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quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Já sei como é Deus.


Já sei como é Deus.



Desde pequeno que me pergunto “como deve ser Deus?” Que imagem tem, o que aparenta, se tem cabeça, mãos, pernas, se fala, como se move, se é maior que sua obra ou nanico como nós, onde vive, como vive, se tem casa e como construiu sua rede de esgotos. Por várias vezes O chamei, mas não obtive resposta “real”: Só uma vontade tremenda de me ajoelhar, rosto colado ao chão, enquanto meu corpo se enchia de uma alegria que não raro me levava às lágrimas. Por isso sei que existe. O problema é: Como é, o que ele “faz”, e como. Uma coisa era certa para mim: Deus não podia ser nada... Sabem? O Nada? Aquilo que não tem forma, consistência, nem mãos para fazer artefatos, nem “cabeça” para pensar, que lhe permita dizer “Hoje vou começar a fazer um Universo”, e como serão os anjos, a sua corte, se é que precisa deles sendo Deus, e como poderia transformar um anjo em “transador” para fazer um filho numa moça recém casada com marido fiel, filhos de boas famílias. Sobretudo, queria saber se pode Deus passar por cima das próprias leis com que construiu o mundo, tudo o que existe, e como o faria.  Surpreendi-me ao encontrar um Deus totalmente diferente do que me tinham ensinado a “ver”... Totalmente não... Bem diferente, mas essencialmente o mesmo: Deus e único sem necessidade de assessores nem ninguém para ventilar o ambiente com plumas de avestruz. Um Deus que por muito pouco quase não existe! Um Deus “improvável”.




O processo da descoberta de Deus foi gradativo ao longo de minha vida. Primeiro me mostraram um homem como Deus. Fui olhar nos livros de história e constatei que isso era uma idéia muito antiga de materializar os “deuses”, torná-los “reais”, palpáveis. Nunca tinham conseguido. O mais perto que haviam chegado fora em Alexandria quando descobriram as leis físicas da hidráulica: Conseguiram construir uma carruagem leve de bronze e colocaram-lhe uma estátua de Zeus, puxando as rédeas de um cavalo. Sob a luz de archotes, e os efeitos da hidráulica, a carruagem subia do recinto do templo até o teto que se fechava logo que a carruagem passava o nível do telhado... O povo à distância jurava que Zeus todos os dias descia a Alexandria e que pela tarde, ao anoitecer, voltava aos céus. Quase todos os deuses iam e vinham do céu.  Logo os estudantes conheceram a hidráulica e como a “subida aos céus” era feita, e Zeus deixou de ser Deus. Cansados de tantas mágicas de deuses, um punhado de crentes da Galiléia e arredores, na Palestina, acreditaram mais tarde na palavra. Não era na palavra do homem Deus, filho do Homem que acreditaram. Foi na palavra de uma meia dúzia que conviveu com ele e que disseram que a mãe dele era virgem e que ele fora morto e ressuscitara.  Isso sim... Eram duas mágicas de peso. Chamaram-lhes de milagres e criaram uma nova religião que ao longo dos tempos cresceu, se ramificou por dissidências, gerou muitas e terríveis guerras e discriminações. Fiéis pobres e Igrejas ricas, assim como antigamente foram os templos ricos e as populações pobres e geralmente escravas. Pagavam dízimos. Parecia um negócio florescente. Ainda pedem em nome de Deus. Mas que Deus é esse? O do velho testamento, ou o do novo? E o que dizer de D’Us, Buda, Alá, Vishnu, Iemanjá e outros deuses que andam por aí? Serão todos falsos, ou serão o mesmo visto (entendido) de forma diferente? A primeira coisa que nos passa pela cabeça é: Se for o mesmo, porque não poderá haver uma outra forma diferente de o entender, a minha forma, por exemplo? E em decorrência, a segunda coisa é: Se forem todos diferentes, qual é o verdadeiro, já que Deus é Único ? E fatalmente vem a terceira: Se o Mundo e o Universo sempre existiram por serem infinitos no tempo e no espaço, quem fez o que sempre “já esteve” feito? Nesta ultima hipótese, não haveria necessidade alguma de um criador, um Deus, porém, os negócios com os templos vão tão bem, são tão prósperos, que a resistência a uma nova forma de entender Deus, seria punida com fogueiras, crucificações, perseguições, fuzilamentos, para não lhes arruinar os negócios. Não tinha sido sempre assim? Ainda não é em algumas regiões do mundo, onde o conhecimento anda escasso?



Então vamos imaginar que o mundo, o Universo, teve um inicio, o Big-Bang, mas isto já é um truque, por que o mais certo é que sempre tenha existido, e se sempre existiu, sempre, não teria havido um Criador. Mas, se admitirmos que nosso Universo foi criado, ao construir o Universo teria Deus construído mais de um? Tudo leva a crer que sim, quer pela ciência quer pelas amostragens deste universo, onde nada é “único”, começando pelo gênero (de macho e fêmea) pela diversidade de tipos de estrelas, astros em geral. Então vejamos como seria o Deus Criador.



Teria mãos e equipamentos para comprimir uma região do espaço a ponto de torná-la extremamente quente, extremamente densa, que logo inflaria como um balão e aumentaria tanto de volume, tanto, tanto, que em menos de um segundo ficaria com dimensões infinitas e Deus reduzido a um tamanho tão diminuto que um grão de areia pareceria um meteoro imenso quase infinito. Como se Deus desaparecesse de sua criação ou ficasse menor que ela, muito menor. Não faz muito sentido... Melhor acharmos que Deus é infinito, maior que o Universo, mas como o universo não existia antes dele, seus equipamentos e suas mãos deveriam ser infinitos... Também parece não fazer o mínimo sentido. Mas Deus, segundo dizem, é capaz de tudo, e pelos vistos, o diabo também. Qual teria sido o papel do diabo na formação do Universo? Quando Deus, o criador, teria resolvido criar o diabo para atazanar umas pobres criaturinhas cheias de vida num planeta chamado Terra, e para que teria Deus criado um diabo tão poderoso que simples mortais não teriam a mínima força para o enfrentar? Também não faz sentido: Homens e mulheres seriam sempre perdedores para o diabo se este estivesse na ativa diariamente. Talvez tenhamos uma explicação. Vejamos.


Este mundo é feito de aleatoriedades. Aleatoriedades são acontecimentos, fatos, que acontecem segundo leis que desconhecemos e para os quais não temos explicação (para nós, o Caos). Muitas “aleatoriedades” para uma civilização mais adiantada já teriam explicações e deixariam de sê-lo. Por exemplo, não temos detectores corporais de vírus. Por isso não sabemos quando nem onde os apanhamos nem quando vamos ficar doentes. Só sabemos de algumas precauções para evitá-los, como as vacinas, e não para todos os tipos. Não sabemos, por exemplo, se o próximo verão vai ser mais seco, quente, úmido ou frio. Não temos “sensores” que permitam saber antecipadamente.  E muito menos podemos saber se seremos assaltados na rua, o grau de gravidade, como ou quando. Vivemos num mundo aleatório. Nossas “certezas” são limitadas. Quando adoeço a culpa não é (geralmente) minha, de meus atos, nem maldade de Deus ou do demônio. Quando sou assaltado, a culpa não é (geralmente) minha, de meus atos, nem maldade de Deus ou do demônio. A menos que me tenha infectado por freqüentar lugares inseguros sem estar imunizado, ou sido escolhido por assaltante, não há razão para atribuir a Deus ou ao demônio, a salvação, a prosperidade, e “milagres” de cura sempre os houve. O mundo é aleatório e a cegueira muitas vezes é psicológica. Fazer ver a cego cujas órbitas tenham sido retiradas, isso sim, seria um milagre, ou fruto de tecnologia muito avançada se o paciente fosse submetido a cirurgia. Milagre seria perder uma perna e a perna voltar a crescer. Ressuscitar poderia ser um milagre se constatada a morte prévia por aparelhos que a atestassem. Há muitas testemunhas que mentem por todos e quaisquer motivos. Até para salvar a honra ou a vida de filhos, primos, militantes de partidos políticos ou seitas. Há fanáticos que se explodem esperando que haja no céu sete virgens que os esperam de pernas e bocas abertas.Temos deficiências em definir o que é milagre, mágico ou enganação. Há muitos profetas e são falsos. Essa mesma classe de “profetas” na antiguidade lia a vida passada, presente e futura em vísceras de peixes e animais que depois comia longe dos consulentes. Ganhavam a vida assim. Mas então como será Deus, se não parece plausível a existência de deuses como nos ensinam a aceitar desde criancinhas, desde o inicio da humanidade, das civilizações, caindo um após outro por falta de crédito, de continuação de crença?

Deus existe dentro de cada um de nós, não importa que nome tenha, que poderes tenha, quem beneficia, quem ataca. Este Universo possui leis que o regem a todo o instante e nos mostram que Deus não interfere em nada (a não ser em nós mesmos pelo simples fato de que nos dá ânimo, mas somos nós que nos damos esse ânimo. Idéias têm força. Imaginações têm força, e podem dar unidade a um grupo, um povo, uma nação). Vivemos num mundo aleatório, tementes por nossas vidas, nosso conforto todos os dias. Imaginar um Deus todo-poderoso que nos ajuda nos conforta, e se Deus falha, mais temos certeza que a culpa é nossa e que não nos “portamos” bem. Ou que a culpa é da nação ou grupo a que pertencemos por que não fomos completamente perfeitos em nossas atitudes. Isso ajuda a construir um mundo melhor e se há algo que precisamos é de um mundo melhor. Este não pode ser consertado – nunca foi – através de milagres. É aleatório para tudo o que desconhecemos.

Comparemos nosso comportamento dentro dos templos e fora deles. Dentro de nossa casa e fora dela. Criamos deus à nossa imagem e o criamos, sem ser homem nem mulher, para unir e dar razão a todos os pequenos pedaços de que somos feitos. Isso foi no Éden. Depois o expulsamos e teve muitos filhos com nomes diferentes. Nosso Éden precisa ser reconstruído. Por enquanto somos todos artistas da sobrevivência, dotados de muita imaginação.E estátuas são apenas estátuas. 

® Rui Rodrigues

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