Vérsico Um
Olhei
teus olhos límpidos, lânguidos, úmidos,
Olhavas-me
no mais fundo de minha alma,
Buscavas
sermos um em mim,
Como
esperavas que fossemos um em ti,
As
mãos suaves percorrendo nossos corpos,
Buscando
as nossas intimidades para dar prazer,
Para
sentir o que se sente quando se ama, se deseja, se quer.
Teu
corpo ficou suave, mole, entregue, como se não houvesse amanhã,
Tuas
pernas se abriram, teu corpo era uma viagem,
Tua boca sedenta era demasiado pequena para a
tua ânsia,
Teu corpo tremia, tua pele colava-se à minha,
Éramos um só, um prazer só, um gozo só, um
suor só, um tremor só.
Mas isso foi há muito tempo.
Depois disso, começaste a comparar os meus
olhos com outros olhos,
Minha alma com outras almas,
Minhas mãos com outras mãos,
Minhas intimidades com outras intimidades
Meus desejos com outros desejos, com outros
amores, com outros quereres,
Tua carne ficou endurecida pela tensão do
haver um amanhã,
Tuas pernas abertas queriam fechar-se como
num fim de viagem,
Tua boca já seca era demasiado grande para
quem não tem ânsia de sede,
Teu corpo estava rígido em tua pele seca,
Não éramos um só, porque muitos estavam
presentes.
Então, quando o camareiro do tempo bateu na
porta e disse: O tempo acabou!
Arrumamos
os nossos sacos das más lembranças que levamos para o amanhã.
Deixamos
as boas lembranças no Motel do tempo, esquecidas, para não haver
arrependimentos.
Rui
Rodrigues
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Grato por seus comentários.