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segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Pintando um quadro

Pintando um quadro
(Acompanhe a pintura desde o início)

Não é fácil, mas é incrivelmente transcendental a criação de um quadro por mais simples que seja. Comecei a pintar tardiamente, já vivi da venda de quadros por alguns anos graças à complacência de alguns amigos e desconhecidos, e sempre achei que meus quadros deveriam ser vendidos por preço baixo, mas que valiam muito mais do que isso. E assim foi. Já tive Marchand rondando a minha casa, mas prefiro não me lembrar se declinei ou se ele disse que "talvez mais tarde". Pinto para mim, para minha família, para meus amigos. É sempre um doloroso prazer, porque desde a escolha do “tema”, passando pelo tamanho da tela, até a escolha dos motivos, os traços que orientarão a pintura, até a escolha das cores, e a pintura em si, vai um longo penar saboroso, uma epopeia  que termina sempre quando deve terminar: Quando olharmos o quadro, olharmos o resultado e dissermos para nós mesmos: Está pronto! Não mudo nem mais um traço, uma cor, uma sombra.

Costumo trabalhar com tinta preta, branca, azul, amarela e vermelho, e embora nem sempre, uso sombra queimada ou sombra natural. Nada mais. Sou da opinião que estas cores são suficientes, embora o preto e o branco não sejam “exatamente” cores. O branco é a soma de todas as cores do espectro da luz solar. O preto é a ausência de qualquer cor. Pincéis, sempre proporcionais ao tamanho das telas: Grandes, médios e pequenos para telas grandes, somente médios e pequenos para telas pequenas. Um outro tipo espátula, os outros normais. Se eu fosse muito bom pintor, usava apenas um pincel e meus dedos, que, aliás, também uso de vez em quando. Passei anos pintando a óleo e quase fiquei viciado com o odor das tintas e solventes. Houve pintores que ficaram doidões com isso. Agora só uso tinta acrílica, mas nunca me atrevi a fazer minhas próprias bases para tinta. Então vamos lá, recomeçar, porque há cerca de cinco anos que não pinto um único quadro.

Há duas pessoas em particular que amo, em primeiro e único lugar, desde que nasceram. Evidentemente que se trata de meus filhos. Na sala de minha filha, achei que faltava um quadro. Lamento se minha vontade de lhe pintar um quadro para a sala lhe possa tirar a vontade que tivesse de escolher um em particular que fosse de seu gosto. Afinal, como pintor e valor no mercado quem sou eu? Pouca coisa, porque poucos me conhecem. Mas cuidadosamente lhe falei de minha ideia e ao que parece foi bem acolhida. O problema agora, se existir, será no resultado. Como sou engenheiro, sou sempre fiel aos projetos quando aprovados e sempre os segui fielmente, exceto quando descobri falhas. Meus quadros são “eu mesmo”, e, portanto os pinto com falhas e tudo o mais que qualquer crítico não aprovaria, literalmente, com “bons olhos”.

  1. O tema

Quando lhe falei disse-lhe: Maibizinha estou pensando num quadro que seja alegre, que transmita paz, tranqüilidade, arte, conhecimento, humanidade. E ficou nisso mesmo, porque eu iria escolher o tema. Pensei em dança clássica (minha filha é apreciadora e praticante). Numa conversa por telefone ela me disse: - Pai... Estou tendo aulas de Lindy Hop [1] e estou amando. Se não conhece, vai na net (a salvadora de todas as dificuldades de conhecimento, embora se encontrem barbaridades gritantes) e procurei. Mandei-lhe fotos. Não lhe falei do fundo que escolheria. Disse que gostara de todas. Então comprei a tela, as tintas (as minhas estavam velhas) e quatro pincéis. A tela, dadas as dimensões amplas da sala e o tema, tem as dimensões de 60 x 80 cm.

Na medida em que o quadro evoluir, postarei fotos tiradas com uma câmara rasca que tenho para a NET, mas que serve para não me copiarem a imagem. O tema então é “Lindy Hop em N. York”, e aí está a primeira imagem do primeiro passo da pintura, em 07 de outubro de 2013, às 05:00 da manhã.

Se estiverem interessados, acompanhem, e se não gostarem podem postar no blog as vossas ressalvas ao trabalho, que serão certamente apreciadas.

© Rui Rodrigues

Fase- 1 


Fase 2 - Esboçando o primeiro plano... Nada nos atrapalha nesta vida. Tudo, na verdade, coopera para o nosso conhecimento e experiência. Sarkye se encaixa nesta filosofia de vida. Sem ela este quadro jamais seria como irá ser... Seu espírito analítico é sensacional.. 




E o esboço, já com o primeiro plano, ficou assim ... (espero que gostem) 





Fase 3 - Sei que o pessoal ainda está dançando e o sol já está nascendo em N. York. Preparo então as tintas que servirão para pintar o fundo do céu. Pinta-se sempre o que está no ultimo plano, e vamos pintando até chegarmos ao primeiro plano. Há que ter cuidado com as quantidades de pigmento para não fazermos pouca tinta ou nos excedermos. Sarkye, cansada de me aconselhar, olhando para cada pincelada que dou, fica sedenta e se aproveita da água de um dos copos que sempre mantenho limpa, caso precise recolher tinta do vidro de pigmento virgem, com o pincel , para adicionar à tinta já preparada para lhe dar o tom que busco.. 




 Mas a fase 3 ficou assim 




Eu já sei como o quadro vai ficar quando estiver terminado. isto é, mais ou menos. Afinal sempre inventamos alguma coisa, ou modificamos um tom. No caso, as cores são apenas de fundo, porque o quadro que pretendo ficar deverá ser "brilhante" com luz e sombras, num estilo que defino como "ingênuo gótico" e que julgo ter criado se não for muita pretensão  de minha parte . E pensando nisso, louco para ver o fundo pintado e começar logo os acabamentos, não consegui dormir. Nem eu nem a Sarkye... E ficou assim a fase 4 com os fundos pintados grosso modo, da cidade de Nova York dos anos trinta, onde gente branca se juntava a gente negra para dançar o Lindy Hop. Eram anos loucos, e eu aqui pintando. Deveria estar lá, mas faltaria muito para eu nascer, e meu pai era um garotinho que há pouco começara a andar. 


Fase 4 - Não há muita preocupação em seguir exatamente os traços dos personagens, porque ainda vamos voltar a pintar o céu ( o plano mais longínquo, os prédios e finalmente os personagens.)





Pintura é um caso muito sério.. Por vezes não dá vontade de parar. Foi assim que estendi meu período sem dormir até as 12:30... Trabalhos inesperados que tive que realizar.. Mas entretanto, dei uma melhorada no céu, pintei o fundo de partes de prédios na sombra, iluminei a torre do Empire State Building... E cheguei à fase 5


Fase 5- Aí está





Fase 6 - pintando manchas pequenas - janelas

Hora de começar a pintar as janelas dos prédios. No centro de Manhattan a maioria é de escritórios. Muitas salas estão com as luzes acesas. Há gente trabalhando. Nos meus tempos de engenharia ficava muitas vezes até tarde e não raro me passava pela cabeça que seria melhor estar lá fora, fora do prédio, onde todos estariam àquela hora, indo para casa, jantando fora, dançando... Mas eu tinha uma carreira, uma família recente, e o trabalho tinha que ser efetuado de forma correta, no prazo, na qualidade, dentro dos custos previstos, o que me proporcionaria melhores salários, progresso na carreira. Sou seguidor fiel de projetos.   Ao pintar estes prédios, uma trabalheira insana de janelas e mais janelas, umas mais claras, outras mais escuras, e o desperdício aparente de pintar janelas de luz apagada, onde ninguém está trabalhando à hora que o quadro pretende representar. Mas tenho que terminar a pintura das janelas se quiser chegar ao prazer final de pintar a gente que dança nas ruas o Lindy Hop, o ponto alto do quadro. Ainda vai demorar uns dois meses para acabar. 





Hoje é quarta-feira, dia 09 de outubro. Foi um dia puxado. Olhando o quadro vejo que em alguns edifícios andares inteiros estão iluminados, enquanto lá fora, alguns indivíduos se divertem. Realmente, não é necessário que todos trabalhem ao mesmo tempo e outros se divirtam ao mesmo tempo, mas nesses andares, o trabalho é duro. O dinheiro que neles se ganha serve para gastar em diversão, também, e os impostos sobre os salários e lucros, constroem e mantêm cidades inteiras. Para trabalhar até essa hora, há dramas nas empresas , quer porque se trata de um trabalho para ser entregue em curto prazo e os trabalhos correspondentes estão atrasados, ou por outros motivos. Já passei por isso durante várias décadas. Mas neste meu quadro existe a tranquilidade do trabalho bem feito na realidade do dia a dia dessas décadas, das dificuldades vencidas, e da determinação de não querer voltar a passar por isso. Foi estressante!... Mas não conto mortes entre meus subordinados, não conto atrasos em minhas obras, não carrego o fardo de custos extras na sua execução. Meu quadro não será vitorioso, mas eu sou. Minha família também é vitoriosa. Não importa quanto custe, desde que seja de forma honesta. 



Creio que o quadro chegou ao ponto que todo artista gosta que chegue: Quando começa a falar como criança, e a pedir “coisas”, que uma parte seja pintada de determinada forma, que se retoque um pouco ali e ali, antes de seguir em frente. Alguns quadros meus não chegaram a este ponto e jazem no lixo, nem sei onde. A culpa, evidentemente, é do quadro e não minha.


Uma receita de Purê de batata frito.


Não sei se já ouviram falar de “purê de batata” frito. Não? Não admira! Acabo de inventar. Peguei uma batata grande, das maiores que existem nos supermercados, e pus para cozinhar com casta e tudo, cortada em quatro rodelas evidentemente generosas. Depois que ferveu, tirei-lhes a pele, amassei com um garfo (olha aí o purê), misturei um ovo inteiro, meia cebola picada, duas colheres de sopa de queijo ralado, sal, misturei tudo bem misturado, apanhei uma frigideira grande. Passei-lhe um fio de azeite e levei ao fogo. Não costumo comer nada frito, razão pela qual me posso dar ao luxo de fritar alguma coisa de vez em quando. Ao “fritar” o purê pode acontecer que agarre no fundo. Não tem problema. Vá raspando com uma colher de teflon na medida em que o fundo vá apresentando uma cor de “frito”.  Depois de pronto fica como se fosse uma “farofa mole”. Quando já não houver ovo mole na mistura, estará pronto o purê frito. O bife se faz de qualquer modo de acordo com o desejo de qualquer um. Este meu amado bife de hoje, que a vaca descanse em paz, foi passado na frigideira apenas com um fio de azeite, sal e um dente de alho. Fiz uma salada de tomate e cebola, temperada com azeite, sal, limão. O pão, que não costumo acompanhar com comida, é meio trigo e meio fubá, fermentado com aquele de pacote, em forma de bolinhas. O fubá de milho é uma homenagem aos incas que praticamente só comiam milho, não tinham vacas, e conseguiam respirar a mais de 3.800 metros. Eu também já consegui, no Chile, mas não passava lá mais do que dois dias. Já em Bogotá, raramente passava dos 2.640 metros de altitude, coisa que somente acontecia quando eu subia para o quarto do Hotel pelo elevador interno panorâmico .


Acabei de almoçar, e voltei ao meu quadro.. Vejam como ficou a parte 7 da pintura  

FASE 7   




Nada de novo na fase 8, a não ser mais janelas nos prédios. Já poderia estar mais avançado, mas sinceramente, pintar janelas repetitivamente - e são tantas - não é das coisas mais agradáveis.. É uma fase dura de ultrapassar. A vontade de pegar nos pincéis é pouca... Mas ânimo!!!! temos que pintar as janelas e ainda vamos voltar a elas antes de pintarmos de novo o céu, e acabarmos o quadro com o primeiro plano concluído.. 


Fase 8 - ficou assim...(em 10 de outubro às 17:40)





Pintar janelas exige muita disposição e paciência que por vezes nos faltam... Por isso, depois de enorme esforço, porque estou ansioso para pintar os protagonistas do Lindy Hop, lá vai mais um pouco de janelas pintadas, umas iluminadas, outras com pouca luz, outras ainda apagadas.. 


Fase 9 - Mais janelas e ainda falta muito. 




Então vi que não estava como "deveria" estar e perdi algum tempo (ou ganhei) refazendo algumas partes da pintura dos prédios e janelas.. 


Fase 9 - a ....... E ficou assim




E nesta fase da pintura, minha amiga Sarkye fica cansada de olhar tantos retoques, pintar janelas, e muda seu comportamento para o estado de "dorminhoca".




E a fase 9-b ficou assim....



Sarkye, minha amiga gata nem percebeu, mas cheguei à fase 10 enquanto ela dormia... E ficou assim:


Fase 10 - Alguns arremates no fundo, que ainda não concluí. 




Passei  um par de dias encrencado no quadro: Pintar a parte inferior com os reflexos do Rio Hudson, ou com carros da época? Ambas as hipóteses tirariam o enfoque principal nos bailarinos de Lindy Hop... Minha filha Maibi me deu a solução: Pintar os carros em "silhuetas"... E isto me remeteu para as revistas em quadrinhos de Walt Disney, do Mickey e do coronel Cintra.... O primeiro carro aparece no canto inferior esquerdo ainda em "borrão". Uma camionete Ford de 1930... 


Fase 10.b Pintando carros de 1930 em silhueta....




Detalhe do "carro".... 





Nada ainda acabado. No quadro tudo são ainda manhcas... E às 19:35 de 17 de outubro as manchas dos três automóveis lançados pela Ford em 1930, já estão delineadas. Este quadro não termina antes de mais ou menos dois meses... Muita coisa para pintar, retocar... Mas a ideia de minha filha foi realmente sensacional... Pintar os automóveis em "silhueta" como se estivessem na sombra... Assim os bailarinos irão brilhar e "sobressair" bo quadro como primeiro plano de fato, dando profundiade á imagem...  E assim ficou a fase 10-c 


Fase 10-C - os três automóveis em silhueta...




Acabei fazendo o que não deveria, mas há um ponto em que realmente não dá para segurar... E pintei dois personagens sem ter acabado o plano que está por detrás deles. Há como continuar sem problemas embora exija mais atenção... E a fase 11 ficou assim...

Sarkye olhou, gostou, mas se voltou para mim assustada e disse: - Vai com calma, cara!!!! Não poderias esperar mais um pouco, acabar os fundos e pintar o primeiro plano?


Claro que ela tinha toda a razão....





Fase 11 - Dois personagens em início de pintura.





Em nenhum momento pintei sem ter vontade de pintar ou sem saber o que pintar, como ou onde. Qualquer defeito n pintura é também de minha propriedade e responsabilidade. Perdi tempo olhando para ele e perguntando-lhe o que desejava, que cor gostaria mais de ser pintado. A moça do centro, por exemplo, disse-me que seu vestido era bege com listras verdes, mas que poderia ser branco com listras verdes. Preferi o bege para não ofuscar as luzes dos prédios em frente. O casal posou para a revista Life de 1930 e a capa saiu em preto em branco. O Lindy Hop estava na moda. O terno do rapaz deveria ser cinza, mas preferi o amarelo com a calça marrom para contrastar com os prédios.

Quando achei que tudo estava como tinha previamente idealizado e agora detalhado com mais acuidade, pintei. Ainda há muito trabalho para fazer, e o prazo de dois meses parece que se estica. Vai demorar mais do que isso...


Mas quando o quadro estiver pronto, olharei para ele, e me responderá:- Pode assinar. Estou pronto!  E ficou assim a fase 12.

Fase 12 - Esboço de pintura de fundo dos personagens e escolha de cores


Pintando meu quadro e os pensamentos voam... De vez em quando pego um desses pensamentos e o apreendo, analisando-o e vendo se é ou não aproveitável. Aprendi isso com meu pai, o Gabriel.  Um dia lhe disse que me assolavam muitos pensamentos que fluíam naturalmente, mas que eram tantos que passados momentos me lembrava de um ou dois que me haviam ocorrido, quando muito. Então me disse para que, quando um deles, só um, fosse interessante, parasse o meu diálogo interno e me fixasse nesse apenas. Deu resultado... E o pensamento que me ocorreu agora foi que estamos ficando insensíveis a tudo. Olhamos para o próprio umbigo e não vemos nada mais além de alguns dias à nossa frente. Procuramos novidades, coisas novas que nos despertem o interesse... Mas que coisas novas há além de um ou outro I-Pod ou artefato moderno? ... ... ... Nada!!!!
Não aparecem novos filósofos, novos pintores espetaculares, artistas transcendentais, políticos respeitáveis dignos de nossa admiração... A arte parece estar dependente dos favores do Estado. 

Chega a parecer que nosso espírito inventivo se acomodou na lerdeza de pensamento, na mesquinhez do dia a dia, e o que nos interessa está no imediatismo, no lucro imediato, o amanhã é uma certeza igual à de hoje. Nada mudará... Cerca de 200.000 já se inscreveram para ir para Marte. Pode ser uma boa idéia. Aliás, creio que a humanidade e a economia do mundo poderia caminhar nesse sentido: Nos tirar deste atoleiro em que a humanidade se encontra hoje, uma nova Idade Média.


₢ Rui Rodrigues  

Mas a fase 12-b ficou assim, com a novidade do velho Ford Azul necessitando apenas de alguns retoques. Estou numa fase em que começo a amar o meu quadro e a conversar com ele, tentando perceber o que deseja que eu pinte e como... Já vou dando retoques em partes retocáveis para aproveitar a tinta quando ela está quase no ponto certo e posso aproveitá-la adicionando apenas um pouco, uma gota, um pingo de pigmento para a levar para o tom certo...

Fase 12 - b - O velho ford relembrado. 


Pintar não é só pintar um quadro... Há outras circunstâncias que envolvem esses momentos. O pior deles é o tal do "lanhaço".. Eu faço aq minha barba com lâmina das antigas, uma navalha... E apressurado para dar mais uns retoques, tomei uma chuveirada de cascata no chuveirão ao ar livre na área da churrasqueira, e fui fazer a barba depois... Me cortei, mas isso foi um prazer. Logo eu que tenho mão firme e não treme nem para pagar conta em banco... E assim dei pelo menos uns mil retoques: O rosto do bailarino da esquerda, as calças do bailarino do centro, as rodas do carro azul, o realce do carro amarelo, o fundo dos tênis da moça da direita, janelas, e o céu para adequá-lo à iluminação geral do quadro... Olhos atentos poderão ver retoque por retoque comparando as fotos 12-b e 12-c... E ficou assim a fase 12-c


Fase 12-C -- Mais retoques do céu ao primeiro plano.. 





Fase 13 - Mais alguns avanços de detalhes


1- Detalhe da pintura do céu





2 - Detalhe do casal de azul e vermelho e da camionete ford




3- Detalhe da moça que foi capa da Life de 1843. O de macacão é Frankie Manning, ainda vivo. 




A fase 13 estpa agora assim 






Fase 13-a


Começando a pintar o Frankie Manning (no lado direito do quadro). Ele é muito alto e forte. No centro, troquei a cor das calças de Dean Collins. E ficou assim. Mas ainda falta muito para acabar... Por isso, ao olhar a obra, não desanimem. Vai ficar muito melhor.. 




Este é o detalhe do grandalhão Manning (ainda não acabei)




Fase 13-b - apenas retoques 





E as pernas da morena ficaram assim 




Fase 13-C -Corrigindo erros


Não fiz estudo prévio de cores. Deveria ter feito. Imaginei o quadro em "minha cabeça" e comecei a pintura. para dar mais realce a pessoas e objetos, bem como para não perder detalhes que poderiam ficar dissimulados por causa da intensidade e pigmento das cores, tive que mudá-las na roupa do bailarino central, dando mais realce, também ao carro ford que está por detrás dele. Agora aparece mais, também...  E ficou assim (ainda longe de acabar, porque faltam os detalhes de luz e sombra)





E o detalhe, desta forma 




Fase 14 - Só falta acabar o carro verde e o piso. O resto, é ficar todo o dia olhando o quadro, ver detalhes e corrigir, melhorar, corrigir, melhorar... Até ele me dizer: Estou pronto!.. Não podes fazer nada melhor... 






Mais um detalhe 



Fase 15- E última - Agora só retoques e ver onde errei. As rodas do carro verde precisam ser retocadas.




Mais um detalhe





E já recebi os conselhos da Sarkye, minha " crítica ", sobre como devo tratar o quadro no final, quando tudo estiver pronto 




Fase 15- a - Aproximando-me do final do quadro... Hoje trabalhei mais


Final do quadro-  Limpei minha mesa de pintura, vou pousar o quadro sobre a mesa de trabalho  e passar verniz para realçar as cores, proteger a pintura. Por isso a data de término do quadro a considerarei como hoje, dia 31 de outubro de 2013. 

A seguir as fotos que "colaboraram" para esta obra:


1- Vista da cidade de N. York ao entardecer (ou amanhecer) 



1 111 














2 - Frankie Manning E Norma Miller, quando apresentaram seu "passe voador".
















3 - Kevin e Carla - já nos tempos recentes










4- Dean Collins e (provavelmente) Jewel McGowan ou a própria Norma Miller.




















os automóveis são todos marca Ford dos anos 30. 



E o quadro ainda sem o verniz (é o que lhe falta) ficou assim. Peço desculpas mas minha câmara atual é mais deficiente do que eu na pintura.. 





Espero que tenham gostado, e agradeço as visitas.






[1] Para quem não conhece Lindy Hop, uma dança de rua, popular, nascida nos EUA entre os anos 20 e 30, favor consultar http://www.youtube.com/watch?v=mBdAuXr4ssQ

domingo, 6 de outubro de 2013

Economizar energia e muito mais (da semana de 06 de Outubro)



Economizando muito mais do que energia

Sua geladeira pode dar-lhe muito lucro, ou, pelo menos, não lhe dar tantos prejuízos quanto o seu descuido. Por isso, se deseja economizar porque desperdícios não dão lucro a ninguém, prepare-se e veja se sua geladeira é “ frost-free” e se tem a qualidade “A” no consumo de energia. Se tiver, tudo melhor. Geladeiras bem utilizadas podem manter a qualidade e o sabor dos alimentos por muito mais tempo do que imagina [1].

Bactérias não são amigas de baixas temperaturas. Quando isto acontece, elas se prepararam para “hibernar” e baixam seu metabolismo ficando tanto mais adormecidas quanto mais baixa a temperatura. Regulando a temperatura das geladeiras para inverno e verão, pode manter-se sempre uma temperatura adequada para diminuir a proliferação e o metabolismo das bactérias. Mas que medidas adicionais se podem tomar?

- Não abra constantemente a sua geladeira. Toda vez que faz isso, o ar interno se mistura ao ar externo, a temperatura interna sobe e mais energia é consumida para baixá-la. Como é uma questão de hábito, habitue-se, crie normas rígidas dentro de casa e veja a seguir por que razões deve fazer isto.
- Só compre vegetais e frutas que não tenham nenhuma “mácula”, isto é, manchas, amassados, furos... Cebolas devem ter as extremidades duras, tomates ainda não ter a cor totalmente vermelha. Alhos deixe ao ar livre se for seco. Se o clima for úmido, guarde na geladeira, mas nunca os descasque previamente, a não ser que os amasse com sal para fazer tempero. Neste caso o produto pode ficar fora da geladeira.
- Batatas quando sentem umidade, começam a brotar. Então, muito da sua qualidade se perde e estragam rapidamente, Por isso, não as mantenha dentro de sacos plásticos. O ambiente seco e frio da geladeira as mantém mais tempo e podem durar até um mês ou mais dentro da geladeira. Isso lhe permite estocar e com isso economizar por causa da inflação.
- Verduras (folhas) devem ser lavadas, escorridas até quase secarem. Depois as meta em sacos plásticos ou dentro de uma panela de alumínio.
- Carne para o congelador (freezer) deve ser previamente cortada em porções e depois envolvidas em sacos plásticos para que não se precise retirar toda a carne para depois cortar e devolver parte ao freezer. Nada deve ser descongelado e recongelado.
- Salsa e coentro devem ser lavados, secos, e guardados em caixas de plástico no freezer. Isso as mantém com sabor, prontas para uso como se tivessem chegado da feira ou supermercado. Se retirar do freezer, use imediatamente e recoloque no mesmo lugar imediatamente para não perder o sabor, estragar.
 - com o hábito e o controle, poderá entreabrir a porta da geladeira, em vez de abri-la por completo, toda vez que precisar apanhar algo guardado na parte interna da porta, de forma a reduzir as trocas de ar entre a parte interna e a externa da geladeira.
- Não mantenha geladeiras perto do fogão ou em zonas com incidência de raios solares, ou muito ventiladas.
- Da geladeira, use sempre frutas e verduras com maior aparência de inicio de deterioração...
- Pode fazer iogurte com dois litros de leite longa vida, misturando-lhes uma simples embalagem pequena de qualquer iogurte natural  deixando o recipiente tapado por um dia ou pouco mais. Guarde depois na geladeira.  
- Po

RR



COMBATE á ESPIONAGEM AMERICANA....

Está difícil... 

Se temos que fazer uma "diligência", as estradas estão esburacadas e os pedágios estão caríssimos... As vias férreas não são viáveis e nem existem. Uma delas, a Ferrovia Norte Sul está em exploração desde 1987 e ainda não foi acabada; Ir de avião, impossível, porque os vôos estão ocupados pelos senadores, políticos e só o governador do Rio de Janeiro tem uma meia dúzia só para levar empreiteiros e familiares para Angra dos Reis... 

Se uma agente anti-espionagem passar mal, tem que ir para o SUS e de lá arrisca a não sair... Pode morrer de disenteria capilar, uma doença que nem existe mas que por lá, no SUS, é bem capaz de ser endêmica... 

Usar computadores, tecnologia moderna, exigiria centros de pesquisa, gente educada em universidades, mas isso só serve para quem for filiado ao partido dos PTlecos, e estes ou não têm instrução ou os diplomas foram comprados (a maioria dos intelectuais do PT saíram do partido) e definitivamente, em doze anos, o governo não investiu em centros de pesquisa... Além do mais, os afiliados do PT passam mais seu tempo fazendo propaganda do Partido do que realmente trabalhando... Para eles tudo é propaganda e lavagem cerebral desde o primário onde livros já são usados para fazer a cabeça da garotada com regimes de governo que já foram abandonados pela humanidade inteira, como o comunismo... Quem se importa com Marx no mundo moderno?

O trânsito está caótico, com filas de centenas de quilômetros, as calçadas esburacadas, e é um perigo transitar nas ruas porque o crime, muito mais organizado do que o governo, tomou conta do trânsito e do ir e vir. Morrer é mais fácil do que almoçar todos os dias...

Como vamos ficar, Dilma? Vais ou não vais ao jantar familiar do Obama? Ou preferes inaugurar mais uns estádios de ludopédio, dando o pontapé de saída com esses pedúnculos de abafar vulcão ? 

RR

O MAL DAS ABSTENÇÕES


O tremendo ESTRAGO que a abstenção daqueles que têm direito a voto e, por comodismo, não participam da vida ativa da nação, pode fazer...

O governo da Irlanda, para diminuir os gastos da nação fez um referendo no sentido de eliminar a Câmara Alta, ou seja, o senado... 60% da população estava a favor... Porém, nas votações desta sexta-feira, 4 de outubro de 2013, apenas 39 % foram às urnas. O restante, sessenta por cento exatamente, ficou em casa, foi passear, tomar umas cervejas... Davam a abolição do senado como garantida.. Pois bem... Dos 39% que foram às urnas, 51,7% disseram não e o senado continua...

Mas... Se em vez de terem de ir às urnas, tivessem feito a votação pelas redes sociais, todo mundo teria votado por ser extremamente simples, o senado não existiria, e teriam tomado suas cervejas, saído para passear..

Ora bolas, quanto tempo demorará ainda para se implantar uma Democracia Participativa?

RR







[1] Para prazos de validade de congelamento, verifique os estabelecidos pelo fabricante em sua geladeira

sábado, 5 de outubro de 2013

Dos dois lados do desejo - de Cau Lanza





E me faço
Num instante
Num arrepio
Que corre
No corpo
Ensopado de tesão
E me desfaço
Em líquidos plenos
De pura excitação
E em minha pele
Brinco
Caminho
Dedos eufóricos
Pura emoção
Satisfaço
A raiva
A pureza
A fissura
Linda tentação
Que me pega
Que em mim peca
No meio
Pelo meio
Deliciosa sensação
E me tenho inteira
Quando aqui
Minha metade
Se encontra na tua
Flutua
E me deixa tonta
E gozo
Um tanto doçura
Um tanto mais
Pura gostosura
Sem ti
Sozinha
Eu sei
Um tanto mais
E é mais
E mais loucura...


- Cau Lanza –

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Pronto, pronto, não chorem, amigos e amigas...



Pronto, pronto, não chorem, amigos e amigas...

... O mundo que construímos ao longo destas seis décadas já chegou e está aí pra todos verem: Liberdade sexual, ignorantes e gente sem instrução já podem ser presidentes, senadores, deputados, e simples advogados ministros do supremo. Gente do povo já está no poder mesmo que o poder nunca tenha estado com o povo. A justiça já não é tão dura, mas precisamos avisar a polícia porque ainda não sabem disso. Embora os professores continuem sendo mal pagos, isso não importa porque o partido que amam está no poder e tudo é em nome do partido. Gente inconveniente que reclama já está sendo afastada, e grandes olhos já têm tudo sob controle porque vêem tudo. São capazes até de nos seguir pelas ruas do emprego até o local da manifestação. 



Pronto... Pronto. Não foi nada, já vai passar... Não chorem. 

Os generais que se deveriam aposentar continuam nos cargos por fidelidade e perda da força viril, a tropa mandada por um sujeito que não teve treinamento militar adequado ao posto. A liberdade, aquela tão decantada liberdade está pelas ruas: Qualquer um assalta, quebra, rouba, mata, vende droga, sem problema algum. Água já existe em todos os domicílios, porque basta esperar chover, e não há nada melhor do que se locomover a pé porque é saudável. A instrução é desnecessária, porque a Internet está aí disponível para todos e professores custam muito caro. Para comprar diplomas basta falar com a Rosemary... As estradas esburacadas não têm a menor importância e é até proposital para que se dê mais importância aos transportes ferroviários, principalmente ao primeiro trem-canhão do país, que ligará o aeroporto do galeão ao aeroporto de Cumbica. 




E não chore... Não chore.. Os médicos cubanos já chegaram e estão costurando que é uma beleza, lindas colchas de retalhos e fazendo uma grande economia porque a maior parte de seus salários ficam lá em casa, em Cuba, sendo administrados pelo Partido. Grávidas, doentes, idosos do SUS terão agora assistência em casa por falta de médicos, equipamentos hospitalares, ambulâncias, remédios, materiais, condições, mas dizem que em casa o doente tem mais conforto e temos que acreditar... 

O senado? As Câmaras? Tudo comprado, todos de acordo, só trabalham de terça a quinta, mas na terça desfazem as malas e na quinta voltam a enchê-las sem problemas de alfândega aduaneira. 

Não chorem... Daqui a sessenta anos tudo mudará outra vez...Os muros que derrubamos voltaram a ser construídos, e temos esse tempo todo para os derrubarmos outra vez.

₢ Rui Rodrigues

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Antiguidades - Feira da Ladra, Pulgas de Paris, Praça XV

Antiguidades - Velhos e velharias
Feira da Ladra – Pulgas de Paris - Praça XV

Antes que me crucifiquem, sou velho. Farei 69 anos em setembro do ano que vem, 2014, e não tenho problema algum em dizer que sou velho e não “idoso” ou que estou na “melhor idade”... Eufemismos e sinônimos que não tiram o conceito de que já passei a idade da juventude. E dizer que sou velho, não quer dizer que esteja faltando ao respeito comigo mesmo nem com ninguém. Significa apenas que conheço razoavelmente bem a língua portuguesa. Nada mais. Mas vamos ao que interessa...

Há coisas boas neste mundo. Aliás, este mundo está cheio de coisas boas além da experiência adquirida com a idade, claro. O problema maior é a falta de conhecimento, de vontade, de tomarmos para nós um pouco de tempo livre para apreciarmos tudo o que nos rodeia. São cheiros, comidas, perfumes, paisagens, amigos e amigas, conversas, lembranças. Ah!... Nada como boas lembranças em momentos de contemplação. Se gostar deste tipo de coisa, continue lendo e espero que lhe provoque lembranças que só você pode ter. São suas e não ocupam lugar, ninguém as pode roubar. Mas para isso é necessário ter “idade”. Sem idade não há como ter muitas lembranças para lembrar, a maioria dos objetos em feiras não lhe dizem absolutamente nada, porque nunca as usou, não sabe para que serviam nem se eram acessíveis ou apenas coisas de ricos. A propósito, peças antigas, de ricos, não se encontram em feiras como as que visitei: A da praça XV no Rio de Janeiro junto à estação das barcas Rio - Niterói, a Feira das Pulgas em Paris, e a Feira da Ladra em Lisboa. Vamos viajar...



Quem lembra, por exemplo, de um fogareiro a querosene? Naqueles tempos de 1950, cinco anos após o término da segunda guerra mundial, eram poucos os fogões, a maioria a lenha, havia limpa-chaminés, e muitos quartos alugados a famílias em Lisboa. Quem quisesse um pouco de privacidade, tinha que cozinhar nos quartos. Usava então um fogareiro a querosene como o que se vê na foto, e havia uma lâmina de metal com um fio duro de aço na ponta, para desentupir os furos de queima do querosene que entupiam constantemente com fuligem. Como eram feitos de cobre, era necessário polir constantemente. Nos dias de inverno, a sopa esfriava antes que se pudesse cozinhar as batatas que também esfriavam antes de fritar o bife. Foram de muito uso no pós-guerra. Depois vieram os fogões a gás, em botijão ou encanado. Esquentaram muita água para colocar dentro de botijas para aquecer os lençóis frios no inverno, porque a maioria esmagadora das casas não tinha calefação.


E quem se lembra da velha vitrola, que tocavam velhos discos de vinil de 45 ou 78 rotações por minuto (RPM) com selo “Polidor” ou “His master voice”, aquele do cãozinho sentado de frente para um aparelho desses? Podem ainda ser encontrados, alguns ainda tocam, mas o som nos parece horrível, saído de túnel do tempo com falta de graves, de estereofonia, com chiados e trancos. Isso porque já temos coisa muito melhor, mas naquele tempo fizeram a alegria de muita gente, embalaram muitos namoros ao luar, transas noturnas, mas não transmitiam notícias. Os rádios vieram com a segunda guerra mundial. Afinal, as guerras sempre servem para se descobrir alguma coisa de útil. Há rádios antigos que ainda funcionam, mas não têm nada da tecnologia moderna, e os modernos já saíram de moda. Já não se usam. Até nossos amigos duram por épocas. São raros os que nos acompanham até o final da vida, talvez porque saímos ou saíram de moda e agora usam novas tecnologias. Por vezes a vida nos empurra a mudar de lugar, de cidade, de país, e lá se ficam os amigos que em breve tempo acabam por esquecer-nos ou que acabamos por esquecê-los. Há que curtir as coisas e pessoas enquanto estão à disposição, não é?
Jarras de cerâmica, mas nenhuma original que seja da dinastia Ming.  Peças caríssimas como essas, só em leilões especiais, onde se dão lances de milhões. As feiras livres de antiguidades são feiras “populares”, onde raramente, mas acontece, se pode descobrir um pequeno “tesouro”. Antiguidades nos lembram histórias do passado, tesouros, nos fazem imaginar quem teria possuído aquelas peças que vemos, algumas de prata maciça que já ninguém quer, porque quando foram fabricadas não havia poluição, e atualmente é tanta que a prata fica negra rapidamente e há que limpar sempre, todas as semanas. Peças de ouro, nem tente comprar se por acaso encontrar á venda. Provavelmente serão falsas, porque ouro antigo é normalmente derretido: O desenho das peças saiu de moda, e broches, por exemplo, já não se usam. Mas ainda a propósito da imaginação de se encontrar tesouros em feiras de antiguidades, sempre me lembro de algumas revistas em quadrinhos, como as de Hergé, que até se encontram também à venda como “antiguidades”, e em especial aquela do “segredo do licorne”, em que Tin-Tin, o jovem jornalista herói, descobre uma miniatura de um galeão antigo, chamado justamente Licorne e o chifre se desprende deixando cair um mapa de tesouro enrolado. Spielberg fez um filme sobre esse tema, aliás, excelente.


Livros, mapas, revistas antigas, costumam ser vendidos em “sebos” espalhados pela cidade. Isto é, antigamente. Hoje são raros, mas ainda se encontram livros bons em feiras da ladra, das pulgas ou da Praça XV. E roupas há muitas, por todos os lados, juntamente com sapatos, chapéus, colares, relógios de pulso, um mundo de lembranças perdidas por uns, que outros encontram. Uma antiguidade numa residência, por menos que valha financeiramente, é sempre um troféu, sobretudo uma lembrança que nos lembra da precariedade do tempo, que passa, não volta, e leva tudo o que valia e já não vale mais a não ser para decoração. Costumes se perdem também com o desuso dos objetos. Basta prestar atenção na velha máquina de escrever, tão caras que foram no passado, servindo em departamentos de estado, em repartições públicas, datilografando penas e sanções, ordens de prisão justas e injustas, notícias de jornais, poemas de escritores, declarações de guerra, livros de Agatha Christie, Ellery Queen. Cartas de amor, algumas captadas por maridos ou mulheres traídos, contando sobre chapéus antigos deixados na janela, de forma estratégica para avisar se o marido ou os pais estavam ou não em casa. A traição faz parte do mistério, dos contos, dos objetos, da vida, é um molho especial como a pimenta, que tanto pode alegrar um jantar, como desarranjar os intestinos, um jogo. E nos objetos das feiras de antiguidades, há histórias de vida escondidas. 

Alguns objetos já foram guardados com carinho, outros vendidos sem que a família soubesse para pagar dívidas, outros já foram empenhados por várias vezes para que os donos se livrassem de sufoco financeiro, outros ainda foram roubados. Alguns dos santinhos de igreja foram, certamente, porque igrejas não são museus, não têm guardas na porta, e estão mais sujeitas ao vandalismo do dinheiro fácil, não de mérito. Aliás, dinheiro é coisa que todos queremos, independentemente de nossas preferências religiosas ou políticas. Dinheiro é um objeto de desejo até dos mais ferrenhos comunistas, que por falta dele, quando não está disponível, usam favores como moeda de troca. Logo após a queda do muro de Berlim, encontrava-se facilmente em Lisboa condecorações das forças armadas da Alemanha oriental, e russas, bonés, botas, fardas inteiras.
Ás vezes, pelos idos de 1957, eu ia a pé para o Liceu Gil Vicente, ou voltava a pé, normalmente nos dias em que não havia aulas pela tarde por um motivo ou por outro. Costumava parar num armazém de “ferro-velho” que pertencia a minha prima Alice, uma das minhas paixões em minha vida. Não era uma paixão sexual, porque ela era bem mais idosa, mas porque era uma pessoa fabulosa, simpática, do tipo que não fazia mal a uma mosca, se assustava com trovões e raios de tempestade, não podia ver sangue nem violência, e tinha a casa sempre arrumada. Por vezes dormia por lá, na Av. Pascoal de Melo, num quarto andar – os apartamentos eram de um por andar, daqueles que tinham um “interfone” de cobre ligando-o à portaria. Tirava-se uma tampa de um bocal na portaria, depois de tocar a campainha, e encostava-se o ouvido ao bocal para escutar: - Quem é? , e colocando a boca no bocal, dizia eu: - Sou eu, prima. Então ouvia um ”clac” e o portão se abria automaticamente. Era uma maravilha. Eu até gostava das sopas que ela fazia, sem sal, porque sofria da vesícula e da pressão alta, e ia-se cedo para a cama. A educação era germânica, e nem para conversar com minha prima Fernanda havia tempo depois do horário estabelecido para dormir. A cama era dos deuses, com edredom de penas de pato. Nunca vi o esqueleto de um pato em feiras de antiguidades, por mais que os patos sejam habitantes usuais deste planeta, e sirvam para tantas coisas úteis, ainda, nestes tempos modernos, cheios de coisas novas. Mas lá está. Não são raridades e por isso mesmo não estão à venda em feiras de antiguidades, e tenho que me perguntar quanto valeria eu se um dia me pusesse a mim mesmo à venda como raridade nessas feiras. Nada. Não valeria nada porque somos muitos os idosos e temos o defeito de sermos contemplativos, de analisar o passado, avaliar o presente e tentar mudar e adivinhar o futuro.

A raridade é o segredo da valorização.



© Rui Rodrigues 

Três histórias do quotidiano

OS NEO-Escravos do século XX e XXI

Meu pai chegou a ter sete lojas em sociedade com meus tios: O Adolfo e o Miguel. Abria sempre outra loja para ver se conseguia cobrir o déficit das outras. Não era deficiência nas vendas. Todas vendiam bem. O problema eram os impostos e os fiscais. Se não houvesse um "probleminha" eles inventavam e logicamente os altos impostos. Os impostos sempre foram altos. Muito altos. Estão agora altíssimos... 

Meu pai me dizia: Este país está precisando de uma revolução para acabar com estes cafajestes que nos cobram uma barbaridade de impostos e estes fiscais que só passam para ganhar alguma coisa por fora.. Há fiscais muito ricos e nem por isso aumentam a recolha de impostos. Nós estamos corretos e mandamo-los falar com o nosso contador... 

E veio a revolução que meu pai e meus tios não pediram, mas que no fundo até eu desejava, e era eu um simples estudante que sonhava entre ser médico e engenheiro. 

Veio a revolução, veio a democracia, veio a roubalheira do Collor do Lula e da Dilma, e nada foi mudado... Roubaram poupanças (Collor) , fizeram planos um atrás do outro com perdas para todos os cidadãos (Delfim Nóbrega, Funaro, FHC, Ciro Gomes, Malan, Ricupero, Palocci, Mantega) e continuamos na mesma - me desculpem o palavrão - na mesma MERDA!!!!!!

- Se não é fiscal é o governo - dizia ele - e se não é o governo são os OUTROS políticos ladrões e esta MERDA não muda nunca...

Se precisarem de mim para ser o novo TIRADENTES e ser esquartejado, meus membros espalhados por este reino governado pelo PT, contem comigo. Se é para o bem da nação digam ao povo que FICO!!!!

RR


Sociedade dividida!
Vê-se pelas postagens. Quem desejar tomar o poder e transformar o Brasil numa ditadura de esquerda, deve estar exultante. As forças armadas estão aparentemente neutras, as forças policiais evidentemente defendem o poder instituído e não a Constituição. Como a Constituição já foi tão alterada, se ela fosse defendida pelas forças armadas, já teríamos tido uma intervenção há muito tempo. Ela é alterada todos os dias.

Uns têm fé no futuro mas vemos que a fé ainda não conseguiu os seus objetivos, outros buscam amor e compreensão como se pudessem ser encontrados a um toque de mágica sem a convivência necessária para se passar da fé à certeza, outros dão conselhos como se fossem o supra-sumo da excelência humana, outros ainda desfilam vaidades por muitos motivos. Uns ainda gritam e esperneiam por ideias e fundam grupos e se unem a grupos, todos pequenos, impondo regras que afastam quem neles pretendiam entrar, no fundo autoritários, prováveis ditadores, mas com grupos tão diminutos, não passarão do "orgulhosamente sós".

Há quem vá para as ruas com violência, ou a exerça de certa forma pelas redes sociais, mas são ainda poucos. Alguns vendem produtos, outros querem comprar.

É uma sociedade preocupada, sim, inteligente sim, digna sim, mas completamente perdida enquanto à previsão do tempo de amanhã, das ações do hoje, da história de ontem que contada em tinta azul sobre papel branco manualmente, ou em tinta preta sobre papel branco nos alfarrábios, se escreve hoje com tinha vermelha contada por dirigentes que escrevem endinheirados o futuro do Brasil...

A maioria reclama, reclama, reclama, esperando sempre que alguém faça alguma coisa, e não percebem que é preciso unir-se a quem faz alguma coisa que não seja apenas o mero reclamar.

Olhos atentos são poucos. Olhos que se aproveitam são bastantes. Olhos que nada enxergam são mais que uma centena de milhão. Que futuro esperam?

RR

Os professores e o PT

Fiz parte de alguns grupos que abandonei. De três grupos fui "expulso", ligados à esquerda, porque não se interessaram em visualizar que não sou nem de esquerda nem de direita nem de centro, até porque não reconheço mais nenhuma democracia que não seja a verdadeira, a PARTICIPATIVA.

Um desses grupos de que me afastei, foi o grupo professores. Vi que a maioria é do PT, e defendem o PT embora o governo, que é EXATAMENTE do PT não lhes melhore os salários. Até os ministros relacionados com a educação e a cultura são do PT...

Como entender que professores não entendam que defendem um partido que está no governo e não se interessa ABSOLUTAMENTE nada por eles? 

Dirão: mas no rio, onde o "pau está comendo" o governo não é do PT... 
Mas é aliado, a presidente abraça o governador, e seja como for, aumento de salário de professores pode ser aumentado até por decreto como faz o PT sempre que lhes interessa. 

Mas sinceramente, com tanta dispersão de inteligência, com tanta falta de foco, só continuo defendendo a Democracia Participativa - e o farei até a derradeira hora de minha vida - pelo futuro. 

Pelo presente, já me convenci que não vale a pena... 

RR

http://conscienciademocrata.no.comunidades.net/

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Minha admiração pela “Ladeira abaixo 10”

Minha admiração pela “Ladeira abaixo 10”

 Bandeira da Inglaterra
Fui criado por uma década e meia num país sob influência de três outros: Portugal sob influência do reino Unido, da França e da Alemanha. Ah! Aprendi muita coisa que não posso nem quero desprezar. Depois fui conhecê-los pessoalmente, mas já tinha a experiência do convívio com americanos, austríacos, alemães, japoneses, brasileiros, colombianos, holandeses, gentes de todos os continentes. Bebi os ambientes sob a luz da minha experiência pessoal, mas, sobretudo, pela da história destes países. Não escondo minha simpatia preferencial pela Inglaterra. Porque ela foi a mais colonialista de todas as potências mundiais? Claro que não, mas reconheço que cada momento da humanidade valida e explora o que é válido. O colonialismo era válido, e a Inglaterra o utilizou, mas se fossemos analisar esta forma de exploração da humanidade, teríamos que perguntarmo-nos que sentimentos levaram a França, a Holanda, Portugal, a Alemanha, a Itália, a Bélgica, a colonizar onde puderam e como entendiam. Ninguém se pode rir de ninguém, chorar mais do que ninguém. Com o advento de novos conceitos de humanidade, o colonialismo acabou, isto é, modificou-se. Agora se exploram pessoas, países, sem a necessidade de ocupá-los, através de redes comerciais que se sobrepõem á política. Mas lá vem a minha admiração pela Inglaterra: É o único país ex-colonialista que mantém suas ex-colônias em torno de si com bases sólidas através de língua e costumes comuns, além de um certo charme de pertencerem a um aglomerado que tem uma rainha e em breve terá um rei, cheios de tradições, e que a indústria cinematográfica ajudou com filmes de espiões, de 007, e conjuntos como os “The Beatles” que lhe deram fama. Sem falar no elegante chá das cinco da tarde. A Torre de Londres, as cabines telefônicas, o Big-Ben, a guarda da rainha e o rio Tamisa dão-lhe o toque visual imprescindível. A fleuma britânica é famosa, o Whisky uma lenda. Mas é só por isto que a Inglaterra me é mais simpática? Claro que não. Afinal, Portugal tem uma aliança de mais de 800 anos com ela, e na independência do Brasil, quem foi contratada para defender o Brasil? A Inglaterra! Afinal fora ela mesma que ajudara D. João VI em sua fuga estratégica para o Brasil onde manteve unidos os Reinos de Portugal, Algarves e Brasil. Tudo interligado e unido por laços históricos. Mas só por isto ou por algo mais?
 Down Street 10
God Save the QueenPela sua política interna e externa. Veja-se que nem faz parte do Euro porque tem visão de macro-economia e sabe que no dia em que entrar, se entrar, será de forma segura, sem comprometer seus cidadãos nem sua monarquia. A monarquia inglesa é extraordinária, comedida, ilustrada, longe, muito longe de por exemplo a monarquia do rei de Espanha que chega a ser ridícula por suas intervenções no cenário internacional, suas caçadas a animais selvagens em África, sua falta de brilho e aparentemente de inteligência. Na minha opinião, a haver rei em Espanha melhor seria se fosse a esposa dele. É esse comedimento, essa sensibilidade para a coisa pública e para o cenário internacional, que me leva a admirar a Inglaterra. E é com certo humor que entendo onde fica a sede do governo britânico, a do primeiro ministro: Down Street 10, o que traduzido para o bom português significa “ladeira abaixo 10”. Ou seja, o primeiro ministro tem que entrar e sair de sua residência com a leve sensação de que seu posto depende da vontade popular traduzida pela Câmara dos Lordes e da Câmara dos Comuns, e que sua tendência é “descer” a ladeira do governo se não se comportar adequadamente. De notar que a sede do Governo é em plena Londres, convivendo com a população, e não é raro que os políticos atravessem a cidade usando transportes públicos, dirigindo táxis, andando pelas ruas amiúde, para saberem da população, pessoalmente “como vão as coisas”. O que é muito diferente de um Planalto, por exemplo, onde as leis protegem políticos que, mesmo roubando descaradamente, são mantidos no posto. Ora isso, não é nem nunca foi uma democracia, é uma perpetuação de políticos, nada muda, “o povo que se dane porque o presidente é comandante”. Governos do planalto não caem, e se um presidente cai, o resto fica por lá para o reconduzir ao poder mais tarde quando a população tiver esquecido os escândalos em que se meteu. Ora isto também nem sério é. É um joguinho de poder onde o comandante sempre ganha e o povo sempre perde. Até a votação é obrigatória, mas só de quatro em quatro anos e pretendem estender isso a muito mais, que se pudessem seriam eternos no poder. Embora não seja uma democracia perfeita[1], a democracia britânica é das melhores deste planeta.
               
Winston Churchill                                    Pela Down Street 10 [2]passou muita gente que ficou famosa. Uns ficaram e foram reeleitos, outros ficaram por pouco tempo, mas sempre mantendo a Commonwealth [3], constituída por 53 países, na qual até uma ex-colonia portuguesa foi admitida: Moçambique. Passaram por lá Churchill, Thatcher, e muitos outros. Agora é a casa de David Cameron. A história da Down Street 10, não é apenas a história do edifício em si, mas é a história da Porta da frente e do Hall, da Sala do Gabinete, das escadarias, da Sala de Estar, da Sala de Jantar, da grande cozinha, da pequena sala do café da manhã, do Terraço e do jardim, mas principalmente da vida atribulada de seus habitantes mais famosos, preocupados com o bem estar de seu povo, envolvidos até o pescoço em difíceis cenários de guerra. Queiram ou não, Portugal lhes deve muito pela amizade e pela ajuda em momentos críticos como nas guerras peninsulares contra Napoleão, o francês careca, barrigudo, baixinho, que andou amedrontando meia Europa e acabou preso por duas vezes, encarcerado em duas ilhas, uma delas doada por Portugal á Inglaterra como dote de casamento. A França de Napoleão e a Alemanha do Keizer Guilherme e de Hitler, deixam minhas barbas brancas de molho. 

Governar na Inglaterra é coisa muito séria. Governos podem rolar ladeira abaixo a partir do número 10...   

God save the Queen,
Kisses Elisabeth!
Stay alive!

© Rui Rodrigues



[1] Democracia perfeita é quando o povo vota em tudo sempre que desejar, diariamente se lhe for interessante ou possível. Ver em http://conscienciademocrata.no.comunidades.net/.