E certo dia
a primeira caravana decidiu-se a partir em busca de lucros. Levava o que tinha
porque tinha ou porque houvesse comprado vindo das fronteiras e levava para
outros povos fazendo a troca por produtos que seriam vendidos na volta dentro
de suas fronteiras. Os donos das caravanas, porque as caravanas tinham donos,
os investidores, lucravam duas vezes: Na ida e na volta, exceto quando sofriam
ataques de bandidos pelo caminho. Antes de partirem, porém, já os governos dos países que
as caravanas iriam atravessar haviam feito acordos para passagem e venda. E a
Terra se encheu de rastros de patas de muares cavalos e camelos, de navios
singrando mares calmos e bravios, duras pedras de estradas romanas ficaram
sulcadas pelas rodas ferradas de suas carroças. Comerciantes passaram a viajar
pelo mundo, o mundo tornou-se mais conhecido, menor, a concorrência aumentou,
houve duras batalhas pelo comércio, que se não fosse pela economia, o era pela
religião, mas sempre pela força. Que nem só com espadas e canhões se mostra a
força. O comércio tem o dinheiro que dá, ou tira, a força a governos. A religião
diz se deve ou não haver calma.
Num mundo
sem religião sobrariam o comércio e a força, num outro sem força sobraria o
comércio e a religião, num outro ainda sem comércio sobraria a religião e a
força, caros leitores, num grau de intensidade de 0 a 10 de cada um destes três
fatores escolham o melhor que lhes convém, que nada para além disto determina
as filosofias políticas nem os governos que temos. Nosso mundo reflete
exatamente isto.Ficou famosa a Rota da Seda.
Mas o que
se vendia pelos idos da antiguidade e até o século XIX?
Havia
mercados enormes no Cairo Lisboa e Xangai; Jerusalém Paris e Oslo; Tunis
Alexandria e Istambul; Veneza Moscou e Atenas; Tiro Londres e Cabul; Casablanca
Madrid e Alepo; Roma Teerã e Katmandu; Pequim Calecute e Trípoli; Rabat Tóquio e
Ulan
Bator, e em muitas outras. Vendiam de tudo que não se deteriorasse:
Ouro e prata eram geralmente as “mercadorias” para base de troca. Depois que se
inventou o dinheiro, as moedas, as trocas ficaram muito e muito mais fáceis,
aumentando o comércio. Vendiam-se tecidos de seda da China, ânforas de vinho da
Grécia, Roma, Jerusalém, espadas de bronze do Egito e de ferro de
Constantinopla (Istambul), bordados de linho e filigranas de ouro de Lisboa, especiarias
de Calecute, marfins do Cairo, tapetes de Cabul, queijos de Rabat e de Paris,
azeite de Trípoli, madeiras perfumadas de todo o oriente. Eram mercadorias de
peso, de valor indubitável, porque eram “pesadas”, avaliadas até à vista.
Existiam. Eram “palpáveis”. Podiam guardar-se, servir como “economia” e
venderem-se mais tarde. Muitas chegaram até nós e valem fortunas.
Muitos
séculos depois, novos mercados apareceram: Rio de Janeiro, Washington, N. York,
São Paulo, Buenos Aires, Santiago do Chile, Panamá, Barranquilla, Lima, Antananarivo,
Luanda, Maputo, Adelaide, Montego Bay... E muitas outras que para os efeitos
nem é necessário nomear. Mas o que vale a pena indicar pelo menos, é que os
produtos se diversificaram bastante. Agora se vendem armas, petróleo, veículos,
terras de minérios que mudam de continente, navios, aviões, trens, remédios,
perfumes sofisticados, e os mesmos tecidos, os mesmos vinhos, os mesmos
queijos, sapatos, roupas, cada vez mais caras por mais que a mão de obra seja
substituída por robôs, e as máquinas produzam milhares de vezes mais peças que
antigamente. Há uma “inflação” invisível, surda e muda, da qual ninguém fala,
que não se vê e da qual nada se escuta. Só se sente. Os primeiros carros Ford foram vendidos a 850
dólares cada – e note-se que eram novidade e caros - e hoje, o Ford Ka que é o
mais barato, custa em média 5.000 dólares no Brasil. Das outras marcas nem se
fala porque os preços aumentaram ainda mais absurdamente. È desta “inflação”
surda a que me refiro.
Em menos de
duzentos anos estamos comprando virtualidades que no fundo só servem para
aprendizado ou como comunicação. O resto é perda de tempo. São os famosos
gigabytes que circulam pelo espaço em ondas de energia enviadas por equipamentos
que se comunicam com satélites no espaço e refletem o sinal para os lares e
“celu-lares” de cada um. Coloquei um tracinho em celulares porque passaram a
ser o lar de quase toda a humanidade, substituindo a sala, o jantar, a cama e o
sexo... Quando em 2000 voltei do Chile encerrando minha participação num
mutirão de cinco indivíduos que destrinchávamos uma série de reclamações
contratuais referentes à Mina de Los Pelambres no Chile, entrei de gaiato no
projeto que implementava as primeiras transmissões via satélite para todo o
Brasil, de norte a sul, leste a oeste, pela Intelig. Digo de gaiato porque me
indispus com a diretoria da empresa que me colocou lá por não me quererem dar
férias atrasadas e terem dado a um outro individuo porque tinha que voltar ao Chile
para apanhar seu cachorrinho, e, aproveitando o ensejo, tiraria suas férias em
dia... Como não tinha cachorro, e teria que ser eu ainda por cima a fazer o
trabalho dele, e como sou hetero, pedi demissão, não sem antes entrar com
atestado médico. Eu estava esgotado. Subir a cordilheira andina uma vez por
semana a 3.800 metros de altitude, durante quase um ano, cansa e dá raiva
quando não se é compreendido. Quem criou o problema foi um sujeito que dizia:
Aqui dividimos tudo! E eu nunca tive nada para dividir. Era motorista de seu
próprio carro como qualquer Jarbas de que falam as histórias em quadrinhos.
Mas note-se
que o minuto custava para cada empresa – e depois retransmitir aos usuários - a
fabulosa quantia [1]de
$ 0,0001 Real e passou a ser vendida a cerca de três reais o minuto...
Evidentemente que o Ministro das Telecomunicações deve saber quanto custa a
cada empresa, das quatro ou cinco que dividem o bolo. Todos os ministros
deveriam saber sem poderem alegar que não sabiam.
É este o
mercado e a forma como se fazem as transações, e de como influem governos. Por petróleo até se declara guerra ou se perde a cabeça de um governo. E quem se atreve a pedir registro das telecomunicações corrompidas pelos corruptos?
® Rui
Rodrigues
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