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terça-feira, 17 de setembro de 2013

Chupa essa mandioca Alexandre VI

Chupa essa mandioca Alexandre VI

Hoje acordei pensando neste belo, amigo e inteligente povo brasileiro. E a primeira frase que me ocorreu foi: Chupa essa mandioca Alexandre VI [1]!...


No tempo dele, a terra “era” plana e era também o “centro” do Universo. Era o que “diziam” as escrituras reforçadas pela teoria de Ptolomeu.  Tudo girava à sua volta e ai de quem dissesse o contrário. Iria preso, seria torturado e mandado para uma fogueira. O termo “ai de quem” vem desses tempos, da inquisição, pelos “ais” que os desgraçados davam quando eram torturados e queimados vivos. Desobedecer à Igreja era um crime, estivesse a Igreja certa ou errada. E era a Igreja quem, nesse tempo, nos dizia o que estava certo e o que estava errado, pela simples leitura das escrituras. O problema era que os papas até Alexandre Ve-i não precisavam ser sacerdotes. Muitos eram comerciantes, qualquer coisa, e tinham os seus interesses próprios de poder, de vaidades, sua própria ambição, e era nas mãos desses que o mundo estava. Mandavam em tudo, eram os donos do Sacro Império Romano Germânico, da França, de toda a Europa que era cristã.


Alexandre Ve-i soube constrangido, antes de 1503, ano em que morreu, que a Terra poderia passar a ser redonda e não uma placa circular suportada por uma quantidade enorme de tartarugas enormes que a suportavam, embora já desconfiassem de que poderia flutuar no espaço das águas que Deus separara quando fez os céus, mas como isso estava escrito no primeiro testamento, não tinha a mínima importância relativa, porque Jesus que tudo sabia como Deus, e que dera origem ao segundo testamento, este agora mais importante do que o primeiro, nunca discutira com os Apóstolos como o Pai tinha feito o mundo. O que Alexandre Ve-i soube foi que Pedro Álvares Cabral tinha descoberto as Terras do Brasil, num lugar onde os oceanos deveriam ter terminado, cheio de monstros que provavelmente protegiam as tartarugas e que serviam para assustar quem tentasse descobrir novos mundos, da mesma forma que o diabo assustava todo o mundo aqui na Terra, ajudado pela Igreja que também assustava com a fogueira, a dama de ferro e outros apetrechos de furar a pele, queimar, extrair unhas, e só não davam choques porque não tinham ainda descoberto a eletricidade. Morreu enquanto tentava organizar uma cruzada contra os mouros, os infiéis, os que pensavam diferente, para assaltar as suas riquezas. 


Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil, descobriu novas gentes pacatas que tomavam banho todos os dias, com as partes íntimas sempre lavadinhas, prontas para o uso, de perfil muito alegre, cujas penas só usavam em cocares, jamais na alma. Este novo povo não tinha igreja para lhes atazanar as idéias, viviam integrados na natureza de forma auto-sustentável, não tinham nenhum rei, e fogueiras só para assar mandioca, churrasquear uns peixinhos, espantar onças. Alexandre Ve-i não teve muito tempo para chupar aquela mandioca, porque lhe sucedeu em 1503, quando faleceu, o papa Pio 3-is, que morreu logo que assumiu no mesmo ano. Este não teve nem tempo de chupar nada. Julio 2-is, que lhe sucedeu, ainda em 1503, ficou chupando jaca até 1513, preocupado com o comportamento da terra, que parecia ser o centro das atenções para os próximos anos talvez séculos. O mundo ia mudar graças à teimosia dos portugueses que logo por essa altura começaram a instalação de bares pela cidade do Rio de Janeiro vendendo vinho importado da Europa e pesquisando sobre a destilação de suco fermentado de cana de açúcar.



Estes portugueses pensavam de forma muito diferente. Achavam que a Terra era redonda, que era o Sol que era o centro do Universo, e suspeitavam que até nem era, porque se guiavam pelas estrelas através de um instrumento chamado Astrolábio. O Universo inteiro parecia não ter um centro. Centro mesmo era o da cidade do Rio de Janeiro, ou de Lisboa. Julio 2-is parou de chupar jaca em 1513, quando morreu, sucedendo-lhe Leão Xis. Leão Xis ficou muito preocupado em 1519 quando Fernão de Magalhães, outro português se arranjou com os reis de Espanha para lhe arrumarem uma frota para dar uma volta ao mundo. Partiram de Sanlúcar de Barrameda na Espanha e chegaram a Sevilha – apenas um dos cinco navios que haviam partido – em 1522, depois de viajarem 1080 dias. No entanto, pelo diário de bordo, eles tinham viajado 1081 dias [2], gerando enorme discussão internacional. Mas o papa já não era Leão Xis, que tinha falecido em 1521 e sim Adriano Ve-i que morreu em 1523 sem ter definido a Linha Internacional de Data.


O Papa Francisco i, agora eleito, passados mais de 500 anos, cansou-se de ser empurrado pela humanidade que sempre desvenda e mostra os erros, embora com muita lentidão, aos que querem impor-lhe ordens sem fundamento que seja suportável pela observação e pela ciência. Ele está mudando a Igreja, corrigindo os conceitos equivocados, de braços dados com as verdades e não com as conveniências gerenciais. Esta humanidade vai à escola, estuda, sabe em que mundo está. Francisco i não chupa nada. Ele é bem vindo a este mundo, porque todos os outros Papas que o antecederam, eram de um outro mundo que não conhecemos, e que só eles imaginavam prometendo-nos esse tal mundo que jamais poderá estar ao nosso alcance em vida...

Bem vindo, Francisco i. Temos o maior prazer em conhecê-lo e ouvi-lo, o bem deve ser praticado para que se possa viver em paz e tranquilidade neste mundo, sem tantas desigualdades, e a conquista desse mundo para lá da vida, será apenas uma consequência do bem que nesta vida praticarmos. 

© Rui Rodrigues









[1] Até este papa, qualquer individuo poderia ser eleito papa, mesmo sem ter conhecimentos eclesiásticos ou teológicos. Era uma questão de prestígio, de jogo de interesses, de populismo, muito à moda de sistemas totalitários, como o comunismo e o bolivarianismo. È um perigo para as sociedades, porque não tem base racional. Sistemas assim funcionam na base da imposição da vontade, são verdadeiras ditaduras.
[2] Ainda não existia a “linha internacional de data” e um dia deveria ter sido descontado, porque a Terra é de fato redonda, e para quem não acredita, o homem já foi à Lua e há equipamentos por lá que o atestam.  

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Tudo vale a pena? Será a alma pequena?



Tudo vale a pena? Será a alma pequena? 

Dizia o poeta Fernando Pessoa que tudo vale a pena se alma não for pequena... Temos, grande parte de nós, uma alma grande, enorme, do tamanho do Adamastor, e parece não ser suficiente para vencermos almas tão pequenas e mesquinhas como as de nossos políticos  quer do lado ocidental quer do oriental do oceano Atlântico. Eis algumas das razões.



A CAMINHO DO PATÍBULO.



Estou pensando o que é "indignação" realmente e como esse sentimento se manifesta numas pessoas de forma perene até que os motivos dessa indignação sejam anulados, e como em outras é como ventania que apareceu em Junho de 2013 e em setembro já estava amainada, mesmo com declarações alienadas do governo dizendo que isto aqui é uma economia crescente melhor que a dos EUA...

O governo engana o povo, o povo das ruas se engana como povo, e parece que caímos no marasmo dos condenados à forca que cabisbaixos seguem rumo ao patíbulo... Conformados...

Restam ainda nas florestas de Sherwood, uma meia dúzia de Robin Hoods, outra de Robin Woods, sem que nos preocupemos realmente com o que perturba o ambiente fora das florestas. Vivemos enflorestados em apartamentos e casas, barracos e trapiches, enclausurados à espera do patíbulo.

A indignação ainda é auto-sustentável, auto-gerível, continuamos contando piadas, nossos impostos são dádivas a fundo perdido, a saúde não incomoda enquanto não precisarmos dela, a educação é só para os novos e nós já não somos tanto nem precisamos dela também, aliás, de que precisamos nós, 200.000.000 de brasileiros, senão de uma boa fofoca que nem nos incomodados em saber se é verdade ou mentira enquanto tomamos uma cerveja, gastamos do bolsa família o que a inflação ainda não comeu?

Não somos agora o país da cerveja, das novelas, do politicamente correto e das redes sociais?

Mas quando chegar a nossa vez de subirmos ao cadafalso do enforcamento por saúde, por ensino, por infra-estruturas, por inflação, falta de segurança e outros males, certamente gritaremos:

- GOVERNO DESGRAÇADO.... QUEM ME AJUDA ??????

Parece que por enquanto estamos apenas olhando os enforcados tal como os que seguiam para câmaras de gás. A nossa vez ainda parece longe...

₢ Rui Rodrigues.



SALOMÉ E OS ATAQUES CIBERNÉTICOS DA NSA
- Alô? Dilma?.. Sou eeeu... Salomé Tua amiga do Sul, tchê... Não estás ocupada falando com o Obama, né ?
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Ah.. Estavas até há pouco... E já sabes se a Petrobrás vai dar lucro grande, muito grande ou enorme???...

--- Não.. Não... Calma.. Não te irrites, tchê, que até pareces azoada e isso não te fica bem, tchê... É que estão falando muito. Dizem que a NSA estaria dividindo informações contigo, para que saibas quanto que a Petrobrás tem disponível para as eleições de 2014... E de outras cositas mais que o Eike também soube..

---- &*(¨$¨5474_)*¨¨&$¨%#$%2

--- Calma, Dilma, calma... Eu não disse nada demais... Só estou contando o que dizem por aí...
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- Que cositas?... Do levante militar... Haveria forças pró-comunismo nas forças armadas e pró-contra-comunismo, e outras ainda em cima do muro vendo onde param os mísseis que compraste para a copa de 2014... Aquilo vai ser uma copa de futebol, ou de tiro de bola de canhão...

---- Não.. Dilma.. Não... Toma teus calmantes, vai.. Não te irrites... Hi... Desligou.. Eu não estava dizendo nada demais... Quando ela se irrita, nem fala direito, parece até que usa bombacha e peida depois do mate...



 Rui Rodrigues



FORTE KNOX E FORTE DE INOX




Fort Knox é um dos lugares onde os EUA guardam seu ouro. Não vivemos mais no “padrão ouro”, mas o dólar americano tem lastro na “confiabilidade” suportada pelo ouro que possui. Entra crise, sai crise, e o dólar americano baixa, sobe, mas se mantém como moeda confiável. Porquê? Porque se o mundo voltar ao “padrão ouro” por qualquer motivo que hoje não se possa prever, lá estará o ouro americano garantindo a moeda. Petróleo é tratado da mesma forma: Quando o petróleo fica mais barato, os americanos enchem os poços vazios de petróleo com o óleo “cru” importado. Outros países, como Portugal, por exemplo, em épocas de crise vendem seu ouro às toneladas. Podemos imaginar quem compra esse ouro disponibilizado para manter, como foi no caso português, uma administração deficiente destinada a manter os projetos e os amigos dos políticos representantes do povo. Os americanos sabem que acumular riquezas já permitiu a judeus se livrarem da câmara de gás durante a segunda grande guerra, e até mesmo sair da Alemanha nazista.

Países com alta corrupção e políticos corruptos, não cuidam de suas riquezas. Vendem tudo o que podem, até a qualquer preço, incluindo empresas que já foram públicas, fundadas e instaladas com dinheiro dos impostos públicos, minerais estratégicos como o nióbio, e mente-se muito, até quanto à disponibilidade de petróleo que ora nos é abundante, ora o estamos importando no Brasil. Somos o país da importação negativa, ou seja, do “não importa”... Estamos habituados a receber informações de “fatos consumados” do governo, que depois servem de desculpa para “consertos & reparos” em que geralmente a emenda é pior do que o soneto... No momento disponibilizamos verbas do tesouro até para perdoar dívidas externas de outros países, alguns onde os governos são ditatoriais, como se não tivéssemos pobreza dentro de nossas fronteiras. Agimos, ou melhor, nossos representantes agem como se fossemos ricos, mas nossos índices de desenvolvimento e de riqueza nos dizem que não, redondamente não, apesar de todas as despesas que o governo tem de nos mostrar em propaganda que somos dos melhores do mundo. Assim é também em Cuba, na Venezuela, na Coréia do Norte... Os filósofos de araque continuam fomentando as belezas do comunismo e do socialismo como se esquecessem que dos noventa países que já foram comunistas, apenas dois o são e mesmo assim, já nem tanto, e nem Rússia ou China se consideram comunistas.

Fico pensando em que poços estamos acumulando petróleo, em que forte de aço inox estaremos acumulando o nosso ouro, o que será deste país no dia em que todas as verdades vierem á tona como estão vindo... E, no entanto, apesar de não se verem movimentos na população contra este estado de coisas, ela se move... O povo no momento só grita, rabugenta, se indigna... Um dia parecerá uma manada de gado que estourou.

Seria um caso único em termos de manifestação sul-americana, algo muito pior do que a revolução russa, a queda da Bastilha, ou a guerra de Secessão dos EUA... Mas acontecerá quando se verificar que nossos poços e cofres estão realmente vazios porque foram assaltados a pouco e pouco por quem tinha as chaves.



© Rui Rodrigues






sábado, 7 de setembro de 2013

Veja como é possível ser feliz com um amor e uma cabana.

Veja como é possível ser feliz com um amor e uma cabana.


Realmente é simples, possível, e absolutamente funciona.

Comece por imaginar o que para muitos já é uma realidade:

Um amor para beijar, amar, transar, e se usar camisinha - ou se de acordo entre ambas as partes se mantiverem fiéis ao amor mútuo - nem precisam usar camisinha. Se pelo contrário e eventualmente a relação se deteriorar, as partes têm a obrigação de avisar que a relação não vai bem, e começam a usá-la porque são distribuídas gratuitamente, preparando-se para novos amores. Assim se evitam filhos em casais não muito seguros, as despesas não aumentam, não há que botar mais pratos na mesa, pagar escola, gastar dinheiro com médicos. O amor e a cabana se sustentam...E se a cabana ficar num terreno de mais ou menos mil metros quadrados, dá para plantar tanta coisa que a economia nos supermercados ou nos armazéns, será drasticamente diminuída, quase gerando subsistência auto-sustentável, agora bem na moda. Se nesse terreno houver uma cabra ou uma vaca, ou uma ovelha, terá leite quase grátis para um casal. Se o leite estragar, come coalhada. Se estragar ainda mais come queijo que é tão caro nos supermercados. Só terá que levar a cabra ou a ovelha ou a vaca para passear no prado para ela se alimentar sem custos para você. Mas tempo é o que não vai faltar ao casal. Só não tem tempo quem trabalha.

Água potável? Abra um poço... E garanta que haja energia elétrica nos arredores. Quem sabe até possa aparecer um “gato” legalizado nas redondezas se a companhia de energia elétrica não tiver condições de levar o posteamento até a sua casa e desta forma, obter a energia a que tem direito constitucional. Esgoto? Faça uma fossa legal com três poços para depósito de fezes, decantação fecal e sumidouro de forma a não poluir o sub-solo. Umas coberturas de plástico sobre as fossas e uma mangueira de plástico lhe garantirão o gás para o fogão em terceira mão.

Carro para quê? Quase nem precisa sair, então a economia com a gasolina que sempre sobe, pode ser usada para pagar os ônibus, ou então peça carona aos amigos que vos cercam. Até pode contribuir com alguns trocados para a gasolina, porque o custo da passagem dá para pelo menos dois litros e com esses dois litros qualquer carro anda pelo menos uns doze quilômetros. O supermercado e a cidade não ficam tão longe assim. E se ficarem longe, lembre-se que caminhar todos os dias dá saúde. Assim, vá todos os dias a pé ao supermercado e volte com duas sacolas uma em cada mão. No final do mês, verá que está com os músculos tonificados, terá transportado sessenta sacolas. Como não consome tanto, vá ao super e compre para os amigos e amigas da região e fature uns trocados. 

Quando construir sua cabana, ( se não conseguir invadir uma casa do minha casa minha vida) lembre-se de abrir bastantes portas e janelas e usar telas para mosquitos. Assim, nos dias de calor, abra todas as portas e todas as janelas, e nem precisará de ar condicionado ou ventiladores. Se não houver vento, tome banhos freqüentes com água de poço. E qualquer radinho de pilhas lhes dará notícias por pelo menos um mês sem ter que comprar mais desses cilindros tão caros. Notícias não faltarão em seu radinho, e se por acaso seu dedo parar naquela emissora que remete para igrejas que cobram dízimo, lembre-se: Seu dinheiro é curto, mal dá para comer e não pode ser desperdiçado, sendo melhor que deus lhe dê um dízimo mensal para que possa sobreviver melhor. Afinal você não é deus, Deus é ele e só ele pode fazer milagres de lhe dar uma grana extra todos os meses. Se Deus não fizer esse milagre, filie-se a um partido e terá ajuda do estado. E lembre-se sempre que quiser rezar, ir ao templo: Uma das premissas de Deus é que ele está em toda a parte. Por isso economize dinheiro em transporte público e reze em casa, na sua, ou junte-se com amigos e rezem na casa de cada um por método de revezamento. Deus entende essas coisas. Pastores sacerdotes é que não entendem nada disso. 

Sem muita diversão, coisas da vida para distrair, transe com sua parceira ou com seu parceiro. É uma boa diversão se usar camisinha para não haver filhos. Se for gay, não terá jamais este problema. É só transar...

Falta-lhe uma televisão? Para quê? Para ver novelas? Ora, ora... Sua vida é uma novela muito melhor do que aquelas a que assiste e que nunca acabam como você gostaria que acabassem, e quanto a notícias, tem o radinho de pilha, lembra? Mas repare, coisa que nem em Cuba se faz: juntem-se nas imediações em grupos de uns vinte e comprem um computador e um modem e podem ter Internet, tv, notícias... Se precisar de grana, venda o radinho de pilhas, e se sair briga entre os vinte para ver quem tecla o computador, nada que um esparadrapo e uma tintura de iodo não resolvam...

Ah... E tem que escolher o estado. Por exemplo, no Maranhão, o estado mais pobre e deplorável do Brasil, não dá para viver bem com um amor e uma cabana, a menos que tenham como padrinhos alguém da família mais rica do Estado, os Sarney... E esqueça o Nordeste e o Norte: Falta água e nem votando no PT se conseguiu água para o lugar. Dinheiro há de montão, como se sabe a julgar pelas verbas liberadas para as obras do PAC, mas... Ora... Pra quê saber se isso não muda nada? Então fiquemos no amor e uma cabana e esqueçamos o resto.  Coração que não vê, olhos que não sentem. Quanto mais conhecimento tiver, mais sofrerá, mais ficará indignado, e isso até pode tirar a vontade de transar e ser feliz. Transe...Transe bastante como quem fuma crack... Crack é um vício que destrói e custa caro, mas transar é grátis e distrai o suficiente para não precisar pensar na vida.

Roupa? Móveis? Nem precisa ir para supermercados ou casas de moda. Em casa podem andar nus porque são apenas um casal, o que permite uma certa privacidade. Para sair na rua, andar de ônibus (economize no ônibus e faça exercícios andando sempre a pé), duas bermudas e quatro camisetas, um par de chinelos e um par de tênis com direito a um boné. Isso dura uns quatro anos, e não custa tão caro se souber onde comprar. Os móveis podem ser feitos com objetos de lixo reciclável. Uma tesoura, um vidro de cola, uma chave de fendas, agulha, linha, e pode ter todos os móveis que quiser. Podem usar tábuas de demolição, tijolos que se encontram nas ruas, e sua imaginação. A cada móvel novo, um beijinho doce em seu amado ou em sua amada, comemorando com muita emoção, lágrimas de alegria, e o sentimento de que contra todos e contra todas, vocês conseguem. Agradeçam a Deus, mas não muito, senão ele pode achar que estão muito satisfeitos, que já vos deu demais e tudo piorar porque ele tem muita gente para atender.

Se só desejar isto, um amor e uma cabana, não precisa nem trabalhar. Basta ganhar uma bolsa família, usar o SUS sempre que precisar tratamento de saúde, mas com tanta felicidade e alimentos cultivados em seu terreno, e com a ajuda de Deus, nada lhe faltará, mas se contribuir com dízimos, ou terá que roubar, ou trabalhar, ou passará mal. E nem terá tempo para curtir o seu amor e a sua cabana, além do mais, há sempre um Ricardão, ou uma Teresona de olho no seu par. Mas se o SUS não resolver, vá até a Igreja do Valdomiro e espere para que se opere um milagre. Se todos têm direito a milagre, porque você não teria? E se mesmo assim não resolver, há sempre centros espíritas e pais de santo que operam verdadeiros milagres. Este mundo está cheio de opções.  

Diversão? Então não ficou sabendo dos shows grátis das prefeituras, todos os fins de semana? E nem se preocupe com a roupa para os shows. Ninguém conhece vocês, e nem terão tempo para reparar nem vocês querem que reparem. Vocês são um par que se completa e só têm olhos um para o outro.

E sorria... Sorria sempre... Mesmo quando olham para você de alto a baixo com aquele ar superior... Sorria porque está sendo invejado. Deus é fiel e lhe deu um amor, uma cabana cheia de coisas, notícias do dia a dia, só falta a câmara fotográfica, o celular, mas isso você encontra baratinho tipo três em um, e você Aipode sim... Aipode... Sem informar a proveniência vendem barato em segunda mão pelas praças e ruas deste Brasil.  

Afinal, se Lula sem nunca ter trabalhado e sem qualquer instrução chegou a ser presidente do Brasil, se Dilma foi presidente por indicação, se Maduro, um simples motorista de caminhão é presidente da Venezuela, se uma viúva de um político é presidente da Argentina, se bandidos ladrões fazem parte do congresso mesmo depois de condenados, alegre-se: Se um dia seu amor acabar e a cabana for pequena e achar que não vale a pena, ainda pode ser vereador, deputado, senador ou até mesmo presidente da república. Só falta aprender a roubar para ter mais sucesso.



© Rui Rodrigues

A lenda da Lagoa do Feitiço

A lenda da Lagoa do Feitiço


Rio de Janeiro, em tempos de imprefeitura e despresidencialidade é algo que brada aos céus, nos faz tomar banhos a fio para tirar uma ziguizeira inexistente, porque acabamos por nos sentir sujos mesmo logo depois do primeiro banho da manhã. É o calor quando falta energia elétrica, ou bueiro explode na rua em que moramos, ou o caminhão do lixo não aparece para recolher o que jogamos fora. Então vêm as moscas que nem nos cumprimentam nem pedem licença, apropriam-se do ambiente e ficam zunindo feito elétrons em torno de invisíveis núcleos atômicos numa zoeira de gozação implícita. Até as moscas riem de nossos impostos desperdiçados, amaldiçoados. Sem ar condicionado e sem ventiladores (se temos ar condicionado para que precisaríamos de ventiladores?) o calor aumenta e se torna berço para a procriação de moscas que transam desprevenidamente na frente de todos, num porco atentado ao pudor. Transam em qualquer lugar como se fosse o primeiro dos últimos dias de suas vidas  Nem eu com a Clarinha naquelas noites em que fechamos o caixa do mês e ficamos no bar até bem depois que os empregados saem, conseguimos tal performance. O suor úmido é insuportável e tudo gruda na nossa pele. Mas convenhamos que no calor os órgãos ficam mais úmidos e tornam o prazer mais gostoso.

Estávamos funcionando à luz de velas e de um lampião sobre o granito carijó do balcão onde alguns clientes mais apressados tomavam, em pé, seu chopp de serpentina. Chopp gelado, que lhes descia agradavelmente pela garganta e um esgar de contração num arregalar de olhos, de tão gelado que estava. Depois se ouvia o infalível e prolongado  “háaa.....” de puro prazer. Alguns clientes passavam o copo longo de chopp pela testa para refrescar. Num desses “ah..” a porta do bar se abriu com um estrondo, o vento entrou num rompante avassalador e o bafo morno e úmido da rua trouxe respingos de chuva. Um clarão cortou os ares e em seguida um trovão de ensurdecer como uma chicotada divina se abateu sobre os olhares esgazeados dos clientes. Durante momentos ficamos cegos e surdos, e depois amedrontados. Um sujeito enorme estava na porta de braços abertos olhando em minha direção. O seu corpo literalmente tapava a porta de entrada do bar. Um segundo relâmpago iluminou a rua lá fora, iluminando o sujeito enorme na porta, ainda de braços abertos como se fosse um Jesus Cristo de vitral de Igreja presbiteriana.  Na mesma intensidade do trovão que se seguiu, ouvi-se sua voz gritando:

- Portuga feladaputa... Branquela de merda... Dá-me um abraço que estou com saudades...

Fez-se silêncio no bar. O meu barman apanhou um copo e levantou a mão pronto para lho atirar no meio da testa, mas quando ouviu a palavra “abraço” e “ saudades”, sorriu, depois caiu na gargalhada e baixou o copo começando a limpá-lo com o pano que sempre usa pendurado na cintura, enquanto meneava a cabeça de um lado para o outro. Nunca nenhum imbecil tinha entrado no meu bar me chamando de feladaputa e branquela. Aquilo era novidade no bar.
Imediatamente me caiu a ficha... Era o Carlos Calunga, um brasuca, amigo de minha infância que de certa forma me acompanhava na vida desde Lisboa, passando por Angola, e pelo mundo. Era jornalista internacional de um grande periódico inglês.   
- Crioulo viado, filho de uma égua... – respondi-lhe... E nos encontramos a meio do caminho entre o balcão e a porta de entrada, esquecendo raios e trovões, envolvendo-nos num grande abraço.
A vozearia do bar voltou ao normal e sentamo-nos numa mesa. Como por encanto, a luz voltou e começamos a falar de nossos encontros, reavivando memórias, completando-nos as lembranças com detalhes que um de nós esquecera. Então Carlos falou sobre Angola.
- E aí, cara...Lembra em Angola quando fomos pescar na Lagoa do Feitiço? (E deu uma sonora gargalhada)... Lá no Uíge...

Eu lembrava. Como não?... A lagoa fica na comuna da Aldeia Viçosa pertencente ao município de Dange Quitexe, a meio caminho entre Dambi e Ngola. Aquelas terras já tinham pertencido ao Reino do Congo antes da chegada dos portugueses. Calunga me lembrou do dia em que lhe falei que tinha que ir lá e ele me acompanhou. Aproveitaria a carona para fazer uma reportagem sobre o lago. Pelo caminho contou-me a história do lago. Reza a lenda que quem toca nas águas da lagoa desafia Ikú [1]. Ignorante, eu, ri quando kalunga mencionou este Orixá, e eu nem sabia que era um Orixá. Representa a morte. Depois que soube, respeitei. Não que eu acreditasse, confesso, mas respeitei. As populações que conhecem a lenda nem se atrevem a chegar perto da lagoa do Feitiço, e o acesso só é permitido aos habitantes que vivem entre Dambi e Ngola. Basta falar na Lagoa do Feitiço e as pessoas tremem, viram o rosto e o corpo, baixam a cabeça.


Os raios continuavam do lado de fora do Bar do Chopp Grátis. Ouvidos atentos, das mesas mais próximas cadeiras se arrastaram e outros clientes escutavam nossa conversa sobre a Lagoa do Feitiço, enquanto bebericavam suas cervejas, suas caipirinhas. Alguns estavam assustados.

Kalunga continuou a descrever a Lenda:

- O Uíge é um lugar muito especial, porque o povo de lá acredita muito em mitos. Sobre a lagoa dizem que nela vivem sereias. Ali relativamente perto, a população rural dos Tucôkwe proíbe as crianças e adolescentes de irem muito cedo, pela manhã, ou muito pela tarde até ao rio Iwiji ou até a lagoa Citende[2] porque, segundo dizem, Samutambyeka [3]uma figura enorme maior que os eucaliptos mais altos, costuma beber muita água nesses períodos evitando sempre a aproximação de pessoas enquanto não estiver saciado. E enquanto bebe, vai soprando pelas narinas e pela própria boca jatos de água que se transformam em nevoeiro. Quem se aproxima e vê o nevoeiro, sabe que Samutambyeka está por perto bebendo sua água.


Mais relâmpagos lá fora. Rostos se voltaram para as janelas e para a porta que voltara a abrir-se. Era um casal de clientes, mas por fração de segundos pareciam mais os Yikixikixi ou espíritos das águas, forças invisíveis que sempre auxiliam e acompanham Samutambyeka. Quando as crianças vêm o Cezangombe [que normalmente aparece pelas tardes e quando chove, perto dos rios e lagoas, já sabem quem está por perto: O temível emissário da morte, a própria morte, Samutambyeka e os maus espíritos. Um velho freqüentador do bar, com o estômago meio inchado de cerveja, os lábios meio tortos com olhos de peixe morto, perguntou:

- Mas mesmo assim vocês foram pescar na lagoa? (Provavelmente ouvira nossa conversa desde o início)

- Fomos sim – Respondeu Calunga – Mas vocês não sabem ainda porque a Lagoa ganhou o nome de Lagoa do Feitiço. Foi um português que lhe deu o nome, e provavelmente incluiu sereias no feitiço do lago, porque sereias só aparecem no mar. O lugar onde existe a  lagoa era antes povoado. Havia no local uma aldeia chamada Ngungo Indua antes ainda da chegada dos portugueses ao Reino do Congo. Por essa época chegou na aldeia um homem idoso cheio de chagas que a aldeia desprezou. A duas crianças que o haviam tratado bem, o velho as avisou que a aldeia seria submersa, iria desaparecer sob uma nuvem negra. Então, logo que as crianças fugiram da aldeia, apareceu uma chuva muito fina que a pouco e pouco encheu o lugar submergindo a aldeia e criando a lagoa.  

Muitos anos depois, séculos, um português fazendeiro, chamado José Dinis se instalou em terras próximas à lagoa. Por essa altura, os nativos já sabiam do feitiço e o avisaram, mas ele não deu importância e usava as águas da lagoa como os fazendeiros costumam fazer, quer para beber, quer para lavar as roupas ou dar água ao gado. Então pessoas da família e trabalhadores começaram a morrer.  Foi então que José Dinis passou a chamá-la de “Lagoa do Feitiço”.
Desde então é preciso fazer alguns rituais para que o acesso esteja livre, e as autoridades religiosas tradicionais jogam vinho, champanhe, refrigerante e maruvo [5] em suas águas enquanto dizem palavras dirigidas aos tais espíritos os Yikixikixi.
- E a pescaria?  Voltou a perguntar o velho cliente, enquanto a porta do bar voltou a abrir-se com a tempestade que lá fora fazia balançar sinais de trânsito, impedia a visão do outro lado da rua como se uma enorme cortina de água desabasse sobre a cidade que começava a alagar. Muitos clientes sairiam do bar já meio “tocados”, chamando táxis por telefone, que demorariam a chegar.

- Pois é... (Calunga estava animado)... A pescaria. Nós, eu e o Portuga tínhamos combinado que sairíamos de noite para pescar sem que ninguém nos visse. Na verdade não acreditávamos na lenda. Pegamos o carro, um velho Renault de alavanca embutida no painel perto do antigo acendedor de cigarros, e chegamos na Lagoa por volta da uma da manhã. Acendemos um lampião e começamos a pescar. Por sorte levamos repelente de mosquito, mas mesmo assim ainda fomos mordidos por alguns. Quando estávamos começando a pescar ouvimos uns cantos agudos que logo identificamos com baleias, mas baleias não existiam na Lagoa. Seriam sereias se acreditássemos nelas, mas também não poderiam ser. Vimos então na beira do lago uns seres enormes que emitiam aqueles sons. Levamos um tal susto, apanhados que fomos de surpresa, que saímos correndo mata adentro até chegarmos ao carro.


A porta do bar voltou a abrir-se ao som de um raio de chicotada brilhante e sonoro quase juntamente com o  barulho do trovão. Todos os clientes olharam para a porta. Dois seres enormes exatamente iguais aos que tínhamos visto na Lagoa do Feitiço estavam agora na porta do Bar, emitindo os mesmos sons. Alguns clientes se agarraram uns aos outros. O meu barman agachou-se atrás do balcão e Carlos Calunga ria a bandeiras despregadas... As duas figuras na porta riam também, e entendi finalmente que meu amigo Carlos Calunga tinha-me “metido uma peça”, feito uma gozação, por duas vezes: No Uíge em Angola, e agora no meu bar, tudo combinado com dois amigos dele vestindo roupas esquisitas sobre “andas”, aqueles tocos de madeira em que subimos para ficarmos mais altos.

Carlos Calunga é um dos meus melhores amigos, e um gozador de primeira.


© Rui Rodrigues






[2] Fala-se Tchitende...
[3] Também chamado de Espírito Perdido.
[4] O arco-íris. Lê-se Tchezangombe.
[5] O Maruvo é uma bebida resultante da seiva das palmeiras (palmito, bordão ou matebeira).Muitas vezes ingerida já em estado de plena fermentação (que pode durar até 5 dias) quanto mais fermenta, mais aumenta a percentagem de álcool.Muito apreciada em Angola, sobretudo no Norte, onde tem funções sociais precisas, como a cerimônia do alambamento (cerimônia de noivado)  óbitos, no final de uma maka ou agradecimento ao voluntariado comunitário nas zonas rurais.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

As crônicas de Carlos Calunga[1].

                                            As crônicas de Carlos Calunga[1].


Carlos Calunga é meu amigo negro, um dos primeiros amigos que tive. Conheci-o em Portugal no bairro onde eu morava. Era um negro diferente porque contrariamente aos outros que chegavam a Lisboa fugidos das guerras coloniais, ele chegara do Brasil para estudar em Lisboa. Neto de escravos fugitivos e libertos das minas de ouro do Brasil, mais precisamente da Chapada dos Veadeiros, do Município de Cavalcante. Tinha um sotaque engraçado, de um português ainda mais claro do que o falado em Lisboa, onde sempre se “comem” algumas sílabas, com muitas síncopes e apócopes, mas o chiado era o mesmo. As palavras de Calunga eram completas. Sua linguagem era muito clara sem deixar dúvidas e tinha um jeito moleque de se expressar pondo à mostra um espírito desinibido e independente mostrando sempre os alvos dentes de perfeita dentadura. Era incrível como conseguia falar de modo sério entre sorrisos. Separamo-nos em Portugal, em 1962, quando vim para o Brasil, coisa insuspeitada até 1961, quando me preparava para partir para as guerras coloniais, destino infalível de todos os portugueses jovens de 16 anos que não tivessem padrinho nos altos escalões do governo. Quem tinha padrinho ficava para a administração, os outros para a luta no terreno desconhecido. Não tive mais notícias dele até que, por mais um empurrão da vida, voltei a Portugal de onde saí a trabalho para Angola. Lá o encontrei também por acaso. Esta vida tem coisas que parecem inexplicáveis. Eu queria ser oficial da marinha de guerra com os meus 16 anos e ele médico. Agora eu era engenheiro e ele jornalista, que cobria a guerra entre a UNITA e a MPLA, envolvendo cubanos, sul-africanos, mercenários de vários países. Angola estava em guerra em 1990, quando nos encontramos por lá.

Em 1992 acabaram minhas viagens a Angola. Não me acertei com um país comunista onde se distribuíam favores capitalistas como se fosse moeda nacional e não o Kuanza. Containeres desapareciam. Empregados os encontravam como que por acaso e contavam dinheiro em suas imediações, as portas abertas, lacres rompidos. Como denunciar um bando sem saber o que se passava e até que grau de comprometimento dos responsáveis pela empresa? Sim, eu era o gerente geral, mas o sistema de “cunhas”, indicações, MPLA à mistura com a UNITA, sem se saber quem era quem - e minha função não era a de detetive – me induziram a sair do lamaçal, e balas costumavam passar zunindo por cima do acampamento. Dias antes de sair de Angola, com meu pedido de demissão já nas mãos do dono da empresa, o meu substituto veio até mim, junto com a esposa, pedindo para que eu ficasse, e que eu ficaria muito rico. Entendi, peguei meu avião e saí da zona de guerras. Não bastasse uma e eu teria que enfrentar outras para as quais não havia mais disposição nem espírito de aventura.
Foi Carlos Calunga quem me ajudou a abrir os olhos para as paisagens de Angola e do mundo, porque sempre partilhamos de ideais básicos, coisas que nos vêm da alma, não só de informação genética, como também da educação aprendida em família, nas escolas, universidades, dos amigos, da vida que trilhamos.  
Em seu tempo em Lisboa, viveu na Casa dos Estudantes do Império (CEI), um nome pomposo dado por Salazar para um prédio onde funcionava um tipo de República estudantil destinada a apoiar e a controlar estudantes vindos das colônias e do Brasil. Ficava na Avenida Duque D’Ávila, No 23, esquina com a Rua Dona Estefânia. Funcionou de 1944 a 1965 e Salazar não conseguiu controlar nada, porque foi nesse edifício que se tomaram medidas fundamentais para as lutas de independência das Colônias. Carlos Calunga não agia ativamente nem comentava nada com os demais estudantes do Gil Vicente. Um dia me disse:
- Portuga... Seu pai não está no Brasil?
- Está... Porquê?
- Diga-lhe para lhe mandar uma carta de chamada, ou você vai entrar numa guerra estúpida e morrer à toa.
- De que guerra estás tu p´raí a falar? Perguntei-lhe em meu linguajar típico.
- Olha... Sei que você é um cara legal, e que não me vai trair, mas por estes dias vão estourar revoluções em todas as colônias de Portugal. O seu país vai pegar fogo... Se manda meu chapa, enquanto é tempo. E se você disser que eu disse, digo que é mentira.
Não lhe consegui arrancar mais nenhuma informação, mas pelo caráter, sabia que estava falando a verdade. Quando semanas depois vi as primeiras fotografias dos horrores cometidos por todos os lados revoltosos e pelas forças portuguesas, de igual intensidade violando completamente o tratado de Genebra, entendi perfeitamente que Calunga estava certo. E meu pai começava a preparar a carta de chamada.
Carlos Calunga de vez em quando me manda notícias e alguns textos para publicar, com a liberdade de que eu os altere sem lhes alterar o sentido, acrescentando-lhes o meu “tempero”, mas os créditos são todos dele. Afinal somos velhos amigos, e de certa forma, ele me salvou a vida. Sem o aviso sobre as revoluções, a carta de chamada de meu pai chegaria apenas quando eu já estivesse a bordo de um navio transporte para Angola, Moçambique ou Guiné, com 17 anos, preparado para morrer por idéias de um tonto como era Salazar, um velho teimoso, dono do poder e de todos os portugueses, figura cultuada e enaltecida por propagandas fascistas, como se fosse um caudilho sul-americano.
Quanto aos textos e crônicas, publica-las-ei tão logo me seja possível.

© Rui Rodrigues

PS – Carlos Calunga me contou que arranjou alguns inimigos durante a vida. Contra vontade, claro, e que por isso não quer ser identificado. Sobre se o nome dele é verdadeiro ou falso, nem me perguntem. Eu não diria nem sob juramento. De fotos só me permitiu uma de quando participou de um almoço na casa dos Estudantes do Império (CEI) em Lisboa, nos idos de 1956. Ele é o sujeito indicado pela seta.



















[1] Calunga ou Kalunga significa “tudo de bom” em dialeto banto (africano), e também “necrópole”, ou linha do mundo dos mortos em dialeto Kikongo. Os bantos foram uma das maiores etnias que sofreram esclavagismo tribal em África e colonial inglesas, francesas, americanas, holandesas e portuguesas. 

terça-feira, 3 de setembro de 2013

MOTIVAÇÕES de líderes mundiais

MOTIVAÇÕES


O que motivava Gandhi?
- A Independência da Índia, de forma pacífica para não criar sofrimento ao povo hindu. Conseguiu seu intento ainda em vida, mas não pode evitar a divisão entre Índia e Paquistão. 

O que motivava Jesus Cristo?
- O exercício da religião judaica dentro da lógica do Talmude e da Tora, dentro da moral e da ética implícitas, preparando o reino dos céus na terra, com a independência do povo judeu (ele era o esperado Messias, futuro rei de Israel). Os discípulos dele viram no mestre uma boa oportunidade para romper com a religião judaica e promoveram uma nova Igreja cheia de esperanças que até hoje esperamos.

O que motivava Hitler?
- A supremacia da Alemanha sobre todos os povos do mundo (se viesse a ser dono do mundo comercializaria com ele mesmo e a economia iria para as cucuias). Como era judeu, o problema dele era ele mesmo matando judeus como se matasse a si mesmo. Era louco de atar, tripolar nato sem remédios na altura para se equilibrar. O povo alemão tão esperto e inteligente, foi na lábia dele.

O que motivava Stalin?
- Manter o comunismo na URSS a qualquer custo em duas fases: A primeira, educar o povo para que todos aceitassem o comunismo. A segunda, manter o comunismo. Nunca passou da primeira fase e se ainda fosse vivo teria sido fuzilado como fuzilou milhões de russos e russas quando o comunismo foi pras cucuias.

O que motivava Lênin?
- A igualdade do povo, eliminando as diferenças sociais. De notar que Gandhi nunca se preocupou com isso e manteve a tradição das castas.

O que motivava Mandela?
- O mesmo que Martin Luther King, porém com um viés de chegar ao poder pela paz. Felizmente conseguiu. Muito parecido com Gandhi e JC.

O que motiva Ângela Merkel?
- Ela mesma e o povo alemão para o qual deseja a hegemonia européia. Quem deve tem que pagar e não há riscos para o capital. Se estivéssemos em 1919, seria um Hitler de saias. Difícil dizer quem seria pior.

O que motiva Barak Obama?
- Ainda não sabemos muito bem, mas deu uma ligeira guinada para o socialismo nos EUA com seu programa “Obamacare”, seguindo a cartilha da Constituição à risca: Pela primeira vez na história dos EUA um presidente fica em dúvida se ataca ou não ataca um ditador em meio a uma carnificina indiscriminada de civis, velhos, mulheres e crianças e pede que o Congresso se manifeste.

O que motivava Tito?
- A unificação dos povos eslavos sob uma única bandeira: A da Yugoslávia, fundando-a e tornando-se presidente vitalício. Foi um dos primeiros líderes a se revoltar contra a URSS comunista. Depois que morreu, a Yugoslávia se fragmentou em mais estados do que antes dele os unir. Não viveu para ver o desastre que fez. A região ficou muito pior do que antes. Não adianta unir o que a natureza desuniu.

O que motivava Che Guevara?
- Uma frase dele resume tudo: “Hay que endurecer pero sin perder la ternura”. Para ele os fins justificavam os meios. Fosse toda a população cubana manifestamente contra Fidel, e todos iriam parar no paredão... Muitos foram!  Comparado a Hitler é fichinha, mas muito parecido. Nunca fez guerrilha na Argentina seu povo e terra natal. Devia odiar ou pelo menos menosprezar seus irmãos argentinos. Hitler também odiava judeus.

O que motivava Mikhail Gorbachev?
- O mesmo que Lênin: Queria o bem estar do povo russo, a braços com falta de condições que o comunismo já não permitia: Um país extremamente rico de recursos corroído pela corrupção da igualdade remunerada e sustentada pelo Estado. O dinheiro do Estado era distribuído miseravelmente pelo povo (não era suficiente para todos) e não sobrava para investimentos no setor produtivo ou em qualquer outro. Com a economia de rastos, escreveu o livro “Perestroika” e o povo aderiu. Derrubaram as estátuas de Lênin, de Stálin, dos líderes comunistas, trocaram a bandeira russa, a Alemanha Oriental deixou de ser comunista e do dia para a noite todo o povo russo aboliu o comunismo, para vermos como o comunismo já era uma desgraça para o povo russo (ninguém deixa de ser alguma coisa da noite para o dia)

O que motivava Winston Churchill?
- A sombra da Alemanha tentando lançar seu manto nazista sobre o mundo e a própria Inglaterra. Nota dez mesmo com seu indefectível charuto cubano, infestando o exíguo bunker nos subterrâneos do Metrô de Londres.

O que motivava Napoleão Bonaparte?
- Como era baixinho, e sofria de gastrite crônica, além de careca, cantava tudo que era mulher para satisfazer o ego. Vaidoso ao extremo, queria ser o Presidente da União Européia liderada pela França. Quase conseguiu. Foi preso duas vezes e deportado para duas ilhas, morrendo envenenado por papel de parede á base de chumbo. Era louco como Hitler mas não tanto. Achava que a raça francesa era o “must” mas não perseguiu racialmente, talvez porque gostava de um bom vinho.

O que motivava Pinochet?
- O Chile... A qualquer custo ao estilo Che Guevara mas pela direita. Meio Stalin nos métodos, foi julgado por corte internacional quando se refugiava em Espanha e descobriu-se que adorava uma grana com gorda conta na Suíça.

Dilma e Lula não são líderes mundiais, são praticamente analfabetos e parece que querem apenas dinheiro e poder, com leve tendência a odiar o povo brasileiro dos quais se querem vingar: Os dois com traumas de infância.



© Rui Rodrigues 

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

O casamento e o presidente.

O casamento e o presidente.




Sou dos que acreditam que o sofrimento nos vem, ou da dor física, ou da dor de não entendermos as razões dos fatos, os porquês da vida. Tanto as dores físicas quantos as “morais” são provenientes do desconhecimento. As primeiras, quanto mais avançam os conhecimentos da medicina, menos dores nos provocam as doenças, e menos são as doenças que nos podem causar dores. No Egito antigo, por exemplo, faraós morriam por infecção nas gengivas, de dores de dente. Hoje são raríssimos os casos. As segundas dores, as do desconhecimento das razões de nosso sofrimento, aquelas que doem no coração e nos fazem ter ataques cardíacos, curam-se também com o conhecimento. Nós, humanos, estamos há milhares de anos, melhor, há milhões de anos trabalhando nesse sentido: Eliminar o sofrimento tanto quanto possível, e podermos dizer um dia, todos nós, homens, mulheres, de todos os gêneros: Sou feliz!

Não raciocinar não é doença física. É falta de hábito e disposição para beber do conhecimento que está disponível em conversas, em publicações, em programas de televisão, e principalmente na Internet, tudo disponível por relativamente baixo preço, e sempre será possível disponibilizar alguns momentos por dia para nos dedicarmos ao conhecimento. Presidentes apedeutas, se é que isso existe em algum lugar do mundo inteligente, é gente preguiçosa que não quer progredir no trabalho, que quer viver às custas do alheio. Se algum dia aparecer alguém querendo ser presidente da república sendo apedeuta, não vote nele nem em quem ele indicar. Não é gente capaz de nos impor ordens nem de serem seguidas em seus devaneios de promoção pessoal.

Para governar a própria vida - quanto mais uma nação - é necessário sabermos o que queremos, e se o que queremos é viável, sustentável, enfim, possível ao longo de nossas vidas, como o casamento, para não falarmos de política, se bem que de certa forma, o casamento é um assunto também político, uma instituição destinada a constatar publicamente, através de uma aliança no dedo e uma cerimônia religiosa que “esta mulher é minha, somente minha, apenas minha, exclusivamente minha”. Claro que não precisamos contar para ninguém, e talvez jamais contaríamos, mas cada um de nós, casados ou amantes, sabemos até que ponto isto não corresponde exatamente à verdade.  Mas lá está o que ainda não aprendemos muito bem: Continuamos incentivando o espírito do casamento em nossas crianças e contando a mesma história triste da gata borralheira e do príncipe encantado, um sapo com quem a princesa casa, uma delas, a outra usava sapatinho de vidro que quebra fácil e nem dobra para caminhar. Somos apenas um pouco tontos, acreditando que alguns momentos de felicidade em que sonhamos com abóboras encantadas que se transformam em diligências resplandecentes de ouro, possam ser prelúdio de esperança para dias melhores que os nossos, para nossos filhos e netos. Claro que as verdades doem, mas é só por instantes, no máximo um par de dias, uma semana, mas a ilusão dói todos os dias. Por exemplo, a ilusão de nos pavonearmos ao agradar às moças casamenteiras para que nos escolham como maridos, ou de se pavonearem como aves de paraíso, mostrando seus melhores coloridos de maquilagem, os melhores vestidos, os mais belos gestos para nos convencerem de que são as mulheres perfeitas, as princesas de nossas vidas que transformaremos em rainhas de uma família. Mas calma. Isto não é falta de moral, de ética, ou algo reprovável. Faz parte da natureza, do fazer “a corte” a quem pensamos que nos acompanhará por toda a vida, e quem segue apenas a beleza, o que todos vêm, arrisca-se à competição: De beleza todos entendemos sem ser necessário raciocinar, sem frequentar bancos de escola. Ter capacidade para apreciar a beleza é talvez o único “almoço grátis” da natureza, e ser aquele marido ou mulher que quando sai na rua com o companheiro ou companheira provoca torceres de pescoço em sua direção, pode ser uma fonte de problemas, a menos que não se importe, e na maioria dos casos nem importa se o casal discute ou não: A fila lá fora é grande e a tentação ainda maior. Quem resiste?

Então se inventam “receitas” para a felicidade no casamento, como, por exemplo, discutir sempre a relação, dar-se e entregar-se, não fazer da vida uma rotina, agradar sempre, e outras estratégias, como se isso resolvesse. Resolver até resolve, mas infalivelmente a relação chega às vias de fato em que não se quer mais discutir a relação porque virou rotina, já não nos queremos dar nem receber porque a exaustão do relacionamento nos tira a energia e a disposição. Dos dez mandamentos para uma vida feliz, um deles fala sobre o casamento, afirmando que não se deve ambicionar a mulher do próximo – e deveria dizer também que não se deve ambicionar o marido da próxima – mas podemos imaginar um sujeito que peca em todos os outros nove, e o que pensaria a mulher dele sobre a relação entre os dois. Mas que digo eu? Nada que não se saiba. Basta admitir que sabemos o que de fato sabemos, e logo chegamos à conclusão que não basta raciocinar e então saber: É também imprescindível que possamos admitir para nós mesmos o que de fato sabemos.

Podemos ir mais longe... Quantas “facetas” do comportamento humano conhecemos nós, cada um de nós? Uma centena? Milhares? Milhões? Pois vos digo que são milhões vezes milhões, porque dependendo das circunstâncias podemos mudar nosso comportamento, dependendo do momento, se estamos de bom humor, se estamos num momento feliz, se temos dinheiro, se estamos em casa ou na rua, se temos ou não um bom emprego, se temos carro ou não, se somos ou não multados, se temos filhos e são felizes, se não são... Então, como conhecer alguém por um par de dias, de meses, ou até de anos, e dizer: É meu par para toda a vida? Se a vida muda a todo o instante? Então, presos na palavra da aliança de casamento, vamos fazendo concessões ao longo da vida, deixando de sermos nós mesmos, e logo aceitaremos grandes concessões.

Felizmente a humanidade tem o condão de perceber – mesmo que de forma inconsciente – os atoleiros em que se mete e com maior ou menor demora, consegue livrar-se deles. As mulheres já se livraram do “paternalismo” do pater-família, são independentes, e não precisam casar para terem sua independência. Pelo contrário, são agora independentes sem precisar casar, com a certeza de que Deus abençoa o “não casamento” para a vida e para além dela, da mesma forma que abençoa o não casamento de todo o reino vegetal e animal deste planeta e não temos razão alguma para achar que por não sermos “animais” Deus nos trataria de forma diferente. Somos como somos, e colhemos os frutos do que somos ao longo da vida. E assim como os seres humanos deste planeta são independentes e não precisam de paternalismos, nós que raciocinamos, preferimos sempre um presidente inteligente e instruído que nos representa lá fora, enquanto nos governamos aqui dentro, mas sempre nos perguntando o que queremos. Também somos independentes. A moda é apenas adereço dos corpos que têm uma mente. É uma ilusão que desvia as atenções da mente e nos faz perder a vontade de raciocinar, de tão fascinados que ficamos com a beleza. O construtor deste universo fez a natureza tão bela, que nos perdemos a apreciá-la pela imagem que nos transmite, sem nos darmos ao trabalho de a analisar e entender nos pequenos detalhes que sempre nos passam desapercebidos. Sou mais um analista de detalhes do que de paisagens.

© Rui Rodrigues