Chupa essa mandioca Alexandre VI
No tempo dele, a terra “era” plana e era também o “centro”
do Universo. Era o que “diziam” as escrituras reforçadas pela teoria de
Ptolomeu. Tudo girava à sua volta e ai
de quem dissesse o contrário. Iria preso, seria torturado e mandado para uma
fogueira. O termo “ai de quem” vem desses tempos, da inquisição, pelos “ais” que
os desgraçados davam quando eram torturados e queimados vivos. Desobedecer à
Igreja era um crime, estivesse a Igreja certa ou errada. E era a Igreja quem,
nesse tempo, nos dizia o que estava certo e o que estava errado, pela simples
leitura das escrituras. O problema era que os papas até Alexandre Ve-i não
precisavam ser sacerdotes. Muitos eram comerciantes, qualquer coisa, e tinham
os seus interesses próprios de poder, de vaidades, sua própria ambição, e era
nas mãos desses que o mundo estava. Mandavam em tudo, eram os donos do Sacro
Império Romano Germânico, da França, de toda a Europa que era cristã.
Alexandre Ve-i soube constrangido, antes de 1503, ano em que morreu, que a Terra poderia passar a ser redonda e não uma placa circular suportada por uma quantidade enorme de tartarugas enormes que a suportavam, embora já desconfiassem de que poderia flutuar no espaço das águas que Deus separara quando fez os céus, mas como isso estava escrito no primeiro testamento, não tinha a mínima importância relativa, porque Jesus que tudo sabia como Deus, e que dera origem ao segundo testamento, este agora mais importante do que o primeiro, nunca discutira com os Apóstolos como o Pai tinha feito o mundo. O que Alexandre Ve-i soube foi que Pedro Álvares Cabral tinha descoberto as Terras do Brasil, num lugar onde os oceanos deveriam ter terminado, cheio de monstros que provavelmente protegiam as tartarugas e que serviam para assustar quem tentasse descobrir novos mundos, da mesma forma que o diabo assustava todo o mundo aqui na Terra, ajudado pela Igreja que também assustava com a fogueira, a dama de ferro e outros apetrechos de furar a pele, queimar, extrair unhas, e só não davam choques porque não tinham ainda descoberto a eletricidade. Morreu enquanto tentava organizar uma cruzada contra os mouros, os infiéis, os que pensavam diferente, para assaltar as suas riquezas.
Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil, descobriu novas gentes pacatas que tomavam banho todos os dias, com as partes íntimas sempre lavadinhas, prontas para o uso, de perfil muito alegre, cujas penas só usavam em cocares, jamais na alma. Este novo povo não tinha igreja para lhes atazanar as idéias, viviam integrados na natureza de forma auto-sustentável, não tinham nenhum rei, e fogueiras só para assar mandioca, churrasquear uns peixinhos, espantar onças. Alexandre Ve-i não teve muito tempo para chupar aquela mandioca, porque lhe sucedeu em 1503, quando faleceu, o papa Pio 3-is, que morreu logo que assumiu no mesmo ano. Este não teve nem tempo de chupar nada. Julio 2-is, que lhe sucedeu, ainda em 1503, ficou chupando jaca até 1513, preocupado com o comportamento da terra, que parecia ser o centro das atenções para os próximos anos talvez séculos. O mundo ia mudar graças à teimosia dos portugueses que logo por essa altura começaram a instalação de bares pela cidade do Rio de Janeiro vendendo vinho importado da Europa e pesquisando sobre a destilação de suco fermentado de cana de açúcar.
Estes portugueses pensavam de forma muito diferente. Achavam que a Terra era redonda, que era o Sol que era o centro do Universo, e suspeitavam que até nem era, porque se guiavam pelas estrelas através de um instrumento chamado Astrolábio. O Universo inteiro parecia não ter um centro. Centro mesmo era o da cidade do Rio de Janeiro, ou de Lisboa. Julio 2-is parou de chupar jaca em 1513, quando morreu, sucedendo-lhe Leão Xis. Leão Xis ficou muito preocupado em 1519 quando Fernão de Magalhães, outro português se arranjou com os reis de Espanha para lhe arrumarem uma frota para dar uma volta ao mundo. Partiram de Sanlúcar de Barrameda na Espanha e chegaram a Sevilha – apenas um dos cinco navios que haviam partido – em 1522, depois de viajarem 1080 dias. No entanto, pelo diário de bordo, eles tinham viajado 1081 dias [2], gerando enorme discussão internacional. Mas o papa já não era Leão Xis, que tinha falecido em 1521 e sim Adriano Ve-i que morreu em 1523 sem ter definido a Linha Internacional de Data.
O Papa Francisco i, agora eleito, passados mais de 500 anos, cansou-se de ser empurrado pela humanidade que sempre desvenda e mostra os erros, embora com muita lentidão, aos que querem impor-lhe ordens sem fundamento que seja suportável pela observação e pela ciência. Ele está mudando a Igreja, corrigindo os conceitos equivocados, de braços dados com as verdades e não com as conveniências gerenciais. Esta humanidade vai à escola, estuda, sabe em que mundo está. Francisco i não chupa nada. Ele é bem vindo a este mundo, porque todos os outros Papas que o antecederam, eram de um outro mundo que não conhecemos, e que só eles imaginavam prometendo-nos esse tal mundo que jamais poderá estar ao nosso alcance em vida...
Bem vindo, Francisco i. Temos o maior prazer em conhecê-lo e
ouvi-lo, o bem deve ser praticado para que se possa viver em paz e tranquilidade neste mundo, sem tantas desigualdades, e a conquista desse mundo para lá da vida, será apenas uma consequência do bem que nesta vida praticarmos.
© Rui Rodrigues
[1] Até este
papa, qualquer individuo poderia ser eleito papa, mesmo sem ter conhecimentos
eclesiásticos ou teológicos. Era uma questão de prestígio, de jogo de interesses,
de populismo, muito à moda de sistemas totalitários, como o comunismo e o
bolivarianismo. È um perigo para as sociedades, porque não tem base racional.
Sistemas assim funcionam na base da imposição da vontade, são verdadeiras
ditaduras.
[2] Ainda não
existia a “linha internacional de data” e um dia deveria ter sido descontado,
porque a Terra é de fato redonda, e para quem não acredita, o homem já foi à
Lua e há equipamentos por lá que o atestam.