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segunda-feira, 29 de julho de 2013

Weimar 1919 e Brasil 2013 - Um paralelo


Weimar 1919 e Brasil 2013 - Um paralelo

Traçar um paralelo não significa que os dois assuntos tenham a mesma origem, se desenvolvam do mesmo modo e terminem da mesma maneira, mas simplesmente que existe algo em comum, como poderemos ver a seguir. Mas, seja o que for, não parece se solução para os problemas que se enfrentam nos dias de hoje.
Buscando a isenção, decorrerei sobre Weimar deixando aos leitores e leitoras o comparar com a situação política dos dias atuais. Certamente encontrarão paralelos entre situações, políticos, até mesmo cidades, movimentos e partidos políticos. Basta ler pausadamente e com atenção.

  1. 1.      A cidade
Weimar é uma cidade alemã, atualmente patrimônio da humanidade, com uma característica muito particular: É uma cidade independente, isto é, tem o estatuto de Distrito (para leitores portugueses) e de um Estado (para leitores brasileiros). Nela viveram Goethe, Schiller e posteriormente Nietzsche (quando já em estado adiantado de demência). Em 1919 fundou-se a Universidade da Bauhaus. É uma cidade preferida de “seres pensantes”. A 6 km de distância fica o campo de concentração nazista de Buchenwald destoando da paisagem e da cidade.
Sua história de cidade independente inicia-se em 1918, logo após a Alemanha perder a primeira guerra mundial, com um sistema parlamentarista democrático. As forças armadas alemãs, conhecidas por sua liderança autocrática e conservadora, empurraram as negociações de paz (a derrota na guerra) para o SPD – O partido Social democrata, no governo de Weimar. A partir daí ficou no povo alemão a imagem de um partido socialista democrático que negociara (mal) a derrota, e o saudosismo de uma nação outrora poderosa no tempo dos imperadores. Sebastian Haffner chamou a Weimar “uma republica sem republicanos” e Kurt Tucholwsky “O negativo de uma monarquia” porque não era o imperador Wilhelm II que mandava e sim o Reichstag. O imperador abdicou.
 Weimar
  1. 2.      A relação entre os dirigentes da nação Alemã e os seus cidadãos.

Os EUA não eram uma potência bélica mundial até um par de anos antes do ataque nipônico a Pearl-Harbour. Eram, e são, uma democracia que visa em primeira instância o bem estar geral da nação. Foi a partir desse ataque que passaram a ser uma potência bélica, iniciando um processo de armamento por força de movimentos internos que aproximavam a nação americana contra as forças do eixo, a favor de sua aliada a Grã-Bretanha. A Alemanha, até antes do fim da primeira guerra mundial, tinha um conceito diferente da relação governo e povo, tendo por este um profundo desprezo. Diz Harold Kustz “Frederico, o Grande, chamava o povo de uma nação de escravos. Bismarck, o criador da Alemanha moderna, afirmava que não podia suportar o povo, a não ser que houvesse bebido depois uma garrafa de champanhe. A maioria dos impropérios do Kaiser Guilherme contra o povo não podia ser impressa. Mais tarde Hitler diria que os alemães não eram dignos de sua grandeza. Não sabemos o que passa pela cabeça de Ângela Merkel, mas até podemos adivinhar. O exército alemão adotava a filosofia segundo a qual todos os recrutas deveriam ser despojados de seu ”espírito de porco” e de sua condição humana, domesticados até um nível quase animal. A figura do sargento era um dos arquétipos alemães, que deveria manter a população em seu lugar : Escravos e porcos. Até hoje, a educação alemã reflete essa rigidez militar. Governos que não se importam com o povo, por mais populares que sejam, mais cedo ou mais tarde acabam por demonstrar os seus princípios, torpes sem dúvida.

  1. 3.      O tratado de Versalhes e as conseqüências previsíveis
 Tratado de Versailles
Entre perda de terras, impossibilidade de formar forças armadas e uma pesadíssima multa a ser paga como indenização de guerra, o futuro alemão era previsível: Desordem total porque as metas eram inalcançáveis. A inflação bater-lhes-ia à porta. Quem sabia disso perfeitamente era John Maynard Keynes, que participou das negociações de Versalhes como observador. A França chegou a invadir a Alemanha, no Rhur, apesar do tratado de paz, para conseguir pagamento de parcelas atrasadas. Não demorou muito para o povo alemão ir para as ruas pedindo empregos, menos inflação, redução da dívida ou mesmo dar o calote, melhores serviços públicos. A Alemanha ficou a um passo da guerra civil. Altas dívidas externas e internas, juros altos, economia em queda, corrupção têm, um efeito devastador no moral e na confiança das populações. Keynes sabia disso. Quanto ao governo alemão da república de Weimar, democrata e socialista, sabia que era necessário acalmar o povo. Mas como?

  1. 4.      Surge Adolf Hitler de um dualismo entre a social democracia e a extrema direita.
 Hitler odiava o povo alemão
Já em 1918 se sufocara pela força das armas uma tentativa de implantação do socialismo através de forças revolucionárias de esquerda lideradas por Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht[1]. Aproveitando a instabilidade e o descontentamento, Hitler viu a oportunidade de voltar aos tempos imperiais, antidemocráticos, como a base de sua plataforma política para alcançar o poder e implantar o nazismo. Velhas cenas filmadas de seus discursos mostram a “força” e a determinação dos tempos do Império alemão, uma expressão corporal clara da intenção de domar os “escravos e os porcos” de sua nação. A proposta de Hitler não era a de uma democracia, mas a de um governo forte que colocasse tudo nos eixos. No dia 09 de novembro de 1923, Ludendorff e Hitler promoveram o seu desfile golpista pelas ruas de Munique. Não deu certo, voltou mais tarde
Na verdade, a fraqueza da republica de Weimar instituída em 1919 contribuiu para a expansão dos movimentos radicais e o surgimento do nazismo. No entanto, é notável como Hitler - cuja única virtude foi a de ser esperto durante algum tempo – chegou ao estabelecimento do nazismo: Através de emendas à constituição, sutis, uma após a outra. Hitler iniciara sua carreira política como chefe do pequeno Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores alemães. Por essa época, Goebels já fazia parte da assessoria de Hitler.
No Brasil, e no inicio, o Partido dos Trabalhadores não era socialista, o que veio a acontecer quando elementos terroristas de um socialismo do passado se lhe associaram.
Alterações à constituição, ainda que com o “beneplácito régio” de um senado que pode e foi comprado por mensalidades, tem o mesmo feito das alterações provocadas na constituição alemã por partidários de Hitler.
Com o leitor fica a decisão de estabelecer – ou não – os paralelismos com a República de Weimar, ou melhor, no que ela se transformou, considerando as forças políticas envolvidas e os meios utilizados para transformação da Alemanha de uma democracia que buscava os seus caminhos, numa ditadura que encontrou outros e desastrosos caminhos.

© Rui Rodrigues


[1] Os dois foram assassinados. 

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