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terça-feira, 16 de outubro de 2012

Os três mundos paralelos em que vivemos



Os três mundos paralelos em que vivemos


Costumamos viver nossa vida seguindo como que lendo sempre o mesmo capítulo de vasto livro em que cada capítulo é um tema, um assunto. Temos uma certa tendência a olhar apenas para o mais imediato, o mesmo grupo de amigos, percorrer as mesmas ruas, o mesmo bairro, cercados por nossas preferências que se transformam em hábitos, padrões. Passamos sem ver, sem sentir, muitas vezes sem saber o que se passa fora desse capitulo do livro da vida, de nosso “círculo” pessoal. Em passeios ao exterior do Estado, da nação ou do continente vemos a paisagem, apreciamos as comidas, as bebidas, e isso basta porque que coisa outra poderia interessar nesse momento de deslumbramento?

E o mundo que vemos desta forma, não é o mundo real. É apenas uma parte sem a mínima importância para o universo, o mundo, a nação, o clube, o partido político, a igreja, a empresa, e muitas vezes a própria família ou grupo de amigos. Ver o mundo total completo significa sofrimento, perda do prazer, incomoda, entristece, dói. Mostra-nos nossa impotência e incompetência para mudar o que se consolidou ao longo de milhões de anos, sempre em evolução, mas sempre também com os mesmos problemas. Quando desejamos que nosso prazer continue, algo acontece que o interrompe de forma temporária ou definitiva mas, quando pensamos desconsolados que precisamos do prazer, ou o buscamos e encontramos, ele vem de surpresa ao nosso encontro. E nem sempre! O mundo total, completo, só faz sentido se visto em seu conjunto: O mundo da luz, o da consciência e o das trevas. Os três correm em paralelo, exceto quando se encontram de forma definitiva, quase sempre de forma abrupta, de repente.

O mundo da luz

É iluminado, deslumbrado, vê-se a cada minuto, mas nem todos nele podem caminhar, o que é motivo de contemplação dos que podem, por se acharem privilegiados. Só o vê quem está bem consigo mesmo, seja rico ou pobre, e isto depende da ambição de cada ser. Há alegria neste mundo, as pessoas sorriem, nada parece ameaçar a continuidade da alegria, do sentimento de bem estar, nem mesmo guerras, falecimentos, perdas de qualquer tipo, porque o futuro parece não existir ou estar muito, demasiadamente longe. É o chamado “estado de graça”. Dão-se conselhos aos que sofrem, aos necessitados, sem, contudo, nos vermos na própria pele dos sofredores e necessitados, e costumamos dizer que “somos abençoados por Deus” e amamos ainda mais a religião que professamos, porque seria através dela que conseguiríamos alcançar esse estado de graça. Distribuem-se roupas velhas pelos necessitados reciclando lixo que já incomoda, mas não se vai a um shopping comprar-lhes roupas novas. Dão esmolas de centavos, mas pagam dízimos a igrejas. Não deixam entrar pobres nos templos porque lhes deteriora a imagem.  O perfume e cheiro de lençóis de linho passados conforta o dormir e o despertar, ainda mais se o pijama for de seda. Filhos lindos e sossegados, fazendo-lhes a vontade, educados e formados, são bálsamos no mundo da luz. O mundo da luz desfila em carros por ruas entupidas, faz demoradas compras em shoppings, tem motorista, porteiro e empregada subserviente como patrícios tinham escravos fiéis e confidentes. Há nuvens de escuridão de dia e de noite, mas não são suficientes para ofuscar a luz. A consciência diz que amanhã se resolve, que amanhã se repara, que amanhã é outro dia. Há comida farta na geladeira e se não trocar de carro neste ano, no próximo terá um novo. Mendigo na rua é um problema do Estado e graças ao seu deus particular, não precisa pedir esmolas, mas é o que faria um dia, porque mendigos recebem muitas esmolas e não precisam da sua. Continuará votando nos candidatos do mesmo partido, sem questionar seus atos, porque é graças a eles que tem trabalho, e dos motivos que a maioria reclama não conhece o que isso seja. Por vezes sabe porque já teve algum desses problemas, mas já esqueceu para não sofrer e os benefícios compensam. Quem precisar que aja do mesmo modo. Nada precisa ser mudado no mundo da luz, talvez apenas alguns pequenos ajustes para melhorar a sua vida particular. Não diferencia um lá de um mi, não reconhece um compositor de outro, mas escuta músicas clássicas e vai ao teatro assiste a uma peça ou outra pela propaganda, porque quando lhe perguntarem se já a assistiu, dirá que sim e dirá até o que fez antes e depois da peça: Foi comer uma sopa naquele restaurante famoso. Acreditamos nas verdades que nos interessam.

No mundo da luz, dinheiro só é problema porque sente necessidade de gastar mais e por isso precisa ganhar mais, numa corrida sem limites, com pequenas metas pelo caminho até chegar nem sabe onde, mas certamente até onde puder. No mundo da luz perdem-se amigos, mas novos surgem entre almoços, jantares, encontros, conivências, identidades de momento. Os que ficam pelo caminho de certo modo se perderam e já não lhes merecem a amizade. Frases e promessas tiveram seus motivos para serem esquecidas, são relevadas para o fundo dos arquivos do esquecimento. Tudo o que é bom se louva e não se faz, porque geraria sofrimentos e provações que de momento, com tanta luz, seria até idiotice perder tempo com isso. As dores dos amigos merecem uma visita ao hospital, uma atenção, mas coitados, tinham sua hora marcada com a vida e a viúva e os filhos certamente encontrarão uma forma de sobreviver. Não há muitas dores no mundo da luz que durem mais do que uma volta da terra em torno de si mesma. Um tempo que se pode controlar neste mundo de luz. A luz ofusca e não deixa ver.



O mundo das trevas


Neste mundo paralelo apenas se vislumbra a luz por breves instantes, quando há a necessidade do atrevimento em atravessar o mundo da consciência para chegar até o mundo da luz. Alguns já nasceram nesse mundo de trevas, mas a maioria caiu nele, de repente. Uns dizem que seu deus os desamparou, outros que a vida é assim, outros ainda não têm consciência do que aconteceu. Alguns se atribuem a culpa pelas ações ou omissões em sua vida, mas são raros estes e já não há tempo para a recuperação, salvo casos isolados.

Não há luz neste mundo, nem é visto pelos do da luz. Fica oculto em hospitais, em asilos, em camas não compartidas, em valas e abrigos invadidos por exércitos, em casebres com esgoto a céu aberto e sem água potável, em prisões sem controle de direitos humanos onde se promove a promiscuidade como pena adicional, em lares onde se discute o dia inteiro buscando motivos para a discussão do dia seguinte, em escolas onde se persegue como forma de afirmação com costumes arcaicos que não se abandonam porque pensam fazer parte da seleção natural física e não de inteligência. Não há luz no mundo das trevas cercado de dor, sofrimento, emplastros de sangue que lavaram do corpo as feridas que não fecham, que não se curam, num mundo de gritos sufocados por poderosas anestesias que não impedem a consciência de que algo chega ao fim sem visitas, sem acompanhantes, melhor que nem aparecessem quando chegam com palavras que deveriam ter sido antes, quando ainda estavam no mundo da luz, sem nunca, nunca, dizerem as verdades que deveriam ter sido ditas. Deste mundo fogem porque incomoda e ofusca o prazer de viver na luz, de forma despreocupada, porque já são muitas as preocupações para viver suas próprias vidas.

No mundo das trevas pairam as pesadas e negras nuvens do esquecimento, entre sons escutados como se de longe atestando que não há forma de voltar no tempo, evitar as trevas, curar-se dos males das trevas. Dante e seu inferno, enquanto no mundo da luz a vida corre entre expectativas de um resultado de um jogo de futebol, de um novo desfile de modas, uma nova canção, as férias que se aproximam, o carro novo na garagem, comprar vinhos e queijos no supermercado para convidar os amigos para um bate papo, uns goles de alegria e esperança no amanhã. A enfermeira tem uma cruz vermelha no peito e isso é sinal de que se foi atingido por bala inimiga, e das que não têm cruz vermelha nem verde nem azul, sinal de que o mundo da luz se afastou ou foi afastado sem garantia de voltar a ele ou, ainda, de que na prisão a revolta por maus tratos gorou, houve luta e o mundo das trevas ficou definitivamente negro. Há quem viva no mundo da luz, vendo a luz e não podendo ter-lhe acesso. Drogam-se para esquecer que há luz, ali ao alcance da mão, mas que lhes é impossível alcançar. Outros enganam seus estômagos dia após dia, envoltos em sombras, até que desfaleçam e sejam esquecidos em hospitais onde há outras prioridades para serem atendidas. No mundo das trevas o individuo é um ser, como outra vida qualquer, por cujo mundo de luz se reza no mundo que a tem, entre benzeres, cânticos, promessas, que não se cumprem porque sem estas necessidades de pedir pelos outros, mesmo a deus, não se redimiriam as omissões do mundo da luz. Este, deixa que exista o mundo das trevas, de forma proposital, para que possa ter a oportunidade de rezar, benzer-se, pedir a deus pela salvação do mundo das trevas e assim se considerar uma pessoa boa, religiosa, credível, que terá um lugar no Xeol, no céu, no paraíso ou á direita de deus. No mundo das trevas não há esperança de que se faça algo para mudar, para abrir um caminho entre os dois mundos passando pelo mundo da consciência. O mundo da consciência é mais doloroso do que propriamente o mundo das trevas, porque põe a nu as nossas indecências, as nossas fraquezas, os nossos erros. Faz-nos sentir excrescências, nadas que em nada de útil contribuíram para unir todos estes três mundos e dar-lhes novo futuro.
No mundo das trevas, a vida está por um fio ou por uma corda, mas bambos, indecisos, sem futuro de esperança e que se podem romper a qualquer instante. Nada mais se pode fazer, nem há condições para isso. O relógio do tempo está à beira de parar. Neste mundo as esperanças ficaram no outro, o da luz, e no mundo da luz, só há esperanças de milagre porque não se pode perder tempo para mudar nada que está tão conveniente. No mundo da consciência sabe que existem dois mundos: o da luz e o das trevas, o primeiro ao qual se dedica a existência, o segundo do qual não se quer saber para que não se jogue sombra sobre o que se vive em meio a raios de luz que iluminam quem está vivo, anda pelas ruas, se mostra em telas de celulares e aparelhos de TV... A vida continua. A escuridão ofusca e não nos desperta a vontade para ver.


O mundo da consciência
  
É o mundo da sabedoria. Um mundo maravilhoso, um laboratório de soluções. Não é um mundo político, sequer religioso ou de algum time de futebol. É a ponte entre o mundo das trevas e o mundo da luz. É preciso muita coragem, determinação para entrar neste mundo, no qual não se entra levianamente do dia para a noite. É preciso uma preparação que pode durar anos, uma vida inteira. Neste mundo nada assusta. Nem o que vem do mundo da luz, nem o que vem do mundo das trevas. É um mundo sem subterfúgios, sem desculpas, de análise. Se tiver coragem, vontade e determinação, entre nele, e estude a essência das coisas que vemos, sentimos. Leia tudo, saiba sobre tudo. Terá que deixar o mundo das aparências e dos sorrisos treinados para agradar... Não há professores no mundo das trevas nem do mundo da luz que possam abrir o mundo da consciência a alunos que não queiram entrar nele. Do mundo da consciência, uma vez que se entra, nunca mais se sai, a não ser para breves incursões num e noutro, enquanto houver esperança de ver e a esperança ainda fizer a vida. Aqui, no mundo da consciência se faz a verdadeira vida, sem concursos públicos, sem exames, sem indicação de gente influente. Tudo depende do que se aprende no mundo da luz.

Rui Rodrigues

sábado, 13 de outubro de 2012

Portugal - Como sair da crise de 2008



CRISE EM PORTUGAL


Portugal – Como sair da crise de 2008

Estamos no final de 2012 e a crise ainda rói a economia portuguesa, as instituições, as famílias, e agora o estomago. Precisamos sair dela. Mas como?

Em primeiro lugar precisamos admitir certas coisas, mas a mais importante é que somos corruptos ou indiferentes à corrupção. Sem admitirmos isto nada muda. Quem nunca usou de influência para ser atendido numa clínica médica, para ganhar um posto de trabalho, aprovar um projeto na câmara municipal, passar à frente numa bicha, ser promovido (a) no emprego? Ora, se é isto que queremos ser, na verdade corruptos, então não necessitamos mudar nada, e quem mais puder, mais terá. Porem, se pelo contrário somos contra este estado de coisas, então temos que mudar para um regime político que permita a vigilância popular sem, contudo, perdermos o sentido do que é realmente uma democracia. Muitos regimes políticos já se disseram “democráticos” e até a Alemanha Oriental chegou a intitular-se “República Democrática da Alemanha”, mas quem viveu lá sabe perfeitamente que o que não existia, de todo, era democracia. Stalin dizia que governava o povo e que isso, sim, é que era regime democrático, mas a URSS já não é comunista. O comunismo não funcionou. Dizem os governos capitalistas que são democráticos, e são, completamente, tal como entendemos a democracia, por falta de exemplos de uma verdadeira democracia, aquela em que o povo é ouvido todos os dias e não esporadicamente ou constitucionalmente de quatro em quatro anos ou de cinco em cinco. E o capitalismo está demonstrando que pode devorar mentes e estomago de forma tão eficiente quanto o comunismo de Stalin. Monarquias já demonstraram que ou são absolutistas, ou pouco liberais, ou de conveniência.

Para sair da crise econômica e de tradição do que se entende “governar” e democracia, é necessário que se utilizem largamente os dispositivos e mecanismos modernos colocados à nossa disposição: a Internet e as redes sociais. Só para reclamar? Seria muito pouco. As redes sociais e os celulares podem servir para muito mais do que isso: Para votar!

Podemos votar em tudo o que quisermos sem necessitar que “representantes” em sua maioria corruptos, nos representem fazendo o que querem e muito mal entendem sem que tenhamos – hoje – um dispositivo legal que nos permita tirá-los de onde os pusemos por equivoco, porque nos enganaram. Contar que um dia aparecerá governante que nos atenda, é como jogar na totoloto...Eles existem mas atendem apenas os amigos. Já se dizia no passado que “aos amigos tudo, aos inimigos a lei”, e contar com a sorte de se eleger um amigo que nos dê emprego, significa perder duas coisas a futuro: o amigo e o emprego.

Mas como mudar?

Sabemos que a Constituição que deveria governar o país e nos governar, é falha, porque permite e tem permitido o que vemos, o que sofremos a tudo que assistimos Precisamos de outra Constituição que atenda a vontade dos cidadãos. Alguém tem que alinhavar uma nova Constituição nesse sentido e fazê-la votar por todos os cidadãos interessados em votar, item por item, tirando dos governantes o poder que têm de decidir sozinhos sem nos consultar. Uma constituição que só possa ser alterada mediante consulta popular e não por decretos, todos urgentes, todos convenientes. Um bom exemplo que pode servir de base é a constituição da Suíça ou da Islândia, Noruega, Suécia... Lembremo-nos que já não somos uma potência mundial, D. Sebastião não voltará nem em manhã de nevoeiro, Cristo ressuscitado talvez daqui a uns milhões de anos, Pai Natal só em cinema ou representado por nossos pais. Duendes também existem, mas em peças de teatro e cinema. Somos portugueses e sempre mudamos o que não gostamos para conseguir o que queremos desde nossa independência em 28 de junho de 1128 após vitória na batalha de S.Mamede. Basta fazer as contas para vermos quantos anos perdemos a reclamar sem conseguirmos honestidade de nossos governantes. Estamos em 2012 em meio a violenta crise.

Sem uma nova constituição não se muda absolutamente nada! E teremos os mesmos perfis de políticos que nos abraçam e nos dão apertos de mão e tapas nas costas apenas em campanhas políticas. Depois fazem o que querem, como querem, quando querem. Nós também queremos e podemos querer e ter.

Sobre Democracia Participativa, existem muitos sites na NET emitidos em várias línguas. Recomendo este: http://conscienciademocrata.no.comunidades.net/

Rui Rodrigues

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

O Brasil de hoje - Uma opinião sem muita filosofia



Jogando com o mundo

O Brasil de hoje - Uma opinião sem muita filosofia

Nunca esperei que me dessem alguma coisa, mas sempre desejei que me dessem algo, porém desconfiando sempre de quem me oferecesse algo sem que eu tivesse demonstrado o correspondente desejo. Por isso vi passar o tempo da vida ao lado do meu tempo de vida. Caminhos paralelos, mas sempre que possível, independentes. Por isso nunca dependi muito dos outros. Vi no mundo erguer-se a cortina de ferro e a cortina de bambu, e vi quando se fecharam. Vi levantarem o muro de Berlim e vi quando foi derrubado. A guerra do Vietnam começou e acabou. Cuba fez uma revolução que dura até hoje  e implantou o comunismo, mas vi que dos sessenta países que se tornaram comunistas, restam dois ou três e não se tem a certeza do quanto são realmente comunistas. Alguns anos depois da revolução cubana e das barricadas de Paris, quando o mundo se deslumbrava com a férrea vontade da juventude de mudar o mundo, assisti a uma revolução no Brasil, esta montada para libertar o Brasil daqueles que também o queriam libertar. Vi que tanto os libertadores de um lado quanto do outro, tentavam pela força – e sem perguntar ao povo se queria ser libertado ou que tipo de liberdade queria – atingir os seus objetivos. Eram objetivos deles, certamente, como se a sociedade brasileira, perfeitamente capaz não pudesse ou não fosse digna de ter opinião. Diziam de ambos os lados que os fins justificavam os meios. Poucos anos depois assisti ao 25 de abril em Portugal: “Estava bonita a festa, pá”, mas José Saramago já pensava em largar Portugal e ir-se embora da Pátria madrasta. Tanto de um lado do Atlântico quanto do outro, alguns “sempre os mesmos” alçaram-se aos mais altos postos do poder e, sensivelmente não mudaram nada de essencial. Quando caiu o muro de Berlim, pensei que o comunismo tinha acabado, mas veria mais tarde que, já bastante deturpado e sem aquele aparato dos dias da guerra fria, ainda existia no ânimo de alguns a vontade de nivelar as sociedades até uma pretensa linha de igualdade em que não haja diferenças sociais. Esqueceram-se que nestes casos o nível de vida tem que cair de forma abrupta e que logo o dinheiro se troca por “influências”, como em cadeias ao redor do mundo: Sem dinheiro, onde todos os presos são “iguais”, uns têm mais influência do que outros e passam “melhor” a vida na prisão. Qual não foi a minha surpresa quando ao final de um processo que durou quase cem anos – de 1917, ano da revolução russa, até os dias atuais – constato que o mundo mudou para o que o ocidente desejava, o capitalismo, mas que, a exemplo do comunismo e do socialismo, não libertaram ninguém, e mantiveram as populações no desconforto multimilenar de se verem angustiadas porque lhes falta dinheiro, empregos, saúde publica, segurança, ensino adequado, bons salários, razoáveis aposentadorias, infra-estruturas, mas, sobretudo dinheiro, por causa de estratosféricas porcentagens de juros sobre o capital, impostos sobre os ganhos, e em muitos países por filosofias religiosas que diferenciam de forma abismal a vida das mulheres da vida dos homens. Surgira o neoliberalismo econômico, a primavera árabe, o FMI, a crise de 2008.

E voltamos ao começo, à necessidade de mudar o mundo. O arrocho está muito grande, insuportável. Há riscos de revoluções populares, instabilidade política de Portugal à China, do Canadá á Argentina. Do Egito à África do Sul. Nossa humanidade é como um bando de crianças que acreditam em Papai Noel, em duendes, que no final do arco-íris há um pote cheio de ouro que não é guardado por exércitos bem armados, mas por inocentes, bobos e avaros duendes.

Desde os tempos da ditadura de Vargas que o Brasil vem desenvolvendo a sua industria, melhorando as leis, e para quem vê do lado de dentro e do lado de fora, está tudo arrumadinho, somos a quinta economia do mundo, tudo no seu lugar, exceto quando se sobem morros e se visitam cidades do interior, quando vamos na periferia das cidades e vemos esgotos a céu aberto, ou quando enfrentamos filas da saúde pública onde gente se amontoa pelos corredores, faltam remédios, morre gente na fila por falta de atendimento, transportes públicos antigos, decadentes, perigosos, polícia sem recursos e que não pode conter a contravenção nem os crimes, reservas florestais invadidas sem recursos para conter as invasões.  E medito sobre o que foi feito, com tantos trilhões recolhidos em impostos, ano após ano.  Não há como entender o fato de sermos a quinta ou sexta economia do mundo... Nem a Venezuela como o país de maior equilíbrio social, Cuba onde tudo são “maravilhas” desde a educação à saúde, ao esporte. Fico com a impressão de que tem alguém mentido, ou todos estão mentindo. Não posso entender a pasmaceira Argentina em torno da bela Cristina Kirshner, que controla saques em Bancos, países visitados por seus cidadãos, uma economia decrescente, visões delirantes de ingerência inglesa nas Malvinas. A América latina e estes paises não terão sucesso onde URSS e China falharam porque o mundo mudou, as sociedades mudaram, os anos 60 e seus ideais acabaram.

Vi ministros milagrosos da economia dizerem aos quatros ventos que o Brasil ia muito bem, como Delfim Neto, Roberto Campos, Funaro, Mantega, mas sempre com muitas dores de “crescimento”: Se num faltou mercadorias nos supermercados, noutro a inflação foi galopante na casa dos três dígitos, no outro confiscaram a poupança pública, no outro subiram os juros tão altos que 40% da população está inadimplente ou nos Bancos, ou na vida. Num governo em particular reduziram os salários ou impediram que fossem reajustados como sacrifício para o crescimento do Brasil. O Brasil cresceu, as crianças cresceram, mas come-se menos para economizar, os aposentados ajudam os filhos, os filhos ajudam os aposentados, quem não tem ajuda assalta, a China ainda vende barato, mas os comerciantes vendem como se comprassem quase caro. O Brasil vende as suas terras em forma de minérios, mas continua sem expressão de prêmios Nobel, de produtos manufaturados de alta tecnologia própria, e depende de pagar royalties para fabricar dentro das próprias fronteiras. Recentes fiascos de corrupção a nível de Congresso seriam motivos para reflexão e movimentos populares, mas sofre-se em casa, reclama-se nas redes da Internet e não passa disso: O povo está inebriado, anestesiado com o ”partidarismo fiel” como gambá que acabou de chupar o sangue do pescoço de uma galinha gorda. A propaganda do governo continua fazendo o seu papel, através de reportagens onde se usam palavras como ‘otimismo “, ‘desenvolvimento” e se dão notícias de pouca expressão que não causem impactos negativos sobre o moral da população. Medidas Provisórias a titulo de nada, restringem a transparência governamental para as obras da Copa e dos Jogos Olímpicos onde se investem trilhões de reais quando o pressuposto era de alguns bilhões. Com um mundo em recessão, incentiva-se a gastar, a aumentar produções e safras. Depois os produtores choram a perda dos investimentos por falta de mercado devido à recessão . Informaram que a nação estava cheia de vagas de trabalho, mas logo informaram que o nível nacional era baixo, calando qualquer reclamação de falta de empregos por sentimento de culpa, como se a culpa fosse do cidadão candidato a uma vaga de trabalho. Nunca a mídia teve papel tão importante na história da humanidade para solapar as reivindicações cidadãs. O Tsunami da crise de 2008 ainda não chegou ao Brasil e não há país algum aonde ela já chegou que possa afirmar que esteja controlada. O Brasil verá nos próximos anos o preço amargo da corrupção.

Na Grécia, Espanha, França, Portugal, e em todos os países da Europa há movimentos nas ruas, mas não têm nem meta nem rumo[1]. Sabem porque reclamam, mas não têm uma meta para dizer: Queremos esta filosofia de governo, porque todas as que conhecem já falharam.

Num mundo que parece sofrer de apatia cidadã, fico preocupado com os “rompantes” da humanidade, quando suporta tudo o que pode suportar dos governos e de repente, estoura como vulcão, inundando o mundo de artefatos bélicos, sangue pelas ruas, assim como acontece a quem vai ao baile na carruagem de abóbora e quando dá meia noite repara que está pobre, com roupas sujas e resolve, horrorizado, mudar a vida.

Rui Rodrigues

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

A princesa Maya e os duendes Gorubos .





A princesa Maya e os duendes Gorubos .

Os duendes gorubos viviam na terceira gaveta do terceiro armário da terceira sala do terceiro prédio da terceira transversal da terceira rua depois da casa da princesa Maya. Era lá que ficava a creche aonde ela ia todo o dia da semana - menos sábado e domingo – para se encontrar com seus irmãos de creche.

Os gorubos eram pequenininhos e só apareciam quando queriam. Eram muito brincalhões e usavam uns chapéus verdes, pontudos, e tinham orelhas muito grandes. Todo dia quando as tias não estavam na sala de aula os gorubos saiam das gavetas e gritavam:

- Pocupagaruba... Pocupagaruba!

E a as crianças começavam a fazer bagunça. Não ouviam nada, mas os gorubos tinham o poder de se comunicar com as crianças dizendo aquelas palavras mágicas. Às vezes a bagunça era muito grande, e a tia entrava na sala dizendo:

- Ai, ai, ai... Que é que houve aqui? Parece que passou um furacão... Comportem-se e toca a arrumar tudo... Quem começou esta bagunça?

E as crianças olhavam sempre umas para as outras, sem saber quem tinha começado. Elas nem conheciam os gorubos. Nunca os tinham visto. Não sabiam que eram os gorubos. Mas cada uma das crianças sabia que todas eram muito bem comportadas e que alguma coisa as tinha levado a fazer aquela bagunça toda. Todas reconheciam que a sala estava bagunçada, tudo fora do lugar. Então elas fizeram uma reunião para tentar descobrir o que as fizera mudar de comportamento.

Armaram um esquema: quando a tia saísse da sala, ficariam quietas, e cada criança procuraria num lugar para ver se viam alguma coisa. Procuraram no saco de brinquedos, abriram todas as gavetas, mas nada. Quando olharam à volta, estava tudo desarrumado. Claro! Tinham mexido em tudo e tinha que estar desarrumado. Então arrumaram tudo outra vez e ficaram quietas esperando a tia. Quando viu tudo arrumado a tia disse:

- Olha só...Que lindo.. Tudo arrumado.. Vou dar-lhes um presente. Vamos fazer uma festa ! Vocês querem?

Ouviu-se uma algazarra, as crianças gritando, ao mesmo tempo, que queriam, perguntando se tinha bolo, bolo de quê, quantos pedaços para cada uma, se tinha refrigerante e qual era.

Enquanto comia um pedaço de bolo de chocolate, a princesa Maya disse para a tia:

- Sabe, tia, nós não sabemos porque bagunçamos a sala quando a senhora sai da sala, mas estamos pensando que pode ser alguma coisa que nos faz fazer isso, mas só faz isso conosco, porque quando a tia está, não há bagunça.

- E o que você acha que é? – Perguntou a tia.

-Não sei! Respondeu a princesa Maya, mas vamos descobrir.

Muitos dias se passaram, com as crianças cuidando da sala para ver se viam alguma coisa que as fizesse fazer bagunça, mas não descobriram nada, até que certo dia...

Foi depois de um trabalho que tiveram que fazer em grupo, depois do recreio, e que a tia tinha passado para fazerem. Ficaram ainda mais cansadas e a tia lhes perguntou se queriam dormir um pouco para descansar. E as crianças se deitaram, e se prepararam para dormir, mas a princesa Maya lembrou-se de continuar a procurar o que é que fazia as crianças fazerem bagunça. E ficou atenta entre um cochilo e outro. Ficou com os olhos quase fechados, olhando à volta, escutando tudo, até mosquito voando ao longe. De repente, olhou para um raio de luz que passava por debaixo da fresta da janela. Havia algo estranho no raio de luz. Ele tremia e os raios de luz não tremem. Passam retos, sempre na mesma direção. Concentrou o olhar, levantou-se devagarzinho e foi olhar. Mas ao tocar no raio de luz, sem querer, ficou pequenininha de repente, e então levou um tremendo susto ao ouvir uma grande gargalhada.

Na frente dela estava um ser enorme que a olhava com curiosidade, Tinha um chapéu verde, pontudo, e as orelhas muito grandes.

- Quem é você? – perguntou séria a princesa Maya, logo que o susto passou.

- Eu sou um gorubo. Vivo aqui com meus irmãos e irmãs e viajamos a uma velocidade muito grande, á velocidade da luz, que é o que se move à maior velocidade no Universo... Universo é esse espaço imenso onde vivem todas as estrelas e planetas. Agora estamos neste seu planeta, que é a Terra. Como se chama?- perguntou o gorubo.

- Chamo princesa Maya, tenho três anos, olha – e mostrou três dedinhos para o gorubo - e sei contar até um dois três quarenta cem. Em inglês também! Conhece minha mãe?

- Conheço – disse o gorubo. E continuou... Como vivemos em raios de luz que correm todo o universo, e iluminam tudo quando se encostam nas pessoas e nas coisas, conhecemos tudo e todos do Universo. Estamos presos nesta gaveta porque há poucos raios de luz. E este raio de luz que agora está batendo em nós é muito pequeno para podermos sair daqui...

- São vocês que nos fazem fazer essa bagunça toda quando a tia não está na sala?

O gorubo foi apanhado de surpresa. Não contava com aquela pergunta... E respondeu: - É... É... Quando estamos tristes, na escuridão da gaveta, gritamos - Pocupagaruba... Pocupagaruba! Para nos alegrarmos...

(Ao pronunciar as palavras, os outros gorubos acordaram e começaram a gritar - Pocupagaruba... Pocupagaruba! As crianças da creche acordaram e começaram a fazer bagunça. Não viram a princesa Maya e começaram a chamar a tia)

Entretanto, um dos gorubos perguntou para aquele que estava falando com a princesa Maya, o gorubão: - É esta princesa que nos vai tirar da gaveta? E o gorubo chefe disse: Não sei, mas ela pode.

- Eu acho que posso, disse a princesa Maya, mas primeiro tenho que voltar a ser grande. Como faço?

-Isso é simples... Disse o gorubão, basta sair deste raio de luz.

A princesa Maya então se afastou do raio de luz e logo começou a crescer rapidamente. Com a mão, abriu um pouco a janela e a sala foi inundada pela luz. A princesa Maya ainda pôde ver os gorubos sendo levados muito velozmente pelos raios de luz a caminho do Universo ou de outra creche. Diziam adeus à princesa Maya, agradecidos e felizes.

Quando os amiguinhos da princesa Maya a viram, disseram:

- Olha... Olha... A princesa Maya está aqui... Onde estava você, que ninguém viu?

E a princesa Maya disse:

- Eu estava num raio de luz salvando os gorubos da escuridão da gaveta, mas acho que vocês não vão acreditar...

(E contou para eles e para a tia que estava chegando toda preocupada, o que lhe acontecera... Mas parece que não acreditaram)

Rui Rodrigues

(É bom nunca parar de sonhar. São sempre os sonhos que se transformam em realidades, jamais as realidades em sonhos...)

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Mulheres - Homenagem a Amy Johnson


 

As mulheres são a nossa alegria, proporcionam-nos os carinhos de que necessitamos para levar a vida de forma equilibrada e têm méritos sem fim, dentre eles, a construção e a evolução da humanidade, uma tarefa a dividir equanimente.

Minha homenagem hoje vai para Miss Amy Johnson – Pioneira da aviação britânica.    


Em 1930 fez o primeiro vôo “solo” da Inglaterra (Croydon) até a Austrália (Darwin) em apenas 20 dias – recebeu o troféu Harmon. O governo australiano concedeu-lhe  o primeiro brevê feminino.

Em 1931 com o co-piloto Jack Humphreys foi a primeira a viajar de London até Moscovo em aproximadamente 21 horas.

Em 1932 casou-se com o piloto escocês Jim Mollison oito horas depois de o ter conhecido durante um vôo que fizeram juntos.

Em Julho de 1932 voou de Londres até Capetown na África do Sul, quebrando o Record que pertencia ao marido.

Em 1933 volta a voar com o marido desde Pendine Sands na Gales do Sul (Reino Unido) até os EUA – Bridgeport – Connecticut.  Os dois se machucaram. Depois de se recuperarem desfilaram para o público americano na Wall Street.

Em 1934, voaram de Londres até a Índia como parte de um rali – MacRobertson Air race, mas abandonaram por causa de pane no motor. Pousaram em Allahabad.

Em 1936 bateu o ultimo Record de sua vida, voando de Londres para a África do Sul.

Em 1938 separou-se do marido com tanta dor que reverteu seu nome para o de solteira.

Em 1940 , em plena segunda guerra mundial, ela e o marido fizeram parte da ATA – que transportava peças de aviões no território inglês, sendo ela promovida a primeiro oficial. O marido não.

Morte de Amy

Em 1941, saindo com tempo adverso, e fora de curso, a gasolina do avião acabou em pleno vôo e embora seu pára-quedas abrisse,  caiu na bacia do Tamisa. Estava viva quando a viram, mas quando o resgate chegou seu corpo já não foi visto e nunca encontrado.  Sobre este  incidente há um mistério; O vôo era secreto e no avião viajavam além dela, dois sujeitos , Fletcher e um sujeito que supostamente ela deveria largar em algum lugar. Esse sujeito foi visto com ela na água, mas seu corpo também desapareceu. Em 1999, Tom Mitchell, de Coroados, Sussex, afirmou ter atirado porque Amy teria errado a cor do código do dia por duas vezes ( cor de identificação trocada todos os dias só do conhecimento da força aérea britânica). Tom Mitchell disparou então 16 salvas de tiro e o avião mergulhou na bacia do Tamisa, o que leva a supor que Amy, vista ainda viva, sucumbiu pelos tiros. Segundo Tom Mitchell, foi-lhe pedido pelos oficiais da RAF que nunca contasse o sucedido.

Rui Rodrigues


PORQUE O PT PERDEU AS ELEIÇÕES -2012






Há gente muito boa no PT. Conheço algumas. Mas...

O PT começou com Lula, um líder de sindicato, no ABC, com um grande sonho, sem instrução, jamais deve ter lido – ou lhe leram – Karl Marx, Lênin, Freud, Mao tse Tung, mais porque não se interessava por isso do que por falta de oportunidade. Nessa época Lula não era nem socialista nem comunista. Não tinha esses ideais, nem era esse o seu discurso. Nunca fez administração pública, era um sindicalista que se relacionava com os empresários e os trabalhadores. Era isto que Lula conhecia. Para fazer um governo, Lula precisava de alguém que soubesse tudo o que ele não sabia, e o que Lula sabia era extremamente restrito às relações sindicais. Lula queria ser alguém na vida como “nunca na história deste país” existira: Um “Zé ninguém” que chegaria à presidência da República. Iludido, o povo pensava que Lula queria mudar o Brasil tornando-o mais justo. Fundou o PT.

Um dia, quando participava em Cubatão da abertura de uma loja para que Lula fizesse uma reunião com o pessoal do PT, comentei com umas assessoras dele porque razão Lula não tomava posições mais agressivas em relação à ditadura. A resposta foi que Lula não queria esse caminho. Ele chegaria, devagar e sempre, sem violência, à presidência do Brasil e acabaria com as diferenças sociais. Fiquei impressionado.

Depois de duas tentativas em que perdeu para Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso, Lula chegou à presidência, sim, e nela ficou 8 anos. O que mudou em seu governo? Sensivelmente nada. Saúde pública deficiente, país sem infra-estruturas com esgotos a céu aberto, vilas e cidades sem água potável e sem energia elétrica ou com apagões ou faltas esporádicas de energia, ensino deficiente e limitado, falta de segurança pública, total descontrole da economia com os Bancos cobrando os juros que querem, as empresas de telefonia cobrando tarifas altíssimas e limitando o sinal porque vendem mais do que sua capacidade de sinal, gente morrendo em filas de hospitais, os maiores impostos do mundo e índices de corrupção que colocam o governo do Brasil no 75º lugar em honestidade moral e ética. Um desastre completo também pela mentira: Conseguiram convencer a população que a classe C passou a ser classe media. O resultado foi um consumo exagerado por parte desta classe C que deve a Bancos o que não pode pagar. O programa do Álcool e de produção, distribuição e consumo de combustíveis renováveis não decolou. Continuamos dependentes do caro petróleo. Não houve construção de novas vias de escoamento da produção, como estradas interestaduais, ou alargamento onde necessário, vias férreas e o transporte desses bens é caro. Os portos são ineficientes. As “reformas” que tanto foram usadas em suas campanhas nunca foram efetivadas apesar das alianças com outros partidos.

Na década de 60 o mundo ainda se questionava se o comunismo e o socialismo poderiam ser a solução para sociedades mais justas, com menos diferenças sociais. Lula não era comunista nem socialista nem nunca foi. Tal como Martin Luther King, “tinha um sonho”.  Tinha também plena consciência de sua ignorância e de que era um ‘sapo barbudo” tal como o definiu o falecido Leonel Brizola. Brizola sabia que Lula não era comunista nem socialista. Nessa época, e ainda com os ecos das barricadas de Paris na consciência e na emoção, estudantes contestavam a sociedade, os governos e a educação nos colégios e nos lares. Alguns desses entraram numa simbiose com alguns revoltados e fundaram movimentos contra a ditadura que logo foram vistos com simpatia pela sociedade em geral. Eu também. Vi em Lula alguém que poderia acabar com a ditadura, tornar o Brasil mais socializado, melhorar o que tinha que ser melhorado. Da mesma forma pensou um grupo de terroristas que, com o fim da ditadura se uniram a Lula. Eles tinham na bagagem o que Lula necessitava: Conhecimento e o dom de “fazer acontecer”.  Para desenvolver o PT Lula não podia unir-se a reconhecidos “capitalistas”. Por isso se uniu a elementos-simbolo da luta contra a ditadura, mas se por uma lado Lula os usou, estes usaram Lula para ascender ao poder. O fato comum a todos eles, incluindo Lula, é a sua incapacidade de lidar com o capital: São reféns fáceis de quem o tem e os pode usar. Por isso mesmo, apesar de Lula estar no governo e o Pt ser maioria, quem continuou governando o Brasil foram os mesmos que sempre o governou: Os que pagam as eleições e sabem fazer opinião e marketing. Com eles viajou para o exterior, como figura decorativa para lhes vender os produtos que fabricam no Brasil. Finalmente, necessitando de mais experiência em ações de assalto a fundos para financiamento de projetos, une-se a Paulo Maluf, julgado, condenado, preso e solto que agora faz parte da “base aliada”, da qual fazem parte também Fernando Collor que já sofreu “impeachment”, e José Sarney o rico político maranhense.

O PT ficou assim dividido em três “vertentes”. Lula queria a melhoria do social. A base guerrilheira queria a revanche sobre a sociedade que os rejeitara no passado, e a classe empresarial, agora engrossada pela aplicação de capital estrangeiro, queria a exploração do mercado.  Assim não se faz nada, não se muda nada.

A população sabe que Lula ficou rico. Que seu filho ficou rico. Que os aliados de Lula ficaram ricos. Sabe também do mensalão – a compra de aquiescência de parlamentares em troca de milhões de reais em pagamento - e essa população sofre na própria carne o alto custo de vida e de impostos sem retorno em obras e serviços básicos.

A população brasileira não é burra. A terceira vertente - a dos investidores em governos - os empresários e banqueiros também sabem disso, e resolveram que Lula já tinha dado o que tinha a dar e a tendência seria descer na opinião pública. Lula não fez o que prometeu apesar de tanto capital disponível. Começaram a financiar outros partidos. O PSB desponta agora e pode vir a ser o partido da vez. Provavelmente, e dependendo de sua administração nas prefeituras para as quais se elegeu, poderá ganhar as próximas eleições em 2014, porque a união do PT ao PSDB não agradou aos cidadãos, perdendo votos nas duas facções.  

O PT não morreu, mas está moribundo!

Nestas eleições, 22.000.000 de eleitores anularam o voto ou não votaram, e o PSB demonstra que veio para atingir a preferência nacional.  



Ou querendo se transformar no “partido sombra” que puxa os cordéis de outros partidos fantoches ou laranjas no cenário político. Pratica em desviar verbas públicas tem. 

Rui Rodrigues

CASO VERÍDICO NO JAPÃO





CASO VERÍDICO NO JAPÃO


Na ocasião eu fazia um trabalho para qualificação no mestrado em Artes na UNESP e minha dissertação era sobre Escola de Samba, que considero a Ópera do Asfalto. Comparava os ritmos das Escolas de São Paulo, que são acelerados, com as do Rio de Janeiro, que são mais lentos. Frequentava a Escola de Samba Rosas de Ouro, onde colhia elementos para minhas pesquisas. Ela foi a vencedora do carnaval paulista naquele ano e foi convidada a se apresentar no Japão. O presidente, saudoso, Eduardo Basílio,  convidou-me a integrar os componentes que iriam como convidados a se apresentar numa Festa das Nações em Nagoya, no Japão.


Sobrou me ir fantasiada de baiana, com muitos colares, desses comprados na Rua 25 de março, vistosos, baratinhos, de plástico ou de vidro.


Fizemos inúmeras apresentações e uma apresentação especial ao rei do Japão, com a presença de todas as autoridades locais, uma pompa, com uma plateia de mais de 5 mil pessoas! E cada japonês possui no mínimo duas câmeras fotográficas cada um... Imaginem...


Numa das voltas do desfile, ao passar em frente da comitiva real, o governador da província se levantou e veio até a mim e tocou num dos meus colares que brilhavam, quebrando o protocolo. Imediatamente fiquei ofuscada com tanto brilho de flashes, que espocavam de todo lado. Tirei um dos colares e coloquei no pescoço do governador. Ouviu se um OOOOHHHH na plateia. Foi tudo filmado e fotografado e manchete nos jornais do dia seguinte. Ele permaneceu com o colar até o final da nossa apresentação, que era a mais importante e esperada do festival, quando as autoridades vieram nos cumprimentar pessoalmente no final do espetáculo.


Havia um intérprete ao lado do governador, que veio entregar-me o colar e agradecer. Respondi que era um presente meu a ele e que não precisava me devolver. O intérprete insistia comigo e eu com ele junto ao governador. Ele então beijou-me a mão, agradeceu e se foi.


Na manhã seguinte recebi, no hotel, um lindo colar de pérolas marinhas, iguais, lindo, com um cartão do governador e uma mensagem do rei a mim... Tenho- os até hoje...


Aí me disseram: __Você deveria ter dado era um monte desses seus colares, Marlene!



Marlene Caminhoto Nassa


quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Pressões sociais hoje- A Partilha do Queijo



 A partilha do queijo

Marcelo de Finizzio, dono de um restaurante em Trieste, norte de Itália, subiu a 137 metros de altura, na cúpula de S. Pedro no Vaticano, para reclamar contra a decisão da Comunidade Européia de colocar em leilão todas as concessões junto á praia. Quem não vir nesta decisão da União Européia um atentado contra a iniciativa privada, nem precisa ler o resto deste artigo. Ao colocar em leilão, certamente donos de hotéis e de grandes empresas serão beneficiadas porque têm mais capital. É o mesmo que um dia resolverem leiloar todas as pequenas propriedades agrícolas para grandes multinacionais. O povo está sendo alijado da propriedade e transformado em mecânicos artesãos, trabalhadores braçais e de prestação de serviços, perdem (i)legalmente a propriedade. É um caminho perigoso porque esta ação da Comunidade Econômica Européia se junta a algumas outras ao redor do mundo compondo um quadro onde é visível o extraordinário poder do capital nos dias de hoje, que chega a sobrepor-se ao bom senso, à lei – obrigando-a a alterações - e como vemos, à vontade política dos cidadãos, e ao Estado de Direito.

Até cerca de trinta anos atrás as pressões sociais eram exercidas sobre os governos que eram obrigados a contemporizar, rever as suas posições. Hoje as pressões sociais perdem a força, porque se criaram mecanismos, no seio do poder, para amortecimento destas pressões sem necessidade de repressão física ou moral. O sucesso desta realidade são as leis, que em vez de serem aprovadas pelos cidadãos, são aprovadas ou rejeitadas por “representantes” dos cidadãos que estão comprometidos com os Partidos, não com os cidadãos. Os Partidos políticos servem a quem lhes paga as eleições. É o capital que lhes paga.

O desfalecimento quase instantâneo do comunismo ao redor do mundo, sem revoluções, foi a porta de abertura para a invasão do capital que tomou de assalto as empresas estatais fundadas com dinheiros de impostos públicos, vendidas em leilão pelo mundo afora. Dado o alto valor dessas empresas, eram poucos os concorrentes, o que se prestou à manipulação das ofertas. Era a globalização. Como empresas privadas visam o lucro, e com o lucro ampliar seus negócios, em reinvestimentos contínuos, podemos antever o que sucederá a seguir: A queda do padrão de qualidade, o aumento do custo de vida, o empobrecimento dos serviços públicos. Mas antes que continuemos, que fique claro que o comunismo e o socialismo também não fizeram melhor. É necessária uma democracia participativa se os cidadãos desejarem mudar estas tendências.

Sobre como os grandes banqueiros do mundo se apoderaram das verbas públicas já foi fartamente discutido neste site em alguns artigos específicos, o que contribuiu para a queda do emprego público e a qualidade dos serviços, e, portanto, aumentou a pressão social que os governos tentam controlar.

A prévia abertura de Shoppings que centralizavam o comércio de bens de consumo diminuiu drasticamente o faturamento de muitas lojas de pequenos empreendedores e investidores, e do comércio de bairro, e foi certamente o sucesso destes empreendimentos que gerou a perspectiva da aglutinação de pequenos negócios em mãos de quem tem o capital para comprá-los. Como os donos não querem vender, o que parece óbvio, faz-se necessária, por parte do capital, a implantação de medidas emanadas de governos para legalizar o que antes parecia um atentado à propriedade. Aparentemente, vemos um comunismo capitalista agindo sobre populações democraticamente agora comunistas na divisão das migalhas que vão sobrando da mesa do capital. E cada vez sobram menos migalhas, como enorme queijo que seria o comercio mundial, sendo comido por ratos, cuja comilança tem um limite: o número de ratos e o tamanho do queijo, sinal de que um dia, não se sabe quando, o queijo acaba e os ratos morrem. É um alívio saber disso, que a impunidade não dura sempre. Já aconteceu isso com as teocracias, com as realezas, com o comunismo, e acontecerá certamente com o capitalismo. O mundo evolui rumo a caminho incerto.   

Repare-se, por exemplo, nos deficientes serviços de telefonia, mesmo em banda larga: Pode reclamar à vontade que não será completamente atendido, porque os juízes são pagos pelo Estado, as leis são permissivas e dúbias, por vezes prolixas, a burocracia cansa o cidadão e custa caro, perde-se tempo que é necessário para não faltar ao emprego e ganhar o seu salário. Experimente reclamar sobre os serviços de energia elétrica ou sobre o custo da água, ou sobre a falta de serviços de infra-estruturas... Nada diferente, e as esperas e deficiências para consultas e intervenções em hospitais públicos ou em clinicas associadas a planos de saúde, segue o mesmo processo de frustração pela impotência em resolver estes atentados à justiça e ao bom senso do que se entende por democracia.

Estradas construídas sob contrato para durarem tinta anos, não duram cinco com transito normal, e para não interferir no “lucro” das empresas rodoviárias de transporte, não há balanças nas estradas para fiscalizar o peso dos caminhões, que, como se sabe, com carga em excesso diminuem a vida útil de pontes, estradas, ruas, barcaças de transporte e podem causar desastres com perdas irreparáveis. Podem implantar reservas florestais à vontade, mas alegando falta de recursos alocam meia dúzia de fiscais e um par de viaturas que usam até ponto de sucata para vigiar essas áreas por vezes imensas, o que lhes provoca a invasão e a deterioração, e torna inócuas as leis.

E são muitos os exemplos ao redor do mundo que cada cidadão, ao ler este artigo certamente se lembrará de imediato por lhe afetarem seriamente a vida. Uma vida que se irá deteriorar ao longo da próxima década se equilibrará e permanecerá estável por pelo menos uma centena de anos. A menos que haja movimentos mundiais mudando esta tendência. Antigamente dizia-se que a humanidade cuidava do futuro de seus filhos, mas com o decréscimo da natalidade – porque o custo de vida e o trabalho não permitem ter e cuidar de filhos – é possível que a humanidade escolha simplesmente viver o momento, a vida, e assistir calmamente os ratos comerem o queijo, devidamente protegidos por alfarrábios de novas leis, polícia com ares de exército, exército com ares de cavaleiros apocalípticos, enquanto toma a sua coca-cola, come um hambúrguer gorduroso, mas saboroso, assistindo a um show publico pago a peso de ouro pelos poderes públicos com o dinheiro dos cidadãos.

Não temos ainda um consenso sobre este novo capítulo das eras da humanidade, algo parecido com uma séria revolta do capital contra as limitações do Estado de direito. O povo não tem a mínima participação na escolha de seu destino.E incrívelmente, são os ratos que nos montam armadilhas.



Rui Rodrigues

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Fotografia de um segundo no tempo



Fotografia digital de um segundo

Do instante zero até o final do tempo de um segundo, registrei:

Uma gambá esfomeada que escolheu o meu telhado para ninho, passou pelo jardim comendo os restos de verdura que lhe deixo por amor e consideração, não por pena; O funeral de Hebe Camargo estava cheio de fãs, tristes como eu, que provavelmente não pensaram nos milhões de doentes com a mesma doença, porque os investimentos e as despesas pessoais e dos governos se concentram na mídia que dá fama, e outros devaneios, e não em centros de pesquisa que possam curar; Na TV ouviu-se um tiro, e um personagem caiu morto, como tantos outros personagens que nos reportam para a via real: Mais real do que as fantasias do cinema, que até já não o são; nunca mais vi minha mãe depois dos quatro anos e ela faleceu de câncer quando eu tinha dez anos, e nesse tempo todo, que hoje estou com 67, o número de casos aumentou, as mortes tanto quanto isso; nos EUA há eleições para não mudar nada, porque republicanos são democratas e os democratas são republicanos; lamento muito que minha gata tenha sido castrada, porque é linda e amiga de verdade, e seus filhotes provavelmente também o seriam; o Papa do Vaticano vê o mundo em guerra e visita países onde não há guerra, fala uma vez por ano conclamando á paz, mas é uma andorinha parada que não faz verão; minha gata não sabe o que são preocupações mas olha, perscruta, cuida, cheira tudo, cuidando do que para mim não é importante, mas que ela julga que é, e me lembrei do povo nas votações atuais para prefeitos e vereadores, cuidando do que não importa, como frases vãs, beleza dos candidatos, matando formigas com os pés, tigres e jacarés passando em suas costas por propaganda que desvirtua; ouvir as ondas do mar que chegam até aqui, imaginar veleiros, mares cheios de peixe, águas límpidas de séculos atrás e o quanto se descuidou do asseio do planeta que as florestas desapareceram, os mares se poluíram, os rios carregam águas pútridas, o ar causa cânceres, os alimentos matam; em algum lugar de S. Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Porto Alegre, por exemplo e neste instante, pessoas são mortas por traficantes, bandidos assaltam bancos e casas comerciais, o governo dá desculpas e não resolve, mas quer que se reelejam os mesmos de sempre ou outros treinados que serão iguais aos de sempre; uma de minhas aves, coisa estranha que nunca vi, não bota ovos, nem canta de galo, não sei porque razão, mas merece todo o respeito das outras aves, porque o deixam comer sem interferir, os galos não o montam e não consigo rir porque dá no que pensar; e meu filho em Barcelona numa época de crise, a Catalunha querendo separar-se da Espanha com toda a razão, o resto da família está bem; o povo sírio sendo dizimado por um ditador e por questões que se desconhecem por completo, China e Rússia vetam intervenção em nome de uma legalidade ilegal, fruto de suas próprias convicções de que o povo, haja o que houver, tem que ser irrestritamente fiel ao governo mesmo que este o mate; nunca vi ou senti que minha gata soltasse um peido, coisa incrível, porque cachorros peidam e seria natural que gatos e gatas também, ou então, a minha é muito dissimulada; Já foi o tempo em que os galos cantavam por volta das cinco horas da manhã para despertar, quando havia sinos de igrejas mas agora sem igrejas, sem sinos, cantam a qualquer hora por falta de referência; a fornecedora de energia, a AMPLA, hoje, e só hoje, ainda não falhou com a energia elétrica senão teria perdido a vontade de escrever estas linhas, e a VIVO, que me permite enviar bytes pela NET voltou à velocidade razoável, quase nunca conseguida, porque o sinal é deficiente nesta localidade; Sarney continua lá ganhando uma exorbitância e o país nem por isso melhora onde como e quando deve e pode melhorar; com igrejas que não têm sino e sem sinos que já não se colocam em igrejas, meu galo canta a qualquer hora, mas não será por isso que o mandarei para a panela; quando eu morrer não quero choro nem vela, quero uma fita amarela gravada com o nome dela.

Rui Rodrigues
Das 02:40: 50 às 02:40: 51

12- O ser humano e a humanidade



12 – O ser humano e a humanidade


Hoje não fui à praia. Estava chovendo e resolvi ficar em casa. Pensava como é costume, no modo como as sociedades se relacionam entre si, buscando respostas para a conturbada história da humanidade. Tal como todo mundo que se preocupa com a própria existência e das sociedades em que vive. Filósofos, paleontólogos, sociólogos, escritores, poetas, parece que todos vivemos em torno destas questões. Como sempre, se Deus não me der as respostas eu mesmo não serei capaz de encontrá-las. Com o barulho da chuva no piso exterior á casa e nas folhas das árvores balançadas pelo vento, comecei a escrever.

A humanidade, conjunto de todos os seres humanos, li em vários livros de ciências e em livros religiosos, começou há milhões de anos, e segundo as mais recentes estimativas científicas, há cerca de 4,2 milhões de anos mais exatamente. Os livros sagrados dizem isso também, não com a mesma exatidão, nem com a mesma riqueza científica de detalhes, porque seus textos foram escritos há muitos séculos e nada se conhecia da verdade, no que pese a afirmação de que os livros foram escritos sob inspiração divina. A ser assim, Deus não poderia enganar-se nos detalhes. Provavelmente os que começaram a tradição oral que deu origem aos livros se equivocaram, e muito, quanto á origem da humanidade, quer na forma como se iniciou, quer nos métodos e detalhes em que evoluiu. Sintomático de que não entenderam a inspiração divina reside no fato de que cada sociedade entendeu o Criador de forma diferente, levando nações a guerras sangrentas, algumas das quais ainda não acabaram, estando apenas ligeiramente adormecidas e latentes. Cada nação afirma que seu Deus é mais poderoso e melhor do que o Deus das demais. Sendo único, ou nenhuma entendeu Deus, e então Deus será um tanto ou quanto diferente de como O imaginam, ou trata-se de algo difícil de adjetivar sem pecar pelo politicamente correto.

A ter Deus criado o homem – e a mulher – à Sua natureza, teríamos um Deus realmente muito complicado, porque é assim que se apresenta a humanidade na forma como tem agido ao longo desses milhões de anos. Parece ser mais eficiente e verdadeiro pensar que o homem, e a mulher são fruto de uma natureza criada por Deus que lhe deu um impulso inicial permitindo a vida e a evolução, de tal forma que um planeta “Gaia” como a Terra, se auto-sustenta não importando que espécie herde a sua superfície, os mares e os ares. Assim, homem e mulher, fruto de uma evolução permitida pelo Criador, são autônomos e independentes para escolherem os seus próprios caminhos.

Basicamente a humanidade vive num relativo equilíbrio dividida em nações, cada uma com suas próprias características idiossincráticas, perpetuadas por séculos de tradições, crenças, costumes, características genéticas.  Cada nação, por sua vez, pode apresentar várias etnias, ou sociedades diferenciadas em função da evolução regional. De modo geral cada nação se divide em sub-regiões com seu próprio governo mais ou menos autônomo, governado o conjunto por um governo central. As leis regionais e as gerais mantêm um nível de ordem que se destina não só a atender as exigências do governo central e regional, como a promover o bem estar social geral.
Mas de modo geral, vemos que ao longo da história têm sido muitas as divergências entre as sociedades e os governos, e entre as nações entre si mesmas. São muitas as causas de tais divergências nas particularidades, mas sempre fundamentadas na religiosidade, na economia, ou na pressão governamental sobre as populações. Uns atribuem a culpa aos governos, outros às sociedades. Aos governos porque tomam decisões equivocadas, ás sociedades porque não escolhem bem os seus governos ou a eles se submetem sem reclamar. As religiões que raramente falam da vida no planeta, preparando os fieis para a vida do além, influenciam as respectivas sociedades impelindo-as para a guerra quando acham conveniente. Fazem-no sempre em nome do seu Deus.

Qual então o papel que não é bem desempenhado pelos seres humanos de forma a tornar as sociedades e a própria humanidade numa espécie que seja auto sustentável num planeta que se auto sustenta? Vivendo em revoluções e guerras como vem acontecendo há milhões de anos sem nunca mais acabar? Deve haver um outro caminho.

E então ouvi a resposta.

- Cada ser humano possui uma carga genética quase imperceptível que o diferencia de outro ser humano. Este fator aliado à educação que sofre no lar e de grupos em que participa, aceitando ou rejeitando a influência, tornam-no um ser único com opinião própria, ainda que a opinião seja a de seguir a opinião de outros por falta de conhecimentos, por submissão ou por preguiça de pensar. Assim é a humanidade que escolhe os seus caminhos todos os dias, a todo o segundo que passa.

E continuou:

- Cada ser humano dá também a sua contribuição todos os dias, a todo segundo que passa, mas prevalece algo que é indefinível a cada momento: o caminho próprio da humanidade como resultante de todos os atos dos seres humanos que a compõem. É como se cada ser humano fosse um vetor, e o vetor resultante fosse o caminho da humanidade. Assim, quando aparece algum ser humano que lidere um movimento que a maioria ache importante, a humanidade começa a mover-se no sentido dessa liderança, seja ela de arte, de moda, de política, filosofia ou qualquer outra manifestação. Os seres humanos tendem a identificarem-se uns com os outros, numa clara demonstração de humanidade, mas é mais do que isso, porque inclui o receio de uma exclusão do meio se não seguir a “onda”. Por isso muitos vão aos templos mas não são religiosos. Por isso muitos dizem sim até mesmo quando não têm opinião, e muitos votam num candidato porque lhe disseram os mais próximos que nele iriam votar.  A moda das saias curtas não poderia ter aparecido antes de Mary Quant. Mary Quant lançou a moda depois da invenção da pílula que libertaria sexualmente a mulher. O movimento de libertação da mulher, vilipendiada, denegrida e ignorada nos livros bíblicos, depois da invenção da pílula nunca mais parou. Ou seja, a própria humanidade conserta o que está equivocado. A humanidade faz parte da natureza e esta é auto-suficiente: repara os próprios erros ao longo do tempo. Assim como a natureza parece não ter pressa numa escala do tempo, assim à humanidade lhe parece também não haver pressa em mudanças radicais. E não tem pressa, mesmo que algum líder lhe tente mudar os rumos. Uma parte dela pode segui-lo enquanto a outra espera os efeitos. Depois decide.

E finalizou:

- Cada um expressa a sua opinião mesmo em regimes, seitas ou grupos em que lhe proíbem a sua manifestação. O resultado da troca de informações seja qual for, não pode ser tomada como definitiva, porque em decorrência da opinião geral são tomadas ações que na prática comprovarão o interesse ou desinteresse por determinada opinião ou filosofia política, econômica ou religiosa. O tempo resolve tudo, e muitas vezes podem ver o retorno a velhas idéias, filosofias, ou a evolução das que foram seguidas. De qualquer forma, nenhuma “verdade” é perene. Tudo evolui e somente duas manifestações da humanidade se têm mostrado quase que estagnadas: as filosofias religiosas e políticas. Se a humanidade não tomar cuidados, cada ser humano de per si, o resultado poderá ser catastrófico, e certamente o desastre virá da vontade que alguns seres humanos têm de que sua opinião prevaleça. Essa vontade vem da vaidade ou da ganância, ambição. A maior “virada” na evolução da humanidade virá quando os velhos modos de governar mudarem radicalmente. Os seres humanos devem escolher o seu presente e o seu futuro vigiando os que governam e dizendo-lhes pelo voto como querem ser governados. Fica fácil entender o que digo, se pensarem que um presidente ou primeiro ministro têm o poder de declarar guerra ou lançar bombas atômicas sem consultar as suas populações. Não só para isto, mas para tudo, é a nação que deve dizer o que quer aos governos e não estes a ela. As religiões têm que evoluir para acompanhar, porque nos últimos seis mil anos ninguém se atreveu a dizer que eu falei algo para alguém ou apareci em alguma sarça ardente.

Acordei no dia seguinte. A chuva tinha parado. A partir daquele dia, comecei a entender a humanidade como algo independente que segue o seu caminho, muito mais importante do que o caminho de cada um de nós. Eu já me sentia um quase nada comparado ao tamanho do Universo. Menos até do que quase nada me sentia agora, porque por mais importância que me pudesse dar, a da humanidade é muito maior. Sete bilhões e meio de vezes maior...

Era o décimo segundo dia e a décima segunda vez que me acontecia.


Rui Rodrigues e a "voz do vento"