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sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Captando o espírito de Chico Anísio e Salomé

A viagem


Alô Dilma? ... Sou eeeeuuuuu... Salomé...
.- Dor de cabeça? Mas bah, tchê... Logo hoje que eu ia te convidar para jantares comigo no dia 23... Um jantar informal, num restaurante muito famoso aqui de Porto Alegre, o Casablanca.
- Não Dilma. Casablanca não é italiano. É uma palavra espanhola que quer dizer Casa Branca... A dor de cabeça foi por causa disso mesmo? Olha, não entendi...

-Não, Dilma, não... O jantar do Obama era íntimo, de aproximação... Quase um “rendez-vous”, um “ménage a trois”...

-Não Dilma, não.. Não era para te render não, nem uma homenagem atroz...

- Não.. Não vou traduzir.. Largaste a tua tradutora sozinha lá no Panamá e não vou traduzir nada.. Vai lá apanhar a coitada e pede para te traduzir... E não te irrit...(Hi.. Irritou-se) ...

-Sei, Dilma...  Eles te espionaram.. E de que tens medo? De teus telefonemas para os ministros do Supremo Tribunal Fedegeral? Ora, Dilma... isso até a Inteligência de nossas forças desarmadas sabem disso.. Não é novidade.. Aquela correria para empatar em cinco a cinco, até parece coisa de cinema, quando sabemos que nove pelo menos estavam com vontade de mudar o placar para 9 x 2... Mas deixa pra lá... Toma um chá de Marcela para a tua dor de cabeça e solta um barroso porque pode ser prisão de ventre ou intestinos revoltados..

- Não Dilma.. Marechala ainda não existe nas forças armadas.. Eu disse chá de Marcela, aquela flor amarela dos pampas que cura dor de cabeça e outras coisas mais, e revoltados eram os intest... Mas que revolução Dilma? Parece que tens fobia de militar, tchê...

- Hi.. Desligou... Esta guria se irrita à toa... Tem um gênio difícil, suas palavras são balas de metralhadora, os seus amigos do supremo balas dum-dum que treinam nos alvos da lei, mas ela é simpática quando ri... 

© Rui Rodrigues



O prêmio Moliére de teatro





Trim... trrrrimmmm... 

Mas bah, tchê... Estou ligando para a Dilma, mas a guria ontem ficou irritada comigo outra vez por causa nem sei de quê, capaz de hoje não me atender. Convidei para jantar comigo, mas nestes últimos dias não quer jantar com ninguém... Ganhou ojeriza de jantar... Falou em jantar, sai voando as trança. Também pode ser esse problema das telecomunicações que só servem para irritar.. 

Trim... Trim.. 

- Ôi, Dilma, estou VIVA, Claro...Tchê.. Até que enfim atendeste... Sou eeeeuuuuuu... Salomé... Tua amiga.. Não aceitaste o meu convite para jantar, e ainda tive que engolir uns sapos servidos pelo STF, o Supremo Teatro Federal...

- Não.. Dilma.. Não estou te gozando... Jamais faria uma coisa dessas contigo. Nem mesmo quando eras ministra das Minas e Energia, quando se sabe que não entendes nada de minas... nem de Minas.. Só de Energia que tens bastante... Mas hoje...

- Ora Dilma... Ninguém é obrigado a entender de tudo... Nem mais ou menos, mas temos que convir que tiveste muita sorte em seres indicada pelo Dirceu ao Lula... Se não fosse o Dirceu, o Lula não te conheceria, não é? E foste ganhando ministérios até chegares á Presidência .. Mas deixa te dizer porque te estou ligando.. Posso? Não te vais irritar, tchê? 

- Então ta... Estou te ligando para te dar os parabéns... Ouvi dizer que vais concorrer ao prêmio Moliére.. Aquele de teatro... 

- AH! .. O prêmio acabou em 1994 por falta de patrocínio.. Sei.. Começou com a Air-France depois passou para a Air-France junto com a Citroen... E hoje não tem mais... É.. para tudo é preciso dinheiro, não é? Para financiar campanhas com propaganda, para ganhar votos, e quando o dinheiro acaba, acaba-se a ideologia não é? Viste a queda do muro de Berlim... Não eras nascida ainda? .. Mas bah.. Que barbaridade... Como mentes, tchê... 

- Ó.. Outro dia passei por ti na avenida Borges, em POA, e tu nem “Ó” me deu... Logo percebi que te estavas fazendo de leitoa vesga para mamar em duas tetas: Numa teta, votos do povo por acharem que és comunista, e por outro grana do governo para passares bem, não é tchê? Quem não gosta disso... Mas dinheiro acaba quando a economia for pro brejo.. 

- Não.. Não mintas nem te irrites.. Não estou dizendo nada demais, tchê.. Só queria que soubesses que em festa de rato não sobra queijo, tchê, e se nossa economia fosse um queijo, em breve acabaria que não é assim tão grande para tantas ratazanas.. Olha o STF, o Supremo Teatro Federal...

- O que tem?... (agora a guria se irritou... Está cuspindo marimbondo)... O que tem é que lobo guará perde o pêlo mas não perde o vício, e vão fazer novo julgamento... Desta vez vão livrar todos não é?

- E me diz.. Depois que livrarem os mensalistas, vais esquecer o Lula e indicar o Dirceu para presidente, tchê? São tão amigos que qualquer um...

- Hi.. Desligou... Não disse nada demais.. Vocês me desculpem dizer, chê, mas a guria está indo com muita sede ao pote e me deixa mais constrangida que padre em puteiro.. Acho que ela está mais enrolada que namoro de cobra, tchê.. 

© Rui Rodrigues

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Dor da perda de quem já não está.

Dor da perda de quem já não está.


Nascemos, aumentamos nossas dimensões em altura e largura com todas as dores inerentes ao crescimento e de repente nos vemos adultos. Até lá é quase impossível não perdermos entes queridos, amados, que muito para além dos laços construídos ao longo da vida, e a juntar-nos ainda mais a eles, existem os laços de sangue, genes gritando por uma entidade comum, anseios em comum, amores e sofrimentos em comum. Não importa a condição econômica, o lugar, os tipos genéticos, a morfologia corporal ou moral, laços de amizade e amor, dores de perdas são muito fortes e idênticas em qualquer lugar do mundo. Quase nunca são compensadas ao longo da vida.

Quando cheguei à Colômbia, e passado pouco mais de um mês, tive o prazer de visitar a Guajira, saindo de avião de Barranquilla onde se situava o nosso escritório, até Media Luna na zona do Porto, em pleno mar do Caribe. Fizemos uma reunião para que os representantes das empresas concorrentes conhecessem a área onde uma delas realizaria os trabalhos, almoçamos e de lá pegamos um ônibus alocado ao Projeto para percorrermos cerca de 150 km de estrada batida de terra até chegarmos à Zona da Mina para jantarmos. Pelo caminho visitamos lugares onde existia a possibilidade de canteiras de pedra e agregados para serem usados nos trabalhos a adjudicar. Nessa época eu ainda não imaginava que posteriormente me promovessem a Gerente de Contrato para a zona do Porto, posto máximo no Projeto para aquela zona, acima do Gerente de Construção. Sem minha assinatura não saía um tostão. Com os esforços e a dedicação de toda a equipe, o projeto total orçado em dois bilhões, setecentos e cinqüenta milhões de dólares (valores de 1982) foi completado com obras adicionais, por menos de dois bilhões e meio. Tivemos baixas nessa zona sob ameaça das FARC, as forças revolucionárias da Colômbia. Os EUA mantinham nas cercanias uma pequena frota para o caso de evacuação do projeto, o governo da Colômbia mantinha um posto do exército e uma pequena base aérea com pequenos aviões apreendidos ao tráfico de drogas cujas rotas para Miami passavam por perto, provenientes da Serra de Santa Marta. Apesar do perigo, nossas baixas deveram-se a ataques por motivos desconhecidos (dois americanos mortos a pauladas) e um grande amigo nosso cujo barco de pesca afundou no “Cabo de la Vela”.

Mas porque a alusão ao projeto e à Guajira, no contexto das dores que sentimos porque quem já não está, entre nós, presume-se?

Porque quando cheguei à região, naquele primeiro dia, vi desertos de areia salpicados de cactos, sem uma única árvore, a não ser pequenos arbustos espinhentos que me lembraram a caatinga no Brasil, porém de vegetação muito menos densa. Muito raramente, apareciam lá em baixo como pequenos pontos, pequenas sangas de água onde pessoas e cabras matavam a sede. Não se viam cavalos nem bois, apenas cabras e jumentos. O Departamento da Guajira tem um tratamento diferenciado dos restantes na Colômbia, porque seu povo é também diferenciado, constituindo uma etnia quase homogênea. A impressão que se tem é de estarmos em plena palestina, quer pelas roupas e mantos das mulheres, quer pelas dos homens que caminham pelo deserto, ladeando jumentos onde suas filhas e mulheres cavalgam sentadas de lado como as damas européias dos tempos da cavalaria romântica. Num deserto daqueles que nada dá, o que prende os seus habitantes àquela terra? Apenas a tradição, o fato de terem nascido lá, de toda a natureza em sintonia com a natureza dos corpos. O povo guajiro ama a sua terra, pertencerem à Colômbia é apenas uma contingência político-geográfica. Desde que o governo da Colômbia não interfira demasiado, a bandeira de pano não importa tanto quanto a bandeira de areias e cactos, águas e ondas, do leite das cabras, dos peixes do mar onde sob a qual nasceram e se criaram. Um executivo que conheci, nascido lá, tinha um de seus apartamentos em Barranquilla. Um dia me convidou para visitar sua casa na Guajira coberta de teto de palha, porque lá só chove de quatro em quatro anos quando chove. Paus de cactos a pique, preservavam a intimidade e segurança para as cabras e pessoas. Havia colchões para os hóspedes e redes. De uma sanga tiravam a água, alimentavam o gado. Seu traje resumia-se a um anteparo colorido e listrado que lhe tapava o sexo. Lá passava sempre que tinha um tempo livre com a mulher e os filhos, mantendo os laços com a terra, com o ar seco, com o vento, com as lebres fugidias que se viam surgir esguias por entre algum mato de folhas grossas e espinhentas.  


Perder entes amigos, gente conhecida, é triste. Quando se ama a terra em que vivemos, a amamos porque ela se identifica conosco e nós com ela, é como que perder muito mais do que os amigos. È como se fossemos árvores secas que perderam as raízes e tombam no solo inertes, olhando o sol passar no horizonte até cair a noite sem esperanças de haver outro amanhecer. Perguntei-me se, por ter nascido em zona de montanhas com cultivos e vinhas, água, neve e rio, animais de todos os tipos, num jardim à beira mar plantado e depois ter vivido, como vivo, num país varonil de encantos mil, teria a obrigação de ter mais amor por estes dois países do que o povo guajiro por sua terra, e cheguei à conclusão que não. Um índio norte-americano já dissera uma vez, descontente com a ocupação européia que lhe enterrassem o coração na curva de um rio. É o lugar, a natureza do lugar que nos cativa de forma igual. As fronteiras, traçadas em frágil papel, foram acidentes históricos provocados pela força das armas de quem as traçou, e pela ignorância e fraqueza de quem as teve que aceitar, mas no coração não existem fronteiras. E foi assim que passei a amar também mais uma região deste planeta, a Guajira, tal como amo o país em que nasci e este em que vivo, um pouco mais do que amo todos os demais deste planeta. Sentiria uma grande dor se soubesse que algo de mal acontecesse a algum deles.

A perda é como filme mudo, onde a natureza balança ao vento, pessoas passam mudas sem nos olharem, tudo nos fica alheio porque já não nos pertence, já não fazemos parte de sua natureza, de suas fronteiras, dos amanheceres e anoiteceres de dias de admiração e contemplação. Não há cheiros, choros e risos de crianças, perfumes de mulheres amadas. Isto é uma perda. A maior das perdas. A separação definitiva.

Hoje, 18 de setembro, enquanto escrevia este texto, dedicado à Guajira, a quem ama seus amigos e amigas, seu povo, sua gente, o planeta inteiro, minha amada terra brasileira dependia de um voto de um juiz para que se desse validade a um julgamento anteriormente efetuado no Supremo Tribunal Federal. Eram onze juizes, dos quais nove haviam sido nomeados pelo mesmo partido. O resultado esperado referia-se a terem ou não os condenados direito a novo julgamento. Ora, no primeiro julgamento haviam sido condenados pela maior instância do direito, o STF. Novo julgamento implicaria em admitir que teriam havido falhas no julgamento. Implicaria também no desconforto geral na nação e nos membros do tribunal, ao verem anulado seu julgamento, ao que tudo indica por distração ou incompetência. Implica também que todos os presos da nação possam exigir as mesmas regras e o mesmo entendimento para terem novo julgamento. Seja como for, a descrença nas leis é tudo o que é necessário para que qualquer país entre numa perigosa zona de descrença nas instituições, investidores estrangeiros retirem seus capitais, fábricas fechem e se transfiram para outros países, a fronteira entre a ordem e o caos seja ultrapassada: Os primeiros estertores de uma morte anunciada de uma nação, a separação de familiares e amigos.

Hoje, 18 de setembro, procurei pelo Brasil e encontrei outra nação. Não acredito que possa amá-la como a amava antes, enquanto usurpadores continuarem na posse do mando, esgrimindo leis como se fossem armas de destruição em massa. Continuarei amando o povo, a natureza, as cidades, os campos, mas não estou certo de continuar amando o que lhe falta para completar a região como uma nação. Há muito os índios já pensam como eu. E não só o povo índio. Há muitos que pensam como eu e nem nisso estou sozinho. Procurarei amigos entre os descontentes.

E nem sei se tenho forças para animá-la, à Nação, e dizer-lhe: - Vamos, Nação... Ânimo... Estávamos a um passo de sermos o Brasil do futuro e quase no final do presente voltamos nossos passos para trás, para o passado?



© Rui Rodrigues     

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Chupa essa mandioca Alexandre VI

Chupa essa mandioca Alexandre VI

Hoje acordei pensando neste belo, amigo e inteligente povo brasileiro. E a primeira frase que me ocorreu foi: Chupa essa mandioca Alexandre VI [1]!...


No tempo dele, a terra “era” plana e era também o “centro” do Universo. Era o que “diziam” as escrituras reforçadas pela teoria de Ptolomeu.  Tudo girava à sua volta e ai de quem dissesse o contrário. Iria preso, seria torturado e mandado para uma fogueira. O termo “ai de quem” vem desses tempos, da inquisição, pelos “ais” que os desgraçados davam quando eram torturados e queimados vivos. Desobedecer à Igreja era um crime, estivesse a Igreja certa ou errada. E era a Igreja quem, nesse tempo, nos dizia o que estava certo e o que estava errado, pela simples leitura das escrituras. O problema era que os papas até Alexandre Ve-i não precisavam ser sacerdotes. Muitos eram comerciantes, qualquer coisa, e tinham os seus interesses próprios de poder, de vaidades, sua própria ambição, e era nas mãos desses que o mundo estava. Mandavam em tudo, eram os donos do Sacro Império Romano Germânico, da França, de toda a Europa que era cristã.


Alexandre Ve-i soube constrangido, antes de 1503, ano em que morreu, que a Terra poderia passar a ser redonda e não uma placa circular suportada por uma quantidade enorme de tartarugas enormes que a suportavam, embora já desconfiassem de que poderia flutuar no espaço das águas que Deus separara quando fez os céus, mas como isso estava escrito no primeiro testamento, não tinha a mínima importância relativa, porque Jesus que tudo sabia como Deus, e que dera origem ao segundo testamento, este agora mais importante do que o primeiro, nunca discutira com os Apóstolos como o Pai tinha feito o mundo. O que Alexandre Ve-i soube foi que Pedro Álvares Cabral tinha descoberto as Terras do Brasil, num lugar onde os oceanos deveriam ter terminado, cheio de monstros que provavelmente protegiam as tartarugas e que serviam para assustar quem tentasse descobrir novos mundos, da mesma forma que o diabo assustava todo o mundo aqui na Terra, ajudado pela Igreja que também assustava com a fogueira, a dama de ferro e outros apetrechos de furar a pele, queimar, extrair unhas, e só não davam choques porque não tinham ainda descoberto a eletricidade. Morreu enquanto tentava organizar uma cruzada contra os mouros, os infiéis, os que pensavam diferente, para assaltar as suas riquezas. 


Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil, descobriu novas gentes pacatas que tomavam banho todos os dias, com as partes íntimas sempre lavadinhas, prontas para o uso, de perfil muito alegre, cujas penas só usavam em cocares, jamais na alma. Este novo povo não tinha igreja para lhes atazanar as idéias, viviam integrados na natureza de forma auto-sustentável, não tinham nenhum rei, e fogueiras só para assar mandioca, churrasquear uns peixinhos, espantar onças. Alexandre Ve-i não teve muito tempo para chupar aquela mandioca, porque lhe sucedeu em 1503, quando faleceu, o papa Pio 3-is, que morreu logo que assumiu no mesmo ano. Este não teve nem tempo de chupar nada. Julio 2-is, que lhe sucedeu, ainda em 1503, ficou chupando jaca até 1513, preocupado com o comportamento da terra, que parecia ser o centro das atenções para os próximos anos talvez séculos. O mundo ia mudar graças à teimosia dos portugueses que logo por essa altura começaram a instalação de bares pela cidade do Rio de Janeiro vendendo vinho importado da Europa e pesquisando sobre a destilação de suco fermentado de cana de açúcar.



Estes portugueses pensavam de forma muito diferente. Achavam que a Terra era redonda, que era o Sol que era o centro do Universo, e suspeitavam que até nem era, porque se guiavam pelas estrelas através de um instrumento chamado Astrolábio. O Universo inteiro parecia não ter um centro. Centro mesmo era o da cidade do Rio de Janeiro, ou de Lisboa. Julio 2-is parou de chupar jaca em 1513, quando morreu, sucedendo-lhe Leão Xis. Leão Xis ficou muito preocupado em 1519 quando Fernão de Magalhães, outro português se arranjou com os reis de Espanha para lhe arrumarem uma frota para dar uma volta ao mundo. Partiram de Sanlúcar de Barrameda na Espanha e chegaram a Sevilha – apenas um dos cinco navios que haviam partido – em 1522, depois de viajarem 1080 dias. No entanto, pelo diário de bordo, eles tinham viajado 1081 dias [2], gerando enorme discussão internacional. Mas o papa já não era Leão Xis, que tinha falecido em 1521 e sim Adriano Ve-i que morreu em 1523 sem ter definido a Linha Internacional de Data.


O Papa Francisco i, agora eleito, passados mais de 500 anos, cansou-se de ser empurrado pela humanidade que sempre desvenda e mostra os erros, embora com muita lentidão, aos que querem impor-lhe ordens sem fundamento que seja suportável pela observação e pela ciência. Ele está mudando a Igreja, corrigindo os conceitos equivocados, de braços dados com as verdades e não com as conveniências gerenciais. Esta humanidade vai à escola, estuda, sabe em que mundo está. Francisco i não chupa nada. Ele é bem vindo a este mundo, porque todos os outros Papas que o antecederam, eram de um outro mundo que não conhecemos, e que só eles imaginavam prometendo-nos esse tal mundo que jamais poderá estar ao nosso alcance em vida...

Bem vindo, Francisco i. Temos o maior prazer em conhecê-lo e ouvi-lo, o bem deve ser praticado para que se possa viver em paz e tranquilidade neste mundo, sem tantas desigualdades, e a conquista desse mundo para lá da vida, será apenas uma consequência do bem que nesta vida praticarmos. 

© Rui Rodrigues









[1] Até este papa, qualquer individuo poderia ser eleito papa, mesmo sem ter conhecimentos eclesiásticos ou teológicos. Era uma questão de prestígio, de jogo de interesses, de populismo, muito à moda de sistemas totalitários, como o comunismo e o bolivarianismo. È um perigo para as sociedades, porque não tem base racional. Sistemas assim funcionam na base da imposição da vontade, são verdadeiras ditaduras.
[2] Ainda não existia a “linha internacional de data” e um dia deveria ter sido descontado, porque a Terra é de fato redonda, e para quem não acredita, o homem já foi à Lua e há equipamentos por lá que o atestam.  

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Tudo vale a pena? Será a alma pequena?



Tudo vale a pena? Será a alma pequena? 

Dizia o poeta Fernando Pessoa que tudo vale a pena se alma não for pequena... Temos, grande parte de nós, uma alma grande, enorme, do tamanho do Adamastor, e parece não ser suficiente para vencermos almas tão pequenas e mesquinhas como as de nossos políticos  quer do lado ocidental quer do oriental do oceano Atlântico. Eis algumas das razões.



A CAMINHO DO PATÍBULO.



Estou pensando o que é "indignação" realmente e como esse sentimento se manifesta numas pessoas de forma perene até que os motivos dessa indignação sejam anulados, e como em outras é como ventania que apareceu em Junho de 2013 e em setembro já estava amainada, mesmo com declarações alienadas do governo dizendo que isto aqui é uma economia crescente melhor que a dos EUA...

O governo engana o povo, o povo das ruas se engana como povo, e parece que caímos no marasmo dos condenados à forca que cabisbaixos seguem rumo ao patíbulo... Conformados...

Restam ainda nas florestas de Sherwood, uma meia dúzia de Robin Hoods, outra de Robin Woods, sem que nos preocupemos realmente com o que perturba o ambiente fora das florestas. Vivemos enflorestados em apartamentos e casas, barracos e trapiches, enclausurados à espera do patíbulo.

A indignação ainda é auto-sustentável, auto-gerível, continuamos contando piadas, nossos impostos são dádivas a fundo perdido, a saúde não incomoda enquanto não precisarmos dela, a educação é só para os novos e nós já não somos tanto nem precisamos dela também, aliás, de que precisamos nós, 200.000.000 de brasileiros, senão de uma boa fofoca que nem nos incomodados em saber se é verdade ou mentira enquanto tomamos uma cerveja, gastamos do bolsa família o que a inflação ainda não comeu?

Não somos agora o país da cerveja, das novelas, do politicamente correto e das redes sociais?

Mas quando chegar a nossa vez de subirmos ao cadafalso do enforcamento por saúde, por ensino, por infra-estruturas, por inflação, falta de segurança e outros males, certamente gritaremos:

- GOVERNO DESGRAÇADO.... QUEM ME AJUDA ??????

Parece que por enquanto estamos apenas olhando os enforcados tal como os que seguiam para câmaras de gás. A nossa vez ainda parece longe...

₢ Rui Rodrigues.



SALOMÉ E OS ATAQUES CIBERNÉTICOS DA NSA
- Alô? Dilma?.. Sou eeeu... Salomé Tua amiga do Sul, tchê... Não estás ocupada falando com o Obama, né ?
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Ah.. Estavas até há pouco... E já sabes se a Petrobrás vai dar lucro grande, muito grande ou enorme???...

--- Não.. Não... Calma.. Não te irrites, tchê, que até pareces azoada e isso não te fica bem, tchê... É que estão falando muito. Dizem que a NSA estaria dividindo informações contigo, para que saibas quanto que a Petrobrás tem disponível para as eleições de 2014... E de outras cositas mais que o Eike também soube..

---- &*(¨$¨5474_)*¨¨&$¨%#$%2

--- Calma, Dilma, calma... Eu não disse nada demais... Só estou contando o que dizem por aí...
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- Que cositas?... Do levante militar... Haveria forças pró-comunismo nas forças armadas e pró-contra-comunismo, e outras ainda em cima do muro vendo onde param os mísseis que compraste para a copa de 2014... Aquilo vai ser uma copa de futebol, ou de tiro de bola de canhão...

---- Não.. Dilma.. Não... Toma teus calmantes, vai.. Não te irrites... Hi... Desligou.. Eu não estava dizendo nada demais... Quando ela se irrita, nem fala direito, parece até que usa bombacha e peida depois do mate...



 Rui Rodrigues



FORTE KNOX E FORTE DE INOX




Fort Knox é um dos lugares onde os EUA guardam seu ouro. Não vivemos mais no “padrão ouro”, mas o dólar americano tem lastro na “confiabilidade” suportada pelo ouro que possui. Entra crise, sai crise, e o dólar americano baixa, sobe, mas se mantém como moeda confiável. Porquê? Porque se o mundo voltar ao “padrão ouro” por qualquer motivo que hoje não se possa prever, lá estará o ouro americano garantindo a moeda. Petróleo é tratado da mesma forma: Quando o petróleo fica mais barato, os americanos enchem os poços vazios de petróleo com o óleo “cru” importado. Outros países, como Portugal, por exemplo, em épocas de crise vendem seu ouro às toneladas. Podemos imaginar quem compra esse ouro disponibilizado para manter, como foi no caso português, uma administração deficiente destinada a manter os projetos e os amigos dos políticos representantes do povo. Os americanos sabem que acumular riquezas já permitiu a judeus se livrarem da câmara de gás durante a segunda grande guerra, e até mesmo sair da Alemanha nazista.

Países com alta corrupção e políticos corruptos, não cuidam de suas riquezas. Vendem tudo o que podem, até a qualquer preço, incluindo empresas que já foram públicas, fundadas e instaladas com dinheiro dos impostos públicos, minerais estratégicos como o nióbio, e mente-se muito, até quanto à disponibilidade de petróleo que ora nos é abundante, ora o estamos importando no Brasil. Somos o país da importação negativa, ou seja, do “não importa”... Estamos habituados a receber informações de “fatos consumados” do governo, que depois servem de desculpa para “consertos & reparos” em que geralmente a emenda é pior do que o soneto... No momento disponibilizamos verbas do tesouro até para perdoar dívidas externas de outros países, alguns onde os governos são ditatoriais, como se não tivéssemos pobreza dentro de nossas fronteiras. Agimos, ou melhor, nossos representantes agem como se fossemos ricos, mas nossos índices de desenvolvimento e de riqueza nos dizem que não, redondamente não, apesar de todas as despesas que o governo tem de nos mostrar em propaganda que somos dos melhores do mundo. Assim é também em Cuba, na Venezuela, na Coréia do Norte... Os filósofos de araque continuam fomentando as belezas do comunismo e do socialismo como se esquecessem que dos noventa países que já foram comunistas, apenas dois o são e mesmo assim, já nem tanto, e nem Rússia ou China se consideram comunistas.

Fico pensando em que poços estamos acumulando petróleo, em que forte de aço inox estaremos acumulando o nosso ouro, o que será deste país no dia em que todas as verdades vierem á tona como estão vindo... E, no entanto, apesar de não se verem movimentos na população contra este estado de coisas, ela se move... O povo no momento só grita, rabugenta, se indigna... Um dia parecerá uma manada de gado que estourou.

Seria um caso único em termos de manifestação sul-americana, algo muito pior do que a revolução russa, a queda da Bastilha, ou a guerra de Secessão dos EUA... Mas acontecerá quando se verificar que nossos poços e cofres estão realmente vazios porque foram assaltados a pouco e pouco por quem tinha as chaves.



© Rui Rodrigues






sábado, 7 de setembro de 2013

Veja como é possível ser feliz com um amor e uma cabana.

Veja como é possível ser feliz com um amor e uma cabana.


Realmente é simples, possível, e absolutamente funciona.

Comece por imaginar o que para muitos já é uma realidade:

Um amor para beijar, amar, transar, e se usar camisinha - ou se de acordo entre ambas as partes se mantiverem fiéis ao amor mútuo - nem precisam usar camisinha. Se pelo contrário e eventualmente a relação se deteriorar, as partes têm a obrigação de avisar que a relação não vai bem, e começam a usá-la porque são distribuídas gratuitamente, preparando-se para novos amores. Assim se evitam filhos em casais não muito seguros, as despesas não aumentam, não há que botar mais pratos na mesa, pagar escola, gastar dinheiro com médicos. O amor e a cabana se sustentam...E se a cabana ficar num terreno de mais ou menos mil metros quadrados, dá para plantar tanta coisa que a economia nos supermercados ou nos armazéns, será drasticamente diminuída, quase gerando subsistência auto-sustentável, agora bem na moda. Se nesse terreno houver uma cabra ou uma vaca, ou uma ovelha, terá leite quase grátis para um casal. Se o leite estragar, come coalhada. Se estragar ainda mais come queijo que é tão caro nos supermercados. Só terá que levar a cabra ou a ovelha ou a vaca para passear no prado para ela se alimentar sem custos para você. Mas tempo é o que não vai faltar ao casal. Só não tem tempo quem trabalha.

Água potável? Abra um poço... E garanta que haja energia elétrica nos arredores. Quem sabe até possa aparecer um “gato” legalizado nas redondezas se a companhia de energia elétrica não tiver condições de levar o posteamento até a sua casa e desta forma, obter a energia a que tem direito constitucional. Esgoto? Faça uma fossa legal com três poços para depósito de fezes, decantação fecal e sumidouro de forma a não poluir o sub-solo. Umas coberturas de plástico sobre as fossas e uma mangueira de plástico lhe garantirão o gás para o fogão em terceira mão.

Carro para quê? Quase nem precisa sair, então a economia com a gasolina que sempre sobe, pode ser usada para pagar os ônibus, ou então peça carona aos amigos que vos cercam. Até pode contribuir com alguns trocados para a gasolina, porque o custo da passagem dá para pelo menos dois litros e com esses dois litros qualquer carro anda pelo menos uns doze quilômetros. O supermercado e a cidade não ficam tão longe assim. E se ficarem longe, lembre-se que caminhar todos os dias dá saúde. Assim, vá todos os dias a pé ao supermercado e volte com duas sacolas uma em cada mão. No final do mês, verá que está com os músculos tonificados, terá transportado sessenta sacolas. Como não consome tanto, vá ao super e compre para os amigos e amigas da região e fature uns trocados. 

Quando construir sua cabana, ( se não conseguir invadir uma casa do minha casa minha vida) lembre-se de abrir bastantes portas e janelas e usar telas para mosquitos. Assim, nos dias de calor, abra todas as portas e todas as janelas, e nem precisará de ar condicionado ou ventiladores. Se não houver vento, tome banhos freqüentes com água de poço. E qualquer radinho de pilhas lhes dará notícias por pelo menos um mês sem ter que comprar mais desses cilindros tão caros. Notícias não faltarão em seu radinho, e se por acaso seu dedo parar naquela emissora que remete para igrejas que cobram dízimo, lembre-se: Seu dinheiro é curto, mal dá para comer e não pode ser desperdiçado, sendo melhor que deus lhe dê um dízimo mensal para que possa sobreviver melhor. Afinal você não é deus, Deus é ele e só ele pode fazer milagres de lhe dar uma grana extra todos os meses. Se Deus não fizer esse milagre, filie-se a um partido e terá ajuda do estado. E lembre-se sempre que quiser rezar, ir ao templo: Uma das premissas de Deus é que ele está em toda a parte. Por isso economize dinheiro em transporte público e reze em casa, na sua, ou junte-se com amigos e rezem na casa de cada um por método de revezamento. Deus entende essas coisas. Pastores sacerdotes é que não entendem nada disso. 

Sem muita diversão, coisas da vida para distrair, transe com sua parceira ou com seu parceiro. É uma boa diversão se usar camisinha para não haver filhos. Se for gay, não terá jamais este problema. É só transar...

Falta-lhe uma televisão? Para quê? Para ver novelas? Ora, ora... Sua vida é uma novela muito melhor do que aquelas a que assiste e que nunca acabam como você gostaria que acabassem, e quanto a notícias, tem o radinho de pilha, lembra? Mas repare, coisa que nem em Cuba se faz: juntem-se nas imediações em grupos de uns vinte e comprem um computador e um modem e podem ter Internet, tv, notícias... Se precisar de grana, venda o radinho de pilhas, e se sair briga entre os vinte para ver quem tecla o computador, nada que um esparadrapo e uma tintura de iodo não resolvam...

Ah... E tem que escolher o estado. Por exemplo, no Maranhão, o estado mais pobre e deplorável do Brasil, não dá para viver bem com um amor e uma cabana, a menos que tenham como padrinhos alguém da família mais rica do Estado, os Sarney... E esqueça o Nordeste e o Norte: Falta água e nem votando no PT se conseguiu água para o lugar. Dinheiro há de montão, como se sabe a julgar pelas verbas liberadas para as obras do PAC, mas... Ora... Pra quê saber se isso não muda nada? Então fiquemos no amor e uma cabana e esqueçamos o resto.  Coração que não vê, olhos que não sentem. Quanto mais conhecimento tiver, mais sofrerá, mais ficará indignado, e isso até pode tirar a vontade de transar e ser feliz. Transe...Transe bastante como quem fuma crack... Crack é um vício que destrói e custa caro, mas transar é grátis e distrai o suficiente para não precisar pensar na vida.

Roupa? Móveis? Nem precisa ir para supermercados ou casas de moda. Em casa podem andar nus porque são apenas um casal, o que permite uma certa privacidade. Para sair na rua, andar de ônibus (economize no ônibus e faça exercícios andando sempre a pé), duas bermudas e quatro camisetas, um par de chinelos e um par de tênis com direito a um boné. Isso dura uns quatro anos, e não custa tão caro se souber onde comprar. Os móveis podem ser feitos com objetos de lixo reciclável. Uma tesoura, um vidro de cola, uma chave de fendas, agulha, linha, e pode ter todos os móveis que quiser. Podem usar tábuas de demolição, tijolos que se encontram nas ruas, e sua imaginação. A cada móvel novo, um beijinho doce em seu amado ou em sua amada, comemorando com muita emoção, lágrimas de alegria, e o sentimento de que contra todos e contra todas, vocês conseguem. Agradeçam a Deus, mas não muito, senão ele pode achar que estão muito satisfeitos, que já vos deu demais e tudo piorar porque ele tem muita gente para atender.

Se só desejar isto, um amor e uma cabana, não precisa nem trabalhar. Basta ganhar uma bolsa família, usar o SUS sempre que precisar tratamento de saúde, mas com tanta felicidade e alimentos cultivados em seu terreno, e com a ajuda de Deus, nada lhe faltará, mas se contribuir com dízimos, ou terá que roubar, ou trabalhar, ou passará mal. E nem terá tempo para curtir o seu amor e a sua cabana, além do mais, há sempre um Ricardão, ou uma Teresona de olho no seu par. Mas se o SUS não resolver, vá até a Igreja do Valdomiro e espere para que se opere um milagre. Se todos têm direito a milagre, porque você não teria? E se mesmo assim não resolver, há sempre centros espíritas e pais de santo que operam verdadeiros milagres. Este mundo está cheio de opções.  

Diversão? Então não ficou sabendo dos shows grátis das prefeituras, todos os fins de semana? E nem se preocupe com a roupa para os shows. Ninguém conhece vocês, e nem terão tempo para reparar nem vocês querem que reparem. Vocês são um par que se completa e só têm olhos um para o outro.

E sorria... Sorria sempre... Mesmo quando olham para você de alto a baixo com aquele ar superior... Sorria porque está sendo invejado. Deus é fiel e lhe deu um amor, uma cabana cheia de coisas, notícias do dia a dia, só falta a câmara fotográfica, o celular, mas isso você encontra baratinho tipo três em um, e você Aipode sim... Aipode... Sem informar a proveniência vendem barato em segunda mão pelas praças e ruas deste Brasil.  

Afinal, se Lula sem nunca ter trabalhado e sem qualquer instrução chegou a ser presidente do Brasil, se Dilma foi presidente por indicação, se Maduro, um simples motorista de caminhão é presidente da Venezuela, se uma viúva de um político é presidente da Argentina, se bandidos ladrões fazem parte do congresso mesmo depois de condenados, alegre-se: Se um dia seu amor acabar e a cabana for pequena e achar que não vale a pena, ainda pode ser vereador, deputado, senador ou até mesmo presidente da república. Só falta aprender a roubar para ter mais sucesso.



© Rui Rodrigues

A lenda da Lagoa do Feitiço

A lenda da Lagoa do Feitiço


Rio de Janeiro, em tempos de imprefeitura e despresidencialidade é algo que brada aos céus, nos faz tomar banhos a fio para tirar uma ziguizeira inexistente, porque acabamos por nos sentir sujos mesmo logo depois do primeiro banho da manhã. É o calor quando falta energia elétrica, ou bueiro explode na rua em que moramos, ou o caminhão do lixo não aparece para recolher o que jogamos fora. Então vêm as moscas que nem nos cumprimentam nem pedem licença, apropriam-se do ambiente e ficam zunindo feito elétrons em torno de invisíveis núcleos atômicos numa zoeira de gozação implícita. Até as moscas riem de nossos impostos desperdiçados, amaldiçoados. Sem ar condicionado e sem ventiladores (se temos ar condicionado para que precisaríamos de ventiladores?) o calor aumenta e se torna berço para a procriação de moscas que transam desprevenidamente na frente de todos, num porco atentado ao pudor. Transam em qualquer lugar como se fosse o primeiro dos últimos dias de suas vidas  Nem eu com a Clarinha naquelas noites em que fechamos o caixa do mês e ficamos no bar até bem depois que os empregados saem, conseguimos tal performance. O suor úmido é insuportável e tudo gruda na nossa pele. Mas convenhamos que no calor os órgãos ficam mais úmidos e tornam o prazer mais gostoso.

Estávamos funcionando à luz de velas e de um lampião sobre o granito carijó do balcão onde alguns clientes mais apressados tomavam, em pé, seu chopp de serpentina. Chopp gelado, que lhes descia agradavelmente pela garganta e um esgar de contração num arregalar de olhos, de tão gelado que estava. Depois se ouvia o infalível e prolongado  “háaa.....” de puro prazer. Alguns clientes passavam o copo longo de chopp pela testa para refrescar. Num desses “ah..” a porta do bar se abriu com um estrondo, o vento entrou num rompante avassalador e o bafo morno e úmido da rua trouxe respingos de chuva. Um clarão cortou os ares e em seguida um trovão de ensurdecer como uma chicotada divina se abateu sobre os olhares esgazeados dos clientes. Durante momentos ficamos cegos e surdos, e depois amedrontados. Um sujeito enorme estava na porta de braços abertos olhando em minha direção. O seu corpo literalmente tapava a porta de entrada do bar. Um segundo relâmpago iluminou a rua lá fora, iluminando o sujeito enorme na porta, ainda de braços abertos como se fosse um Jesus Cristo de vitral de Igreja presbiteriana.  Na mesma intensidade do trovão que se seguiu, ouvi-se sua voz gritando:

- Portuga feladaputa... Branquela de merda... Dá-me um abraço que estou com saudades...

Fez-se silêncio no bar. O meu barman apanhou um copo e levantou a mão pronto para lho atirar no meio da testa, mas quando ouviu a palavra “abraço” e “ saudades”, sorriu, depois caiu na gargalhada e baixou o copo começando a limpá-lo com o pano que sempre usa pendurado na cintura, enquanto meneava a cabeça de um lado para o outro. Nunca nenhum imbecil tinha entrado no meu bar me chamando de feladaputa e branquela. Aquilo era novidade no bar.
Imediatamente me caiu a ficha... Era o Carlos Calunga, um brasuca, amigo de minha infância que de certa forma me acompanhava na vida desde Lisboa, passando por Angola, e pelo mundo. Era jornalista internacional de um grande periódico inglês.   
- Crioulo viado, filho de uma égua... – respondi-lhe... E nos encontramos a meio do caminho entre o balcão e a porta de entrada, esquecendo raios e trovões, envolvendo-nos num grande abraço.
A vozearia do bar voltou ao normal e sentamo-nos numa mesa. Como por encanto, a luz voltou e começamos a falar de nossos encontros, reavivando memórias, completando-nos as lembranças com detalhes que um de nós esquecera. Então Carlos falou sobre Angola.
- E aí, cara...Lembra em Angola quando fomos pescar na Lagoa do Feitiço? (E deu uma sonora gargalhada)... Lá no Uíge...

Eu lembrava. Como não?... A lagoa fica na comuna da Aldeia Viçosa pertencente ao município de Dange Quitexe, a meio caminho entre Dambi e Ngola. Aquelas terras já tinham pertencido ao Reino do Congo antes da chegada dos portugueses. Calunga me lembrou do dia em que lhe falei que tinha que ir lá e ele me acompanhou. Aproveitaria a carona para fazer uma reportagem sobre o lago. Pelo caminho contou-me a história do lago. Reza a lenda que quem toca nas águas da lagoa desafia Ikú [1]. Ignorante, eu, ri quando kalunga mencionou este Orixá, e eu nem sabia que era um Orixá. Representa a morte. Depois que soube, respeitei. Não que eu acreditasse, confesso, mas respeitei. As populações que conhecem a lenda nem se atrevem a chegar perto da lagoa do Feitiço, e o acesso só é permitido aos habitantes que vivem entre Dambi e Ngola. Basta falar na Lagoa do Feitiço e as pessoas tremem, viram o rosto e o corpo, baixam a cabeça.


Os raios continuavam do lado de fora do Bar do Chopp Grátis. Ouvidos atentos, das mesas mais próximas cadeiras se arrastaram e outros clientes escutavam nossa conversa sobre a Lagoa do Feitiço, enquanto bebericavam suas cervejas, suas caipirinhas. Alguns estavam assustados.

Kalunga continuou a descrever a Lenda:

- O Uíge é um lugar muito especial, porque o povo de lá acredita muito em mitos. Sobre a lagoa dizem que nela vivem sereias. Ali relativamente perto, a população rural dos Tucôkwe proíbe as crianças e adolescentes de irem muito cedo, pela manhã, ou muito pela tarde até ao rio Iwiji ou até a lagoa Citende[2] porque, segundo dizem, Samutambyeka [3]uma figura enorme maior que os eucaliptos mais altos, costuma beber muita água nesses períodos evitando sempre a aproximação de pessoas enquanto não estiver saciado. E enquanto bebe, vai soprando pelas narinas e pela própria boca jatos de água que se transformam em nevoeiro. Quem se aproxima e vê o nevoeiro, sabe que Samutambyeka está por perto bebendo sua água.


Mais relâmpagos lá fora. Rostos se voltaram para as janelas e para a porta que voltara a abrir-se. Era um casal de clientes, mas por fração de segundos pareciam mais os Yikixikixi ou espíritos das águas, forças invisíveis que sempre auxiliam e acompanham Samutambyeka. Quando as crianças vêm o Cezangombe [que normalmente aparece pelas tardes e quando chove, perto dos rios e lagoas, já sabem quem está por perto: O temível emissário da morte, a própria morte, Samutambyeka e os maus espíritos. Um velho freqüentador do bar, com o estômago meio inchado de cerveja, os lábios meio tortos com olhos de peixe morto, perguntou:

- Mas mesmo assim vocês foram pescar na lagoa? (Provavelmente ouvira nossa conversa desde o início)

- Fomos sim – Respondeu Calunga – Mas vocês não sabem ainda porque a Lagoa ganhou o nome de Lagoa do Feitiço. Foi um português que lhe deu o nome, e provavelmente incluiu sereias no feitiço do lago, porque sereias só aparecem no mar. O lugar onde existe a  lagoa era antes povoado. Havia no local uma aldeia chamada Ngungo Indua antes ainda da chegada dos portugueses ao Reino do Congo. Por essa época chegou na aldeia um homem idoso cheio de chagas que a aldeia desprezou. A duas crianças que o haviam tratado bem, o velho as avisou que a aldeia seria submersa, iria desaparecer sob uma nuvem negra. Então, logo que as crianças fugiram da aldeia, apareceu uma chuva muito fina que a pouco e pouco encheu o lugar submergindo a aldeia e criando a lagoa.  

Muitos anos depois, séculos, um português fazendeiro, chamado José Dinis se instalou em terras próximas à lagoa. Por essa altura, os nativos já sabiam do feitiço e o avisaram, mas ele não deu importância e usava as águas da lagoa como os fazendeiros costumam fazer, quer para beber, quer para lavar as roupas ou dar água ao gado. Então pessoas da família e trabalhadores começaram a morrer.  Foi então que José Dinis passou a chamá-la de “Lagoa do Feitiço”.
Desde então é preciso fazer alguns rituais para que o acesso esteja livre, e as autoridades religiosas tradicionais jogam vinho, champanhe, refrigerante e maruvo [5] em suas águas enquanto dizem palavras dirigidas aos tais espíritos os Yikixikixi.
- E a pescaria?  Voltou a perguntar o velho cliente, enquanto a porta do bar voltou a abrir-se com a tempestade que lá fora fazia balançar sinais de trânsito, impedia a visão do outro lado da rua como se uma enorme cortina de água desabasse sobre a cidade que começava a alagar. Muitos clientes sairiam do bar já meio “tocados”, chamando táxis por telefone, que demorariam a chegar.

- Pois é... (Calunga estava animado)... A pescaria. Nós, eu e o Portuga tínhamos combinado que sairíamos de noite para pescar sem que ninguém nos visse. Na verdade não acreditávamos na lenda. Pegamos o carro, um velho Renault de alavanca embutida no painel perto do antigo acendedor de cigarros, e chegamos na Lagoa por volta da uma da manhã. Acendemos um lampião e começamos a pescar. Por sorte levamos repelente de mosquito, mas mesmo assim ainda fomos mordidos por alguns. Quando estávamos começando a pescar ouvimos uns cantos agudos que logo identificamos com baleias, mas baleias não existiam na Lagoa. Seriam sereias se acreditássemos nelas, mas também não poderiam ser. Vimos então na beira do lago uns seres enormes que emitiam aqueles sons. Levamos um tal susto, apanhados que fomos de surpresa, que saímos correndo mata adentro até chegarmos ao carro.


A porta do bar voltou a abrir-se ao som de um raio de chicotada brilhante e sonoro quase juntamente com o  barulho do trovão. Todos os clientes olharam para a porta. Dois seres enormes exatamente iguais aos que tínhamos visto na Lagoa do Feitiço estavam agora na porta do Bar, emitindo os mesmos sons. Alguns clientes se agarraram uns aos outros. O meu barman agachou-se atrás do balcão e Carlos Calunga ria a bandeiras despregadas... As duas figuras na porta riam também, e entendi finalmente que meu amigo Carlos Calunga tinha-me “metido uma peça”, feito uma gozação, por duas vezes: No Uíge em Angola, e agora no meu bar, tudo combinado com dois amigos dele vestindo roupas esquisitas sobre “andas”, aqueles tocos de madeira em que subimos para ficarmos mais altos.

Carlos Calunga é um dos meus melhores amigos, e um gozador de primeira.


© Rui Rodrigues






[2] Fala-se Tchitende...
[3] Também chamado de Espírito Perdido.
[4] O arco-íris. Lê-se Tchezangombe.
[5] O Maruvo é uma bebida resultante da seiva das palmeiras (palmito, bordão ou matebeira).Muitas vezes ingerida já em estado de plena fermentação (que pode durar até 5 dias) quanto mais fermenta, mais aumenta a percentagem de álcool.Muito apreciada em Angola, sobretudo no Norte, onde tem funções sociais precisas, como a cerimônia do alambamento (cerimônia de noivado)  óbitos, no final de uma maka ou agradecimento ao voluntariado comunitário nas zonas rurais.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

As crônicas de Carlos Calunga[1].

                                            As crônicas de Carlos Calunga[1].


Carlos Calunga é meu amigo negro, um dos primeiros amigos que tive. Conheci-o em Portugal no bairro onde eu morava. Era um negro diferente porque contrariamente aos outros que chegavam a Lisboa fugidos das guerras coloniais, ele chegara do Brasil para estudar em Lisboa. Neto de escravos fugitivos e libertos das minas de ouro do Brasil, mais precisamente da Chapada dos Veadeiros, do Município de Cavalcante. Tinha um sotaque engraçado, de um português ainda mais claro do que o falado em Lisboa, onde sempre se “comem” algumas sílabas, com muitas síncopes e apócopes, mas o chiado era o mesmo. As palavras de Calunga eram completas. Sua linguagem era muito clara sem deixar dúvidas e tinha um jeito moleque de se expressar pondo à mostra um espírito desinibido e independente mostrando sempre os alvos dentes de perfeita dentadura. Era incrível como conseguia falar de modo sério entre sorrisos. Separamo-nos em Portugal, em 1962, quando vim para o Brasil, coisa insuspeitada até 1961, quando me preparava para partir para as guerras coloniais, destino infalível de todos os portugueses jovens de 16 anos que não tivessem padrinho nos altos escalões do governo. Quem tinha padrinho ficava para a administração, os outros para a luta no terreno desconhecido. Não tive mais notícias dele até que, por mais um empurrão da vida, voltei a Portugal de onde saí a trabalho para Angola. Lá o encontrei também por acaso. Esta vida tem coisas que parecem inexplicáveis. Eu queria ser oficial da marinha de guerra com os meus 16 anos e ele médico. Agora eu era engenheiro e ele jornalista, que cobria a guerra entre a UNITA e a MPLA, envolvendo cubanos, sul-africanos, mercenários de vários países. Angola estava em guerra em 1990, quando nos encontramos por lá.

Em 1992 acabaram minhas viagens a Angola. Não me acertei com um país comunista onde se distribuíam favores capitalistas como se fosse moeda nacional e não o Kuanza. Containeres desapareciam. Empregados os encontravam como que por acaso e contavam dinheiro em suas imediações, as portas abertas, lacres rompidos. Como denunciar um bando sem saber o que se passava e até que grau de comprometimento dos responsáveis pela empresa? Sim, eu era o gerente geral, mas o sistema de “cunhas”, indicações, MPLA à mistura com a UNITA, sem se saber quem era quem - e minha função não era a de detetive – me induziram a sair do lamaçal, e balas costumavam passar zunindo por cima do acampamento. Dias antes de sair de Angola, com meu pedido de demissão já nas mãos do dono da empresa, o meu substituto veio até mim, junto com a esposa, pedindo para que eu ficasse, e que eu ficaria muito rico. Entendi, peguei meu avião e saí da zona de guerras. Não bastasse uma e eu teria que enfrentar outras para as quais não havia mais disposição nem espírito de aventura.
Foi Carlos Calunga quem me ajudou a abrir os olhos para as paisagens de Angola e do mundo, porque sempre partilhamos de ideais básicos, coisas que nos vêm da alma, não só de informação genética, como também da educação aprendida em família, nas escolas, universidades, dos amigos, da vida que trilhamos.  
Em seu tempo em Lisboa, viveu na Casa dos Estudantes do Império (CEI), um nome pomposo dado por Salazar para um prédio onde funcionava um tipo de República estudantil destinada a apoiar e a controlar estudantes vindos das colônias e do Brasil. Ficava na Avenida Duque D’Ávila, No 23, esquina com a Rua Dona Estefânia. Funcionou de 1944 a 1965 e Salazar não conseguiu controlar nada, porque foi nesse edifício que se tomaram medidas fundamentais para as lutas de independência das Colônias. Carlos Calunga não agia ativamente nem comentava nada com os demais estudantes do Gil Vicente. Um dia me disse:
- Portuga... Seu pai não está no Brasil?
- Está... Porquê?
- Diga-lhe para lhe mandar uma carta de chamada, ou você vai entrar numa guerra estúpida e morrer à toa.
- De que guerra estás tu p´raí a falar? Perguntei-lhe em meu linguajar típico.
- Olha... Sei que você é um cara legal, e que não me vai trair, mas por estes dias vão estourar revoluções em todas as colônias de Portugal. O seu país vai pegar fogo... Se manda meu chapa, enquanto é tempo. E se você disser que eu disse, digo que é mentira.
Não lhe consegui arrancar mais nenhuma informação, mas pelo caráter, sabia que estava falando a verdade. Quando semanas depois vi as primeiras fotografias dos horrores cometidos por todos os lados revoltosos e pelas forças portuguesas, de igual intensidade violando completamente o tratado de Genebra, entendi perfeitamente que Calunga estava certo. E meu pai começava a preparar a carta de chamada.
Carlos Calunga de vez em quando me manda notícias e alguns textos para publicar, com a liberdade de que eu os altere sem lhes alterar o sentido, acrescentando-lhes o meu “tempero”, mas os créditos são todos dele. Afinal somos velhos amigos, e de certa forma, ele me salvou a vida. Sem o aviso sobre as revoluções, a carta de chamada de meu pai chegaria apenas quando eu já estivesse a bordo de um navio transporte para Angola, Moçambique ou Guiné, com 17 anos, preparado para morrer por idéias de um tonto como era Salazar, um velho teimoso, dono do poder e de todos os portugueses, figura cultuada e enaltecida por propagandas fascistas, como se fosse um caudilho sul-americano.
Quanto aos textos e crônicas, publica-las-ei tão logo me seja possível.

© Rui Rodrigues

PS – Carlos Calunga me contou que arranjou alguns inimigos durante a vida. Contra vontade, claro, e que por isso não quer ser identificado. Sobre se o nome dele é verdadeiro ou falso, nem me perguntem. Eu não diria nem sob juramento. De fotos só me permitiu uma de quando participou de um almoço na casa dos Estudantes do Império (CEI) em Lisboa, nos idos de 1956. Ele é o sujeito indicado pela seta.



















[1] Calunga ou Kalunga significa “tudo de bom” em dialeto banto (africano), e também “necrópole”, ou linha do mundo dos mortos em dialeto Kikongo. Os bantos foram uma das maiores etnias que sofreram esclavagismo tribal em África e colonial inglesas, francesas, americanas, holandesas e portuguesas.