A noção da
existência de uma entidade superior a qualquer coisa que se possa imaginar,
poderosa, inigualável, responsável por tudo o que existe, está na origem das
religiões. Muito mais do que isso, está no “íntimo” de todos nós, ou em sua
maioria. Crer na existência de um Deus, não é uma invenção da humanidade. É um
conceito intrínseco, baseado numa premissa muito simples: Se algo, como o
Universo, existe, é porque algo ou alguém o fez, e não por acaso, porque é
muita a perfeição, e as probabilidades de algo tão perfeito são mínimas, muito
mais que nulas, abraçando o impossível.
Por
ignorarmos toda a potencialidade de Deus, imaginamo-lo de acordo com os
conhecimentos que temos no momento. Na melhor das intenções, já “imaginamos”
Deus como estátuas de granito ou mármore, aos quais demos nomes pomposos como
Hermes, Afrodite, Zeus, Marte, Osíris, Horus, animais, entre eles o boi Apis. O
Sol, estrela que nos ilumina, já foi considerado como um deus, quando ainda não
se sabia que era uma estrela, nem que estrelas, planetas, galáxias, buracos
negros existiame faziam parte de um Universo matemático, físico, químico,
regido por leis que podem ser decifradas. Com o desenvolvimento da ciência, a
noção de Deus foi ficando cada vez mais clara, mais definida. Deus é muito mais
poderoso do que se imaginava. Mas a maioria de nós ainda não pode entender a
sua genialidade, a sua grandeza, o seu poder. A nossa maioria é ignorante,
nunca freqüentou uma universidade, e em toda a diversidade das universidades, a
maioria não cursou as matérias com as quais Deus construiu os seus Universos,
os universos do seu Reino. Deus não tem reinos. Tem apenas um Reino,
constituído de um numero infinito de universos, porque tudo fez, e só a Ele
pertence.
Não se pode
crer numa fé em alguma coisa, inclusivamente em Deus, sem conhecimento. Fé por
fé, podemos acreditar em qualquer coisa porque somos ignorantes. Temos que
admitir nossa ignorância. Quando nos incentivam a ter fé em algum Deus ou
profeta, precisamos ter a humildade de admitir que somos ignorantes em maior ou
menor grau, e isso fica muito claro quando começamos a questionarmo-nos sobre o
que é mais provável que “deus “ possa ser, desejar, querer. Deus não pode ficar
eternamente desejando, nem por um milésimo de ínfimo segundo: Deus faz!
Por exemplo,
podemos perguntar-nos porque razão não fala Deus conosco e precisa de
intermediários, os sacerdotes, para que nos digam o que “deus” quer, deseja,
exige. Como Deus, poderia facilmente portar um enorme megafone e dizer-nos,
geração por geração, para que todos ouvíssemos o que quer, deseja, exige. Mas
não o fez e não o faz, certamente jamais o fará. Alegam os sacerdotes que é
necessário ter “inspiração divina” para ouvi-lo ou entende-lo, mas essa
inspiração é duvidosa, porque esses mesmos sacerdotes levantaram nações
inteiras em guerras religiosas, perseguiram, mataram, chamando de infiéis
àqueles que tivessem outra religião diferente ou que mesmo não tivessem alguma
religião. Sabemos que Deus não pode desejar uma coisa dessas. Seria o mesmo que
admitir a existência de vários deuses, cada um para uma nação, cada um para uma
religião, e que tais deuses estivessem brigando por poder entre si, usando como
instrumentos a fraca e débil humanidade que Ele mesmo criara, tal como pai
devasso promovendo a briga entre irmãos. Esses deuses não podem ser “Deus”,
porque são confusos, pecam pela falta de atributos morais que permitam a
definição de “deus”. São vingativos, belicosos, tomariam partido, seriam segregacionistas.
Deus não pode ser uma coisa dessas!
Porque Deus
não aparece então, para dizer o que quer, deseja ou exige?
Porque
simplesmente não tem necessidade disso, e fez um Reino que se rege a si mesmo.
O que Deus fez, não foi o homem, e muito menos de barro, nem a mulher a partir
de uma costela do primeiro homem. O que Deus fez foi o tudo, que inclui o que
conhecemos até agora, e o que ainda desconhecemos porque nossa ignorância ainda
não foi consumida pela luz do conhecimento. Podemos chamar esse “tudo” de
natureza, de Universos, de mundo. A natureza dos universos, e deste, e muito em
particular, a natureza que existe neste planeta a que chamamos erroneamente de
Terra. Deveria ser chamada de Água, Nitrogênio, ou de Carbono. O que Deus criou
foi o tudo, a natureza, fruto das leis de formação de universos que imprimiu ao
iniciar, num infinito tempo passado, a existência. As leis de Deus regem tudo.
Não as leis impressas nos livros e que lemos nos templos, mas essas mesmas leis
de formação dos universos, a Sua Obra. Tudo nos universos se rege por Suas
Leis, independentemente de sermos nós, seres humanos, a espécie predominante
neste planeta. Os dinossauros já predominaram no passado. Em outros planetas,
outras espécies regem, neste instante, o
futuro da sua vida e do meio que as cercam. O crescimento populacional com o
dom da inteligência, obriga à colonização de outros planetas, para povoar o
universo, ou ao controle da natalidade para que a espécie não pereça no pó da
história, porque o espaço dos planetas é limitado.
Deus fez
universos que se regem a si mesmos, segundo as suas leis. Fez a vida que se
adapta ao meio e evolui. Deus não tem nação preferida, espécie preferida,
galáxia preferida, universo preferido. Tudo é Obra Sua. Muito menos tem
religião preferida, Todas das antigas religiões já desapareceram, e as que
existem ou evoluem ou se extinguem também. O que os Universos têm de sobra, é
tempo, que a nós, seres humanos, nos falta em abundância. E não é
infundadamente que tudo o que é vivo morre: sem a morte, todos os planetas
habitáveis já estariam super povoados. Teriam a sua habitabilidade nos limites
da aniquilação total.
Em termos de
espécie, não podemos pensar em nós mesmos. Temos que pensar definitivamente em
termos de humanidade, assegurando o futuro de filhos, netos, bisnetos, ou
simplesmente assegurar, garantir que a espécie humana não se extinga por ação
de algum louco ou por falta de objetivos ou ações em garantir que não pereçamos
por algum meteoro que venha na direção de nosso querido planeta, ou de
catástrofe natural por que não cuidamos do ambiente em que vivemos. Um ambiente
limitado ao volume de nosso planta, incluindo a atmosfera, a estratosfera, o
sistema solar e a própria galáxia.
Desde que nos
transmitiram a noção de Deus, que alguns de nós brincam com seu nome, com as
suas características e todos esses, sem exceção, usufruem de dádivas, óbolos,
esmolas, doações, contribuições, benefícios e favores que lhes são oferecidos
em nome de Deus. Seja deus o que quer que entendam como deus, mas certamente
não Deus tal como realmente è, porque somos ainda ignorantes da totalidade de
Deus.
O que importa
para a humanidade é a convivência entre todos os seres, de modo a que todos os
recursos sejam preservados e usados para o seu benefício. Guerras, corrupção,
antagonismos, apenas contribuem para o fim da humanidade ou para as desgraças
que já conhecemos muito bem. Não podemos continuar a pensar que o que se passa
fora do nosso “habitat” ou do nosso meio de influências, não nos diz respeito,
porque não nos afeta o viver. Tudo é uma questão de tempo para nós ou para a
nossa sociedade particular.
Rui Rodrigues