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domingo, 10 de abril de 2016

Cronicas do Peró - O cantinho das Meninas




Entre a praia da Baia Bela (Praia do Peró) , ali pelas alturas do Peró, e a das Conchas até o cantinho no final, em Cabo Frio, não vão mais que uns escassos 1.100 metros repletos de gente com lembranças e sonhos, alguns perdidos, alguns de satisfação e esperança.

O velho simpático do antigo restaurante encravado num curto istmo, entre as duas baias, faleceu! No tempo dele já éramos velhos. Agora todos somos idosos sem a minima diferença. Eufemizam-se os termos, mas a essência, e por vezes o andar da carruagem é sempre a mesma. Modismos insignificantes da moda dos iludidos. Ele tinha um nome, mas que importa o nome, se os que ainda têm memoria são tão poucos, e nem dele falam mais, porque os interlocutores nem entendem o que dizem, ou nem sequer estão interessados? Ele sabia dos tempos de enormes barcos de pesca que descarregavam na praia para encher enormes caminhões para o Rio de Janeiro. Dizem os pescadores que falta peixe, mas falta muita coisa mais. Os tempos não são bons, os ventos são quentes, os bolsos estão vazios como as redes para os peixes. As lulas que crescem tanto, são colhidas ainda na primeira infância, um desperdício, e as grandes exportadas para o exterior. As cidades e municípios contemplam apenas, e grátis, o ir e vir das ondas. O progresso está em descanso, a ordem presa e reclusa em casas ainda virgens de assaltos. A moral e a ética são réus nos tribunais de justiça e não é exagero. Que o diga quem sabe, que escute quem quiser ouvir. Como os juízes são do governo, que causa se poderá ganhar, mesmo sendo justa, se os juízes não a julgam justa?



Na Praia das Conchas há um lugar vazio na linha de Restaurantes onde antes havia mais um. O espaço na areia, na subida no pequeno monte, ou duna, é hoje ocupado pelas Meninas do Peró… Um cantinho para descanso, trocar umas ideias, jogar conversa fora, uma pequena mesa para colocar a garrafa de água, a bolsa, a mochila, e cadeiras disponíveis. Gente que optou por viver em Cabo Frio, ou que ainda visita as praias da cidade como sempre fez. Uma caminhada matutina antes que o sol fique a pino e a praia se encha de gente que não conhece, aquela gente que por isso mesmo não precisa se cumprimentar. Para esses, o lugar é apenas uma bela paisagem no máximo com uma meia duzia de lembranças. As das Meninas do Peró poderiam dar um belo livro.

Naquele dia entrei na água com elas. Estava fria para mim. Entre risos, sorrisos e uma boa conversa, deixei-as no meio da água para me sentar numa cadeira, na sombra. Achei melhor me afastar, porque foi a primeira vez que conheci o grupo. Não quis ser um intruso com comentários ou apartes, e muito menos constrang
ê-las de falar sob particularidades que com minha presença não falariam.



Não são "coisa pouca" na arquitetura intelectual de Cabo Frio, dotadas de cursos, doutorados, profissões de topo, algumas ainda na ativa, outras aposentadas. Vivem no local, vêm de Brasilia, Minas Gerais, Rio de Janeiro. Perguntam-se porque razão ali, naquele cantinho, havia mais um pequeno restaurante, e já não há, sem que nada mais haja mudado naquela pequena baia onde antes havia tanta concha. E, se para pergunta tão simples não há resposta plausível, que dizer de outras perguntas mais complicadas que se poderiam fazer sobre Cabo Frio e sua "vetusta" e tradicional politica de políticos sem formação em politica, eleitos por "simpatias"? Ainda esta semana havia lixo pelas ruas, a segurança não melhorou, dizem que falta dinheiro para pagamento de salários na função publica, e já existem políticos da velha guarda, de velhos costumes, dizendo que se irão reeleger... Se o Brasil realmente mudou, não se elegem!


O cantinho das meninas é realmente muito simpático. Uma delas passou boa parte do tempo apanhando pequenos pedaços de coral, pedras, conchas, das poucas que ainda existem para compor suas obras com areia. Outra, sob olhares preocupados, nadou sozinha atravessando parte da baia das conchas. Alguém sugeriu que usasse uma pequena bóia amarela para que se soubesse onde estava. 

Na volta para casa, vi que aquela placa de "outdoor" com versão em inglês, e pela qual se deve ter pago elevada verba publica, oxidou e caiu. Foi feita com estrutura de ferro, ali, na beira da praia. Evidentemente que mais verbas serão gastas para "plantar" nova placa que não deveria ter oxidado tão cedo se o material fosse adequado ao vento salgado.   

Nesse dia pela noite senti forte alergia. Costumo ter alergia a pelo de gatos e nem sei como pude conviver com Sarkye, a minha amada gata, por 12 curtos anos. Onde dormi não havia gatos. Mas então, de onde vinha a alergia? Descobriu-se, entre o forro do quarto e a estrutura do telhado, uma enorme colonia de férias de morcegos, daqueles bem peludos com cara de irritados. Terão de buscar nova "caverna" porque aquelas frestas pequenas entre o madeirame do telhado e as paredes da casa foram definitivamente seladas. Deveríamos fazer o mesmo com políticos ineficientes: Selar-lhes o acesso a eleições, desprezando a propaganda e aqueles sujeitos que oferecem vantagens se votarmos naqueles que indicam. Cabo Frio voltaria a ser aquela cidade progressista de há 30 anos atrás.


Vida longa para as meninas e seu cantinho! 

Rui Rodrigues

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