Não é
uma questão de dinheiro, de posição social, política, religiosa, racial, sexual
ou o que quer que seja ou possa parecer. É uma questão contemplativa de se
olhar o mundo, e ver que, em meio a tantos progressos que até se podem
questionar na sua essência e definição, esta bola de terra mar e ar que gira no
espaço está diferente, moderna, modificada. Não era assim quando nasci. Como
era?
Os mais
velhos reclamavam, em minha infância, das mudanças do mundo. Sempre reclamaram
e reclamamos. Deveríamos tomar isso como um sintoma de que não estamos
caminhando, como humanidade, no caminho mais recomendável, porque os tempos
passados e os modos de vida deixam saudades quando comparados com os da
atualidade. Juventudes não têm esse conhecimento dos tempos passados porque não
os puderam viver, e mesmo que vejam algumas descrições e fotos, jamais poderão
avaliar os momentos passados e suas emoções, sensações, racionalizar
comparações.
Há três
tipos fundamentais de forma de olharmos esta evolução no tempo. Uma delas é
atendo-nos ao fato de que o passado corresponde à nossa juventude deslumbrada
pela vida, poderosa, ativa, esperançosa, construtiva e que o comparamos com um
estado a caminho da senilidade, sem muitos deslumbramentos, enfraquecidos, em
atividade reduzida, sem muitas esperanças (até porque não se vêm mudanças que
nos façam julgar nossos avós que reclamavam do mesmo como “errados”) e sem
podermos construir algo mais contributivo. A outra forma refere-se aos grandes
volumes de fatos da humanidade à luz da história mais recente desde nossos
bisavôs tal como tivemos informação, uma história viva, o que mudou, que
progressos fizemos e em que campos da engenhosidade humana, o que não exclui o
social nem o ambiental de forma geral. A terceira forma de olharmos a evolução
no tempo vai desde as origens da humanidade até um futuro distante, traçar os
rumos que escolhemos e tentando ver para que rumos tendemos agora e ao que eles
nos poderão levar. E então, talvez nos perguntemos se vale a pena, e possamos
encontrar respostas para “o que estamos fazendo aqui?”
Se
olharmos para nós mesmos e nos compararmos com a nossa juventude, porém com
consciência que não somos únicos e que vivemos num meio permeado de iguais,
semelhantes e diferentes, logo nos daremos conta que fazemos parte de um meio
global do qual somos apenas uma peça de fácil reposição e até perfeitamente
prescindíveis. O mundo continua – pelo menos aparentemente normal – sem
qualquer um de nós. Alguns deixamos legados no aprendizado, como Albert
Einstein, por exemplo, mas são agradáveis e importantes raridades. Mas até
nisso nos podemos equivocar. Se não fosse Albert Einstein, outro seria quem
viria a descobrir que E=mc2. Albert Einstein adiantou-se talvez um par de meses
ou no máximo uma década em relação aos outros. Não são os seres humanos que
fazem descobertas. É o que há para descobrir que se mostra para quem pensa
nisso, na base do quanto mais, mais. Isto é, quanto mais se descobre, mais
fácil fica descobrir o que ainda não se descobriu. Ninguém inventa nada:
Levanta o véu do que estava encoberto.
Analisando
tudo o que aconteceu à luz das histórias saudosas de nossos bisavôs, avôs e
pais, além de outros familiares mais idosos ou conhecidos, a história viva,
podemos ter uma idéia mais precisa do que mudou realmente e em que grau de
direção e intensidade. Uma parte deste saudosismo se deve à perda da juventude
certamente. O restante da saudade é porque o que mudou não foi para melhor, o
que quer que “melhor” possa significar, quer ao nível de família, particular ou
da própria sociedade humana, e até mesmo do ambiente em que vivemos.
Uma
visão desde os primórdios da vida neste planeta até o presente mostra-nos que
não devemos ter saudades daqueles tempos, embora devamos ter toda a consideração
e respeito. Nós somos eles hoje, esperanças de futuros seres humanos
modificados. E talvez nos deparemos com “visões” fantásticas de uma terra cheia
de seres humanos com carências e fomes terríveis, as demais espécies vivas na
sua maioria extintas, respirando já não mais oxigênio e nitrogênio, mas
atmosferas ácidas com pulmões adaptados ou usando máscaras permanentes que
impeçam beijos de amor, ou então num futuro mais sensato de menos gente, mais
fartura, ar mais puro, vida selvagem pululando pelos campos, matas, mares,
rios, florestas e ares deste planeta.
É
verdade que construímos o nosso futuro, em termos particulares e da humanidade
como um todo social, mas não temos a menor noção para onde vai nem o que
pretende. As idéias de líderes e mentores, o que quer que isso possa significar
e ser importante, não duram mais que uns poucos milênios. Mas milênios não são
nada para uma humanidade que já conta milhões de anos. Depois, sem explicação,
a humanidade vai mudando aos poucos. Se fossemos um ser que pudesse ver a
humanidade como um enorme ser “individual”, veríamos que só guarda, do passado,
o que é importante, e mesmo assim apenas em seus genes. O resto esquece
completamente. Deve haver uma mensagem para este aspecto. Porque cada ser
humano só guarda uma parte do que é importante em sua carga genética? E, no
entanto, estamos evoluindo. Quem sabe um dia poderemos até ter asas próprias,
sermos os anjos de um éden terreno? Com menos gente, sem competição entre si,
talvez pudéssemos chegar a esse ponto, mas dizem as teorias da evolução que
para chegarmos a ter asas precisaríamos correr muito, cada vez mais rápido. As
galinhas estão tentando isso há milhões de anos, já têm asas e mesmo assim não
conseguem voar. Mas não por isso devemos abdicar de um éden neste planeta, onde
até se possa viver eternamente. Talvez estejamos interpretando mal os livros
sagrados, e o Éden seja um fim a atingir e não apenas o nosso começo, de onde
fomos expulsos por anjos de asas.
O que
queremos? O mundo inteiro perceptível está à nossa disposição. Estamos indo
bem? Se estivermos continuemos, mas se estamos indo mal, então mudemos o quanto
antes.
® Rui Rodrigues.
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