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sábado, 20 de junho de 2015

Corrupção, contratos e Hackers



Os "assaltantes" das gavetas de arquivo, ou dos arquivos de gaveta, eram chamados de "espiões" e "traidores”...
Com o advento da computadorização, passaram a chamar-se Hackers, mais regionalmente conhecidos como "Ráquers".

Em nome da salvação do planeta evitando a derrubada de florestas para fazer pasta de papel,e para racionalizar e agilizar a emissão e o arquivamento de documentos, a papelada foi substituída por "arquivos chipados", isto é guardados em chips de computadores e até em 'nuvens virtuais".

Mas contratos têm que ser emitidos em três vias - pelo menos - para que produza os efeitos legais.
A Lei terá assim que se adaptar e passar a analisar os contratos como se fossem as únicas fontes de dados, por ser fácil destruir chips, apagar nuvens, e julgar pela omissão, isto é, que clausulas e artigos deveriam estar nos contratos e não estão? E porque a vírgula não foi colocada?
Manuais de formação de contratos, gerenciamento e encerramento de contratos estão disponíveis. São raros, mas existem...


® Rui Rodrigues

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Vivendo à moda antiga...Mas...


Não é uma questão de dinheiro, de posição social, política, religiosa, racial, sexual ou o que quer que seja ou possa parecer. É uma questão contemplativa de se olhar o mundo, e ver que, em meio a tantos progressos que até se podem questionar na sua essência e definição, esta bola de terra mar e ar que gira no espaço está diferente, moderna, modificada. Não era assim quando nasci. Como era?

Os mais velhos reclamavam, em minha infância, das mudanças do mundo. Sempre reclamaram e reclamamos. Deveríamos tomar isso como um sintoma de que não estamos caminhando, como humanidade, no caminho mais recomendável, porque os tempos passados e os modos de vida deixam saudades quando comparados com os da atualidade. Juventudes não têm esse conhecimento dos tempos passados porque não os puderam viver, e mesmo que vejam algumas descrições e fotos, jamais poderão avaliar os momentos passados e suas emoções, sensações, racionalizar comparações.


Há três tipos fundamentais de forma de olharmos esta evolução no tempo. Uma delas é atendo-nos ao fato de que o passado corresponde à nossa juventude deslumbrada pela vida, poderosa, ativa, esperançosa, construtiva e que o comparamos com um estado a caminho da senilidade, sem muitos deslumbramentos, enfraquecidos, em atividade reduzida, sem muitas esperanças (até porque não se vêm mudanças que nos façam julgar nossos avós que reclamavam do mesmo como “errados”) e sem podermos construir algo mais contributivo. A outra forma refere-se aos grandes volumes de fatos da humanidade à luz da história mais recente desde nossos bisavôs tal como tivemos informação, uma história viva, o que mudou, que progressos fizemos e em que campos da engenhosidade humana, o que não exclui o social nem o ambiental de forma geral. A terceira forma de olharmos a evolução no tempo vai desde as origens da humanidade até um futuro distante, traçar os rumos que escolhemos e tentando ver para que rumos tendemos agora e ao que eles nos poderão levar. E então, talvez nos perguntemos se vale a pena, e possamos encontrar respostas para “o que estamos fazendo aqui?”



Se olharmos para nós mesmos e nos compararmos com a nossa juventude, porém com consciência que não somos únicos e que vivemos num meio permeado de iguais, semelhantes e diferentes, logo nos daremos conta que fazemos parte de um meio global do qual somos apenas uma peça de fácil reposição e até perfeitamente prescindíveis. O mundo continua – pelo menos aparentemente normal – sem qualquer um de nós. Alguns deixamos legados no aprendizado, como Albert Einstein, por exemplo, mas são agradáveis e importantes raridades. Mas até nisso nos podemos equivocar. Se não fosse Albert Einstein, outro seria quem viria a descobrir que E=mc2. Albert Einstein adiantou-se talvez um par de meses ou no máximo uma década em relação aos outros. Não são os seres humanos que fazem descobertas. É o que há para descobrir que se mostra para quem pensa nisso, na base do quanto mais, mais. Isto é, quanto mais se descobre, mais fácil fica descobrir o que ainda não se descobriu. Ninguém inventa nada: Levanta o véu do que estava encoberto.


Analisando tudo o que aconteceu à luz das histórias saudosas de nossos bisavôs, avôs e pais, além de outros familiares mais idosos ou conhecidos, a história viva, podemos ter uma idéia mais precisa do que mudou realmente e em que grau de direção e intensidade. Uma parte deste saudosismo se deve à perda da juventude certamente. O restante da saudade é porque o que mudou não foi para melhor, o que quer que “melhor” possa significar, quer ao nível de família, particular ou da própria sociedade humana, e até mesmo do ambiente em que vivemos.



Uma visão desde os primórdios da vida neste planeta até o presente mostra-nos que não devemos ter saudades daqueles tempos, embora devamos ter toda a consideração e respeito. Nós somos eles hoje, esperanças de futuros seres humanos modificados. E talvez nos deparemos com “visões” fantásticas de uma terra cheia de seres humanos com carências e fomes terríveis, as demais espécies vivas na sua maioria extintas, respirando já não mais oxigênio e nitrogênio, mas atmosferas ácidas com pulmões adaptados ou usando máscaras permanentes que impeçam beijos de amor, ou então num futuro mais sensato de menos gente, mais fartura, ar mais puro, vida selvagem pululando pelos campos, matas, mares, rios, florestas e ares deste planeta.


É verdade que construímos o nosso futuro, em termos particulares e da humanidade como um todo social, mas não temos a menor noção para onde vai nem o que pretende. As idéias de líderes e mentores, o que quer que isso possa significar e ser importante, não duram mais que uns poucos milênios. Mas milênios não são nada para uma humanidade que já conta milhões de anos. Depois, sem explicação, a humanidade vai mudando aos poucos. Se fossemos um ser que pudesse ver a humanidade como um enorme ser “individual”, veríamos que só guarda, do passado, o que é importante, e mesmo assim apenas em seus genes. O resto esquece completamente. Deve haver uma mensagem para este aspecto. Porque cada ser humano só guarda uma parte do que é importante em sua carga genética? E, no entanto, estamos evoluindo. Quem sabe um dia poderemos até ter asas próprias, sermos os anjos de um éden terreno? Com menos gente, sem competição entre si, talvez pudéssemos chegar a esse ponto, mas dizem as teorias da evolução que para chegarmos a ter asas precisaríamos correr muito, cada vez mais rápido. As galinhas estão tentando isso há milhões de anos, já têm asas e mesmo assim não conseguem voar. Mas não por isso devemos abdicar de um éden neste planeta, onde até se possa viver eternamente. Talvez estejamos interpretando mal os livros sagrados, e o Éden seja um fim a atingir e não apenas o nosso começo, de onde fomos expulsos por anjos de asas.



O que queremos? O mundo inteiro perceptível está à nossa disposição. Estamos indo bem? Se estivermos continuemos, mas se estamos indo mal, então mudemos o quanto antes.


® Rui Rodrigues.    

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Adeus Grécia, o Quarto poder e Papa dá exemplo


Adeus Grécia...





Dizia minha avó: Nunca recorra a empréstimos bancários ou seja de quem for...Não tenha pressa. Se quer comprar alguma coisa e não tem dinheiro imediato, espera, junte e compra mais tarde á vista com desconto...Minha família, o Banco e alguns amigos são testemunha que só falhei uma vez, mas que paguei ao banco o devia...
Thomas Jefferson, presidente dos Estados Unidos da América, disse uma vez e não precisou repetir... Os bancos são mais perigosos para a nossa liberdade que os exércitos com armas...
A governo da Grécia enveredou pelo caminho do socialismo fajuto e quer que os outros dividam com ela o seu negócio, os seus lucros, o seu trabalho... Sem fazer esforços... Tudo de mão beijada, só na conversa mole...
Também acho que os juros são muito altos, mas é por aqui, por conta de um governo completamente corrompido. Por aí os juros são baixíssimos.

Adeus Grécia da Comunidade Européia... Assim não fazes falta nenhuma. Melhor sem ti

O quarto Poder

Nossa esperança é que tenhamos em breve Quatro Poderes

Legislativo
Executivo
Judiciário
Contestativo

http://conscienciademocrata.no.comunidades.net/

Papa Francisco e os imigrantes

Meu querido argentino... Meu filho!... Guri...

Não que eu seja contra abraçar emigrantes fugitivos... Não... Devemos acolhê-los... Mas pelo menos dá o exemplo, e acolhe aí uma boa meia-dúzia, com religião maometana, budista, umbandista...

Fala mas dá o exemplo, vai, para que não caias no roll dos falastrões políticos... Cabem no Vaticano...


® Rui Rodrigues

terça-feira, 16 de junho de 2015

Ensaio sobre a sutileza da percepção.



Bastam três pessoas para fazerem o ensaio. Apagam-se as luzes na sala e uma delas escolhida por sorteio, escolhe um objeto dos que estão disponíveis e diz aos demais: - O que fariam com este objeto?

As duas outras pessoas discorrerão distintamente sobre o que fariam, porque não têm a mínima idéia sobre o objeto escolhido. Se, porém, ampliarmos o universo dos objetos a escolher até o quarto, a cozinha e o banheiro, então teremos disparidades ainda maiores. Alguém pode descrever o que faria com uma jarra de vidro, a outra pessoa sobre o que faria com um sofá, enquanto o objeto em questão era um rolo de papel higiênico. Como brincadeira pode até ser interessante e divertido, mas aplicado a um relacionamento, no trabalho ou na política, seria certamente um desastre por haver enorme universo de variáveis. 

Neste caso da política monetária, por exemplo, imagine que alguém vai comprar dólares e tenha que pagar 3,00 reais, por cada dólar, quando há um ano comprava por apenas 1,80 reais e diga espantado: O dólar subiu!... Realmente, a primeira percepção é que o dólar subiu. Mas... Congelemos a câmara focando o indivíduo na saída do caixa da casa de câmbio, ainda olhando para o dinheiro em suas mãos com semblante decepcionado, e analisemos o momento para podermos entender melhor o que é a percepção e suas sutilezas. De notar que ele olhou ao redor de si superficialmente, mais preocupado com a hipótese de haver alguém na casa que o pudesse denunciar para parceiros que lá fora lhe extorquiriam os cem dólares que comprara. Olhar que se baseava apenas na aparência mal avaliada por apressada, e sem expertise por nem ser psicólogo nem detetive.

Uma senhora que passava a seu lado tendo notado que ele comprara dólares, pensou que se pudesse seria um sujeito adequado para acompanhá-la numa viagem ao Caribe, quem sabe às ilhas Fiji, Zanzibar...E por alguns segundos após, esqueceu o sujeito e se concentrou sobre o destino. Ilhas Fiji, San Andrés ou Zanzibar? Finalmente chegou ao caixa para trocar dólares. Achou que não subiria mais e que era o momento de trocar. Voltaria a comprar quando e se o dólar voltasse, não a subir ou descer, mas a ficar mais barato. Havia aqui uma sutileza no pensamento da senhora.

Um gay que passava, descansou por uns segundos seu olhar sobre o sujeito e sentiu uma vontade enorme de agarrá-lo, beijá-lo, mas o seu olhar, os traços do rosto e principalmente o modo determinado e concentrado do olhar fizeram-no afastar esse pensamento. Até pelo modo de vestir o indivíduo tinha aspecto de quem só gostava de mulheres. Nem se atreveu a continuar a observação e desviou o olhar seguindo bamboleante e com olhar altaneiro para a saída da casa de câmbio. Para ele o dólar era o que era. Não perdia nem ganhava fosse qual fosse o valor do dólar, porque trocava logo que os recebia. Se os guardasse poderiam roubá-los. Tinha plena consciência da vida que levava e de suas companhias. Um dia largaria aquela vida noturna da Cinelândia e seria um gay como tantos que conhecia, com classe e boa vida. Cruzou-se com uma prostituta de seu grupo que estava entrando na casa de câmbio.
- Trocou a quanto? (perguntou ela)
- A três! Fiz mal?
- Não cara. Dá no mesmo. Recebeu trocou. Que bom que está a três. Podia subir mais. Se continuar assim, compro uma passagem pra Miami, faço uns negócios por lá, junto e volto pra trocar aqui e compro um apartamento.

Dois irmãos, sócios em comércio, estavam á porta da casa de câmbio, e conversavam.
- Trocamos ou não? Será que sobe mais?
- Estou preocupado. Acho que ainda vai subir mais. Muito mais. Para ser sincero, vendia o que temos por aqui, e iríamos para o Paraguai. Lá a energia é mais barata, mão de obra também, e os impostos nem se fala. Há atividades lá que nem impostos pagam.
- Porque achas que vai subir mais?
- Porque não é por causa do dólar. É o Real que está baixando. O governo não em noção do que é “lucro” sobre a mercadoria. É dele que tiramos o que podemos para investir em infra-estruturas, como reformas, e sustentar empregados mais alguns meses sem demitir por causa da inflação. Os “lucros” servem também para vivermos e mantermos o negócio nas entressafras quando o comércio cai, e até serve para mantermos o preço das mercadorias apesar da subida dos preços. Guardamos ainda uma parte para podermos pagar impostos que sobem de repente. Se pudéssemos íamos para a China, Índia...
- Então trocamos e vamos embora! Para o Paraguai...
No andar superior, protegidos por vidros unidirecionais que não permitem que sejam vistos da loja, embora possam ver tudo o que se passa, dois homens conversavam.
- Sabes aquela loura peituda que se dirige agora para o caixa cinco?
- Sei... Não é daquela companhia...
- É... Vem trocar reais por dólares. Isso é lavagem de dinheiro. Como de costume ela vai subir aqui.
- Então vamos cotar o dólar para ela a quatro reais. É por conta dos riscos. Se ela trocar mais de cinqüenta mil, cobra a quatro e cinqüenta. A cada cinqüenta mil, mais cinqüenta centavos por dólar.
- E se ela disser que normalmente é o contrário?
- Diz apenas que para dólares de risco o preço sobe quanto mais se compra. Que temos poucos dólares em caixa...
Atrás do sujeito que mantivemos congelado na câmara de filmar - um simples celular - está um indivíduo de tênis cinza, calça preta, camiseta cinza, óculos escuros que trouxera pendurados na camiseta, e trocara apenas dez dólares no caixa. Nosso sujeito, objeto do ensaio sobre a percepção não reparou nele. Sua atitude na rua é de sujeito muito preocupado com a vida e com o ambiente que o cerca, mas não se pode avaliar sobre o que se desconhece. Estar sempre preparado, quer dizer também para perder o controle da situação.
Foi assim que logo na primeira esquina levou um encontrão por trás, obrigando-o a voltar-se enquanto o individuo de tênis cinza passava por ele sem que seus olhares se encontrassem. 

O homem dos cem dólares nunca tinha visto, não viu e jamais o verá. Um outro que vinha pela frente segurou-lhe o paletó e tirou-lhe a carteira do bolso, exibindo um rosto tresloucado que o paralisou. Foi tudo tão de repente que não durou cinco segundos. Então o rapaz correu, deu a volta no quarteirão, passou novamente pelo local do assalto tranquilamente e entrou na casa de câmbio. Trocou os cem dólares por 280 reais.
Nesse dia, a casa de câmbio ganhou duas vezes em cima de um valor relativo de cem dólares, de mesma origem de economia: O homem roubado. Uma mulher de fartos peitos, loura, voltou sem trocar dinheiro para a repartição do órgão publico e comunicou a seus chefes, que a mandaram, que teriam que falar diretamente com os donos da casa de câmbio porque eles disseram que o dinheiro era “de risco” e o preço era outro. Os dois punguistas que roubaram o homem saíram para outra casa de câmbio do outro lado do centro da cidade. Sabiam que o mesmo golpe dado em curto espaço de tempo chama a atenção e não estava a fim de ir em cana. A senhora que sonhava com as férias adiou por pelo menos mais um ano. Dólar alto não compensa viajar. Em vez disso passaria os próximos fins de semana nas praias da zona sul e iría economizando para quando pudesse voltar a Cancun. 
O casal de gays viajou para os Eua e não se sabe que fim levaram. Aparentemente perderam tudo com os "coiotes" que os levariam a atravessar a fronteira entre México e EUA.
Os donos da casa de câmbio resolveram aumentar o “spread”, ou seja, a diferença entre o valor do dólar para compra e do de venda, para cobrir riscos e contrataram uma equipe de advogados famosa por sua qualificação em assuntos internacionais, que tem escritórios na Avenida Rio Branco.
Chamado às pressas no palácio um expert em economia encontrou-se seu imediato acima. A conversa teria sido mais ou menos assim:
- Não quero abrir mão do que estou fazendo, dos meus gastos. Como arranjar dinheiro?
- Sem gerar inflação?
- Isso não me interessa. Isso é problema seu. Responda ao que lhe perguntei.
- Sem gerar inflação é impossível na conjuntura atual. Está tudo quase parando, quer o comércio quer a industria. Não havendo faturamento caem os impostos, arrecadamos menos, não há verbas. Já com inflação... (Deu um suspiro e rezou a seu Deus)
-... Já com inflação, podemos aumentar os combustíveis, a energia elétrica, os salários dos políticos e servidores públicos, dos professores, da água, dos transportes, porque tudo isso gera impostos, e quanto mais impostos se cobram mais verbas entram. Se isso não for suficiente, aumentam-se os impostos, cortam-se os “mortos”, ou seja, as aposentadorias, o bolsa-família, os serviços públicos em geral... Ou ainda... 
- Ainda o quê?
- Podemos dizer que a verba saiu para os serviços públicos sem sair e usar para o que a senhora quiser. Mas se descobrirem vai dar zebra.
- Gosta muito de sua carreira, de sua família, não é...O senhor vai contar?
- Eu não!
- Então não se preocupe que isso é assunto meu. Depois lhe comunico o que fazer...


E se a percepção do que não se conhece tiver laivos de realidade, assim poderia ter sido, mas se a percepção estiver equivocada, não é nada disto porque não se pode ter percepção sobre o que se desconhece, mas os efeitos são os mesmos que isto, o que se assiste e se sente. Afinal, não é o dólar que sobe como parece, mas o real que desce como a futuro se prove. E se não for por dôlo é por incompetência que também é o que se vê e sente. 

® Rui Rodrigues.   

   

segunda-feira, 15 de junho de 2015

anjos, demônios e outros bichos sem gênero


Não sou desses de acreditar em fantasmas de qualquer sexo, lobisomens de qualquer sexo, múmias vivas de qualquer sexo, bruxas ou bruxos, zumbis de qualquer sexo, e até já me perguntei porque razão algumas destas avantesmas não têm sexo definido. Somos obrigados a dizer fantasma fêmea, zumbi fêmea. Para anjos também ainda não existe o feminino anja. Vejo-me obrigado a adicionar a palavra ao dicionário. Então, lá pelos meus nove anos ainda rezava ao meu “anjo da guarda”, mas os meus hormônios já me puxavam para o lado das revistinhas onde aparecia mulher nua. Até perguntei a uns colegas do catecismo se sabiam que anjos da guarda tinham, se já tinham visto alguns. 

O Zé do porteiro, porque era filho do porteiro, disse-me com ares superiores que o sexo do anjo não importava. Eu já achava que não, de modo que continuei minhas pesquisas e fiquei espantado. Ninguém tinha visto ainda um anjo da guarda. Como era isso possível que, além de não se ver Deus, não se viam os santos, nem os anjos... Não se via nada daquilo em que queriam que acreditássemos. Foi então que li uma passagem da Bíblia da qual me ficou apenas o resumo: “Ver e crer como São Tomé”, e a partir daí, passei a acreditar apenas no que via ou no que alguém, conhecido, credível, dissesse que tinha visto. E mesmo assim, esperava sempre uma oportunidade em que eu também pudesse ver para confirmar, não fossem me enfiar uma patranha, como aquela das “luzes de Santa Eufêmia”, que passavam pelo caminho entre minha terra e uma outra chamada Viso, uma descendo a serra e outra subindo, e que paravam por instantes frente a uma capela e depois desapareciam. Nunca as vi. Lá na terra diziam que existiam e que já as tinham visto.
 As luzes eram das almas de dois almocreves que se mataram um ao outro ali mesmo, onde existe a tal capela. A caminho das festas do Viso, montanha acima, dá uma sede danada. Pois lá está a capela, e nem um cano de água para matar a sede dos peregrinos que vão à festa. Para mim, aplicaram equivocadamente o dinheiro ou da igreja, ou do povo que a construiu. Deve ser herança celta, estas crenças, porque também havia uma casa no “largo do senhor” que diziam, era habitada por um fantasma não sei de que sexo. Parece que era masculino, o fantasma. Nunca o vi também, nem ouvi os passos com grilhões de ferros amarrados nos pés que outras crianças da aldeia diziam ouvir. Não posso deixar de referenciar Mark Twain e seus pequenos e simpáticos personagens, Tom Sawyer e Huckleberry Finn que também passaram por essa prova da existência de fantasmas. Não há fantasmas. Nem extraterrestres. 
Essas idéias saíram da imaginação de gente muito interessante, que decidiram criar medo nos outros, até como diversão. E vampiros? Claro que não existem vampiros. “Morreu, tchau e benção”. Um amigo meu que morava na cidade e foi de férias à minha terra, nunca tinha visto a vida no campo e o leite era ainda engarrafado, se lhe falassem numa vaca que dava leite diria que vacas eram de vidro, redondas e tinham tampa. Chegaram ao entardecer e depois de jantar e uma conversa, fomos dormir com a recomendação de rezar ao anjo da guarda. Claro que lhe perguntei se tinha visto algum, e disse-lhe o que todos diziam: Que tinham asas com penas brancas. No dia seguinte logo pela manhã, uma algazarra, e lá vem o garoto gritando: Peguei um anjo, peguei um anjo!... Era a Matilde, uma galinha branca que tínhamos no quintal em meio a outros “anjos” de penas. Tal é a crença nos anjos da guarda. Mas, como crenças são crenças, cada um tem a sua. Mas tive sim, dentre outros, um anjo da guarda chamado Zé. Simplesmente Zé. Não era meu empregado, nunca lhe fiz favor nenhum. Ele se ofereceu para ser meu segurança na obra. Ele e mais vinte, pelo que me disse. Perguntei-lhe porquê. Disse-me que era pela forma como eu tratava o pessoal. Para ele e os outros não custava nada. Obra é um lugar perigoso onde tanto se arranjam amigos como inimigos.
 E muitas vezes por absolutamente nada. Nunca soube porque o elevador de obra caiu num sábado do sétimo andar até o primeiro subsolo, e assim mesmo porque logo que começou a despencar éramos dois a puxar o freio que estava por cima de nossas cabeças. Não foi o Zé que me cuidou, fomos dois puxando o freio. Se houve ou não intenção, nem quero saber, mas passei a evitar o elevador. Nem foi demônio macho ou demônio fêmea que fez soltar o cabo. Subia pelas escadas e isso me deu condicionamento físico excelente. Vinte e sete andares todos os dias várias vezes ao dia. Deu-me também mais um incentivo a meu espírito de programação: para evitar subir mais vezes ainda, programava tudo o que tinha que fazer em cada viagem antes e depois do almoço. As outras eram de emergência.




® Rui Rodrigues         

domingo, 14 de junho de 2015

O pequeno gafanhoto e a mestra...





- Mestra porque disse que devemos ter esperança?
- Por que, por falta de esperança querem tudo de imediato e torram a paciência dos outros...


- E quanto tempo devemos ter esperança? Um ano?
- Mais...

- Dois?
- Pode dobrar...

- Quatro?
- Pode dobrar...

- oito ??????... Mas não é muito? Na Bíblia diz que são sete anos de vacas gordas e sete de vacas magras...
- Isso é na Bíblia... Já se passaram 13 de vacas magras e ainda estou fazendo regime... Esperança e paciência...

- Desconfio que as vacas nunca mais vão engordar, mestra...
- Então vai pro Pronatec que lá tem Pátria Educadora. Deixa de pentelhar, pequeno gafanhoto


- E como que faz pra comprar com estes juros altos e esta inflaçao maluca?
-Pergunta ao Levy. Se não souber responder, filia-te ao PT e arranja 20 votos que nós resolve nas próximas eleição. 


Das Fábulas de Esopo em que animais falam adaptada para Bruce Lee.

® Rui Rodrigues 

Compra-se Reino sem estar à Venda.


(Crônica burlesca)
“Burlesca” está mais relacionada a burla e Berlusconni do que a pantomima. O que parece ser uma referência a religião, asseguro que não é, nem a costumes, mas se o leitor achar que tem a haver com política, provavelmente estará cheio de razão.Quanto ao país ao qual a crônica se refere e aos personagens podem ser de qualquer desses do mundo, ou o próprio mundo. A crônica em si não tem o mínimo valor literário, e se alguém a confundir com uma parábola ou fábula, não estaria longe da verdade. Se me perguntarem qual a verdade, não sei qual seja.)
Não consta nas crônicas de Avalon, nem das de Fernão Mendes Pinto. Shakespeare não ia tanto pelo burlesco, por isso se tivesse tido conhecimento das condições, história e do lugar deste reino, a que as crônicas de Frei Brito de Pedregoso se referem, não se pronunciaria a respeito, quase que certamente. Quem conhece razoavelmente Shakespeare bem sabe que não o faria. Podem procurar nas crônicas Kojiki, mas não alude a este reino. Nem Heródoto, que tanto andou pelo mundo, porque o reino surgiu depois que ele morreu. O Rei Arthur nem escrevia. Sua fama veio de suas obras na vida.
E assim como “no entanto ela se move”, também todos esses cronistas, de certa forma, falam deste reino – a que as Crônicas se referem.Frei Brito de Pedregoso foi um monge eremita que vivia numa gruta convivendo com escorpiões de ferrão mortal, mosquitos que lhe chupavam o sangue, moscas que lhe disputavam a comida, e passava os fins de semana num convento de freiras – o convento de Lindosa - onde relaxava num excelente banho e sabia das novidades do reino. Findo o remanso levava em seu bornal alguns doces de ovos, sanduíches e coxas de galinha empanadas. Levava também penas de pato para fazer suas penas de escrever, um vidro com tinta de fuligem diluída em água, alguns pergaminhos em branco, e uma lata de nafta do Cazaquistão para iluminar a caverna e poder escrever. Saudade mesmo levava de uma noviça rebelde e de uma freira mais madura de quem era amante. A noviça, não ele. Ele era das duas, por absoluta força da carne que todos os dias lhe gritava por amor para aliviar o cérebro. Nessa noite pegou fogo ao cordão que emergia da nafta, e à luz bruxuleante da chama continuou escrevendo sua crônica que começava assim:

Saibam quantos esta lerem que não nasci em Pedregoso, não me chamo Brito e não sou Frade. De minhas artes com a pena, de pato e não de ganso, que não tenho patrono que me pague os custos - nem há gansos por aqui de onde depená-las – fabriquei certidão mais certificada e fidedigna do que as que os bispos costumam emitir, e assim tenho acesso a todos os segredos da região e arredores, quer por parte dos templos e sucursais, quer dos governos e inimigos. Através dos bispos, e pelos segredos das confissões, escuto o povo.
Deixo registro para que saibam no futuro como que transgredindo as leis se sabem as verdades. Quem vive nelas nem sempre as sabe. Mas para se poderem transgredir é preciso que se esteja do lado delas.
Não foi talvez o caso do Bispo de São Lourenço do Rio Abaixo, uma pequena cidade nas cabeceiras do rio Xisto, que me chamou às pressas para ajudá-lo a resolver um assunto, mas foi o meu, porque me aproveitei de sua boa fé. Deu-se conta o prelado que no convento da Lindosa a madre superiora já estava meio que passada da idade, não enxergava bem, ouvia mal, falava pouco e quase não andava, e que talvez por isso, as noviças do convento não fossem escolhidas tanto pelos que os pais, irmãos ou maridos podiam pagar, por fidalgos, para mantê-las assexuadas e puras, porém castigadas, mas por aparentarem simplicidade, humildade e de poucas posses, sendo assim a internação um favor sem critério, dando origem a que algumas das noviças não só pervertessem uma ou outra freira já mais experiente como também obtivessem favores de bispos, padres, e até fidalgos. Em suma, em vez de convento seria uma casa de prostituição disfarçada, sem o conhecimento da igreja. Vim para a gruta, fiquei aqui por alguns dias e já sujo, fedorento, porque aqui não há água e frade não usa perfume, dirigi-me ao convento onde fui muito bem acolhido. Mostrei-lhes minhas credenciais, falsas, e fiquei lá uns dias. Foi uma noviça, Alexandra, quem me banhou sob a supervisão de sua superiora, uma freira chamada Venância. Da primeira vez me banharam como se fossem enfermeira e aprendiz de enfermeira, sem dizerem palavra. Depois nos banhávamos os três também mudos, apenas fazendo o que o corpo pedia e a censura da mente não conseguia bloquear, e foi então que conheci a tripa de porco passada na manteiga, crua, que elas mesmas me introduziram para não criarem problemas no convento. Não sei até hoje o que é melhor, das duas, se a experiência ou a inexperiência. Minha missão poderia ter terminado ali, com um simples relatório para o Bispo, mas resolvi ir mais longe, porque não era eu apenas o único a banhar-se. Fiquei assim de tocaia semana após semana, causando apreensão no Bispo, que tranqüilizei descrevendo-lhe apenas parte de meu plano. Disse-me, no entanto, que me apressasse para que não desconfiassem. Sem a mínima intenção de fazer-lhe a vontade, descobri que não só o dono do armazém fazia visitas mais demoradas no convento, como também o almocreve que sempre por ali passava, o padre da pequena igreja, e cidadãos abastados que viviam de suas criações de coelhos, galinhas, gado, e até ferreiros e sapateiros. 


O Convento era definitivamente um bordel disfarçado por ter uma Madre Superiora que quase não enxergava, quase não ouvia e por isso nem podia entender muito bem, pouco falava por não ter assunto, e não se movimentava por causa de um desentendimento entre os músculos já idosos e os ossos. Sem força nos músculos, os ossos não ficavam em pé. As finanças do Convento eram parcas, míseras, porque o Bispo segurava o dinheiro, mas não faltava comida embora fosse frugal. Algumas freiras antigas benziam-se, mas não diziam nada por medo das outras. As outras acharam que tudo era em nome do amor, da paz, da caridade e até pelo bem da causa, pensando que o dinheiro que se ganhava por lá ia para o santo Padre, lá em Roma, e que o sacrifício, se é que se pode chamar a isso de sacrifício, era uma prova de sua religiosidade e de sua fé e caridade. As celas, onde ninguém podia entrar, eram de luxo. Fora delas, o convento estava decaído, miserável, embora limpo, para que se desse essa exata impressão de que não havia dinheiro para cuidar, mas que quem lá estava trabalhava. Algumas noviças saíram pelas ruas das aldeias pedindo para que, sempre que matassem porcos, lhes guardassem as tripas que alguém do convento viria apanhá-las, porque sabiam como aproveitá-las na culinária, coisa que por aqueles tempos a ninguém passava pela cabeça comer. O barão de Lagredo que dominava uma área da cidade e tinha umas glebas perto do rio, levou certo dia ao convento um alguidar cheio de tripas de porco fresquinhas e ficou por lá mais de meia manhã, saindo na hora do almoço. Fiquei sabendo por Venância que pretendia ele um título de conde e que para tanto precisava das recomendações da Madre Superiora como benemérito do convento, e que do resto ele trataria. Não foi difícil aliar este desejo com as confissões do barão desvendadas em banhos no convento.


A Madre Superiora faleceu de uma queda nas escadas quando não havia ninguém por perto que pudesse ajudá-la. Nesse mesmo dia Venância assumiu interinamente enquanto aguardava autorização do Bispo. Recomendei-a, e confirmada que foi, começou a ir tanta gente ao convento que para não despertar suspeita e antes que fosse tarde demais, Venância arquitetou um plano. Onde havia um nicho com a estátua de uma santa, fez um furo na parede e colocou uma pequena mangueira que ligava o olho da estátua a um depósito mais alto do outro lado da parede. No depósito colocava sangue de galinhas misturado com vinagre para não coagular. De vez em quando ela mandava espalhar notícia pelas aldeias e pela cidade, avisando que os pecados do mundo eram muito grandes e que a estátua estava prestes a chorar sangue. Quando a audiência dos que esperavam era muito grande, abria a torneira do depósito, bem devagar, e a estátua lacrimejava lágrimas de sangue. Isso atraiu muita gente para o convento que fez muitas dádivas, moldes de cera, que até me serviram para iluminar minha gruta. O resto era derretido e vendido como cera no armazém da cidade. Em breve o lugar criou fama e a cidade e arredores se encheram de turistas da fé dispostos a assistir ao choro da santa e deixando na cidade boa parte de suas economias.
Com tanto dinheiro entrando nos cofres do convento, as freiras que se calavam por medo viram com regozijo que suas preces eram ouvidas: Venância afastara as noviças pecadoras e as freiras coniventes, porque já não precisava delas e eram até perigosas, e me confessou que em breve iría fazer uma viagem sem volta. Tinha pedido anulação de seus votos de castidade, largaria o hábito e iría para Paris abrir um cabaré. Mas não largaria o hábito por completo. Seu número em Paris seria o de um grupo de “can-can” vestido com roupas de freiras, que excitava muito esse tipo de público completamente tarado por comer o que não deveria.

A cidade progredira muito. O Barão de Lagredo, esse agora exportava carne de porco e enchidos através de uma associação de almocreves que a distribuíam depois de a salgarem, em mulas e burros país afora. A santa continuou chorando por alguns anos, mas depois que um garotinho daqueles irrequietos ficou xeretando pelo convento e descobriu a mangueira do sangue de galinha misturado com vinagre, tudo ruiu. Primeiro por falta de crédito na fé. Depois porque os turistas da fé deixaram de aparecer na região. Finalmente porque os negócios começaram a fracassar. O dinheiro faltou a todos. O padrão de vida caiu. Com tantas dificuldades, a juventude começou a emigrar para outras regiões e até para fora do reino. Faltou mão de obra porque a juventude tinha saído da região e não havia dinheiro para pagá-la. Logo apareceram compradores investidores e empreendedores estrangeiros comprando tudo: ouro, jóias, móveis, utensílios, casas, propriedades. O agora Conde de Lagredo continuou conde só no título que ninguém queria comprar. O Bispo foi destituído. O convento acabou por fechar, mas Venância já estava em Paris com suas belas pernas apresentando números de can-can. Alexandra, a boa noviça, foi junto com ela. Fiquei sozinho, sem as mulheres e sem excitantes banhos semanais. Tal o estrago que fez a ambição de gentes do lugar, e as diabruras de um garoto irrequieto que derrubaram o reino. Nem a fé sobrou. Um dia, num daqueles piores dias em que até a fome lavrava pela região, chegou um sujeito todo vestido de preto, com uma bíblia na mão, gritando a plenos pulmões que quem desse alguma coisa receberia em dobro. 


Não havia nada para dar, a não ser algumas cenouras, couves, uma ou outra batata, e o sujeito abandonou a região depois de passar fome por duas semanas e sem ter devolvido nada quanto mais em dobro. Fé sem dinheiro já não funcionava por lá. Com mais da metade da população emigrada, tudo vendido para estrangeiros, o que resta é uma população semi-idosa lutando para não morrer de fome, até porque quem comprou o que havia por lá foi motivado pelo descanso em tempos de aposentadoria, sem produzir. Pastagens se transformaram em jardins particulares, e, embora a bandeira continue a mesma, aquela pátria já foi vendida.
Tal é a história do reino cuja capital era São Lourenço do Rio Abaixo, e que agora é um amontoado de ruínas que ninguém quer comprar. Mudaram o nome para Convento do Rio Abaixo. Em compensação, como nada mais se produz na região, acabaram-se os ratos. 


® Rui Rodrigues (pelo Frei Brito de Pedregoso que não era de Pedregoso nem de Lagredo). 

sexta-feira, 12 de junho de 2015

As crianças de Ramenir e Benadia.


Esta estória se passa há tempos imemoriáveis. Nem faz parte daquela memória que vai passando de pais para filhos, porque naquela época, tal como em crianças até cerca de um ano e meio nos dias de hoje, não sabiam falar. Crianças nunca se lembram de fatos até essa idade. A humanidade nem se lembra deles também, nem de Ramenir nem Benadia. 

Não se sabe nada sobre suas origens nem onde foram originados, mas estavam lá, por aquela época, numa fronteira entre selva e savana á beira de um pequeno córrego de águas provenientes do degelo das montanhas que dali se avistavam. Levavam uma vida relativamente tranqüila alimentando-se de frutos das árvores, de algumas raízes que limpavam e molhavam na água do córrego porque a areia e a terra lhes incomodavam o mastigar e o paladar. Não transmitiam doenças porque não se beijavam. O sexo era uma coisa de “vontade” imediatamente atendida. Umas vezes ele a montava, sempre por detrás e não raras vezes errava o alvo, outras vezes ela o chamava e se punha de quatro na sua frente. Por vezes se sentava em seu colo, outras vezes o acarinhava com a cabeça entre suas pernas. Era instintivo. Não sabiam ler nem o Karma Sutra tinha ainda sido escrito. Precisariam esperar uns bons milhões de anos e não viveriam tanto assim. Lá pelos trinta anos já se teriam livrado da carne e ficariam apenas com os ossos, mas sem a mínima consciência do que se estivesse passando naquele ou em outro lugar. Não havia feras por ali, naquela mata fechada, exceto cobras que temiam muito, porque algumas eram imensas, podiam engoli-los. Lá fora, sim, na savana, viam animais enormes, alguns com dentes de sabre, alguns com afiados dentes e também peludos, que se revezavam em caçadas de animais mais fracos. Conseguiam ouvir-lhes os gritos, os urros ao serem dilacerados, os estertores da morte inexorável. Depois as feras se alimentavam de seus corpos, muitas vezes ainda vivos e estrebuchando. Para Ramenir e Ramenir aquilo era um inferno. Paraíso era ali à beira do córrego de água fresca, com frutas para comer o dia inteiro. Um dia teriam que mudar de lugar por causa da falta de frutas, mas procurariam em outras árvores. Havia muitas e nenhuma era proibida. Somente as que lhes davam ora prisão de ventre ora diarréias. Quando a barriga de Benadia desinchou viram um pequeno ser que berrava muito. Ela dizia que se parecia com Ramenir e ele que se parecia com Benadia, porque o único espelho que tinham era muito deficiente: Os locais de água parada do córrego. Benadia deu-lhe leite de suas próprias mamas à cria e teve que afastar Ramenir quando ele descobriu aquela fonte gostosa de alimento. Benadia teve muitos mais filhos. Praticamente tinha um a cada ano e meio. Só tinham duas preocupações: As feras com as serpentes, haver frutas e raízes disponíveis para comer. Quando precisavam fazer suas necessidades iam até o rio. A água levava tudo e não deixava rastros para que outros animais os detectassem e os comessem. Benadia e Ramenir protegiam-se um ao outro, faziam exatamente as mesmas tarefas.   

Quando Benadia tinha seus 40 anos, a família já era uma tribo, mas nunca souberam como isso acontecia. Atribuíam o nascimento das crianças ao mesmo fenômeno inexplicável que enviava a chuva e os raios do céu. Por vezes os raios pareciam gritar, urrar, ameaçar. Devia ser algo muito forte, muito superior a tudo que viam, porque tanto eram jogados no inferno da savana quanto no paraíso da mata. Em todos esses anos nada havia mudado nas imediações da mata nem da savana. O paraíso continuava igual, o inferno lá fora era o mesmo. Benadia não sabia porque razão, mas não tivera mais crianças há pelo menos uns quatro anos, mas em compensação as crianças tinham crescido e tido muitas outras crianças, todas muito parecidas. Tantas, que agora mudavam de árvores muito mais rapidamente porque as frutas logo se esgotavam.  As crianças estavam sempre, a toda hora, dispostas a se acasalarem entre si. Quando algum deles não queria, havia confusão na tribo. Ela mesma, Benadia, já se acasalara com alguns dos filhos, assim como Ramenir, mas este estava ficando diferente. Agora estava mais fraco, mais gordo, tinha cabelos brancos nas costas e na barriga. Por vezes nem comia. Nem ela, Benadia. Então, certo dia, o filho mais velho, o mais forte, partiu com mais de metade da família. Não escolheu quem o seguiria, mas rejeitou alguns que o quiseram seguir. O grupo se reduziu a uns trinta. O que partiu. Jafron, levou mais de sessenta com ele. 


Em sua caminhada pela mata o segundo grupo se enfrentou com outros grupos que já se tinham apossado desses lugares, normalmente junto a rios, matas, à borda da savana. Muitos morreram de ferimentos feitos por armas de ossos de animais mortos e pedras. A mata estava se transformando num inferno. E inferno por inferno, Jafron, o filho mais velho de Ramenir e Benadia, olhava com cada vez mais simpatia para a savana. Com armas de ossos, quem sabe, poderia vencer as feras do inferno?



Benadia um dia viu Ramenir se dirigir para a savana. Pensou em impedir-lhe os passos, mas não tinha forças. Gritou com gritos de horror, chorosos, com pena, assim como quando lhe morria um filho, e fechou os olhos quando viu um leão partir na correria para cima dele. Quando abriu os olhos já havia outros leões e leoas á volta do cadáver de Ramenir. Então tomou uma decisão e correu trôpega pela falta de forças para espantar os leões. Seria para espantar os leões? Em cima das árvores as crianças se agarravam entre si, as sobrancelhas caídas, lágrimas nos olhos. Então começaram a gritar para espantar os leões. Não podiam fazer outra coisa, nem socorrê-los. Pensaram que sem as feras na mata poderiam ser mais felizes. 
  

® Rui Rodrigues

Um Grande Vulto da História. Sonho ou pesadelo?


Esta noite, Januário olhou lá para fora e viu um vulto. Não deu pra perceber o que era, naquele lusco-fusco, mas era grande. Seria um dos grandes vultos da história? Mas olhando mais atentamente deu para perceber que era só, e simplesmente, uma anta emagrecida andando em duas patas. Estava se mostrando. Um dia ainda a convidam para desfilar na Unidos de Pilates. O Bloco das Piranhas já disse que lá ela não desfila. Como o Péricles criou o “Amigo da Onça”, lá pela metade do século passado, alguém se lembrou e criou  “Os amigos da Anta” que têm grande influência no Ministério da Cultura. Então resolveram fazer um filme sobre a Anta bípede, de forma a mostrar como ela é um grande vulto da história. A Sociedade Protetora dos Animais acha isso um absurdo. Os amigos da Natureza dizem que o lugar dos animais é no mato. As vacas que vão para o brejo perguntam porque ela não vai também. O IBAMA exige um certificado de criação legal em cativeiro, e a associação PT - Patriotas Travestidos -  está disposto a expedir um, uma vez que ela faz parte da safra. Então enfiaram-na num vestidinho preto da moda tubinho ou saco, Januário nem reparou, e mandaram-na para Bruxelas. Ela achou muito interessante como que uma couve se tinha transformado numa cidade tão rica, mas quando ia abrir a boca, levou uma canelada do Ministro da Economia que lhe disse: Mamãe... Posso pedir um sorvete que está muito calor? Posso? E depois que ele lhe disse que concordava em aumentar o orçamento dela em mais dois bilhões, ela lhe disse: - Então compra três sorvetes e fica com o troco. Mais tarde, quando ela disse que o mar da economia não mudara, todos os representantes dos países que estavam lá riram muito, às gargalhadas, porque estavam crescendo, eram eles mesmos que faziam e mudavam o mar e só a mata dela, lá naquele pedaço de continente perdido da América do Sul – O sul da América do Sul  é que não estava. Quando o garoto da economia voltou com os três sorvetes, ela disse: Acho que apesar da inflação, os brasileiros não se podem preocupar com isso e têm que continuar gastando. O guri da economia, que não é guru, com os três sorvetes na mão sem saber qual chupar, olhou para ela surpreso e perguntou: Então pra quê que estamos subindo os juros para dificultar a compra de mercadorias pelo povo? Vão comprar com que dinheiro?
 Irritada, pegou o guri pela mão e entraram no jatinho particular para voltar ao mato da Anta onde uma multidão inteira a espera com panelas, garfos e colheres para fazer tremendo barulho de apoio à sua volta para a mata, que é lá o seu lugar. O filhote de economista cada vez gagueja mais.


 Na foto, a Anta véia aprendendo a ler e a fazer contas de mais e menos.

® Rui Rodrigues  

À sinhora Dona Dirma, Prescindente do Brasil, Insolentíssima Sinhora.

À sinhora Dona Dirma, Prescindente do Brasil, Insolentíssima Sinhora...Duas expricaçaum...




1.   Como que faiz pra comprá?

Cumé que a sinhora qué qui continuemo comprano, si no tem imprego, a infração tá dimaiz, os impostos a sinhora manda subi, os custos di energia a sinhora manda aumentá, e os juro tá tudo tão arto qui em um ano um centavo vira milhão?
In donde que a sinhora veve? Si a sinhora toma argo qui num seje cachaça, intão tá duente i deve ir si tratá. Aqui pertim tem SUS. Podi vim que nóis encaminha a sinhora.
A sinhora deve mi entendê proque tem mais diproma qui eu e é uma Insolentíssima Prescindente de todos nóis.

 


2.   Como qui a sinhora exprica?

Marola é coisa piquena como costuma fazê quando a vaca entra no brejo e a água da lagoa ondeia em nossos pé. Já vi muito. Onda é quando a água do mar bate na praia ou nas rocha tudo, e faiz ispuma. Nunca vi porque aqui em Mins não tem mar não. Só lagoa, lagoinha e lagoão. Tisunami é o que faiz sertão virá mar, por exempu com a transposiçaum do rio São Francisco que num sabemo si é de Assis ou de Pádua, valhanus nosso padim Pade Çiço. A sinhora disse também que o mar não tinha mudado.

Oras... O que si intende de tudo qui a sinhora disse, já que a iconomia mundial vem crescendo há anos – deve ser o tal mar que a sinhora fala – é que de economia a sinhora deve intendê tanto, mais tanto, tanto, que si fosse a dona dela, já tinha falido. Proque si o salário mínimo é di seiscentos, se paga 200 para a energia elétrica, 150 para a água mesmo que não tenha nim gota, 150 di alugue, que a sinhora pensa que vamos fazê com uma nota de cem pra pagá comida, duas condução de trem e duas de ònibs, vesti e tomar um copo de água em shows grátis da prefeitura?

Ou o seu dinheiro não é daqui, ou a sinhora num sabe fazê conta direitim. Nem vou chamá de mentirosa proque num deve di ser. Mais que tem algo errado ca sinhora, isso tem. Já pensô em consultar um piçiquiatra, daqueles qui trata da cabeça invêiz di regime pra inmagrecê ? Assim num quero vê a sinhora nim mais gorda nim mais magra.


Assinado
Ex-Pronatec, Ex-FIES, Ex-ENEM, Ex-istudante por farta di vaga, di crédito e di dinheiro, mas todos mi chama de aluno. E tô di oio em seu relojio...Tem celulá também?


® Rui Rodrigues