Lisboa, final dos anos 60...
Certo entardecer subi a Avenida do Duque de Loulé vindo da Avenida da Liberdade, acompanhado de um primo distante que nem lembro mais o nome, a caminho da casa de minhas primas Fernanda e Alice que tinham casa na Pascoal de Melo, ali pelo Jardim Constantino. Ele era filho de emigrantes, tinha cidadania angolana. No percurso de mais ou menos uma meia hora ele me explicou como alguns fazendeiros tratavam os negros como escravos, as angolanas como "cabritinhas" sexuais, e porque Salazar não queria dar-lhes independência. Ele pertencia à esfera dos "independentistas". Com meus 15 anos eu pertencia à esfera dos "estudantes observadores". Minhas primas, onde ele estava hospedado por um par de semanas, pertencia à da "Classe empresarial". Isto no dia a dia... Nos finais de semana eu tinha aulas de marinharia na base naval do Alfeite. Nesse momento pertencia eu à esfera dos militares. As informações que me chegavam eram de uma riqueza de detalhes fantástica. Sentia-me livre para analisar e fazer minhas escolhas. Vi fotos verdadeiras, de câmaras, tiradas por soldados mostrando brancos e negros de seios e órgãos cortados, seios um em cada mão, vaginas penetradas por pedaços de pau, colares de dedos indicadores cortados, testículos e prepúcios pendurados em cercas... Fiquei impressionado porque as fotos mostradas por pessoal da marinha tanto mostravam atrocidades de brancos quanto de negros.
Os "meios" eram pessoas como eu, que transitavam entre esferas e trocavam notícias "boca a boca". As redes sociais são hoje um tipo de esfera onde as notícias podem ser tão credíveis quanto as da mídia, tantas vezes com notícias falsas pagas. Carregadas pelos meios, as notícias correm céleres, formam-se opiniões, acalmam-se ou excitam-se os ânimos, alguns meios mudam sua preferência de esferas.
Há que ter cuidados com a intensidade de reação a certas notícias e ao grau de confiabilidade. Notícias vindas de caudilhos, artistas, agencias "especializadas" que têm lucros financeiros ou políticos, são duvidosos. Ser artista ou político não quer dizer que conheça do assunto. O povo menos instruído costuma confundir fama de artista ou político que aprenderam a representar com "verdade conceitual" intrínseca. Acabam seguindo o flautista de Hamelin, atraindo ratos para o poço da morte.
Há pouco tempo tive notícias de familiares de comandos militares que atuaram em Angola, Moçambique, Guiné, e que mantêm uma espécie de "afagar de egos" comentando sobre missões no "ultramar". Tenho todo o respeito pelos abatidos nessas guerras coloniais. Eu próprio perdi 22 amigos. Mas todos seguiram um "presidente" equivocado com os ventos da história, completamente defasado da politica internacional a ponto de pedir ajuda à Inglaterra pare ceder bases para uso de aviação que iria combater com a "União Indiana", como rato que enfrenta leão, mandando os ratinhos jovens para servirem de carne de canhão... A Índia sempre foi a menina dos olhos da coroa britânica e da Commonwealth. A Aliança luso-britânica valia bem menos. Ele morreu porque uma cadeira ""escorregou" e não pelo que fez. O Portugal "monárquico" subsiste ainda hoje nos tempos do republicano Costa, que é suficientemente esperto para subsistir pela "argumentação" e contra-argumentação, impactantes e vazias, muito do agrado dos social-democratas atuais longe de esfera de filósofos, por completamente morta. Os povos exigem eficiência sem filosofias ou conversas de "cerca Lourenço" ou "para boi dormir"... Por isso o Brexit, a independência da Catalunha, a virada do povo americano a favor de Trump, a virada da China contra a Coréia do Norte, as mudanças no mundo... As populações querem menos papo filósofo-vitimizante e mais farofa com direito a azeitona e cereja no recheio.
Lá, nos tempos do Império romano, também fomos escravos e nossas mulheres cabritinhas sexuais dos "Pater Famiglia" romanos que invadiram a Iberia.
Isso tudo me lembra Lula, Dilma, Temer, o STF tendencioso, e esta coisa transatlântica de "tapar o sol com uma peneira" ao som da banda podre de flautistas modernos que passeiam pelo Senado e pelas Câmaras angariando votos com doações aliciantes. Coisa que já vem das invasões romanas. Os Celtas e os Iberos não eram assim. Ainda há muitas estradas em Portugal que levam a Roma. Deviam levar a Lisboa de forma laica.
O mundo não está mudando... Mudou muito nos últimos 20 anos!... Os políticos se fazem de drogados inocentes para fugirem da imputação de crimes e manterem o status de Coletores de impostos. Para onde se vai, a história contará no futuro. Vivemos uma época de transição política internacional tristemente coincidente com alterações climáticas no planeta potencializadas por nossas emissões de gases nocivos, sub produto da industrialização desenfreada e da falta de cuidados com nossos lixos. Precisamos de novos guerreiros mesmo que sejam bárbaros.
Rui Rodrigues.
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