O meu perfil
Nasci numa ditadura com uma
forte polícia de inteligência duvidavel, mas com acurada capacidade de
descobrir e inventar inimigos do regime. Pior ainda quando aos meus 14 anos ela
entrou em guerra com cerca de sete países sem apoio algum da comunidade
internacional. A ajuda financeira eram os depósitos dos emigrantes saudosos de
suas terras que pensavam um dia poder voltar lá e remetiam tudo o que podiam
para fazer um pé de meia, construir uma casa. Durante os tempos em vivi sob
esse regime, pensei que estava em pleno comunismo, porque não havia diferença
alguma. Fugido do regime, sem nunca ter votado em minha vida, vivi em outro
país à sombra de uma democracia cambaleante que não durou mais de dois anos e
foi solapada por uma ditadura bem intencionada, que mobilizou as famílias,
arrecadou ouro de anéis e brilhantes para fortalecer a economia. Nunca se soube
para onde foi o ouro, mas ficamos com a sensação de que nos cobraram um alto
dízimo para nos livrarem do comunismo. Era uma ditadura messiânica que se
esfarelou pela incompetência em gerir aquele ouro arrecadado às toneladas pelas
ruas das cidades amontanhado pela recolha de impostos. Ficamos frustrados.
Quando a ditadura caiu,
passadas décadas, vi que a alegria do povo estava esmorecida. Sinal de que o
povo crescera politicamente e a constatação da realidade já não permitia o
sorriso que incomodava em meio a tanto descrédito. Falava-se mal dos governos
na nova democracia porque aparentemente não mudava nada dos tempos da ditadura.
Uma ministra ninfomaníaca que se casou com um comediante depois de amar
perdidamente um ministro resolveu confiscar todos os depósitos em poupança. Sucessivos
planos econômicos geravam escassez, remarcação de preços, inflação que chegou à
casa dos milhares por cento ao ano. Mas por essa época já me tinha formado em
engenharia, estava percorrendo o mundo, trabalhando para as maiores empresas
nacionais e do mundo, lidando com países democratas, capitalistas, socialistas,
comunistas, ditaduras. E continuei sem votar uma única vez em minha vida por
não valer realmente a pena. Votar nuns ou noutros era sempre a mesma coisa: O
dinheiro ambicioso e fácil era sempre a meta política aliada ou não da religião
ou da economia.
Percebi que a diferença
estava no palavreado, que todos gostavam mesmo era de dinheiro, quanto mais
forte a moeda melhor, que política era um arranjo de frases de efeito para
levar fiéis ao altar dos partidos. Uma mistura com religião, ou se desejarem,
uma política religiosa, que mesmo assim conseguia ser melhor do que uma
religião política. Como novidade, uma economia política só conheci nos últimos
doze anos quando Lula conseguiu finalmente assumir a presidência do Brasil.
Evidentemente com grande dose de fé inocentemente política por parte do povo
ignorante na nobre arte de ler e fazer contas: vendiam os seus votos, para
comprarem mais inflação que lhes comia os salários, menos saúde, menos
segurança, menos infra-estruturas, menos salubridade, mais doenças, mais
injustiças. Também nunca votei nestes regimes pelos mesmos motivos.
Estamos às vésperas de mais
uma mudança significativa, e temos uma farta opção de regimes e partidos
políticos para votar que não mudarão absolutamente nada, a não ser que se vote
uma nova constituição que não permita, pelo menos, os mesmos tipos de erros a
que temos assistido em nossas vidas, um dos quais é dar poder a políticos para
aprovar emendas constitucionais seja qual for o nome que lhes deem como as
malfadadas Emendas Provisórias, os Atos Constitucionais eufemismizados. Essa nova constituição teria que ser votada
item por item pela população através das redes sociais.
O Povo sabe o que o povo
quer. Políticos não querem saber do que o povo quer. Política, drogas e
dinheiro competem com a cidadania.
Por um Brasil melhor onde se
possa votar a cada dia a felicidade do dia seguinte.
© Rui Rodrigues
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