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sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Vérsico Um




Vérsico Um


Olhei teus olhos límpidos, lânguidos, úmidos,
Olhavas-me no mais fundo de minha alma,
Buscavas sermos um em mim,
Como esperavas que fossemos um em ti,
As mãos suaves percorrendo nossos corpos,
Buscando as nossas intimidades para dar prazer,
Para sentir o que se sente quando se ama, se deseja, se quer.

Teu corpo ficou suave, mole, entregue, como se não houvesse amanhã,
Tuas pernas se abriram, teu corpo era uma viagem,
Tua boca sedenta era demasiado pequena para a tua ânsia,
Teu corpo tremia, tua pele colava-se à minha,
Éramos um só, um prazer só, um gozo só, um suor só, um tremor só.

Mas isso foi há muito tempo.

Depois disso, começaste a comparar os meus olhos com outros olhos,
Minha alma com outras almas,
Minhas mãos com outras mãos,
Minhas intimidades com outras intimidades
Meus desejos com outros desejos, com outros amores, com outros quereres,

Tua carne ficou endurecida pela tensão do haver um amanhã,
Tuas pernas abertas queriam fechar-se como num fim de viagem,
Tua boca já seca era demasiado grande para quem não tem ânsia de sede,
Teu corpo estava rígido em tua pele seca,
Não éramos um só, porque muitos estavam presentes.

Então, quando o camareiro do tempo bateu na porta e disse: O tempo acabou!
Arrumamos os nossos sacos das más lembranças que levamos para o amanhã.

Deixamos as boas lembranças no Motel do tempo, esquecidas, para não haver arrependimentos.

Rui Rodrigues

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