto, mas não minto.
- Sei. E viste o meu sangue?
- Vi. É vermelho!
- Isso... Igual ao teu, e de vocês que nos comem. Até respiramos.
- É...Se não comermos vocês, comemos outros. O que não podemos é morrer de fome.
- Viste que temos cérebro? Olhos? Barbatanas que correspondem aos vossos braços e pernas? Pele?
- Vi sim... Fiquei impressionado. Parece até que vocês são inteligentes.
- Claro que somos. E muito. Mas temos inteligências diferentes. Muito diferentes.
- Por exemplo...
- Achas que não percebemos redes e anzóis?
- Acho!
- Enganas-te. Percebemos, mas no caso das redes, sabemos que fomos apanhados. Nem nos desesperamos. O que sentimos é falta de ar dissolvido. Vosso oxigênio concentrado nos mata. É como respirar água oxigenada. Mas quando nos prendemos num anzol fazemos uma aposta com nós mesmos. Um dia aprenderemos a roubar a isca e não ficarmos presos nos anzóis. Já temos peixes que conseguem fazer isso.
- Pretendem então que a espécie humana passe a não comer peixes...
- A que chamam vocês de “espécie”? Não existe isso. Foi um erro vosso de classificação. O que existe é a Natureza, que se expressa de diversas formas, árvores, peixes, mamíferos, etc... A Natureza que contém a vida é só uma forma da natureza inanimada, a das pedras, da água... Uma diferenciação. Por isso todos estamos sujeitos ás leis da natureza: Nascer, crescer, reproduzir-nos e morrermos. De apenas um ser vivo que reste no planeta, a natureza faz bilhões de espécies novas. Não enxergaram isso ainda?
- Creio que não. Pensamos que só nós, os mais inteligentes, fomos feitos à imagem de Deus.
- Da natureza, queres dizer... Não vês que se os peixes desaparecerem, os animais desaparecerem, os vegetais sumirem, vocês desaparecem? Não estarão confundindo Deus com Natureza?
- Não entendi...
- Claro que não! Vossa inteligência está voltada para um determinado tipo de raciocínio, mas perderam a capacidade de análise global e total. Só vêem particularidades. A Terra por três vezes já teve suas espécies todas aniquiladas, e vocês nem existiam. Ou seja, a vida na Terra foi feita ANTES de vocês, humanos existirem. Bilhões de anos antes. Mesmo assim, a natureza, a partir de meia dúzia de espécies que conseguiram sobreviver, conseguiu – a natureza conseguiu - criar toda essa diversidade que vês, incluindo Congros-Rosa como eu... Sem vocês, a natureza continuará... Entendeste agora?
- Entendi... Quer dizer que Deus é a Natureza e vice-versa?
- Não te ocorre que Deus possa ter suas leis e que essas leis determinem no dia a dia o que será o dia seguinte aqui na Terra, sem precisar que Deus esteja em toda a parte para dizer o que fazer, o que ocorrerá? Se Deus é realmente perfeito, estabeleceu as leis e foi para outra parte do Universo, deste ou de outros, que ninguém sabe o que Deus faz, onde está... A natureza foi o que deixou. A natureza do Universo e a natureza das coisas vivas que nascem, crescem, se reproduzem e morrem. Tu também vais morrer, e se te comerem depois de morto, que diferença vai fazer? Nenhuma! Podes me comer agora... Não quero conversar mais.
- Não consigo mais te comer...
- Vais me desperdiçar? A mim não faz a mínima diferença... Vai... Frita-me, come-me cru... Joga-me limão até ficar com a carne ardendo... Cozinha-me ou leva-me ao forno... Já morri mesmo... Mas me mataram tão cedo que nem me pude reproduzir... Isso é sacanagem, devia ser punido como crime.
- Sabes, Congro-Rosa... Alguns ancestrais nossos comiam o cérebro de seus inimigos para adquirirem deles a sabedoria, a valentia, a força... Se estiverem certos, nesse fenômeno, se fosse fenômeno, eu não deveria comer peixe... Vossa sabedoria é muito rudimentar...
- És um idiota!... O que é sabedoria e o que é rudimentar? Transar para ter filho é rudimentar? Criar os filhos é rudimentar? Queres inteligência mais rudimentar do que essa? Mas sem essa inteligência rudimentar não estarias aqui questionando minha inteligência. Se não quiseres me comer, joga-me no lixo... Mas vais jogar nove reais fora, mais o custo de transporte, iluminação, temperos, etc? Estás rico?



Foi então que fritei os congros-rosa... Mas devo confessar que ficaria muito satisfeito se pudéssemos jogar pedras e água no liquidificador, e nos servir de alimento. Porque nossa natureza, ou devo dizer Deus, não pensou nisso? Congros-Rosa são muito inteligentes. Têm um olhar muito inteligente e inquiridor. 


® Rui Rodrigues

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Grécia no Colégio


 
Professor – Quero dar os meus parabéns a alguns alunos de “ponta”, que têm sustentado esta Escola da União, e a alguns alunos repetentes que tão bem conseguiram se recuperar nos estudos em “segunda época”. Estes alunos negligenciaram, tal como a Grécia, mas se recuperaram.

Grécia – E eu, professor? Não vou passar de ano igual aos outros? Sou patinha feia da turma, é? Isso é descriminação...

Professor – Não é descriminação, Grécia... Todos pagaram as inscrições, pagaram as cotas para estudar, fizeram provas e passaram. Você não pagou as inscrições, não paga as cotas e sua prova está horrível Ainda estou esperando seu trabalho de recuperação... Assim você não passa! Você é relapsa!

Grécia – Mas a Alemanha recebeu ajuda da amiga dela, a América, que lhe pagou a inscrição... Isso lhe deu vantagem...

Professor – A ajuda foi de um padrinho dela que a tinha estuprado, depois que ela mesma o tentou assassinar à queima-roupa, não sem antes decapitar a Polônia, Esfaquear a França e a Bélgica, dar três tiros na Holanda e na Noruega... Aí veio o padrinho da Alemanha, que nem é daqui, deu-lhe um corretivo, umas porradas na cara, e a Alemanha entrou nos eixos, isto é, saiu dos eixos onde andava. O padrinho a corrigiu na porrada. Quer apanhar também?

Grécia – Não é disso que quero falar. Quero falar da ajuda do Marshal, o gerente do padrinho que teve compreensão e mesmo assim ajudou a Alemanha. E nós temos direito a uma indenização de guerra, porque...

Professor – Cale-se, Grécia... Aqui fala-se do que se tem que falar e não do que cada um em particular quer falar sem ouvir os outros e o professor... Não nos faça perder o juízo, eu e a sua turma toda contra você... Não fique com “complexo de Dilma”, ou teremos que te internar num manicômio... Se vai rever o passado, vamos ter que pedir indenização pelas ações do Péricles, pedir indenização pelas ações do Alexandre, que invadiu até a Índia... Não misture alhos com bugalhos só para ter razão... Pare de argumentar e cumpra o contrato... Ou paga os estudos e faz provas para mostrar que aprendeu ou estará reprovada.

Grécia – Não faz mal... Vocês me odeiam só por que sou diferente de vocês e gosto mais do Vermelho... Vou estudar numa universidade russa ou chinesa... Lá eles me adoram, pagam meus estudos, dão-me notas mesmo sem estudar e não me pedem nada...

Professor – Já vi que é isso que vais dizer em casa para convencer os teus pais, a tua família. Nunca vai ser ninguém na vida, depois que sentiste o gosto de receber sem ter que contribuir... Aqui nesta escola somos todos iguais, não tem aluno “bonito”... Somos socialistas. Todos iguais... Comunistas que só querem receber o dinheiro dos outros e que quando acaba o dinheiro dos outros mudam de lado, como a URSS e a antiga China, não nos servem... Só sabem tentar, forçar desculpas, como mulher gastadora, de shopping, que gasta o dinheiro do marido sem fazer nada, e ainda quer indenização na separação. Trouxe o trabalho escrito?

Grécia- Não, não trouxe... Primeiro o senhor me compensa e me dá uma ajuda de custo, depois eu resolvo como vou pagar...

Professor - Está expulsa do colégio... Mas para não dizer que somos injustos nesta instituição, vamos te dar uma ajuda financeira por uns dois anos mesmo que já não pertenças a esta instituição. Não somos “maus”. Somos trabalhadores que produzem. Você é Dilma, é Maduro, é Fidel, é Evo, é Cristina... Só querem receber sem ter que pagar...

Grécia – Não... Nem sei quem são esses aí... Onde moram?

A turma caiu na gargalhada... A Grécia, aluna indisciplinada, não sabia nem em que mundo vivia. Vai acabar por viver fora da Zona, em outra Zona, onde se acolhem meninas bonitas que não querem trabalhar nem estudar, não contribuem, mas querem ser independentes gastando o dinheiro que vem fácil dos outros.

Os alunos chamados Portugal, Irlanda, Itália, Espanha, foram trabalhar em estágios, estudaram noites a fio, e estão com boas médias. Vão passar de ano.


® Rui Rodrigues 

terça-feira, 7 de julho de 2015

Quatro histórias entre amor e traição



Podemos sempre nos perguntar até que ponto um pequeno fator, como por exemplo, uma temporária situação econômica, pode afetar um relacionamento ou como ele pode ser afetado por que um dia se esqueceu a data de aniversário da mulher amada e até mesmo se o que afetou o relacionamento, foi apenas esse lapso de memória ou uma soma de outros fatores. O que não se tem questionado em si, é o amor, o que ele significa. Parece que quando falamos em amor todos temos o mesmo sentimento do que isso possa ser. Pensando melhor, podemos questionar sim, porque amor não significa a mesma coisa para todos nós. Há sempre um ponto de discórdia. Amor não é absoluto e não é gratuito. Assim parece. Muda de lugar para lugar, de época para época do ano e da história, de pessoa para pessoa, e é impossível conhecer todos os tipos de amor que existem neste mundo. E amor não é nada “particular”. O que é “particular”?  

  1.  Cabo frio, Junho de 2009.


Era inverno, quando os hormônios masculinos e femininos mais pedem para se unir, ficar junto, unirem-se, buscando o calor do verão que agora faz falta. No supermercado só tinha menina bonita para os padrões da cidade. Carolina com seus 17 anos não precisava trabalhar para os “outros”. Seu pai tinha um pequeno negócio que lhe permitia a ela e à mãe viverem com tranqüilidade. O pai, separado, mantinha duas casas. O irmão tinha um táxi, e embora morasse sozinho, sempre ajudava. Carolina queria ter sua própria vida independente e foi procurar emprego. A melhor oportunidade que encontrou foi num supermercado, aquele mesmo, no centro da cidade, onde agora estava aguardando a entrevista. Na sua frente havia mais duas concorrentes ao posto de menina de balcão de laticínios, doces, e outros artigos de maior cuidado. Olhando-as de alto a baixo, e imaginando que só houvesse uma vaga, tranqüilizou-se. Nenhuma das duas tinha um corpo mais bem delineado que o dela, nem eram tão bonitas, nem tinham a mesma postura. O lugar seria seu. Ela sabia o quanto era importante ter boa apresentação, ser bonita e simpática para lidar com o público. Foi contratada. Logo no segundo dia viu uma colega do supermercado, uma das caixas, entrar no reservado dos banheiros acompanhada do rapaz do açougue. Trocavam olhares discretos de conivência e notava-se em seus olhares que havia “um caso” entre eles. Ficaram lá por uns bons dez minutos. Na hora do almoço as duas conversaram. A moça pediu a Carolina que não contasse nada para ninguém porque embora todo mundo fizesse isso ali dentro, ninguém deveria falar do assunto. Nem era preciso pedir. Carolina se lembrava do dia em que transou pela primeira vez, quando tinha quatorze anos, mais por curiosidade do que por vontade. Queria saber como era. Não foi o que pensava que seria, pelo que ouvia falar. A vontade de continuar transando veio depois. Era o momento, o envolvimento, os beijos, o tocarem-se mutuamente, sentir-se ficar úmida entre as pernas, perder a noção do tempo e do lugar, uma vontade que agia como droga. Precisava de mais. O problema era pegar alguma doença ou ficar grávida. Claro que usava camisinha, mas houve oportunidades em que era ali ou nunca mais. Até então tinha tido sorte. Só ficara grávida uma vez quando tinha 16 anos. Casara e se separara. O marido era mais velho que ela. Ele largara a mulher por sua causa e ela o largara porque se enchera dele. Havia pelas ruas rapazes mais jovens, até bem de vida, que a olhavam com olhares de desejo. Como lhes dizer não, se não havia conseqüências? Gostava que a cortejassem, de sentir-se desejada. Para ela não havia traição alguma em ter outros relacionamentos fora do relacionamento principal. Sexo era uma questão de vontade e oportunidade sem outras conseqüências. Não casou novamente. Isso não, mas agora, já em 2015, vive de modo muito confortável com o gerente do supermercado que a admitiu. Claro que de vez em quando não resiste a um olhar, mas é tudo muito rápido, num piscar de olhos, pouco mais de meia hora, quando mata uma ou outra aula de um curso que está fazendo num estabelecimento de ensino que fica fora da cidade, bem ao lado de um Motel. Muitas vezes falou com sua mãe perguntando como seria o amor tempos atrás, nos tempos de sua juventude antes de casar com o pai. As duas se perguntavam como seria o amor até em outros tempos de que ouviam falar em livros, vendo fotografias antigas. Para a mãe, sempre fora a mesma coisa. A diferença estava no modo como se entendia o amor. 

  1.  Londres, junho de 1942.  


Era verão, quando os hormônios masculinos e femininos mais clamam por união. Caíam bombas em Londres todos os dias. Os bombardeiros alemães apareciam de repente sobre o canal de Dover e avançavam sobre Londres despejando bombas de arrasar quarteirões. As sirenes tocavam sons que mais pareciam gemidos de dor gritados por moribundos. Quando se ouviam algumas pessoas caminhavam tranqüilamente para os abrigos, mas sempre havia gente que chegava correndo atrasada. Poucos não chegavam a tempo. Caroline [1] e Thompson conheceram-se no abrigo que ficava ali na King William Street. O marido de Caroline andava na guerra, embarcado num vaso de guerra comboiando navios mercantes no Atlântico. Passava meses sem ir a casa. Caroline, num país em regime de guerra, com todos os bens limitados á disponibilidade de cupons, trabalhava num escritório do Almirantado ligado à Inteligência. Isso a mantinha de certa forma mais ligada ao marido, porque sabia exatamente onde seu navio estava. Notícias de afundamentos de navios eram constantes. A vida na Inglaterra só tinha uma certeza: Era preciso sobreviver para poder garantir a existência do povo inglês, livre da ocupação nazista. Qualquer outro pensamento era uma precariedade. Nada estava garantido nem a própria vida. A vida poderia durar décadas, um ano mais, meses, dias, ou apenas horas. Muitas vezes o viver dependia apenas do fator sorte. Não estar no caminho de uma bomba. Thompson trabalhava ali perto e era a segunda vez que se encontrava com ela. Aquele ataque alemão iría demorar. Resolveram ficar os dois, deitados lado a lado, perto dos banheiros. Tinha sido uma sorte terem ficado na própria estação. Assim sairiam logo que o ataque acabasse. Thompson então lhe contou que partiria daí a um par de semanas para uma missão. Era piloto de avião e seria deslocado para um porta-aviões que atuaria no Mar do Norte. Falava-se muito num vaso de guerra alemão, o Bismarck. Thompson desconfiava que essa seria a sua missão. Volta e meia sentiam o piso tremer. Eram as bombas explodindo lá fora. Parece que o desejo ou o amor tem uma noção perfeita do tempo. Os dois não tinham tempo nenhum. Nem Thompson nem Caroline perceberam quando começou o desejo ou a concessão a si mesmos. Porque não? Quando sentiram a primeira bomba explodir, Caroline teve a intenção de encaminhar sua mão para a de Tom, mas se conteve. Tom percebeu o movimento e desejou que ela o repetisse se mais alguma bomba caísse. Havia luzes tênues na estação que mal davam para ver alguma coisa, mas quando a segunda bomba caiu, nem Caroline nem Tom viram no olhar do outro um olhar de medo ou pesar. O que viram foi o desejo estampado no olhar, no rito dos lábios, nas sobrancelhas, nos músculos de seus rostos, e as mãos se buscaram, se entrelaçaram, os corpos se uniram, os lábios se beijaram. Nesse momento a guerra deu uma trégua, não existia, nada existia, a não ser um banheiro ali perto, longe dos olhares dos outros que se aninhavam nos trilhos dos trens do metrô. Do pensamento de Tom desapareceu a imagem de sua noiva, do pensamento de Caroline seu marido não fazia parte. Não havia pensamento, mas quando horas depois saíram da estação, com as ruas atulhadas de escombros, mas de uma nação ainda livre, Caroline não soube dizer-se a si mesma porque fizera amor com Tom. Ficou na duvida se por pena dele partir para o front e poder ter sido ela a ultima com quem ele fez amor, se foi para seu próprio prazer apenas. Perguntou-se o que era o amor e se ela estava muito avançada para a época ou se sempre teria sido assim tratado o amor. Essa foi exatamente a pergunta que Tom se fez. O que seria o amor?

  1.  Paris, Abril de 1792.


Era Abril... Primavera em flor, quando os hormônios masculinos e femininos se procuram inebriados e carregam os corpos para a celebração do amor. As putas mais famosas dos EUA vieram de França na época da corrida do ouro, e chegavam á Colônia americana normalmente na primavera ou no verão. Não eram famosas porque sendo francesas fossem menos puritanas que as demais mulheres do mundo, mas porque sempre trataram o amor como o vinho: Algo inebriante, que deve ser tomado com certo cuidado, mas que no momento certo tem que permitir total liberdade e evaporar até se esgotar naquele dia, inebriar, alegrar, divertir, e se entrar alguém amigo e não estranho, o sexo deve continuar como se quem entrou realmente existisse. Mulheres casadas faziam o amor através de um buraco aberto no lençol, para evitar o cheiro mútuo. Naquela época já era comum o uso de perfumes, mas o tomar banho quase que diariamente era quase que exclusivo das cortesãs, porque se davam muito e tinham que se limpar. Mulher casada que se banhasse muito podia ser confundida com as cortesãs. Mesmo sem banho, mulher casada estava sempre “limpa”, homem casado também. Somente aqueles que viviam naquela “imundície” e “promiscuidade” da corte, principalmente em Versailles, precisava lavar-se. Homem que se lavasse muito poderia ser olhado com a desconfiança de ser promiscuo. No livro “Shogum”, logo no primeiro capítulo, esta tendência a rejeitar o banho por toda a Europa, fica bem descrita e explícita. Caroline [2] era uma cortesã. Casada certamente, por consenso bem explícito, de que cortesã tinha sido enviada para a corte por seus dotes que compartia pela corte, e que o marido os consentia porque estava lá pelos mesmos motivos: Usufruir. Há sempre quem “usufrua” do marido, e quem “usufrua” da mulher, cada um “assistido” pelo outro. Marcel era o marido de Caroline. Naquele reinado de Louis XVI e sua esposa Maria Antonieta, a corte de Versailles estava radiante. Havia uma grande inflação, tudo custava mais caro a cada dia, a corte se divertia. Não havia muito para pensar na verdade. A única preocupação eram os mexericos na rua, criticando a corte, a luxuria e o luxo, as despesas exorbitantes, e o que o povo chamava de “pouca vergonha”, embora o desejo de todas as mães de França fosse ver seu filho ou filha fazendo parte da corte. Caroline sempre evitara ter seus encontros enquanto seu marido Marcel estivesse em tempo livre, exatamente a mesma atitude que Marcel tomava. Só tinha seus encontros amorosos quando tinha certeza que sua mulher estava nos aposentos da Rainha Maria Antonieta ou servindo-a em alguma viagem. Naquele dia, porém, com as árvores em flor na primavera, o tempo era diáfano. Havia uma luminosidade primaveril, um cheiro no ar provavelmente proveniente do polem das flores, sonhos e expectativas para o verão, que Marcel se descuidou e deixou cair um copo em presença de Louis XVI interrompendo-lhe o discurso para uma meia dúzia de nobres provincianos que o visitavam. Mostrando ser magnânimo e compreensivo, o rei com um gesto largo, indicou a Marcel o caminho da porta, deu-lhe um sorriso e disse-lhe que fosse para casa porque já tinha trabalhado bastante e merecia descansar. Este gesto do rei teve enorme impacto entre os nobres que o visitavam, mas teve um impacto ainda maior em Marcel, que foi para casa onde não era esperado. Encontrou a mulher, Caroline, na cama com outra mulher que ele conhecia bem e com quem já se tinha deitado. Eram amigas. As duas se beijavam, Caroline como que sentada na cama, de costas para a porta, fazendo movimentos para frente e para trás, a amiga beijando-lhes os seios e sua mão esquerda tocando-a por trás. Parecia que Caroline se sentava na mão da amiga. No primeiro instante Marcel ficou chocado. Depois ficou mais chocado ainda. Sua mulher cavalgava um homem, Pierre, seu amigo de infância ido para Versailles mais ou menos na mesma oportunidade que ele. A amiga de Caroline acariciava na verdade a amiga e o amigo. Marcel não teve oportunidade de falar nada. A amiga e sua mulher Caroline, olhos enlevados, sem pararem o que estavam fazendo, lhe fizeram um gesto para que ele se aproximasse e entrasse na cama junto com elas. 

  1.  Portugal, Abril de 1128.


Junho já não estava muito longe, mas já se falava sobre uma possível batalha, talvez no campo de São Mamede, entre os fiéis de Afonso Henriques, um garoto imberbe ainda de seus 13 anos, e as forças de sua mãe, fiéis á palavra dada em tempos de feudalismo religioso, a seus suseranos da Galiza. O jovem Afonso seguia o conselho de quem pensava no seu povo e não na palavra, seus conselheiros. Eles queriam a independência de Portugal contra a vontade dos suseranos e da própria igreja católica.

Carolina era a moça mais desejada de Lamego. Seus vestidos farfalhudos não conseguiam esconder as curvas de seu corpo, por mais que seus pais a obrigassem a usar vestidos que lhe “enchessem” o corpo e a fizessem parecer mais forte e larga. Amor, paixão, desejo, não se resumem a um corpo e um olhar. Fazem parte de um ritual impresso no cérebro de todo o ser humano que congrega todos os sentidos ao qual a emoção pergunta a cada um deles o que acha do que vê, cheira, ouve, degusta, tateia, sente. Amor, desejo e paixão são o resultado final de uma análise inconseqüente e inconsciente que tanto pode demorar segundos como meses, anos, até que transborde e se manifeste, nem sempre de modo a que se possa chamar de tradicional ou normal. Se Carolina tinha apenas 16 anos, já não era considerada muito jovem por aquelas épocas em que aos 45 anos em geral já se era considerado velho. Tomaz pouco mais tinha, beirando os 17. Um dia, por puro acaso, quando Tomaz cavalgava pela margem do rio Balsemão, parou seu cavalo para que ele se aliviasse um pouco e pastasse ervas frescas. Ouviu então vozes alegres femininas e o barulho de água sendo jogada, como se mulheres se divertissem por ali. Afastou uns ramos que lhe impediam a visão, e não pode mais esquecer aquele sorriso, aquele corpo semivestido, apenas com um corpete molhado que lhe faziam sobressair os seios, as pernas salpicadas de cabelinhos louros que brilhavam à luz do sol, como se fizessem parte da auréola de um ser angelical, virgem, que nem a religiosidade de pensar num ser angelical lhe impedia o desejo. Seu coração disparou a bater, como de corcel a galope, queria pensar, mas não podia. Não sabe como poderia ter sido tão desastrado, mas se deparou de repente não mais olhando e apreciando a beleza de Carolina, mas sendo olhado e apreciado por ela e sua amiga. As duas o olhavam á distância despertas talvez pelo relinchar do cavalo, ou por sua desastrosa posição que nem se prevenira em fechar os galhos da moita que tinha afastado para ver quem estava no rio. Elas não saíram do lugar, assim como confiantes em sua presença, e ele resolveu se aproximar. Conversaram meio a medo, não fosse o caso de outros olhares indiscretos que fossem contar na cidade de Lamego que as duas não eram decentes a ponto de falarem naquele estado com estranhos, o que acabaria por lhes impedir casamento com gente decente da terra e a ele, a anulação de sua vida obrigando-se, na melhor das hipóteses a partir da cidade para sempre. Carolina nunca tinha visto homem numa situação assim, Tomaz jamais vira uma mulher assim, com a roupa tão colada ao corpo que até o sexo se lhe via, fosse de que idade fosse. Só tinha desejos desde os quatorze anos que aliviava em suas idas ao rio, masturbando-se atrás das moitas. Não era diferente com Carolina que sonhava em ser possuída por um homem, um príncipe encantado e se masturbava pela noite entre suspiros e lençóis. Sua amiga estava na mesma situação. Sua ida ao rio só fora possível porque o abade e uma freira foram com elas, mas o abade disse que tinham algo a fazer, e saiu com a freira, dizendo que voltaria logo que resolvesse um assunto numa aldeia a um par de léguas. A amiga de Carolina afastou-se dos dois, a pretexto de ir vestir-se. Carolina ficou olhando Tomaz que a olhava. Não era preciso que falassem. Sentiam que não era necessário. Apenas se foram aproximando um do outro até se tocarem, se beijarem e se deitarem à borda do rio. Ela sabia que outra oportunidade como aquela não voltaria a ter tão cedo, a menos que combinasse com ele, agora que o conhecia. Ele sabia que dificilmente voltaria a vê-la. Então se amaram docemente entre suspiros, ali mesmo, à luz do sol, na natureza, ao som do marulhar da água do rio que apenas num pequeno ponto ficou vermelho. E foi tanto o desejo, já misturado com paixão, que voltaram a se amar. Carolina arriscava-se a ir para um convento e passar o resto da vida entre grades, entre suspiros e lençóis que ela mesma lavaria nas águas daquele rio. Mas nem ela nem Tomaz pensavam. Apenas faziam. Faziam... E jamais esqueceriam.

® Rui Rodrigues.      







[1] Lê-se “ Carôlaine”
[2] Lê-se “ Carrôlíne”.