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sexta-feira, 19 de junho de 2015

Vivendo à moda antiga...Mas...


Não é uma questão de dinheiro, de posição social, política, religiosa, racial, sexual ou o que quer que seja ou possa parecer. É uma questão contemplativa de se olhar o mundo, e ver que, em meio a tantos progressos que até se podem questionar na sua essência e definição, esta bola de terra mar e ar que gira no espaço está diferente, moderna, modificada. Não era assim quando nasci. Como era?

Os mais velhos reclamavam, em minha infância, das mudanças do mundo. Sempre reclamaram e reclamamos. Deveríamos tomar isso como um sintoma de que não estamos caminhando, como humanidade, no caminho mais recomendável, porque os tempos passados e os modos de vida deixam saudades quando comparados com os da atualidade. Juventudes não têm esse conhecimento dos tempos passados porque não os puderam viver, e mesmo que vejam algumas descrições e fotos, jamais poderão avaliar os momentos passados e suas emoções, sensações, racionalizar comparações.


Há três tipos fundamentais de forma de olharmos esta evolução no tempo. Uma delas é atendo-nos ao fato de que o passado corresponde à nossa juventude deslumbrada pela vida, poderosa, ativa, esperançosa, construtiva e que o comparamos com um estado a caminho da senilidade, sem muitos deslumbramentos, enfraquecidos, em atividade reduzida, sem muitas esperanças (até porque não se vêm mudanças que nos façam julgar nossos avós que reclamavam do mesmo como “errados”) e sem podermos construir algo mais contributivo. A outra forma refere-se aos grandes volumes de fatos da humanidade à luz da história mais recente desde nossos bisavôs tal como tivemos informação, uma história viva, o que mudou, que progressos fizemos e em que campos da engenhosidade humana, o que não exclui o social nem o ambiental de forma geral. A terceira forma de olharmos a evolução no tempo vai desde as origens da humanidade até um futuro distante, traçar os rumos que escolhemos e tentando ver para que rumos tendemos agora e ao que eles nos poderão levar. E então, talvez nos perguntemos se vale a pena, e possamos encontrar respostas para “o que estamos fazendo aqui?”



Se olharmos para nós mesmos e nos compararmos com a nossa juventude, porém com consciência que não somos únicos e que vivemos num meio permeado de iguais, semelhantes e diferentes, logo nos daremos conta que fazemos parte de um meio global do qual somos apenas uma peça de fácil reposição e até perfeitamente prescindíveis. O mundo continua – pelo menos aparentemente normal – sem qualquer um de nós. Alguns deixamos legados no aprendizado, como Albert Einstein, por exemplo, mas são agradáveis e importantes raridades. Mas até nisso nos podemos equivocar. Se não fosse Albert Einstein, outro seria quem viria a descobrir que E=mc2. Albert Einstein adiantou-se talvez um par de meses ou no máximo uma década em relação aos outros. Não são os seres humanos que fazem descobertas. É o que há para descobrir que se mostra para quem pensa nisso, na base do quanto mais, mais. Isto é, quanto mais se descobre, mais fácil fica descobrir o que ainda não se descobriu. Ninguém inventa nada: Levanta o véu do que estava encoberto.


Analisando tudo o que aconteceu à luz das histórias saudosas de nossos bisavôs, avôs e pais, além de outros familiares mais idosos ou conhecidos, a história viva, podemos ter uma idéia mais precisa do que mudou realmente e em que grau de direção e intensidade. Uma parte deste saudosismo se deve à perda da juventude certamente. O restante da saudade é porque o que mudou não foi para melhor, o que quer que “melhor” possa significar, quer ao nível de família, particular ou da própria sociedade humana, e até mesmo do ambiente em que vivemos.



Uma visão desde os primórdios da vida neste planeta até o presente mostra-nos que não devemos ter saudades daqueles tempos, embora devamos ter toda a consideração e respeito. Nós somos eles hoje, esperanças de futuros seres humanos modificados. E talvez nos deparemos com “visões” fantásticas de uma terra cheia de seres humanos com carências e fomes terríveis, as demais espécies vivas na sua maioria extintas, respirando já não mais oxigênio e nitrogênio, mas atmosferas ácidas com pulmões adaptados ou usando máscaras permanentes que impeçam beijos de amor, ou então num futuro mais sensato de menos gente, mais fartura, ar mais puro, vida selvagem pululando pelos campos, matas, mares, rios, florestas e ares deste planeta.


É verdade que construímos o nosso futuro, em termos particulares e da humanidade como um todo social, mas não temos a menor noção para onde vai nem o que pretende. As idéias de líderes e mentores, o que quer que isso possa significar e ser importante, não duram mais que uns poucos milênios. Mas milênios não são nada para uma humanidade que já conta milhões de anos. Depois, sem explicação, a humanidade vai mudando aos poucos. Se fossemos um ser que pudesse ver a humanidade como um enorme ser “individual”, veríamos que só guarda, do passado, o que é importante, e mesmo assim apenas em seus genes. O resto esquece completamente. Deve haver uma mensagem para este aspecto. Porque cada ser humano só guarda uma parte do que é importante em sua carga genética? E, no entanto, estamos evoluindo. Quem sabe um dia poderemos até ter asas próprias, sermos os anjos de um éden terreno? Com menos gente, sem competição entre si, talvez pudéssemos chegar a esse ponto, mas dizem as teorias da evolução que para chegarmos a ter asas precisaríamos correr muito, cada vez mais rápido. As galinhas estão tentando isso há milhões de anos, já têm asas e mesmo assim não conseguem voar. Mas não por isso devemos abdicar de um éden neste planeta, onde até se possa viver eternamente. Talvez estejamos interpretando mal os livros sagrados, e o Éden seja um fim a atingir e não apenas o nosso começo, de onde fomos expulsos por anjos de asas.



O que queremos? O mundo inteiro perceptível está à nossa disposição. Estamos indo bem? Se estivermos continuemos, mas se estamos indo mal, então mudemos o quanto antes.


® Rui Rodrigues.    

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