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terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Inversão de valores, ou simplesmente mudança comportamental influenciada?

Que a globalização deu ao mundo uma outra orientação, é indubitável. Mas nem todas as transformações aplacadas foram salutares, ao menos sob minha ponderação.

A propensão da globalização corrobora terminantemente originando atos comuns particularmente entre os mais jovens, e as vezes nos nem tão jovens assim, mas, moderninhos. Estes últimos num ato penoso, não alcançam a autenticidade, mesmo após afadigar-se por descobrir, ir na onda como dizem os genuínos moderninhos.
Dimanando desta variação de atitude, não autêntica, por vezes os colocam numa conjuntura maljeitosa.

Este não é o caso, pois a personagem que virá a seguir é uma autêntica jovem, e não se colocou em nenhuma situação embaraçosa, eu a tomarei como um simples exemplo para justificar talvez o título da postagem. 

Pois bem, hoje recebi um conselho de uma jovem, destas jovens antenadas que participam dos fóruns na internet postando, comentando e dominando os mais diversos assuntos.

Comentando a mesma postagem de minha autoria pela segunda vez, essa jovem me fez um alerta para a desnecessidade do meu agradecimento a cada comentário feito. Transcrevo aqui na íntegra o comentário feito por ela:

“Dagmar, me desculpe o conselho, mas você não devia agradecer ninguém por comentar. A gente comentou porque se interessou pelo tema, é a lógica do Portal... Abs”.

E, antes que eu respondesse o comentário da jovem, uma outra participante deste mesmo fórum, com um diferencial por tratar-se de uma jovem senhora, escreveu como resposta ao comentário daquela o seguinte:

“.....eu acho que o Dagmar está certo. É questão de delicadeza com quem comenta no post que a gente coloca …. È tão bom ver comentários nos posts que se coloca, como acho que a pessoa que faz o comentário também gosta de se ver reconhecida....É o que penso.”.

Depois de ler os dois comentários, primeiro o da jovem e na sequencia o da jovem senhora, e responder a ambas (agradecendo ainda que desnecessariamente) comecei a refletir: Estaria eu ali presenciando que tipo de desencontro? Para logo na sequencia me vir na memória alguns fatos corriqueiros do nosso dia a dia.

Como se tornou comum vizinhos coabitarem o mesmo condomínio por décadas, e inexplicavelmente não conseguirem nutrir uma simples amizade, ou, ao menos terem a gentileza de desejar um simples bom dia mutuamente.

Gestos simples como segurar a porta do elevador são evitados, muitas das vezes fingi-se não ver o outro para não correr o “risco” de dividir aquele espaço confinado com um “estranho”, no caso o “estranho” pode ser um vizinho de longa data, mas sabe-se lá, melhor evitar, vai que falta energia elétrica e você ficará obrigado a ficar ali enclausurado com um “estranho”. Nunca se sabe, na dúvida é bom evitar, como diziam os não jovens é melhor prevenir.

Fiz uma experiencia, sem embasamento cientifico, (pois não teria capacidade para isso) por pura curiosidade.

Acordei com o propósito de cumprimentar “quase” todos aqueles que estivesse ao alcance dos meus olhos, primeiro para praticar o hábito da boa educação, e depois para analisar a reação dos que eu me dirigia.

Logo cedo no caminho até a padaria, passei por uma senhora, esta foi a minha primeira “vítima”, ao cumprimentá-la com um cuidadoso bom dia, digo cuidadoso pois, do jeito que as coisas estão ultimamente, não se sabe qual seria a reação, mas, não para minha surpresa, mas satisfação recebi um largo sorriso amarelo e, com uma voz baixa e gentil a retribuição de um bom dia, seguido de um: Como você está? Foi impossível ignorá-la mantendo o rítimo dos passos, acabei acompanhando-a até à padaria.

Sempre mantendo o propósito da minha pouco comum caminhada matinal até a padaria. Passei a dividir minha atenção entre a senhora, e os cumprimentos aos transeuntes. Consegui com isso despertar sua admiração, num dos seus comentários elogiou minha atitude, dizendo ser raro ver pessoas comportando-se assim ultimamente, fato que era comum até alguns anos atrás (mau educadamente eu não revelei para ela que tudo aquilo tinha um propósito).

Observei as mais variadas reações. Houve aqueles que respondiam prontamente e sorrindo, alguns respondiam assustados, outros respondiam com as palavras entre os dentes, muito possivelmente pensando “quem será esse cara? Ele deve ter me confundido com alguém!”. Houve casos de algumas crianças que caminhando para o colégio acompanhados por suas mães, e ao verem suas mães respondendo ao meu cumprimento não conseguiam segurar o riso, outras ficavam sérias e seguiam seus trajetos, mesmo sem dizer nada continuavam voltadas para trás me fitando-me, sabe-se lá o que passava naquelas cabecinhas.
Os cumprimentos da moça da padaria foi normal, aliás existem também este tipo de cumprimento, aquele obrigatório com o único objetivo de agradar o freguês, este é norma da casa.

Mais tarde, após ler o jornal e dar uma olhadela nas publicações e comentários feitos durante a madrugada nos grupos Documento Ditadura e no Consciência Política Razão Social no facebook, (mais tarde voltarei a olhar os demais grupos e os blog que administro e alguns que sigo) voltei à minha “pesquisa”. Á esta altura já eram outros os transeuntes, agora muitos jovens e alguns adultos.

Agora sim pude presenciar a reação dos autênticos jovens influenciados pela “modernidade” da globalização.

Mas mesmo entre estes não existe unanimidade, pois foram variadas as reações, do tipo: E aí “véi” beleza?, Bom dia como vai o senhor?, Olha o comédia rsrsrsr, e por aí vai.
Mas, um detalhe em especial me chamou a atenção, os jovens tendem a serem menos receptivos, chegando algumas vezes a partir para o deboche, e infelizmente até para a ofensa verbal, quando estão em grupo, ou duplas. Quando sós, tendem a ser educados, mostrando que determinado comportamento não é natural, mas provocado pelas circunstancias. Neste caso a preocupação deles está em, o que o meu amigo pensará caso eu seja educado? Certamente não se encaixará no perfil desta nova geração, onde ser educado pode ser confundido homofóbicamente.
Dag Vulpi

A fome no mundo e os terrenos baldios



Nas fronteiras das cidades o que mais se vê são terrenos baldios, a maior parte deles comprados na esperança de que o crescimento das cidades se desenvolva naquela direção. Ficam ali parados, inertes, esperando valorização por anos. São vendidos quando os donos precisam de dinheiro. Boa parte deles é de terras férteis, de antigas fazendas e granjas que proliferavam às margens da cidade, terras de cultura.  Loteados, a maior parte deles é de 360 m2. Nas cercanias, vive gente de baixos ou nenhuns recursos que precisam comprar alimentos para comer. Porque não se usam essas propriedades como horta urbana enquanto esperam para serem vendidas?

Não se usam por um conceito ainda não explorado, em sua essência, do que é a propriedade e o seu uso. É conceito legal de que o proprietário, enquanto o for, determina o seu uso como bem inviolável. Muitos desses terrenos, herdados, têm ficado no esquecimento do uso potencial por séculos. Alguns proprietários mandam limpar o terreno do mato que cresce, outros nem isso fazem. Uma lei, que se conhece como “uso capião”, determina que se reverta a propriedade aqueles que a usam por pelo menos cinco anos, dado o desinteresse do dono em reclamá-la perante a lei.  

Mas onde cresce o mato, podem crescer tomates, cebolas, pepinos, abacaxis, batatas, milho, mandioca, salsa, alfaces, feijão, abóboras, melões... Esses terrenos podem ser utilizados por aqueles que estejam dispostos a uma produção agrícola de subsistência sem que os donos do terreno percam a sua posse.

Basta apenas uma lei, adulta e inteligente, que permita o uso destes terrenos, de forma temporária, por quem necessite plantar para comer, longe de arrendamentos ou comodatos. Agricultura não deteriora o solo para uso em construção civil. Terrenos maiores do que 360 m2 podem ser “loteados” provisoriamente por diversas famílias das cercanias, interessadas em plantar, sem que os donos legais percam o direito de propriedade. Podem vendê-la a qualquer instante sem que seja “depreciada” pelo uso provisório.

O uso racional e social da terra não atenta contra a irracionalidade do capitalismo da propriedade.

Rui Rodrigues

sábado, 10 de dezembro de 2011

Temos que salvar tudo





Quando ainda garoto, ouvi uma história que se gravou em minha memória. Não lembro se a ouvi de meu tio – que me contava algumas histórias de vez em quando – ou se foi pelo rádio, num programa de Maria Patacho, em que as histórias eram contadas pelos próprios personagens e com sonoplastia. Este era um grande programa para crianças. Foi tão bom ser criança que ainda continuo sendo um pouco dessa coisa que não se deve desperdiçar, e que deve ser salva, também, pela humanidade. Uma das histórias que me contou meu tio, ou ouvi, falava de um pai que, tendo sido mordido por um cachorro raivoso, pediu á filha ou ao filho, que o amarrasse bem a uma pilastra para que não atentasse contra a vida de seus filhos se por acaso ficasse doente de raiva. Essa história me marcou: alguém se precavia de sua própria violência para salvar alguma coisa. 

Infelizmente chegamos num dos primeiros grandes sintomas de que algo não corre bem no nosso planeta, limitado em tamanho. A Holanda conquistou terras ao mar e tornou-se maior. Não podemos fazer o mesmo com o nosso planeta. Por mais que possamos usar criteriosamente a superfície terrestre, um dia chegaremos infalivelmente ao limite de não caber mais nenhum ser vivo adicional, sob pena de colapso total, extinção. Sabemos também que não é necessário atingir tal limite para que a humanidade se destrua a si mesma. Antes mesmo de atingidos os limites, o stress será tal que as tensões levarão a guerras de aniquilação. Tais guerras serão de preservação de raças, de nações, mas não me admiraria se em vez de guerras raciais viessem a serem guerras de aglomerados financeiros. O capital invadiu as defesas dos conceitos de família e de Estado, e sem bandeira, moral ou religião, tomam conta do mundo.

Nesta primeira fase de degradação da humanidade, assistimos à extinção de espécies, não por efeitos naturais de clima, de vulcões criando invernos nucleares, meteoros ou cometas colidindo com a Terra, ou vírus destruindo a vida que conhecemos. A extinção das espécies se processa de forma acelerada pela invasão de terras virgens, santuários de vida selvagem, porque a humanidade não tem freio para a sua ambição. Infelizmente, ambição por dinheiro, por terras, pela riqueza que essas terras podem proporcionar, ou no caso de baleias, que continuam sendo mortas de forma premeditada, pelos lucros que a sua carne dá aos assassinos e aos receptadores dessas carnes que devoram por puro prazer inconseqüente. Matam-se gorilas porque alguns idiotas que acumulam este título com o de “reis” da ignorância teimam em crer que as mãos desses gorilas produzem uma potência sexual acima da média. Da mesma forma, outros idiotas acreditam que chifre de rinoceronte produz uma potência sexual que perderam ao longo dos anos, sem perceberem que a falta não é de potência sexual, mas de interesse pelo sexo. Outros idiotas ainda caçam javalis, elefantes, qualquer tipo de caça, porque preferem não proteger suas propriedades e investir em outras coisas, como por exemplo, em armas de caça ou em falsa fé por crença ignorante. Todos estes acham que a verdade, o governo a religião ou o planeta lhes pertencem exclusivamente, porque têm dinheiro para comprar alguma coisa e pouca inteligência para poder julgar do que é ou não justo.

Salvemos os botos, as tartarugas, os pandas, os cachorros e gatos vadios, as florestas, as fontes de água potável; salvemos as terras dos agrotóxicos, o ar da poluição dos aviões, das fumaças de fábricas, os solos da contaminação de materiais radioativos, de milhões de toneladas de merdas cagadas todos os dias pela humanidade; salvemos as plataformas marinhas da poluição dos poços de petróleo, dos esgotos que deságuam nos oceanos; salvemos as crianças que morrem nos hospitais, ou a caminho, porque não há recursos para salvá-las; salvemos as crianças porque não têm o que comer; salvemos as crianças porque não têm acesso á educação; salvemos os adolescentes porque não têm acesso ao trabalho justamente remunerado; salvemos as famílias porque sem educação básica, gastam onde os anúncios lhes dizem para gastar e não onde e como deveriam; salvemos a educação, a saúde, o saneamento básico, porque causam mortes disfarçadas de destino.

Mas salvemos tudo isto de quem? De quê?

O que molesta a nossa inteligência, e nos reduz a cacos de pedras, é que devemos salvar tudo isto de nós mesmos. Devemos salvar a humanidade empedernida de falsos conceitos, desviada por propagandas tendenciosas, de deficientes programas de governos, dos verdadeiros objetivos: Viver bem e feliz, de forma sustentável.

Mas se a própria humanidade não toma consciência de seus objetivos, então a natureza se encarregará de repor a ordem no mundo que desarrumamos e degradamos.

Rui Rodrigues 

terça-feira, 6 de dezembro de 2011




O enigma dos sete ministros
(baseado no célebre conto de Alu Baba e os 38 ladrões)

Era uma vez um Grande Reino que abrangia desde as selvas de muitos acres, passando pelas areias dos lençóis de água cercados de areias, por savanas cerradas, por planícies, montanhas e vales às pampas. Era um grande Reino, onde tudo era alegria. Antigamente era governado por um Califa- Alilula Bar Ba Abudo com seus ministros, mas nos últimos tempos, foi governado por uma amiga do Califa impossibilitado que ele ficou de governar por causa de uma rouquidão crônica. Esse Califa era muito honesto, tanto que quando lhe vieram contar que seu filho e uns amigos de adolescência se aproveitavam de descuidos nos cofres públicos – que assaltavam – foi logo dizendo que não segurava a barra de ninguém, numa clara demonstração de que não importam os laços familiares quando alguém urina fora do penico. Com a rouquidão, sua melhor amiga assumiu o poder por recomendação do próprio Califa –agora ex-califa- ao povo que o adorava. A missão dela seria seguir em frente, e se algo desse errado, ele seria re-eleito. Mas o governo do Califa tinha sido tão bom, que o povo, por pura fé, e sabendo que sua amiga estava no governo, a apoiaria incondicionalmente. Por isso, tudo o que acontecesse de errado no Reino seria atribuído à conjuntura internacional, a crises, aos inimigos políticos. Os fundamentos que regiam o Reino seriam preservados. Todos a temiam e era mesmo de Têmer, porque ela governava na base do Pêtêléco.

Mas Califas honestos, não obriga a que o bando também seja.

Eram então 38 os ministros do Reino. Sátrapas mais precisamente, porque tinham autonomia para muitas coisas, como se governassem reinos solidários. Para se ter uma idéia, esses ministros tinham à sua disposição um orçamento de cerca de 600 bilhões de Corruptelas (Corruptela é a moeda nacional do reino). Como o faturamento anual do Reino é de cerca de três trilhões, esses ministros tinham muito poder, porque lidavam com cerca de vinte por cento de todas as corruptelas disponíveis. Em seis meses de reinado, a amiga do Califa, deu sete Pêtêlécos. Sete ministros foram pro brejo por denúncias de apropriação e distribuição a rodo de bens públicos, mais precisamente, de corruptelas, a moeda forte do país. Havia indícios, mas ninguém reparava nos indícios. Um deles era a arrecadação de impostos, cada vez mais a cada trimestre, batendo records, mas os serviços públicos – a cargo dos ministérios – ficam cada vez mais deficientes. Para onde ia o dinheiro?  Ninguém se perguntava, ninguém sabia. Aceitavam o fato como chuva que cai no meio de um pic-nic, à providência, não divina, mas das “coisas”, da “conjuntura”, do “momento”, da “oposição”, jamais à generosidade ministerial em relação às verbas públicas. Mas nem havia oposição no governo nem nos ministérios, porque todos andavam á volta do mesmo: a distribuição das verbas públicas.

Nenhum jornal do Reino publicou algo em que se perguntasse se haveria um “chefe” por detrás dos ministros, como no velho conto do Ali Baba Preta e os 38 ladrões. É como se os ministros não fossem organizados e roubassem por conta própria. Era inadmissível para o povo crente e leigo, que houvesse alguém por detrás de tudo isso, arquitetando, fazendo estratégias... Já o povo mais laico e ileigo achava que tudo isso era uma grande armação para se apoderarem dos tesouros nacionais. Um roubava aqui, outro ali, todos aprovavam as contas de todos e quando uns saíssem do poder, e outros entrassem, todas as contas seriam também aprovadas. Também nenhum órgão da mídia média ou da mídia baixa, ou da mídia alta se preocupou com o fato dos órgãos Públicos nunca descobrirem nada: Quem descobria tudo eram jornalistas que nem fizeram curso para detetives, nem cursos de polícia, nem cursos de advocacia, nem eram juízes estaduais ou federais... Estranho, mesmo, era que os ministros fossem tão imbecis de se deixarem apanhar com a mão dentro do pote de açúcar – como criancinhas – ou melhor, dentro do pote do tesouro onde se guardavam as Corruptelas – a moeda nacional do Reino.  

O povo chorava as suas corruptelas perdidas, porque cada ministro que saía não ia preso, não pagava indenizações, não devolvia as corruptelas, supervalorizadas, Sempre que era necessário dar um jeitinho – uma das famas do Reino – emitiam e aprovavam uma Medida Provisória e numa noite de votações, lá se ia esfarrapando a constituição...

Era um grande mistério, o caso dos sete ministros, todos eles com culpa no cartório, saindo muito mal na fotografia. Um deles disse que só saía a tiro, e desprezando o fato da Califa ser já avó, passada da fase de deslumbramentos amorosos, pediu perdão declarando-lhe amor! – Disse que a amava... Mas o que o povo mais se perguntava era sobre a epidemia... Seriam apenas sete dos 38? Ou seriam mais, ou todos?

Houve até quem fosse apanhada recebendo dinheiro á sucapa, sem declarar seu recebimento e foi absolvida por aqueles outros que na mesma função dela a isentaram... Grupo? Quadrilha? Bando? ... Mas quem será o chefe?

Nos velhos tempos do Reino, quando Bancos passavam mal de finanças, deixava-se o banco – ou os bancos – falir, para que aprendessem. Um dos 38, que tomava conta da economia, resolveu doar as Corruptelas aos Bancos para ajudá-los a evitar uma crise... Mas não evitou, e os Bancos estão cada vez mais ricos... Todo dia diz que a crise que grassa e assola Outros Reinos do planeta, será suave, mas o crescimento da economia neste ano, beira o zero... Mente muito esse ministro. Esse não deve ser o chefe do Bando, mas certamente deve ser o “caixa”...

O povo espera o desfecho final, porque vai cair mais um: Ali Pi Menta e Tal. Com oito ministros de 38, em seis meses, nos três anos que restam á Califa, não sobrará nenhum, e como não devolvem nem uma corruptelazinha sequer, os cofres ficarão vazios. Quando ouro Califa for eleito, aprovará assim mesmo as contas do Califado anterior e dirá que a culpa foi da Califa que acabou de sair e dos outros anteriores.

Há algo de podre no Califado das Corruptelas. Esperamos que a mídia resolva o mistério, porque nenhum ministério sabe o que está acontecendo...

Kadu Kastranjo

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Brincando com Deus ?





A noção da existência de uma entidade superior a qualquer coisa que se possa imaginar, poderosa, inigualável, responsável por tudo o que existe, está na origem das religiões. Muito mais do que isso, está no “íntimo” de todos nós, ou em sua maioria. Crer na existência de um Deus, não é uma invenção da humanidade. É um conceito intrínseco, baseado numa premissa muito simples: Se algo, como o Universo, existe, é porque algo ou alguém o fez, e não por acaso, porque é muita a perfeição, e as probabilidades de algo tão perfeito são mínimas, muito mais que nulas, abraçando  o impossível.

Por ignorarmos toda a potencialidade de Deus, imaginamo-lo de acordo com os conhecimentos que temos no momento. Na melhor das intenções, já “imaginamos” Deus como estátuas de granito ou mármore, aos quais demos nomes pomposos como Hermes, Afrodite, Zeus, Marte, Osíris, Horus, animais, entre eles o boi Apis. O Sol, estrela que nos ilumina, já foi considerado como um deus, quando ainda não se sabia que era uma estrela, nem que estrelas, planetas, galáxias, buracos negros existiame faziam parte de um Universo matemático, físico, químico, regido por leis que podem ser decifradas. Com o desenvolvimento da ciência, a noção de Deus foi ficando cada vez mais clara, mais definida. Deus é muito mais poderoso do que se imaginava. Mas a maioria de nós ainda não pode entender a sua genialidade, a sua grandeza, o seu poder. A nossa maioria é ignorante, nunca freqüentou uma universidade, e em toda a diversidade das universidades, a maioria não cursou as matérias com as quais Deus construiu os seus Universos, os universos do seu Reino. Deus não tem reinos. Tem apenas um Reino, constituído de um numero infinito de universos, porque tudo fez, e só a Ele pertence.

Não se pode crer numa fé em alguma coisa, inclusivamente em Deus, sem conhecimento. Fé por fé, podemos acreditar em qualquer coisa porque somos ignorantes. Temos que admitir nossa ignorância. Quando nos incentivam a ter fé em algum Deus ou profeta, precisamos ter a humildade de admitir que somos ignorantes em maior ou menor grau, e isso fica muito claro quando começamos a questionarmo-nos sobre o que é mais provável que “deus “ possa ser, desejar, querer. Deus não pode ficar eternamente desejando, nem por um milésimo de ínfimo segundo: Deus faz!


Por exemplo, podemos perguntar-nos porque razão não fala Deus conosco e precisa de intermediários, os sacerdotes, para que nos digam o que “deus” quer, deseja, exige. Como Deus, poderia facilmente portar um enorme megafone e dizer-nos, geração por geração, para que todos ouvíssemos o que quer, deseja, exige. Mas não o fez e não o faz, certamente jamais o fará. Alegam os sacerdotes que é necessário ter “inspiração divina” para ouvi-lo ou entende-lo, mas essa inspiração é duvidosa, porque esses mesmos sacerdotes levantaram nações inteiras em guerras religiosas, perseguiram, mataram, chamando de infiéis àqueles que tivessem outra religião diferente ou que mesmo não tivessem alguma religião. Sabemos que Deus não pode desejar uma coisa dessas. Seria o mesmo que admitir a existência de vários deuses, cada um para uma nação, cada um para uma religião, e que tais deuses estivessem brigando por poder entre si, usando como instrumentos a fraca e débil humanidade que Ele mesmo criara, tal como pai devasso promovendo a briga entre irmãos. Esses deuses não podem ser “Deus”, porque são confusos, pecam pela falta de atributos morais que permitam a definição de “deus”. São vingativos, belicosos, tomariam partido, seriam segregacionistas. Deus não pode ser uma coisa dessas!

Porque Deus não aparece então, para dizer o que quer, deseja ou exige?

Porque simplesmente não tem necessidade disso, e fez um Reino que se rege a si mesmo. O que Deus fez, não foi o homem, e muito menos de barro, nem a mulher a partir de uma costela do primeiro homem. O que Deus fez foi o tudo, que inclui o que conhecemos até agora, e o que ainda desconhecemos porque nossa ignorância ainda não foi consumida pela luz do conhecimento. Podemos chamar esse “tudo” de natureza, de Universos, de mundo. A natureza dos universos, e deste, e muito em particular, a natureza que existe neste planeta a que chamamos erroneamente de Terra. Deveria ser chamada de Água, Nitrogênio, ou de Carbono. O que Deus criou foi o tudo, a natureza, fruto das leis de formação de universos que imprimiu ao iniciar, num infinito tempo passado, a existência. As leis de Deus regem tudo. Não as leis impressas nos livros e que lemos nos templos, mas essas mesmas leis de formação dos universos, a Sua Obra. Tudo nos universos se rege por Suas Leis, independentemente de sermos nós, seres humanos, a espécie predominante neste planeta. Os dinossauros já predominaram no passado. Em outros planetas, outras espécies  regem, neste instante, o futuro da sua vida e do meio que as cercam. O crescimento populacional com o dom da inteligência, obriga à colonização de outros planetas, para povoar o universo, ou ao controle da natalidade para que a espécie não pereça no pó da história, porque o espaço dos planetas é limitado.

Deus fez universos que se regem a si mesmos, segundo as suas leis. Fez a vida que se adapta ao meio e evolui. Deus não tem nação preferida, espécie preferida, galáxia preferida, universo preferido. Tudo é Obra Sua. Muito menos tem religião preferida, Todas das antigas religiões já desapareceram, e as que existem ou evoluem ou se extinguem também. O que os Universos têm de sobra, é tempo, que a nós, seres humanos, nos falta em abundância. E não é infundadamente que tudo o que é vivo morre: sem a morte, todos os planetas habitáveis já estariam super povoados. Teriam a sua habitabilidade nos limites da aniquilação total.

Em termos de espécie, não podemos pensar em nós mesmos. Temos que pensar definitivamente em termos de humanidade, assegurando o futuro de filhos, netos, bisnetos, ou simplesmente assegurar, garantir que a espécie humana não se extinga por ação de algum louco ou por falta de objetivos ou ações em garantir que não pereçamos por algum meteoro que venha na direção de nosso querido planeta, ou de catástrofe natural por que não cuidamos do ambiente em que vivemos. Um ambiente limitado ao volume de nosso planta, incluindo a atmosfera, a estratosfera, o sistema solar e a própria galáxia.

Desde que nos transmitiram a noção de Deus, que alguns de nós brincam com seu nome, com as suas características e todos esses, sem exceção, usufruem de dádivas, óbolos, esmolas, doações, contribuições, benefícios e favores que lhes são oferecidos em nome de Deus. Seja deus o que quer que entendam como deus, mas certamente não Deus tal como realmente è, porque somos ainda ignorantes da totalidade de Deus.

O que importa para a humanidade é a convivência entre todos os seres, de modo a que todos os recursos sejam preservados e usados para o seu benefício. Guerras, corrupção, antagonismos, apenas contribuem para o fim da humanidade ou para as desgraças que já conhecemos muito bem. Não podemos continuar a pensar que o que se passa fora do nosso “habitat” ou do nosso meio de influências, não nos diz respeito, porque não nos afeta o viver. Tudo é uma questão de tempo para nós ou para a nossa sociedade particular.


Rui Rodrigues

O Bule Voador de Bertrand Russell.

O Bule de Chá de Russell, eventualmente chamado de Bule Celestial, é uma analogia criada pelo filósofo Bertrand Russell (1872–1970) que tem por finalidade mostrar que a dificuldade de desmentir uma hipótese não torna esta verdadeira, e que não compete a quem duvida desmenti-la, mas quem acredita nela é que deve provar sua veracidade. Num artigo chamado "Existe um Deus?", Russell escreveu:
“Muitos indivíduos ortodoxos dão a entender que é papel dos céticos refutar os dogmas apresentados – em vez dos dogmáticos terem de prová-los. Essa ideia, obviamente, é um erro. De minha parte, poderia sugerir que entre a Terra e Marte há um pote de chá de porcelana girando em torno do Sol em uma órbita elíptica, e ninguém seria capaz de refutar minha asserção, tendo em vista que teria o cuidado de acrescentar que o pote de chá é pequeno demais para ser observado mesmo pelos nossos telescópios mais poderosos. Mas se afirmasse que, devido à minha asserção não poder ser refutada, seria uma presunção intolerável da razão humana duvidar dela, com razão pensariam que estou falando uma tolice. Entretanto, se a existência de tal pote de chá fosse afirmada em livros antigos, ensinada como a verdade sagrada todo domingo e instilada nas mentes das crianças na escola, a hesitação de crer em sua existência seria sinal de excentricidade e levaria o cético às atenções de um psiquiatra, numa época esclarecida, ou às atenções de um inquisidor, numa época passada”.

Via DAG VULPI
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Bule_de_ch%C3%A1_de_Russell

sábado, 3 de dezembro de 2011

Um homem na Vitrine



O ano tinha sido bom para Amália. Trabalhara todos os dias sem uma falta sequer, nem mesmo por TPM. Não tirara férias, pouco saíra para se divertir, absorta pelo trabalho. Quase todos os dias passava por uma casa que vendia artigos sexuais, porque ficava em seu caminho de ida e volta para o trabalho. Preferia andar a pé para movimentar os músculos, beneficiar a sua saúde corporal. Mas naquele dia algo lhe chamou a atenção: Havia um homem na vitrine. Ou era um homem perfeito, real, ou então a mais magnífica das imitações que já havia visto. Não se detivera a olhar da primeira vez, mas a partir desse dia, sempre perdia alguns segundos para admirar a obra. Num mundo educado, com instrução obrigatória e paga pelo Estado, não havia cidadão ignorante. Isso permitira que o nu pudesse ser exposto em praças públicas, em vitrines. O Homem estava completamente nu, sem qualquer pêlo pelo corpo, a não ser o dos cabelos. Tinha uma aparência de quarenta e cinco anos, um metro e setenta e cinco de altura. Um pênis de 18 cm.

Aos quarenta e sete anos ainda não tivera filhos, mas não tinha pressa. Mulheres podiam procriar até os sessenta anos, num mundo em que a expectativa de vida rondava em média os cento e dez anos. Sexo? Para isso, Amália tinha os mais modernos recursos da tecnologia moderna: prepúcios pequenos e grossos, pequenos e finos, grossos e grandes, grandes e finos, que podia introduzir em qualquer lugar obtendo o prazer de que necessitava. Nos finais de semana, usava os serviços sexuais do Alfredo. Alfredo é um sexineco, ou seja, como o próprio nome diz, um boneco usado exclusivamente para sexo. Não apenas para sexo, mas também para desfilar pelas ruas, mostrando a todas as outras mulheres como seu boneco sexual era avantajado, bonito, feliz. A indústria e a tecnologia haviam proporcionado ao reino feminino réplicas quase perfeitas de homens, com uma vantagem: Não reclamavam, não discutiam. Apenas serviam.

Lá atrás, séculos já passados, as mulheres em todo o mundo se haviam deparado com um grande problema: haviam ascendido ao poder, obtido a igualdade perante os homens, eram independentes. O que fazer com os homens, se toda a tecnologia sexual estava ao seu dispor? A própria pílula, que engordava, causava varizes e dependência diária, havia sido abolida. As mulheres já não precisavam dela. Nem da pílula do dia seguinte. Nem de pomadas e géis para impedir a fecundação ou preservar contra doenças. Noventa e cinco por cento do mundo feminino usava instrumentos sexuais para o prazer, sexinecos. Homens faziam o mesmo. Eram raros os contatos sexuais entre homem e mulher, reservados para procriação. Na fila dos Centros de Procriação Assistida, havia homens que pretendiam ter filhos de mulheres estranhas e interessantes, mas que pretendiam ficar com eles após o nascimento. Mulheres faziam o mesmo, mas a diferença na população era de cerca de 80% de mulheres para apenas 20% de homens. Isso em muito contribuía para o controle de natalidade. A população mundial continuava em regressão. O objetivo era baixar dos atuais 25 bilhões de seres humanos para cerca de cinco bilhões nos próximos duzentos anos.

Todas as vezes que passava pela vitrine, Amália olhava e olhava com toda a atenção para o homem da vitrine. Já lera muita literatura sobre o comportamento humano, e em particular sobre o relacionamento entre homens e mulheres. Tirando o sexo, conversas interessantes e passeios, o relacionamento com os homens era muito problemático. Sabia disso. Não estava disposta a dividir os seus momentos de lazer com um homem que a irritasse, que não fizesse o que ela desejava. Nesses momentos de conflito, homem era um completo estorvo para ela. E se ainda dependesse financeiramente dela, isso era o fim. Não queria passar por isso. Lembrava-se de algo que havia lido, sobre o calor humano e o calor do corpo humano. Calor humano ela tinha de suas companheiras de trabalho, de suas amigas, e até de alguns amigos gays, mas o calor físico, esse os sexinecos também tinham. Seus corpos eram preenchidos por canais cheios de água, aquecidos através de uma tomada elétrica. Os sexinecos tinham um capacitor interno, e um termostato. A temperatura do corpo dos sexinecos era sempre de 37 graus.
Relutava em entrar na loja para saber do preço e das condições do homem da vitrine. Outros tipos de mulher tinham os seus homens, mas as relações não duravam muito. A maior parte deles eram apenas doadores de esperma – obrigados pelo Estado, para manter níveis populacionais ou de relações entre quantidades de homens e mulheres- os outros, raros, cada um tinha a sua dona. Não queria arrepender-se um dia de tomar uma decisão tão importante como aquela. Sabia que havia um contrato para adquirir um homem. Normalmente ele deveria obedecer em tudo ao que ela determinasse, mas também tinha a sua liberdade de dizer o que desejasse. Jamais de fazer o que desejasse, mas podia reclamar á vontade desde que não ferisse qualquer susceptibilidade feminina. Aliás, a manutenção de níveis baixos de homens na população tinha apenas uma função única: impedir que os homens se revoltassem contra as mulheres. Em pequeno e ínfimo número, jamais poderiam justapor suas forças ás da imensa maioria feminina, cujos postos de comando das forças armadas eram pertença sua, cargos esses dados sempre pelo senado, onde noventa e cinco por cento dos membros eram mulheres.

Amália sentia-se segura, porque todo o sistema apoiava as mulheres, mas havia um código de ética e Amália não pretendia ser uma fora da lei por levar para casa um homem só para ter o prazer de ter um homem verdadeiro em casa, se um dia resolvesse ferir o contrato. Enchendo-se de coragem, um dia não resistiu. Entrou na loja e obteve informações. O homem tinha sua própria fonte de renda. Era carente: dependia da atenção feminina. Era alérgico aos produtos usados na confecção das sexinecas. Não se continha no prazer e quando aquela onda de prazer mal se desenhava ainda, ejaculava de repente, sem avisar. Havia tratamento para ejaculação precoce, mas ele não podia tratar-se, porque até o ser precoce fazia parte de seu prazer particular. Em compensação, podia dar prazer a noite inteira para qualquer mulher que lhe despertasse o prazer, com todos os seus membros, incluindo a língua - que prazeirosamente considerava como membro sexual alternativo. 


Passaram-se ainda muitos dias até que Amália resolvesse voltar à loja para assinar o contrato de relacionamento com o homem da vitrine. Encheu-se de coragem e caminhou a pé até a loja. Resolveu dar uma última olhada no homem. Quando chegou, viu consternada que o objeto de seu desejo já não estava lá. Entrou apressada, angustiada na loja e dirigiu-se á vendedora: 


- Havia um homem na vitrine! – balbuciou – Assinaram o contrato dele?

Com um olhar totalmente alheado, a vendedora disse em voz ausente de qualquer inflexão:


- Passou por aqui, ontem, uma senhora com os seus oitenta anos de idade. Leu o contrato e viu que o homem era encanador, carpinteiro, soldador, bom cozinheiro, e que fizera curso de relações humanas. Decidiu levá-lo porque mora numa casa muito grande que necessita de muita manutenção. Foi amor á primeira vista!

Rui Rodrigues

domingo, 27 de novembro de 2011

Os loucos

Os loucos!!


Só os loucos notam as flores,
Os normais não têm tempo.
Só os loucos vêem o por-do-sol,
Só os loucos se apaixonam pela lua, 
Só os loucos não se preocupam em enriquecer.
Os normais não tem amigos, e sim parceiros,
Os normais não têm prazer, têm disputa,
Os normais não buscam chegar junto,
Buscam vencer sempre.
Os normais não dividem,
Fazem caridade.
Os normais morrem ricos de dinheiro,
Mas pobres de perfumes do verde,
Cheios de pessoas à sua volta,
Mas com lágrimas inúteis, falsas.
Os loucos levam consigo, as cores, as flores,
As imagens, os sons, os perfumes.
Os normais vivem hoje, ganhando para amanhã.
Os loucos sabem que amanhã as flores serão outras, 
Que o pôr-do-sol será diferente, 
Os loucos sabem que cada minuto pode ser eterno,
E isso lhes basta.
Acho que sou louco!

domingo, 20 de novembro de 2011

Noite!!

Noite!
A noite é quente, nenhum ruído.
As músicas são antigas, das que gosto.
Dá saudade, dá vontade de viver de novo.
Dá vontade de dançar coladinho com ela
Dá vontade de beber um whisky com gelo,
Quatro pedras, num copo raso e largo,
De fundo grosso, pesado.
Dá vontade de andar sem rumo na noite,
Dá vontade de ter alguém agora.
Dá vontade de estar longe, num quarto enfeitado,
Num quarto de motel, banheira, som
As mesmas músicas, o mesmo whisky
O dançar colado, de olhos fechados,
A música que mata com suavidade,
Dá vontade de tirar a roupa dela, beijá-la.
Molhar-lhe os cabelos, na água quente da banheira.
Mais um whisky, mais gelo, mais músicas,
Outra vez promessas, outra vez crer,
Ouvir, crer, prometer, beijar, dançar, amar.
Pena ser impossível voltar, dizer de novo.
Traria de volta os bons momentos, os risos.
Traria de volta as promessas, os sentimentos,
Os perfumes, as músicas, os bailes, as noites de cheiros,
De abraços, de beijos, de orgasmos.
Traria de volta mentiras, das quais me livrei.
Das quais a vida me tirou, me salvou.
A solidão de uma noite me torna confuso,
Muito confuso, com a música a me confundir mais,
Sem o whisky pra me fazer dormir.
Confuso, muito confuso!!

Um imenso abraço, Paulo César Pacheco, 12/12/09!


quinta-feira, 17 de novembro de 2011

O nariz de maomé



Perfumes se fazem com extratos (óleos), água, álcool e fixadores. A palavra perfume vem do latim Pro Fumum, que significa “através da fumaça”. É interessante nos fixarmos no significado de “através da fumaça”.
O hábito do perfume vem do Oriente Médio, mais precisamente, do antigo Egito, há cerca de 4.000 anos, quando foi inventado. Nessa época, usavam-se ungüentos, ou seja, óleos de plantas, mas certamente os primeiros perfumes eram provenientes da queima do incenso, do benjoim, do galbano triturados e aglutinados com a mirra e o azeite de oliva. Esta mistura era queimada e seu fumo (Fumum) era naturalmente perfumado. Incrustava-se nas roupas. Quando se ia aos templos, onde se queimava esta mistura, associava-se o cheiro gostoso aos deuses, a alma e o corpo pareciam limpos. Certamente era muito agradável.

Por aquela época, como ainda hoje nas terras quentes durante o dia e frias durante as noites do Oriente Médio e Norte de África, os povos sempre usaram túnicas compridas – também chamadas de caftan, djellabia, dishdasha ou gallibia, em árabe - para reter a umidade do corpo e proteger dos raios solares. Vasos com misturas similares á acima descrita, eram postos para queimar. Quem desejava perfumar-se, colocava o vaso com a mistura queimando, e de pé, deixava que o fumo da queima lhe impregnasse a roupa, a pele. Era o perfume ou o Pro Fumum, através da fumaça, do fumo. Do oriente médio, atravessando o mediterrâneo, ou em lombos de camelos em caravana, o perfume chegou à Europa.

Todo o bom perfume deve ter equilíbrio. Não pode ser extremamente “ácido”, ou muito “doce”, e ao ser usado, não pode pecar pelo exagero. Para termos uma ideia do significado do equilíbrio nos perfumes, podemos comparar com a nossa percepção da essência das coisas, de qualquer coisa, e do sentimento que nos provoca. O equilíbrio dos perfumes é o equilíbrio da vida, dos sentimentos, e somos as melhores testemunhas, porque costumamos punir o exagero ou a deficiência no sentir das coisas da vida.

Mas o que seria dos perfumes sem não sentíssemos o cheiro?

Pessoas capazes de sentir grande número de aromas, contratadas pela indústria de perfumes, são capazes de reconhecer 2.000 aromas diferentes (uma pessoa comum reconhece apenas 12), Por isso não admira que pouco mais de 300 pessoas no mundo tenham essa capacidade.

É através de nosso nariz que sentimos os cheiros. Em 2004 o prêmio Nobel de medicina foi atribuído a Linda Buck e Richard Axel por terem explicado como o olfato funciona. Descobriram que os cílios de cada neurônio olfativo (temos cerca de 10.000.000 deles atrás de nossas fossas nasais, e os cílios desses neurônios estão em contato direto com o ar que inspiramos pelo nariz), são recobertos por apenas um tipo de cerca de mil proteínas detectoras de moléculas odorantes. Podemos identificar mais de 10 mil odorantes porque o nosso olfato usa essas proteínas de maneira combinada e, assim, conseguimos perceber uma variedade enorme de cheiros.

Buck e Axel demonstraram como o sinal detectado no nariz é transmitido para o cérebro. Em primeiro lugar, os sinais são enviados ao bulbo olfativo. De lá, a informação pode seguir dois caminhos. Um deles é ser enviada para regiões do cérebro consideradas superiores, onde a percepção consciente do aroma é gerada, isto é, detectamos a molécula odorante do maracujá – por exemplo-  e pensamos imediatamente: “Isso é maracujá.” Mas outro caminho é quando a informação segue para estruturas cerebrais consideradas primitivas, que comandam nossas emoções e memórias olfativas – é mais ou menos quando um cheiro nos faz lembrar de um lugar ou de alguém.

Chegamos assim à essência sobre os olfatos e os perfumes: o depoimento de Maomé. O profeta e fundador do islamismo, Maomé, acreditava no poder dos perfumes e, segundo dizem, teria afirmado certa vez: "Três coisas são importantes para mim na Terra: mulheres, perfumes e orações.Tirando as Orações, Maomé tinha um gosto perfeitamente atualizado do mundo em que vivemos. Em ambiente que certamente seria perfumado, cercado de belo harém, não nos podemos admirar de que tivesse razão. Teria dito também: "O perfume é o alimento que nutre meus pensamentos."

Por vezes nosso cérebro se engana quando cheiramos severamente a essência de uma frase que, dita por outra pessoa, nos pareceria perfumada. Alguns de nós só sentimos 12 emoções, outros conseguem distinguir 20.000...

Rui Rodrigues

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Mas onde está a produtividade da crescente e emergente economia brasileira?

Mas onde está a produtividade da crescente e emergente economia brasileira?

È com ufanismo e um orgulho incomensurável que escuto nos jornais constantes notícias sobre a emergência da economia nacional. Escuta-se de vez em quando que países da Europa estariam contando com o apoio financeiro do Brasil para ajudá-los a sair de uma crise que os próprios governos provocaram...

Finalmente o país do futuro, é o País do presente!

Como engenheiro formado sem padrinho, que subiu um morro para pedir emprego como engenheiro e que foi admitido depois de dois dias inteiros de demonstração teórica de que não tinha passado colando dos outros, fui admitido e comecei uma carreira durante a qual tive oportunidade de usar tudo o que tinha aprendido na Universidade Federal Fluminense e muito mais. Principalmente economia.

Empresas que não têm uma boa produtividade não dão lucro... Também não dão lucro as empresas que não invistam em tecnologia, seja desenvolvendo-a, copiando-a ou comprando-a... Para dar lucro, uma empresa precisa de tecnologia atualizada, ter produtividade. Para darem lucro, as empresas precisam de muitas outras coisas, mas apenas estas duas são suficientes para explicar porque razão estou pasmado...

Empresas e governos (como nação) são a mesma coisa: O governo também tem que dar lucro, caso contrário, a nação vai à falência. Alguns empresários não avaliam bem isto, e muitos governantes não entendem nada disto, mas como os governantes governam e não entendem do que têm que governar, há sempre quem lhes faça o trabalho, chamados de “equipe técnica”, esta também sem muita responsabilidade, porque o dinheiro que gerenciam não é deles.

Parte do meu espanto é por constatar que nossa nação não tem centros significativos de desenvolvimento e pesquisa tecnológica. Pagamos royalties, diminuindo seriamente o nosso “lucro”, porque são despesas. Nossas indústrias, em sua grande parte, não são nossas. São de grandes acionistas e empresas estrangeiras que impõem certas exigências, como redução ou isenção de impostos, em troca de sua instalação no país. Na verdade, é quase uma troca simples: as empresas se instalam de forma quase grátis, pagam pouco imposto, têm o lucro delas garantido, e em troca dão empregos. Parte substancial dos lucros vai para o estrangeiro, outra parte é aplicada rendendo juros exorbitantes, coisa que o governo não faz com o dinheiro que colocamos na poupança. Nossa poupança rende pouco, porque os juros que nos deveriam pagar são dados ao capital estrangeiro que aplica no Brasil. Nossas poupanças são usadas quase grátis pelos Bancos para cobrar juros altíssimos por empréstimos a quem o pede. Uso indébito de capital. Deveria dar cadeia, porque emprestam o nosso dinheiro e não nos pagam o que deveriam.

Espanto-me também por ver que  nossa produtividade não se pode igualar á da Itália, Alemanha, EUA, Europa... O que nos aumenta os custos de produção e nos reduz os lucros como nação. Deveria faltar dinheiro nos cofres públicos... mas pelos vistos, e a julgar pelas declarações do ministro da economia, Sr. Mantega, o Brasil tem dinheiro saindo pelo ladrão, a ponto até de poder controlar a baixa ou a alta do dólar... E isto apesar dos desperdícios com a corrupção, como toda a nação já sabe...

Mas de onde vem tanto dinheiro, se temos baixa produtividade, muito dinheiro se desperdiça pela corrupção, e pagamos royalties sobre quase tudo o que produzimos?

Só há uma explicação: As sobras de caixa da contabilidade nacional vêm dos altíssimos impostos sobre os produtos, sobre a renda, e do lucro em se pagar baixos salários, dos baixos juros sobre as cadernetas de poupança, e da deficiência nos serviços públicos, barateando a administração.

Em outras palavras, há dinheiro em caixa, porque, apesar da péssima administração, os impostos, os baixos salários, a exploração do capital popular, garantem o caixa...

Em outras palavras, estamos sendo enganados, roubados, por falta de capacidade de administração do Estado.  

Culpar FHC, Lula, Dilma, Collor?

Não!

Sempre foi assim, para mais ou para menos, mas sempre foi assim...

A culpa é toda nossa! Não fazemos nada objetivamente para mudar. Apenas nos limitamos a reclamar, a protestar, injustiça por injustiça, mas são tantas as injustiças que levaríamos uma eternidade para protestar todas elas com eficiência de modo a resolver uma por uma, definitivamente...

Precisamos fazer algo mais... Exigir uma nova constituição aprovada item por item pela população e que não possa ser alterada sem votação popular.

Com uma nova constituição, desta forma, não teremos o que reclamar. O governo terá de agir segundo a vontade dos cidadãos.

Rui Rodrigues

A Moça!

A moça!

A moça da pensão que eu morava
Era linda ela e eu a amava.
Cuidava de flores, num jardim suspenso
Por cordas imensas, presas a arvores
Grandes, imensas, folhosas, frondosas.
Era linda ela, com um rosto arredondado
Cabelos louros, macios, encaracolados.
Era linda ela, era apaixonante, era luz!
Valia voltar ainda que cansado, para
Para servir-lhe o vinho tinto na taça.
Beijar de novo o rosto lindo, radiante.
Sentar de novo naquele banco de madeira,
Enfeitado e perfumado
Pelo pequeno jardim suspenso nas arvores.
Na varanda, na tarde noite quente,
Ouvir e dizer juras eternas, sensíveis.
O caminho que percorria na volta,
Sempre foi enfeitado pela saudade,
Pela vontade de vê-la de novo!

Que chatice cúbica!
Não quero falar sobre isso!
Quero falar sobre quadros vermelhos
Pontes de concreto branco, nada floridas.
Quero que a vida seja abstrata, nada concreta
Nem mesmo o concreto do prédio azul,
É literalmente, realmente, concreto.
Ele, embora feito de concreto,
É abstrato na minha mente.
Não existem flores no vôo do avião de guerra
Não existe perfume do lado de baixo da ponte
Nem tampouco a moça mora naquela pensão.
Nunca me apaixonei por ela.
Nem os quadros que me passam na cabeça,
Nem os pássaros amarelos que pousam sobre
A estátua do herói na praça.
A música, a criança, o quadro, o avião
O pássaro, o abstrato, o concreto
A vida, a moça, o jardim, a flor vermelha,
Nada existe realmente, tudo é abstrato!

Um abraço, Paulo Pacheco, 24/08/09

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

a propósito de música ...



Sobre música, 

(Ou de como podemos ser cegos e surdos, mesmo quando vemos e ouvimos)

Quando em 1954 “Bill Halley & the comets” apareceu nas ondas do rádio, eu já tinha 09 anos de idade, e começava a querer namorar. Por onda passava, lá estava o conjunto tocando Rock around the clock...: nas ruas, em casa, nas festas. Não havia propaganda implícita na música, nenhuma conotação de qualquer tipo: era apenas música, poesia. O povo ouvia e dançava porque queria. Isso era suficiente.

Inicialmente despretensioso, o Rock around  the clock logo se transformou num conhecidíssimo “rock around the world”... Toda vez que a música terminava, dava vontade de escutar outra vez. O povo adotava a música, escutava, cantava, dançava. Para quem gosta de evolução da música, pode ainda escutá-lo em http://www.youtube.com/watch?v=-mZLpDuuf40 .

Desde pequeno, porém, eu tenho um enorme problema: consigo assobiar as músicas, mas decorar títulos e letras é um tormento. Foi por isso que segui engenharia e não medicina, porque sempre tive dificuldades de decorar, memorizar. Memorizei Rock around the clock porque o título provoca reflexão sobre o tempo... Movemo-nos no tempo, o tempo manda em nós, mas nós mesmos fazemos o tempo render ou se desperdiçar num sorvedouro desconhecido... marcou também o meu gosto pela música.

Bill Halley foi durante um par de anos o meu herói do mundo lúdico, que me aliviava as horas de estudo, da vida cheia de tarefas, da pressão de me adequar a uma sociedade por me ser total e compreensivamente impossível adaptar a sociedade á minha forma de pensar.

Em 1955 Elvis Presley arrebenta nas paradas de sucesso com “That’s all right mama” – está tudo certo, mamãe. Durante alguns meses rivalizaram nas emissoras de radio, nos anúncios, pequenos resumos filmados a cores que passavam antes do inicio dos filmes nas sessões de cinema. Competiam nos jornais, nos canais de televisão, ainda a preto e branco, nas festas familiares. Na prática, o rock nascera em 1954, e em 1955 já tinha dois ídolos, e duas canções: uma falando do tempo, outra falando das preocupações com a moral e a ética. Comecei a desconfiar, com 10 anos, que a música nos mandava recados, que se entendidos, poderiam mudar o mundo. Com “Follow that dream” (siga aquele sonho) em 1962, e ainda na década de 60 com “Nothingville” (cidade do nada) e “If I can Dream” (se eu puder sonhar), Elvis mandava novos recados ao mundo, durante os movimentos sociais contra a guerra do Vietnam e o racismo. Elvis ainda pode ser visto vivo em http://www.youtube.com/watch?v=9CMlYVu9J4g .

Porém fã de Elvis Presley, logo tive que dividir minhas preferências musicais – e pelos vistos das mensagens transmitidas pelos títulos e temas das músicas – Com um conjunto que desde 1960 vinha disputando as preferências do público: “The Beatles”, com Ringo Star, George Harrison, John Lennon, Paul McCartney. Juntos ou separados, produziram canções como  “All you need is Love” (tudo o que você precisa é de amor); “All together now” (todos juntos agora); “Peace of mind” (Paz de espírito) e outras. Quem desejar ouvir os Beatles pode ainda fazê-lo em http://www.dailymotion.com/video/x15f3t_the-beatles-all-you-need-is-love_music#rel-page-2.

Muitos outros grupos, muitos cantores e cantoras apareceram desde então, e um em particular: Pink Floyd com a música “Another brick in the wall” (Mais um tijolo na parede), dizendo que não precisamos de mais educação...  Pode ser ouvido em http://www.youtube.com/watch?v=lwTpZpwjtIE ...

Há muitas formas de “ouvir” música: impregnando-se de melodia e sons para incentivar a produção de substâncias químicas no cérebro que nos dão prazer; ouvir a melodia, os acordes, os instrumentos, e “viajar” no lúdico enquanto lembranças e desejos nos vêm á mente; ouvir por ouvir como se não existisse a música, a melodia, a letra, apenas como pano de fundo para o que estamos fazendo; entender o que a letra quer dizer e imaginarmos situações futuras ou passadas; analisar tecnicamente a composição como crítico de arte, sem a menor emoção, apenas a razão de cada timbre, de cada pausa, de cada escala, do conjunto, se fará sucesso ou não, ou simplesmente, se a melodia é ou não é boa para dançar, para ouvir, para ouvir depois do jantar, ir a um show. Alguns ainda não se importam com a melodia nem com a letra: Basta que seja cantada por seu artista de preferência.  

Isto não é uma crítica. É uma constatação de que cada ser da humanidade tem o direito de fechar os ouvidos ou os olhos, ou os dois, para o que não lhe interessa, quer o motivo do desinteresse tenha bases consistentes, ou se trate apenas de emoção, como quem diz que não gosta de peixe cru com molho shoyu e gengibre, sem nunca ter provado.

Casualmente, ou nem tanto por acaso, política também é assim, como a música... E embora a canção seja a mesma, cada um a interpreta como sabe, quer, ou deseja.

Um conjunto, muito especial, adotou o nome de “Faith No more” – Fé nunca mais!

Rui Rodrigues