Para quem não conhece Gotham City...
Bob
Kane e Bill Finger são considerados os criadores das histórias em quadrinhos de
Batman, ambientadas numa cidade chamada Gotham City, escura, perigosa, onde
reinam o crime e a corrupção. O nome da cidade foi criado por Bill Finger ao
procurar numa lista telefônica por alguns nomes que fossem interessantes. Encontrou
Gotham city, que era um dos apelidos da N. York de hoje, muito antes de ser
conhecida como a grande maçã – Big Apple. Gotham City representa o lado sombrio
da cidade de N. York. Batman representa a escassez de defensores da lei, porque
é apenas um, já que Robin desistiu e desapareceu de cena. Não me admiraria se
um dia aparecer uma história em quadrinhos onde Batman cace impiedosamente seu
antigo amigo Robin que teria se passado para o lado do crime.
Não
creio que Gotham City seja apenas uma ficção sobre uma característica de uma
cidade que tem tantas e tão boas outras. Creio que os criadores desta banda
desenhada se preocuparam em alertar os leitores para os perigos de se deixar
correr solta a corrupção e o crime, tendo apenas um fictício – este sim –
defensor, chamado Batman que agia á noite, hora em que tradicionalmente os
policiais estão dormindo, descansando, ou se entupindo com um par de cervejas
enquanto assistem pela TV a um jogo de football americano. Em qualquer cidade
do mundo, o efetivo policial noturno é uma pequena porcentagem do diurno quando
deveria ser pelo menos o dobro deste. Curiosamente também, a Polícia Federal
não age de forma independente. Tem que ter uma ordem de um juiz para investigar
e prender. Se o juiz for corrupto, as ordens jamais serão dadas, ou se dadas,
os delinqüentes avisados previamente.
Lia
Batman quando era ainda garoto e assisti a alguns filmes da série na minha
adolescência. A cada filme ou fascículo da série, apareciam bandidos novos, mas
Batman continuava praticamente sozinho na luta contra o crime e a corrupção,
sinal evidente de que o crime e a corrupção aumentavam desproporcionalmente ás
forças da lei. Batman nem era policial, nem teria aposentadoria. Era rico por
definição, e contra os que ficavam ricos por corrupção. Naqueles tempos, os
ricos eram “legais” e os bandidos ricos eram bandidos.
Deixei
de ver filmes e revistas do Batman, na medida em que os criadores também
começaram a não acreditar em sua criação. Ficaram desmotivados em nos
proporcionar outras histórias e eu em reler as antigas: Era tudo mentira e as
histórias estavam mal escritas. Nem Gotham City era assim tão escura à noite,
tão soturna. Ricos eram também uns calhordas roubalhões. Os ricos mantinham seu
dinheiro em bancos e não ajudavam a cidade com contribuições que lhe permitisse
reforçar o treinamento de policiais, aumentar o efetivo policial, dar-lhes mais
condições operacionais.
Gotham City era uma mentira que se baseara numa esperança que morrera por evolução da realidade. A realidade se sobrepusera á própria ficção, tornando-se superior a esta em emoção. Para que ler revistas com aventuras de Batman na insegura e soturna Gotham City se essas realidades se liam diariamente nos jornais e telejornais?
Não
é necessário que se descreva Gotham City para que saiba como seria na ficção de
Bob Kane e Bill Finger... Basta que olhemos para os lados no nosso dia a dia,
na nossa noite a noite, assistamos a telejornais em nossas cidades ao redor do
Planeta. Gotham city cresceu imensamente...
Lá
estão eles, todos eles: o político ladrão que não representa o povo que o
elegeu, e que sai imune das acusações guardando o dinheiro que roubou e
distribuiu; o policial corrupto que faz guarda a instituições particulares que
lhe pagam por fora e chega cansado ao trabalho para o qual é pago pela
população; o assaltante que rouba, mata e se perde no meio da multidão e
escuridão e tantos outros, no meio de uma população impassível, imobilizada,
calada, apática, que tal como nos quadrinhos de Bob Kane e Bill Finger, apenas
aparecem para bater palmas quando alguém é apanhado, mas não fazem passeatas
pelas ruas para que se administrem melhor as despesas do tesouro nacional.
Gotham City é agora a cidade onde você vive.
Rui Rodrigues
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