O mistério das ilhas Flannan.
Imagine um
conjunto de ilhas no Atlântico Norte a cerca de 44 km da costa da Escócia [1].
Aquele mar é bravio, cheio de tempestades, baixas temperaturas, muita névoa que
impedia que fossem vistas do mar por embarcações muitas delas já com motores a
vapor. Em Eilean Mor, a maior das Flannan, o governo de sua Majestade mandou
construir um enorme farol que ficou pronto em um ano para evitar os constantes
naufrágios. A partir da inauguração grupos de 3 a 4 homens arregimentados numa
pequena povoação e pescadores do continente, localizada no cabo Wrath, se
revezavam em turnos de 14 dias para cuidar das instalações e do farol cuja luz
era visível desde o cabo. Uma eventual falha na iluminação do farol seria
motivo imediato para que tripulação de terra fosse até a ilha Eilean para
verificar se tudo estava em ordem. Ninguém agüentava mais que 14 dias numa ilha
minúscula em meio a oceano bravio, isolada de qualquer comunicação de terra.
Para passar o tempo jogavam cartas, tomavam uísque, pescavam e cuidavam de uma
pequena horta e um casal de ovelhas. A ilha não dava para muito mais e não
tinha uma árvore sequer. Há ruínas celtas na ilha e de um mosteiro que lhe deu
o nome por causa de um frade que o dirigiu de nome Flannan. A ilha tinha fama
de estranha e assustadora. Era este o cenário no dia 7 de dezembro de 1900 e os
fatos que ocorreram a seguir se ordenam na seguinte forma:
O acesso ao farol - A ilha era escarpada, pedras de linhas
afiadas. Havia uma corda para facilitar o acesso no melhor ponto de embarque.
Tentar desembarcar sozinho era impossível, porque não haveria ninguém para
cuidar da embarcação. Depois de desembarcar subia-se por lances de escadas
rudimentares construídas sobre os rochedos. A paisagem era tétrica à noite mesmo
com o farol aceso principalmente quando havia neblina. As inspeções rotineiras
de Robert Muhirhead obrigavam-no a fazer viagens extras durante os períodos de
14 dias, mas com a aproximação da data tradicional do Natal ninguém esperava
que fizesse uma viagem de inspeção. E como não se podia observar o farol por
causa da neblina ficou fora de cogitação avisar as autoridades para se
deslocarem à ilha para averiguações. Se houvesse problemas, porém com
visibilidade, as observações com luneta os detectariam. Na ilha havia
instruções para hastear uma bandeira de aviso nesses casos.
Dia 7 de
dezembro de 1900 –
Chega à ilha James Ducat um dos recrutados nas vilas da região da costa
noroeste da Escócia para mais um período de 14 dias como responsável pela
operação e manutenção das instalações da ilha e do Farol. O Inverno estava
começando e logo seria dia de Natal. Chegou com vontade de voltar.
Com ele chegaram também
Thomas Marshall seu segundo assistente e Donald Macarthur como primeiro
assistente em substituição de William Ross que adoecera e ficara em terra. Robert
Muhirhead como Superintendente do farol acompanhou-os também, mas voltaria com
a embarcação.
William passaria o Natal em casa com toda certeza. Todas as
embarcações com motor de popa deveriam carregar a bordo um motor sobressalente.
O da embarcação que levou a tripulação à ilha de Eilean foi deixado nas
instalações do rústico porto de Gallan Head na costa Oeste, que dava apoio ao
pessoal do farol. Motores de popa em 1900? Há que esclarecer que os primeiros
motores de popa movidos a gasolina – Os “American”, produzidos pela American
Motor Co. de Long Island - foram colocados à venda em 1896, e a partir daí, de
vários fabricantes como o 1898 Savage, criado
por Edward Savage, o 1898 de quatro cilindros de popa de Harry Miller, o
1900 imperial, criado pelos irmãos Fred e Robert
Valentine, o 1906 Waterman Porto.
O American podia ser carregado facilmente num
braço só. Donald Macarthur que fora chamado às pressas para substituir William
Ross que adoecera, comentou para o chefe James Ducat que não estava muito
disposto a jogar cartas a dinheiro. Suas finanças andavam mal por motivos que
todos conheciam e seu humor não era dos melhores. Todos entendiam isso
principalmente em data como essa: Passariam o Natal fora de casa. Ainda surdos
pelo barulho do motor a dois tempos que os levara até a ilha, começaram a
escrever numa lousa [2]
na parede os dados que depois de acordados entre todos, transporiam para o
relatório diário. Ainda estavam meio grogues pela viagem e pelos primeiros
vapores de gasolina que aspiravam. Após verificar as instalações, Robert
Muhirhead teve uma breve discussão com James Ducat sobre limpeza e
procedimentos, mas se despediu cordialmente de todos e voltou para Gallan Head.
Todos o reconheciam como um homem rígido em suas inspeções de rotina. Foi a
ultima pessoa a vê-los vivos.
Dia 12 de dezembro de 1900 – Desde o dia 08 de
dezembro que uma espessa neblina impedia a visão do Farol desde Gallan Head. No
dia 12 o tempo amainou e foi possível ver o farol em funcionamento. A partir
desse dia, não se voltou a poder ver o farol. O tempo impedia, a neblina não se
desfazia.
Dia 15 de dezembro de 1900 – Desde o dia 7 que
havia neblina na região das ilhas e de terra não podia ser visto, exceto por
breves momentos no dia 12. No dia 15 o navio Archtor comandado pelo capitão
Holman a caminho do Porto de Leith na Escócia, passou em frente ao farol e
constatou que estava apagado. Comunicou imediatamente á Cosmopolitan Line
Steamers, a empresa armadora, mas esta não conseguiu se comunicar com o pessoal
de terra de Gallan Head por causa de tempestades que impediram as comunicações.
Outras embarcações passaram pelo local nos dias seguintes e constataram que o
farol continuava apagado. Normalmente costumava piscar duas vezes a cada 30
segundos, mas até dia 29 o tempo não se alterou e a neblina continuaria
espessa, indevassável.
Dia 21 de dezembro de 1900 – Um navio de
resgate, provavelmente o Hesperus, tentou chegar à ilha Eilean, mas o mau tempo
impediu o desembarque. O farol estava desligado.
Dia 26 de dezembro de 1900 - O navio a vapor de manutenção de
faróis Hesperus fez uma viagem de rotina à ilha de Eilean no dia 26 de dezembro
vinda da povoação de Brascelet. Talvez não fosse apenas de rotina. Poderia ter
sido pelo comunicado do Archtor que no dia 15 noticiara que o farol estava
apagado. O capitão Harvey mandou disparar um foguete de aviso e soar a sirene sem
resposta. Então pela tarde mandou um oficial, Joseph Moore, à ilha para
averiguar a situação. Segundo Moore não havia sinais de vida na ilha. Seguindo
ordens de Harvey, Moore voltou à ilha com mais alguns homens: Mr. McDonald e
dois marinheiros sob suas ordens, Lamont e Campbell todos voluntários para ficarem
na ilha enquanto fosse necessário e garantir o funcionamento do farol. O
Comandante Harvey não desembarcou. Não foi testemunha das condições em que se
encontrava a ilha, as instalações e o farol. A primeira pessoa a ver o estado
das instalações foi Joseph Moore, o chefe da equipe voluntária. Ele tinha um
jogo de chaves sobressalente do farol e das instalações da ilha.
28 de dezembro de 1900 – Alertados pelas comunicações do
comandante Harvey, a Superintendência de Faróis manda Robert Muirhead, o
superintendente de volta á ilha onde tinha deixado a tripulação no dia 7 de
dezembro para investigar. No relatório
Robert Muirhead conta que a porta estava fechada pelo lado de fora, o que era
estranho. Lá dentro a mesa estava posta, tudo arrumado. No livro diário havia
anotações até o dia 13 de dezembro. No quadro de ardósia havia anotações do dia
14 e 15 que deveriam ser lançadas após decisão do grupo de que estavam
corretas. As anotações do dia 14 davam conta de uma forte tempestade que havia
terminado na manhã do dia 15. Constavam ainda anotações de leitura de
termômetro, barômetro e indicação dos ventos. A lâmpada do farol estava pronta
para ser acesa, as camas vazias e bem arrumadas. Não havia fogo nas lareiras. Sobre
a mesa uma refeição preparada e intacta. A ultima anotação a giz no quadro
fazia referência à velocidade dos ventos às 9:00 da manhã do dia 15 antes da
passagem do Harchtor ao largo da ilha por volta da meia noite. Robert Muhirhead
concluiu que a tripulação tivesse saído das instalações do farol por qualquer
motivo ou mais provavelmente para verificar eventuais danos e tivesse sido
apanhada por uma tempestade, jogada ao mar. O que quer que tenha acontecido
teria sido entre as 09 da manhã do dia 15 e a meia noite desse dia quando o
navio Archtor passou e viu o farol desligado. As autoridades aceitaram esta
versão e as famílias das vítimas choraram e enterraram seus mortos.
O relatório - O teor do relatório oficial é o seguinte:
"... As lâmpadas estão limpas e
o equipamento em perfeito estado de funcionamento. Há combustível para funcionamento
do farol e parece estar preparado para utilização. Na sala de operações
encontramos uma cadeira caída perto da mesa. Havia um baralho espalhado pelo
chão e uma garrafa quebrada.
No alojamento abrimos os armários
onde encontramos roupas pertencentes aos guardiões. Duas capas de chuva e um
par de galochas estão faltando.
O telhado da casa parece ter sido
atingido com força pela tempestade e apresenta goteiras em vários pontos.
Móveis foram movidos fora da posição original, segundo Moore que esteve aqui na
véspera do dia 13 de dezembro. A pistola de sinalização não foi encontrada, nem
os apitos de sinal.
A casa de barcos foi seriamente
avariada pela tempestade. O bote foi danificado, bóias estavam espalhadas para
todo lado e o equipamento que era mantido ali foi revirado. Não há nenhum sinal
dos empregados do farol. Apesar da bagunça, não há nenhum indício de luta ou
desentendimento".
O inquérito concluiu o seguinte:
“... todos as tarefas rotineiras
foram realizadas. As grandes lâmpadas na torre de vigília estavam limpas e
abastecidas para a próxima noite. O mecanismo estava em perfeito estado e havia
sido limpo após a luz ter sido apagada pela última vez, o que demonstra que o
trabalho estava sendo conduzido perfeitamente. Isso leva a crer que o que quer que
tenha acontecido, teve lugar durante a manhã ou até a meia noite.
Dois vigias ouvidos durante o
inquérito concluíram a seguinte sucessão de acontecimentos: provavelmente
McArthur havia sido o último a ficar na casa, pois estava em seu turno de
guarda à tarde. Ducat e Marshall teriam saído para verificar o equipamento na
Casa de Barcos avariado pela tempestade na noite anterior. De seu posto de
observação McArthur teria visto uma série de ondas se formando e correu para
avisar seus colegas do perigo. Quando eles não ouviram seu alerta, ele resolveu
ir até o lado de fora e avisá-los. Infelizmente ele não calculou bem o tempo
que teria para chegar até eles e retornar antes da chegada das ondas. Os três
acabaram alcançados e carregados para o mar onde provavelmente se afogaram.”
Março de 1901- Uma visita técnica a uma residência em Hindead no Surrey.
William Murdock era
secretário do escritório da Northern Lighthouse Board. Era sua a
responsabilidade de um relatório convincente que suportasse a eficiência e a
credibilidade de sua companhia responsável pelo funcionamento do farol das
Flannan. Já tinha os relatórios de seu pessoal, a polícia não se opunha às
conclusões, mas queria ter certeza de não haver nenhum ponto que pudesse ser
contestado no futuro. Alem do mais o que o movia era a curiosidade de saber o
que realmente poderia ter acontecido. De fato.
O
melhor consultor que poderia ter chamava-se Conan Doyle e morava com sua esposa
numa casa que mandara construir em Hindead a escassos 80 km de Londres. Uma
casa vitoriana desenhada por ele mesmo onde vivia desde 1897. Foi recebido pelo
casal. O tema da visita já tinha sido discutido previamente quando marcou a
visita. Conan mostrou-se muito interessado. Mandou servir um chá importado do
Ceilão. A conversa seguiu num tom interessante e sem emoções.
- Sabe,
Mr. Murdock – disse Conan – Há coisas que não vale a pena mexer, porque podem
incomodar investidores, futuros clientes, acabar com uma empresa. Tal como
noticiado nos jornais a história parece verossímil. Até eu acreditei, acredite!
Conan
denotava um certo semblante de ceticismo, como uma sombra que lhe toldava o
olhar.
- Mas
acredita que pode haver outras hipóteses... Não, sir Conan Doyle?
- Sim! Tenho acompanhado o assunto,
mas não creio que gostasse de ouvir o que tenho para dizer. Há várias
hipóteses, sendo uma a oficial, de ondas gigantes que jogaram a tripulação ao
mar, e todas as outras de crime a sangue frio.
- E quais seriam? Perguntou Murdock.
- Gallan Head tem o quê? 40, 60, 100
pessoas vivendo lá? O que fazem no inverno senão ficar em casa todo o tempo
possível? Mas uma mulher diz ter visto enormes ondas como se fossem uma enorme
parede vindo do oceano. Porém, como a costa é muito alta por lá, ninguém deve
ter escutado o barulho por estarem dormindo. Isso foi na noite do dia 14 de
dezembro de 1900. As anotações para relatório no quadro de ardósia da ilha
Eilean contam dessa tempestade que só teria acabado na manhã do dia 15, quando todos
os homens desapareceram. Faz sentido para todos, e isso não é motivo de
preocupação para sua empresa... Porém...
A primeira hipótese de crime.
Conan Doyle com seus 42 anos, foi
deixando o assunto fluir como se estivesse no local do crime.
... Porém imagine você – continuou
sir Conan Doyle – que esses homens certamente se conheciam de terra. Jogavam e
bebiam juntos. Poderiam ter dívidas de jogo, algumas impagáveis. Por isso
imaginemos pares de devedores que querem eliminar credores ou credores que
sabendo ser impossível cobrar a dívida, resolvem eliminar os devedores...
Porém, para chegarem à ilha, caso estivessem em terra, teriam que ser dois por
causa do difícil acesso.
- Robert
Muhirhead e o rapaz que estaria doente, mas não tanto, o William Ross –
adiantou-se Murdock.
= Exatamente meu
caro Murdock. Mas se não William, o rapaz que nada avisou sobre a falha do
farol porque não estaria em Gallan Head, o senhor Roderick MacKenzie.
- Mas como teriam
chegado à ilha?
- Usando esses
novos motores de popa que pouca gente conhece. A companhia tinha um desses
sobressalentes em Gallan Head. E continuou:
- Uma vez
desembarcados pela manhã do dia 15 quando a tempestade estava amainada,
desembarcaram e apanharam a tripulação desprevenida. Atiraram neles, jogaram ao
mar, e por questão de princípios, Robert Muhirhead zeloso de coisas arrumadas,
deu um jeito na casa deixando tudo nos devidos lugares. Tanto quanto
puderam.
- Mas... E se
apenas Robert Muhirhead estivesse interessado em eliminar alguém do grupo ou
todos eles para não ser denunciado sobre jogo e bebida?
- Então, meu caro
Murdock, vem a segunda hipótese...
A segunda hipótese
de crime
... Robert
Muhirhead tinha um comparsa que o aguardava na ilha e o teria ajudado a
desembarcar – Continuou sir Conan em sua explanação.
- Sim... Qualquer
um dos três primeiros que desembarcaram na ilha. James Ducat, Thomas Marshall ou Donald Macarthur -
atalhou Murdock.
Conan Doyle serviu-se ele mesmo de
uma xícara de chá e indicou o bule com um gesto largo para Murdock convidando-o
a tomar também mais uma. E continuou:
- Como tudo estava arrumado, parece
ser que a luta, a ter existido, foi muito rápida e de surpresa. A porta
trancada pelo lado de fora pode indicar que Robert Muirhead tenha desembarcado
avisando aos outros que os vinha buscar, retirar dali. Apanhados desprevenidos teriam
sido mortos facilmente. Ou...
- Ainda mais uma hipótese, sir
Conan? Apressou-se Murdock em perguntar.
- Sim, meu caro. Há mais uma
hipótese...
A terceira hipótese de crime.
... Lembre-se, caro Murdock, que o
capitão Harvey do Hesperus, de sua companhia,
não desembarcou na ilha no dia 26 de dezembro. Foi Joseph Moore quem o fez com
dois marinheiros a ele subordinados e arregimentados no continente ou na ilha
de Lewis a meio caminho do continente. Ele tinha uma cópia das chaves do farol
e das instalações, o que não deixa de ser estranho, e estava previsto que
desembarcasse na ilha no dia 21. O mau tempo não permitiu. Ninguém se preocupou
em saber onde estava entre 7 e 15 de dezembro de 1900. Ele poderia ter usado um
motor de popa, tal como Muhirhead também poderia. Mudando os autores, o cenário
poderia ter sido o mesmo das duas hipóteses anteriores. Dívidas de jogo com
uísque e isolamento numa ilha ou numa pequena povoação costeira são
ingredientes mais que suficientes para explicar um crime desses. Sem
evidentemente descartarmos a hipótese de um envolvimento amoroso com alguma
mulher da vila. Ah!... Só mais um móbil para o crime: O pessoal achava que
Muhirhead era muito exigente e ele tinha discutido com James Ducat. Por só
temos o testemunho de Muhirhead sobre a discussão é possível que as ofensas se
tenham estendido até um nível insuportável. Ele teria voltado para pôr fim a
ameaças.
- Brilhante sir Conan Doyle...
Brilhante!
- Mas não é tudo...
- Não? Perguntou Murdock com certa
admiração no olhar perscrutador.
- Há mais uma hipótese de crime, e
esta poria em risco a sua empresa...
O rosto de Murdock ficou
ligeiramente pálido.
A quarta hipótese de crime.
Sir Conan Doyle continuou.
... Bismark foi deposto pelo Kaiser
Guilherme II há poucos anos, mais precisamente em março de 1890. Onze anos
apenas. Para mim, essa deposição foi um erro. Bismark tinha institucionalizado
a previdência social para impedir o crescimento do socialismo mais extremo, o
comunismo e nós, ingleses somos parte da “Triple Entente” juntamente com a
França e a Rússia para nos opormos às tendências bélicas alemãs e à sua nova
forma de governo, a social democracia com fortes bases nacionalistas. O
crescimento de sindicatos no Reino Unido seria uma catástrofe no momento. Conan
fez uma pausa, apanhou um charuto de uma fina caixa de madeira, ofereceu um a
Murdock e acendeu um charuto. Depois de dar uma baforada espalhando fumaça e um
cheiro agradável pela sala, continuou:
- A ilha de Eilean é praticamente
nosso ultimo posto avançado sobre o atlântico, rota de navios que transitam
entre a América, o Reino Unido e o mar do norte a caminho da Alemanha. Já viu
onde quero chegar?
Murdock estava inquieto, ajeitou-se
na cadeira vitoriana. Tentou demonstrar calma. Conseguia controlar razoavelmente
seus temores, seus sentimentos. Disse: - Siga, sir Conan... Continue. Conheço-o
suficientemente bem para saber que é digno de todo o crédito...
- Grato, caro senhor Murdock. Mas
continuemos o raciocínio. James Ducat não gostava dos métodos de Muirhead.
Haviam discutido por aparentemente dois motivos: Não agüentava mais as estadias
prolongadas na ilha nem o que considerava serem exageros de Muirhead suas
cobranças sobre a perfeição no comportamento profissional no trabalho. James
Ducat era um sindicalista e isso para a sua empresa era insuportável. O momento
certo para eliminá-lo foi exatamente quando fez parte da primeira turma que
assumiu o controle do farol. Ele receberia instruções para desenvolvimento e
implantação de políticas no Reino Unido via comunicação de barcos alemães que
passavam nas imediações. Muhirhead ou Joseph Moore teriam praticado o crime tal
como nas demais hipóteses. Apenas mudaria o móbil do crime.
Murdock mexeu-se mais uma vez na
cadeira ficando ligeiramente alterado. Sir Conan Doyle acalmou-o.
- Mas fique tranqüilo, caro Murdock!
Não vou questionar se isso é verdade nem que teria mandado abater James Ducat.
São meras hipóteses que apenas eu devo ter levantado e mesmo assim em completo
sigilo entre eu e você. Não irá para os jornais.
A entrevista estava terminada. Não
havia mais nada a dizer. Há 115 anos que se procura saber o que aconteceu
naquele dia 15 de dezembro de 1900. Um grande mistério por vezes com uma
explicação muito simples: Ondas gigantes que teriam jogado ao mar 3 homens. Mas
como explicar a porta fechada pelo lado de fora, uma barreira de móveis no meio
da sala como se alguém se prevenisse de um ataque, o relógio parado, e o fato
de a lareira da cozinha estar acesa e as dos quartos e sala mostrarem que não
eram usadas há dias - quando Moore desembarcou na ilha - fatos omitidos no
relatório final? Se houve crime, quem o perpetrou teve tempo suficiente para
alterar a cena. Uma tempestade não teria feito isso.
® Rui Rodrigues