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sábado, 18 de julho de 2015

Aeterna homo - Esse mundo que não se vê se existe

Aeterna homo - Esse mundo que não se vê se existe


É feito de anjos e demônios, ou se preferirem, de duendes e dragões. Nunca vi nenhum dos quatro. Então não existe. Há quem diga que existe. Que lhes faça bom proveito, que curtam adoidado com toda a emoção e sapiência. Devem ser superdotados de poderes transcendentais. Sou apenas um simples mortal tentando me adaptar a um mundo que muda a todo instante por obras humanas e da natureza, mas que existe, se vê, é do nosso meio. Coisas que sistematicamente se chamam se invocam e não aparecem, não existem... E não adianta ter fé daquela inabalável. Se não me é dado ver o que não existe, é porque, como qualquer pessoa normal, não preciso ver. Se precisasse, veria mesmo sem ver, por causa da tal fé, mas fé também se adquire por autoconvencimento ou por decepções contínuas. Victor Hugo, filho de um casal amigo, tinha quatro anos de idade quando brincando de esconde-esconde subiu na ponta da mesa, sentou-se e tapou os olhos com as mãos. Disse-lhe para se esconder depressa, que já tinha perdido tempo, e me respondeu que não precisava porque estava ‘invisível”. Dizem que há água debaixo da terra, que também não se vê mas existe. Existe sim. Acredito piamente embora não a veja a todo instante. Só quando coloco uma tubulação enfiada no solo, uma bomba e a sugo até a superfície. Não há duendes, nem dragões, nem anjos nem demônios nessas águas, porque nunca nenhum foi sugado pela bomba.


O que por vezes nos confunde são os arautos do passado, quando contam coisas que dizem ter visto, citam testemunhas, mas não estavam “lá” quando dizem que essas coisas aconteceram. Um dia recebi a visita de meus cunhados, ela irmã de minha ex-esposa. Ela resolveu ir ao Rio numa quinta feira, e eu fiquei com o marido dela. Ficamos conversando, indo á praia e tomando umas cervejas. Como ele gosta de pintar e eu também, aproveitamos umas telas e pintamos cada um seu quadro enquanto conversávamos. Um vizinho que nos viu chegando da praia, e que pelos vistos não é do rol de amigos, espalhou que eu estava vivendo com um homem. Não estou nem um pouco preocupado em saber se acreditaram no vizinho ou não. Quem perderá o crédito – se já não perdeu – é ele, não eu. E crédito de crentes que crêem em qualquer coisa, não tem o mínimo valor. Podem acreditar em duendes, dragões, anjos e demônios, sereias, adamastores, e até em políticos de ocasião, alardeados por propaganda. Pode garantir-se que qualquer ser humano que tente caminhar sobre as águas se afundará, que jamais alguém subirá vivo aos céus por levitação ou numa carruagem de fogo. E nem se transformará em estrelinha ao sair deste mundo por alguma porta por onde nunca entrou. Somos daqui mesmo, este é o nosso endereço: Via Láctea, Planeta Terra, qualquer lugar onde temporariamente se viva. Para os que vivem nos céus, naqueles mais afastados, nós não existimos. Provavelmente nem saberão que nosso planeta seja habitado. Quem viva em céus mais próximos não tem a mínima cultura, porque já conhecemos esses céus aos quais mandamos artefatos que nós mesmos construímos e não vimos nenhuma vida inteligente além da nossa. O céu das almas não é esse, não são esses os céus dos espíritos. É mais fácil que exista no imenso céu das sinapses, aquela troca de informação entre nossos neurônios que guardam recordações para que possam ser consultadas. Como para funcionarem os neurônios  precisam de energia, quando a nossa energia terminar cessam as sinapses, vai-se a memória por completo e não sobra nada. Podem queimar à vontade, jogar no mar para alimentar os peixes, na terra para servir de adubo – os cemitérios são um desperdício de matéria orgânica aproveitável – jogar numa fábrica de reaproveitamento de produtos químicos.


Se olharmos para o passado, há no que acreditar simplesmente por que “disseram”. Muito do que disseram faz até sentido, mas é preciso ter fé ou comprovar. Quando se comprova se transforma numa verdade. Houve sim, a batalha das Termópilas, na Grécia, onde 300 espartanos teriam vencido 3.000.000 de persas segundo historiadores gregos da oportunidade. Era um exagero para inflar o orgulho do povo. Comprovadamente por escavações e estudos, eram aproximadamente 3.000 os gregos, mas não só espartanos, e cerca de 300.000 os persas, e não só persas. Essa batalha heróica os gregos perderam, mas serviu para dias depois ganharem a batalha final que os livrou dos persas. “Ver” o passado, é possível, e até confirmá-lo ou corrigi-lo, e com o uso de equipamentos modernos podemos até filmá-lo e guardar para o futuro. Ver o futuro, isso é impossível, embora possamos admitir muito facilmente que, a julgar pelo passado, o futuro continuará a existir para quem chegar nele ou viver nessa ocasião. Os visionários do passado eram todos falsos. Escreveram sobre o passado - já no futuro - como se estivessem no passado, e pudessem adivinhar o futuro sob “bênçãos divinas”. Mas há outro modo, não de ver, mas de vislumbrar o futuro e a quase “eternidade” do homem com base na tecnologia já disponível.

O homem eterno - Aeterna homo


É simples. Uma bomba de oxigênio para oxigenar o cérebro, uma fonte líquida de alimento com propriedades similares ao sangue, com filtragem de dejetos, e um elemento de transição que permita comandar o corpo com o cérebro. O resto do corpo é completamente mecânico e reparável com peças de reposição, pelo próprio corpo. Podemos nos perguntar porque já não fomos feitos assim. A resposta é simples: A natureza fez a sua parte. Se quisermos melhorar teremos que fazer a nossa parte. Uma delas é deixarmos de ver fantasmas ao meio-dia, deixarmos de nos melindrar com conceitos, preceitos e preconceitos, trabalhar duro e rapidamente, de forma produtiva antes que a vida neste planeta acabe, e partir para o abraço mecânico.

Todas as condições subjetivas humanas ficarão garantidas. Somos humanos no cérebro! E muitos continuarão vendo duendes, dragões, santos e demônios, e ainda acreditarão que com muita fé se possa andar sobre as águas e ressuscitar. Mas até a cabeça sobre corpo mecânico um dia pifa e vai para o brejo, e com exceção da cabeça, todos os outros órgãos poderão ser reaproveitados sem melindres. 



® Rui Rodrigues

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