Hoje saí para pescar siri, mas só colhi um ramo de
pimenta rosa e coletei um toco.
Saí de casa em dia de sol e
céu de brigadeiro, e caminhei 150 metros até a borda da areia da praia. Depois
mais 500 metros até as pedras do Pontal, e fiz o percurso de volta. Levei meu
puçá de cabo para apanhar uns siris. Estava com vontade de fazer um espaguete
de siri com queijo ralado e molho de pimenta rosa. Logo na areia da praia me
deparei com uma “poluição” saudável: Restos de
algas, pedaços de vegetais empurrados pelas marés, trazidos das ilhas em
frente. São bastantes ilhas que compõem a paisagem. Hoje havia uns dois ou três tarrafeiros
tentando pescar umas tainhas ou paratis distraídos. Não tem sido grande a pesca
artesanal e de subsistência por aqui porque o barco de arrasto passou antes da
páscoa para limpar a área de peixes e tudo o que vem no arrasto. A ultima maré
trouxe também um lindo tênis branco solitário da direita, cordões ainda
amarrados, um par desencontrado de sandálias tipo hawaianas, uma profusão de
tampas plásticas de garrafas pet, pedaços de isopor e de cordas. Marés já
trouxeram até coisas bem maiores, como um cadáver de baleia que tresandou a
praia por uns bons quinze dias, imobilizado nas pedras. Hoje a água estava
morna.
Mas hoje não havia siris.
Não vi nenhum. Devem andar assustados como tudo o que vive em Cabo Frio, Rio de
Janeiro, Brasil e arredores. Há bastante tempo que não vejo siris por aqui. Há
muito tempo mesmo, quase um ano. Nem as conchas, difíceis de coletar,
enterradas na areia. Mas a natureza sempre nos compensa, e hoje fui compensado
com três coisas: Uma revoada de centenas de andorinhas percorrendo as dunas, um
toco para a minha churrasqueira para dar sabor ao churrasco, e um ramo de
sementes de aroeira, a famosa pimenta rosa.
A pimenta rosa é coletada de forma extrativista na região. O que mais existe por aqui são aroeiras, mexilhão nas pedras do Pontal, pitangas selvagens, paratis nas ondas e gente que chega em caminhões e ônibus e enchem a praia de sujeira que é recolhida como se pode. Os papagaios passam sem parar a caminho das ilhas para pernoitarem fazendo uma chilreada alegre. Os pica-paus não se misturam com os quero-queros senão o cantar dos filhotes seria meio estranho e misturado.
A coleta permite que
empresas revendedoras vendam, a granel, o quilo dos grãos de pimenta rosa
entre 49,00 e 100,00 reais. Para um custo de matéria
prima igual a zero, por ser uma dádiva da natureza pródiga, é um custo muito
alto. Ainda mais quando se sabe que os coletores a vendem aos atravessadores a
1,50 reais o quilo. Mas quando chega à
Europa, por exemplo, é vendida a 4,00 euros, ou 15 reais o sache de 40 gramas.
Isto resulta num preço de quilo de 375 reais. Realmente a economia
mundial padece de alguns controles para evitar o excesso de lucros tão
gritantes. Algo que custa 1,50 na colheita não deveria ser vendido a 375,00.
Isto é uma loucura e impede o largo consumo por economia de escala.
A fábrica de refrigerantes da Shweeps fabrica uma especialidade à base de pimenta rosa, alguns perfumes franceses têm como matéria prima a pimenta rosa, condimentos e até sardinhas são fabricados com pimenta rosa. Quanto ao sabor não há nada comparável. Em lugar algum. O sabor e o cheiro são únicos. Ainda me lembro de meus passeios pelo campo nas fazendas do Rio Grande do Sul, quando me diziam que ao passar perto de uma aroeira a teria que cumprimentar humildemente, dizendo: Bom dia ou boa tarde senhora aroeira, para não sentir alergia que poderia até fechar a garganta. Sou alérgico a muitas coisas, inclusive à incompetência, mas à senhora aroeira, não.
® Rui Rodrigues
Oi Rui , gostei muito de sua crônica e principalmente de sua caminhada saudável e necessária. É uma pena vc está perdido nesse "PARAÍSO", poderia
ResponderExcluirestar repartindo essa inteligência toda com os mortais físicos. Sinto muitas saudades de nossa juventude e vigor , lembra-se das nossas pescarias?
Abraços do irmão