Nosso corpo, nossa vida, nosso mundo, nossos
problemas.
(Refiro-me
sempre a masculino e feminino. Não há diferenças entre os sexos a não ser nas
partes mais íntimas e nas curvas – para evitar graficamente os parênteses de
(o), (a))
Todos sabemos que o Universo
não pára de evoluir e se expandir, que a natureza não para de evoluir. Somos
seres nesse mundo de universo e natureza sempre em evolução. Os outros animais
não devem ter consciência de sua adaptação à evolução.Eles evoluem sem saber,
sem sentirem. Nós, pelo contrário, temos “arquivos” escritos, desenhados,
tradições faladas, estudos em geral que nos permitem saber que estamos
evoluindo. Para onde, não sabemos, nem as razões, exceto uma: Ou evoluímos como
espécie ou perecemos. A maioria dos animais predadores foi ficando pelo caminho
da nossa própria evolução. Muitos foram extintos. Entretanto, nosso corpo
também evoluiu: De corpos maciços, atarracados, peludos e rudes, estamos
evoluindo para um novo tipo de corpo: O corpo belo. Parece que os corpos dotados
de maior beleza, baseada esta em simetrias e proporções, terá maiores
probabilidades de evoluir e passar seus genes do que corpos menos dotados,
exatamente pela preferência de acasalar ou adquirir genes de corpos mais belos.
Esta evolução para o “belo” só foi possível porque criamos artefatos que nos
permitem ficarmos vivos sem o perigo de sermos devorados por feras na pirâmide
alimentar. Hoje estamos no topo dessa pirâmide. Somos os maiores predadores
desta natureza que conhecemos. Curiosamente, o fato de preferirmos corpos
“belos” para o acasalamento não significa que estejamos escolhendo corpos
dotados da melhor ou mais eficiente inteligência, e muito raramente coincide de
um corpo belo ser dotado da mais eficiente inteligência. Vivemos de nossas escolhas,
colhemos benefícios ou malefícios em função de nossas preferências. Na medida
em que envelhecemos, apesar de todos os artifícios para mantermos o corpo o
mais jovem possível, vamos percebendo que a evolução nos deixa “para trás” a
cada dia, porque nos é difícil acompanhar essa evolução, em todos os aspectos.
Operações plásticas custam caro, são ainda perigosas e de sucesso incerto, e
com a tendência para a associação de casais de beleza semelhante, parece cada
vez mais difícil arranjar companheiros ou companheiras a cada ano que passa.
Parece. Apenas parece. Quanto á evolução dos costumes, também nos é difícil
acompanhar: Os costumes sofrem a influência da tecnologia e a da informática parece
a mais difícil de ser assimilada, não só pela aparente dificuldade de
entendimento e manipulação que exige coordenação motora como também pelo preço
dos equipamentos de informatizados. Mas ainda existe dificuldade maior de
adaptação: Trata-se do aspecto afetivo. E este aspecto envolve não nosso o
nosso corpo, como a nossa vida, o nosso mundo, os nossos problemas, mas até que
ponto os nossos “problemas” são reais? Se os pudéssemos eliminar, poderíamos
ser as pessoas mais felizes do universo, desde que não sejam intrínsecos do
nosso mundo, do qual parece depender nossa vida, já que até o corpo tem
conserto...
A forma de nosso corpo não
tem muita importância. Há sempre uma tampa para cada cesto, na medida certa,
para quem tem equilíbrio na vida e não se aventura em oceano brabo navegando
numa piroga sem remos e sem salva-vidas. Ainda crianças ouvimos de nossos
colegas algumas alusões a nossas deficiências e não raro aludimos também às
deficiências dos outros. Isso é “buling”, claro, e deixa muitas vezes marcas
amargas. Ou achamos que temos a bunda grande, ou a perna grossa, ou o nariz
torto para um lado... E quando adultos, realizamos o sonho de infância indo
corrigir numa mesa de operações, as “deficiências” com as quais nunca
aprendemos a lidar. Não são deficiências. São virtudes, porque para alguma
coisa servem. Nossos padrões de beleza é que são, como dito acima, muito
exigentes num mundo competitivo... E, principalmente, costumamos querer
competir em campos para os quais não somos muito aptos. Casar com o príncipe é
muito difícil porque ele é apenas um e as candidatas são um montão...
Nossa vida rege-se assim, e
muitas vezes ou quase sempre, em função de nosso corpo, de nossas aptidões, de
nossa ambição e de nosso equilíbrio. Principalmente rege-se por atos
sucessivos, diários, de convivência com grupos que nos cercam. Alguns deles nos
dão força, outros no-la tiram, essa postura de enfrentar o mundo. Nosso
equilíbrio é determinante para o sucesso a cada dia que passa. Somos um espelho
do mundo no qual nos refletimos. Darmos valor ao belo nos dias de hoje, é uma demonstração
de prazer. Batemos palmas para o belo. Mas o que exatamente o belo nos
proporciona na vida, além dessa oca, vazia apreciação? Parece que nada. O belo
não constrói um mundo melhor. Constrói apenas um mundo mais belo. O belo na
política é uma desgraça. Apresenta-se um candidato que fala “belo”, que
aparenta ser “belo”, e seus votos estão garantidos para nos tornarem a vida
amarga. Os nenéns são belos, todos eles, por que é uma defesa da natureza para
a preservação da vida. Nenéns são simpáticos, alegres, dão lindas risadas, não
franzem o cenho, não xingam, são doces, têm a cabeça grande, os olhos enormes.
Cativam. Teríamos um mundo muito diferente se os nenéns fossem feios. E eles
têm uma “virtude” adicional: Sempre pensamos que podemos moldar essas crianças
para que sejam como “nós” gostaríamos que fossem. É um engano, uma loteria, mas
isso só se percebe quando se inserem no mundo que os cerca, que é diferente do
nosso, logo que têm essa percepção e começam a pensar por si mesmos. Isso
acontece diariamente, de forma muito lenta, mas é por volta dos 3 anos, dos 7,
dos nove, dos 12 e dos 16 que notamos “em saltos” como a personalidade de cada
criança evolui. Uma dessas crianças é você, leitor, leitora... Talvez não se dê
conta disso, mas já tentou sem sucesso agradar a seus “instrutores” da vida,
seus pais, familiares e professores, e certamente já teve suas crianças que
tentou “educar” a seu modo. É mais do que evidente que você conseguiu ser
diferente deles, assim como também é evidente que não conseguiu que seus filhos
fossem iguais a você. É uma luta inglória. Ao tentarmos influir estamos apenas
atrasando, retardando, a evolução da humanidade. A pressão do meio, da vida, do
mundo, não é suficiente para parar a evolução do “eu” jovem, do eu puro de cada
criança que consegue atingir a idade dos 16 anos... A partir daí, fará cada vez
menos pressão para tornar seus filhos iguais.
Talvez agora possamos
entender que nossos “problemas” residem todos eles na forma como entendemos o
mundo, dando-nos a impressão que precisamos evoluir como as crianças e com as
crianças. Por isso os avós são, geralmente, mais complacentes e cooperativos
com elas, mais do que os pais. No fundo entendem um pouco mais, muito pouco
mesmo, sobre essa característica dos nenéns: Querem evoluir, mas não os
deixam... E crescem cheios de problemas, porque há enormes diferenças entre o
mundo que vão desvendando e o mundo que os “instrutores” lhes dizem para
viverem. Partidos políticos e “governantes” são assim mesmo: Ditadores que
tentam impor a sua vontade por incapacidade de entenderem, ambição de poder
mandar, aproveitadores dos benefícios das contribuições de impostos, vaidade
frente ao “resto”, despreparo para as novas gerações, para o mundo sempre em
mutação.
Será que o mundo agora ficou
mais fácil de entender e poderá ser menos problemático? Espero que sim...
Francamente! Não deixe morrer a criança que você já foi... Seja feliz, deixe o mundo seguir seu rumo...
® Rui Rodrigues