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terça-feira, 8 de abril de 2014

Portugueses – 1139-2014

Portugueses – 1139-2014


Não existem povos tão diferentes que não possam ser reconhecidos como naturalmente iguais sob qualquer ponto de vista. É a educação e a cultura que nos torna diferentes, além evidentemente de aspectos físicos relacionados com adaptação natural ao meio em que os nossos ancestrais viveram há milhões de anos. A miscigenação, também natural e irreversível, se encarregará de, nos próximos milhões de anos tornar a espécie humana com características únicas e de certa forma idênticas. Não haverá negros nem brancos, nem amarelos nem acobreados, mas simplesmente uma espécie Humana. Mas cuidado: dentro de cada um de nós, humanos, há sempre um lado “bom” e um lado “ruim”. Influências religiosas, de filosofias de governo e de educação e influências particulares podem fazer sobressair mais um dos lados de forma definitiva ou por períodos. O povo russo não deixou de ter as suas características depois da revolução de 1917, nem os portugueses depois da revolução dos cravos. O povo cubano continua sendo o mesmo depois da revolução de 1959, e está pronto para ser mais livre logo que o regime dos Castros termine.



Os portugueses somos um desses muitos grupos. Apesar de uma história de falsas “glórias” – porque as glórias acarretaram muito sofrimento popular – somos um povo com uma idiossincrasia “particular”: Pelos sofrimentos acumulados do passado e do presente recente, sabemos dar valor aos necessitados que lutam por uma vida melhor, não a ponto de sermos os pais de sua salvação, mas de os ajudar a saírem do “buraco” da necessidade. Vi isso entre meus patrícios aqui mesmo no Brasil e em Angola. Sou testemunha ainda viva e a literatura brasileira está repleta de personagens que refletem esse lado da idiossincrasia portuguesa. Alguns conhecidos meus, donos de bares, deixavam cuidadosamente comida impecável embrulhada em sacos plásticos devidamente fechados em latões de lixo para que os mendigos da praça da Candelária os recolhessem e matassem sua fome. Comiam comidas que muito janota pagava fortunas para comer, incluindo filé mignon que não podia ser deixado para o dia seguinte, batatas fritas de meia hora atrás, ainda crocantes. Não raro se associavam a brasileiros ou angolanos, ou a gentes de outras nacionalidades para constituir sociedades que ainda por aí estão no comércio nacional e internacional.



Governos de Portugal quase sempre foram ricos. Salazar durante a segunda guerra mundial acumulou toneladas de ouro da balança comercial positiva por causa do tungstênio vendido aos alemães e de produtos vendidos aos aliados, além do aluguel da base dos Açores, mas gastou uma ínfima parte em obras públicas. Nesse período fomos um país cheio de dinheiro que não era posto em circulação [1] obrigando portugueses a emigrar, coisa que sempre se fez. Governos ricos, povos pobres obrigados a emigrar. Governos portugueses nunca se incomodaram em promover empregos fixando seu povo dentro das fronteiras de forma sustentável. É-lhes mais fácil gerir os depósitos de emigrantes sem que estes emigrantes, e exatamente por isso, usem serviços públicos. Cada depósito de emigrante é “lucro líquido”, capital disponível a custo zero [2]. Não existe melhor negócio em todo o planeta.



Não foi à toa que, como parte da sua idiossincrasia, portugueses se rebelaram contra o feudalismo medieval dos suseranos de “Portus Cale” [3], e declararam independência, enfrentando a ferrenha e tenaz vontade papal. O primeiro rei de Portugal foi excomungado pelo Papa. A história portuguesa está marcada por revoluções. Uma delas partiu do Brasil quando se discutia o liberalismo no Império português. Um Imperador brasileiro se tornou Rei de Portugal, e um rei português transferiu a capital da nação para o Rio de Janeiro que relutou abandonar. Quem conhece o Brasil o ama e não o abandona jamais. Portugueses sempre souberam apreciar a beleza e a inteligência de chineses, negros, brancos, índios, e se miscigenam sem arrependimentos ou “problemas morais”. Portugueses buscam a felicidade, e felicidade particular não existe. Para ser plena, tem que ser compartida com quem entende dessas coisas e as aprecia. Como um bom vinho!

A desastrosa política portuguesa das ultimas décadas obrigando a nação a pedidos de ajuda do Banco Europeu e do FMI levou os portugueses a emigrar em massa para todas as nações do mundo. É mais um processo de espalhamento de genes na construção de uma espécie humana com menos diferenças na cor da pele, na idiossincrasia, na educação. Daqueles broncos que chegavam para gerirem bares e casas de comércio nos séculos anteriores, poucos chegarão agora. Tentarão novos tipos de negócios. A facilidade da língua os trás para o Brasil preferencialmente, mas não é apenas a língua porque a maioria fala inglês e espanhol ou francês.  É, sobretudo, a idiossincrasia brasileira, o amor que se espalha nos ares, uma identificação do que se quer ter em Portugal e que sempre existiu no Brasil mesmo antes da chegada dos portugueses em caravelas pelos idos de 1.500. O povo é cheiroso, alegre, divertido, prático, direto, acolhedor.



Quem pode dizer que não ama o Brasil? Que eu saiba, a primeira e ultima que detestou o Brasil foi a esposa de um rei que o amava e que foi deportada para o continente quando o Brasil ainda era uma colônia. Esqueci o nome dessa senhora que não teve o prazer de me conhecer e que eu tive o prazer de esquecer. Quanto a meu povo, triste sina de sempre ter que emigrar porque seus governantes assim o desejam por lhes ser mais fácil governar: mais dinheiro disponível para uso comum ou restrito, sem os encargos de beneficiar quem os deposita.



Mas até e principalmente por problemas de educação e cultura, o povo português é reconhecido internacionalmente por sua fidelidade ás leis dos países que os acolhem e à sua capacidade e dedicação ao trabalho, aliado a um senso de responsabilidade incomum. Para a maioria dos países do mundo, portugueses não precisam de vistos especiais. É pegar no passaporte e embarcar!


® Rui Rodrigues





[1] “Lisboa – 1939-1945- guerra nas sombras” de Neill Lochery, Editora Rocco
[2] Verifique-se qual o custo em serviços públicos em média para cada português, em porcentagem de cada Euro ganho ou depositado sob todas as formas de investimento de poupança no país. Para cada Euro depositado, emigrantes não gastam um centavo em serviços públicos porque simplesmente não residem em Portugal. É lucro líquido disponível em  Portugal para empréstimos bancários com custo de capital também zero.
[3] Nome do feudo galego que deu origem a Portugal. 

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