Nosso correspondente em Desesperópolis nos contou esta treta com a boca que a terra há-de comer, jurando pela alma da mãe dele que era verdade, mas nós não temos a minima confiança nesse correspondente. Provavelmente se trata de uma metáfora, como a ex-"presidente" Dilma gostava tanto e que agora detesta horrores (atualmente se diz presidenta, um termo pejorativo até para argentinos, de cuja língua o termo "presidenta" faz parte):
Estavam reunidos em volta de uma mesa retangular. Os participantes apresentavam os olhos inchados, olheiras profundas, suores frios, cartelas esburacadas de remédios ao lado de blocos de papel lápis e canetas - embora a maioria nem saiba soletrar - restos do ultimo lanche sobre a mesa que nem garçons eficientes conseguem limpar porque não fazem "Coffee break",nem sabem o que seja nem para que serve, como se fossem um bando de gangsteres caipiras. E eram na verdade, mas eles se acham que não. Apenas ela e ele gritavam, ela numa ponta da mesa retangular, ele na cabeceira. Ela com voz de esganiçada contrariamente daquela voz calma com que costumava enfrentar os microfones e as câmaras, estava agora espumando pelos cantos da boca, possessa. Ele com a voz rouca de quem sempre fumou charutos e cigarros, em meio a um ou outro baseado, e meia garrafa de cana braba, mas sempre com voz rouca de patrão manda-chuva daqueles que falam grossas palavras de uma grossura sem limites, impregnada de palavrões aprendidos no ABC. Em publico, frente aos holofotes das câmaras, ele se faz passar por um doutor formado em Oxford, que os inimigos mais íntimos costumam soletrar "Óquisifod"... E pelos vistos eles têm razão!
A julgar pelo cenário a cena lembrava muito aqueles bandidos sebosos dos anos 20-30, em filmes de época a preto e branco, quando se reuniam em caves subterrâneas enfumaçadas e bolorentas de bares e casas de meretricio em que a unica coisa branca e limpa que se podia enxergar eram os colarinhos engomados e a parte de cima dos sapatos da época. O escrivão da gangue preparou-se para anotar as questões, o "solucionador" dos problemas, e o preço que lhe seria pago.
A Possessa gritou:
- Não vamos sair daqui hoje sem uma solução para todos - eu disse todos - os nossos problemas. Nem que a vaca tussa!
(Os presentes que pareciam adormecidos, despertaram, arregalaram os olhos piscos. Sabiam que havia muitos problemas. Aquilo era tarefa para mágicos, bruxos,fadas, duendes). Ela continuou em seu tom grosso de comandante imperial:
-O primeiro deles é livrar o nosso capo, Lu Lapone, das malhas da lei, que o querem prender. Sugestões!...Quero soluções sugestivas. Dou um ano de cartão corporativo sem limites para a melhor solução!
- Dois anos...
- Dois anos o quê?
- Solte aí um cartão corporativo por dois anos e tenho uma solução...
- Ah...Tá... Trato feito. Qual a solução?
- A senhora o nomeia conselheiro de sua casa! Assim ele arranja um trabalho e fica imune à lei.
- E para parar a grande manifestação que estão aprontando contra a nossa gangue no dia 13?
- O que a senhora vai dar a quem der a solução?
- Uma boa grana, coisa de milhões,em bens escamoteáveis de minha conta sigilosa.
- Então eu tenho uma solução: Dizer que nossa gente também não vai na manifestação, mas mandar aquela turma barra pesada pra quebrar tudo. Assim, como não vamos, entre aspas, atribuirão a quebradeira ao pessoal deles...
- E como salvar a economia?
- Com o que a senhora gasta e deixa roubar, não tem santo que salve!
- Foi o garçom, deixa ele, Capa de todos os capos!.. Deixa ele que não tem filosofia politica nenhuma, coitado, só tem é dor de barriga e tomaram dele o "minha casa minha vida" porque não pode pagar a prestação. A inflação comeu tudo.
- Bem... E como salvar então a economia?
- E quanto a senhora nos dá pela solução?
- Deixa eu pensar... Pam... Já sei! os companheiros nos conseguem um posto importante na Vale do Rio Doce. O presidente vai sair por causa daquele merdeiro da barragem que ele provocou por não colocar medidores de pressão eficientes no fundo da barragem.
- Então eis a solução... Quantos ministros a senhora ainda tem no balaio para serem ministros da economia?
- Hi, rapá... Uns três...
- Então troca de um em um a cada ano e meio e anuncia sempre que "Agora vai",que vais injetar dinheiro que o mercado internacional nos deve...Sei lá... Inventa!... Isso permite que continues no lugar de Capa de todos os capos até 2018...Enrola...
- E eu? como mantenho eu no meu lugar, se nem tenho certeza que vou livrar o capo-mor? Olhem pra ele,coitado, anda esgazeado, alucinado, sem saber o que fazer para esconder os bens que tem, se esconder da policia e da lei... Tenho peninha dele, tadinho... (e começou a chorar lágrimas ácidas de crocodilo do nilo ou do São Francisco).
- Chepona... Nem precisa me dizer nada, mas só vejo duas saídas: A senhora sai do governo desta gangue, ou morre deitada, suicidada, como o Getúlio Vargas, em grande estilo...
-Porque me exigem esse terrível sacrifício, se sabem que depois de sair da chefia desta gangue me vão prender?
- Porque nos enchestes de dinheiro sem lastro, e o esgotaste - Que mais dinheiro nos podes dar se os cofres ficaram vazios? - e porque és muito burra, e nem sabes conduzir uma gangue, nem uma loja de 1,99... Íamos rir muito se te elegessem presidente da republica do Brasil...
- Se ela se matasse, ninguém a choraria...
- Quem disse isso? - Berrou a possessa...
- Foi a camareira dela... Perdoai-lhe, senhora capa, ela não sabe o que diz...
A reunião se encerrou, disse nosso correspondente, no qual não acreditamos nem em uma letra, sem que se chegasse a uma conclusão, mas com farta distribuicao de pixulecos, aumentando o rombo do caixa ... Acrescentou, fora dos registros, que o capo rouco sempre metido a valentão, e a doutor de Oquisifod embora mal saiba somar, diminuir, multiplicar e dividir, que saiu da reunião carregado em braços, cabelos eriçados que pareciam penas de galinha pedrês não parando de gritar e afinando a voz:
-Me salvem... Me salvem... Eu não posso deixar se ser o Capone... Eu quero ser o Capone... Sou intocável...Me livrem da lei e da policia...
Rui Rodrigues
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