Portugueses – 1139-2014
Não existem povos tão
diferentes que não possam ser reconhecidos como naturalmente iguais sob
qualquer ponto de vista. É a educação e a cultura que nos torna diferentes,
além evidentemente de aspectos físicos relacionados com adaptação natural ao
meio em que os nossos ancestrais viveram há milhões de anos. A miscigenação,
também natural e irreversível, se encarregará de, nos próximos milhões de anos
tornar a espécie humana com características únicas e de certa forma idênticas.
Não haverá negros nem brancos, nem amarelos nem acobreados, mas simplesmente
uma espécie Humana. Mas cuidado: dentro de cada um de nós, humanos, há sempre
um lado “bom” e um lado “ruim”. Influências religiosas, de filosofias de
governo e de educação e influências particulares podem fazer sobressair mais um
dos lados de forma definitiva ou por períodos. O povo russo não deixou de ter
as suas características depois da revolução de 1917, nem os portugueses depois
da revolução dos cravos. O povo cubano continua sendo o mesmo depois da
revolução de 1959, e está pronto para ser mais livre logo que o regime dos
Castros termine.
Os portugueses somos um
desses muitos grupos. Apesar de uma história de falsas “glórias” – porque as
glórias acarretaram muito sofrimento popular – somos um povo com uma
idiossincrasia “particular”: Pelos sofrimentos acumulados do passado e do
presente recente, sabemos dar valor aos necessitados que lutam por uma vida
melhor, não a ponto de sermos os pais de sua salvação, mas de os ajudar a saírem
do “buraco” da necessidade. Vi isso entre meus patrícios aqui mesmo no Brasil e
em Angola. Sou testemunha ainda viva e a literatura brasileira está repleta de
personagens que refletem esse lado da idiossincrasia portuguesa. Alguns
conhecidos meus, donos de bares, deixavam cuidadosamente comida impecável
embrulhada em sacos plásticos devidamente fechados em latões de lixo para que
os mendigos da praça da Candelária os recolhessem e matassem sua fome. Comiam
comidas que muito janota pagava fortunas para comer, incluindo filé mignon que
não podia ser deixado para o dia seguinte, batatas fritas de meia hora atrás,
ainda crocantes. Não raro se associavam a brasileiros ou angolanos, ou a gentes
de outras nacionalidades para constituir sociedades que ainda por aí estão no
comércio nacional e internacional.
Governos de Portugal quase sempre
foram ricos. Salazar durante a segunda guerra mundial acumulou toneladas de
ouro da balança comercial positiva por causa do tungstênio vendido aos alemães
e de produtos vendidos aos aliados, além do aluguel da base dos Açores, mas
gastou uma ínfima parte em obras públicas. Nesse período fomos um país cheio de
dinheiro que não era posto em circulação [1]
obrigando portugueses a emigrar, coisa que sempre se fez. Governos ricos, povos
pobres obrigados a emigrar. Governos portugueses nunca se incomodaram em
promover empregos fixando seu povo dentro das fronteiras de forma sustentável. É-lhes
mais fácil gerir os depósitos de emigrantes sem que estes emigrantes, e
exatamente por isso, usem serviços públicos. Cada depósito de emigrante é
“lucro líquido”, capital disponível a custo zero [2]. Não
existe melhor negócio em todo o planeta.
Não foi à toa que, como
parte da sua idiossincrasia, portugueses se rebelaram contra o feudalismo medieval
dos suseranos de “Portus Cale” [3], e
declararam independência, enfrentando a ferrenha e tenaz vontade papal. O
primeiro rei de Portugal foi excomungado pelo Papa. A história portuguesa está
marcada por revoluções. Uma delas partiu do Brasil quando se discutia o
liberalismo no Império português. Um Imperador brasileiro se tornou Rei de
Portugal, e um rei português transferiu a capital da nação para o Rio de
Janeiro que relutou abandonar. Quem conhece o Brasil o ama e não o abandona
jamais. Portugueses sempre souberam apreciar a beleza e a inteligência de
chineses, negros, brancos, índios, e se miscigenam sem arrependimentos ou
“problemas morais”. Portugueses buscam a felicidade, e felicidade particular
não existe. Para ser plena, tem que ser compartida com quem entende dessas
coisas e as aprecia. Como um bom vinho!
A desastrosa política portuguesa das ultimas décadas obrigando a nação a pedidos de ajuda do Banco Europeu e do FMI levou os portugueses a emigrar em massa para todas as nações do mundo. É mais um processo de espalhamento de genes na construção de uma espécie humana com menos diferenças na cor da pele, na idiossincrasia, na educação. Daqueles broncos que chegavam para gerirem bares e casas de comércio nos séculos anteriores, poucos chegarão agora. Tentarão novos tipos de negócios. A facilidade da língua os trás para o Brasil preferencialmente, mas não é apenas a língua porque a maioria fala inglês e espanhol ou francês. É, sobretudo, a idiossincrasia brasileira, o amor que se espalha nos ares, uma identificação do que se quer ter em Portugal e que sempre existiu no Brasil mesmo antes da chegada dos portugueses em caravelas pelos idos de 1.500. O povo é cheiroso, alegre, divertido, prático, direto, acolhedor.
Quem pode dizer que não ama
o Brasil? Que eu saiba, a primeira e ultima que detestou o Brasil foi a esposa
de um rei que o amava e que foi deportada para o continente quando o Brasil
ainda era uma colônia. Esqueci o nome dessa senhora que não teve o prazer de me
conhecer e que eu tive o prazer de esquecer. Quanto a meu povo, triste sina de
sempre ter que emigrar porque seus governantes assim o desejam por lhes ser
mais fácil governar: mais dinheiro disponível para uso comum ou restrito, sem
os encargos de beneficiar quem os deposita.
Mas até e principalmente por
problemas de educação e cultura, o povo português é reconhecido
internacionalmente por sua fidelidade ás leis dos países que os acolhem e à sua
capacidade e dedicação ao trabalho, aliado a um senso de responsabilidade
incomum. Para a maioria dos países do mundo, portugueses não precisam de vistos
especiais. É pegar no passaporte e embarcar!
® Rui Rodrigues
[1] “Lisboa – 1939-1945-
guerra nas sombras” de Neill Lochery, Editora Rocco
[2] Verifique-se qual o custo
em serviços públicos em média para cada português, em porcentagem de cada Euro
ganho ou depositado sob todas as formas de investimento de poupança no país.
Para cada Euro depositado, emigrantes não gastam um centavo em serviços
públicos porque simplesmente não residem em Portugal. É lucro líquido
disponível em Portugal para empréstimos
bancários com custo de capital também zero.
[3] Nome do feudo galego que
deu origem a Portugal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Grato por seus comentários.