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segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

O menino que parou de contar as estrelas.

O menino que parou de contar as estrelas.



Resolveu contar as estrelas da Via Láctea, nossa Galáxia, uma a uma. Começou pela Alfa de Centauro que lhe parecia mais perto. E é a que está realmente mais perto, apenas a 4 anos luz. Dez minutos depois já estava perdido por dois motivos. O primeiro, porque já não sabia quais havia contado. Eram tantas... E na prática era impossível pintá-las para identificar quais ainda faltava contar. Depois, e principalmente, começar a contar dizendo mentalmente, uma duas três, é fácil, mas quando começou a contar na casa dos milhares, sua capacidade de “contar mentalmente” já o cansava. Eram muitas letras para designar um simples número, por exemplo, 1989,1990 (mil novecentas e trinta e nove... Mil novecentas e noventa).  Imaginou quando chegasse a um milhão, trezentas e trinta e sete mil, novecentas e trinta e três.  Então apareceu o tio vindo do interior da casa.


- Que contas tu, meu filho?
- As estrelas da Via Láctea, tio!
- Sabes quantas tem só na Via Láctea?
- Muitas...
- Então vou te dar uma idéia. Se fosses tão rápido que pudesses falar mentalmente números grandes, como 1.337.933 a cada segundo e pudesses pintá-las na medida em que as contasses, terias que interromper a contagem para teu filho e teus netos e bisnetos acabassem de contá-las. E quando a ultima estrela fosse contada, se teriam passado mais de mil anos.
- Tanto assim?
- Há cerca de 100 bilhões de estrelas só em nossa Galáxia. E há quem diga que são 400 bilhões. No entanto, há também – só no nosso universo visível - entre 100 e 400 bilhões de Galáxias, em média do tamanho da nossa, e para contá-las dessa forma, levaríamos mais 3.000 anos. São todas nossas. É só ir lá e pegar, se não formos pegos antes. Como se pode imaginar que nesse infinito de estrelas não haja ninguém num planeta atrelado a uma delas contando as estrelas que vê?


Então o garoto resolveu que estudaria física. Queria saber mais e mais e mais. Tinha pressa. Muita pressa. Mas muitas décadas se passaram, e já não tinha a mínima pretensão de contá-las. Agora queria saber como tinham sido feitas, em que meio apareceram, como surgiram, se surgem novas, que meio é esse, esse espaço em que se movem...Antes que não pudesse mais vê-las.

(Hoje, e no ideário das criancinhas, nasceu mais uma: A de Cecilia Decker. Este texto é em sua homenagem e ao que representou no seio de minha família) 


® Rui Rodrigues

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