História de Fornelos e do
seu entorno.
Introdução
Este não é um trabalho
acadêmico. Resulta da curiosidade de um fornelense nascido em 1945, e que,
dentre muitas coisas com as quais se preocupa neste mundo, se inclui o lançar
alguma luz que possa mais tarde levantar a história verdadeira de Fornelos.
Hoje a referência que se tem é de que foi fundada por 11 famílias nos idos de
1740 cuja casa mostra no forro do teto de algumas, a estrela de David gravada numa viga. É muito pouca informação e não há motivos para não se procurar saber
tanto quanto se possa. Quem sabe não teriam sido 12 casas, e uma banida da memória por questões religiosas? Ou teriam os nomes das onze famílias sido esquecidos pelo mesmo motivo?
Procurando, via Internet,
por documentos referenciados, não encontrei quase nada. Há sim farta
documentação anterior à sua fundação e posterior, mas nada mais. Não se sabe dos
nomes das 11 famílias.
Por nomes de família podemos
avaliar que a vila já foi povoada por romanos como atestam os fornos
descobertos e por outros povos desde então, como godos visigodos, e antes dos
romanos, os celtas, como também atestam os castros celtas por toda a península
ibérica. Como outros povos que formaram o povo lusitano, previamente à invasão
romana, são reconhecidos principalmente os suevos, os alamanos, os vândalos,
gregos, fenícios e cartagineses. Posteriormente, árabes e judeus.
Como referencias dei
preferência a links disponíveis na Internet para mais fácil consulta. Esses
links apresentam as suas próprias.
1 – Localização de Fornelos de Santa Marta de
Penaguião
A Vila de Fornelos situa-se
nos contrafortes da Serra do Marão que tem 1.215 metros de altitude e está
situada numa cota aproximada dos 600 metros. Desenvolve-se ao longo da linha de
cumieira de uma elevação com o rio aguilhão ao fundo, a um desnível aproximado
de 100 metros. Em termos medievais poderíamos dizer que era um lugar de difícil
acesso para algum exército de ocupação. Fornelos dista aproximadamente 12 km de
Vila Real de Trás os Montes, a sede do Distrito.
Há fornos romanos em
Fornelos e em Louredo, os desta vila na fronteira com Fornelos onde se
fabricavam tijolos e telhas. Antes da romanização os tetos das casas eram
cobertos com ramos e colmo. È de supor que já no tempo da romanização houvesse
casas de oleiros na região. O povoado de
Barreiro nas imediações de Louredo e Fornelos, e a dimensão dos fornos, leva a supor
que não sendo os barreiros de argila incomuns, os fornos se destinassem ao
consumo de vilas próximas romanizadas.
2 – A ocupação da região de Fornelos e Trás os Montes.
a) Período Pré-romano - 1.200.000 AC a 194 DC
A história de fornelos
começa com o povoamento humano em todo o globo terrestre que, ao que tudo
indica, se originou na fossa de Olduvai na atual Tanzânia, há cerca de
1.700.000 anos, através de um processo de disseminação de uma espécie de
hominídeos [1](australopithecus
boisei) por pressão social e da natureza circundante. Com grupos que não podiam
ultrapassar os 60 indivíduos devido à alimentação disponível, novas famílias
emigravam do grupo para procurar novas áreas de alimentação. O isolamento entre
os grupos, e por adaptação ao meio em que passaram a viver, diferenciaram-nos
gerando características diferentes entre si. Não raro entre avanços no terreno
e retrocessos, voltavam a cruzar-se, esporadicamente. Podemos imaginar que
nessas ocasiões chegassem a lutar pela posse de territórios, provável origem
das guerras das quais, por mais que tenhamos evoluído ainda não aprendemos a
nos libertar.
Discute-se ainda o papel das
espécies Cro-magnon, Neanderthal e Homo Sapiens na constituição da base humana
na península ibérica, havendo indicações que apontam para a absorção dos
Neanderthais pelo Homo Sapiens que ainda chegava de África[2].
A data mais provável da
ocupação da península ibérica situa-se no entorno de 1.200.000 anos[3] -
inicio do Paleolítico - quando os primeiros hominídeos aqui chegaram. Foi muito
lenta a ocupação do globo.
No contexto das guerras
púnicas, Cartago usou a península ibérica para atacar Roma, numa estratégia de
guerra impensável. Roma respondeu invadindo a Península. Os primeiros
confrontos deram-se em 194 AC contra os lusitanos[4].
b) Período Romano – 194 – 409 DC
Em 409 DC, com o Império
romano enfraquecido, Vândalos e Suevos estabelecem-se na Galécia da qual a
região em causa fazia parte. Já em 407 DC com o império Romano em processo de
divisão em Império romano do Oriente e Império romano do Ocidente, um usurpador
das ilhas britânicas nomeia-se sucessor com o título de Constantino III. Seu
filho Constante invade a península. Através de um pacto, Honório, filho de
Teodósio (Imperador de Roma) e que geria a parte oriental do Império Romano,
cede a Constante a Galécia[5] e
a Lusitânia[6].
Somos levados a acreditar que uma aliança que mais tarde se fez entre Portugal
e a Inglaterra[7],
mantida até os dias de hoje, possa ter tido origem nestas raízes de aparente
“identificação” de povos e “libertação” do jugo Romano. É que por lá também
havia relativamente recentes raízes celtas.
c) Invasão Árabe e as diásporas judaicas – 711 - 1492
A diáspora judaica
iniciou-se em 70 DC depois que o Império romano – Imperador Adriano - expulsou
o povo judeu. Difícil de saber em que ano se iniciou a chegada ao território
hoje ocupado por Portugal, mas sabe-se que em Lagos da Beira existem inscrições
funerárias judaicas datadas do século VI, ou seja, antes da invasão árabe. O
povo judeu acomodou-se preferencialmente no Norte de Portugal onde deu origem
aos marranos.
A invasão árabe iniciou-se
em 771 DC, quando Táric e suas tropas islâmicas atravessaram o estreito de
Gibraltar[8]. A
invasão ficou consolidada quando Táric venceu o rei visigodo Rodrigo (origem
dos Rodrigues) na batalha de Guadalete. Uma parte da Península resistiu, no
reino das Astúrias, cuja fronteira correspondia ao que hoje é a parte mais a
nordeste de Trás os Montes[9], com
sede em Toledo. Pelágio inicia a longa reconquista da península vencendo as
tropas muçulmanas na batalha de Covadonga em 722. Em Portugal a guerra de
reconquista terminou em 1253 DC com a conquista de Silves. Na Espanha somente
em 1492 com a reconquista de Granada.
Uma outra diáspora judaica
deu-se em 1492 [10]quando o povo judeu foi expulso da Espanha depois de perseguições injustificáveis, incluindo
mortes ás dezenas de milhares –como mais tarde aconteceria na Alemanha de
Hitler de 1939 a 1945, o holocausto. Acossados, perseguidos, espoliados, foram
acolhidos por D. João II que também os perseguiu e escravizou[11]
por solidariedade aos reis católicos de Espanha e à Igreja Católica. Crianças de 2 a 10 anos eram retiradas dos
pais para serem criadas por famílias cristãs. Na verdade uma “limpeza étnica”. Isto
se repetiria mais tarde no governo de D.José I através do Marquês de Pombal.
Também na verdade, atendiam dois fatores: as diretrizes da igreja, e a
oportunidade da encampação de bens.
Fornelos não estava á margem
dos acontecimentos. Árabes e judeus transitaram e se estabeleceram na região por
séculos, deixando registros inconfundíveis nos sobrenomes de família, mesmo
quando foram obrigados a trocar seus próprios nomes para os substituírem por
outros autóctones da região. Escolheram para isso nomes de árvores que dessem
fruto, tais como pereira, nogueira, oliveira, dentre outros. Eram os cristãos
novos. Para manter um pouco as raízes como resistência, os homens costumam
ajoelhar com apenas um joelho nos templos cristãos. Bebem água com apenas uma
mão sem fazer concha com as duas. Raramente usam a água benta. Matam os animais
para alimentação exaurindo o sangue e causam a menor dor possível ao animal. São
pequenos indícios inconfundíveis de milênios de tradição.
Como herança genética[12],
o povo judeu deixou em Portugal e Espanha uma descendência tal que 20% dos
habitantes têm sangue judeu e de sangue árabe e berbere, 11%. Isto é marcante,
porque apesar da invasão árabe é maior a carga genética judia.
d) independência de Portugal e os forais – Vila Real.
Vila
Real recebeu Foro de cidade no Reinado de D. Dinis em 1289 - século XIII, em
"Terras de Panóias”, denominação que já vinha antes do tempo da romanização
- século I e até início do século III. As vastas "Terras de
Panóias" tinham um núcleo central em Constantim (há duas Constantim: Uma
em Miranda do Douro e outra que agora é um bairro industrial de Vila Real -
isto nos dá a amplitude da vastidão das "Terras de Panóias").
Sobre o núcleo de Constantim (no espaço em que agora se situa Vila Real), sabe-se que era pouco visitado por D. Afonso Henriques - o fundador de nossa nacionalidade - por ser uma zona de constantes invasões mouras, o que lhe atrasou a concessão de Foral até 1289.
Sobre o núcleo de Constantim (no espaço em que agora se situa Vila Real), sabe-se que era pouco visitado por D. Afonso Henriques - o fundador de nossa nacionalidade - por ser uma zona de constantes invasões mouras, o que lhe atrasou a concessão de Foral até 1289.
(Continua)