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quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

O que existe para lá da vida...






O que existe para lá da vida...


Não sabemos. Temos pistas, mas não sabemos realmente. Cada religião acredita em algo diferente de umas para as outras. Vivemos especulando o que realmente existirá. Por isso não entrarei no mérito de sequer tentar explicar porque razão uma religião seria mais “certa” do que outra.

Tudo o que se tem lido é fruto de deduções que são influenciadas pelos conhecimentos da época em que foram deduzidas e pela idiossincrasia dos povos que as elaboraram. Esses “videntes” acreditavam ter condições para afirmar o que julgavam existir para além da vida. Em particular, embora se tenha notícia de descobertas de túmulos de milhões de anos atrás em que já se enterravam os mortos com flores e em posição fetal, virados de lado, como que denotando uma vida para além da morte, foi com os egípcios que se começou a delinear uma religião em que toda a nossa vida seria avaliada num além, julgada, e premiada ou castigada. Isso acontecia no tribunal do deus Osíris. São tantas as religiões, quantas as variáveis sobre uma pretensa vida após a morte.

Uma coisa é certa: as religiões, baseadas na esperança, proporcionaram uma estabilidade nos governos, uma facilidade política para governar. Podemos deter-nos na História Universal para vermos como Estado e religião sempre estiveram intimamente ligados, apoiando-se mutuamente. Em troca, as igrejas podem receber esmolas sem ter que pagar impostos ou declarar faturamento, e não são obrigadas a aplicar o dinheiro que recebem. Porém, com a evolução da democracia e o advento das mais modernas tecnologias, a importância das religiões no controle emocional das populações vem diminuindo. Assim, no passado as igrejas chegaram a dominar as populações sob governos teocráticos, depois passaram a eleger e a ungir os reis que diziam ser descendentes divinos, deuses terrenos, depois somente a indicar, e finalmente já não indicam ninguém para o governo. Pelo contrário, a Constituição Européia não contém uma única palavra referente a “deus” ou a “Deus”. A democracia encontrou um caminho mais fácil para conter, controlar, adestrar, dominar, encaminhar, dirigir, as suas populações, através de programas específicos que proporcionam um relativo “bem estar” das populações, em troca do pagamento de impostos e uma folgada liberdade de atuar em nome do povo. O que existe para lá da vida, perdeu a importância relativa que possuía no passado. A esmagadora maioria da população mundial nem pensa nisso por décadas a fio: Não sente a necessidade da “justiça” de haver um prêmio ou um castigo para além da vida. Está “confortável”...

A percepção de que algo existe para além da vida, é uma função decorrente da importância que nos damos a nós mesmos. Como somos “importantes”, “filhos de Deus”, não poderíamos aceitar que seria suficiente - para Deus - que tivéssemos a oportunidade de sentir e avaliar nossa existência. Precisávamos acreditar em algo mais importante que isso: uma segunda oportunidade de “viver”, mesmo sem sabermos como seria essa “vida”. Evidentemente, cada religião pensa de uma forma. Mas ter fé em algo, não significa que esse algo exista, ou sequer seja como pensamos. Em teoria, podemos, com certa benevolência, raciocinar sobre o assunto, não à luz das religiões, mas à luz de uma teoria que não tenha apenas a fé como ferramenta de entendimento, mas a lógica do que conhecemos. Não podemos raciocinar sobre o que desconhecemos, sem que usemos os nossos conhecimentos. É fato. É lógico.

A primeira linha de raciocínio nos coloca frente a frente com a necessidade da existência de outra vida. Não seria esta suficiente? Porque queremos ou mereceríamos uma nova vida? Como prêmio de nossa bondade, ou condescendência para com as nossas maldades praticadas? Evidentemente que nossa azáfama dos trabalhos diários e a necessidade premente de tomar soluções, nos têm “obrigado” a tomar atitudes que não foram “boas” para os que nos cercam ou para o meio que nos cerca. De certa forma todos nós pecamos contra o próximo de uma forma ou de outra. Uma segunda vida nos permitiria “consertar” o que fizemos de errado nesta. Não temos porém nenhuma indicação de que Deus  seja tão benevolente ou esteja minimamente disposto ou interessado nisso. Nem se Deus está interessado em “salvar” a humanidade, ou se espera que esta se salve pelos próprios méritos.

A segunda linha de pensamento é mais prática. Não importa se Deus nos daria uma nova oportunidade ou não. Importa apenas que acreditemos na possibilidade de existência de uma nova vida após a morte, e tentar descobrir como poderia ser. Muitos exemplos se podem buscar na farta literatura que existe a respeito. É imensa, antiga, e recente, sob o enfoque de qualquer filosofia ou religião. O mais lógico seria partirmos da pressuposição de que não exista apenas um paraíso, um inferno, mas muitos céus e muitos infernos, cada um de acordo com o que cada um de nós possa merecer. Para uns, paraíso pode ser um lugar onde 7 virgens o esperem, ou sete machos fogosos e jovens, também virgens para as mulheres que cheguem ao paraíso. Para outros, pode ser um lugar sobre as nuvens, tocando harpa o dia inteiro, tomando suco de maracujá e comendo algodão doce com doce de leite. Para outros, uma viagem eterna ao redor do universo. Para a maioria, um lugar de encontro com todos os membros da família de quem gostassem, com os demais no inferno. Para outros ainda, uma imensa praia com belas mulheres permissivas, deitados numa rede, tomando água de coco, sandálias de dedo, bermudas e uma prancha de surf, com um bom som ligado ouvindo Bach, Beethoven, ou um rap para os espíritos que vieram ao mundo mais recentemente. Maconha para uns, paz de espírito e diga não às drogas para outros. Paraísos devem ser segundo a vontade de cada um de nós, e não um paraíso comum, socialista, onde nos digam que o que é bom para um tem que ser bom para todos... Assim não seria paraíso e muitos viveriam contrariados como se estivessem no inferno.

Não sabemos em que paraíso Jesus estará sentado à direita de Deus, nem em que paraíso Deus estará, mas na forma como a humanidade parece caminhar, devem estar vazios os paraísos, cheios os infernos, com filas intermináveis para o banho quente diário de lava derretida. Se Deus se irritasse novamente com a humanidade como se irritou com Sodoma e Gomorra, certamente todas as mulheres se transformariam em estátua de sal, e Lot não teria para onde se mudar...

Rui Rodrigues

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