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quarta-feira, 3 de julho de 2013

Senatus Populis Que Brasilis.

Muitas histórias se ouvem no Bar do Chopp grátis. Nunca perguntamos se são verdadeiras porque os clientes têm sempre razão...



Senatus Populis Que Brasilis.

Um dia foi aprovado o grande projeto. O pessoal do senado só trabalharia de terça a quinta feira alegando dentre outras coisas que gastavam o sábado para viajar para casa, e o domingo para viajar para o senado. Evidentemente que, apesar de terem residência em Brasiliae, que era a sede do Senado, e receberem uma gorda ajuda de custo, preferiam continuar morando em suas residências em seus estados, muitos a mais de 4.000 km de distância de Brasiliae.

(De notar que se usam nomes fictícios para evitar coincidências).  

O dinheiro das ajudas de custo de moradia em Brasiliae eles embolsavam, evidentemente, porque político o que não é mesmo é trouxa. Além disso, ainda tinham a comissão das passagens de avião: Cinquinho por cento do valor das passagens, mais a milhagem. Por isso os senadores só trabalhavam de terça a quinta. Mas também não era tanto assim. Logo que chegavam na terça, iam para o hotel, se arrumavam, e passavam o resto da manhã sabendo das novidades, que por vezes se estendia até depois de almoço. E na sexta feira, usavam a parte da tarde para preparar as malas e programar a semana seguinte.

Bom... Na verdade só trabalhavam na quarta feira no Senatus Populis Quaes Brasilis.  Quando havia alguma coisa com muita urgência, programavam votações noturnas e ganhavam horas extras. Como era bom ser senador... Mas era uma vida dura. Quando estavam em casa eram sempre incomodados pelo pessoal dos lobies que sempre lhes ofereciam algumas coisinhas, que mais não fosse uns favores. Nos corredores do Senatus Populis, nem pensar por causa do decoro parlamentar. José Safson, que é barman no Senado, e ganha cerca de dezoito mil reais por mês, como base, conta muitas coisas. E ri muito quando conta, porque é muito engraçado e ele ganha muito bem. Uma vez viu um papel sobre uma mesa e leu rapidamente. Era para a aprovação de um projeto de lei que pagava a quem criasse animais selvagens em casa. Cada pessoa poderia ter até 10 animais. José Safson até pensou que iria abrir um zoológico, que era o lugar mais indicado para isso. Reservas Zoológicas do Brasil, mas dinheiro é dinheiro e o Brás era o tesoureiro. Ele acompanhou, por acaso, um senador que pegou o papel e o mostrou rapidamente a um outro senador que estava aparecendo por perto, vindo em sentido contrário.

- Senador... Por favor... Preciso de sua ajuda.
- Pois não, nobre senador.. Em que posso ajudá-lo?
-  Estamos coletando assinaturas para um projeto que paga prêmio a quem juntar até 10 animais silvestres e os mantenha vivos e confortáveis até que o IBAMA passe para os reconduzir às florestas.. Posso contar com sua nobre assinatura?

E José Safson viu que o outro senador, velhote, pensando em ser enterrado com a bandeira nacional depois de um ataque cardíaco, passou os olhos pelo documento... Procurou a palavra pagar, encontrou escrito que o governo pagaria. Procurou números, encontrou o 10 (onde dizia até dez animais) e assinou. Tudo se passou em cerca de dez segundos. Era crível porque é assim que se fazia política, pensou nosso barman. Dessa forma passaria até elefante enquanto o povo matava formiga com os pés. E uma porção considerável deles assinou em branco, levado pela conversa aliada de velhos aliados. Se fulano diz que é bom, então é... Não há ninguém no Senatus Populis Que Brasilis que diga que não é bom sob pena de perder a sua porcentagem no negócio... Os animais da floresta, alguns em extinção, passarão agora a ser caçados para que os caçadores ganhem mais uns trocados. Mais uma vergonha nacional aprovada pelo Senatus.

Quando o Populis saiu para as ruas, na Terra Brasilis, o Senatus entrou em pânico. E agora, para desfazer velhos negócios? Tantas verbas comprometidas? Atender os anseios da população arruaçada? Mudar a mentalidade febril e doente daquela gente do Senatus não se faz de uma hora para a outra, por mais pressa que o Populis possa ter. Então resolveram enrolar, empurrar com a barriga, (ventilabis ventrem) propor um plebiscito, como se fosse isso – ou que queriam fazer com isso – que interessasse à Populis... Entretanto, a ex-terrorista, agora no poder, mandava sua guarda pretoriana (praetorium) contra a Populis, armada dos calcanhares até a raiz dos cabelos protegidos por elmos aterrorizantes, lançando gases nauseabundos (abominanda vapores) sobre a multidão. Cometem erros Crassos, quer a ex-terrorista, quer o Senatus, quer a guarda pretoriana. Não pretendem mudar nada. Mas a crise atual veio e está no Senatus Populis Que Brasilis. O Fórum condenou, o Senatus não considerou as condenações.

Ouve-se da velha Grécia os gritos de Democracia. A vox Populi vox Dei não soa ainda nos ouvidos do Senatus Populis Que Brasilis. Soará como trombetas que derrubam muros maiores do que os de Berlim, de Jerusalém...

© Rui Rodrigues





   

2 comentários:

  1. Em terra de intelectuais anões, quem sabe ler a letra "o", é doutor.....E esta terra chamada de Brasilis, esta infestada de doutores, Então quem paga a conta é a tão explorada natureza, na sua mais pura essência, a vida que nela habita.

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  2. Com um Senado marginal, analfabetos no governo elegendo ministros, não se pode esperar outra coisa... A massa é amorfa e ignota... A Democracia foi vilipendiada, caro Lindolfo souto netto.. E o Brasil vai para as ruas...

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