Muitas histórias se ouvem no Bar do
Chopp grátis. Nunca perguntamos se são verdadeiras porque os clientes têm
sempre razão...
Senatus Populis Que Brasilis.
Um dia foi aprovado o grande
projeto. O pessoal do senado só trabalharia de terça a quinta feira alegando
dentre outras coisas que gastavam o sábado para viajar para casa, e o domingo
para viajar para o senado. Evidentemente que, apesar de terem residência em
Brasiliae, que era a sede do Senado, e receberem uma gorda ajuda de custo,
preferiam continuar morando em suas residências em seus estados, muitos a mais
de 4.000 km de distância de Brasiliae.
(De notar que se usam nomes
fictícios para evitar coincidências).
O dinheiro das ajudas de
custo de moradia em Brasiliae eles embolsavam, evidentemente, porque político o
que não é mesmo é trouxa. Além disso, ainda tinham a comissão das passagens de
avião: Cinquinho por cento do valor das passagens, mais a milhagem. Por isso os
senadores só trabalhavam de terça a quinta. Mas também não era tanto assim.
Logo que chegavam na terça, iam para o hotel, se arrumavam, e passavam o resto
da manhã sabendo das novidades, que por vezes se estendia até depois de almoço.
E na sexta feira, usavam a parte da tarde para preparar as malas e programar a
semana seguinte.
Bom... Na verdade só
trabalhavam na quarta feira no Senatus Populis Quaes Brasilis. Quando havia alguma coisa com muita urgência,
programavam votações noturnas e ganhavam horas extras. Como era bom ser
senador... Mas era uma vida dura. Quando estavam em casa eram sempre
incomodados pelo pessoal dos lobies que sempre lhes ofereciam algumas
coisinhas, que mais não fosse uns favores. Nos corredores do Senatus Populis,
nem pensar por causa do decoro parlamentar. José Safson, que é barman no
Senado, e ganha cerca de dezoito mil reais por mês, como base, conta muitas
coisas. E ri muito quando conta, porque é muito engraçado e ele ganha muito bem.
Uma vez viu um papel sobre uma mesa e leu rapidamente. Era para a aprovação de
um projeto de lei que pagava a quem criasse animais selvagens em casa. Cada
pessoa poderia ter até 10 animais. José Safson até pensou que iria abrir um
zoológico, que era o lugar mais indicado para isso. Reservas Zoológicas do
Brasil, mas dinheiro é dinheiro e o Brás era o tesoureiro. Ele acompanhou, por
acaso, um senador que pegou o papel e o mostrou rapidamente a um outro senador
que estava aparecendo por perto, vindo em sentido contrário.
- Senador... Por favor...
Preciso de sua ajuda.
- Pois não, nobre senador..
Em que posso ajudá-lo?
- Estamos coletando assinaturas para um projeto
que paga prêmio a quem juntar até 10 animais silvestres e os mantenha vivos e
confortáveis até que o IBAMA passe para os reconduzir às florestas.. Posso
contar com sua nobre assinatura?
E José Safson viu que o
outro senador, velhote, pensando em ser enterrado com a bandeira nacional
depois de um ataque cardíaco, passou os olhos pelo documento... Procurou a
palavra pagar, encontrou escrito que o governo pagaria. Procurou números,
encontrou o 10 (onde dizia até dez animais) e assinou. Tudo se passou em cerca
de dez segundos. Era crível porque é assim que se fazia política, pensou nosso
barman. Dessa forma passaria até elefante enquanto o povo matava formiga com os
pés. E uma porção considerável deles assinou em branco, levado pela conversa
aliada de velhos aliados. Se fulano diz que é bom, então é... Não há ninguém no
Senatus Populis Que Brasilis que diga que não é bom sob pena de perder a sua
porcentagem no negócio... Os animais da floresta, alguns em extinção, passarão
agora a ser caçados para que os caçadores ganhem mais uns trocados. Mais uma
vergonha nacional aprovada pelo Senatus.
Quando o Populis saiu para
as ruas, na Terra Brasilis, o Senatus entrou em pânico. E agora, para desfazer
velhos negócios? Tantas verbas comprometidas? Atender os anseios da população
arruaçada? Mudar a mentalidade febril e doente daquela gente do Senatus não se
faz de uma hora para a outra, por mais pressa que o Populis possa ter. Então
resolveram enrolar, empurrar com a barriga, (ventilabis ventrem) propor um
plebiscito, como se fosse isso – ou que queriam fazer com isso – que interessasse
à Populis... Entretanto, a ex-terrorista, agora no poder, mandava sua guarda
pretoriana (praetorium) contra a Populis, armada dos calcanhares até a raiz dos
cabelos protegidos por elmos aterrorizantes, lançando gases nauseabundos (abominanda
vapores) sobre a multidão. Cometem erros Crassos, quer a ex-terrorista, quer o
Senatus, quer a guarda pretoriana. Não pretendem mudar nada. Mas a crise atual
veio e está no Senatus Populis Que Brasilis. O Fórum condenou, o Senatus não
considerou as condenações.
Ouve-se da velha Grécia os
gritos de Democracia. A vox Populi vox Dei não soa ainda nos ouvidos do Senatus
Populis Que Brasilis. Soará como trombetas que derrubam muros maiores do que os
de Berlim, de Jerusalém...
© Rui Rodrigues
Em terra de intelectuais anões, quem sabe ler a letra "o", é doutor.....E esta terra chamada de Brasilis, esta infestada de doutores, Então quem paga a conta é a tão explorada natureza, na sua mais pura essência, a vida que nela habita.
ResponderExcluirCom um Senado marginal, analfabetos no governo elegendo ministros, não se pode esperar outra coisa... A massa é amorfa e ignota... A Democracia foi vilipendiada, caro Lindolfo souto netto.. E o Brasil vai para as ruas...
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