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domingo, 27 de setembro de 2015

Brincando com besouros antes da grande fuga.


Uma das grandes agonias da humanidade – é realmente uma agonia – reside na preocupação sobre “nossa vida” após a morte. Este campo do conhecimento humano é pantanoso, produto de ciência e fé. Quem se arrisca a escrever encontra apoio em qualquer um dos lados, e críticas também. Os livros da fé e da ciência não se negam, mas não passam atestado um ao outro. Para a fé, basta um sopro de vento para se acreditar que “foi um sinal”. Para a ciência o sopro não basta. Para mim, amante da ciência, mas não sem fé, sou cheio de dúvidas. Se eu soubesse mais, talvez pensasse diferente, mas não poderia aprender mais de um lado do que do outro, e há limites para a fé e para a ciência. Por enquanto!...
Neste texto não procurarei fazer citações a respeito de Freud ou algum outro estudioso da “psique” humana ou animal, nem de livros religiosos. De ambos os campos já li bastantes. Dirão que ler não é suficiente, é certo, mas sempre procurei entender. Foi essa a minha intenção, a de entender, quando os li.

Será possível sentir algo depois da morte?

1.  A Infância da vida.



Quando somos crianças tentamos aprender o mundo que nos rodeia. Fazemos todo o tipo de experiências. Vemos as pessoas se moverem de um lado para o outro e ainda engatinhamos. Tudo se move até pelo vento. Uma coisa estranha para nós. 
- Rui!...- Gritou minha mãe – Não mates o bichinho que não te fez mal nenhum...
O pequeno besouro brilhante já estava de patas para o ar. Com o mesmo dedo com que o virei de costas, o desvirei e ele seguiu seu caminho. Nem pensei na época, se o besouro falava alguma língua desconhecida, me agradeceu (ou a minha mãe) e eu não o ouvi. Besouros, por causa do tamanho, deveriam falar muito baixinho ou em língua diferente daquelas que pessoas estrangeiras costumavam falar. Fiquei feliz ao ver o besouro se afastar. Quis compensá-lo pela perda de tempo, peguei-o novamente e o coloquei uns metros adiante na direção em que ia. O besouro parou por uns momentos como que perdido. Depois caminhou em outra direção. Eu também não sabia o que fazer a seguir. Não tinha um “programa” definido. Assim guiei meus passos para perto de minha mãe e lhe fiz perguntas que não teriam respostas satisfatórias. Isso foi há muitas décadas, quase sete... Havia um grande caminho até encontrar pessoas que me dessem respostas certas que fizesse sentido, isto é, que eu aceitasse. Eu e minha mãe éramos dois besouros humanos enormes e os sacerdotes não poderiam nos ensinar o que queríamos saber...Eles se preocupam com outras coisas que se podem aprender em casa ou nos estabelecimentos de ensino.



2.  O aprendizado.


Levei um peteleco de meu pai porque achei cinquenta centavos com os quais poderia comprar meia dúzia de rebuçados que o pai de meu amigo Mário, dono do pequeno armazém da vila, me vendeu abaixo do custo por amizade que não percebi. Meu pai disse-me que todo o dinheiro da família era usado de forma comunitária, e que antes de gastá-lo deveria ter-lhe perguntado. Além do mais, se alguém perdeu essa moeda não era minha. Ninguém joga dinheiro fora. Quando ele precisou dinheiro emprestado, ninguém lhe emprestou. Teve que trabalhar duro para comprar as passagens para a oportunidade de um lugar onde houvesse trabalho mais bem remunerado. Depois achei Deus esquisito porque proibia um montão de coisas boas, e permitia outro montão de coisas ruins. Pessoas, mesmo de família, sempre diziam que Deus “não gostava” disso ou daquilo. Os padres diziam que masturbação era coisa feia, mas um já tinha sido afastado da paróquia da vila por molestar crianças do catecismo [1]. E Deus tão poderoso que tinha feito o universo, separado as águas, construído o planeta terra, permitia pobreza, indecências, roubos, assassinatos, guerras e misérias sem fim. Não era possível que Deus se tivesse interessado apenas em construir mundos e não zelasse por sua obra. Concluí que Deus tinha feito a construção, se cansara e se fora para todo o sempre, porque durante toda a minha vida nunca vi Deus aparecer neste mundo para corrigir alguma coisa. Entregues á própria sorte e ao livre arbítrio, foi a minha conclusão baseada na percepção do tudo o que via e sentia. A melhor forma de viver bem seria não fazer mal aos outros para que não me fizessem mal também. Melhor ainda, se pudesse fazer bem aos outros, talvez eles me fizessem bem também, mas pela experiência que meu pai me passou, parece que a segunda via não funciona direito. Podemos fazer o bem numa sociedade sem professarmos esta ou aquela religião. Dei então, certo dia, meu aprendizado como aceitável, mas não concluído, lá pelos 28 anos. Casei e tive dois filhos maravilhosos. Mas ainda faltava uma questão: Como nos salvarmos?   



3.  A única espécie ainda viva no Planeta que pode salvar.



É fácil concluir, para qualquer criancinha ou adulto, principalmente entre os mais desvalidos, duas coisas que são muito importantes: 1 - Que há uma vida depois desta, onde se fará justiça porque esta é injusta, e onde tudo se compensará. Deus é justo!... (Mas pelos vistos somente seria possível lá na outra tal vida, porque nesta não é nada justo); 2- Que o comunismo ou o socialismo podem tornar todos os homens e mulheres iguais (mas onde foi usado o comunismo não funcionou e foi uma desgraceira de mortes, pobreza, e sucumbiu. Quanto ao socialismo, ele funciona – mal, mas funciona – no interior de fronteiras. Um mundo socializado é como o comunismo. As invasões de migrantes na Europa vão provar que ao não haver nações ricas, todas serão pobres). Ninguém se iluda: Num país sem ricos, a ambição muda de rumo do dinheiro para os benefícios. Disputa-se uma maçã, um cargo público, qualquer coisa.



Tenho hoje a forte impressão que somos uma espécie que apareceu num planeta girando num universo á deriva. Andrômeda é uma galáxia igual á nossa que se aproxima de nós. Será a extinção para quase toda a vida das duas galáxias. Então, temos que primeiro, sair deste planeta, de forma que todos possamos sair e não apenas os “protegidos” de sistemas ou religiões, e depois sair de nossa galáxia em direção a alguma outra que não se esteja aproximando... Ora isto significa que temos que ter muita pressa. A cada dia a galáxia para onde se poderá fugir fica ainda mais longe. Para quem não se interessa pela humanidade e apenas tem interesse em passar “bem” sua estadia neste mundo, minhas preocupações não têm o mínimo sentido. São pessoas imediatistas, e não são “castigadas” por isso. Nem eu por lhes ser contrário.  As igrejas, por exemplo, arrecadam doações, são ricas, apregoam o desprendimento dos bens materiais, mas continuam ricas. Isto coloca ainda mais á deriva a nossa humanidade que não tem nem plano “A” nem plano “B” para uma convivência construtiva no sentido de tornar este planeta confortavelmente habitável e gastar a grande energia e inteligência humanas em preparar a GRANDE FUGA. Não há "canjas" nem "almoços grátis" suficientes para todos neste mundo. O relacionamento humano e baseado em trocas. Cuidado com os que te pedem - ou exigem -dinheiro e não te dão nada que seja comparado com o valor que deste.     



4.  A Grande Fuga.


Se conseguíssemos eliminar a política – vamos imaginar que sim, só para simplificar – e apenas as religiões governassem o mundo, teríamos lutas terríveis. Cada fiel acha que sua religião é a melhor, e sem política, não há conversa nem freios. Acenar com outro mundo melhor depois de mortos, em vez da convivência pacífica, é desviar a humanidade, os povos, da sua razão da vida e para a qual foram feitos: Viver aqui, no planeta, da melhor forma possível, a sua própria vida como achar melhor que é para si. Isto envolve um pensamento comunitário: Entregue a egoísmos, cada egoísta lutará para manter seu egoísmo, que é como uma droga. Não há religião nem política que mude isto. Somos assim. Só a lei e sua aplicação e controle corretos podem corrigir.



Para a grande fuga, é preciso que se pense com muita propriedade, objetivamente e com determinação. Não temos muito tempo, porque as viagens espaciais demoram muito tempo pelas distancias interestelares e galácticas. É preciso enviar sondas, equipamentos, pessoas, preparar o terreno para o recebimento, e levar a humanidade para lá. É um trabalho hercúleo que poderia regenerar e modificar a economia mundial, mas que tem que ser feito em etapas. Uma viagem a Alfa de Centauro que está a apenas 4 anos luz, duraria 80.000 anos – só de ida - á velocidade atual de nossas naves. Hoje estamos preocupados com industrias que visam o consumo e a guerra. Nosso consumo não se prejudicaria se a economia fosse voltada para o espaço exterior. Pelo contrário, teria crescimento fantástico. Mas cuidado... Não podemos ser tantos. Temos que reduzir a população mundial para caberem todos nas naves, e para isso o mundo em que vivemos deve ser reformado e ter outro sentido de vida. Tentar acomodar cada vez mais gente neste planeta, em vez de melhorar a qualidade de vida, é um erro de bondade extrema que nos pode causar a extinção. Este não é um pensamento egoísta. É uma realidade da ciência. Não é preciso matar. Basta controlar a natalidade de forma adequada pela educação. 



Que haja paz entre os seres humanos, que o planeta seja agradável a todos, que a vida seja uma bela estadia, e que trabalhemos para a salvação da humanidade. A salvação está na fuga. Na GRANDE FUGA!... E não pensem que o tempo que temos é eterno e que devemos deixar esse problema para as gerações futuras. Se bobearmos, a partir de algum momento no futuro elas não terão tempo algum... Aqui vivemos, cuidemos primeiro do lugar onde vivemos e de nossas vidas agora. Depois da morte é outra história. Nem temos certeza se quem morreu ainda raciocina, coisa difícil com os miolos comidos pelos besouros e vermes da natureza. Quanto á “alma”, suspeita-se que esteja no DNA e nos nossos miolos. Quanto aos besouros, como têm asas, não sentiriam "vontade de voar". Não teriam necessidade de foguetes. 


® Rui Rodrigues









[1] Fornelos, Trás-o-Montes, Portugal,  nos anos quarenta, cinqüenta. 

Um comentário:

  1. Parabéns Rui .Excelente e inteligente texto .Sou um apreciador das tuas manifestações .Um grande abraço .Cláudio

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