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domingo, 3 de março de 2013

Bolsa de apostas - Quem será o novo Papa



Bolsa de apostas - Quem será o novo Papa


Há quatro mais cotados, à luz de informações que “transpiram” para a opinião pública, através de declarações de arcebispos e análises à luz da imagem que se tem do Vaticano. Porém, pelo que sabemos, há divergências no seio do Vaticano – as mesmas que provocaram a renúncia de Bento XVI – o que leva a supor que os arcebispos não expuseram a público o que realmente pensam, e o resultado que elegerá um novo Papa será certamente divergente da opinião da mídia. A não ser, é claro, que haja um cisma na Igreja Católica Apostólica Romana, mais um entre tantos ao longo da história. Mas porque razão determinante será o resultado divergente do que seria de esperar? Vejamos:

Como existem “forças” que Bento VXI não poderia vencer porque suas forças não agüentariam, teria Bento XVI medo de vir a falecer em pleno cargo? Claro que não. Nenhum papa anterior teve medo da morte em cargo, e mesmo que tenham tido, todos permaneceram no cargo até a morte. Teria o Papa Bento abalado tanto a sua fé que abdicou do cargo “dado” por Deus através de sua inspiração divina que propiciara os votos do conclave que o elegeram? Não podemos crer muito nisto, ou até podemos, mas teríamos que admitir, a julgar pela historia – onde vemos que até houve assassinatos e compra de votos para garantir a eleição – que a inspiração “divina” vai mais longe do que se pensa, ou em outras palavras, a inspiração divina não existe e Deus não se intromete, propositalmente, nas coisas deste planeta, que já possui as leis de Deus para que exista, caminhe ao longo do tempo, evolua. Fazemos parte da natureza de Deus. Assim sendo, arcebispos votam de acordo com sua própria consciência e não com a consciência de Deus, impossível de a alcançarem, de lhes terem acesso. São nada mais nada menos que simples e comuns humanos. Não podem intermediar entre Deus e a humanidade, porque nunca se sabe se o sacerdote é pedófilo, e o que fazer com as “intermediações” do sacerdote pedófilo? A perfeição de Deus não permite falhas, deslizes, invencionices.

Finalmente, havendo divergências fortes no Vaticano, e havendo cisma ou não, o resultado será a eleição de um novo Papa mais “aberto” ás mudanças e então algumas mentiras gritantes da filosofia vaticana serão extirpadas do seio da comunidade cristã. Dirão que será obra de Deus. Sempre dizem. E de certa forma não deixará de ser. Entretanto fazem-se apostas nas bolsas mundiais para saber quem será o novo Papa, assim como se aposta em jogos de futebol. Deus também tem a sua dose de humor. A alegria e o humor fazem parte da essência humana e como somos feitos à semelhança de Deus, Deus há de ter humor, sorrir. Vejamos então os candidatos e tentemos “adivinhar” quem será o novo Papa, considerando as forças, as divergências, o que conhecemos do perfil dos candidatos. Se nenhum falecer durante o conclave ou antes de assumir, ou logo após assumir, estes são os candidatos: Mas com a premissa de que não haverá cisma.

1.      Peter Turkson, cardeal de Gana.

Ideal para uma ala super moderna da Igreja católica, por ser africano e negro. Seria a maior demonstração de que a Igreja quer progredir, e mostrar que o quer. Significaria também que as mudanças seriam muito rápidas e intensas. Quem conhece a história da Igreja católica sabe que mudanças radicais deste porte somente se produzem quando um indivíduo sai da Igreja para fundar outra, como foi o caso de Lutero e de quase todos os que provocaram cismas no seio da Igreja.

Mas não deverá será este, apesar de falar mais de sete línguas, ter sido ordenado por João Paulo II, e ter lecionado em Roma e N. York além de ter um programa semanal na TV estatal de Gana e ser o favorito em duas casas de apostas: A África é muito "pobre". Tem 65 anos e foi ordenado após 30 anos de sacerdócio.

2.      Ângelo Scola, arcebispo de Milão.

Sério candidato para uma Igreja que deverá passar por pelo menos um papado de transição para não ferir a fé dos fiéis. Por seu perfil poderia esperar-se que venha a convocar um novo Concílio para definir as mudanças. Os altos cargos assumidos dão-lhe crédito no Conclave: Foi ordenado em 1970, e é doutor em filosofia, professor do Instituto João Paulo II para estudos sobre Casamento e Família. Em 1991 foi ordenado bispo de Grosseto e assumiu o arcebispado de Veneza e em 2002 o cardinalato de Veneza. Fundou uma revista em árabe, a “Oásis”, destinada à melhoria do relacionamento entre cristãos e muçulmanos. Tem 67 anos.

3.      Marc Ouellet, cardeal do Canadá.

Outro sério candidato para uma igreja que deverá passar por uma curta transição para as mudanças, tendo sido “próximo” a Bento XVI. Se forem verdade as declarações dos candidatos após a renúncia, constatando sua admiração por Bento, este seria o próximo Papa, até mesmo por ter sido o mais poderoso cardeal durante este ultimo papado. Porém, há que ter em conta a polidez política que não permite que se expresse o que lhes vai na alma. Se prevalecer a tendência contrária à linha de Bento XVI – e que o fez renunciar, não esqueçamos – este seria exatamente o ultimo dos votados para ser Papa.
Foi Prefeito da Congregação de Bispos nos três últimos anos, o que faria dele um candidato “natural”  e nasceu em Quebec no Canadá. Humilde, disse em 2010 que não esperava chegar a essa posição. Estudou no seminário de Laval em Montreal e na Universidade de mesmo nome. Foi ordenado em 1968. Passou anos na Colômbia onde lecionou. Latinos americanos do conclave poderiam votar neste cardeal, numa solução “americana”, juntando a do norte e a do sul.   Tem 68 anos.

4.      Francis Arinze, cardeal da Nigéria.


Quase exatamente na mesma condição de Peter Turkson (filho de turco traduzindo à letra) com uma diferença importante: Liderou o Órgão do Vaticano que é conhecido como Pontifício Conselho pelo Diálogo Inter-religioso, responsável pelo relacionamento do Vaticano com outras religiões, o que o coloca numa posição de vantagem sobre os demais. É o que melhor deve conhecer  as outras religiões e a idiossincrasia dos respectivos crentes. Seria de grande valia para uma Igreja Católica Renovada – Igreja da Renovação de Cristo ou o chefe de uma nova Igreja talvez até com este nome. Neste caso, haveria um cisma na Igreja Católica. Tem 81 anos. Se a linha que prevalecer for a da renovação, seria o candidato ideal porque não ficaria muito tempo no cargo. Só o suficiente para as mudanças.    
Nasceu na Nigéria em 1932. Quando criança foi mandado para uma escola missionária irlandesa. Ordenou-se padre em 1958. Deu aulas de liturgia e filosofia na Nigéria e na Inglaterra. Foi consagrado bispo em 1965 e arcebispo em 1967.

Possibilidades dos religiosos brasileiros

São relativamente altas porque a Europa está em crise financeira e o Vaticano vive de esmolas, óbolos, contribuições, e como muitas vezes as contribuições devem ser “sigilosas”, as lavagens de dinheiro - como constatadas pelos bancos europeus, que os levou recentemente a não negociar com o Banco do Vaticano - são praticamente obrigatórias para a vida da Igreja e manutenção da opulência e de algumas obras de caridade.
Já deve haver consenso sobre isto, porque o Vaticano tem se dedicado à canonização de brasileiros, e tem dado outras demonstrações de interesse pela América latina onde vivem  42% de todos os católicos do mundo, embora se saiba que destes 42% a maior parte não é praticante,  e muitos se dizem cristãos sem convicção, orações herdadas dos pais que usam em momentos de perigo de vida eminente. O Brasil, apesar de ser a maior população de católicos do mundo, tem apenas nove cardeais, mas quatro já ultrapassaram a idade de votar e D. Raymundo Damasceno Assis, no que pese ser presidente da CNBB – Confederação Nacional dos Bispos do Brasil, profundo conhecedor de administração, lobista, não freqüenta os corredores do Vaticano nem tem cargo por lá como os que se indicam a seguir.  Por outro lado, sabendo da rivalidade entre Argentina e Brasil, o vaticano não iria nomear como papa um Cardeal argentino como Leonardo Sandri, apesar de estar atualmente à frente do Departamento para as Igrejas Orientais. Até entre a população mais cristã brasileira isso seria considerado como desfeita.
O Conclave se faz a portas fechadas e é feita uma votação. Votos conscientes são dados aos que mais sobressaem dentre os conhecidos aqueles dentre os que convivem diariamente nos corredores e bastidores do Vaticano. Eis os que teriam maiores probabilidades:

  1. Dom João Braz de Aviz
Jovem de 65 anos. Ocupa o mais alto cargo na hierarquia do Vaticano. Foi ordenado  bispo auxiliar de Vitória no Espírito Santo em 1994 e chefe da Igreja de Brasília em 2004. Em 2012 foi nomeado Cardeal por Bento XVI. Desde 2011 ocupa – no Vaticano – o cargo de Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica. Exatamente os pontos que mais preocupam o Vaticano; A vocação sacerdotal e a disseminação da fé entre as populações. Se elegerem um papa brasileiro, será este. agradaria a africanos, latinos em geral, indonésios  e o povo europeu não seria refratario: Traz no nome uma família de reis portugueses, da dinastia de Aviz.. 

  1. Dom Cláudio Hummes.
Tem 78 anos e absoluto trânsito na burocracia do Vaticano. Foi arcebispo de S. Paulo e Prefeito para a Congregação para o Clero (na verdade um “ministro” papal) em 2011. Atualmente é membro da Pontifícia Comissão para a América Latina. Já foi um dos mais possíveis sucessores do papa João Paulo II, Perdeu para Bento XVI. A idade é um pouco avançada em relação aos demais, mas apenas para processar as mudanças na igreja católica pode ter grandes chances.


Façam suas apostas e como a ordem do dia é “mudar”, dentre os perfis mais sisudos não deverá sair o novo papa, que deverá ter uma cara jovem, de mudança, para agradar aos jovens...

Dos seis vou apostar em Dom João Braz de Aviz. Já professou em Vitória, terra do petróleo, tem cara jovem e é também relativamente jovem para Papa, bem conhecido no Vaticano e seria apoiado por todos os outros cardeais incluindo a CNBB, talvez a mais rica das associações da Igreja Católica. Se ganhar a linha “dura”, será certamente o italiano Ângelo Scola.

Jesus não seria eleito Papa: Não entendia nada de Bancos, e poderia voltar a quebrar os templos. 

Rui Rodrigues

sexta-feira, 1 de março de 2013

Construindo imagens do mundo.

 Construindo imagens do mundo.

Precisava de uma imagem para a qual pudesse olhar a qualquer instante e rebuscar explicações, detalhes, que me ajudassem a compreender o mundo em que vivo. Há quem viva sem esta necessidade, perguntando-se todos os dias “porquê?”, sem encontrar qualquer razoabilidade nos fatos, angustiando-se, sofrendo, ou simplesmente nada se perguntar, e encolhendo os ombros e dizer “a vida é assim mesmo”. E mesmo dos que se questionam e tentam construir imagens, como eu, há que não desprezar os pequenos detalhes. Sem eles não se explicam os grãos, os pedregulhos, as rochas nem os limos e árvores que compõem este mundo e lhes dão significado.

A imagem que cada um de nós tem deste mundo depende dos grãos coletados para compor a sua imagem. Por isso, e porque são tantos os grãos, os detalhes, as minúcias, não há, de certeza absoluta, dois seres que o vejam como realmente ele é, e muito menos dois seres que o vejam de forma igual. A probabilidade de duas imagens serem idênticas com tal infinidade de detalhes de todos os tipos é nula até a mais infinita casa decimal.

É isso que nos faz diferentes uns dos outros, e não apenas a carga genética e nossa interação com o mundo. Estes são apenas pequenos grandes detalhes de um universo ainda muito e muito maior. E esta constatação nos imprime o sentimento angustiante de que somos pequenos, muito pequenos, pouco mais do que um grão de fino pó, face à enormidade dos fatores que compõem nosso universo físico e moral, mas que nos faz gigantes, quase pequenos deuses, ao constatarmos que mesmo sendo tão pequenos, tão ínfimos, temos a capacidade de entender tanto do mundo que nos rodeia e dominar-lhe apreciável parte.

E temos assim a explicação para todos os campos divergentes do conhecimento humano. Sob o ponto de vista da percepção e avaliação humana do mundo ao nosso redor não há diferenças tão gritantes entre quem tem um DNA com qualquer deficiência ou quem o tem perfeito e não aproveita as suas qualidades. As descriminações a que assistimos devem-se exatamente à “imagem” que cada um de nós construiu para si mesmo, colhendo grãos, pontos, limos, árvores, e para a qual olha todos os dias tomando-a como referência para o seu comportamento.

Somos catadores de pichels, grãos, gotas, impressões, fatos, notícias. Coletamos tudo e nada é lixo. O que é lixo para uns não o é para outros e há riquezas imensas nos lixos que coletamos.  E então nos classificamos uns aos outros pelo lixo ou pelas riquezas que coletamos. Mas como nem todo o lixo é lixo e muitas riquezas o são, ou em outras palavras, como nem toda a riqueza é riqueza e muito lixo é, podemos ser induzidos a pensar, face ás imagens que construímos, que riqueza é tudo o que os outros não dividem e lixo é tudo o que esses mesmos jogam fora. Fora de sua mente ou fora do mundo material que detêm. É a característica classificação do equivoco e somente uma imagem mais completa que se possa construir permitirá identificar o que realmente é lixo e o que é riqueza. Mas nenhum de nós tem tempo suficiente de vida para construir uma imagem perfeita. As que temos são geralmente reaproveitadas de antigos formadores de imagens as quais copiamos e refazemos a cada dia, mudando-lhe os detalhes de lugar, retirando-os, colocando novos detalhes, diferentes, ou alterando-lhes a intensidade.

O projeto americano para mapear o cérebro humano contribuirá de forma determinante e efetiva para um melhor conhecimento da mente humana, a exemplo do que já aconteceu com o projeto “genoma”. Porém, e, como sempre, muitos novos pichels, pontos, curvas, cores, serão incluídos ou removidos, ou mudados de lugar. Uns para construir novas imagens, e outros para destruírem muitas das que já existem. Porém, neste aparente caos de imagens há uma determinada ordem que ainda não conhecemos, mas que determina a “direção” em que se move a humanidade. A humanidade se move na linha do “adotado”, isto é, o que a humanidade adota, seja riqueza ou lixo, perdura por momentos de tempo ínfimos para os padrões do universo, e depois são abandonados ou persistem através dos séculos. Um exemplo? A humanidade veste-se, não anda nua pelas ruas. Talvez algum dia a adoção de roupa se extinga, mas os pichels da imagem da moral ainda não o permitem, embora haja muitos de nós que a adotam. Eu por exemplo, em minha casa ando invariavelmente nu num clima tropical. Pessoas de regiões próximas a pólos vestir-se-ão sempre enquanto a Terra não for torrada pelo Sol. Muitos de nós construímos padrões morais que ridicularizam o nu, Outros crêem, como eu, que a moral não tem nada a haver com a vestimenta que nos disfarça.

Espero que este texto ajude a compor a imagem que constrói do mundo em que vive e que todos nós estamos construindo sem sabermos qual o rumo que a humanidade há de tomar.


Rui Rodrigues

PS – Experiência recente com ratos nos quais implantaram chips no cérebro, locados a milhares de quilômetros de distância – um nos EUA e outro no Brasil - demonstraram ser possível a intercomunicação cerebral. A notícia que li, não deixa antever qual o principio físico que foi utilizado, mas tudo leva a crer que tenha sido o da física quântica segundo o qual um “quanta” de luz tanto pode ser uma partícula como uma onda. Duas partículas colocadas em contato uma com a outra e  depois separadas, mesmo que pela distância extrema do Universo, sempre que uma mudar o spin, a outra muda também o seu de forma instantânea. Esta descoberta poderá levar no futuro a uma “rede” Net constituída e interligada por cérebros, além de computadores cujo “CPU” seja um cérebro ou vários interligados. 

O homem o copo e a percepção

O homem, o copo e a percepção.

Tinha acabado de lavar alguma louça. Afastou-se da banca da cozinha e foi até o computador que ainda o aguardava numa página aberta esperando comunicação. Era impressionante como um computador é um servo útil, bem mandado, que a um toque nosso faz o que queremos, ou melhor, o que sabemos que podemos querer. Experts em computador podem fazer muito mais do que quem apenas o usa para meia dúzia de funções. Quando acabou a comunicação no computador voltou à cozinha. Ia preparar uma caneca de leite com açúcar e três colheres de sopa de aveia em flocos. Fazia-lhe bem à saúde e era saboroso. Principalmente o final, quando o leite estava no fim, e comia a aveia com uma pequena colher de sobremesa. Reparou então que no escorredor estava um copo de vidro de tal forma posicionado que qualquer distração poderia fazê-lo cair do escorredor e certamente quebrar-se. Retirou o copo com toda a atenção e o colocou em seu lugar de costume, devidamente protegido contra tombos. Então, voltou-se para o copo e disse:

- Não precisa agradecer, mas acabo de te salvar a vida!

E deu-se conta de que tinha falado com um simples copo. Estaria louco? Seria uma possibilidade se isso fosse um costume, mas não se lembrava de ter feito algo semelhante nos últimos cinqüenta anos.  Aventou então uma outra possibilidade. A de que por um momento tivesse colocado uma parte de sua alma no copo, o que significaria que estava falando consigo mesmo. Mas também significava que não era muito normal essa coisa de falar consigo mesmo. Pensou ainda em algo mais. A física quântica diz que partículas se podem comunicar instantaneamente mesmo à distância. Talvez por algum fato não conhecido da Física pudesse ter acontecido o mesmo com o copo e este tivesse pedido para ser salvo. Mas não. Isso não poderia ser. A probabilidade era tão pequena que era o mesmo que ser impossível. Ainda lhe ocorreu que um espírito tivesse “entrado” no copo, mas essa possibilidade era tão remota como aquela da física quântica que só se aplicava a partículas e não a corpos maiores. A hipótese de o copo ter aprendido a falar e ter ouvidos também, tinha sido a primeira a ser descartada. Finalmente entendeu. 

A morte não se aplica apenas a corpos vivos. Mesmo corpos mortos, quando cremados, por exemplo, geram cinzas. Depois que as cinzas desaparecem jogadas no mar ou aos ventos, desaparece por completo: Finalmente, o corpo morto morreu verdadeiramente. Mas ainda não, totalmente, porque fica na memória de amigos e inimigos que ainda não morreram. Por pouco tempo mais, é certo, mas de certa forma ainda continuam vivos. Finalmente, quando o ultimo ser vivo que conhecia o defunto se vai, não resta nada mais daquele corpo morto que tinha sido cremado e “voltara a morrer” quando as cinzas foram espalhadas. Só então, sem ninguém que se lembre dele, pode ser considerado definitiva e irremediavelmente morto!

Lembrou-se então que achava a morte um desperdício. Um desperdício útil porque permite que o planeta não se encha de seres vivos em menos de meia dúzia de bilhões de anos. Mas o copo, não... Ele nem se reproduz nem pode causar tamanha catástrofe de inundar de copos este mísero planeta. E enquanto pudesse servir para tomar sua água, seu vinho, o copo estaria vivo porque servia. E concluiu que viver é “servir”. Tudo o que serve, vive.

E ficou feliz. O copo ainda estava vivo e seria o de sua estimação!

Rui Rodrigues

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Bento XVI, a Igreja Católica e as mudanças – um túnel iluminado.




Bento XVI, a Igreja Católica e as mudanças – um túnel iluminado.


Já militei pelos corredores e templos da Igreja Católica, li a Bíblia uma porção de vezes para minha avó doente – ela se escandalizava com os termos do Gênesis e deve ter morrido decepcionada com Deus e com o moral lá no chinelo – e mais tarde, depois de abandonar esta igreja, definitivamente, estudei profundamente outras religiões e esta também, mas então não à luz da Bíblia, mas de documentos apócrifos e relacionados com a arqueologia, a história, a paleontologia. A renúncia de Bento XVI do papado não é apenas indicativa de uma “certa” gravidade. É realmente grave, de uma gravidade extrema que muitos de nós ainda não percebemos. É a segunda vez que um Papa renuncia, em dois mil anos de existência desta igreja. Isso já nos diz da grave crise que a afeta.

Mas sigamos uma linha de raciocínio para se poder avaliar das conclusões.

  1. Como se mantêm e evoluem os dogmas, conceitos, preceitos e regras.

Nos primeiros anos da Igreja Católica, nenhum apóstolo de Cristo nem seus seguidores afirmavam ou sugeriam que Maria, a mãe de Jesus era virgem mesmo após o parto, nem que Jesus havia ressuscitado e muito menos que Jesus era Deus como uma das três partes em que Deus se dividiria: Pai filho e Espírito Santo. Para eles, Jesus era um profeta hebreu, de religião judaica, que pregava a moralização do judaísmo e que não mudaria uma só virgula nas escrituras, sendo as escrituras a Torá judaica. Não para formar uma nova religião, mas para moralizar a existente. Viam Jesus como o cristo, o messias que tiraria Israel do jugo dos romanos. Jesus não conseguiu. Morreu antes que o império romano acabasse.

O ressuscitamento de Jesus, a virgindade de Maria, a trindade, e outros postulados foram inventados num concilio proposto por Constantino, um imperador romano que adaptou os ensinamentos de Jesus à teologia já existente dos deuses romanos, fundando, ele sim, uma nova religião para Roma. Naqueles tempos o povo era realmente ignorante e aceitava facilmente os novos dogmas, conceitos, preceitos e regras. Nesse Concílio foram escolhidos os livros “sagrados” e adaptados de forma conveniente. A inter-relação entre crentes e sacerdotes fez-se pela fé, sem necessidade de demonstração. O poder da Igreja foi crescendo a ponto tal que nenhum rei católico se elegia sem a aprovação papal. Imagine-se quantos aderiram a esta igreja movidos pelos benefícios gerados de tal relação, consubstanciados em contratos, favores, influência na comunidade católica apostólica romana ao longo dos séculos. Quem não pertencesse a esta igreja não tinha futuro.

E os dogmas, os conceitos, os preceitos e as regras se perpetuaram ao longo dos séculos. Contestar, questionar era uma impossibilidade, uma temeridade, um perigo. Quem não aderia por fé, aderia por interesses ou por medo. A igreja distribuía e compartilhava os benefícios  na medida em que lhe interessava.


  1. Os principais cismas da Igreja Católica apostólica romana


Uma igreja “normal” que não obriga, não impõe, não sofre mutações sérias ou relevantes ao longo do tempo. O Zoroastrismo, por exemplo, ainda sobrevive e é muito mais antigo do que a Igreja católica. O judaísmo aí está, sem cismas há pelo menos o triplo da existência da igreja católica, assim como a religião muçulmana que não conhece cisma. A Igreja católica, porém, desde o inicio que sabe o que são as dissidências, porque sua base não tem a lógica divina e veremos mais adiante que não tem.

O primeiro cisma veio entre Pedro e Felipe, os apóstolos. Pedro queria uma nova igreja, única, baseada nos ensinamentos de Cristo. Felipe também. Mas discordavam quanto aos princípios. Pedro chegou a viajar da Europa a Jerusalém para fazer esta proposta a Felipe, mas este negou e fundou uma igreja que existe até hoje: A Igreja cristã de Jerusalém. Pedro influiu em Roma e em outros locais da Europa.

Quando o Império romano se dividiu em Império Romano do Oriente e Império Romano do Ocidente, os primeiros continuaram a rezar a missa em grego, ao passo que os do ocidente as rezavam em latim. Não só por isso, mas pela influência política e econômica, a Igreja se dividiu em duas: a Ortodoxa Grega e a Apostólica Romana.

Na França decidiram os religiosos que deveriam ter um Papa diferente: Elegeram um Papa e o colocaram em Avignon. Não durou muito este cisma, mas aconteceu.

A Inglaterra separou a sua igreja da igreja papal: A Igreja Anglicana não se submete ao Papa. Este cisma dura até hoje, assim como o que criou a Ortodoxa Russa.

Lutero não concordava com certas facetas da Igreja Católica e criou nova igreja, a Igreja luterana. E a ele se sucederam novas igrejas, como a Adventista, a Igreja Universal

A desunião católica é um fato porque seus dogmas, preceitos conceitos e regras não suportam questionamentos sérios. Sob este aspecto a Igreja Católica Apostólica Romana é a mais fraca e inconsistente de todas as religiões. Completamente fragmentada, dividida, enfraquecida.


  1. Os grandes erros históricos da Igreja católica


Jesus usava uma túnica e nunca sucumbiu à soberba, ao poder. Era humilde, de uma falsa humildade porque sabia o poder que pensava que tinha, mas era também político. Suas respostas aos inquisidores antes de sua condenação, foram humildes e cautelosas. Não falou grosso e firme com a voz de “deus” e já na cruz, percebeu o equívoco quando inquiriu o Pai sobre o fato de o ter abandonado. Disseram muito mais tarde que morreu para “nos salvar”. Não. Jesus morreu porque o condenaram e isso ele jamais esperava em vida. Nenhum apóstolo estava presente em seu calvário nem ao pé da cruz. A seita de Quram a que Jesus pertencia, se não a criou, estava fadada à extinção. Nisso Pedro e os demais apóstolos foram eficientes ao propagarem as idéias pelas regiões da antiguidade a que tiveram acesso. 

Porém a Igreja cresceu a tal ponto, pregando para que os cristãos largassem os bens pelo caminho da vida porque a redenção estaria próxima, que logo percebeu o poder que tinha e podia ter, e quando alguma instituição se assoberba com o poder, exagera perdendo a base, os fundamentos e passando a preocupar-se com a manutenção desse poder. Foi assim que surgiu o poder Papal sobre os reis católicos. Logo a seguir, a perseguição aos albigenses. Depois as cruzadas contra os muçulmanos, uma intransigência absurda porque por essa época judeus, muçulmanos e cristãos viviam em perfeita harmonia, até porque o deus é o mesmo com três nomes diferentes: D’Us, Deus, Alah. A Inquisição foi o maior de todos os absurdos que mandou milhões de seres humanos para a fogueira, e propiciou a redistribuição dos bens dos condenados de acordo com os interesses da Igreja. Sem exceção, todos os que morreram nos aparelhos de tortura da igreja eram inocentes. Nenhum era culpado. A perseguição religiosa foi a mola propulsora da colonização dos EUA, do nordeste brasileiro e de outras nações.

O falso machismo católico não permite a vocação sacerdotal de mulheres. Maria Madalena não era prostituta. Pelo contrário, era apóstola e a ela estava reservada a liderança dos apóstolos. José, pai biológico de Jesus não era velho. A privação do casamento dos sacerdotes não obedece a nenhum dogma. Cristo era casado com Maria Madalena e se não fosse com aquela idade não teria quem o seguisse por falta de confiança em sua hombridade. O celibato é uma medida econômica e política para que os padres não dividam as esmolas da igreja para alimentar os filhos e a mulher. Ao buscar candidatos ao seminário entre jovens que não se importam de não ter relações sexuais, a Igreja católica abusa e nega a natureza que Deus criou, e abre as portas para quem arrisca o celibato sem certeza de poder cumprir. Fazer a corte a mulheres já feitas, é arriscado para estes padres. Assim fica aberta a possibilidade da pedofilia, porque as crianças são vulneráveis.

Os dogmas, os preceitos, os conceitos e as regras são um chorrilho de asneiras e erros que não têm semelhança em nenhuma outra religião. A confissão é relativamente recente: Foi inventada para delatar as “bruxas”, os inimigos da igreja. Curiosamente a Igreja não perseguia bruxos... Porque razão? Podemos adivinhar mesmo sem a ajuda de Freud, porque por principio esta igreja não gosta de mulheres, muito menos falando. E certamente que a Terra é redonda e que gira em torno do sol. E o Banco do Vaticano envolveu-se com lavagem de dinheiro, e para ser honesto, o dinheiro Dai começar a escassear. Em breve as igrejas deverão pagar impostos sobre a riqueza e os ganhos financeiros sob todos os aspectos.


  1. A renuncia de Bento XVI e o novo cisma

Os tempos em que nada se podia contestar na Igreja católica foram longos e sofridos. Dissidências sempre as houve em seu ambiente. Já houve papas que compraram o voto dos bispos do sínodo e bispos que assassinaram e mandaram assassinar outros para que não fossem eleitos papas. Um jogo forte de poder porque o conforto e o poder de ser papa são enormes. Seja por fé, ou por ambição, uns querem mudar o que está errado, outros preferem a ortodoxia. A Igreja Católica Apostólica Romana é Ortodoxa. Não quer mudar nada. Por inspiração divina não será, porque Jesus cristo era um revolucionário religioso. Ele queria inovar na igreja judaica. Não queria vendilhões no templo. Não conseguiu nem uma coisa nem outra. A religião judaica se mantém fiel aos princípios, os vendilhões do templo sempre existiram na Igreja católica, e o Messias que deveria transformar o mundo falhou: Continuamos com os mesmos problemas de sempre. Do céu Deus cuida.

Do contexto do que foi exposto até aqui, o Papa Bento sabe perfeitamente. Nada consta nestas linhas que possa ser afirmado como mentira, de forma isenta. Negar pode negar-se qualquer coisa com mais ou menos ou nenhuma propriedade.

E Bento XVI sabe das dissidências no interior dos templos e do Vaticano. Sabe também dos vazamentos de informação, até porque são muitos – e fortes - os dissidentes  que partilham dos “segredos” do Vaticano. Bento XVI se não perdeu a fé na igreja – no que pese as suas palavras de aparente fidelidade – deve ter chegado quase a este ponto, pelas forças que desunem os que "deveriam" pensar da mesma forma. Deixará um dossiê a seu sucessor que versa sobre a pedofilia e algo mais, mas as forças são tão poderosas que Bento não as poderia suportar. A própria igreja católica exige mudanças substanciais. Coisa de vida ou morte para esta igreja.

Haverá um cisma e uma nova igreja surgirá, porque não se pode unir os que vêem Deus à luz da razão, dos que vêem deus à luz da conveniência secular de que não vale a pena mexer no que sempre foi ou parece ter sido. Até mesmo por pura e cega fé. Não há uma luz no fim do túnel para a Igreja católica. Melhor do que isso há um túnel iluminado pela razão. A nova igreja será mais pobre e humilde e sem guarda suíça. O Vaticano continuará com toda a pompa e circunstância, com segurança redobrada.

Rui Rodrigues.   
  

PELO CHÃO - Marlene Caminhoto Nassa



PELO CHÃO 
Marlene Caminhoto Nassa


















Madrugada de blues e reflexão


Em que preciso espremer


As palavras com a mão


Apertá-las bem forte


Sem medo


De que escorram pelo dedo


Tentando encontrar seu porte


Seu tema e seu enredo




Maturando versos a fazer


Não pode haver distorção


Para formar a exatidão do dizer




E a estrofe sem solução


Não consegue ser exata


Fica imatura insegura e chata




E em meio a essa confusão


Equilibrando se como atleta


A poesia se estatela


Incompleta


Pelo chão




terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Amor vida e sexo em 2.327


Amor vida e sexo em 2.327


Zirca!... (primeiro foi um guincho horrendo... Depois a voz amaciou ecoando por todo o imenso apartamento de 20 metros quadradinhos do casal)...Meu bem... Você conseguiu encontrar aquela porca sextavada de neoprene para o meu joelho?

Uma porca de neoprene voou pelos ares na direção do velho companheiro que a agarrou em pleno ar, demonstrando que tinha reflexos perfeitos. Porca e mão caíram a seus pés, ficando inertes.

Borco, meu bem... (Disse a senhora idosa). Você não está se cuidando. Sua mão caiu outra vez. Não está apertando corretamente os parafusos. Quer que eu selecione um canal de demonstração, específico de seu modelo? Eles são muito bons nisso. Têm programa para tudo. Nem podemos reclamar...

Borco proferiu alguns impropérios, apanhou uma chave Philips, recolheu a porca de neoprene e o parafuso e atarraxou devidamente os componentes da mão. Depois cuidou do joelho que voltou a funcionar. Levantou-se e saiu do apartamento. Estava inteiraço, na verdadeira acepção da palavra. Ele era o que existia de mais moderno, quase todo de aço inoxidável recoberto por uma pele artificial que pareceria desapercebida dois séculos atrás.  Zirca ficou meditando em sua cadeira, olhando uma tela em três dimensões onde passava um programa sobre a vida no século XXI. Como tudo mudara. Para economizar dinheiro em hospitais, para tornar a vida mais fácil, e em busca da eternidade, os seres humanos de posses agora eram robotizados por completo, exceto o cérebro que ainda era original. Isso acabara com a necessidade de hospitais, operações, transfusão de sangue, infecções hospitalares, transplante de órgãos e até havia reduzido o tamanho dos cemitérios porque cérebros não ocupam grande espaço para serem enterrados. E a arquitetura? Um apartamento com vinte metros quadrados era um palácio, porque cérebro não defeca, e por isso não existiam banheiros. Para lavar a pele artificial bastava um pano úmido. Como a manutenção do cérebro era feita através de pequenas ampolas de nutrientes, as cozinhas tinham sido eliminadas. E para quê escovar dentes se não se comia? Realmente a vida se simplificara muito e sobrava tempo. Tempo era o bem mais disputado. Doenças respiratórias, asma? Isso era coisa do passado, porque para oxigenar um cérebro não era preciso muita coisa: só um pequeno cérebro-pulmão artificial, uma pequena válvula dentro do corpo mecânico.


O espaço no corpo agora sobrava e servia para carregar “coisas”. Borco usava para carregar o seu “laparoto”, um telefone, agenda, computador, que comandava quase toda a sua vida, e uma arma para desmonte de outros seres humanos com cérebro mais violento e que costumavam assaltar nas ruas para obter peças de reposição. Zirca usava o enorme espaço interior sobrante de seu corpo para guardar suas pinturas, pincéis, cílios postiços, mas nada de cremes. Cremes provocavam muita sujeira. Ambos carregavam uma camisa, um short ele, Ela uma curta saia, ambos um tênis extra, que serviam apenas para manter a aparência “humana”... Logo que Borco saiu do apartamento, ela saiu também. Sabia onde ele estaria. Foi encontrá-lo no bar do Play. Estava lá com a turma de amigos do condomínio, de frente para uma enorme TV assistindo a um jogo da Copa do Mundo. A algazarra de vozes mecânicas era estridente... Uma nuvem de fumaça pairava sobre a cabeça do grupo. Estavam “numa boa”.  As peles dos corpos tinham todas as cores. Umas eram amarelas, outras azuis, outras negras, outras brancas, verdes... As mulheres preferiam a cor rosa. O câncer acabara naturalmente. 

Belc, um húngaro bem humorado abriu espaço para Zirca que se sentou entre ele e Borco.
- Estamos ganhando de dois a zero, disse Belc laconicamente.
- Nós quem? (perguntou Zirca).
- Nós, Brasil... Sou Húngaro mas sou daqui... A Hungria já foi eliminada.
- Ah!... Acho que vocês estão fumando muito. Depois que perdemos os pulmões, e os narizes já não funcionam, agora ninguém reclama do fumo. E depois que liberaram a maconha, vocês vivem nas nuvens. (Ouviu-se uma gargalhada geral).
-Zirca, você está de mau humor hoje... (disse uma boazuda ruiva, certamente irlandesa)... Há quanto tempo vocês dois não transam? (os olhares voltaram-se para o casal denotando admiração)
- Ora, Vanidia... (Zirca sorria)... Fazemos isso todos os dias. Agora que ficou tão fácil fazer. É só apertar o botão do prazer, encostar minha mão na do Borco e já está... Podemos passar horas assim. O botãozinho injeta no cérebro aqueles hormônios fantásticos que nos dão muito mais prazer do que se fosse ao vivo e a cores... (E riu às gargalhadas)... Ás vezes digo-lhe que estou com dores de cabeça e ele fica danado da vida... É um sexo tranqüilo e não é como antigamente. Agora não há medo de pegar doença, fazemos sem camisinha, sem ter que tomar banho depois... Sexo limpo.

Gol do Brasil!!!!!!!!  Gol!!!!!!!!!

A turma levantou-se gritando esganiçada e alegremente, abraçando-se... Faltava um minuto para acabar o jogo e o Brasil vencia agora por 4 a 1. Era impossível perder. Foi então que alguém teve a triste idéia de comentar:

- Pelé foi o melhor jogador de todos os tempos!... O futebol já não é como antigamente. Agora é tudo controlado...
- Não!.. Pelé não... Fue Maradona!
- Messi...
- Neymar...

Todos se levantaram de repente, voaram porcas, parafusos, molas, chips, pedaços de pele artificial, cabelos de todas as cores, peitos postiços, alguns olhos e muitos dedos. Felizmente nenhum cérebro tinha sido ofendido seriamente. A equipe de manutenção do condomínio apareceu logo, com máquinas e caixotes. Ali mesmo começaram os reparos robóticos, e em questão de uma hora, estavam todos de pé, comentando alegremente a grande batalha de uma hora atrás, envoltos numa nuvem de fumaça. O garçom trouxe um bolo de carne cheio de velas que foram apagadas com o cérebro-pulmão artificial e foi dado aos cachorros de estimação. Para comemorar o aniversário do mais novo do grupo, um chinês com cento e quarenta anos. Cachorros, esses ainda comiam comida normal, mas já havia muitos com próteses mecânicas. Os humanóides não. Depois “tomaram” a saideira: Um fumacê de maconha, que para obter mais eficiência, os presentes facilitaram a admissão, abrindo uma pequena portinhola no cérebro que começou a pulsar alegremente.

Foi então que repararam que Borco e Zirca jaziam na grama, agarrados um ao outro, uma mão na outra, o botão do prazer ligado, tremelicando como se não houvesse amanhã, completamente alheios a tudo, perdidos no tempo e no espaço, entregues ao gozo...

A eternidade tem um preço. Pode sair barato ou caro. Mas que é possível, é... Mas até lá, aproveite bem! Porém, não temos um mundo como o de amanhã, porque sem necessidade de “comer” a natureza rejuvenescerá e haverá vida selvagem por toda a terra. Nada se cultivará então e sobrará muito espaço para a natureza que será reinventada.

Nietzsche estava certo. Somos pequenos deuses em potencial. 

Rui Rodrigues

HOMENAGEM AO POETA AMIGO, QUE ACABOU DE FALECER



JÚLIO SARAIVA
Marlene Caminhoto Nassa

















Júlio foi poeta até pra morrer
Seu coração era tão intenso
Tão imenso tão denso
Que de repente parou de bater...

O submundo feio da cidade
Explodia em beleza nos seus versos
Poesia ácida azeda ou cheia de loucura
Outras encharcadas de ternura
Penduradas em abismos emocionais
Paradoxo de quem temia a altura

E em sua busca indireta da morte
No seu verso rude e cru
Retrato da vida que levava
Aonde se expunha a nu
Nas brincadeiras com a sorte
Pouco se lixando com a saúde
Duelava sempre com a morte
E ela lhe veio tão cedo
E justo ele que de voar tinha medo...
Hoje no céu deve estar
A procura de um enredo
Brigando para encontrar um bar...

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Chegou sedenta


Chegou sedenta

Pensei que fosse de água. Servi-lhe um copo cheio, de água fresca, quase gelada. Vinha da praia com o corpo suado, a pele úmida, um leve perfume. Estava a passeio numa caminhada solitária para conhecer o lugar. Perguntou-me se eu morava ali ou estava de passagem, curtindo o fim de semana. Disse-lhe a verdade. Morava ali, no meu paraíso onde me encontrava comigo mesmo, dissecava a vida tal como ela era, com o bisturi do conhecimento que exala de textos de livros, da Internet, e de um rico passado. Não conhecemos tudo nem uma mínima parte, mas mesmo sem a pretensão de conhecer o tudo, vamos conhecendo as partes que o compõem, tanto quanto pudermos. Parece ser o que podemos levar desta vida, porque aqui chegamos nus e daqui nus sairemos. Não fosse o conhecimento e as lembranças e pareceria ao chegarmos lá, que de nada teria valido o viver, porque seria como se nunca tivéssemos existido. Ofereci-lhe um vinho e o almoço que ainda iria preparar: Frango grelhado com batatas coradas, uma salada, pão feito em casa no forno. Ofereci-lhe o banheiro, xampu, toalha limpa, sabonete, desodorante feminino das sobras de outros dias. Olhou-me nos olhos para medir a confiança que me daria. Aceitou, subiu ao banheiro da suíte no andar superior, tomou seu banho tranqüila e desceu como se fosse outra mulher. Aceitaria o frango com as batatas coradas e dividiria o vinho. Não nos conhecíamos. Jamais nos havíamos conhecido.

Ficou do meu lado tomando seu copo de vinho em pequenos e saborosos goles, enquanto me via cozinhar. Mas o quê? Como se pode chamar de cozinhar ao ato de pegar duas coxas com sobre-coxa de frango, passar-lhes uma pitada de sal, por para assar numa assadeira que previamente forramos com rodelas de cenoura, descascar umas batatas e partir em rodelas que arrumamos ao lado das peças de frango, e à parte preparar uma salada de alface, tomate aos pedaços pequenos, cebola picada, azeite, suco de limão e azeitonas? É um cozinhar muito simples, saudável, saboroso, rápido e que não cansa nem aborrece. Sobra tempo para conversar. Não trocou de roupa, mas a tanga agora estava mais generosa, mostrava as lindas pernas, a pele lisa, e a parte superior do biquíni agora mostrava claramente o arfar do peito. Seus olhos semicerrados não perguntavam, davam-se. Olhou-me nos olhos e disse que o sol estava muito forte naquele dia.  Mostrou o peito levemente rosado, e puxou o biquíni para mostrar a linha que separava a cor rosada da cor branca de sua pele. Não pude deixar de imaginar seus peitos sem o pano pudico em minhas mãos, acariciando-os. Ela aproximou-se. Beijamo-nos. Éramos dois necessitados do carinho um do outro. Não podia haver mal onde havia desejo de entrega, carência de carinho, de afagos, amar sem sermos obrigados a amar, apenas porque queremos amor, sem buscar definição em palavra que é apenas palavra, uma das muitas que nos confundem os significados da vida.

Nada queimou no forno, a salada foi conservada na geladeira até a hora de servir, e a garrafa de vinho ainda era quase virgem, quando nos sentamos na área, à sombra dos mamoeiros para matar uma parte da fome que nos afligia. Conversamos sobre a vida particular de cada um sem nos preocuparmos muito com a verdade. E o que era a verdade senão uma outra palavra das muitas do dicionário do linguajar que nos atrapalha e nos confunde o existir? Verdade era o que ainda não disséramos um para o outro, e que em breve seria dito, tudo a seu tempo, que a vereda da felicidade estava aberta, pronta para ser trilhada, sem censuras, sem obrigações, apenas pelo simples prazer de ser, estar, permanecer, ficar.

E depois do almoço, ali ficamos, permanecemos, estivemos, fomos um só, agarrados, abraçados, tocando-nos para sabermos como éramos, prazeres de existirmos, até que fomos um só, preenchendo o que nos faltava a cada um de nós e gozamos, deliramos, conhecemos o paraíso, o prazer de tornar a obscuridade do desconhecido em luz amiga e conhecida, quente, amorosa, um raio que sobe aos céus e agradece a Deus pelo momento. Uma lembrança para o fim da vida, para além da vida, para chegar no paraíso e dizer: Eu amei!

Amei um à outra e outra a mim, como a mim mesmo. Mais ainda, porque ela tem o que não tenho e tenho o que ela não tem. Mais do que gentilezas nos trocamos um ao outro, e descobrimos o que é felicidade. Sem culpas, sem falsos testemunhos, atestando a verdade que o amor é possível se nos esquecermos do que não querem que esqueçamos e nos lembremos do que nos querem fazer esquecer. A verdade do amor humano prevalecerá e resplandecerá em toda a sua plenitude quando os falsos profetas forem desmascarados e deixarem de proibir para nos governarem com proibições que nem Deus nos proíbe.

Estado civil não é um estado de espírito. É um espírito em determinado estado de existência.

Chegou e foi-se. Não como tinha chegado nem como tinha estado, permanecera, ficara. Foi-se com algo mais, com a vida com outro significado que me deixou de igual forma, com igual significado. Não há como encarcerar almas humanas, porque almas não conhecem grilhões, nem proibições. Almas são livres, habitam corpos que enquanto vivos são compartilhados, mas sempre unos, indivisíveis, a não ser para o amor, quando se compartilham e sentem o prazer de dizer: Eu vivi. Mesmo que nem sempre, mas apenas em curtos e preciosos momentos.

Nunca mais nos encontramos, não sei seu nome, seu telefone, seu endereço. Sei apenas que ela existe. Ela sabe que existo, e sabemos, ambos, que a vivermos juntos, jamais repetiríamos o momento. Tudo seria diferente, porque a água que passa no rio, num determinado momento, jamais volta a passar.

O que pode ser felicidade senão o momento em que se é feliz? Como podemos ter a pretensão de acharmos que podemos aprisionar a felicidade e fazer dela nossa escrava para toda a vida, até que a morte nos separe? São muitos os falsos profetas. Temos que ter cuidado para não jogarmos a vida fora, e os momentos de felicidade, os que justificam o viver, são raros, únicos.

Rui Rodrigues

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Uma velha profissão: Políticos artistas!




Uma velha profissão: Políticos artistas!
 Atores políticos ou políticos atores?
Nos bons tempos de um passado recente, os artistas eram políticos e reclamavam da política. Hoje estão calados. Nem dos políticos artistas reclamam. Os governos encontraram um meio de não reclamarem: Pagam-lhes shows ricamente e a peso de ouro todos os dias, todos os fins de semana, para uma platéia pagante que se ilude com o fato de anunciarem que estes shows são grátis.

Que estamos numa das maiores crises da história, não resta a menor dúvida possível. É fato, é notório, sente-se no bolso, na qualidade dos serviços públicos (ou na sua falta), nas compras de alimentação, em tudo. Respira-se crise, chora-se a vida, e desta vez não é conversa de quem tem a barriga cheia.

E invariavelmente continuamos falando de fulanos e de cicranas, todos políticos, atribuindo-lhes erros pessoais, culpando-os disto e daquilo, e quando se consegue enxergar que a culpa não pode ser apenas deles, culpam-se os partidos.

O regime político, o sistema, os termos da constituição, esses nem se discutem, preferem-se os nomes famosos da grande Broadway da política, toda iluminada por holofotes pagos pela mídia para aparecerem com suas roupas de marca, bem maquiados, sorrisos e comportamento Standard de “alto padrão”, demonstrando poder, discernimento, atenção, preocupação, vontade de resolver. Assistimos a peças todos os dias, vendo e sentindo contradições, muita ação e nenhum resultado prático, desde as três pancadas para abrir as cortinas do palco, todos os dias, até o cair do pano.

São raros os artistas que vêm ao palco receber as palmas. A maioria deles tem o rabo preso de tal modo aos bastidores que não têm como alcançar o palco. Alguns conversam com as autoridades que os inquirem sobre suas atividades escusas.

Foi assim em quase todos os países da Europa em crise desde 2008. A maioria dos que saíram, saíram à francesa, meio à socapa, tentando ser invisível em sua declinação de continuar a governar no palco da Broadway. Alguns ainda pensam em voltar apesar de tudo. Outros dizem que não tiveram culpa de nada e outros que nem se lembram.

E a platéia inteira, desde a platéia propriamente dita até o balcão e as frisas, diverte-se preocupada ao discutir o papel de cada ator, muitas vezes sem mencionar o autor, e muito menos sem ter lido o texto que é uma constituição para se atuar como deveria ser.

Não sei em que momento exato nem porque razão comecei a falar de política e entrei num teatro onde se representam peças todos os dias, como na Broadway, mas estou certo que público pagante e políticos atores também não sabem como se tornaram público nem como se tornaram atores quando o que queriam mesmo era governar a seu modo. Pelo menos era o que diziam à boca cheia pelas ruas e praças das cidades, vilas e campos. E ainda dizem.

Mas no fundo é como se subissem a escadaria de palácio, e ao abrir a porta entrassem no palco logo após passarem pelos bastidores. Pois a culpa de tudo, definitivamente e a meu ver, incluindo estas crises tremendas, são os bastidores: Os políticos entram no palácio, chegam aos bastidores e aí mesmo os transformam em artistas. Isto parece muito claro, porque o discurso antes de subirem as escadarias dos palácios, quando falavam a boca cheia pelas cidades vilas e campos, não é o papel que representam no palco, ao vivo, diariamente. Pelo contrário, são tão diferentes que a única ligação entre os dois comportamentos está nos bastidores. Um bom exemplo é o de um ator da mais tradicional ópera burda italiana, que sumiu sem quase se despedir do público e agora, experiente porque já passou pelos bastidores, apesar de todas as demonstrações de iniqüidade, mostrar desejos de voltar á Broadway. Perdão! Ao governo... Não é diferente em Portugal, onde o novo governo mantém cavacos antigos e tradicionais do tempo em que havia censura no palco e estuda seu papel pelo mesmo texto constituinte dos tempos do que se suicidou desastradamente do alto de uma cadeira que manteve no palco por 48 longos anos. O publico pagante português assistiu pacientemente à mesma peça todos os dias durante 17.520 dias. Haja paciência... E se formos à Espanha, constatamos que o Rei Liar dos tempos modernos sai para caçar elefantes em plena crise, quebra uma perna, é assistido em hospitais às custas públicas, e continua no palco mesmo depois que o PP, uma escola de formação de atores oposicionistas, se mostrou igual aos que combatia, depois que passou pelos bastidores evidentemente, logo que subiu as escadas do palácio, antes de entrar no palco. Nos bastidores se aprende política, entra-se no sistema sem medo de ser perseguido. Os representantes dos partidos e os que financiam as peças de teatro, digo, de governo, estão lá, ensinando política, "grátis". É "pegar ou largar" e todos pegam. è o público pagante que paga tudo. Até o champanhe!
  
Do teatro grego, perdão, da política grega, nem vamos falar... Já têm mais de três mil anos e inventaram o teatro democrático ou a democracia teatral. Para falar a verdade, inventaram a mais linda e bela e eficiente democracia do mundo, mas uma escola de teatro político ou de política teatral, esta liderada pelos Sofistas, do Sófocles, não a permitiram. Era participativa a democracia original, mas o que lhes interessava aos sofistas, para poderem impor os seus papeis no palco, era a Representativa. Ou seja, mesmo que trocassem os atores, a peça continuaria a ser representada "ad eternum"...

Espera-se o renascer do teatro político... Uma nova peça que não seja trágica, nem tragicômica, nem uma comédia. Precisamos de uma peça ultra-realista, tal como na pintura, onde as virtudes e as indecências sejam realçadas e nos entre pelos olhos de forma instantânea, que o público pagante possa entender e nem sinta a necessidade de discutir sobre os atores enquanto representam, porque escreveram a própria peça e a dirigem...

Afinal, o que interessa é a peça e não os autores. A mensagem vem da peça, não dos atores. Atores apenas representam e merecem salário justo por seu trabalho quando seu trabalho é justo. O mérito é da peça!

Breve em cartaz: A Democracia Real, Verdadeira, Participativa! Esta sim, uma peça que vale a pena ver, participar..

Rui Rodrigues